ESTUDO DAS
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS
1
DEFINIÇÃO
“É uma forma de conhecimento
socialmente elaborada e partilhada,
tendo uma orientação prática e
concorrendo para a construção de uma
realidade comum a um conjunto social”
(Jodelet, 1989, p. 36)
2
Construção do objeto de
pesquisa
Fenômenos de
representação (Dicotomia
•
•
•
•
Sujeito-Objeto)
Cultura, instituições, práticas
sociais, comunicações
interpessoais e de massa e
pensamentos individuais.
Não podem ser captados pela
pesquisa científica de um modo
completo e direto.
São mais complexos que os
objetos de pesquisa que
construímos.
Há uma simplificação quando
passamos do fenômeno para o
objeto de pesquisa.
•
•
•
•
Teoria > simplifica os
fenômenos, os organiza e os
torna inteligíveis.
Finalidade > Seleção e
delimitação das dimensões ou
aspectos do fenômeno.
Sujeito e objeto de
representação > enunciar
exatamente o objeto; sujeitos;
contexto sócio-cultural (práticas
específicas, redes de interação,
instituições implicadas,
comunicação de massa etc. ).
Métodos e técnicas
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Funções das representações
sociais
De saber
compreender e explicar a
realidade.
aquisição e integração de
conhecimentos.
manifestação do esforço
permanente para compreender e
são precondição da comunicação
Identitária
definem a identidade e permitem
a proteção das especificidades
dos grupos.
situar os indivíduos e os grupos
dentro do campo social
permitido.
Controle social / socialização.
Orientação
guiam os comportamentos e as
práticas.
sistema de pré-codificação > guia de
ação.
tipos de relações.
tipos de estratégias lícitas, permitidas o
inaceitáveis.
Justificadora
permitem a posteriori, a justificativa
das tomadas de decisão.
Fortalece a posição social do grupo de
referência.
Preservar e justificar a diferenciação
social (estereótipos, discriminação,
distância social).
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Campo de pesquisa
•
Quem sabe e de onde sabe?
Condições de produção e de
circulação
•
•
•
•
cultura, linguagem e comunicação
(valores, modelos, invariantes
culturais, comunicação
interindividual, institucional e de
massa),
contexto ideológico e histórico,
inserção social do sujeitos
(posição e filiação grupal)
dinâmica das instituições e dos
grupos.
•
O que e como se sabe?
• Processos e estados
suportes das representações
(discurso ou comportamento,
documentos e práticas).
inferir o conteúdo, estrutura.
análise dos processos de formação.
lógica própria e eventual
transformação.
Sobre o que se sabe e com que
efeito?
Estatuto epistemológico
ciência e coditiano.
transformação do saber.
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Campo de pesquisa
Três grandes dimensões
inter-relacionadas
Descrição do conteúdo
cognitivo de uma
representação
Relacionado às condições
sócio-culturais que
favorecem a sua
emergência.
Discussão da sua
natureza epistêmica em
confronto com o saber
erudito.
Temas substantivos
Ciência: conhecimento popular
e apropriação da ciência /
difusão do conhecimento.
Saúde
Desenvolvimento humano
Educação
Trabalho, profissões,
organizações e empresas
Comunidade
Exclusão social
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Representações sociais
Grande teoria
Identificação do objeto
Espessura ou
relevância
se encontra implicado em
alguma prática do grupo
(conversação e exposição
aos meios de comunicação).
Um saber efetivamente
praticado.
Práticas dos grupos
envolvem o objeto escolhido.
uma modalidade de conhecimento
gerada através da comunicação, com
finalidade prática de orientar os
comportamentos em situações sociais
concretas.
Princípio da transformação do nãofamiliar em familiar.
Sujeito e objeto não são forçosamente
distintos.
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Abordagens complementares à grande teoria
Denise Jodelet
Conceito > uma forma de
conhecimento, socialmente
elaborada e partilhada, que
tem um objetivo prático e
concorre para a construção
de uma realidade comum.
Forma de saber prático que
liga um sujeito a um objeto.
Objeto de natureza social,
material ou ideal.
Representação do objeto >
relação de simbolização (está
em seu lugar).
Representação do objeto >
relação de interpretação
(confere-lhe significados).
