Clipping Nacional
de
Educação
Segunda-feira, 03 de Fevereiro de 2014
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05/02/14
4843
HOLOFOTE
OTÁVIO CABRAL
Um aliado para esconder
O péssimo desempenho de Fernando
Haddad, reprovado por 80% dos
paulistanos, fez com que Lula mudasse a
estratégia inicial da campanha de Alexandre Padilha a governador. Para não se
contaminar com o desgaste do prefeito,
ele não será apresentado como um
político "novo", mas como um experiente
ministro que passou cinco anos em
Brasília. Padilha priorizará agora as
viagens pelo interior, onde a influência
negativa de Haddad é menor. Sua primeira aparição pública será neste sábado
em Ribeirão Preto.
05/02/14
4 8 4 4 Cláudio de Moura
Castro
Escola ideal para alunos não ideais
Na segunda metade do século
XIX, dom Pedro II transformou a
primeira escola pública secundária
do Brasil em um modelo inspirado
no colégio Louis Le Grand, reputado como o melhor da França. Mantiveram-se na sua réplica brasileira
as exigências acadêmicas do modelo original. O próprio dom Pedro
selecionava os professores, costumava assistir a aulas e arguir os alunos. Sendo assim, o colégio que,
mais adiante, ganhou o seu nome
constituiu-se em um primoroso modelo para a educação das elites brasileiras. Dele descendem algumas
excelentes escolas privadas.
Mais tarde do que seria desejável, o ensino brasileiro se expande,
sobretudo no último meio século.
Como é inevitável, passa a receber
alunos de origem mais modesta e
sem o ambiente educacional familiar
que facilita o bom desempenho. Sendo mais tosca a matéria-prima que
chega, em qualquer lugar do mundo
não se podem esperar resultados
equivalentes com o mesmo modelo
elitista.
Os países de Primeiro Mundo
perceberam isso e criaram alternativas, sobretudo no ensino médio. A
melhor escola é aquela que toma alu-
nos reais — e não imaginários — e
faz com que atinjam o máximo do
seu potencial. Se os alunos chegam
a determinado nível escolar com pouco preparo, o pior cenário é tentar
ensinar o que não conseguirão
aprender. O conhecimento empaca
e a frustração dispara.
Aquela velha escola de elite deve
permanecer, pois há quem possa se
beneficiar dela. Mas, como fizeram
os países educacionalmente maduros, respondendo a uma época de
matrícula quase universal, é preciso
criar escolas voltadas para o leque
variado de alunos.
Voltemos a 1917, às conferências de Whitehead em Harvard. Para
ele, o que quer que seja ensinado,
que o seja em profundidade. Segue
daí que é preciso ensinar bem o que
esteja ao alcance dos alunos, e não
inundá-los com uma enxurrada de
informações e conhecimentos. Ouvir claudio de moura falar de teorias
não serve para nada. O que se castro é economista aprende na escola
tem de ser útil na vida real.
Nessa nova escola, os currículos
e ementas precisam ser ajustados
aos alunos, pois o contrário é uma
quimera nociva. Na prática, devemse podar conteúdos, sem dó nem
piedade. É preciso mostrar para que
serve o que está sendo aprendido.
Ainda mais importante, é preciso
aplicar o que foi aprendido, pois só
aprendemos quando aplicamos. A
escola deve confrontar seus alunos
com problemas intrigantes e
inspiradores. E deve apoiá-los e
desafiá-los para que os enfrentem.
No entanto, sem encolher a quantidade de matérias, não há tempo para
mergulhar em profundidade no que
quer que seja.
Se mesmo os melhores alunos
das nossas melhores escolas são
entulhados com mais do que conseguem digerir, e os demais, os alunos
médios? Como suas escolas
mimetizam as escolas de elite, a situação é grotesca. Ensina-se demais e
eles aprendem de menos. Pelos números da Prova Brasil, pouco mais
de 10% dos jovens que terminam o
nível médio têm o conhecimento esperado em matemática! A escola está
descalibrada do aluno real.
Atenção! Não se trata de uma
escola aguada em que se exige menos e todos se esforçam menos. Sabemos que bons resultados estão
associados a escolas que esperam
muito de seus alunos, que acreditam
neles. A diferença é que se vai exigir
Continua
Continuação
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o que tem sentido na vida do estudante e está dentro do que realisticamente ele pode dominar. Precisamos redesenhar uma escola voltada
para os nossos alunos, e não para
miragens e sonhos. Quem fará essa
escola? Claramente, o MEC precisa promover os ajustes dos currículos e ementas. Mas quem esculpirá
essa nova instituição? As melhores
escolas privadas recebem alunos
peneirados e não precisam de muitas mudanças. A quase todos os estados faltam densidade técnica e
apetência. Uma possibilidade são o
Sesi e o Sesc, que operam um conjunto de instituições semipúblicas,
têm amplos recursos e flexibilidade
para tomar novos rumos. Quem sabe,
querem ir para a história, embarcando nessa aventura?
Não é só isso. Cura mesmo, só
enfrentando as fraquezas das faculdades de educação. Mas só a
desobrigação de ensinar um currículo
impossível já é uma bela ajuda para
os mestres.
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4845
BRASIL
Hegemonia nas urnas em 2014?
Além de reeleger a presidente
Dilma, o PT acredita que pode
atingir a hegemonia política neste ano, fazendo a maior bancada
no Congresso, conquistando o comando nos três principais estados
do Brasil e consolidando seu poder nos rincões
O Vale do Iuiú, região formada
por oito municípios na divisa entre
Bahia e Minas Gerais, já foi um dos
maiores produtores de algodão do
Brasil. Nos anos 1970 e 1980, caminhões pau de arara chegavam de
diversas partes do país apinhados de
homens, mulheres e crianças que
ajudariam na colheita do chamado
ouro branco. Sobrava emprego. A
queda da produção, no entanto, começou a jogar as famílias na miséria. Em decadência econômica, o
distrito rural de Iuiú se emancipou e,
em 1989, virou município. Desde
então, coronéis e comerciantes controlam o poder. Os governos de Lula
e Dilma Rousseff não mudaram essa
realidade, mas houve uma adaptação: os poderosos locais aderiram
ao PT e a suas benesses, servindo
de correia de transmissão dos interesses políticos e eleitorais do partido. "Sempre fomos amigos do
ACM", lembra o prefeito Vagner
Frota, um admirador do ex-governador Antonio Carlos Magalhães.
