AULA:1 – POLÍTICA NA AMÉRICA
LATINA
PROF. DR. WALLACE MORAES
(DCP/IFCS/UFRJ)
Texto: As encruzilhadas do nacionalismo radical
Autor: Claudio Katz (2007)
OBJETIVOS DA AULA:
Entender o contexto atual da América Latina
 Estudar as experiências históricas de governos
reformistas e revolucionários.
 Debater o caráter e os desafios dos governos de
Chávez, Morales e Corrêa.
 Compreender os diferentes governos em seu
espectros políticos da AL nos anos 2000.

NOSSO MÉTODO:
Veremos as diferentes posições dos governos e
consequentemente suas inclinações ideológicas a
partir da participação popular.
 Por que olhamos prioritariamente para a força
dos movimentos e não somente para as mudanças
institucionais?

INTRODUÇÃO: ANALISEMOS O CENÁRIO
ATUAL DA AL
Revoltas populares na AL nos anos 2000:
 “Sublevações populares sacudiram a América do
Sul nos últimos anos e conduziram a derrubada
de vários presidentes neoliberais.
 Estes fatos reforçaram a presença dos
movimentos sociais e facilitaram novas
conquistas democráticas.
 Também permitiram modificar as relações de
força em prejuízo do imperialismo e a favor dos
oprimidos.”

OUTROS RESULTADOS DAS REBELIÕES
Estabelecimento de governos nacionalistas
radicais, a saber:
 Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na
Bolívia e Corrêa no Equador.
 Quais foram as principais políticas desses
governos?
 favoreceram um curso econômico estatal,
 Mantiveram forte conflito com os Estados Unidos
 Mantiveram choque com as burguesias locais e
desenvolveram políticas econômicas que oscilam
entre o neodesenvolvimento e a redistribuição
progressiva da renda..

GOVERNOS DE DIREITA NA AL
No outro polo estão os governos conservadoras de
Uribe (Santos, atualmente) na Colômbia,
Calderón (Enrique Peña Nieto) no México e Alan
Garcia (Ollanta Humala) no Peru.
 Estes mantêm políticas pró americanas,
percursos abertamente neoliberais e reagem com
brutalidade repressiva perante qualquer
reivindicação popular.

GOVERNOS DE CENTRO NA AL
Os presidentes nacionalistas também se
distinguem dos seus colegas de centro- esquerda
 como Lula (Dilma) no Brasil, Kirchner na
Argentina ou Tabaré Vasquez (José Mujica) no
Uruguai.
 Estes chefes de Estado mantêm relações
ambíguas com o imperialismo, sustentam as
classes dominantes locais e utilizam os
mecanismos constitucionais para levantar
obstáculos às melhorias sociais.

TESE DO AUTOR
De acordo com Katz, se os governos nacionalistas
radicais não aprofundarem a revolução e
adotarem medidas anticapitalistas, seus
processos capitularão como ocorreu com os
governos de Allende, de Cárdenas e de Ortega.
 Esses são exemplos paradigmáticos de gov. de
esquerda na AL.

