BARROCO:
Profª Vivian Trombini
O Barroco -----predominou no século XVII –
momento de crise espiritual
na cultura ocidental.
duas mentalidades,
duas formas distintas de ver o mundo:
de um lado
o paganismo e o
sensualismo do
Renascimento,
(em declínio)
de outro
a forte onda de
religiosidade
lembra
Teocentrismo medieval
Século XVI
RENASCIMENTO
o retorno à cultura
clássica grecolatina
a vitória do antropocentrismo
BARROCO
• vínculos com a cultura clássica
caminhos próprios
necessidades de expressão
daquele momento
Outros nomes do Barroco
• Marinismo: (Itália), Giambattista Marini.
• Gongorismo: (Espanha) Luís de Gôngora y
Argote
Barroco e gongorismo = sinônimos.
• Preciosismo: (França), em razão do requinte
formal dos poemas
• Eufuísmo: (Inglaterra) criado a partir do título
do romance Euphues , or the anatomy
of wit, de John Lyly.
A SOCIEDADE
EUROPEIA
Século XVII
O CLERO
TERCEIRO
ESTADO
A NOBREZA
•Artesãos
•Camponeses
•Burguesia
Poder econộmico
Pressão
CONTRADIÇÕES
DO BARROCO
Contrarreforma
Econômico
Livre
Político
Oprimido
Enriquecer
Espiritual
*Influência
do paganismo
renascentista
•Prazeres
materiais
Restauração
da fe
Medieval.
l
Homem:
Ser contraditório
Forma
Características da linguagem
Conteúdo
• Vocabulário selecionado
• Gosto pelas inversões
sintáticas.
• Figuração excessiva; ênfase
em certas figuras da
linguagens:metáfora,
antítese e hipérbole.
• Sugestões sonoras e
cromáticas.
• Gosto por construções
complexas e raras.
• Conflito espiritual.
• Bemmal.
• Consciencia da
efemeridade do tempo.
• Carpe diem
• Morbidez.
• Gosto por raciocínios
complexos e intrincados.
Um “BARROCO” Brasil
A cada canto um gram conselheiro, A
Que nos quer governar na cabana, e vinha, B
Não sabem governar sua cozinha, B
E podem governar o mundo inteiro .A
Em cada porta um frequentado olheiro, A
Que a vida do vizinho, e da vizinha, B
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,B
Para levar à Praça, e ao Terreiro. A
Muitos mulatos desavergonhados, C
Trazidos pelos pés os homens nobres, D
Postas nas palmas toda a picardia. E
Estupendas usuras nos mercados, C
Todos, os que não furtam, muito pobres, D
Eis aqui a cidade da Bahia.E
Os escritores barrocos brasileiros
que mais se destacaram são:
• na poesia:
Gregório de Matos,
Bento Teixeira,
Botelho de Oliveira
Frei Itaparica;
• na prosa:
Pe. Antônio Vieira,
Sebastião da Rocha Pita
Nuno Marques Pereira.
GREGÓRIO DE MATOS
BAHIA (1633)
1° poeta brasileiro
- estudou no Colégio Jesuíta.
- em Coimbra se formou em Direito.
- ficou ali uns anos exercendo a sua
profissão, mas por suas sátiras retornou
obrigado ao Brasil onde foi convidado a trabalhar
com os Jesuítas no cargo de tesoureiro-mor da Companhia de
Jesus.
-Ainda por suas sátiras abandonou os Padres e foi degredado
para Angola.
- Retornou ao Brasil muito doente sob duas condições:
1.- não pisar terras baianas.
2.-não apresentar as suas sátiras.
É conhecido pela sua:
 Poesia lírica
 Poesia religiosa ou sacra
 Poesia satírica-valeu-lhe o apelido de
“Boca de inferno”
 Cultivou----------- cultismo /conceptismo
1.
2.
3.
4.
5.
Poesia sacra
poesia lírica
poesia graciosa
poesia satírica.
Últimas
inédita até o S:XX
POESIA LÍRICA
• A lírica amorosa de Matos celebra a tensão entre:
A imagem
feminina angelical
a tentação da carne
que atormenta o espírito
- define-se pelo erotismo
- revela uma sensualidade ora
grosseira/ora de rara fineza
- glorifica e admira à mulata (1° poeta)
““Minha rica mulatinha
Desvelo e cuidado meu”
Observe este soneto:
Sonetos a D. Ângela de Sousa Paredes
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
Ontem a vi por minha desventura
Se esta a cousa não é, que encarecer-me
Na cara, no bom ar, na galhardia
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:
De uma mulher, que em Anjo se mentia;
Olhos meus, disse então por defender-me,
De um Sol, que se trajava em criatura
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.
