UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE ARTES E DESIGN
DEPARTAMENTO DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
CURSO DE TEATRO – LICENCIATURA
Disciplina: História do Teatro IV
Tairov e o teatro de síntese
Profª: Marina de Oliveira
Aleksander Tairov (1885 – 1950)
Filho de professor, desde cedo interessou-se
pelo teatro.
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Atuou no papel de Lisandro em Sonho
de uma noite de verão, em uma Cia.
local da capital ucraniana.
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- Em
1905 foi para S. Petersburgo. Ingressou na Cia. de Vera
Komissarjévskaia, trabalhando sob a direção de Meyerhold.
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Desiludido com as concepções de Meyerhold, juntou-se ao
Teatro Móvel, de Gaideburov, grupo marcadamente
realista. A Cia. viajou por dois anos pela Rússia.
Além de atuar, Tairov passou a encenar peças, como
Hamlet, de Shakespeare e Eros e Psique, de Julávski.
Em 1912, formou-se como advogado.
No ano seguinte, trabalhou no “Teatro Livre”,
conheceu e se casou com a atriz Alisa Koonen.
Em 1914, fundou seu próprio Teatro de Câmara
(Kámerni, 1914 – 1949), caracterizado por uma estética
simbolista.
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A estreia deu-se com Sakuntala, de Kalidasa, obra da
dramaturgia hindu.
Alisa Koonen como Sakuntala, 1914.
Sobre Sakuntala:
Numa autêntica ópera-balé, “Tairov encheu
a cena de corpos quase nus, pintados de
várias cores, apenas cobertos por alguns
pedaços de pano colorido, que se moviam
ritmicamente em conformações de grande
beleza visual, em meio a procissões e
pantomimas”.
GUINSBURG, J. In: Stanislavski, Meierhold e Cia.
Bodas de Fígaro (1915), Beaumarchais
Pintura do cenário de Sudêikin.
Tamira, o citarista (1916), Inokênti Ánenski
- Enredo
mítico. (oposição entre
atmosferas apolíneas e
dionisíacas).
- Cenário de Aleksandra Êxter, em
que a maquete naturalista ou a
pincelada simbolista, cubofuturista,
começa a transformar-se na
“neomaquete”.
- Inspirado em Appia, o cenário
estruturou-se geometricamente,
tornando-se “para o ator um dúctil
e dócil teclado para execução da
música”.
Desenho de um dos figurinos
Salomé (1917), Oscar Wilde
Peça apresentou
ocupação total do
espaço por sólidos.
Cenário de
Aleksandra Êxter
Princesa Brambilla (1920)
- Cenário de G. Iakulov;
- Construção do grupo, com
base na pantomima, opereta
e circo, a partir de um conto
de Hoffmann.
Romeu e Julieta (1921), Shakespeare
Cenário de Aleksandra Êxter
Giroflé-girofla (1922), Lecoq
- Paródia da opereta, cenário de G. Iakulov
Fedra (1922), Racine
Alisa Koonen, como Fedra
- Cenário de Vêsnin
Santa Joana (1924), Bernard Shaw
Cenário dos irmãos Stenberg
Em 1921, Tairov publica
Notas de um diretor
Causas do amadorismo para Tairov

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A impossibilidade do ator de ver com crítica
e distanciamento o seu trabalho (por ele ser
a sua matéria-prima).
O culto da inspiração e da espontaneidade.
Por que teatro de síntese?
-
Para Tairov, há uma nítida distinção entre vida e arte. O
teatro é uma arte específica, com uma forma própria,
construída através da criatividade do comediante. (oposição
ao naturalismo).
Por outro lado:
- a preocupação com a forma não pode expulsar sumariamente
a emoção do palco. A cena não pode converter-se num mero
painel para o exercício de um pincel diretorial de composições
plásticas (crítica a Meyerhold).
Propostas de Tairov
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Desenvolvimento de uma postura cênica diferenciada, a partir de um
extenso trabalho de domínio corporal.
Arte como a fusão de 2 mecanismos: gestão do projeto (imaginação) e
materialização exterior da ideia. A primeira requer disponibilidade criadora
e a segunda um instrumento (corpo) bem preparado.
Distinção entre vida e arte: as emoções não nascem da vida do ator, mas
são frutos da sua imaginação. (similar a Michael Ckekhov).
O diretor é um “mestre de cena” que, com talento e delicadeza, estimula
cada comediante a revelar o seu potencial criador. O diretor é também
visto como um regente de orquestra (inspiração em Wagner).

Ainda mais radical que Meyerhold, encara o texto como simples matériaprima, “auxiliar” da criação teatral.

Aprecia as “neomaquetes”, cenários tridimensionais, com volumes
geométricos e praticáveis de diferentes níveis.

A encenação deve ter uma organização rítmica e plástica.

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Metodologia de criação:
Ator busca uma imagem cênica (um processo individual)
pode surgir da pantomima ou de impressões sonoras.
Depois que essa imagem está suficientemente
materializada no imaginário, ele deve excitar as suas
emoções em relação a essas imagens.
Curiosidade:
Atores de Tairov foram muito criticados por uma postura
muito dançada em cena. O encenador trabalhou durante
5 anos com jovens de 15 e 16 anos, com rígida
formação, aulas de balé, esgrima, canto, bufonaria,
malabarismo etc.
De 1924 - 1949
Tairov e os atores do Kámerni sofreram com a intervenção
político-partidária, havendo, nesse período, um declínio das
pesquisas ligadas à “teatralidade” e um aumento do repertório
que atendesse à ideologia da esquerda, através do dito
realismo socialista.
Ex. O macaco peludo (1926) O’Neill
A ópera dos três vinténs (1930) Brecht
Filhos do sol (1937) Górki
Adaptação de Madame Bovary (1940) Flaubert
Maquete do cenário de O macaco peludo (1924)
O macaco peludo (1926), O’Neill
O macaco peludo (1926), O’Neill
Ópera dos três vinténs (1930), Brecht
Cenário construtivista dos irmãos Stenberg
Sobre construtivismo russo
- Movimento que defende a arte funcional, capaz de atender às
necessidades do povo. (socialização da arte)
- Inspirada mas conquistas da Revolução Russa de 1917, a arte
construtivista valeu-se, no geral, de elementos geométricos,
cores primárias e fotomontagens.
- No teatro, abarcou o estilo de cenografia e encenação
desenvolvido por Meyerhold (1874-1940) a partir dos anos 20.
O texto tem menos importância que os elementos nãoverbais, como a expressão corporal. Cenários elaborados por
pintores quebram a perspectiva convencional. As cenas são
despojadas, e no palco há apenas os elementos
indispensáveis ao trabalho dos atores.
Em 1949, Tairov e Alisa foram
demitidos de suas funções, acusados
de desvios formalistas pelos stalinismo.
O Teatro de Câmara de Moscou ficou
fechado até 1950, ano em que Tairov
faleceu.
Fonte
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GUINSBURG, J. In: Stanislavski, Meierhold e Cia. São
Paulo: Perspectiva, 2001.
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