Ele já pertenceu aos quadros do PTB
e ao PRP. Filiou-se ao PT às vésperas da eleição, em 2011, e se elegeu
por apertados dezenove votos de
diferença.
e Miriam Belchior para mostrar que
— como petistas e amigos do rei —
teriam mais condições de levar verba federal para o município.
Há alguns anos seria impensável
um carlista se transformar em petista,
ou vice-versa, mas a conversão de
Frota segue a estratégia do partido
de conquista total do poder, seja nos
rincões mais distantes, seja no Congresso Nacional. O prefeito é um
médico rico que ganhou fama por
reservar um dia da semana para atender os pobres. A oposição o acusa
de usar a caridade para conseguir
votos, mas ele diz que apenas já praticava o que hoje fazem os médicos
cubanos. Popular, Frota foi convidado pelo vereador Raimundo Castro
a trocar de partido. Em Iuiú, metade
dos 11.000 habitantes recebe o Bolsa
Família — e o programa, como em
tantas outras cidades, explica a chegada do PT à prefeitura. Pouco depois de ser eleito vereador, em 2004,
o petista Raimundo Castro obteve o
direito de operar uma correspondência bancária da Caixa Econômica Federal, utilizada pela população
para sacar o dinheiro do Bolsa Família. Com esse instrumento em
mãos, Castro conseguiu mais um
mandato de vereador e ajudou a eleger Frota para a prefeitura. Na campanha, os dois usaram até depoimentos dos ministros Gilberto Carvalho
Não só escolas e hospitais, mas
a própria sobrevivência da população de Iuiú está diretamente ligada
ao caixa da União. É no "Centro
Educacional Presidente Lula" que as
crianças da cidade receberão o ensino fundamental. É no "Centro de
Educação Infantil Presidenta Dilma
Rousseff " que a pequena Liliane estudará a partir deste mês. Ela é a
caçula dos cinco filhos de Elias
Rodrigues dos Santos, que não tem
emprego fixo desde 2002. Santos
nem lembra onde guardou a carteira
de trabalho. Para sobreviver, faz bicos como técnico em eletrônica e
mecânica e conta com os 394 reais
que recebe todos os meses do Bolsa Família. "Essa é a minha valência,
e eu agradeço muito. Mas gostaria
de não ficar tanto na dependência do
governo. Queria ter um emprego
fixo." A realidade de luiú serepete na
maioria dos municípios de pequeno
porte do país. Historicamente, eles
vivem sobretudo das verbas federais.
Quem ganha com isso é a legenda
que está no poder. Foi assim com o
PMDB e com o PSDB. É assim,
agora, com o PT. A diferença é que
os petistas ampliaram, e muito, o leque de benefícios repassados e a
Continua
Continuação
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presença da máquina federal nas
pequenas cidades, tornando-se também um partido dos grotões. Até
2004, o PT comandava 140 municípios com até 100 000 habitantes.
Dez anos depois, o número quadruplicou (veja o quadro na pág. 53).
Esse crescimento repercutiu no Congresso. Atualmente, a bancada
petista é a maior da Câmara, com
86 parlamentares. Neste ano. o partido espera ter 100 deputados eleitos.
"Estamos sendo massacrados. Há
programas que distribuem equipamentos, máquinas agrícolas, ônibus
escolar. Tudo que você imaginar. Na
hora de distribuir, eles só carimbam
para a bancada do PT" afirma o líder do PMDB na Câmara. Eduardo
Cunha. Aliados dos petistas no plano federal, os peemedebistas temem
perder a presidência da Câmara e a
do Senado e reclamam da ofensiva
do PT em busca do "hegemonismo"
(veja a entrevista na página ao lado).
Lula e petistas estrelados, de fato,
falam da possibilidade de a sigla reeleger Dilma, conquistar os governos de Rio. São Paulo e Minas Gerais, formar a maior bancada na Câmara e, de quebra, ameaçar o predomínio do PMDB no Senado. Se
isso se confirmar, o PT terá alcançado um nível de poder nunca antes
experimentado pelo partido. Tal pretensão é legítima. É da essência das
agremiações políticas buscai- o poder e tentar a perpetuação nele.
Quando estavam no governo, os tucanos projetavam pelo menos vinte
anos de PSDB na Presidência. Sonhar é do jogo. O problema está nas
tentações decorrentes do excesso de
poder conquistado nas urnas. Nesse quesito, setores petistas já mostraram que qualquer arma pode ser
empregada para mantê-los no topo,
mesmo aquelas que ameaçam liberdades constitucionais e afrontam instituições republicanas.
Recentemente, radicais petistas
tentaram manietar o Ministério Público e levar adiante um projeto de
censura à imprensa, como forma de
retaliação pela investigação e denúncia do esquema do mensalão, o maior escândalo de corrupção política
da história do país. Até ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) foram pressionados a absolver os
mensaleiros, inclusive com a ameaça de se tornarem alvo de uma investigação parlamentar. Essas iniciativas não prosperaram porque os
demais partidos governistas
barraram os falcões do PT. Apesar
dessas divergências, esses mesmos
partidos, com o PMDB à frente,
marcharão em defesa da reeleição
da presidente Dilma. Todos estão
negociando seu apoio eleitoral e seu
precioso tempo na propaganda de
TV em troca de ministérios e cargos
de ponta (veja reportagem na pág.
56). Quando a política é feita à base
de moedas, o risco de hegemonismo
é real. Basta comprá-lo.
