RACIONALIZAÇÃO DE RESÍDUOS EM OBRAS DE GRANDE PORTE
Eliane Procópio Alves1, Paola Ariana de Morais2, Wagner Oliveira de Abreu3
1,2
UNIVAP - Graduação em Engenharia Civil – São José dos Campos - SP, [email protected] ,
[email protected]
3
UNIVAP – Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo – São José dos Campos – SP,
[email protected]
Resumo- Atualmente muitas construtoras, prefeituras e ambientalistas se preocupam com a forma de
disposição de resíduos provenientes de obras, reformas e demolições, em aterros sanitários. Após a
década de 80, o grande acúmulo de resíduos transformou-se em um grave problema urbano, que demanda
um gerenciamento oneroso causado pela intensa industrialização, advento de novas tecnologias e
crescimento populacional (GÜNTHER, 2000). A partir de então começou-se analisar a racionalização
construtiva, já que a massa de resíduos de construção gerada nas cidades é igual ou maior que a massa de
resíduo domiciliar, podendo atingir até 70% da massa total dos resíduos sólidos urbanos (PINTO, 1999). No
Vale do Paraíba, vivenciou-se um acelerado crescimento na construção civil e a migração de construtoras e
incorporadoras da capital paulista. O ônus causado pelo aquecimento do setor se caracterizou pela
escassez de áreas destinadas a separação e recebimento dos materiais. Apesar de em sua grande maioria
os RCC – Resíduos da construção civil serem considerados inertes, podem causar grandes alterações no
meio ambiente, as quais comprometem negativamente a qualidade do solo, ar e os recursos hídricos.
Palavras-chave: RCC, Resíduos da Construção Civil, Sustentabilidade, Reciclagem
Área do Conhecimento: III - Engenharias
Introdução
A racionalização de resíduos é definida como “um
processo composto pelo conjunto de todas as
ações que tenham por objetivo otimizar o uso de
recursos materiais, humanos, organizacionais,
energéticos, tecnológicos, temporais e financeiros
disponíveis na construção em toda as suas fases"
(SABBATINI, 1989). No que diz respeito ao
processo produtivo, os resíduos são gerados a
partir de produção de bens de consumo duráveis
(edifícios, pontes e estradas) ou não-duráveis
(canteiros de obra). De maneira geral a massa de
resíduos de construção gerada nas cidades é igual
ou maior que a massa de resíduo domiciliar,
PINTO (1999) sendo que a geração dos Resíduos
da Construção Civil (RCC), em algumas delas,
está entre 41% a 70% da massa total dos resíduos
sólidos urbanos. Devido a estes fatores estão
ocorrendo grandes alterações no meio ambiente,
as quais vêm comprometendo negativamente a
qualidade do solo, ar e os recursos hídricos
segundo VÁSQUES (2001). Depósitos irregulares
destes detritos atraem outros tipos de lixos e até
animais mortos. A indústria da construção civil
chega a consumir até 75% de recursos naturais
(JOHN, 2000; LEVY, 1997; PINTO, 1999) e é
claramente intuitiva a mudança deste quadro
visando o desenvolvimento sustentável. O setor
deve investir numa produção baseada na redução
de
geração
de
resíduos,
desenvolvendo
tecnologias limpas, utilização de materiais
recicláveis, reutilizáveis ou secundários e na
coleta e deposição de inertes. Em São José dos
Campos são gerados diariamente mais de 1,2 mil
toneladas de Resíduos da Construção e
Demolição (RCD), constituído por argamassa,
areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais,
papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas, etc. Os
quais significam perda de matéria prima que foi
comercializada pelas empresas. Na cidade a
Gestão dos RCD´s passou a ser regulamentada
pela Lei Municipal 7.146/2006, que tornou
obrigatório às construtoras e Incorporadoras a
apresentação de um Projeto de Gerenciamento de
Resíduos da Construção Civil (PGRCC). Em
âmbito nacional temos a Resolução CONAMA nº
307, norma que classifica a natureza, composição
e a periculosidade dos resíduos sólidos e prevê a
Reutilização, Reciclagem e Beneficiamento
destes. E também a norma NBR10004 (ABNT,
2004) que classifica os resíduos sólidos quanto
aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à
saúde pública para que possam ser gerenciados
adequadamente. Algumas cidades brasileiras já
implantaram um sistema baseado nestas leis e
mostram que o processo construtivo pode ser
mais rentável e competitivo, além de mais
ambientalmente
saudável.
