CAPÍTULO 16
Parade amoureuse
(Desfile amoroso).
Francis Picabia, 1917.
Picabia participou de diversas
correntes estéticas no século XX.
Talvez você pense que esta
“máquina” seja uma homenagem
ao avanço tecnológico, mas tratase de uma paródia. Com uma
engenhoca “que não serve para
nada”, Picabia ironiza a
racionalidade técnica, a
mentalidade focada no útil e
desviada de fins propriamente
humanos.
Você já desejou ter um objeto e só
depois de possuí-lo percebeu que
não tinha utilidade para você?
Numa situação como essa, você
agiu racionalmente ou não?
1. Antecedentes da crise
O movimento romântico, que irrompeu no
século XIX, representa uma reação ao
racionalismo iluminista, à crença de que a
razão seria capaz de alcançar a verdade e de
que a ciência, por meio da tecnologia, nos
tornaria “mestres e senhores da natureza”.
 Os românticos valorizavam o ser humano
integral, daí a importância das artes. A
educação estética teria, como objetivo,
desenvolver a harmonia das faculdades do
sujeito: a sensibilidade, a imaginação e o
entendimento.

 No
final do século XIX e início do
seguinte, a crise da razão delineou-se
mais claramente e repercutiu em todo
o século XX, o que levou à
necessidade de se repensar a filosofia.
 Pensadores de influência marcante,
como os alemães Arthur Schopenhauer
e Friedrich Nietzsche e o dinamarquês
Sorem Kierkegaard, são alguns dos
que puseram à prova os alicerces da
razão.
Kierkegaard: razão e fé
 Sören
Kierkegaard (1813-1885) é um
dos precursores do existencialismo
contemporâneo.
 Severo crítico da filosofia moderna,
afirma que desde Descartes até Hegel o
ser humano não é visto como ser
existente, mas como abstração.
 A existência é permeada de contradições
que a razão é incapaz de solucionar.




A consciência das paixões leva o filósofo a meditar
sobre a fé religiosa como estágio superior da vida
espiritual.
Para ele, a mais alta paixão humana é a fé. É ela
que nos permite o “salto no escuro” que é o “salto da
fé”. Mas ela é, também, uma paixão plena de
paradoxos.
Exemplo: Abraão, personagem do antigo testamento
se dispõe a sacrificar o próprio filho para obedecer à
ordem divina: não porque a compreendesse, mas
porque tinha fé.
O estágio religioso é para Kierkegaard o último de
um caminho que o indivíduo pode percorrer na sua
existência, sendo superior inclusive à dimensão
puramente ética.
Nietzsche: o critério da vida
Friedrich Nietzsche (1844-1900).
 Para ele, o conhecimento não passa de
interpretação, de atribuição de sentidos, sem
jamais ser uma explicação da realidade.
 Os sentidos são atribuídos a partir de
determinada escala de valores que se quer
promover ou ocultar.
 A tarefa da filosofia é a de interpretar “a escrita
de camadas sobrepostas das expressões e
gestos humanos.”

 Como
método de decifração, Nietzsche
propõe a genealogia (origem), que
coloca em relevo os diferentes processos
de instituição de um texto, mostrando as
lacunas, os espaços em branco mais
significativos, o que não foi dito ou foi
recalcado e que permitiu erigir
determinados conceitos em verdades
absolutas e eternas.
 A genealogia visa, portanto, resgatar o
conhecimento primeiro e que foi
transformado em verdade metafísica,
estável e intemporal.
O
conhecimento resulta de uma luta, de
um compromisso entre instintos.
 Pelo procedimento genealógico, ao
compreender a avaliação que foi feita
desses instintos, descobre que o único
critério que se impõe é a vida.
 O critério da verdade, portanto, deixa de
ser um valor racional para adquirir um
valor de existência.
 A interpretação genealógica questiona os
valores para saber o que nos fortalece
vitalmente e o que nos enfraquece.
Nietzsche dá o exemplo da dificuldade de se
dizer o que é a honestidade. Pois nada
sabemos de uma qualidade essencial que se
chame a honestidade, mas sabemos, isso sim,
de numerosas ações individualizadas, portanto
desiguais.
 Ao reunir todas elas sob o conceito de
honestidade, estamos diante de uma
abstração.
 O que se perde nesse processo é que, ao
colocar seu agir sob a regência das abstrações,
as intuições são desprezadas para privilegiar o
conceito.