MÉTODO DO AUTOR
Método: Comparativo histórico.
 Para compreender as experiências de
nacionalismo radical do séc. XXI (Venezuela,
Equador e Bolívia), é necessário recorrer a
exemplos de circunstâncias semelhantes da
história latino-americana.
 Esta comparação exige a análise de cinco
situações:
 a Unidade Popular Chilena,
 o Sandinismo nicaraguense,
 o PRI do México,
 os ensaios de nacionalismo militar no Peru, na
Bolívia, no Panamá e a revolução cubana.
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EXEMPLOS HISTÓRICOS
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No Chile, sob o governo de Allende, os capitalistas
mantiveram o domínio da economia.
Na Nicarágua os dirigentes da FSLN recuaram suas
premissas revolucionárias para posturas socialdemocratas, desmoralizando a população. Estes fatos
somados as questões externas abriram espaço para o
retorno da direita ao poder.
No México, “o PRI utilizou a legitimidade de uma
revolução para estabilizar durante décadas a
acumulação privada e evitar os inconvenientes das
ditaduras”. A revolução mexicana ilustrou como pode
gestar-se uma classe capitalista a partir do Estado.
Por outro lado, o exemplo de Cuba.
Atualmente, os capitalistas mantêm o domínio da
economia na Venezuela, Bolívia e Equador, atendendo
a grandes interesses dos capitalistas ligados ao
Estado.
A TRAGÉDIA DO CHILE
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Para o melhor entendimento de qualquer opção
reformista na AL, faz-se necessário recorrer à
História dos acontecimentos no Chile.
O exemplo do Chile golpeia qualquer análise que
acredite em algum processo revolucionário na AL por
meio eleitoral.
“Pinochet simboliza um tipo de reação, que num certo
momento do século XX sustentou vários países da
região.
Os EUA e os seus parceiros oligárquicos locais
recorreram repetidamente à ferocidade fascista, para
dobrar os governos que afetam os interesses do
establishment.
A única coisa que variou foi a magnitude dos
assassinatos perpetrados em cada golpe.”
PINOCHET E O MODELO CLÁSSICO DE
CONTRA-REVOLUÇÃO NA AL
“Pinochet representa o modelo clássico de contrarevolução que a direita sempre tem em arquivo. A
conspiração começou quando Allende tomou
posse, através do assassinato do general
Schneider.”
 “Os bandos de Pátria e Liberdade começaram os
atentados, aproveitaram os protestos dos
caminhoneiros, a irritação dos comerciantes e as
caçarolas da classe média. Com o financiamento
das companhias multinacionais, a direita pôs em
prática as agressões da reação.”
 Algo similar aconteceu na Venezuela.

O GOLPE DE 2002 NA VENEZUELA
“Este mesmo esquema de provocações
reproduziu-se na Venezuela nos últimos anos,
particularmente durante o ensaio golpista de
2002.
 As grandes empresas contribuíram com dinheiro,
a embaixada norte-americana coordenou as
provocações, os conservadores açularam a classe
média, os velhos partidos recrutaram o pessoal
civil e os meios de comunicação inventaram as
justificativas para o ataque.”
 Fala-se na Venezuela em grupos paramilitares
que incrementam assassinatos para
desestabilizar o país.

GOVERNO ALLENDE
É importante analisar profundamente o governo
Allende como exemplo de possibilidade de
trânsito ao socialismo.
 Só este balanço evitará a repetição dos erros
cometidos por Allende.

AS ELEIÇÕES COMO FORMA DE CHEGAR AO
PODER...
As forças de esquerda na Venezuela, no Equador
e na Bolívia chegaram ao poder por meio de
eleições diretas, tal como Allende.
 Todavia, chegar ao poder político não significa
tomar o poder econômico do país.

O EXEMPLO DO GOV. ALLENDE
O gov. de Allende submeteu-se a todas as
restrições da legalidade burguesa.
 Esta opção impediu o avanço de reformas que
trouxessem melhorias para a qualidade de vida
da população.
 Além do mais, os capitalistas fizeram de tudo
para sabotar o governo de Allende.
 Seu maior erro foi a confiança nos militares e em
seus opositores, aceitando suas restrições.

ALLENDE FEZ ACORDOS COM A DIREITA
Logo no início do governo, Allende assinou um
pacto de garantias com a oposição, limitando
severamente o alcance das reformas promovidas
pela esquerda.
 Os representantes do capital não se limitaram
por nenhum compromisso legalista.
 Só utilizaram esses acordos para desgastar,
neutralizar seu oponente.
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LEGALISMO OU PODER POPULAR?
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“O compromisso com o legalismo de Allende impediu a
criação do poder popular, extra-parlamentar.
A conciliação de Allende com os golpistas coroou uma
política de rejeição da construção de um poder popular
extra-parlamentar (Assembleia Popular da cidade de
Concepción, Juntas de Abastecimento, Conselhos
Comunitários, Cordões Industriais).
Este tipo de edificação é indispensável para conseguir
um caminho para o socialismo.
O questionamento da Unidade Popular a estes
ensaios impediu a formação dos únicos organismos
que podiam preparar uma resistência das massas
contra Pinochet.
A cegueira parlamentarista não obstruiu só esta
coesão. Bloqueou, além disso, a confluência das
mobilizações pela reforma agrária e a melhoria dos
salários nas minas.”
LIÇÕES DA NICARÁGUA
A revolução sandinista foi uma insurreição
popular muito diferente das rebeliões recentes.
 Apoiou-se na ação guerrilheira e num
levantamento armado que acabou com a ditadura
de Somoza, numa situação de colapso total do
Estado. Uma grande diferença de intensidades
separa a eclosão da Nicarágua das crises latinoamericanas da última década.
 No seu início foi uma ação com alto grau de
radicalidade.

