O que você deve saber sobre
ROMANTISMO: PROSA I
O romance marcou fortemente a prosa produzida durante o
Romantismo brasileiro. Embora o gênero, tal qual o denominamos
hoje, seja datado do século XVIII, sofreu uma série de
transformações com o advento do Romantismo na Europa entre o
final desse século e o início do seguinte.
Família real e folhetins
Vinda da família real ao Brasil:
 Criação de escolas e teatros
 Publicação diária de jornais
 Popularização dos folhetins, que originaram os romances
românticos do século XIX.
ROMANTISMO: PROSA I
Informações importantes
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Hegel: o romance se define como a “epopeia burguesa moderna”.
Manon Lescaut (1731), de Prévost, e A história de Tom Jones (1749), de
Henry Fielding, são considerados os primeiros romances românticos.
ROMANTISMO: PROSA I
Informações importantes
MUSEU PAULISTA/USP, SÃO PAULO
A busca de uma identidade nacional e de uma nação com história própria,
cultura particular e autônoma, marcou a temática de obras do período.
Independência ou morte, 1888, de Pedro Américo. Os românticos brasileiros
foram influenciados pelas discussões em torno da Independência.
ROMANTISMO: PROSA I
Em 1922 os modernistas
propuseram a discussão sobre a
identidade nacional.
Obras como Macunaíma, de Mário
de Andrade, e os movimentos
Verde-amarelo, de Plínio Salgado,
e Antropofagia, de Oswald de
Andrade, retomaram temáticas
propostas pelos românticos,
adotando ora a irreverência, ora a
ruptura com a tradição, ora o
ultranacionalismo.
ROMANTISMO: PROSA I
REPRODUÇÃO
Informações importantes
Informações importantes
Durante o Quinhentismo, o Barroco e o Arcadismo, não houve no
Brasil uma prosa de ficção significativa. Além de não haver
recursos para a produção e circulação dos folhetins e romances,
apenas as obras escritas em verso eram consideradas literatura.
ROMANTISMO: PROSA I
Iracema (1881), de José Maria de Medeiros. Óleo sobre tela, 168 × 2550 cm.
ROMANTISMO: PROSA I
MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RJ
Informações
importantes
Informações importantes
ACERVO DA PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO
A literatura regionalista surge no Brasil durante o Romantismo.
Na roça (1888), de Benjamin Parlagreco. Óleo sobre tela, 75 × 109 cm.
ROMANTISMO: PROSA I
Tendências da prosa romântica brasileira
Romance indianista: o índio era representante da América, dada
sua valentia e nobreza. Destaca-se nessa tendência o escritor José
de Alencar.
Romance regionalista: enfatizava um Brasil distante da então
capital do país, Rio de Janeiro. Destacam-se Bernardo Guimarães,
Visconde de Taunay, José de Alencar e Franklin Távora.
ROMANTISMO: PROSA I
Tendências da prosa romântica brasileira
Romance histórico:
focaliza, em sua
maioria, o período
colonial, apresentado
em retrato idealizado
dos eventos históricos
nacionais.
Rua Direita (1823), Rio de Janeiro,
atribuída a Félix-Emile Taunay
ROMANTISMO: PROSA I
COLEÇÃO BRASILIANA
Romance urbano: enfoca os costumes da sociedade carioca do
Segundo Reinado. Destacam-se Joaquim Manuel de Macedo, Manuel
Antônio de Almeida e José de Alencar.
Tendências da prosa romântica brasileira
Marco inicial: O filho do pescador (1843), de Teixeira e Sousa, e A
Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo.
ROMANTISMO: PROSA I
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Marco final: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, e O mulato, de Aluísio Azevedo (ambos de 1881).
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
(Unesp, adaptado)
O texto a seguir deve ser utilizado para responder à questão 1.
O garimpeiro
Lúcia tinha dezoito anos, seus cabelos eram da cor do jacarandá brunido, seus olhos também eram assim, castanhos
bem escuros. Este tipo, que não é muito comum, dá uma graça e suavidade indefinível à fisionomia.
Sua tez era o meio-termo entre o alvo e o moreno, que é, a meu ver, a mais amável de todas as cores. Suas feições, ainda
que não eram de irrepreensível regularidade, eram indicadas por linhas suaves e harmoniosas. Era benfeita, e de alta e
garbosa estatura.
Retirada na solidão da fazenda paterna, desde que saíra da escola, Lúcia crescera como o arbusto do deserto, desenvolvendo
em plena liberdade todas as suas graças naturais, e conservando ao lado dos encantos da puberdade toda a singeleza e
inocência da infância.