COMO CONHECEMOS ENTÃO?
 Para Nietzsche, o conhecimento se vale da
metáfora.
 Para ele, a metáfora assume um caráter
cognitivo. Só ela consegue perceber as coisas
no seu devir permanente, porque cada
metáfora intuitiva é individual, e, por isso,
escapa ao “grande edifício dos conceitos”.
 O conceito nada mais é do que “o resíduo de
uma metáfora”.
(Metáfora: é uma figura de linguagem que realiza
a transposição do sentido próprio de uma palavra
ao sentido figurado, estabelecendo uma
comparação. Ex.: “Estou com fome de leão.”)

Assim diz Nietzsche:

O que é a verdade, portanto? Um batalhão
móvel de metáforas, metonímias,
antropomorfismos, enfim, uma soma de
relações humanas, que foram enfatizadas
poética e retoricamente, transpostas,
enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a
um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as
verdades são ilusões, das quais se esqueceu
que o são, metáforas que se tornaram gastas e
sem força sensível, moedas que perderam sua
efígie e agora só entram em consideração
como metal, não mais como moedas.
2. A crise da subjetividade
Vimos que a herança mais grata da
modernidade, a partir de Descartes, foi a
descoberta de que o sujeito era capaz de
conhecer, que chega à verdade indubitável do
cogito e que se torna o autor de seus atos,
pela vontade livre.
 A partir do século XIX, os “mestres da
suspeita” – Marx, Nietzsche, Freud –
introduziram elementos de desconfiança na
capacidade humana de conhecer a realidade
objetiva e de ter acesso transparente a si
mesmo.

 A esse
respeito Freud refere-se às feridas
narcísicas.
 Essa expressão foi cunhada por Freud ao se
referir à humilhação sofrida pelo indivíduo
em momentos diferentes da história: no
século XVI, quando Copérnico retirou a Terra
do centro do Universo; no século XIX,
quando a teoria da evolução de Darwin tirou
o sujeito do centro de si mesmo.
 A essas feridas costuma-se acrescentar uma
quarta, a de Marx, em que a subjetividade
livre e autônoma deixou de ser o centro da
história.
Mas aquele que procura desvendar o
conhecimento ilusório – seja Marx, Nietzsche ou
Freud – teria acesso a uma pretensa “realidade
escondida?”
 Como saber se alcançamos a verdade?
 Talvez para Nietzsche tenha se referido ao
perspectivismo, para designar o esforço de um
interminável trabalho de interpretação da
realidade.
 O impasse com o qual nos deparamos é o
ceticismo e o relativismo, ou seja, a descrença
na possibilidade do conhecimento e/ou o
subjetivismo de todo conhecimento, que
dependeria da pessoa, do lugar e do tempo.
 Como contornar essas dificuldades?

3. Fenomenologia e intencionalidade
A fenomenologia é um método e uma filosofia
que surgiu com o alemão Edmund Husserl (1859
– 1958).
 Influenciou filósofos importantes que seguiram
percursos autônomos, entre os quais Martin
Heidegger, Maurice Merleu-Ponty e Jean-Paul
Sartre.
 A fenomenologia critica o empirismo em sua
expressão positivista do século XIX e procura
resolver a contradição entre corpo-mente e
sujeito-objeto que se arrastava desde Descartes.

Husserl entende por fenomenologia o processo
pelo qual examina o fluxo da consciência, ao
mesmo tempo que é capaz de representar um
objeto fora de si.
 Fenômeno (o que aparece).
 A fenomenologia critica a filosofia tradicional por
desenvolver uma metafísica cuja noção de ser é
vazia e abstrata.
 A fenomenologia visa à descrição da realidade e
coloca como ponto de partida de sua reflexão o
próprio ser humano.
 O postulado básico da fenomenologia é a noção
de intencionalidade, que significa “visar alguma
coisa”.