É uma construção e expressão do
sujeito, que pode ser focalizada dos
pontos de vista epistêmico
(processos cognitivos),
psicodinâmico (mecanismos
intrapsíquicos e motivacionais) e
social ou coletivo (pertencimento
e participações sociais e culturais).
Como forma de saber se apresenta
como uma modelização do objeto,
que pode ser apreendida em
diversos suportes lingüísticos,
comportamentais ou materiais.
8
Abordagens complementares à grande teoria
Denise Jodelet
Deve-se assegurar uma
ampla base descritiva para
sua compreensão.
Suportes
discursos das pessoas e
grupos,
comportamentos e práticas
sociais, documentos
registros dos discursos e
práticas.
Interpretações pelos meios
de comunicação para a sua
manutenção enquanto se
transformam e para a sua
transformação enquanto se
mantêm.
São determinadas pelas
práticas, não são
exclusivamente discursivas.
Utiliza métodos qualitativos.
9
Abordagens complementares à grande teoria
Willem Doise
São os princípios geradores de tomadas de
decisão ligados a inserções específicas em um
conjunto de relações sociais que organizam os
processos simbólicos que intervêm nessas relações.
A posição ou inserção social dos indivíduos e grupos
é um determinante principal.
Princípios geradores podem levar a diferentes
tomadas de decisão.
Questionários: aspectos compartilhados pela maioria,
variações individuais e relacionados com as posições
sociais dos sujeitos.
Utiliza tratamentos estatísticos correlacionais.
10
Teoria do núcleo central
(Jean-Claude Abric)
Interesse em conhecer não apenas
o conteúdo das representações,
mas também a sua estrutura ou
organização interna.
Realidade objetiva
Não existe separação entre o mundo
externo e interno do indivíduo.
A realidade objetiva não está dada a
priori, toda realidade é representada.
Reapropriada pelo indivíduo e pelo
grupo, reconstruída, integrada no seu
sistema de valores, dependendo de
sua história e do contexto social e
ideológico.
É esta realidade reestruturada que
constitui para o indivíduo e para o
grupo, a realidade mesma.
Representação
produto e processo de uma
atividade mental, através
da qual um indivíduo ou
um grupo reconstitui a
realidade com a qual ele
se confronta e para a
qual ele atribui um
significado específico. É
uma organização
significante.
11
Teoria do núcleo central
A organização de uma
representação social apresenta uma
característica, a de ser organizada
em torno de um núcleo central,
constituindo-se em um ou mais
elementos, que dão significado à
representação.
O núcleo central ou núcleo
estruturante é determinado pela
natureza do objeto representado
e pelo tipo de relação que o
grupo mantém com este objeto
(sistema de valores e normas
sociais).
Funções
Geradora > é o elemento através do qual se
cria ou se transforma o significado dos outros
elementos constitutivos da representação.
Outros elementos ganham um sentido, um
valor.
Organizadora > é o elemento unificador e
estabilizador da representação.
Propriedades
Elemento mais estável da representação.
Assegura continuidade em contextos móveis e
evolutivos.
Elemento que mais resiste à mudança.
Permite o estudo comparativo das
representações.
Possui dimensões quantitativas e qualitativas >
dá significado à representação.
12
Elementos periféricos
Organizam-se em torno do
núcleo central.
Seus componentes são mais
acessíveis, vivos e concretos.
Funções
Concretização
dependentes do contexto,
resultam da ancoragem da
representação na realidade
permitem a formulação da
representação em termos
concretos, imediatamente
compreensíveis e transmissíveis.
Regulação
adaptação da representação às
evoluções do contexto
informações novas são integradas
elementos de conflito são integrados
(importância menor, reinterpretando
na direção do significado da RS ou
com caráter de exceção).
Defesa
poderão aparecer e ser toleradas
contradições.
transformação >, interpretações
novas, deformações funcionais
defensivas, integração condicional de
elementos contraditórios.
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Núcleo central
A homogeneidade de uma população não é
definida pelo consenso, mas pelo fato de sua
representação se organizar em torno do
mesmo núcleo central, do mesmo princípio
gerador do significado que eles dão à
situação ou ao objeto ao qual são
confrontados.
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CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA CENTRAL E
DO PERIFÉRICO DE UMA REPRESENTAÇÃO
Sistema Central
Ligado à memória coletiva e à história
do grupo.
