Ainda que Jesus viva enraizado no melhor da tradição,
o seu ensinamento tem um carácter subversivo,
pois põe em questão a religião convencional.
Jesus confronta as pessoas não com aquelas leis das quais falam os escribas,
mas com um Deus compassivo.
Não basta viver pendente do que diz a Torá.
O importante no reino de Deus não é contar com pessoas observantes
das leis, mas com filhos e filhas que se pareçam a Deus
e tratem de ser bons como Ele o é.
O decisivo é uma transformação radical.
Jesus pensa assim:
nunca nascerá um mundo mais humano se o coração das pessoas não muda.
José Antonio Pagola.
“Jesus: uma abordagem histórica”
Marcos 7, 1-8.14-15.21-23 // 22 domingo –B- // 30 agosto 2009
Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns
escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de
Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os
fariseus e os judeus em geral não comem sem ter lavado cuidadosamente as
mãos, conforme a tradição dos antigos.
Os escribas e fariseus representam o culto hipócrita que se cinge ao exterior,
ao de “fora” (a rubrica, a norma), perdendo de vista o profundo, o de “dentro”.
A convivência quotidiana com Jesus faz relativizar costumes e normas. Sabemos que
Jesus, em muitas ocasiões, passava por cima de certos preceitos da lei, porque em
lugar de libertar as pessoas as escravizavam e excluiam da vida social e religiosa.
Para Jesus a sujidade não consiste em não lavar as mãos, mas em não fazer felizes
os outros, em se esquecer das suas necessidades, em se julgar “limpo”.
A verdadeira limpeza consiste em viver como viveu Jesus.
Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem
lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam
por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de
cobre . Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus:
– Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos
antigos, e comem sem lavar as mãos?
A pessoa farisaica é muito cumpridora da lei
e sente-se demasiado satisfeita do seu cumprimento exterior.
Se alguém faz algo que julgam impuro, consideram que está longe de Deus.
Somos nós como os fariseus na interpretacão meticulosa da norma? Somos capazes
de perder a paz e fazê-la perder aos outros
por coisas insignificantes na vida familiar, comunitária, eclesial...?
Conformamo-nos com a aparência e o cumprimento exterior?
Continuamos a fazer separação entre o sagrado e o profano?
Jesus respondeu-lhes:
- Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo
honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me
prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos. Vós deixais de
lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.’
Jesus entra no terreno perigoso da denúncia pública dos que crêem ter
o poder ideológico e religioso.
Desautoriza o caminho “oficial” de acesso a Deus.
Jesus assume, desde o começo da sua missão, a linha profética
- mudança de mente e de coração para andar pela vida por caminhos novosmais que a sacerdotal e farisaica –aprendizagem e cumprimento da lei
e prática estricta e ritual das tradições-.
Uma forma de domesticar o Evangelho é convertê-lo num conjunto de normas
que basta cumprir escrupulosa e externamente.
A vida interna da Igreja, conduz-se pelo Evangelho ou pelo Direito Canónico?
As pessoas de ambientes católicos praticam a religião
ou são seguidoras de Jesus?
Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhes:
– Ouvi-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que
ao entrer nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o
torna impuro.
Jesus não critica as pessoas, como critica os escribas e fariseus,
mas convida-as a escutar e ajuda-as a entender bem.
Jesus declara puros todos os alimentos e desautoriza radicalmente o sistema socioreligioso baseado em ritos e tradições.
Jesus proclama a liberdade perante as ataduras da lei que escravizam as pessoas.
Diz-nos que não é assim tão complicado nem há que purificar-se tanto assim
para encontrar Deus, que está nas relações humanas,
em tudo o que contribui para tornar mais digna e feliz a vida das pessoas.
A Palavra de Deus é sempre portadora de vida e de libertação para o ser humano.
Porque do interior dos homens é que saem os maus pensamentos:
imoralidades, roubos, assasínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes,
devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem lá
de dentro e tornam o homem impuro.
Frente à religiosidade baseada na observância legal de ritos
e na interpretação rígida da doutrina,
Jesus ensina uma nova forma de se relacionar com Deus.
O essencial é entender Deus como fermento de todo o humano,
sentir-se em contínuo processo de conversão
e mensageiros duma Palavra que é para tod@s.
Deus está na comunidade de irmãos, na justiça para com as pessoas empobrecidas.
As legalidades são acessórias.
A letra mata, e o espírito vivifica.
Tu me despertaste
do falso sonho da responsabilidade.
Aliviaste a minha mochila
de inúteis seguranças
e falsas necessidades,
e me disseste com voz amiga:
caminha ligeiro de bagagem.
Agora sim, Senhor.
Agora sei escutar a tua voz amiga
e o seu eco no horizonte.
Agora sim, Senhor,
caminhe ou descanse,
sinto-Te a meu lado,
e não me pesa a vida
nem o seguir as tuas pégadas.
Ulibarri Flo.
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