O Mundo do Rei Artur
-5Antonio L. Furtado
Ementa
Introdução: Rei Artur - história, lenda, ficção?
1. Primeira fase: crônicas pseudo-históricas - Geoffrey of Monmouth
1.1. Bretões, saxões e normandos
1.2. História dos Reis da Bretanha
1.3. Vida de Merlim
2. Segunda fase: romances de cavalaria - Chrétien de Troyes
2.1. Cavalaria e amor cortês
2.2. Erec e Enide
2.3. Cligés
2.4. Lancelote
2.5. Yvain
2.6. Persival - ou o Conto do Graal
3. Terceira fase: estórias exemplares - Robert de Boron
3.1. Cruzadas e cavalaria sacra
3.2. Joseph ou O Romance da Estória do Graal
3.3. Vulgata Arturiana ou Lancelote-Graal
3.4. A Demanda do Santo Graal
Conclusão: rei que foi, rei que será
5a. Apresentação
27/01/2011
Segunda fase: romances de
cavalaria
- Persival - ou o Conto do Graal
Persival - O Conto do Graal
(Prólogo)
• Dedicatória a Felipe da Alsácia, conde de Flandres
• "Que vale mais do que Alexandre / Aquele que dizem
que foi tão bom"
• A "largesse" de Felipe, inspirada na caridade cristã
Assim sendo, age muito bem
Chrétien, que se esforça e pena,
Por encomenda do conde,
A rimar o melhor conto
Jamais contado em corte real:
É o conto do graal
Do qual o conde lhe deu o livro.
Agora escutai como ele o faz.
“graal” – em letra minúscula
• Mario Roques. Le Nom du Graal, in Les Romans
du Graal dans la littérature des XIIe et XIIIe
siècles, ed. J. Fourquet. Centre National de la
Recherche Scientifique, 1956 – prato grande,
travessa, escudela
• Helinand – “Gradalis autem vel gradale gallice
dicitur scutella lata et aliquantulum profunda”
• Alberic de Briançon et al. The Medieval French
Roman d’Alexandre. ed. Edward C. Armstrong et
al., 7 vols. Princeton University Press, 1937–76.
A palavra “graal” no
Roman d’Alexandre
Li seneschaus conut ben lo
meschin
E dist au rei sempres en son latin:
"Per ma fei, sire, ça vei un pelerin,
Il but erser a ma copa d'or fin,
Se li donai e pain e char e vin;
De mon ostal se leva oi matin
(...)“
Li proz Sanson conut lo
seneschal.
"Sire, dist il, Deus te porgart de
mal.
Ot tei manchai erser a ton graal
E oi matin esi de ton ostal (...)"
Ele bebeu ontem à noite de
minha taça de ouro fino
Contigo comi ontem de teu
graal
Persival - O Conto do Graal
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Floresta solitária
Donzela da Tenda
Na corte do rei Artur
Com Gornemant de
Gohort
Em Belrepaire
O castelo do Graal
Com a prima
Orgulhoso da Landa
• Gotas de sangue na neve
• Donzela Feia
• Gawain e a Donzela das
Mangas Pequenas
• Em Escavalon
• Persival e o Ermitão
• Gawain e a Donzela Má
• Castelo das Rainhas
• Guiromelant
Floresta solitária
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O jovem galês ingênuo e sua mãe
Anjos -- ou cavaleiros?
Perguntando tudo sobre armas e cavalaria
O rei que faz cavaleiros
Revelação sobre o pai e os irmãos
Rudes roupas de Gales, "chaceor", venábulo
Conselhos maternos
Partida - mãe desfalece (na verdade morre)
Donzela da Tenda
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Tenda -- ou igreja?