 Desconsidera
toda indagação a respeito de
uma realidade em si, separada da relação
com o sujeito que conhece.
 A consciência desvela progressivamente o
objeto por meio de seguidos perfis, de
perspectivas as mais variadas.
 A consciência é portanto doadora de
sentido, fonte de significado.
 Conhecer é um processo que não acaba
nunca.
 A fenomenologia é uma filosofia da vivência.
4. A escola de Frankfurt
 Fundada
em 1923 sob o nome de Instituto
para a Pesquisa Social, a Escola de
Frankfurt reuniu sociólogos, filósofos e
cientistas políticos.
 Foram influenciados por Marx, apesar das
críticas que lhe fizeram.
 A filosofia dos frankfurtianos é conhecida
como teoria crítica.
 O que elas criticam? Leitores de Marx,
Nietzsche, Freud e Heidegger, os
frankfurtianos sabem que não se adere à
razão inocentemente.
 Concluem
que a razão também traz sombras
em seu bojo, quando se torna instrumento de
dominação.
 Na obra Eclipse da razão, Horkheimer
distingue dois tipos de razão: a cognitiva e a
instrumental.
 A primeira é a que busca conhecer a verdade.
 A segunda é a operacional, aquela que visa
agir sobre a natureza e transformá-la.
 No capitalismo, com o desenvolvimento das
ciências aplicadas à técnica, a razão
instrumental tomou tal vulto que se sobrepôs à
razão cognitiva.
Esses teóricos identificam a origem do
irracional ao exercício desse tipo de
racionalidade, que, em última análise, visa à
dominação da natureza para fins lucrativos e
coloca a ciência e a técnica a serviço do
capital.
 Para refletir:
Os pensadores da Escola de Frankfurt
produziram grande parte de suas obras na
primeira metade do século XX e nelas já
explicitaram os problemas que hoje
identificamos como ecológicos, ao denunciarem
o que chamaram “sofrimento da natureza”.

 Quando
a valorização dos meios se
sobrepõe aos fins humanos, esvanece a
ideia de que a ciência e a técnica seriam
condição de emancipação social.
 Em vez de emancipar, provocaram o
desaparecimento do sujeito autônomo,
engolido pela uniformidade imposta pela
indústria cultural.
 Os frankfurtianos criticam a razão de
dominação, o controle da natureza
exterior e também interior, pela repressão
das paixões.
O
indivíduo autônomo, consciente
de seus fins, deve ser
recuperado.
 Sua emancipação só será
possível no âmbito individual,
quando for resolvido o conflito
entre a autonomia da razão e as
forças obscuras e inconscientes
que invadem essa mesma razão.
5. Habermas: o agir comunicativo
Jürgen Habermas (1929) é um dos principais
representantes da chamada segunda geração
da Escola de Frankfurt.
 Continuou a discussão a respeito da razão
instrumental, iniciada pelos frankfurtianos.
 O novo contexto do capitalismo contemporâneo
de tecnologia avançada e produção em escala
e consumo em massa o levou a elaborar uma
teoria social baseada no conceito de
racionalidade comunicativa, que se contrapõe à
razão instrumental.

 Critica
a filosofia da consciência da tradição
moderna por ser fundada em uma reflexão
solitária, centrada no sujeito.
 Propõe outro paradigma em que a razão não
seja monológica, mas dialógica, como
resultado do processo de entendimento
intersubjetivo.
 Essa “pluralidade de vozes” não paralisa a
razão no relativismo, uma vez que, por meio
do procedimento argumentativo, o grupo
busca o consenso a partir de princípios que
visam a assegurar sua validade.
 A verdade
é exercida por meio do diálogo
orientado por regras estabelecidas pelos
membros do grupo numa situação ideal.
 A situação ideal de fala consiste em evitar a
coerção e dar condições para todos os
participantes do discurso exercerem os atos
da fala.
 Interlocutor ativo dos teóricos da filosofia
analítica da linguagem, para Habermas o
critério da verdade não consiste na
correspondência do enunciado com os fatos
mas sim no consenso discursivo.
6. Foucault: verdade e poder
O
filósofo francês Michel Foucaut (19261984) investigando como as ideias de
loucura, disciplina e sexualidade foram
construídas historicamente desde o
século XVI, apresenta uma nova teoria em
que estabelece um nexo entre saber e
poder.
 Ao contrário da tradição da modernidade,
pela qual o saber antecede o poder, para
ele, a verdade não se encontra separada
do poder, antes é o poder que gera o
saber.
 Suas
investigações tiveram início no exame
das condições do nascimento da psiquiatria e
pela descoberta de que o saber psiquiátrico
não se constituiu para entender o que é a
loucura, mas como instrumento de poder que
propicia o processo de dominação do louco e
de seu confinamento em instituições
fechadas.
 Assim, os mendigos passaram a ser
recolhidos em asilos e tornaram-se objeto de
uma “tática dos mecanismos dualistas da
exclusão que separa o louco do não louco, o
perigoso do inofensivo, o normal do anormal.”
Para Foucault, à medida que a burguesia se
constituiu classe dominante, precisou de uma
disciplina que excluísse os “incapazes” e “inúteis
para o trabalho”, como os loucos e mendigos.
 Tornar os corpos dóceis e os comportamentos e
sentimentos adequados ao novo modo de produção.
 Assim explica Foucault:
A burguesia compreende perfeitamente que uma nova
legislação ou uma nova constituição não serão
suficientes para garantir sua hegemonia; ela
compreende que deve inventar uma nova tecnologia
que assegurará a irrigação dos efeitos do poder por
todo o corpo social, até mesmo em suas menores
partículas.

