A METAFÍSICA ARISTOTÉLICA
BIBLIOGRAFIA:
Aristóteles: Metafísica (São Paulo: ed. Paulinas)
Christopher Shields, C.: Aristotle (London: Routledge
2007)
Copleston, F. History of Philosophy, vol. 1
Guthrie, W.K.C: History of Greek Philosophy, vol. VI
(Cambridge: Cambridge University Press 1981)
Ross, D.: Aristotle (London: Routledge 1995)
A METAFÍSICA de Aristóteles é um grupo de 14 escritos de
difícil leitura, que teve tremenda influência no
pensamento filosófico.
Ele começa dizendo que todos os homens tem o desejo de
conhecer.
Mas há diferentes graus de conhecimento.
1) Há o conhecimento pela mera experiência,
2) Há o conhecimento de uma arte objetivando
realizações práticas.
3) Mas há, além disso, um conhecimento que não
tem NENHUMA UTILIDADE,
BUSCADO PELO INTERESSE DELE MESMO.
(Como Heidegger notou, a filosofia é nobre demais para
servir para alguma coisa.)
A ciência de conhecimento desinteressado é
a CIÊNCIA BUSCADA ou ainda a FILOSOFIA
PRIMEIRA,
ou ainda aquilo que o editor dos escritos, A. de
Rhodes, chamou de METAFÍSICA.
Ela é a CIÊNCIA DOS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E
DAS PRIMEIRAS CAUSAS
Esse deve ser o conhecimento mais CONHECÍVEL, embora
não para o intelecto humano, que começa sempre da
experiência sensível, enquanto a metafísica é a ciência
que se encontra mais distante dessa experiência,
requerendo de nós considerável esforço de abstração
racional para ser alcançada...
Em busca dessa ciência, Aristóteles começa
considerando as 4 CAUSAS:
1) FORMAL: FORMA, IDÉIA, ESSÊNCIA.
2) MATERIAL: OBJETO.
3) EFICIENTE: FONTE DE MOVIMENTO.
4) FINAL: FINALIDADE.
Exemplo: O artífice tem uma peça de mármore (causa
material). A estátua deverá ser de Vênus (causa formal).
Ele intenciona construir uma estátua para o templo de
Apolo (causa final). Ele a modela com o martelo e o cinzel
(causa eficiente).
- Teoria arcaica? Trata se de TEORIA DAS EXPLICAÇÕES
(becauses)
Aristóteles tb declara (livro iv) que ela concerne
ao SER ENQUANTO TAL,
ao SER ENQUANTO SER.
As ciências especiais isolam uma esfera particular
do ser e investigam os atributos do ser naquela
esfera...
Mas a metafísica investiga
O SER EM SI MESMO E SEUS ATRIBUTOS
ESSENCIAIS.
.......................................................................................................................................
(Observação rel. escolástica: Isso é também investigar a UNIDADE,
pois ela está presente em todas as categorias... Isso é também
investigar o BEM, pois ele é aplicável a todas as categorias...
UNIDADE e BEM são atributos transcendentais do ser. Eles não são
gêneros, não se confinam a nenhuma categoria, não posso predicar
animalidade (genus) da racionalidade (diferença específica), mas
posso predicar o ser de ambos. SER, UNIDADE, BEM, não podem ser
genus)
Com que categoria de ser está a Metafísica concerne:
R: primariamente com a SUBSTÂNCIA, posto que
todas as coisas ou são SUBSTÂNCIAS OU
AFECÇÕES DA SUBSTÂNCIA.
E se há uma SUBSTÂNCIA IMUTÁVEL, então a metafísica
estuda a substância imutável, posto que estuda o SER
ENQUANTO SER (e a verdadeira natureza do ser está no
imutável mais do que no mutável).
Deve haver pelo menos UM ser imutável que causa o
movimento, mas que permaneça IMÓVEL, isso sendo
mostrado pela impossibilidade de uma infinita série de
fontes de movimento.