Donzela deitada
Beijo com doçura
O anel no dedo
Pastéis e vinho
O cavaleiro - desconfiança e ciúme
Em marcha forçada (cf. Erec)
Na corte do rei Artur
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Artur feliz - vitória sobre o rei Rion (noir) e triste
Desafio do Cavaleiro Vermelho (vermeil)
Chega Persival, e não desmonta
"Faça-me depressa cavaleiro, e cavaleiro vermelho"
Primeiro sorriso da donzela, o melhor cavaleiro
Kay fere a donzela e o anão
Kay autoriza Persival a tomar as armas vermelhas
O Cavaleiro Vermelho bate em Persival, que o mata
lançando o venábulo
• Vestindo as armas -- com a roupa galesa por baixo
Com Gornemant de Gohort
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No castelo do "vavasour" e "preudom"
Ensinando a montar e portar armas
Quem é bem nascido aprende rápido
Trocando as roupas galesas por roupas finas
Persival é armado cavaleiro - Gornemant lhe
coloca a espora direita
• Conselhos de Gornemant
• Que daí em diante não falasse: "é como minha
mãe dizia"
Com Gornemant de Gohort
Bom irmão, se entrares em combate com qualquer
cavaleiro, peço-te uma coisa: se estiveres vencendo e o
outro não puder mais defender-se, deves outorgar-lhe
mercê, ao invés de matá-lo. E não queiras falar em
demasia. O tagarela bem cedo percebe que disse algo
censurável; o homem prudente afirma: "quem fala
demais se dá mal." E te peço ainda, se encontrares
donzela ou dama desaconselhada, trata de aconselhá-la
se souberes como e fores capaz. E não desprezes esta
outra lição: vai de bom grado à igreja suplicar àquele
que fez todas as coisas que tenha piedade de tua alma,
e te guarde como verdadeiro cristão nesta vida terrena.
Em Belrepaire
• Uma pobre acolhida no castelo forte, defensores
enfraquecidos pela fome e longas vigílias
• A bela Blancheflor, sobrinha de Gornemant
• Junto ao leito de Persival, acorda-o com suas lágrimas
• Conta sobre o assédio de Engigeron e seu senescal
Clamadeu; e afirma: Engigeron só a terá morta!
• Persival promete defender o castelo
Que bouche a bouche, bras a bras,
Dormirent tant qu'il ajorna.
• Vitória do herói, parte em busca da mãe, promete voltar
O castelo do Graal
Durante o dia todo o jovem cavaleiro continuou em seu caminho sem
encontrar nenhuma criatura terrena. Avistou um rio junto à encosta de um
outeiro. Olhando a água torrencial e profunda, não ousou meter-se nela.
Nesse instante, viu passar descendo o rio um barco. Havia dois homens a
bordo. O que estava na frente pescava com linha. Ele, que não sabia o que
fazer nem em que ponto achar passagem, saudou-os e perguntou:
- Informai-me, senhor, falou ele, se há neste rio alguma ponte.
Aquele que pescava (*) lhe respondeu:
- Absolutamente nenhuma, irmão. Por vinte léguas rio acima ou abaixo não
se pode atravessar a cavalo, pois não há balsa, nem ponte, nem vau.
- Então indicai-me, ele insistiu, por Deus, onde poderei encontrar pousada.
- Eu vos albergarei esta noite. Galgai por aquela fraga formada na rocha e,
quando chegardes em cima, vereis diante de vós em um vale a casa em
que eu habito, perto do rio e do bosque.
(*) o Rico Rei Pescador
O castelo do Graal
Foi então que viu adiante, em um vale, aparecer o cimo de uma torre. Não
se acharia até Beirute nenhuma tão bonita nem tão bem assentada. Era
quadrada, de pedra cinzenta, ladeada por duas torrelas. A sala se situava
na frente da torre e as galerias diante da sala. Ele ficou nas galerias até
que chegou o momento de apresentar-se ao senhor, que expediu dois
servidores para chamá-lo. Bem no centro da sala, viu sentado sobre um
leito um belo gentil-homem de cabelo grisalho, tendo na cabeça um chapéu
de zibelina negra como amora, com a copa envolta em pano púrpura; e a
roupa toda era de igual feitura. Apoiava-se sobre o cotovelo. Ardia diante
dele o clarão de um fogaréu de lenha seca, aceso entre quatro colunas.