A extensão progressiva dos dispositivos de
disciplina ao longo daqueles séculos e sua
multiplicação no corpo social configuram o que
se chama “sociedade disciplinar”.
 Desse modo, desenvolve-se uma “microfísica
do poder”, porque, para Foucault, o poder não
se exerce de um ponto central como qualquer
instância do Estado, mas está disseminado em
uma rede de instituições disciplinares.
 São as próprias pessoas, nas suas relações
recíprocas (pai, professor, médico), que, a partir
do “saber constituído” fazem o poder circular.

7. Pragmatismo e neopragmatismo
O
pragmatismo, uma contribuição
filosófica dos Estados Unidos,
desenvolveu-se a partir do final do século
XIX.
 Buscou libertar-se da metafísica
racionalista. Não significa a sua adesão
ao empirismo.
 Nenhuma delas conseguiu resolver a
relação entre experiência e razão,
matéria e pensamento.
Crítica ao fundacionismo
 Tanto
o racionalismo como o empirismo
traziam problemas para estabelecer o critério
da verdade, uma vez que sempre
esbarravam na exigência de um fundamento
como garantia da evidência de nossas
crenças.
 O pragmatismo contrapõe a experiência
como um conjunto de relações que os seres
humanos estabelecem entre si e com o
entorno.
 Desse
modo, o “teste” da verdade é a
experiência, entendida não como no senso
comum, mas como uma atividade
conceptual capaz de guiar nossas ações
futuras na nossa relação com o ambiente.
 Ou seja, os conceitos não são ideias
abstratas, mas instrumentos para nos
orientar a ação.
 A tese fundamental do pragmatismo é a de
que toda a verdade é uma regra de ação,
uma norma para a conduta futura.
 A verdade
depende, portanto, dos
resultados práticos alcançados pela
ação.
 O pragmatismo filosófico não reduz
grosseiramente a verdade à utilidade.
 Uma proposição é verdadeira quando
“funciona” – permite que nos
orientemos na realidade, levando-nos
de uma experiência a outra.
Representantes do pragmatismo
O iniciador do pragmatismo foi Charles
Sanders Peirce (1839-1914), estudioso da
lógica simbólica e da semiótica.
 Propõe o conceito de falibilismo – não
podemos estar absolutamente certos de
nada.
 Observa que o pensamento produz “hábitos
de ação” e estes derivam de crenças, que
por sua vez tranquilizam nossas dúvidas.

Mas como saber se essas crenças são
válidas?
 Nem todas as crenças nos levam a bons
resultados, apenas aquelas que conduzem à
ação de forma eficaz: dentre estas, as mais
sólidas são as que se originam da ciência e
podem ser confirmadas pela experiência.

William James
 William James (1842-1910) entende o
pragmatismo como um método que nos ajuda
a olhar os fatos e avaliar os efeitos práticos, a
fim de nos orientar adequadamente em
nossa experiência.
James tem uma concepção instrumental da
verdade: a utilidade, isto é, a capacidade de
operar e de agir é determinante para
identificar a ideia verdadeira.
 Afirma que se pode crer em tudo o que se
queira, mesmo nas verdades que não foram
demonstradas, como na fé religiosa.
John Dewey
 John Dewey (1859-1952) foi filósofo e
educador.
 O pragmatismo de Dewey é uma espécie de
instrumentalismo.

 Como
é importante que as ideias
estejam ligadas à prática, elas são
propriamente instrumentos para
resolver problemas: sua relevância ou
não e sua eficácia para alcançar este
fim garantem sua validade.
 Por isso as ideias não são verdadeiras
ou falsas nem absolutas, porque
podem ser corrigidas ou
aperfeiçoadas.
O neopragmatismo
No final do século XX, o neopragmatismo
teve seu principal expoente no também
norte-americano Richard Rorty (1931-2007).
 Rorty recusa-se buscar a “verdade objetiva”.
 Enquanto os pragmatistas clássicos referemse à “experiência”, os contemporâneos falam
em “linguagem”, mas como um meio de ligar
objetos uns aos outros.
 Exemplo: não podemos saber o que é uma
mesa, a não ser ligando-a a alguns
conceitos.