Consensual
 define a homogeneidade do grupo
Estável
Coerente
Rígido
Resiste às mudanças
Pouco sensível ao contexto imediato
Funções
 gera o significado da representação
 determina sua organziação
Sistema Periférico
Permite a integração de experiências e
histórias individuais.
Tolera a heterogeneidade do grupo.
Flexível
Tolera contradições
Evolutivo
Sensível ao contexto imediato
Funções
 permite a adaptação à realidade
 permite a diferença de conteúdo
15
O sistema periférico
Flament (1989, 1994)
Os processos de transformação
Prescrições condicionais > deve-se fazer isso, mas,
em certos casos, deve-se fazer outra coisa.
No domínio das RS, as prescrições são maciçamente
condicionais.
Julgamentos absolutos estão embutidos de
alternativas condicionais.
Prescrições absolutas ou incondicionais >
constituem o núcleo central
16
O sistema periférico
Os processos de transformação
São esquemas organizados pelo
núcleo central.
Funcionam como guia de
leitura de uma situação.
Como formas de pensamento
social prático, as descrições do
objeto representado
implicariam em prescrições de
algum tipo de ação
O que acontece quando os
atores sociais são levados a
desenvolver práticas em
contradição com seu sistema
de representação?
A resposta depende da noção
de reversibilidade da situação
Se a ação for percebida como
reversível as novas práticas
modificam o sistema periférico.
Se a ação for percebida como
irreversível as práticas
contraditórias vão transformar o
núcleo da representação pelo
que surgiria uma nova.
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Elementos periféricos
Características
Prescritores de
comportamentos e de tomadas
de posição dos sujeitos >
orienta ações e reações
instantâneas.
Modulação personalizada das
representações > diferenças
aparentes associadas à
apropriação individual ou a
contextos específicos.
Proteção do núcleo central
os esquemas normais se
transformam em “esquemas
estranhos”.
A lembrança do normal.
A designação do elemento estranho.
A afirmação de uma contradição entre
dois elementos.
Uma racionalização permitindo tolerar
(temporariamente) uma contradição.
Os esquemas centrais (o núcleo
central) são normativos no sentido
que expressam a normalidade, mas
não a certeza absoluta, enquanto
os elementos periféricos
condicionais, expressam o
freqüente, às vezes o excepcional,
mas nunca o anormal (Moliner,
1992)
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Métodos e técnicas
Questões
Não privilegia nenhum
método de pesquisa.
Combina a coleta de dados
através de entrevistas,
questionários, imprensa,
literatura, documentos,
cartas e diários com o
tratamento feito pela
técnica de análise de
conteúdo.
possibilidades para
julgamentos de valores.
Não solicitar definições.
Partir de perguntas de
caráter mais concreto,
fatuais e relacionados à
experiência cotidiana.
Gradativamente apresentar
questões que envolvam
reflexões mais abstratas e
julgamentos.
Grupos focais
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Campo dos fenômenos de representação social
Jodelet
Diferentes perspectivas que
presidem a formulação da
maneira como se elaboram
as representações
atividade puramente cognitiva >
construção
aspectos significantes da atividade
representativa
como forma de discurso
prática social na construção
dinâmica pelo jogo das relações
intergrupais
sujeito portador de determinações
sociais e em última instância
responsável pela produção das
representações.
Moscovici
Campos de investigação
Hegemônicas
Partilhadas por todos os
membros do grupo altamente
estruturado - partido, cidade ou
nação - sem terem sido
produzidas pelo grupo.
Prevalecem implicitamente em
todas as práticas simbólicas e
afetivas.
Parecem ser uniformes e
coercitivas.
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Campo dos fenômenos de
representação social
Moscovici
Campos de investigação
Emancipadas
Criadas pelo subgrupo e
partilhada por ele.
Têm um certo grau de
autonomia em relação aos
segmentos interagentes da
sociedade.
Resultam do intercâmbio e
partilha de um conjunto de
interpretações simbólicas.
Polêmicas
gerada no curso de conflitos
e controvérsias sociais.
A sociedade como um todo
não as compartilha.
Estabelecem relações
antagônicas entre seus
membros e são mutuamente
exclusivas.
Podem ser vistas no
contexto de uma oposição
ou luta entre grupos.
21
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Construção do objeto de pesquisa