Ao vê-lo aproximar-se, o senhor o saudou prontamente, dizendo:
- Amigo, não seja para vós motivo de agravo que eu não me levante a
vosso encontro, pois não estou apto a fazê-lo.
O Pescador e o Gênio
(As 1001 Noites)
Tentando resolver o mistério do lago surgido magicamente no país ao qual
um pescador o guiara, um Rei atravessa terreno deserto, avistando afinal
um edifício de pedra negra. Entrando, encontra um jovem suntuosamente
vestido, sentado em seu leito, o qual se excusa por não poder levantar-se
para saudá-lo. O jovem, que era o rei das Ilhas Negras, conta que ele e seu
reino haviam sido encantados pela mulher com quem se casara, e que ele
surpreendera com um amante. O jovem ferira o amante a ponto de deixá-lo
semi-morto. Então, para vingar-se, a rainha convertera o corpo do jovem
em pedra da cintura para baixo, e transformara o reino em um lago com os
habitantes metamorfoseados em peixes, cada um colorido com uma dentre
quatro cores diferentes conforme a religião. Diariamente ela açoitava o
jovem marido e entrava no quarto secreto em que estava confinado o
amante, levando-lhe um copo de vinho e uma tijela de caldo. Depois de
fazê-la cessar os encantamentos, o Rei mata os dois amantes. O pescador,
que servira de guia, é recompensado pelos dois reis, vindo a tornar-se o
homem mais rico de seu tempo.
O castelo do Graal
Persival ganha uma espada do rei - Se ele estoit bien emploie / La ou ele sera donee.
Um valete veio de um quarto, empunhando uma lança branca, segura pelo meio;
passou assim entre o fogo e os que se sentavam no leito. E todos ali viam a lança
branca e o ferro branco; uma gota de sangue saía da ponta do ferro da lança e essa
gota vermelha escorria até a mão do valete. O rapaz recém-chegado ali nessa noite
viu essa maravilha, mas se absteve de perguntar como tal coisa acontecia, porque
se lembrava da advertência daquele que o fizera cavaleiro, que lhe havia ensinado e
instruído para que se guardasse de falar demais. E temia que, se perguntasse, iriam
levar a mal. Eis porque nada perguntou. Então vieram dois outros valetes que
carregavam nas mãos candelabros de ouro fino, trabalhado em nigela. Em cada
candelabro ardiam pelo menos dez velas. Uma donzela que vinha com os valetes,
bela, gentil e bem ataviada, sustentava entre as duas mãos um graal. Quando ela
entrou segurando o graal, surgiu uma tão grande claridade que as velas perderam o
brilho, assim como sucede com as estrelas quando se ergue o sol ou a lua. Em
seguida a ela, veio outra, segurando um trincho de prata. O graal que ia adiante era
de fino ouro esmerilhado (esmeré); era cravejado de pedras preciosas de diversas
espécies, as mais ricas e mais caras que existem no mar e na terra.
Com a prima
- Ah! senhor, vós vos deitastes portanto na casa do rico Rei Pescador. Rei
ele é, bem vos posso dizer; mas foi ferido e mutilado de fato em uma
batalha, de modo que desde então não se pôde valer, pois foi trespassado
por um dardo através de ambas as coxas, e isso ainda o angustia tanto que
não pode montar a cavalo. Mas quando quer exercitar-se ou entreter-se
com alguma recreação, faz com que o metam em um barco e sai a pescar
com anzol. Por isso tem o nome de Rei Pescador. E assim se distrai porque
outro divertimento não poderia por nada suportar.
E agora dizei-me se vistes, enquanto estivestes sentado com ele, a lança
cuja ponta sangra, embora nela não haja nem carne nem veia.
- Se a vi? Sim, por minha fé.
- E perguntastes por que ela sangrava?
- Não falei nunca, que Deus me ajude.
- Pois sabei agora que agistes muito mal. E vistes o graal?
- Sim, vi bem.
Com a prima
- Perguntastes àquela gente a que parte iam assim?