(In: Antonio Candido e J. A. Castello, op. cit., p.
61).
a mulher
figura de
um “anjo”
uma grandeza
maior, o Sol
pureza angelical contida
no próprio nome
um ser superior, dotado de
grandezas absolutas e
inacessíveis
POESIA SACRA
- Gregório diante de Deus pede
perdão por seus erros.
- Sobressai o senso do pecado, mostra
a fragilidade humana e o temor diante da
morte e a condenação eterna.
- A faceta de pecador arrependido emerge na fase final
da sua vida (em sua mocidade fez composições
claramente desafiadoras do poder divino).
A Jesus Cristo Nosso Señor
Pequei, Senhor, mas nâo porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um sóp gemido:
Que a mesma culpa ,que a vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
Gregório de Mattos Guerra
A sátira
Age :deformação caricatural daquilo que se pretende atacar
ou desmoralizar.
Contém: -uma intenção reformadora,
- ligada ao sentimento de indignação
- à vontade de moralizar os costumes.
Elemento motivador :
- distingue-se o senso do ridículo, (a percepção do lado
cômico de personagens, situações e ideias.)
• Gregório de Matos pretendia manifestar explicitamente o
funcionamento dos discursos do poder.
• Utiliza :"malandragem", "plágio", " inveja",
"imoralidade", "adultério", "racismo", "furto",
"repúdio", "libertinagem" , "promiscuidade".
POESIA SATÍRICA
A sátira de Matos tem muito de crônica social.
- foge dos padrões do Barroco
- se volta para a realidade social baiana século XVII.
- pode ser chamada de REALISTA ou BRASILEIRA.
- critica os letrados, os políticos, a corrupção, o relaxamento dos costumes, a
cidade de Bahia.
-língua diversificada (indígena e africana) palavrões, gírias, expressões locais
“Que os brasileiros são Bestas
E estão sempre a trabalhar
Toda a vida, por manter
Maganos de Portugal”
Maganos: engraçados.
A CIDADE DA BAHIA
A Cidade da Bahia! Ó quão
dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado,
Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sangaz Brichote.
Oh! se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
que fora de algodão o teu capote!
Sangaz Brichote: astuto estrangeiro
Sisuda: sensata
Capote: casaco
A BAHIA
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
Ninguém vê, ninguém fala, nem
São, ó Bahia, vésperas choradas
impugna,
De outros que estão por vir estranhos
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os
Sentimo-nos confusos e teimosos
olhos
Pois não damos remédios as já
passadas,
Nem prevemos tampouco as
esperadas
Como que estamos delas desejosos
Eis outro exemplo:
Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fica então Pica-flor.
Ocupou-se de atacar viperinamente o baixo clero baiano, após ter sido
destituído do cargo eclesiástico de Tesoureiro-mor da Sé por recusar-se a
receber “ordens sacras” e a usar batina.
Voltou sua veia satírica contra vários religiosos, padres, frades, freiras, cujo
comportamento sexual foi alvo de vários de seus poemas.
...
E nos Frades há manqueiras? - Freiras.
Em que ocupam os serões? -Sermões.
Não se ocupam em disputas? - Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluís, na verdade,
Que as lidas todas de um Frade
São freiras, sermões, e putas.
(recolha)
...
• A poesia gregoriana recorre ao jogo entre o sagrado e o
profano num processo de “dessacralização” e popularização, o
que se verifica pelo uso que faz, repetidas vezes, da rima
Jesu/cu:
• Passou o surucucu
e como andava no cio,
com um e outro assobio,
pediu a Luisa o cu:
Jesu nome de Jesu,
disse a Mulata assustada,
ENTRE O CONCEITO E A FORMA
CULTISMO ou GONGORISMO: CONCEPTISMO:
• linguagem rebuscada, culta,
marcado pelo
extravagante.
- jogo de idéias, de conceitos,
• Valorização do pormenor
seguindo um raciocínio
mediante jogos de palavras
lógico.
• Influência do poeta espanhol - É usual a presença de
Luis de Gôngora.
elementos da lógica forma
• Valorização do “como dizer”
Nada impede que o mesmo texto tenha aspectos cultistas e
conceptistas.