Continua
Continuação
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05/02/14
4846
BRASIL
"Você não muda o Brasil em doze anos"
O deputado federal José Guimarães é um dos vice-presidentes
do PT. Líder da bancada até dezembro passado, ele é considerado um
articulador habilidoso. Ao contrário
de algumas lideranças do partido,
transita com desenvoltura por todas
as correntes do PT, das mais radicais às moderadas, sem se comprometer com nenhuma delas. Irmão do
mensaleiro José Genoino, o parlamentar é defensor do projeto petista
de controlar a imprensa. No ano
passado, depois do resultado do julgamento do mensalão, porém, foi
um dos poucos petistas a se
posicionar contra a aprovação da lei
que restringia os poderes de investigação do Ministério Público. Nesta
entrevista, Guimarães diz que para
o PT é fundamental conquistar a
hegemonia política nas urnas neste
ano.
O que há de novo no projeto
eleitoral do PT neste ano? Vamos
ter candidaturas próprias e competitivas nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas. É um fato muito relevante.
Isso foi pensado estrategicamente? São Paulo e Minas, sim.
Houve uma construção.
Por quê? Pela importância desses estados. São estados governados pelo PSDB. Isso tem um sentido político muito grande.
Qual é a finalidade de ter essas candidaturas fortes? Eleger
novamente a presidente Dilma
Rousseff.
Qual a análise que o senhor
faz sobre uma possível vitória nesses estados? Nunca governamos
São Paulo ou Minas. Se ganharmos
os dois, nós estaremos nas nuvens.
Se ganharmos um, estaremos atravessando todas as turbulências.
O que isso significa? Significa
que está consolidada a nossa
hegemonia e que a sucessão presidencial futura (em 2018) passa por
esses estados.
Por que visar à hegemonia?
Porque nós governamos o país.
Qualquer partido quer manter seus
nichos de poder, como o PSDB, que
já governa São Paulo há mais de vinte
anos. Qualquer partido tem vocação
para o poder.
É realista a meta de eleger 100
deputados federais? Nossa expectativa é que a bancada cresça, tanto
na Câmara quanto no Senado. Mas
ainda não temos uma projeção. Nem
podemos dizer quantos parlamentares elegeremos.
O PT está há doze anos no governo federal... É pouco para fazer
tudo aquilo que a gente vem fazendo. Você não muda o Brasil em doze
anos. É preciso haver mais governos progressistas para fazer as transformações.
O projeto inclui os partidos aliados? De preferência.
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4847
BRASIL
Negócios ministeriais
Em ano eleitoral, o governo
precisa compensar os mais de dez
partidos políticos aliados com cargos em um dos 39 ministérios. O
resultado disso?...
O governo anunciou na semana
passada a primeira etapa da mais
recente reforma ministerial. O senhor
da foto ao lado atende pelo nome
de Manoel Dias. É o atual ministro
do Trabalho, indicado pelo PDT,
partido que se adonou da cadeira
ainda no governo Lula e de lá não
saiu após a posse de Dilma Rousseff
como presidente da República —
nem deve sair. Na divisão do mapa
do poder, o PDT é o donatário do
Ministério do Trabalho, aconteça o
que acontecer. Para o governo, o
importante é manter o apoio dos
partidos aliados, a despeito do desempenho e da conduta dos que
comandam as pastas. Manoel Dias
é um símbolo desse modelo. Ele foi
nomeado em março do ano passado por indicação do presidente do
PDT, Carlos Lupi, que foi demitido
debaixo de acusações de cobrança
de propina de entidades que recebiam verbas do ministério. Na ocasião, a pasta foi entregue a Brizola
Neto, rival de Lupi e expoente de
outra facção pedetista. Presidente
do partido, Lupi reagiu: ameaçou
levar o PDT para a oposição e, com
isso, ganhou o ministério de volta.
Como não cairia bem ele próprio
retornar ao cargo de ministro, indicou Manoel Dias, um de seus mais
fiéis escudeiros. A confusão foi em
2011.
De lá para cá, o ministério passou por outros escândalos. Um deles resultou até em prisões, numa
operação policial em que o número
2 da pasta teve de se explicar a um
delegado. Mesmo assim, o PDT continua firme e forte no ministério. Tão
dono que as duas facções do partido — a de Lupi e a de Brizola Neto
— estão agora numa guerra fratricida
para definir qual delas levará a melhor na reforma ministerial iniciada na
semana passada por Dilma (veja o
quadro ao lado), num esforço para
conseguir uma vaga para representantes dos catorze partidos que
apoiam o governo. Um lado acusa o
outro de recebimento de propina.
"Agora é guerra de bugio. Eles de lá
e nós de cá", disse a VEJA um auxiliar de Lupi, referindo-se a uma espécie de macaco que, quando briga,
costuma lançar dejetos nos rivais. A
única certeza que os bugios têm é que
o cargo continuará com o PDT.
Outro donatário de uma parcela
da Esplanada, o PMDB tem sob seus
domínios o Ministério da Agricultura. A exemplo dos colegas pedetistas,
o partido já passou por diversas acusações de malfeitos na pasta. Mas,
também nesse caso, segue firme no
comando. O caso de um frigorífico
do Paraná que vem brigando para
conseguir seu registro no Serviço de
Inspeção Federal (SIF) é um exemplo acabado de como — e por que
— os interesses políticos falam mais
alto. Com capacidade para abater
420000 aves por dia e faturar 1 bilhão de reais por ano, a BR Frango
está com a linha de produção paralisada desde agosto por não conseguir o registro. Na área técnica do
ministério, tudo já foi resolvido. Um
diretor da pasta, porém, revelou que
o problema é político. Advogados
da empresa protocolaram no ministério um documento no qual acusam
o deputado Osmar Ser-raglio, presidente do PMDB do Paraná, de
impedir o registro. Em reuniões gravadas pelos representantes da empresa, os burocratas do ministério
deixam claro onde está o obstáculo.