- Nunca me saiu nada da boca.
- Ajude-me Deus, vai de mal a pior. Qual é vosso nome, amigo?
E aquele que não sabia seu nome adivinhou e disse que seu nome era Persival o
Galês. Não sabia se dizia ou não a verdade, mas dizia sim, e não o soube. Quando a
donzela o escutou, pôs-se de pé à sua frente e lhe disse zangada:
- Teu nome mudou, belo amigo.
- Como?
- Persival o Desditoso! Ah! infortunado Persival, quão malaventurado foste por tudo
que não perguntaste! Porque tanto terias socorrido o bom rei que está paralítico que
ele logo recobraria o uso de seus membros e governaria sua terra, e assim grandes
bens te resultariam! Mas fica agora sabendo que muitos males advirão a ti e a outros.
Isso te ocorreu, deverás saber, pelo pecado que cometeste contra tua mãe, pois ela
morreu de tristeza por ti. Conheço-te melhor do que tu a mim, que não sabes quem
sou. Fui criada junto contigo, em casa de tua mãe, por longo tempo: sou tua prima
irmã e tu és meu primo irmão.
Orgulhoso da Landa
Gotas de sangue na neve
• A prima permanece no lugar, abraçada ao corpo de um
cavaleiro morto
• Seguindo viagem, Persival vence o Orgulhoso da Landa,
amante da donzela da tenda
• Contemplando gotas de sangue na neve, pensa no
branco e vermelho da face da mulher que mais amava
• Sagremor e Kay tentam levá-lo à força até Artur, são
derrubados e Kay sofre fratura -- a donzela do sorriso e
o anão estão vingados
• Gawain o aborda com cortesia, e os dois vão juntos a
Artur
Donzela Feia
• Três dias de festa na corte, pela chegada de
Persival
• Chega a Donzela Feia, montada numa mula
• Propõe várias aventuras aos cavaleiros; a
Persival censura por deixar inacabada a
aventura do graal
• Guingambresil desafia Gawain
• Cavaleiros partem em busca das aventuras,
Gawain para Escavalon, e Persival para não se
sabe aonde
Gawain e a Donzela das Mangas Pequenas
• Gawain chega a Tintagel, onde há um torneio opondo
Meliant de Liz e seu futuro sogro
• Fica assistindo, porque não pode arriscar-se devido ao
compromisso em Escavalon
• Falam mal dele: é comerciante! (trazia vários escudos e
cavalos)
• A amada de Meliant e sua irmã - Donzela das Mangas
Pequenas - brigam: haveria melhor cavaleiro que Meliant?
• A donzela pede a Gawain que lute por ela no torneio,
levando uma prenda sua (manga longa de seda vermelha)
• Derrubado, fica Meliant a "jambeter et gesir tot plat"
Em Escavalon
• Um cavaleiro convida Gawain a hospedar-se onde mora; manda
recado a sua irmã que o receba bem
• Gawain e a donzela falam de amor, pois falar de outra coisa seria
perda de tempo; Gawain pede que o ame e ela não recusa
• Um "vavasour" entra, reconhece Gawain como um inimigo, vê os
dois aos beijos, acusa a donzela, e dá alarme; ela arma Gawain e
coloca-se a seu lado
• O povo cerca a torre e a tenta demolir. Gawain mata vários homens,
entram o rei e Guingambresil, uma trégua é combinada -- Gawain
deve voltar no prazo de um ano, durante o qual irá em busca da
lança que sangra
• "E está escrito que haverá uma hora em que todo o reino de Logres,
que outrora foi a terra dos ogros, será destruído por essa lança."
Cena de amor na casa do inimigo
(Gawain em Escavalon, Sharr Kan nas 1001 Noites)
Mas sir Gawain, o porteiro, com a
espada na mão fez o primeiro que
entrou pagar tão caro que os outros se
apavoraram
e
nenhum
ousava
avançar. Cada um cuidou de si,
porque temiam expor a cabeça.