MEDIDAS ADOTADAS PELA FSLN
As decisões iniciais adotadas pela FSLN foram
mais radicais que as medidas adotadas pelo
governos nacionalistas atuais.
 Nacionalização de bancos,
 Controle de comércio externo,
 Substituição da guarda nacional por um exército
popular,
 Sindicalização massiva,
 Organização popular por bairros.

SEMELHANÇA COM OS PROCESSOS ATUAIS
O impacto internacional do triunfo sandinista
apresenta certa familiaridade com o contexto
gerado pelo processo bolivariano.
 Em ambos os casos desafiam a hegemonia global
e criaram uma situação comparável de
expectativa popular à vigente no início dos anos
80.
 O triunfo do Sandinismo suscitou um entusiasmo
transbordante, rompendo com o isolamento de
Cuba e incentivando a luta regional contra as
ditaduras da época.
 Este otimismo começou a renascer com as
vitórias sobre a direita na Venezuela.
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ENSINAMENTOS DO PROCESSO NA
NICARÁGUA
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Tal como na Venezuela, a FSLN gerou um regime
político pluripartidário e representativo, com muitos
ingredientes da democracia participativa.
Nas duas soluções registaram-se avanços
significativos, mas insuficientes, para dotar a
população do efetivo poder de decisão.
Nenhum dos dois casos foi criado o poder popular!
Por este motivo, os sectores capitalistas que
sobreviveram na Nicarágua puderam retomar o
governo no momento oportuno.
Os seus pares na Venezuela preservam esta mesma
capacidade de intervenção e mantêm forças
suficientes para tentar a recaptura da presidência.
ATAQUES SOFRIDOS PELA NICARÁGUA
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O Sandinismo teve de lidar com a sistemática
agressão do imperialismo. Os custos deste atropelo
foram infinitamente maiores que os suportados pelo
processo bolivariano.
A Venezuela, até agora, não enfrentou as invasões de
mercenários treinados pela CIA.
De 1981 até 1987, Reagan manteve uma ofensiva
aberta a partir das bases militares de Honduras e do
Panamá.
A Nicarágua sofreu um número de baixas equivalente
à dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial,
Coreia e Vietnan.
A produção agrícola ficou destruída e a vida
económica sofreu danos monumentais.
RESISTÊNCIA MILITAR E DERROTA
ELEITORAL
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Apesar desta sangria o imperialismo fracassou.
Apesar do elevado custo económico e social o
Sandinismo pôde triunfar.
O problema apareceu posteriormente, quando não
soube projetar esta vitória no terreno político. O
divórcio entre ambos os planos é a principal lição
dessa dura experiência.
As enormes diferenças de poder de fogo não impedem
a vitória popular no campo de batalha.
O que aconteceu no Vietnan repetiu-se na Nicarágua.
Mas o Sandinismo perdeu nas urnas o que
conquistara com as armas.
Este fracasso constitui um sinal de alerta para o
processo bolivariano. A arena política pode resultar
mais adversa que qualquer agressão do Pentágono.
NO PLANO INTENACIONAL
A Nicarágua passou a ser exemplo para a luta
internacional da esquerda na AL.
 A URSS retirou o apoio, em função de acordos
com os EUA.
 Os governos latino-americanos apoiaram
formalmente, mas exigiam que o governos
atendessem as reivindicações dos conservadores.

DERROTA DA FSLN
Os desacertos cometidos pela FSLN na última
etapa do governo conduziram á sua queda.
 Essa restauração conservadora não era
inevitável, nem obedeceu apenas à «política
orquestrada por Washington» ou ao «contexto
internacional criado pelo derrocada da URSS».
 Ambos os argumentos desqualificam a discussão
de um balanço real, ao transformar o inimigo no
único responsável pelas frustrações populares.
 Esta forma de raciocinar conduz a postura
passivas ou a imaginar que o socialismo se
construirá com acrobacias diplomáticas.

