1. Época e contexto- O mundo
barroco
 Padre Antônio Vieira ( 1608- 1697)

“António Vieira”
O céu 'strella o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à gloria tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
 Fernando Pessoa
- Contexto da contra-reforma católica;
- Membro da Companhia de Jesus (Jesuíta);
- Eminência parda de Dom João IV, ativo defensor dos novos
cristãos, expulsos pela inquisição;
- Defesa dos índios;
- Pedido pelo fim da inquisição.
- Pregador violento e sutil, racional e messiânico, vaidoso e
sedutor, conversor e herege.
Estilo
 Peças oratórias;
 Público: fiéis católicos;
 Visão bipolar do mundo barroco;
 Contradições;
Características dos sermões:
2.1 – Manobras retóricas:
a) Dividir os aspectos do sermão de maneira binária:
- Divide o tema obrigando o ouvinte a aceitar um dos
dois pontos, sem vislumbrar as demais
possibilidades.
b) Anunciar o que não se fará, mas sem deixar de fazê-lo.
Só um diferença entre Santo Antônio e aquele peixe: que
o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo
Antônio abria a sua contra os que se não queriam
lavar. Ah, moradores do Maranhão, quanto eu vos
pudera agora dizer neste caso! Abri, abri estas
entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me
não lembrava! Eu não vos prego a vós, prego aos
peixes.
 C) Abundância de perguntas retóricas:
- Estratégia clássica do texto voltado para uma plateia, a
pergunta tem por finalidade manter a atenção e
convocar o ouvinte a um maior envolvimento com o
problema ou assunto exposto no sermão.
d) Mistério e revelação:
- Jogo de esconde-esconde, pergunta em tom de mistério
alguma coisa para a qual ele já tem a resposta, sendo
sua revelação uma espécie de iluminação feita
simultaneamente com a plateia.
e) A conquista da simpatia (Captatio benevolentiae)
- Coloca-se numa posição de humildade, por vezes até de
inferioridade em relação à plateia, conquistando a
simpatia, a boa-vontade, a benevolência do auditório.
2.2 A riqueza dos exemplos
 Busca na bíblia e na cultura os melhores exemplos.
 Busca a essência da imagem.
2.3 O domínio da língua em seus
variados registros
 Crítica aos pregadores cultistas que usavam palavras
difíceis para brilhar mais do que o conteúdo dos seus
sermões.
 Conhecia a língua dos índios e dos africanos.
 Mescla de vários registros (do alto, do baixo, do culto
ao popular) em um só trecho.
2.4 A busca pela compreensão dos
ouvintes
 Se houver dificuldade de compreensão, leia
atentamente o Exórdio. Ali estarão expostas as razões
do sermão e quais os objetivos do sermonista.
 E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso
auditório saísse hoje tão desenganado da pregação,
como vem enganado com o pregador! Ouçamos o
evangelho e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que
me levou e trouxe de tão longe.
Estrutura dos sermões:
a) Exórdio! (Intróito)
b) Invocação
c) Desenvolvimento
d) Peroração
3. OS SERMÕES
3.1 Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra Holanda
contexto:
-Pronunciado na igreja Nossa Senhora da Ajuda, Salvador, 1640.
-Iminente invasão holandesa à cidade.
b) chave:
Segue o salmo 43 do Rei Davi, que será tomado como licença para Vieira
questionar a omissão de Deus frente aos problemas dos verdadeiros
cristãos que são os portugueses:
a)
“Desperta, por que dormes, Senhor? Desperta e não nos rejeites para
sempre. Por que escondes a tua face e te esqueces de nossa miséria e
de nossas atribulações? Desperta, Senhor, ajuda-nos e nos redime
pela graça do teu nome.
C) Passos:
1- Derrotas sucessivas de Portugal e perda da fama entre os povos;
2- Uso da figura de Davi para cobrar de Deus o abandono dos
portugueses;
3- Razão pela qual Deus teria mudado seus favores em relação aos
portugueses;
4- Reconhecimento dos pecados portugueses, mas incompreensão
do favor aos “hereges”;
5- Descrédito de Deus entre os homens;
6- Grandeza dos pecados portugueses/ Grandeza do perdão de
Deus;
7- Aliança que possa levar à vitória sobre os holandeses.
Trecho relevante
 Momento em que Vieira concebe a vitória holandesa e o
esquecimento dos portugueses, aqueles que zelaram pelo
verdadeiro cristianismo. O padre pergunta de onde virão os
pregadores agora:
 “[...] Holanda edificará templos. Holanda levantará altares,
Holanda consagrará sacerdotes e oferecerá o sacrifício do
vosso santíssimo Corpo; Holanda, enfim, vos servirá e
venerará tão religiosamente, como em Amsterdão,
Meldeburgo e Flisinga e em todas as outras colónias dauqele
feio e alagado inferno se está fazendo todos os dias.”
Sermão aos peixes
3.2 Sermão de Santo Antônio aos
peixes
a) Contexto:
Pronunciado em São Luís do Maranhão, em 1654;
b) Chave:
Lembrando a propriedade do sal, Vieira busca atacar
tanto os maus fiéis como os maus pregadores.
Recorre à passagem do Novo testamento:
“Vós sois o sal da terra”. (Mt 5)
 C) Passos:
1- Determinação aos pregadores que preservem, como o sal, a
fé cristã.
2- Recorrência à anedota de Santo Antônio.
3- Simulação de se dirigir aos peixes, e não aos homens.
4- Incidência dos aspectos positivos dos peixes sobre os
pastores
4.1- Rêmoras- para resistir às paixões dos ouvintes;
4.2- Torpedos- para fazer temer pela autoridade.
5- Comparação dos defeitos dos ouvintes com os defeitos dos
peixes
6- Crítica a todos os que vivem dos bens/glórias alheios.
d) Trecho relevante:
Lembra que encontra o peixe com 4 olhos.
“[...] Oh que bem informara estes quatro olhos uma alma
racional, e que bem empregada fora neles, melhor que em
muitos homens! Esta é a pregação que me fez aquele
peixinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só
devo olhar direitamente para cima, e só direitamente para
baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo,
lembrando-me que há Inferno.”
Sermão da sexagésima
3.3 Sermão da Sexagésima
a) Contexto:
Proclamado na Capela Real, em 1655, em Lisboa, já vindo
da missão no Maranhão.
Investiga as razões para tão pouca conversão dos fiéis,
recaindo a culpa sobre os pregadores cultistas.
b) Chave:
Lucas 8: lembra o pregador do compromisso com a
palavra de Deus e como Semear.
A semente é a palavra de Deus.
c) Passos:
1- Concursos (coisas que concorrem) do sermão;
(Graça/ouvinte/pregador).
2- Fracasso que concorre para a conversão contemporânea (nos tempos de
Vieira);
3- Admissão do fracasso do pregador;
4- Cinco motivos para este fracasso (pessoa, estilo, ciência, matéria e voz);
5- Faltas gerais, mas ausências de uma causa principal para o fracasso;
6- “Falso testemunho” do pregador- uso equivocado da palavra de Deus.
7- Distorção das palavras para brilho próprio e para agrada ao auditório
(cultismo);
8- Desengano como obrigação do pastor.
d) Trecho relevante
“Pois o gostarem ou não gostarem os ouvintes! Oh, que
advertência tão digna” Que médico há que repare no
gosto do enfermo, quando trata de lhe dar saúde?
Sarem e não gostem; salvem-se e amargue-lhes, que
para isso somos médicos de almas....”