Nenhum era bravo o bastante para se
aproximar, porque todos tinham medo
do porteiro: ninguém ousava levantar
a mão contra ele ou dar um só passo
adiante.
A donzela segurou as peças de
xadrez que estavam no chão de pedra
e as atirou furiosamente contra a
multidão. Puxava os cabelos, agitavase e jurava em sua fúria que os
destruiria a todos, se pudesse, antes
de morrer.
Um outro e logo outro mais foram-se
sucedendo, até que 50 acabaram
mordendo o pó, servindo de joguete à
lâmina terrível que os ceifava. Firme
como um rochedo, ele os triturou
como grãos em um moinho, e os fez
todos soltar o último alento.
A princesa mandou então suas
servas ver se sobrava alguém.
-Ninguém, a não ser os porteiros.
Mas havia ainda alguns, encondidos.
Ela saiu por um instante e reapareceu
com uma espessa cota de malha e um
sabre de aço da Índia.
-Pelo Messias, ninguém dirá que não
assumi em pessoa a defesa de meu
hóspede, ainda que sofra para sempre
o desprezo de meus compatriotas.
A lança de Longino como estandarte
(segundo o arcebispo Guilherme de Tiro)
• Nas lutas entre cristãos e muçulmanos pela posse de Antióquia,
durante as cruzadas, um clérigo ignorante, Pedro Bartolomeu, disse
ter ouvido de S. André, em uma visão, que a lança de Longino
estaria enterrada numa igreja dedicada a S. Pedro
• Um ferro é encontrado no local
• Acreditando ser a verdadeira lança, os cruzados decidem adotá-la
como estandarte, à frente do exército
• Empreendem uma sortida com ela nas mãos, e vencem as tropas
que sitiavam Antióquia
• Depois de algum tempo, homens do povo e barões começam a ter
dúvidas sobre a autenticidade da lança
A lança de Longino
(segundo o arcebispo Guilherme de Tiro)
Aquele que achara a lança ouviu sobre esses boatos e
rumores. Dirigiu-se ousadamente aos barões e falou:
"Senhores, não duvideis! Para vos mostrar que eu disse
a verdade, peço-vos mandar acender uma grande
fogueira, e eu entrarei nela com a lança na mão; vou
entrar e vou sair sem queimadura." Era uma sexta-feira
santa, dia em que Cristo foi ferido pela lança. O exército
todo reuniu-se em volta do fogo. Pedro chegou e se
ajoelhou. Terminando suas preces, tomou da lança e
entrou na fogueira, passou de ponta a ponta e nada
sofreu que se pudesse notar. Quando o povo viu isso,
todos correram a tocar nele e rejubilar-se.
Persival e o Ermitão
• Persival erra cinco anos, praticando feitos de armas e
esquecido de Deus
• Numa sexta-feira santa encontra 3 cavaleiros com 10
damas, tendo as cabeças cobertas de capuzes, todos a
pé, em hábitos de estamenha e descalços
• Vinham de um santo eremita, a quem pediram conselho
e se confessaram
• Na sexta-feira santa não se deve portar armas -Persival despe a armadura e vai também ele, com
humildade, procurar o ermitão
Persival e o Ermitão
(tio de Persival)
- Irmão, muito te foi nocivo um pecado de que nada sabes: foi a dor que tua
mãe sentiu por tua causa quando te separaste dela, e caiu por terra
desmaiada na extremidade da ponte em frente ao portão, e dessa dor ela
foi morta. Foi pelo pecado em que incorreste por isso que vieste a não
perguntar nada da lança nem do graal, e assim te sucederam muitos
males. Nem terias sobrevivido tanto, é bom que o saibas, se ela não te
houvesse encomendado a Nosso Senhor. O pecado te travou a língua
quando viste diante de ti o ferro em que o sangue nunca estancou e não
indagaste o motivo. E foste acometido de insensatez, não apurando a
quem serviam o graal. Aquele a quem o servem é meu irmão, tua mãe era
irmã dele e minha. E, quanto ao rico Pescador, podes crer que ele é filho
daquele rei que se faz servir desse graal. Mas não cuides que lhe tragam
lúcio, lampréia nem salmão; de uma só hóstia o servem, que lhe é levada
nesse graal e sua vida sustenta e conforta  tão santa coisa é o graal. E
ele, que é espiritual a ponto de que para sua vida nada precisa afora a
hóstia que vem no graal, tem estado assim por doze anos, sem sair do
quarto em que viste o graal entrar. (obs.: Persival primo do Rei Pescador)
Persival e o Ermitão
- Agora te peço que fiques aqui comigo dois dias inteiros, e que, como
penitência, comas da mesma comida que eu.