Lúcia não tinha uma dessas cinturas tão estreitas que se possam abranger entre os dedos das mãos; mas era fina e flexível.
Suas mãos e pés não eram dessa pequenez e delicadeza hiperbólica, de que os romancistas fazem um dos principais méritos
das suas heroínas; mas eram benfeitos e proporcionados.
Lúcia não era uma dessas fadas de formas aéreas e vaporosas, uma sílfide ou uma bayadère*, dessas que fazem o encanto
dos salões do luxo. Tomá-la-íeis antes por uma das companheiras de Diana, a caçadora, de formas esbeltas, mas vigorosas,
de singelo mas gracioso gesto.
Todavia era dotada de certa elegância natural, e de uma delicadeza de sentimentos que não se esperaria encontrar em uma
roceira.
GUIMARÃES, Bernardo. O garimpeiro. Rio de Janeiro:
B. L. Garnier Livreiro/Editor do Instituto, 1872. p. 14-16.
* Bayadère (francês): dançarina das Índias, dançarina de teatro.
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
1
Na descrição da beleza das mulheres, os escritores nem sempre se
restringem à realidade, mesclando aspectos reais e ideais. Uma das
características do Romantismo era a tendência à idealização, embora
nem todos os ficcionistas a adotassem como regra dominante. Com
base nessas informações, releia o quarto parágrafo do fragmento de
O garimpeiro e identifique na descrição da personagem Lúcia uma
atitude crítica do narrador ao idealismo romântico.
RESPOSTA:
Apesar de romântico, o texto sugere uma crítica (e até mesmo
uma ironia) em relação à idealização feminina, tão comum
nessa estética. O excerto a seguir comprova isso: “Suas mãos e
pés não eram dessa pequenez e delicadeza hiperbólica, de que
os romancistas fazem um dos principais méritos das suas
heroínas; mas eram benfeitos e proporcionados”.
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
5
(UFBA/UFRB)
No geral conceito, esse único filho varão devia ser o amparo da família, órfã de seu chefe natural. Não o entendiam assim
aquelas três criaturas, que se desviviam pelo ente querido. Seu destino resumia-se em fazê-lo feliz; não que elas pensassem
isto, e fossem capazes de o exprimir; mas faziam-no.
Que um moço tão bonito e prendado como o seu Fernandinho se vestisse no rigor da moda e com a maior elegância; que em
vez de ficar em casa aborrecido procurasse os divertimentos e a convivência dos camaradas; que em suma fizesse sempre na
sociedade a melhor figura, era para aquelas senhoras não somente justo e natural, mas indispensável. (...)
Dessa vida faustosa, que ostentava na sociedade, trazia Seixas para a intimidade da família não só as provas materiais, mas
as confidências e seduções. Era então muito moço; e não pensou no perigo que havia de acordar no coração virgem das irmãs
desejos que podiam supliciá-las. Quando mais tarde a razão devia adverti-lo, já o doce hábito das confidências a havia
adormecido.
Felizmente D. Camila tinha dado a suas filhas a mesma vigorosa educação que recebera; a antiga educação brasileira, já bem
rara em nossos dias, que, se não fazia donzelas românticas, preparava a mulher para as sublimes abnegações que protegem a
família, e fazem da humilde casa um santuário.
Mariquinhas, mais velha que Fernando, vira escoarem-se os anos da mocidade, com serena resignação. Se alguém se
lembrava de que o outono, que é a estação nupcial, ia passando sem esperança de casamento, não era ela, mas a mãe, D.
Camila, que sentia apertar-se-lhe o coração, quando lhe notava o desdobre da mocidade.
Também Fernando algumas vezes a acompanhava nessa mágoa; mas nele breve a apagava o bulício do mundo.
Nicota, mais moça e também mais linda, ainda estava na flor da idade; mas já tocava aos vinte anos, e com a vida
concentrada que tinha a família, não era fácil que aparecessem pretendentes à mão de uma menina pobre e sem proteções.
Por isso cresciam as inquietações e tristezas da boa mãe, ao pensar que também esta filha estaria condenada à mesquinha
sorte do aleijão social, que se chama celibato.
ALENCAR, José de. Senhora. Em: José de Alencar – ficção completa
e outros escritos. 3. ed. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1965. v. 1,
p. 684-685. (Biblioteca Luso-Brasileira. Série Brasileira.)
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
5
Dentre as ideias focalizadas na obra, têm comprovação no texto as proposições:
(01) A narrativa apresenta censura à sociedade da época por não
preparar devidamente a mulher para exercer o papel que lhe é
reservado.
(02) O narrador põe a nu uma visão de mundo patriarcalista, no que
tange aos papéis sociais atribuídos ao homem e à mulher.