Possuindo a completa natureza do ser esse MOTOR
IMÓVEL deve ser DIVINO. Assim, a metafísica é também
uma TEOLOGIA!
Ele divide as substâncias em:
1) Mutáveis
2) Imutáveis
Ou então as divide em:
1) Sensíveis e perecíveis
2) Sensíveis e eternas (i.e. os corpos celestes)
3) Não-sensíveis e eternas
.......................................
A metafísica investiga o SER NA
CATEGORIA DE SUBSTÂNCIA, não o SER
ACIDENTAL, que não é objeto da ciência.
Nem ser como VERDADE, pois V/F são
ATRIBUTOS DE JUÍZOS, não de COISAS.
A metafísica também estabelece os PRIMEIROS
PRINCÍPIOS ou AXIOMAS, que governam os
seres e o conhecimento.
A metafísica também estabelece os
PRIMEIROS PRINCíPIOS ou AXIOMAS que
governam todos os seres e todo o
conhecimento...
Particularmente importante é o PRINCÍPIO
DA CONTRADIÇÃO:
“Nada pode ser e não ser ao mesmo tempo
e sob o mesmo aspecto.”
Ou:
~(A & ~A)
Não podemos dizer nada nem objetar nada nem
justificar nada sem pressupor o princípio da
contradição.
O cético que o rejeita nada é capaz de dizer, pois
ao abrir a boca ele já o estará aceitando...
CRÍTICA À DOUTRINA DAS
IDÉIAS
Aristóteles critica a doutrina das idéias (“Platão é meu
amigo, mas a verdade é mais”), mas exagera os
defeitos desta com PROPÓSITOS POLÊMICOS:
1) Que o universal faz o conhecimento possível,
diz Aristóteles, prova que o universal é REAL,
mas não prova que ele SUBSISTE À PARTE DAS
COISAS INDIVIDUAIS.
2) A doutrina é INÚTIL, pois AS FORMAS
PLATÔNICAS DUPLICAM SEM PROPÓSITO AS
COISAS VISÍVEIS.
3) As formas são INÚTEIS para nosso
conhecimento das coisas, pois não estão nelas.
Isso parece exprimir o interesse de Aristóteles
pelo mundo visível.
4) As formas são inúteis para explicar o
MOVIMENTO das coisas, seu surgir e decair.
Se as formas são imóveis, as suas cópias visíveis
deveriam ser também imóveis.
Mas Platão nunca considerou as formas como
princípios de movimento e foi por isso que ele
introduziu o Demiurgo.
5) As formas deveriam explicar os objetos
sensíveis. Mas elas próprias seriam sensíveis: o
homem ideal seria sensível, como Sócrates. As
formas relembram então os DEUSES
ANTROPOMÓRFICOS. Assim como os Deuses são
homens eternos, as formas são sensíveis eternos!
Um problema com essa objeção é que para Platão
as idéias são TIPOS IDEAIS, de modo que a idéia
de homem contém a idéia de corporeidade, mas
não é ela própria corpórea.
Aliás, a corporeidade da idéia é ex hypothesi
excluída, pois isso significaria que os platonistas
posteriores, ao colocarem a idéia do homem na
mente divina, estariam colocando um homem
corpóreo nela!
(Essa interpretação é crua e injusta, mas me
parece certa como um meio de enfatizar um
elemento antropomórfizante nas idéias
platônicas.)
6) A teoria das formas é IMPOSSÍVEL. Como pode
ser que as IDÉIAS, sendo as SUBSTÂNCIAS DAS
COISAS, possam existir à parte? As formas
contém as ESSÊNCIAS dos seus objetos, mas
como é possível que então elas existam à parte
deles?
Além disso as relações de participação e imitação são
METÁFORAS POÉTICAS...
- Só que para Platão a SEPARAÇÃO intencionada
NÃO É LOCAL! Ela quer dizer INDEPENDÊNCIA
DAS IDÉIAS!