Persival lhe outorgou tudo. E o ermitão lhe segredou no ouvido uma
oração, insistindo até que ele a decorasse. Nessa oração havia numerosos
nomes de Nosso Senhor, pois ali estavam os nomes supremos, que não
devem ser expressos por boca humana a não ser sob ameaça de morte.
Quando acabou de ensinar-lhe a oração, proibiu-lhe que de modo algum os
pronunciasse, salvo em grande perigo.
- Não o farei, senhor, prometeu ele.
Assim deixou-se ficar, e ouviu o serviço da missa e se regozijou. Depois
do serviço, adorou a cruz e chorou seus pecados. Naquela noite, teve para
comer o que aprouve ao santo ermitão. Não teve senão beterrabas,
cerefólio, alface e agrião, milho, e pão de cevada e de aveia e água clara
da fonte. E seu cavalo teve uma bacia cheia de palha e cevada. Foi assim
que Persival reconheceu que Deus recebeu a morte na sexta-feira ao ser
crucificado. Na Páscoa, Persival comungou muito dignamente.
Como Persival se veste
(Persival como um "romance de educação")
• Roupas galesas rudes - menino ingênuo na
floresta com a mãe
• Armadura, com as roupas galesas por baixo logo após a primeira visita à corte de Artur,
achando que já é cavaleiro
• Armadura, sobre roupas finas - aprende as
regras da cavalaria com Gornemant
• Despe a armadura - desarma-se, aprende sobre
a vida espiritual com o eremita (preparado para o graal?)
lembrar: Excalibur, conceito de persona em Jung
Gawain e a Donzela Má
• Gawain cavalga ao lado de uma donzela que não cessa
de zombar dele
• Cuida de um ferido, Greoreas, e este lhe rouba o cavalo
• Greoreas raptara uma donzela, contra as tréguas do
reino de Artur, e Gawain o deixara a comer com os cães
• Montado em um rocim, Gawain luta com um sobrinho de
Greoreas e retoma o cavalo
• Cruza um rio em companhia de um rico barqueiro
• O barqueiro o leva a um palácio de que é servidor -nas mais de 500 janelas abertas, damas e donzelas se
debruçam
Castelo das Rainhas
• Atravessando a água com o barqueiro, chega ao Castelo das
Rainhas (também chamado Palácio das Maravilhas)
• Atreve-se a sentar no perigoso Lit de la Merveille
• Tal era o leito que se conta / Que nunca, nem para rei nem conde, /
Coisa assim foi feita e não será jamais
• Quando Gawain se senta, soam campainhas, setas são disparadas
por mãos invisíveis, e depois um leão o ataca
• Lembrar: Gawain jurara em Escavalon buscar a lança que sangra
• Num palácio do imperador em Constantinopla, ao qual os mais
nobres vinham por água, eram guardadas relíquias da Paixão,
incluindo parte da cruz, os pregos, a esponja, a coroa de espinhos,
um sudário, sandálias -- e também a lança!
• E o ato de sentar no trono era cercado de efeitos mecânicos
teatrais, para intimidar os visitantes
No palácio maravilhoso
Bispo Liudprand de Cremona em Constantinopla –
“Quando eu entrei, os leões começaram a rugir
e as aves a chilrear, conforme a natureza de
cada um, mas eu não fui tomado nem pelo
medo nem pelo assombro . . . Depois de
homenagear o Imperador, prostrando-me três
vezes, ergui a cabeça, e vejam só! aquele que
eu vira sentado a pouca distância do chão
sentava-se agora, de vestes trocadas, na altura
do teto da sala”.