(04) A vida que Seixas e sua família levavam obedecia às regras sociais
que vigoravam na época.
(08) A existência de uma oposição entre a vida do lar e a realidade
mundana está evidenciada no fragmento.
(16) Fernando Seixas é caracterizado como um ser humano de caráter
e de sentimentos nobres, além de generoso com sua família.
(32) O casamento aparece como um contrato em que o dote da mulher
e o prestígio social de sua família são pré-requisitos essenciais.
(64) O narrador mantém-se impessoal, seguindo os padrões narrativos
então vigentes.
RESPOSTA:
Soma: 01 + 02 + 08 + 32 = 43
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
Leia o texto a seguir para responder à questão 7.
Escreverei minhas Memórias, fato mais frequentemente do que se pensa observado no mundo industrial, artístico, científico e
sobretudo no mundo político, onde muita gente boa se faz elogiar e aplaudir em brilhantes artigos biográficos tão
espontâneos, como os ramalhetes e as coroas de flores que as atrizes compram para que lhos atirem na cena os comparsas
comissionados.
Eu reputo esta prática muito justa e muito natural; porque não compreendo amor e ainda amor apaixonado mais justificável
do que aquele que sentimos pela nossa própria pessoa.
O amor do eu é e sempre será a pedra angular da sociedade humana, o regulador dos sentimentos, o móvel das ações, e o
farol do futuro: do amor do eu nasce o amor do lar doméstico, deste o amor do município, deste o amor da província, deste o
amor da nação, anéis de uma cadeia de amores que os tolos julgam que sentem e tomam ao sério, e que certos maganões
envernizam, mistificando a humanidade para simular abnegação e virtudes que não têm no coração e que eu com a minha
exemplar franqueza simplifico, reduzindo todos à sua expressão original e verdadeira, e dizendo, lar, município, província,
nação, têm a flama dos amores que lhes dispenso nos reflexos do amor em que me abraso por mim mesmo: todos eles são
o amor do eu e nada mais. A diferença está em simples nuanças determinadas pela maior ou menor proporção dos interesses
e das conveniências materiais do apaixonado adorador de si mesmo.
MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias do sobrinho de meu tio.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
7
No texto, o uso da primeira pessoa na escrita das Memórias tem um efeito de:
a) construir uma narrativa impessoal e neutra.
b) seguir o modelo típico do texto jornalístico.
c) manifestar no discurso a opinião do destinatário.
d) expressar na forma o ponto de vista do narrado.
RESPOSTA: D
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
12
(PUC-RJ)
Texto 1
A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855.
Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das
poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais
serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo.
Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas
da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e
admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus
adornos.
Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade,
sentado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano
recém-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população
desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?
Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da
fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo;
finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face
de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o
fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Ática, 1988. p. 12.
Texto 2
Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que passavam para o trabalho se aproximavam dos corpos para ver se eram
conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço às sete e trinta, foi ver o
corpo do ladrão. Ao retirar o lençol de cima do cadáver, concluiu: “É bandido”. O defunto tinha duas tatuagens, a do braço
esquerdo era uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo
Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha colorida confeccionada por presidiários. Porém, quando apontou na
extremidade direita da praça da Quadra Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe apresentavam a imagem do
corpo de Francisco, um nervosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar desespero absoluto. O presunto era de um
trabalhador.
LINS, Paulo. Cidade de Deus.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 55-56.
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
12
a) O romance Lucíola, publicado em 1862, é considerado uma das
mais importantes obras de José de Alencar. Cite TRÊS aspectos que
marcam o estilo de época a que se filia o autor, tendo como referência
o fragmento selecionado.
RESPOSTA:
O movimento literário a que José de Alencar está ligado é o
Romantismo. Três aspectos desse estilo, presentes no
fragmento do romance, são: visão subjetiva da realidade,
descrição detalhada e tensão entre a corte e a província.
ROMANTISMO: PROSA I — NO VESTIBULAR
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
12
b) Os textos 1 e 2 são narrativas urbanas que têm como cenário o
Rio de Janeiro. Compare os trechos dos dois romances anteriormente
transcritos, estabelecendo diferenças em relação à percepção da
cidade e suas personagens e à linguagem utilizada pelos
respectivos autores.
RESPOSTA:
Alencar idealiza os aspectos naturais da cidade e atenua as
diferenças socioeconômicas existentes entre os habitantes do
Rio de Janeiro; usa períodos longos e adjetivos em texto
bastante descritivo. Paulo Lins descreve o Rio de Janeiro de
maneira realista e explicita os conflitos socioculturais
existentes na cidade; utiliza períodos curtos e poucos adjetivos
em narração bastante “seca”.
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