"Eu não podia fazer nada... Quem é
o presidente do PMDB hoje?", diz
um deles, resignado. Serraglio tem
entre seus doadores de campanha
um frigorífico paranaense, concorrente da BR Frangos. A VEJA, ele
admitiu que trabalha contra a liberação do registro para a BR — e, por
conseqüência, a favor dos interesses
do concorrente, cuja sede está na
cidade de Umuarama, seu reduto
eleitoral. Além das mudanças já
anunciadas, outros seis novos ministros devem ser indicados nos próximos dias.
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Continuação
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03/02/14
4848
CENAS BRASILEIRAS
O Risco Copa
Confrontos em protestos, obras
pela metade e custos que assustam
turistas. O Mundial de 2014 enfrenta ameaças graves - e exige um esforço final que garanta uma festa
cativante e segura
Lepoldo Mateus, Raphael
Gomide, Rodrigo Turrer e Vinicius
Gorczeski
O suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa, estava desconfiado desde o início. No dia 30 de outubro
de 2007, ao anunciar o Brasil como
sede da Copa de 2014, ele disse:
"O Comitê Executivo decidiu,
unanimamente, dar a responsabilidade, não apenas o direito, mas a responsabilidade de organizar a Copa
de 2014 ao Brasil". Responsabilidade. A palavra nunca aparecera em
anúncios anteriores. "A Copa do
Mundo de 2010 será organizada na
África do Sul", disse Blatter ao abrir
o envelope em maio de 2004. "O
vencedor é a Alemanha", afirmou,
em julho de 2000. Para 2014, não
houve disputa. A Fifa criara um rodízio entre continentes, hoje abandonado, e era a vez da América do
Sul. Como único candidato, o Brasil recebeu a Copa com pouco esforço – e Blatter quis dizer, para o
mundo ouvir, que os brasileiros tinham obrigação de realizar um bom
trabalho. Semanas atrás, ele afirmou:
"O Brasil é o país com mais atrasos
desde que estou na Fifa".
A impaciência parece justificada.
Blatter lembrou que o Brasil foi o
único a ter sete anos para organizar
a Copa do Mundo. A Alemanha e a
África do Sul tiveram seis. A Fifa também não queria uma Copa tão complexa como a que o Brasil decidiu
organizar. Preferia um torneio com
dez cidades sedes, como fez a África do Sul. Em 1994, os Estados
Unidos fizeram sua Copa em nove
cidades. O governo brasileiro insistiu em realizar um Mundial com 12
sedes - mesmo número da Alemanha em 2006 com logística mais complexa e gastos mais vultosos. Nos
últimos anos, o custo do Mundial
subiu de forma escandalosa. A previsão inicial de gastos era de R$ 17
bilhões. Em junho último, o Grupo
Executivo da Copa do Mundo
(Gecopa) atualizou o total para R$
28 bilhões e anteviu um acréscimo
de ao menos R$ 5 bilhões até a bola
rolar - um total de R$ 33 bilhões.
Dessa quantia, a União será responsável por 85,5%, e o setor privado
por 14,5% - cerca de R$ 4,7 bilhões.
Em 2007, em Zurique, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva,
afirmara: "Tudo será bancado pela
iniciativa privada".
A apenas quatro meses do início
do Mundial, as cidades brasileiras
deveriam estar coloridas com as cores do Mundial. Banners, bandeiras,
Brazucas e Fulecos gigantes deveriam já alimentar um clima festivo no
país. Em vez disso, o Brasil segue
tomado pela dúvida sobre sua capacidade de organizar a Copa de
forma satisfatória. Na semana passada, as inquietações foram estampadas na capa da tradicional revista
francesa France Foot-ball, com a
manchete "Medo sobre o Mundial".
Para a publicação, a Copa tornouse uma "fonte de angústia". A presidente Dilma Rousseff repete que o
Brasil fará "a Copa das Copas".
Apesar das dificuldades, isso ainda
é possível. Poucos países desejaram
tanto receber o Mundial de futebol
quanto o Brasil, e os ingredientes
necessários para uma competição
profissional, cativante e histórica continuam presentes. Para realizá-la,
será preciso superar as várias ameaças e desafios que cresceram nos
últimos anos. ÉPOCA relaciona a
seguir os principais riscos.
VIOLÊNCIA
Um coral de vozes dissonantes –
ainda pouco numerosas, mas barulhentas - rejeita a Copa no Brasil.
Movimentos de bairro, centrais sindicais, partidos radicais de esquerda, movimentos de defesa da saúde,
das mulheres, hackers, o grupo
Anonymous e black blocs foram às
ruas no dia 25 de janeiro, sábado,
na primeira grande onda de protestos contra o Mundial. Tomaram ruas
de 13 capitais do país. Na cidade
de São Paulo, que comemorava seu
Continua
Continuação
460º aniversário, houve tanto caminhada pacífica como depredação de
patrimônio e confronto com a Polícia Militar - 135 pessoas foram detidas e depois liberadas. Dezenas de
manifestantes invadiram o hotel
Linson, na Rua Augusta, região central, ocupado em seguida por PMs.
O estudante da Unifesp Vinicius
Duarte diz ter sido agredido por policiais, no saguão do hotel - acumulou uma fratura no nariz, três dentes
quebrados e um coágulo na cabeça.
O secretário paulista da Segurança
Pública, Fernando Grella, defendeu
a ação da PM e prometeu investigar
possíveis excessos. "Qualquer pessoa que tenha registrado uma ocorrência, noticiando uma situação de
abuso, esse fato será apurado", disse Grella a ÉPOCA.