Guiromelant
• Gawain é saudado pela Rainha das Brancas Tranças,
por sua filha também rainha, e pela filha desta
• A primeira é a mãe de Artur ("ele é criança, não terá mais de 100
anos"), a segunda é a mãe de Gawain, a terceira é
Clarissant, sua irmã
• A rainha lhe dá permissão para sair - prometendo voltar
• Guiromelant - ama sua irmã, pede que leve um seu anel
para ela, mas odeia Gawain de morte e o desafia
• Gawain transpõe de um salto o Vau Perigoso, e a
Donzela Má agora se curva diante dele
• Volta ao castelo em companhia da donzela
Guiromelant
• Guiromelant havia combinado com Gawain que os dois se
enfrentariam na presença de Artur e de sua gente - Gawain envia
um escudeiro à corte de Artur para convidá-lo
• A rainha manda encher 500 tinas de água quente, todos os
escudeiros se banham, e Gawain os arma - tem agora a companhia
de 500 novos cavaleiros
• O emissário de Gawain chega à corte, reunida em Orcanie; estão
todos chorosos, pois de há muito não tinham notícias de Gawain
• A dama Lore ouve os lamentos, desce até Guinevere -- e a narrativa
se interrompe no meio da frase… (morte do autor? de Felipe?)
• As quatro Continuações: anônimo, Wauchier de Denain, Gerbert,
Manessier - da ordem de 60.000 versos ( o Persival tem 9.034)
• Respostas sobre o graal, morte de Partinal, o Rei Pescador fica
são, Persival rei em seu lugar, casa-se (ou não) com Blancheflor
Felipe de Flandres, patrono de Chrétien
• Consagração da Collégiale Saint Pierre em Aire
• A relíquia da cidade de Arras -- cabeça de Saint
Jacques (São Tiago)
• Roubo da relíquia, ameaça de interdito papal,
solução salomônica de Hughes abade de Saint
Amand
• Partida para as cruzadas
• Na volta, encomenda a Chrétien que escreva
um romance baseado no livro que lhe passa (?)
Roubo da Relíquia de St. Jacques
Roubo da Relíquia de St. Jacques
(detalhe)
O conde Felipe nas cruzadas
• Balduíno IV - o Rei Leproso - do Reino de Jerusalém
• Sibila, irmã de Balduíno, viúva recente
• Felipe era primo irmão dos dois - lembrar: Rei Pescador,
a prima de Persival (com um cavaleiro morto, na saída do castelo)
• Balduíno recebe Felipe com muita honra; espera que ele
se torne regente e comande o exército
• Felipe não quer; propõe apenas casar Sibila com um
vassalo seu
• Tem participação vergonhosa, criticada pelo arcebispo
Guilherme de Tiro, autor de uma crônica sobre as
cruzadas (Historia dos Feitos nas Terras de Além-Mar)
• Retorna à Terra Santa, morre em Acre numa epidemia
O Sacro Catino
(de Cesaréia para a catedral de Gênova)
esmeralda: "esmeraude" ------ lembrar do "or esmeré"
O Sacro Catino
(de Cesaréia para a catedral de Gênova)
Arcebispo de Gênova Jacopo da Varagine (*), Crônica da Cidade de
Gênova (final do século XIII)
Tal como diante da luz do sol todas as luzes do céu
empalidecem, na presença desta pedra todas as outras
gemas preciosas perdem o brilho … Não se pode deixar
de mencionar como em certos livros dos ingleses lê-se
que, quando Nicodemo baixou da cruz o corpo de
Cristo, recolheu seu sangue, ainda fresco e a derramarse vergonhosamente, no vaso de esmeralda por ele
preparado mediante inspiração divina. E os ingleses em
seus livros chamam esse vaso de Sangraal.
(*) autor também da Legenda Áurea
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O Mundo do Rei Artur Antonio L. Furtado - PUC-Rio