 Para
ele, o significado está
sempre em aberto, mantendo-se
assim por meio da reflexão que
não dispensa o diálogo
permanente, na “grande
conversação” capaz de buscar as
novas crenças e novas
descrições de um mundo em
mutação.
8. A filosofia da linguagem
Nossa relação com o mundo é como uma
relação de significação.
 Chama-se “giro linguístico” (ou virada
linguística) a revolução que representou o novo
paradigma filosófico da epistemologia.
 Enquanto a filosofia tradicional promoveu a
análise como investigação das essências ou
como descrição de uma dimensão existencial,
a filosofia analítica privilegia a apreensão por
conceito, utilizando os novos recursos da
linguística.

Ludwig Wittgenstein
É considerado um dos principais filósofos do
século XX.
Primeira fase: Tractatus logico-philosophicus
 “o que é de todo exprimível, é exprimível
claramente; e aquilo de que não se pode falar,
guarda-se em silêncio.”
 Nada se pode saber fora da linguagem, o que
representa a sua opção metodológica pelo
“giro linguístico”. Portanto, é por meio da
linguagem que os fatos são representados.

Enquanto os objetos são estruturas simples,
os fatos são complexos, e é por meio destes
que temos acesso ao mundo.
 Nada dizemos diante do conceito “água”, mas
sim quando se trata de uma proposição: “a
água é límpida”, “a água ferve a 100°C”, que
indicam fatos do mundo.
 Só compreendemos proposições com sentido.
 Wittgenstein abandona qualquer pretensão
metafísica do conhecimento e restringe-se a
ver como a linguagem funciona.

Segunda fase: Investigações filosóficas
 Continuou ocupando-se do significado das
proposições, não mais se atendo ao que
elas se referem, mas ao modo como elas
são usadas.
 Percebeu que geralmente buscamos nas
proposições o que elas explicam ou
denominam.
 Retomando o exemplo anterior, “a água é
límpida”, damos uma característica da
água.
Mas, se dizemos simplesmente “Água!”, isso
pode ter vários significados, dependendo das
circunstâncias.
 Não se trata mais de uma representação,
mas de uma hipótese cuja adequação à
realidade precisa ser conferida.
 A exatidão conceitual é um atributo do uso,
mesmo que de fato nos comuniquemos com
conceitos vagos, ambíguos.
 Os jogos de linguagem são inúmeros, e
estão sempre sendo recriados uns e
esquecidos outros.

9. O discurso da pós-modernidade
Nas duas últimas décadas do século XX
ocorreram transformações cruciais na nossa
sociedade por conta da revolução da
informática e da fragmentação dos grandes
blocos dos saberes, como as concepções
sistemáticas da ciência, literatura, pintura e
arquitetura.
 Irrompemos no que se chamou pósmodernidade – consiste no estado de
espírito que descrê na herança das Luzes.

 Tudo
parece envelhecido e ultrapassado,
cada vez mais distante do sonho iluminista
da libertação humana pelo conhecimento.
 Exemplos:
A Alemanha letrada, da qual emergiu o
Holocausto; do mais alto conhecimento da
física contemporânea, capaz de gestar a
bomba que destruiu Hiroshima e Nagasaki;
dos princípios morais absolutos e universais,
que se dissolveram na diversidade dos
valores vitais e da espontaneidade.
 Na
filosofia, o pensamento dito “pósmoderno” sofreu influência do
perspectivismo de Nietzsche e dos
vários filósofos a que já nos referimos
e que desvendaram as ilusões do
conhecimento, denunciaram a razão
emancipadora (que mostrou sua face
de dominação) e questionaram a
possibilidade de se alcançar a
verdade.
 Contra
o movimento pós-moderno,
Jürgen Habermas escreveu A
modernidade, um projeto inacabado,
justamente para dizer que a tarefa
iniciada por Kant, de superação da
incapacidade humana de se servir do
seu próprio entendimento e ousar
servir-se da própria razão, ainda
deverá ser completada. É tarefa a ser
refeita em cada momento, a partir do
exercício da razão crítica.
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CAP 16 A CRISE DA RAZÃO