A Participação da sociedade civil no
Conselho Municipal de Juventude de João
Pessoa/PB
"A realidade (familiar ou exótica) sempre é filtrada por
determinado ponto de vista do observador, ela é percebida de
maneira diferenciada“. (VELHO, Gilberto. Observando o familiar.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987).
Introdução
Este trabalho traz uma reflexão sobre o Conselho Municipal de Juventude da cidade de João
Pessoa/ PB. Seu objetivo é realizar uma análise sobre os fatores organizacionais dos grupos dentro da formação
do conselho. Este ensaio será feito a partir de algumas observações prévias que se realizou de uma pesquisa mais
ampla sobre a construção e institucionalização do conselho no município. Procurando como principal método de
pesquisa a etnografia, este trabalho busca ressaltar que neste método, da etnografia, buscamos compreender a
percepção do ponto de vista do nativo, onde o pesquisador tem a preocupação de analisar os diferentes aspectos
que perpassam a vida dos nativos, compreendendo suas práticas culturais e sociais. Dessa forma, o campo de
estudo deste trabalho são as observações iniciais feita com os grupos no momento de construção e formação do
Conselho Municipal de Juventude da cidade de João Pessoa/ PB. Utilizamos da observação e acompanhamento
dos comportamentos dos nativos a fim de reunir maiores informações sobre o grupo pesquisado.
O estudo e análise da juventude é um campo muito próximo, pois na história pessoal da pesquisadora sempre foi
um campo de militância. Contudo, como ressalta Laplantine (1943), no procedimento antropológico, quando se
trata do estudo da própria cultura, é preciso fazer um esforço maior no exercício da alteridade, pois nos obriga a
ver o que muitas vezes nem imaginávamos. Assim, é importante perceber o que é preciso olhar, não é apenas
ver, mas em fazer ver.
Assim, Laplantine (1943) retoma a ideia de Roberto da Matta e apresenta que a experiência do campo na
etnografia consiste em uma experiência de duplicidade que pode nos parecer estranho, trata-se, sobretudo, no
exercício de nos espantar com o que nos parecia familiar e tornar familiar àquilo que inicialmente nos parecia
exótico e estranho. A todo o momento, este último exercício é o grande esforço da pesquisadora neste trabalho,
devido à aproximação e conhecimento estabelecido com o objeto em estudo. Por isso, é importante a vivência
interiorizada do pesquisador no campo; esta vivência se aproxima de uma apreensão interiorizada dos
significados que os próprios indivíduos atribuem a seus próprios comportamentos, como nos explica Laplantine
(1943). O pesquisador observa e vive a pesquisa.
A ideia inicial se tratava em participar efetivamente das reuniões, encontros e conversas entre o poder público e
a sociedade civil que se tratasse das demandas do Conselho Municipal. Contudo, depois de algumas observações
e conversas informais, nos informaram que não estava acontecendo reuniões ou encontros do Conselho, porque
aparentemente este espaço existia apenas na forma da Lei. Assim, como nos demonstra Roberto C. de Oliveira
(1998), em cada estudo que o pesquisador se propõe a fazer, inclusive da sua própria cultura, há a possibilidade
de testar os conceitos anteriormente utilizados, bem como perceber a posição e o ponto de vista do outro. Tudo
isso, acaba provocando novas interpretações e também modificações teóricas e metodológicas utilizadas até
então.
Foi assim que o campo de estudo foi modificado, antes o enfoque estava nas reuniões do conselho, a fim de
perceber os processos de negociações, deliberações e encaminhamentos das propostas de efetivação das
políticas públicas de juventude no município. Contudo, isso não foi possível, porque o conselho não estava se
reunindo. Então, a perspectiva de trabalho teve que ser mudada, passamos ao desafio de tentar compreender
como foi o processo de construção do conselho, como se deu as articulações e mobilizações para formação e
construção do conselho.
