Metropolis 2011 Migration Futures:
Perspectives on Global Changes
Integration, identity, connections between
the North American Diaspora and Portugal
Metropolis 2011 Migration Futures: Perspectives on Global Changes
Integration, identity, connections between the North American Diaspora and Portugal
The exclusion of the deportees
in the Azores
Questions
 Do the deportees mantain an American identity after
having lived in their birthland for a while? Or do they
feel like belonging to 2 countries and having 2
homelands, mixed feelings?
 If they are Americans, is this identity in the origin of the
exclusion they proclaim to live in the new Azorean
society?
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Resume
4 citizens describing their paths since they emmigrated,
early in their childhood, as a result of a decision by their
parents, until they return, forced by court, as deportees.
A whole life has passed between these two moments
Departure
Arrival
None of them was chosen by themselves.
Eventhough those moments were the most determinants of
their psychosocial lives…
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Objectives and methods
Objectives:
 - recognize the existence or non existence of exclusion;
 - how is the exclusion associated with the time spent in their
homeland (birthland);
Methods:
 Quality analysis, oriented toward interpretation and
comprehension of identities.
 Long interviews (5 hours each) following items and patterns
but allowing them to share their memories, as long as they
were comfortable, in a basis of confidence and trust.
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Types of Exclusion
(Alfredo Bruto da Costa)
 economical (associated to poverty);
 social (“situação de privação relacional caracterizada pelo
isolamento, às vezes associado à falta de auto-suficiência e
autonomia social” – Costa, 1998: 22);
 cultural (founded on preconceptions, stereotypes and
differences);
 pathological (of mental or psychological nature);
 self-destrutive (related with addictions).
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António
Emigração: aos dois meses de idade.
Regresso: quarenta e um anos depois.
Tempo nos Açores após regresso: um ano.
Percurso: As suas recordações de infância levam-no ao estado
frequentemente alcoolizado do pai e à sua violência sobre a mãe. Nunca
quis copiar o modelo do pai, mas admite ter cometido os mesmos erros
quando agiu com agressividade com a companheira e quando conduziu
após ter ingerido álcool.
Casou, tem uma filha do casamento, actualmente com 17 anos, e depois de
um divórcio em que perdeu todos os seus bens, recomeçou uma vida em
comum, há sete anos atrás, com uma companheira de quem tem um
filho de seis anos. Foi um relacionamento conturbado que o levou à
violência doméstica, por duas vezes, o que, a juntar a uma condução
com álcool, determinou a sua deportação.
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António
Habitação: Vive na garagem de uma tia.
Trabalho: trabalhava numa empresa de construção civil, mas um
problema num joelho levou-o a baixa médica e quando voltou, o
lugar já estava preenchido. Descobriu então que não tinha um
contrato assinado, nem seguro de trabalho, apenas segurança
social. Tem encontrado pessoas que o têm ajudado, mas a sua meta
está definida.
Projecto de vida: voltar aos Estados Unidos. Este tempo é um
interregno. “ I want my life back.”
Integração: Não se sente no caminho da integração apesar dos
apoios oficiais (recebe o “rendimento social de inserção”).
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António
Exclusão: “penso como um americano”; “não sei falar bem português e
poucas pessoas querem falar comigo em inglês das coisas que me
interessam.”; “sinto-me “estranho”: as pessoas olham-no como se ele
não pertencesse a esta terra; ele próprio sente que não pertence:
“sou americano”. Nos indicadores de sociabilização, retrata-se “sem
amigos” e quase sem convívio, falando quase apenas com os
estrangeiros que passam pela ilha e em inglês. Considera-se
“maltratado” pelo país que o expulsou porque os seus erros não
mereciam uma punição tão grande. E “discriminado” pelo país
(confinado à ilha) que o recebeu porque tem dificuldades em
arranjar trabalho e porque não encontra interesse da parte da
comunidade local em integrá-lo.
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Ben
Emigração: um ano e meio de idade.
Regresso: trinta anos depois.
Tempo nos Açores após regresso: quatro anos.
Percurso: Não tem um historial de violência na família.
Deixou atrás a irmã e a mãe. Da companheira já estava
separado aquando da sua deportação. Começou a trabalhar
logo que completou a escolaridade obrigatória. Tinha um
grupo de amigos que começaram a “usar drogas” e foi
“apanhado na armadilha.” Viveu melhor nos Estados Unidos do
que nos Açores, mas “a vida dá muitas voltas e um homem
adapta-se ou morre.”
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Ben
Habitação: vive com o filho de nove anos em “casa alugada, com poucas
condições mas independente”.
Trabalho: trabalha por conta própria. Oficina de reparações automóveis.
Projecto de vida: criar aqui o filho; é um lugar mais calmo, as pessoas
confiam umas nas outras, conhecem-se, gosta disso. E, se possível, um
dia, “visitar família e lugares, fazer compras, conduzir naquelas estradas, matar
saudades da América.”
Integração: vê-se a si próprio como uma pessoa “mais ou menos”
integrada após um período de privações e angústias. Já se sente um
pouco dos Açores, já tem raízes, uma identidade mista “do que lá vivi e do
que sou agora”, uma cultura mais americana do que portuguesa, mas tenta
participar em festas, fala a língua, o filho ensina-o e ajuda-o a corrigir os
erros.
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Ben
Exclusão: Hoje, não se vê como um discriminado, mas lembra
com emoção reflectida na voz e nos olhos as primeiras
dificuldades: “it was like walking on the glass, I never knew what to
do not to hurt myself. I was no one and everybody –well, almost
everybody – made me feel the bad guy.” É um pouco de lá e de cá,
desde há “dois ou três anos; depois comecei a olhar à minha volta e a
encontrar coisas boas, antes nada tinha graça. Hoje sou um bocado
de tudo o que vivi.”