Alem
disso,
considerando a esfera social da sustentabilidade,
a geração de materiais de menor custo permitirá a
populações de baixa renda a aquisição de
materiais de construção civil de boa qualidade e
accessível na construção de moradias populares.
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Metodologia
Em razão do exposto, foi feito um levantamento de
dados junto a prefeituras da região paulista do
Vale do Paraíba, construtoras, usinas de
beneficiamento e aterros sanitários. Os resíduos
utilizados foram apenas de concreto armado,
gerados nas obras de ampliação da Refinaria da
Petrobrás em São José dos Campos – SP e são
Classe IIB – denominados Resíduos da
Construção Civil (Entulhos ou RCC) e que
atenderam as exigências da Resolução CONAMA
307/2002 e da norma ABNT 10004:2004. Estes
resíduos ao chegarem nas dependências do aterro
industrial “Enterpa Engenharia Ltda.” foram
analisados visualmente e pesados, em seguida
foram coletadas amostras aleatórias e enviadas a
um laboratório de análise e diagnóstico ambiental
para serem submetidas a um contato dinâmico e
estático com água destilada ou deionizada, à
temperatura ambiente, conforme ABNT NBR
10006. Os RCCs que não tiveram nenhum de
seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água,
excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e
sabor, foram aprovados para o beneficiamento. O
lote foi enviado para o pátio de Triagem Manual e
logo em seguida para a Usina de Trituração.
(Figura 1)
passou pela peneira de 38mm. O cimento utilizado
foi o CPII – E32, por ser o mais comum em obras
e de fácil acesso no mercado.
Figura 2: Brita 1 e Areia provenientes de Resíduos
da Construção Civil.
Com o auxílio de um medidor foi estabelecido um
traço 1:2:3 (aglomerante, agregado miúdo e
graúdo) com a expectativa de proporcionar
resistência a compressão de 25MPa. O fator
água/cimento (1:1) foi estabelecido por tentativa e
visualmente
em
virtude
da
porosidade
apresentada pelo agregado graúdo. A mistura foi
homogeneizada com o auxilio de uma betoneira
por 3 minutos. Posteriormente foram moldados 4
corpos de prova (CDP) cilíndricos com 15cm de
diâmetro e 30cm de altura adensados em 4 partes
por uma haste de socamento (tabela I) , ao chegar
ao topo do corpo de prova a superfície foi alisada
com o auxílio de uma colher de pedreiro.
Tabela I: Número de camadas e golpes de
socamento.
Figura 1 : “Usina de Trituração da Enterpa
Engenharia Ltda.”
Do processo de trituração obtém-se a Brita, o
Rachão (lascas), a Areia e o Pedrisco. Dentre
estes, selecionou-se amostras de agregados
graúdos e agregados miúdos (correspondentes a
Brita 1 e Areia, respectivamente) que, em
laboratório passaram por uma nova triagem visual
e caracterização granulométrica (Figura 2).
Adotou-se como agregado miúdo, toda a porção
de entulho que passou pela peneira de 4,8 mm e
agregado graúdo toda a porção de entulho que
Os CDPs foram desenformados após 24 horas e
colocados submersos em água. Antes do ensaio
os corpos de prova foram retirados da água, e
permaneceram em temperatura ambiente por mais
um dia, até serem capeados com argamassa de
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enxofre fundida, moldada e resfriada (Figura 3).
Esse processo garantiu que eles apresentassem
topos paralelos, lisos e íntegros, objetivando
reduzir as variações de ensaio devido à falta de
paralelismo entre os pratos da prensa, os desvios
do eixo do corpo-de-prova em relação à direção
da movimentação dos pratos, e o atrito entre os
pratos e os topos do corpo-de-prova.
Tabela II: Ensaio de compressão - Resultados
Corpo
de
Prova
Data da
Moldagem
Data do
Ensaio
Resultado
(MPa)
1
16/05/2009 23/05/2009
7,0
2
16/05/2009 30/05/2009
12,5
3
16/05/2009 06/06/2009
14,5
4
16/05/2009 13/06/2009
16,0
Os materiais foram analisados em um microscópio
metalográfico Olympus BX51M, auxiliado pelo
software Image ProPlus, com 200x de aumento
(Figura 5), onde pode-se verificar micro trincas no
agregado graúdo (Figura 6), possivelmente
causado pelo processo de britagem, fatores que
alteram a resistência esperada do concreto nos
ensaios preliminares.