Um caso mais grave envolveu o
es-toquista Fabrício Proteus Nunes
Fonseca, de 22 anos, atingido por
dois tiros de PMs, no bairro nobre
de Higienópolis, após uma perseguição. Os policiais dizem ter agido em
legítima defesa, e o caso é investigado. Imagens registradas por uma
câmera da rua são inconclusivas sobre quem atacou primeiro. Segundo
o secretário Grella, policiais devem
evitar o uso de armas letais, mas elas
não são proibidas em situações de
legítima defesa. Em outro vídeo que
originou uma investigação da PM,
uma pessoa caída aparece ao ser
atropelada por um policial numa
moto.
Os confrontos em São Paulo geraram debates sobre a qualidade da
ação policial diante de protestos de
rua. O especialista em segurança
03/02/14
pública George Felipe de Lima
Dantas defende uma regulamentação
nacional que esclareça à população
o que a polícia pode fazer em cada
tipo de situação. Segundo ele, em
vários países do mundo os cidadãos
têm mais consciência sobre como a
polícia pode agir. "Os limites ainda
são pouco claros na sociedade brasileira." O secretário Grella afirma
que, depois das manifestações de
junho do ano passado, foram feitos
investimentos para melhorar a atuação da polícia paulista, criticada na
época pela violência. "Há uma licitação em andamento para comprar
carros de jato d"água, que são modernos. É uma arma não letal, para
dispersão. Esperamos ter esses veículos já para a Copa." Além dos
movimentos contra a Copa, a polícia de São Paulo se vê ocupada com
a criminalidade comum e protestos
de toda sorte. Apenas em janeiro, 30
ônibus foram incendiados na periferia da capital paulista.
Os manifestantes anti-Copa associam o evento a mazelas de vários
tipos. Segundo Sérgio Lima, da
Frente Popular de Saúde, as obras
do Itaquerão, estádio da Zona Leste paulistana que será palco da abertura do Mundial, desapropriaram
400 famílias. Ele pede moradias, reformas nas Unidades Básicas de
Saúde e mais vagas em creches no
bairro. "Cansei de percorrer gabinetes públicos à procura de soluções.
Vamos à rua contra a Copa." Guilherme Camilo Fernandes, de 25
anos e estudante de psicologia, diz
que os gastos com obras para o
Mundial deveriam ter sido usados
para melhorar a educação. Os
ativistas trocam informações desde
os protestos que tomaram o país em
junho do ano passado - e repetem,
em cartazes e nas redes sociais, o
bordão "Não vai ter Copa". "É um
grito que sai das ruas, um deboche,
uma provocação ao brasileiro. É um
"não vai ter Copa" se não tiver hospitais, se não tiver escolas", afirma
Renato Cosentino, de 30 anos, da
entidade de direitos humanos Justiça Global e membro do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas no
Rio de Janeiro. "Havia o discurso de
que era possível ter os eventos e ainda investir em saúde, educação,
como se os recursos fossem infinitos."
O Comitê Organizador da Copa
nega que o evento seja impopular.
"As pesquisas de opinião mostram
um nível de apoio alto, mesmo as
realizadas durante as manifestações
do ano passado", afirma o CEO do
Comitê, Ricardo Trade. Ele também
rebate a ideia de que os recursos
gastos não trarão retorno à sociedade brasilera. "Os estádios são financiados por empréstimos do BNDES
que serão pagos com juros, não sai
do orçamento da União. Esses estádios geram empregos, movimentam
a economia local." Nenhum ativista
acredita ser capaz de impedir o Mundial. "Vai ter Copa, claro, mas a síntese é outra expressão: "Copa para
quem?"", pergunta Givanildo Santos,
de 45 anos, do Comitê Popular de
São Paulo. "Os ingressos têm preços absurdos, trabalhador não entra
no estádio. Boa parte dos recursos
é pública e deveria ser usada para
outras necessidades."
Continua
Continuação
A possibilidade de incidentes violentos preocupa hoje o governo federal mais que carências em
infraestrutura. Na semana passada,
o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, disse a colegas na Presidência àa República que a polícia
captara uma troca de mensagens
ameaçadoras entre integrantes de
uma grande torcida organizada de
São Paulo. Em referência aos manifestantes que, no dia anterior, haviam vandalizado estabelecimentos no
centro de São Paulo no protesto
contra a Copa, os torcedores diziam que esses grupos não repetiriam
isso em Itaquerão. Falavam em
agressões caso os manifestantes se
aproximassem do estádio. Cardozo
já comunicara que o setor de Inteligência da Polícia Federal captara
conversas telefônicas em que presos
combinavam motins simultâneos em
diversos presídios durante a Copa,
especialmente em Estados do Nordeste. As duas ameaças foram discutidas numa reunião de rotina
estabelecida no começo do ano pela
presidente Dilma Rousseff. A cada
sete ou dez dias, ela vinha conversando com os ministros Aldo Rebelo (Esporte), Celso Amorim (Defesa), Moreira Franco (Aviação Civil),
Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Agnaldo Ribeiro (Cidades) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), além de
Cardozo, sobre problemas na organização da Copa - desde segurança
até problemas visíveis, como estádios atrasados e aeroportos com tapumes.
INFRAESTRUTURA
No dia 4 de janeiro, a menina ar-
03/02/14
gentina Camila Palacios, de 3 anos,
caiu de uma altura de 7 metros por
um buraco de 18,5 centímetros, ao
lado de uma escada rolante, no aeroporto do Galeão, ou Antônio
Carlos Jobim, no Rio de Janeiro.
Sofreu traumatismo craniano e de
face. O acidente expôs mais uma vez
as condições precárias e improvisadas de uma das maiores portas de
entrada de turistas durante a Copa.
O Galeão, em intermináveis reformas
de ampliação e modernização desde 2008 - para aumentar sua capacidade de 13 milhões de passageiros para 47,2 milhões por ano -,
continuará um canteiro de obras durante o Mundial. O presidente da
Infraero, Gustavo Vale, já reconheceu que será impossível terminar
tudo a tempo. As reformas, de R$
440 milhões, estão entre as mais
atrasadas para a Copa. O terminal 1
do Rio deveria ter sido entregue há
quase um ano e meio. O terminal 2
está cinco meses fora do prazo. O
Galeão também oferece extremo
desconforto aos passageiros neste
verão. A pretexto das reformas, o
sistema de ar-condicionado não é
suficiente. Usuários protestam nas
redes sociais contra a "sauna sem
eucalipto". No fim de janeiro, foi finalmente inaugurada a nova área de
embarque do terminal 2, com 11.000
metros quadrados. A previsão é que,
até abril, sejam entregues os pavimentos comercial e de desembarque.