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Carlos
Emigração: aos sete meses de idade.
Regresso: trinta e um anos depois.
Tempo nos Açores após regresso: dez anos.
Percurso: Carlos tem quarenta anos e deixou a família (da qual não tem
boas recordações) há dez anos nos Estados Unidos, mas prefere não
pormenorizar que família. Não tem filhos.
Na adolescência pertenceu a grupos que se agrediam entre si. O consumo
de estupefacientes foi a causa remota e um assalto à mão armada “para
arranjar dinheiro para a droga” a causa próxima da sua deportação. “Nunca
tive intenção de disparar a arma, que nem era minha, estava apenas a precisar de
dinheiro.” Não sabia que incorria nesta pena acessória ditada pela
América. Ainda assim, culpabiliza Portugal: “Portugal não devia aceitar-nos
de volta. Devia dizer não, como outros países fazem. Se estou aqui, a culpa é da
América e é de Portugal.”
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Carlos
Habitação: casa própria.
Trabalho: temporário, diverso, sem vínculo.
Projecto de vida: afirma não ter. Não gosta de pensar no futuro
nem faz projectos: “hoje estou aqui, amanhã ali, não importa. O que sei
é que tenho de viver o melhor que puder, onde quer que esteja.”
Integração: O choque cultural ainda está bem patente e a sua
trajectória é ostensivamente de não inserção: “Trabalho no que
aparece, quando aparece, vivo sozinho em casa própria, mas esta terra não
é minha e nunca será. As pessoas olham-me de lado e eu também não quero
nada com elas. Não preciso de ninguém.” Recusa-se a admitir que se
auto-marginaliza e que ainda vive com revolta. “Eu não me
marginalizo, eu gosto de ser como sou, não quero saber dos outros e eles não
querem saber de mim. É simples.Vivo à minha maneira.”
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Carlos
Exclusão: A sua identidade é só uma, não tem franjas
portuguesas (ainda que fale bem o português), não tem
cultura portuguesa, ainda que por vezes assista a festas
populares e beba umas cervejas com um amigo. Amigo da
ilha? “Sim, mas esteve nos Estados Unidos, sabe do que eu falo. Sou
americano e vou continuar a ser americano. Não estou excluído nem
incluído, faço a vida à minha maneira aqui ou em qualquer lugar.”
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Duarte
Emigração: seis anos de idade.
Regresso: vinte e quatro anos depois.
Tempo nos Açores após regresso: oito anos.
Percurso: tem da família uma imagem infeliz, e da sua
juventude uma recordação de grupos, desacatos, drogas,
conturbação. Mas já estava estabilizado há uns anos quando
recebeu ordem de deportação. Ficou revoltado mas logo
depois encarou a ruptura como uma oportunidade para
mudar de vida.
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Duarte
Habitação: vive em casa própria, doada por família e beneficiada pelo
próprio.
Trabalho: trabalha por conta de outrem e considera que ganha pouco, mas
a família às vezes “dá uma mãozinha”.
Projecto de vida: continuar com a sua nova família, está casado de novo,
tem um filho, precisa de educá-lo, lutar para conquistar mais do que
tem.
Integração: Sente-se filho da terra, mas um filho que tem outro país.
Filiação territorial dupla, cultura híbrida, identidade sincrética, pertença
eclética, afectos em dois países (pais e irmãs nos EUA, mulher, filho e
irmão em Portugal), interesses lá e cá, económicos e políticos também.
É bem um cidadão transnacional, nem sabe qual dos dois mundos o mais
importante, mas o facto de não poder regressar à América provoca
tristeza e, por vezes, ainda revolta.
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Duarte
Exclusão: os primeiros tempos foram de grande dificuldade.
Se não fosse o irmão, não sabe como suportaria esta
transição. Mas cedo começou a pensar que as mudanças
proporcionam novas hipóteses de vida e pôs-se a caminho.
O facto de não poder regressar à América provoca tristeza e,
por vezes, ainda revolta. Se é um bom cidadão, se já pagou –
e caro – as suas transgressões – por que não pode ir mostrar
à família a terra onde cresceu?
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Conclusions
 The degree of integration of these 4 emigrants is diverse;
 Their identities are mixed, hybrid, unseparable from their two
worlds;
 Their relationship with their diasporic world (North America) and
the place of origin (Portugal, Azores) is difficult, turbulent and
paradoxal: their land is the land of emigration; the land where they
were born, it is a foreign land that did not embrace them.
 For these emigrants the perspectives do not fit into globalization:
they are not “free” citizens because they are not allowed to return
(there are a few exceptions) to “their” country; they are jailed
within political boundaries.
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Conclusions
“From one point of view, the tie to a homeland may be regarded as a counter force
to full integration and citizenship in the society of destination.” (Duncan, 2006:
2)
Transpondo o pensamento de Duncan para os nossos entrevistados, ratificamos
este ponto de vista, se considerarmos homeland a terra de acolhimento e society
of destination a terra onde nasceram, tendo em conta que “O regresso (…)
assemelha-se, do ponto de vista do impacto na personalidade do repatriado, a um processo
de imigração.” (Rocha et al. 1996: 51)
Quando estes cidadãos percebem que a dignidade é recuperável, encetam o
caminho da integração, por vezes em ruptura com o passado, outras em
sincretismo. Porém, enquanto se sentem “diferentes” (“americanos em terra
portuguesa”) não encontram vias de comunicação com a sociedade, e persistem
no seu doloroso processo duplo de auto-exclusão.
E por que duplo, mais doloroso, mais excepcional e politicamente menos
relevante.
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ThankYou!
Alzira Silva
14/09/2011
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