VOCÊ SABE O QUE É ESPORTE?
Para além das respostas fáceis, que estão na aparência do fenômeno chamado esporte, como regras universais
e que tem como principal objetivo a competição, é preciso buscar as raízes deste elemento da cultura corporal, que tem seus
germes na mudança do feudalismo para o capitalismo.
Se formos estudar a forma de trabalho servil (feudalismo),
em que predomina praticamente o trabalho no campo e o artesanato, vemos que o trabalhador tem o conhecimento do processo
produtivo como um todo; suas ferramentas são um apêndice de seu corpo, dominado pela destreza, força e habilidade. Essas
características influenciam profundamente na cultura e na produção de seus jogos de divertimento, em que o jogador será
reconhecido por vários aspectos, inclusive pela força e pela destreza. A partir do capitalismo, com maior ênfase após a Revolução
Industrial temos sérias modificações na produção da vida, iniciando com a manufatura e posteriormente com a grande indústria.
Neste período os jogos começam a ter os aspectos do esporte que conhecemos hoje, pois o trabalhador passa não mais a dominar
os seus apetrechos de trabalho e sim a ser dominado pela máquina, que lhe exige técnica, repetição e eficiência, ou seja, passam
a predominar movimentos mecânicos cadenciados no tempo.
Coletivo
de Autoris
Maio 2009
Essa nova forma de trabalho que passou a predominar na
sociedade (a assalariada) interferiu e se refletiu nas formas de jogar dessa
sociedade, produzindo essa manifestação corporal denominada esporte. Esse
novo fenômeno exige dos atletas cada vez mais rendimento e desempenho,
transformando os seres humanos em máquinas performáticas, estampadas
quase que diariamente em nossos jornais e programas televisivos, o que nos
leva a refletir sobre outro aspecto bastante plausível do esporte que é seu
papel na constituição da ideologia burguesa.
Enquanto política governamental o esporte aparece como
elemento dispersador de manifestações populares contra as condições
indignas de vida, como artifício para legitimar governos autoritários ou ainda
para desviar a atenção de escândalos e problemas estruturais. Quem já não
ouviu por diversas vezes a história de como a Copa de 1970 foi utilizada para
encobrir a fase mais perversa da ditadura militar do governo Médici, em que já
naquela copa algumas pessoas mais esclarecidas (João Saldanha, dirigente
da seleção brasileira de 4 de fevereiro de 1969 a 17 março de 1970) se
retiraram, como é possível notar na entrevista dada por Tostão, campeão em
1970, “É possível explicar o afastamento de João Saldanha por motivos
políticos? Acho que sim. João Saldanha incomodava muito a ditadura, pois
era militante do partido comunista. Acho também que ele não quis continuar e
procurou motivos para sair, como as suas críticas a Pelé e outros fatos”
(http://reporteresportivo.wordpress.com/atletas-do-passado/tostao/).
Outro
exemplo disso está bem mais próximo e nos permite perceber a contribuição
que o esporte pode dar para a desmobilização inclusive dos próprios
estudantes. Esta semana foi divulgada pelo Diretório Central dos Estudantes
(DCE/UFPR), que tem em sua gestão integrantes do CAEF/UFPR, a terceira
edição dos Jogos de Verão, que serão realizados na mesma data do XV
Encontro Regional de Estudantes de Educação Física (EREEF/Sul), no feriado
do dia primeiro de maio de 2009. Porque um evento de puro divertimento é
marcado para acontecer na mesma data em que o movimento estudantil da
área se encontra para discutir seus problemas específicos? A quem interessa
esse tipo de atitude?
Por outro lado, o discurso que é diariamente reforçado pela
mídia de massa é que o esporte pode servir como oportunidade de ascensão
social ou no auxílio à superação de algumas mazelas sociais. O problema é que a
prática esportiva se torna privilégio de uma minoria de sucesso, e se constitui em
experiência de fracasso para uma maioria espantosa. Restando a essa maioria as
ações de assistir, bater palmas e comprar os subprodutos da indústria cultural
esportiva.
Basta também uma rápida navegada no site do Ministério do
Esporte para notarmos o quanto de verba é despendido para o alto rendimento
em detrimento do esporte escolar, e para isto temos exemplos bem claros. É só
olhar para o sucateamento das nossas escolas públicas. E o DEF/UFPR não está
estruturalmente e ideologicamente alheia a isto, como podemos inferir nas
condições de nossas quadras e materiais esportivos, na cobrança de taxas para
se utilizar dos espaços “públicos” do CED e tantos outros problemas.
É esse esporte que você quer ajudar a promover??? Um esporte em que a
maioria da população se coloca como mera expectadora??? Um esporte que nos
põe a consumir sua boutique recheada de artigos autografados e nos priva de
simplesmente jogá-lo??? Um esporte que contribui para não enxergarmos onde
está a raiz dos problemas sociais (desemprego, fome, violência, falta de http://coletivodeautoris.wordpress.com
educação, saúde, etc) que cada vez mais nos atingem??????
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o que é esporte???