No fim de novembro, o consórcio
Aeroportos do Futuro venceu o leilão de privatização, com proposta de
R$ 19 bilhões. O grupo, porém, só
assumirá o controle integral, por 25
anos, após a Copa do Mundo.
Segundo a Embratur, ao menos
600 mil turistas estrangeiros deverão
desembarcar em junho e julho no
Brasil para a Copa. Tamanha invasão, já prevista em 2007, deveria ter
provocado o início imediato da modernização dos aeroportos. Não foi
o que aconteceu. As obras do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, começariam em abril de 2010,
segundo a Infraero. Foram postergadas para julho de 2011. Começaram a sair do papel apenas em agosto
passado - com 36 meses de atraso.
Hoje, 12 intervenções da Infraero em
terminais de passageiros apresentam
índice de execução inferior a 50%.
Aeroportos de Belo Horizonte (Confins), Campinas (Viracopos), Curitiba
(Afonso Pena), Porto Alegre (Salgado Filho) e Rio de Janeiro (Galeão)
estão ameaçados por atrasos.
Se pelo ar está ruim, por terra é
ainda pior. Tidas como maior legado
da Copa do Mundo, as melhorias
nos sistemas de transporte urbano,
usado por 84% da população do
país, receberam a promessa de altos investimentos públicos. Ao todo,
R$ 12 bilhões foram prometidos para
a reestruturação do transporte.
Grande parte ficou no papel. "Ficaremos devendo, e muito, aos turistas no quesito transporte", afirma
Otávio Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de
Transporte Urbano (NTU). "Os municípios são a favor de transformar
em feriados os dias de jogo, porém
isso não será o suficiente. Teremos
muitos gargalos." Dados dos comitês locais da Copa do Mundo revelam que 75,6% das obras previstas
nos transportes estão atrasadas ou
Continua
Continuação
não estarão prontas a tempo da competição. Entre as justificativas para
o atraso ou cancelamento das obras
estão burocracia, chuvas, imprevistos e disputas judiciais. Os Veículos
Leves Sobre Trilhos de Fortaleza, do
Distrito Federal e de Cuiabá só serão entregues depois do Mundial.
Obras de duplicação e prolongamento de rodovias e avenidas em Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre estão descartadas.
O custo também aumentou. O valor
do
Corredor
Aeroporto
Rodoferroviária, em Curitiba, saltou
de R$ 104,8 milhões, em 2010, para
R$ 143,19 milhões. O VLT de
Cuiabá passou de R$ 1,26 bilhão
para R$ 1,57 bilhão. Em 2010, segundo a Matriz de Responsabilidades, o total de investimentos na rubrica "mobilidade urbana" era de R$
11,9 bilhões. Após atrasos e cancelamentos, caiu para R$ 7,02 bilhões
– menos que os R$ 8 bilhões gastos
nos estádios.
ESTÁDIOS
O drama da Copa de 2014 também atinge a mais básica atividade
do evento - as partidas de futebol.
Com apenas 6% do tempo total disponível de preparação, cinco dos 12
estádios ainda não estão prontos:
Curitiba, Cuiabá, Manaus, Porto
Alegre e São Paulo. Foram concluídos apenas os seis estádios usados
na Copa das Confederações, em junho do ano passado, e a Arena das
Dunas, em Natal, inaugurada há duas
semanas. A Fifa exigia que todos as
arenas fossem entregues até o fim de
2013, mas o último estádio deverá
ficar pronto apenas em maio. No iní-
03/02/14
cio de janeiro, em visita ao Brasil, o
secretário-geral da Fifa, Jérôme
Valcke, ameaçou retirar da Copa a
Arena da Baixada, em Curitiba.
Trade, o CEO do comitê
organizador da Copa, admite as dificuldades: "Até o dia 18 de fevereiro decidiremos todos juntos se o nível de preparação de cada estádio
nessa data nos dá a confiança para
realizar os jogos da Copa do Mundo e não coloca em risco a organização do evento. Teremos pessoas
da Fifa e do comitê monitorando diariamente a evolução do estádio e
trabalharemos muito e em parceira
com os governos e o Atlético
Paranaense para que Curitiba esteja
na Copa".
O resultado do planejamento pífio
foi, como no caso da infraestrutura,
o aumento dos custos. Ao todo, em
comparação com a Matriz de Responsabilidades, assinada em 2010,
que delineava prazos e custos das
obras para a Copa, os estádios encareceram 66% - de R$ 5,3 bilhões
para R$ 8 bilhões. Somados, os 22
palcos dos Mundiais de 2006, na
Alemanha, e de 2010, na África do
Sul, custaram menos: R$ 6,8 bilhões.
Dos R$ 8 bilhões gastos no Brasil,
apenas R$ 133,2 milhões não têm a
mãozinha do Estado. O cálculo engloba incentivos fiscais, empréstimos
e os R$ 3,9 bilhões atrelados a financiamentos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O custo humano também aumentou. Cinco operários
morreram em acidentes nos estádios em 2013, incluindo dois na queda de um guindaste no Itaquerão.
OS PREÇOS
A Copa do Mundo tornou-se
desculpa para uma explosão de preços em quase todo tipo de serviços,
com desculpa para uma explosão de
preços em quase todo tipo de serviços, com destaque para hospedagem. O número de leitos em quartos
de hotel no país não é suficiente, e a
maioria não tem mão de obra capacitada para atender todo o público
esperado. O resultado é a disparada dos valores cobrados. No Rio,
estima-se que mais de 300 mil visitantes cheguem à cidade, para apenas 55.400 leitos. Segundo a
Embratur, os preços em hotéis dobraram se comparados a valores regulares. Há hotéis cujas diárias de R$
100 saltaram para R$ 2 mil na Copa.