Parece que Aristóteles está argumentando do
ponto de vista de sua própria teoria, segundo a
qual as formas são ESSÊNCIA IMANENTE DO
Segundo Copleston, parece que participação não significa
nada a menos que seja uma FORMA REAL IMANENTE COCONSTITUTIVA DO OBJETO COMO MATÉRIA – uma
concepção não-admissível para Platão. Mas essa posição
de Aristóteles também é questionável, pois não provê de
um fundamento transcendental real para a fixidez das
essências...
7) As coisas não podem ser PROVENIENTES das
formas.
Mas Aristóteles curiosamente negligencia o
Demiurgo, e a razão é que a causa última do
movimento é para ele FINAL. A noção de uma
causa eficiente super-terrestre é para ele
INACEITÁVEL.
8) As formas são OBJETOS INDIVIDUAIS, quando na
verdade não seriam objetos, mas UNIVERSAIS. Platão
acha que o HOMEM IDEAL será um indivíduo, como
SÓCRATES.
Mas na suposição de que deve haver um MODELO IDEAL
ou forma unindo a pluralidade dos objetos com um nome
comum,
nós precisamos então supor a existência de um
TERCEIRO HOMEM...
imitado não só por SÓCRATES, mas pelo HOMEM
IDEAL.
A razão é que Sócrates e o homem ideal tem uma
NATUREZA EM COMUM, portanto deve haver um
universal subsistente além deles!
Daí: regressão ao infinito!
Essa crítica valeria se formas fossem COISAS. Mas
elas são conceitos individuais formando a
estrutura racional do mundo.
9) Contra a sugestão platônica de que formas são
NÚMEROS.
(Se forem números não podem ser causas, haverá então
dois tipos de números, números matemáticos e números
idéias, além disso objetos da matemática não podem
existir separadamente.
Para Aristóteles não podemos abstrair o círculo perfeito
porque na natureza tal círculo não existe, podemos
abstraí-lo quoad visum, e as figuras e axiomas da
matemática são mais ou menos arbitrárias.)
Para a posição tomista de Copleston, as posições
de Platão e Aristóteles são COMPLEMENTARES,
pois existem:
1) UNIVERSAIS na MENTE DIVINA, as
IDÉIAS Platônicas.
2) UNIVERSAIS NAS COISAS, como
FORMAS IMANENTES ARISTOTÉLICAS.
3) UNIVERSAIS abstratos em nossas
mentes.
Como para Platão, para Aristóteles os universais
precisam ser REAIS, pois são o OBJETO DA
CIÊNCIA.
‘Para Aristóteles, o universal TEM REALIDADE NA
MENTE E NAS COISAS, embora a existência nas
coisas não implica na universalidade formal que
ele tem na mente. Indivíduos pertencendo à
mesma espécie são SUBSTÂNCIAS REAIS, mas
não participam em um único universal que é o
mesmo para todos os membros da classe. Essa
essência específica é numericamente a mesma
em cada indivíduo da classe, mas, por outro lado,
é especificamente A MESMA em todos os
indivíduos da classe (i.e. eles são todos similares
em espécie), e essa similaridade objetiva é a
verdadeira fundação para o universal abstrato,
que tem identidade numérica na mente e pode
ser predicado de todos os membros da classe
indiferenciadamente.’ (F. Copleston)
Para Aristóteles, Sócrates deu o impulso para a
doutrina das idéias por meio de suas
DEFINIÇÕES, “MAS ELE NÃO AS SEPAROU DOS
INDIVÍDUOS, E ISSO ELE PENSOU CERTO”,
Falando estritamente NÃO HÁ universal objetivo
para Aristóteles.
O que existe é UMA FUNDAÇÃO OBJETIVA NAS
COISAS para o UNIVERSAL NA MENTE.