A RESPONSABILIDADE POLÍTICA QUE TEVE A
DIREÇÃO SANDINISTA NA RECOMPOSIÇÃO DA
DIREITA.
Desde 1988 recusaram de forma explícita toda
perspectiva anticapitalista,
 Chamaram de «antiquado» o marxismo e
 desdobraram-se em crescentes elogios ao
mercado.
 Resultado: fim da reforma agrária, abandono de
projetos sociais, inclusive, adotaram medidas
exigidas pelo FMI.
 O giro conservador dos dirigentes – num
momento de ascensão neoliberal e de colapso da
URSS – desconcertou os militantes, desmoralizou
a população e preparou o terreno para o regresso
da direita.

ESTA INVOLUÇÃO TRAZ-NOS UMA GRANDE
LIÇÃO PARA OS TEMPOS ATUAIS
Ilustra como o ressurgimento dos conservadores
se apoia no aburguesamento de uma direção
revolucionária.
 A regressão social-democrata do Sandinismo deu
auditório popular à prédica da direita.
 A repetição deste panorama não está
imediatamente à vista na Venezuela. Mas a
direita pode reconstituir-se eleitoralmente com
grande velocidade, já que conta com estruturas
financeiras e tradições para se reabilitar de
forma vertiginosa.

A DERROTA ELEITORAL
“Até agora a balança eleitoral da Venezuela
inclinou-se claramente a favor de Chávez. (...)
 Sandinistas conseguiram êxitos retumbantes que
os induziram a fantasiar com a infalibilidade
eleitoral. Por isso a derrota de 1989 foi tão
inesperada e fulminante.
 A FSLN perdeu capacidade de reação e acentuou
a sua adaptação à ordem capitalista. Este
amoldar conduziu a uma transformação total
dessa organização.
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O TRISTE FIM DA FSLN
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Antes de abandonar o governo muitos sandinistas
apropriaram-se de casas e terrenos, através de um
nefasto episódio de corrupção conhecido como «la
piñata».
Depois participaram num governo de transição que
converteu as milícias sandinistas num exército
regular, aprovaram a desvalorização, medidas de
privatização e a devolução de fábricas expropriadas
aos seus velhos donos.
O corolário destas decisões foi a transformação da
FSLN num partido convencional, centrado na
atividade eleitoral e formalmente integrado na socialdemocracia internacional.
O sandinismo se destruiu por dentro. Michels e
Bakunin talvez expliquem melhor.
O EXEMPLO MEXICANO - MUITO EM
COMUM COM O BOLIVARIANISMO
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A revolução mexicana começou com uma grande
erupção popular.
Anarquistas, zapatistas e Pancho Villa lutaram
arduamente pela revolução, mas foram parcialmente
derrotados em 1919.
Nos anos 1930, Cárdenas chega ao poder e reinicia as
reformas sociais.
Fez reforma agrária e estatização de empresas
petroleiras, mas incentivou a acumulação privada
pela redução de impostos, criou um sistema bancário
de acordo com as necessidades empresariais, auxiliou
com fundos públicos setores empresariais. Não
nacionalizou o estratégico setor mineiro.
COOPTAÇÃO E BUROCRATIZAÇÃO DO
MOVIMENTO POPULAR
O complemento político deste esquema de
capitalismo de estado foi a cooptação paternalista
dos sindicatos operários e agrícolas. A burocracia
dessas organizações foi consolidada à medida que
a esquerda se isolava.
 Quando a etapa radical concluiu a seu papel,
Cárdenas saiu de cena e Ávila Camacho (direita)
pôs em marcha as medidas exigidas pelos novos
poderosos. Então começaram as três décadas de
monopólio político do PRI, que acentuaram a
concentração da riqueza em muito poucos
sectores capitalistas.
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EM NOME DA REVOLUÇÃO OS
CAPITALISTAS CONSTRUÍRAM SEU IMPÉRIO
Os capitalistas utilizaram a legitimidade dada
pela revolução para estabilizar o seu domínio
durante um largo período. Assim puderam
poupar os custos e os inconvenientes das
ditaduras apoiadas pelos seus pares no
continente americano.
 As conquistas populares foram paulatinamente
esvaziadas e dissipou-se o seu conteúdo inicial
que eclodiu em 1910.
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O EXEMPLO DE CUBA
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Claudio Katz utiliza o exemplo de Cuba para
mostrar que é possível fazer a revolução e
caminhar ao socialismo na América Latina.
FIM.
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Texto de Claudio Katz As encruzilhadas do nacionalismo radical