Algumas redes já foram notificadas
pela Justiça por superfaturar as tarifas. Com isso, empresas passaram a
repensar o plano de trazer convidados - no Rio de Janeiro, o custo chega a R$ 28 mil por pessoa. Emissoras de TV estrangeiras decidiram
rever planos de cobertura da Copa,
devido aos orçamentos exorbitantes.
"Sem dúvida, a maior preocupação
hoje é com os preços cobrados no
Brasil", afirma Alessandro de Caló,
redator-chefe do jornal italiano La
Gazzetta dello Sport. Para fugir do
preço cobrado por hotéis no Brasil,
a Associação de Torcedores da Bélgica montou pacotes em que os turistas ficarão acampados em barracas e se deslocarão de ônibus entre
cidades sedes. A Federação de Torcedores da Inglaterra, com mais de
180 mil integrantes, assustou-se com
os valores. "Os preços são
Continua
Continuação
03/02/14
exorbitantes, os mais altos que já vimos", afirma Kevin Miles, um dos
representantes da Federação.
O que fazer? E impossível voltar
a 2007 para corrigir os inúmeros erros e desmandos da Copa de 2014.
Nem existe a possibilidade de adiar
a competição. A única saída de governos e do comitê organizador é
otimizar esforços para garantir segurança, conforto e facilidade nos deslocamentos para todos. O Brasil ainda pode realizar um Mundial digno
de sua paixão pelo futebol e que apague, ao menos em parte, a triste lembrança de sete anos desperdiçados.
E o que merecem brasileiros e estrangeiros que torcerão, não apenas
por suas seleções, mas por um Mundial alegre, pacífico e repleto de belos gols.
Com Leandro Loyola, Flávia
Tavares e Aline lmercio
03/02/14
4849
Ruth de Aquino
Isso pode?
Nossos representantes começam
a descobrir que não adianta tentar
controlar ou censurar a imprensa ou
a televisão – e criar uma máquina de
informações governamentais, como
sonha o PT de Lula e Dilma. Políticos, juízes e atletas hoje sabem que
um passo mal dado, uma declaração desrespeitosa, uma "escala técnica" para comer bacalhau, um riso
fora de lugar ou um gasto mal explicado vão todos para o ventilador
virtual, com ajuda de uma apuração
jornalística 24 horas por dia e fiscalização da população antenada. Reuni dez destaques da semana que me
fizeram pensar: "Isso pode?".
1. Dilma mentiu bobamente.
Flagrada com sua equipe em 45 suítes milionárias em Lisboa, mandou
dizer que era uma escala inesperada
na volta de Davos, devido à
meteorologia. Mas não. A agenda
estava definida desde a semana anterior, e o restaurante foi visitado por
gente da Dilma na véspera. "Paguei
a minha conta", afirmou a presidente. Os brasileiros não conseguem ter
acesso à caixa- preta dos cartões
corporativos. Tem problema o passeio? Não. Mas mentir não pode.
O incidente apressou a saída da ministra Helena Chagas, da Comunicação Social. Dilma quer "melhorar
relação com a mídia". O culpado foi
o mensageiro. Isso pode?
2. Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência pelo PSB, usou a
estrutura do governo de Pernambuco
para divulgar, com touquinha e roupa de médico, o nascimento de seu
quinto filho, em e-mail e redes sociais oficiais. Campos também anunciou que o bebê, Miguel, tem
síndrome de Down. As fotos foram
logo retiradas do site institucional do
governo. Campos chamou de "equívoco". Ninguém constatou a impropriedade antes do tempo?
3. O Ministério do Trabalho aumentou em 149% - mais do que duplicou - os registros de sindicatos no
ano passado em relação a 2012. Foi
um "mutirão", segundo o ministro
Manoel Dias (PDT). Um país que
cria uma casta de sindicatos, com
favores e benefícios, não vai no bom
caminho. A empresária de transportes Ana Maria Aquino afirma ter entregado R$ 200 mil ao ex-ministro
do Trabalho Carlos Lupi. Ou essa
empresária é louca varrida ou é preciso levar a investigação até o fim.
Ela deu detalhes e disse ter levado o
dinheiro pessoalmente ao gabinete de
Lupi para acelerar o registro de um
sindicato em Pernambuco. Lupi negou e chamou a acusação de
"surreal".
4. O Brasil continua sendo um
dos dez países com maior número
absoluto de analfabetos no mundo.
Em 2012, tínhamos 13,1 milhões de
jovens e adultos analfabetos, 8,7%
da população nessa faixa etária. Isso
não pode mesmo.
5. O Brasil fiscaliza agrotóxico
em apenas 13 alimentos. Estados
Unidos e Europa analisam 300 tipos
de alimentos por ano, incluindo os
industrializados. O Brasil é o maior
consumidor de agrotóxicos do mundo. A fiscalização é falha. Dos 50
defensivos mais usados em nossas
lavouras, 22 são proibidos na União
Europeia. Isso pode?
6. Todo dia, em média, oito ônibus são incendiados ou depredados
nas grandes cidades do Brasil. É no
ônibus que se despeja a ira contra
qualquer coisa - de aumentos de
passagens a balas perdidas, falta de
passarelas, mortes de jovens, condições de presídios, descaso com
saneamento. Vandalizar os ônibus
não é protesto legítimo. Isso não
pode.
7. Um caminhão com a caçamba
levantada derrubou passarela na Linha Amarela, no Rio de Janeiro,
matou e feriu. O motorista falava ao
celular, trafegava em horário proibido e acima da velocidade permitida
– como tantos, sem controle até uma
tragédia acontecer. Passarelas deveriam ser mais resistentes, diante da
burrice e da irresponsabilidade humanas. Nada disso pode.