Didaticamente se fala de que:
* o Cultismo é predominante na poesia e
* o Conceptismo é predominante na prosa
Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras
de linguagem como as metáforas, antíteses, hipérboles,
hipérbatos, anáforas, paronomásias etc.
"O todo sem a parte não é o todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.”
(Gregorio de Matos)
Conceptismo
• utiliza uma retórica aprimorada
(arte de bem falar, ou escrever, com o propósito de
convencer; oratória).
Um dos principais cultores do Conceptismo
o espanhol Quevedo,
Quevedismo.
• Valoriza-se "o que dizer".
Conceptismo: é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos,
seguindo um raciocínio lógico
A – O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas duas proposições,
chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente
implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo: Todo homem
é mortal (premissa maior); ora, eu sou homem (premissa menor); logo, eu
sou mortal (conclusão).
"Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
Essa razão me obriga a confiar
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar."
Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador.
Premissa menor: Eu sou um pecador.
Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.
B – O SOFISMA: É o argumento que parte de premissas
verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que
não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como
resultante de regras formais do raciocínio, não pode ser
refutado. É um raciocínio falso, elaborado com a função de
enganar.
• Ex.:
Muitas nações são capazes de governarem-se por si mesmas;
as nações capazes de governarem-se por si mesma não devem
submeter-se às leis de um governo despótico.
Logo,
nenhuma nação deve submeter-se às leis de um governo
despótico
Pe. ANTÔNIO VIEIRA
•
•
•
•
Lisboa
7 anos chega a Bahia.
1623: entra na Companhia de Jesus.
Quando Portugal se liberta de Espanha, volta para o
seu país e se torna confessor de D. João IV.
• Politicamente tinha em contra de si:
_ a pequena burguesia cristã
o capital judaico e os cristão-novos.
_ os pequenos comerciantes
um monopólio comercial
_os administradores colonos
os índios.
OBRAS
Profecias
Cartas
Sermões
três obras
Esperanças de Portugal
Clavis Prophetarum
História do futuro
umas 500
quase 200
- estilo barroco conceptista
Sermão da Sexagésima
Sermão pelo bom sucesso das armas....”
Sermão do Bom Ladrão
Sermões e cartas revelam a maestria com que Vieira usava a língua para
cativar sua audiência através de:
- o uso de metáforas e analogias- passagens ilustrativas do Antigo e Novo Testamentode uma crítica ao estilo cultista dos padres dominicanos
Funcionamento do texto argumentativo
Objetivos:
-docere (ensinar)
-delectare (agradar)
-movere (modificar)
Pressupõem a utilização dos modos de persuasão
(Aristóteles)
-pathos (emoções, sentimentos, estimulando autoestima)
-ethos (valores da sociedade, que são vistos positiva ou
negativamente, podem ser morais também)
-logos (argumentação lógica)
Enquanto autor:
-inventio (invenção, ideias, histórias)
-dispositio (estruturação do discurso)
-elocutio (capacidade construção frásica)
Estrutura do texto argumentativo
Exórdio
Apresentação do tema e captação da atenção do
auditório
Narração (Exposição)
Narração/explanação dos fatos
Confirmação (problematização, levantar os
problemas)
Defesa da tese com argumentos
Peroração (discurso final em que se recomenda
qualquer coisa)
Resumo do que foi dito e apelo à adesão dos
ouvintes
Assim há de ser um sermão:
“-Há-de ter raízes fortes e sólidas, por que há-de ser
fundado no Evangelho;
- há-de ser um tronco, porque há-de ter um só assunto
e tratar uma só matéria;
- Deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são
novos discursos, mas nascidos da mesma matéria e
continuados nela; estes ramos nã hão-de ser secos,
sinão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de
ser vestidos e ornados de palavras”
-
Sermão da Sexagéssima
O método utilizado por Vieira nos seus sermões:
1. Definir a matéria
2. Reparti-la.
3. Confirmá-la com a Escritura.
4. Confirmá-la com a razão.
5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às
objeções, aos “argumentos contrários”
6. Tirar uma conclusão, exortar.
Sermão da sexagésima:
“Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias
três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é
cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem
espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por
falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e
há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma
alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a
si mesmo?
Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz
e é necessário espelho. O pregador concorre com o
espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz,
que é a graça; o homem concorre com os olhos, que
é o conhecimento.”
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