O universal “CAVALO” é um conceito subjetivo,
mas tem uma FUNDAÇÃO OBJETIVA nas FORMAS
SUBSTANCIAIS que ENFORMAM os cavalos
particulares!
SUBSTÂNCIA
Substância:
INDIVÍDUOS são verdadeira substância (ousia).
Pois só o indivíduo é sujeito de predicações e
nunca é predicado.
Mas os UNIVERSAIS (ESPÉCIES) são substância
num SENTIDO SECUNDÁRIO E DERIVADO. Pois
eles são 1) ESSÊNCIAS, tendo 2) MAIS
REALIDADE que o indivíduo enquanto tal, sendo
também 3) OBJETOS DA CIÊNCIA.
Objeção de contradição: se só o indivíduo é
verdadeiramente substância, então a ciência deveria ser
de indivíduos...
Resposta: universais são substâncias segundas só em
relação a nós, pois primeiro conhecemos o indivíduo. Não
são secundárias no sentido valorativo!
Para Aristóteles o universal é real no
indivíduo, ele não é transcendente se
considerado em sua realidade objetiva, mas
imanente, como UNIVERSAL CONCRETO.
INDIVÍDUO SENSÍVEL =
COMPOSTO de FORMA +
MATÉRIA,
e o intelecto capta o ELEMENTO UNIVERSAL, a
forma, que está realmente lá, existindo
concretamente como um elemento do indivíduo.
Ex: a espécie do cavalo está no cavalo perecível
que é o Black Beauty...
Ele distingue entre duas substâncias:
1) SUBSTÂNCIA PRIMEIRA: individual,
composta de MATÉRIA E FORMA
2) SUBSTÂNCIA SEGUNDA: elemento
FORMAL ou ESSÊNCIA ESPECÍFICA,
que corresponde ao conceito
universal.
Substâncias primeiras são objetos que não podem
ser predicados de outros.
Substâncias segundas são a natureza, a essência
específica que corresponde ao conceito universal.
A SUBSTÂNCIA INDIVIDUAL é um
COMPOSTO de SUBSTRATO +
ESSÊNCIA ou FORMA.
À substância individual pertencem as nove
categorias acidentais.
O universal torna-se preeminentemente o
OBJETO DA CIÊNCIA, pois é o ELEMENTO
ESSENCIAL, TENDO ASSIM REALIDADE EM UM
SENTIDO SUPERIOR AO QUE É MERAMENTE
PARTICULAR.
O universal existe só no particular, de modo que
não podemos apreendê-lo, exceto pela apreensão
do indivíduo.
Em ciência geralmente não precisamos de universais precisos, ou seja, de
definições reais, mas apenas de essências nominais, por exemplo, na
definição de uma espécie em botânica, como pensava um nominalista como
Stuart Mill. Mas Aristóteles tinha uma concepção ideal de ciência, que
demanda DEFINIÇÕES REAIS ESSENCIAIS.
1) Aristóteles nega que universais sejam
substâncias só para refutar Platão, mas ele os
chama de SUBSTÂNCIAS SEGUNDAS.
2) Além disso, o elemento material do indivíduo é
obscuro ao conhecimento e como tal indefinível,
enquanto a substância é basicamente a ESSÊNCIA
DEFINÍVEL ou FORMA DA COISA, o princípio que
a torna um objeto concreto definido!
3) Portanto: a substância é basicamente
FORMA, em si mesma pura e imaterial!
Em outras palavras:
A FORMA PURA É QUE É PRIMARIAMENTE
SUBSTÂNCIA
Mas as únicas formas que são realmente
independentes da matéria são
DEUS,
as INTELIGÊNCIAS DAS ESFERAS
e O INTELECTO ATIVO DO HOMEM...
Eis porque, se a metafísica investiga a
SUBSTÂNCIA, ela é equivalente à
TEOLOGIA!