Figura 3: Argamassa de enxofre fundida sendo
colocada no molde para o capeamento do CDP.
Os ensaios laboratoriais foram realizados
utilizando uma prensa para ensaio de compressão
e flexão de Corpos de Prova cilíndricos de
concreto, com carga máxima de 300 toneladas
(Figura 4).
Figura 5: Agradado graúdo de RCC – Brita Natural
envolta por argamassa – Ampliada 200X
Figura 4: Ensaio de compressão.
Resultados
Os corpos de prova passaram pelo ensaio de
compressão conforme mostra a Tabela II.
Figura 6: Micro trinca no agregado graúdo Ampliada 200X
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Discussão
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 10006: Solubilização de
Resíduos -. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
Um dos problemas mais graves nos RCD é
variabilidade de composição e conseqüentemente,
de outras propriedades desses agregados
reciclados (ZORDAN, 1997; PINTO, 1999;). É
necessário e imprescindível que se tenha
rastreabilidade dos RCCs e que os geradores se
conscientizem em fazer a triagem no local da
geração (canteiro de obras).
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
– Resolução Nº 307, de 5 de julho de 2002
Diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão
dos resíduos da construção civil. - Ministério do
Meio Ambiente – Governo do Brasil, 2002.
Conclusão
O entulho usado como agregado apresentou uma
absorção de água bem superior à do agregado
tradicional, devido à sua visível porosidade,
tornando a dosagem imprevisível, principalmente
em relação ao fator água/cimento, obtido como o
principal responsável da obtenção de apenas 64%
da resistência esperada aos 28 dias. A reciclagem
dos resíduos de obras é de suma importância,
pois a indústria da construção civil é uma das
maiores geradores de entulho. Dependendo do
tipo de material reciclado a ser utilizado e das
características e proporções dos demais
componentes que são empregados na mistura, as
propriedades mecânicas do concreto podem não
ser alteradas significativamente. Neste estudo,
verificou-se que o concreto feito com 100% de
agregado reciclado atingiu, aproximadamente,
36% menos resistência do que o material feito
com agregado natural aos 28 dias. Isso,
provavelmente, aconteceu em função da
quantidade de vazios do agregado reciclado e de
suas micro trincas. Percebe-se que ainda há
necessidade de se aumentar o conhecimento
acerca das propriedades dos agregados
reciclados e dos novos materiais formados, para
que se possa expandir a faixa de utilização do
entulho como material para construção civil. No
entanto, os resultados aqui apresentados não
condenam totalmente o uso do RCCs, pois a
variabilidade de utilização em relação a resistência
do material é grande no setor.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 10007: Amostragem de
Resíduos -. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
GUNTHER, W.M.R. Minimização de resíduos e
educação ambiental. In: SEMINÁRIO
NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LIMPEZA
PÚBLICA, 7. Curitiba, 2000. Anais. Curitiba, 2000.
JOHN, V. M. Pesquisa e desenvolvimento de
mercado para resíduos. In: Seminário sobre
reciclagem e reutilização de resíduos como
materiais de construção, 1996, São Paulo: PCC USP, Departamento de Engenharia de Construção
Civil.
LEVY, S.M. Reciclagem do entulho da construção
civil, para utilização com agregados para
argamassas e concretos, 1997, São Paulo:
Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo.
PINTO, Tarcísio de Paula; RODRIGO GONZÁLEZ,
Juan Luís. Manejo e gestão de resíduos da
construção civil: manual de orientação: volume 1
: como implantar um sistema de manejo e gestão
de resíduos da construção civil nos municípios.
Brasília, DF: Caixa Econômica Federal, 2005
ZORDAN, S. E. A Utilização do Entulho como
Agregado na Confecção do Concreto. Campinas:
Departamento de Saneamento e Meio Ambiente
da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade
Estadual de Campinas. Dissertação (Mestrado),
1997. 140p.
SABBATINI, F. H. Desenvolvimento de métodos,
processos e sistemas construtivos – formulação
aplicação de uma metodologia, 1989, São Paulo:
Tese
(Doutorado)
Escola
Politécnica,
Universidade de São Paulo.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos Sólidos Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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Racionalização de Resíduos em Obras de Grande - INIC