Esta pesquisa se encontra em construção, uma vez que o campo foi modificado, as percepções teóricas e
metodológicas precisaram sofrer uma revisão e transformação. No campo em questão, se estabelecem
importantes divergências e conflitos; dessa forma, a pesquisadora precisa estar atenta para se colocar sempre
em posição de observador que está sempre aprendendo com o campo, para não cair na armadilha de que tudo já
está dado, como nos alerta Zaluar (1986). Pois, o campo está em permanente construção.
A pesquisa é um importante espaço em que se reflete variadas possibilidades de relacionamento entre o
pesquisador e o pesquisado. Esta pesquisa, especialmente, busca perceber como se estabelece as relações entre
o poder público e a sociedade civil. Nestes aspectos, Zaluar (1986), ressalta que o pesquisador pode ser sempre
uma espécie de intermediação entre o grupo que estuda e o resto do mundo, mas é importante sempre refletir
sobre essa intermediação.
Uma vez que a pesquisa é prática, é ação, ela é também política, segundo Zaluar (1986). Na reflexão e análise
desta pesquisa, é preciso perceber os vários pontos de vista, opiniões e falas que podem aparecer tanto dos
indivíduos da sociedade civil quanto do poder público, pois esses itens servirão como modelos representativos de
cada grupo. "A fala é situacional e não pode ser divorciada do contexto e da ação em que ocorreu" (ZALUAR,
1986, p.119). A partir das entrevistas realizadas na execução desta pesquisa, é preciso ficar atentar para as falas,
pois elas são o reflexo permanente da posição social, cultural e política do entrevistado em determinada situação
dentro da organização da sociedade.
Dessa forma, Zaluar (1986) nos indica que "para entender a cultura do ponto de vista do sujeito que fala, atua e
pensa [é necessário] se valer tanto da representação quanto da ação, esta também reprodutora e
Metodologia
Este estudo é resultado de uma análise mais ampla sobre o Conselho Municipal de Juventude e
tem como público alvo, os membros da sociedade civil no Conselho Municipal de Juventude da cidade de João
Pessoa/ PB. E como metodologia, utilizaremos a técnica da observação participante junto a esses jovens/
representantes da sociedade civil no Conselho Municipal de Juventude da cidade de João Pessoa/ PB. Outro
aspecto essencial na observação é o registro dos dados, que pode ser feita discretamente enquanto acontece a
observação e de forma mais elaborada num registro no Diário de Campo, sendo feita no mesmo dia da
observação.
Resultados e Conclusões
Na pesquisa etnográfica, utilizamos de todos os atos cognitivos como auxiliares na produção
do saber antropológico. E percebemos como se estabelecem e trabalham o olhar, ouvir e escrever através da
observação participante, como nos explica Roberto Cardoso de Oliveira (1998), pois o olhar, o ouvir e o escrever
precisam ser tematizados e questionados, enquanto etapas constitutivas do conhecimento pela pesquisa
empírica.
Neste trabalho, utilizamos de todos os atos cognitivos para buscar compreender e interpretar as formas de
vivências dos variados grupos em processo de disputa de espaços e de discursos nas instâncias de participação
do Estado. Foi através da vivência antropológica do trabalho de campo, este qual proporciona o contato direto e
a observação do objeto de estudo, que proporcionou perceber algumas ambiguidades e dilemas da participação
da sociedade civil no Conselho Municipal de Juventude.
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Referências
LAPLANTINE, François. A descrição etnográfica. [Tradução João Manuel Ribeiro Coelho e Sérgio Coelho] São
Paulo: Terceira Margem, 2004.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O trabalho do antropólogo. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Editora UNESP, 1998.
ZALUAR, Alba. Teoria e prática do trabalho de campo: alguns problemas. In:CARDOSO, Ruth. A aventura
antropológica. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.
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etnografia do cemitério de Nossa Senhora da Guia em Lucena * PB