ANÁLISE DA MUDANÇA
Análise da MUDANÇA:
Há para Aristóteles 4 princípios:
A
MUDANÇA OU MOVIMENTO é um FATO DO
MUNDO para Aristóteles.
MATÉRIA, FORMA, CAUSA EFICIENTE, CAUSA FINAL.
Exs: uma folha muda de cor de verde para
marrom. O mármore é tornado uma estátua.
Uma semente origina uma árvore. Uma vaca
come grama e a transforma nela mesma.
Para que algo mude é necessário ALGO
QUE MUDA, o SUBSTRATO DA MUDANÇA!
A semente é a árvore em POTÊNCIA,
ATUALIZANDO-SE sob a ação de uma
CAUSA EFICIENTE...
No caso da vaca que come grama a substância
não permanece a mesma! Pela digestão a grama
recebe nova forma substancial...
Mas algo permanece o mesmo:
o SUBSTRATO ÚLTIMO,
que é SIMPLES POTENCIALIDADE
ENQUANTO TAL,
a MATÉRIA PRIMA.
Análise da mudança:
A MATÉRIA PRIMA É A BASE ÚLTIMA DA
MUDANÇA.
Nenhum agente eficiente age sobre a matéria
prima enquanto tal, mas sempre sobre algum
substrato atualizado.
Ex: o escultor age sobre o mármore...
Assim, a matéria prima nunca existe enquanto
tal, mas em conjunção com alguma forma.
Ela não é um corpo, mas um elemento do corpo.
A mudança só existe em algo capaz de se tornar
outra coisa.
É a atualização de uma potencialidade que
envolve um ser atual, por exemplo, água em
certas condições tem a potencialidade de se
tornar vapor...
A água demanda se tornar vapor. Ela está
PRIVADA de se tornar vapor.
Assim, há três fatores envolvidos na mudança:
MATÉRIA, FORMA E PRIVAÇÃO
(EXIGÊNCIA).
O PRINCÍPIO DA INDIVIDUAÇÃO
Princípio de individuação:
A substância concreta sensível é um ser individual
composto de matéria e forma.
Mas o elemento formal é o mesmo em todos os
membros da infima species.
Ex: o mesmo em Sócrates e Platão.
(Mas COMO NÃO SE PODE TRATAR AQUI DE
IDENTIDADE NUMÉRICA, TRATA-SE DE
IDENTIDADE QUALITATIVA, o que não resolve
mais coisa alguma!)
Seja como for, a conclusão disso é que
A FORMA NÃO PODE SER O PRINCÍPIO DE
INDIVIDUAÇÃO do objeto sensível.
O princípio de individuação só pode ser A MATÉRIA!
Assim, Sócrates e Platão são o mesmo em forma, mas
diferem em virtude de suas diferentes matérias (para os
tomistas não a matéria prima, mas materia signata
quantitae, i.e., eu possui uma exigência antecipatória de
quantidade a ser satisfeita pela união com a forma).
Conclusão: a pura forma deve ser o membro único
de sua espécie, pois não há nenhuma matéria que
possa atuar como princípio da individuação
dentro da espécie.
Assim: não pode haver uma pluralidade de anjos ou seres
imortais pertencendo a uma mesma espécie. Cada anjo é
uma espécie de anjo.
O PRIMEIRO MOVENTE, não possuindo matéria, deve ser
NUMERICAMENTE UM... (contra a teoria pluralidade dos
motores imóveis)
A HIERARQUIA DA MUDANÇA
Daí também advém uma HIERARQUIA ou ESCALA
ASCENDENTE DE EXISTÊNCIA:
Exs:
1
2
3
pedra bruta -> pedra polida -> pedra da casa
corpo
-> alma sensitiva -> alma
intelectiva
Potência.............>Atualidade
Potência..........>Atualidade
Vemos aqui que se pode construir uma hierarquia
em direção a ordens superiores de atualidade!
Vemos que há uma ESCADA:
1) Na base da escada está a MATÉRIA PRIMA
(nunca atualmente existente, nunca existindo à
parte da forma).
2) Na união dos contrários ela forma os quatro
elementos, terra, água, ar e fogo, que são os
corpos mais simples, mas não absolutamente
simples.
3) Em potência eles são objetos inorgânicos,
como ouro.
4) Em potência eles são corpos orgânicos.
Em potência eles ascendem na escala para dar
lugar ao intelecto ativo do homem, desassociado
da matéria,
5) às inteligências separadas das esferas e,
finalmente, à Deus!
Como se INICIA A MUDANÇA?
Além da causa formal e material é demandada a
CAUSA EFICIENTE. Mas essa pode ser INTERNA à
coisa que muda.
Por exemplo, cada elemento tende ao seu lugar
natural, o fogo aos céus... A semente é causa
eficiente de se tornar uma árvore.
Aristóteles privilegia a CAUSA FINAL, que age por
ATRAÇÃO. Mas a finalidade não costuma ser
externa. O boi não cresce para se tornar comida...
O boi cresce para se tornar boi, realizando assim
a sua CAUSA FORMAL, de modo que aqui CAUSA
FORMAL E FINAL CONVERGEM. (Ele tende a
unificar as causas).
O PRIMEIRO MOVENTE
Deus: Se todo objeto em movimento requer uma
causa movente atual, então o mundo requer um
PRIMEIRO MOVENTE (primo motor).
Ele é primeiro não no sentido temporal, pois para
Aristóteles o MOVIMENTO É ETERNO. Ele é
primeiro no sentido de ser SUPREMO!
O primeiro movente também não é um DEUS
CRIADOR, pois o mundo existe POR TODA A
ETERNIDADE (um tempo antes do tempo:
contradição!)
Ele não pode ser causa EFICIENTE de nada, pois
toda ação eficiente envolve reação e nesse caso
ele seria AFETADO PELO MUNDO, diminuindo em
perfeição.
Deus FORMA o mundo, mas não como causa
eficiente e sim por ATRAÇÃO, COMO A SUA
CAUSA FINAL, como OBJETO INSPIRADOR
DE AMOR E DESEJO!
A inteligência de cada esfera espiritual
deseja imitar a mais perfeita e aproximarse dela o mais possível.
O PRIMO MOTOR é PURO ATO, se fosse potência
ele mudaria e ele por é por definição IMUTÁVEL.
Ele precisa ser IMATERIAL, pois
materialidade envolve possibilidade de
sofrer ação e mudança. (Aristóteles fala de um
único primo motor, mas também fala de 55.)
(Aristóteles fala de um único primo motor, mas também
de 55, Plotino acha que precisa ser um , posto que a
matéria é que individua. Aristóteles também apresenta
esse argumento de passagem.)
1. Sendo imaterial, o primo motor não pode
realizar nenhuma ação corporal.
2. Sua atividade é a de PENSAR.
3. Mas qual o objeto do seu pensar?
4. Conhecimento é participação intelectual no
objeto. Por isso, o objeto do pensamento divino
deve ser o melhor de todos, não podendo
envolver mudança.
5. Por isso esse objeto só pode ser ele mesmo.
6. O que Deus conhece é, pois, a si mesmo, em
uma eterna atividade de autoconsciência!
7. Conclusão: Deus é o pensamento que se pensa
eternamente a si mesmo. Deus é “PENSAMENTO
DO PENSAMENTO”. Pura reflexão.
8. Ele não pode ter objeto do pensamento fora de
si mesmo, pois nesse caso terá um fim fora de si
mesmo.
==============
Q: O Deus aristotélico é PESSOAL?
R: Apenas no sentido de que é pensamento.
Pois ele não opera no mundo e não interage conosco, não
pode nos amar, nem mesmo podemos amá-lo!
Aristóteles também nota que onde há um melhor deve
haver o melhor, o divino.
fim
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