Continua
Continuação
03/02/14
8. Mais da metade dos projetos
da Olimpíada ainda não tem orçamento definido: só 24 dos 52 empreendimentos chegaram à fase da
licitação, a dois anos dos Jogos. Isso
pode?
9. Neymar recebeu • 10 milhões
(R$ 32,7 milhões) do Barcelona mais
de um mês antes da final do Mundial
de clubes entre Santos e o time
catalão, em 2011. Quem recebeu a
grana foi a empresa do pai de
Neymar. O Santos perdeu a final de
4 a 0. Neymar poderia ter entrado
em campo? Por um ano e meio,
Neymar jogou pelo Santos já comprometido com o Barcelona. A falta
de transparência e as aparentes irregularidades no contrato derrubaram
o presidente do Barça, Sandro
Roseli. E, no Brasil – isso pode?
10. O deputado federal Romário
foi anunciado como garoto-propaganda de uma marca de cerveja,
Devassa, no Carnaval. Não se sabe
se a escolha foi resultado de sua foto
de mãos dadas com uma transexual
operada. A morena não importa.
Deputado federal pode fazer propaganda de cerveja? No Brasil, pode...
Aqui pode tudo!
05/02/14
4850 RICARDO BOECHAT
Governo
Fio da meada
Ministro do Trabalho até março de
2013, Brizola Neto afirma que o governo
precisa investigar se as irregularidades na
pasta alcançaram os serviços de qualificação profissional. “Caiu misteriosamente o
valor da hora-aula, de R$ 10 para uns R$
6. A queda afasta das licitações boas organizações técnicas e abre as portas para
tudo, inclusive à entrada de escolas
desqualificadas. O setor tem orçamento
anual próximo a R$ 500 milhões.” Brizola
Neto está certo de que surgirão novas denúncias de negociatas no ministério envolvendo a abertura de sindicatos.
Valor Econômico
03/02/14
4851
POLÍTICA
A inclusão social pela educação
Por Renato Janine Ribeiro
C omentei na semana passada o
pacto implícito que resultou na
maciça inclusão social pelo
consumo, promovida pelo PT, para
satisfação geral da nação - das
dezenas de milhões que subiram
para a classe C, podendo agora
comprar todo bem de consumo
durável doméstico; dos empresários
que lucraram com isso; da sociedade
que respirou, porque imaginem só o
tamanho da violência num cenário de
alto desemprego e de falta de
perspectivas de ascensão social para
os mais pobres. Mas alertei para os
problemas do consumismo,
facilitados pela forte marca do prazer
em nossa sociedade. E se a inclusão
- que precisa passar pela renda e
pelo consumo - realmente
sustentável se der pela educação?
Qualquer discussão sobre a
ascensão social dos pobres terá,
como uma das principais respostas,
a educação. Ela é muito elogiada.
Mas nem sempre a sério. Às vezes
é um meio de desviar a atenção de
reformas econômicas e sociais que
aumentem realmente a renda dos
pobres. Como tudo na educação
demora tempo, invocá-la pode ser
um modo de jogar para escanteio as
transferências de renda necessárias
para extinguir, não só a miséria, mas
também a pobreza. E uma boa
educação custa dinheiro.
Mas hoje discutirei o valor da
educação, não seu preço ou custo tema que fica para outra vez. A
educação dá poder às pessoas.
Vivemos na sociedade mais
complexa da História. Vejam: há vinte
anos, a USP oferecia menos de cem
habilitações (ou "diplomas")
diferentes na graduação. Hoje são
uns 250. Essa riqueza de cursos é
um modo de formar profissionais
capazes de entender a diversidade
do mundo e de atuar nele. Mas, se é
um modo, não é o único. As
universidades federais da Bahia e do
ABC fizeram experiências audazes
na graduação. Apostaram no
bacharelado interdisciplinar que, em
vez de direcionar para uma profissão
específica, busca formar alguém que,
no futuro, seja capaz de
reposicionar-se, de mudar seus
rumos. A ideia - que já defendi em
livro - é que o aluno aprenda as
várias linguagens do mundo, mais
que o conteúdo de cada uma delas.
Por exemplo, antropologia e
economia veem a sociedade de
maneiras distintas. Se os futuros
profissionais souberem quando
precisam mudar de ferramenta
mental, estarão mais aptos a lidar
com o imprevisto, a diferença, a
surpresa, as mudanças na vida.
Preparar um jovem para as
surpresas da vida
Isso, também, porque cada vez
menos formados trabalham na
profissão que escolheram na
faculdade. Engenheiros se tornam
gerentes de banco, porque seu
principal trunfo nem sempre é saber
construir casas ou pontes, mas sim
dominar o raciocínio mais prático que
existe. Formados em filosofia se
espalham pelas profissões, porque
sabem mudar de forma de
pensamento - de "paradigma", se
quiserem - velozmente. Em 2007, o
presidente do Conselho Nacional de
Educação dizia que um terço dos
formados em medicina, um dos
cursos mais caros que há, não atuava
como médico. Dos diplomados em
direito e administração, a grande
maioria trabalha em outra área. A
meu ver, isso deveria reduzir o stress
na escolha do curso universitário: é
bem possível que meu filho ou o seu
mude de rumo, na faculdade ou
depois dela, e isso pode ser um êxito,
não uma falha.
Mas há também a educação
básica. As avaliações, em especial o
IDEB, permitem medir de maneira
acurada as escolas do Brasil inteiro.
Uma pessoa responsável deve leválas em conta na hora de escolher a
escola do filho. Quem paga a escola
diretamente deve cobrar-lhe
resultados. Quem a paga pelo
imposto, colocando o filho na escola
pública, deve exigir dos governantes
que tenha qualidade.
Aqui há um alerta a fazer. As
avaliações de desempenho das
escolas se focam no êxito - ou
fracasso - delas na transmissão de
conhecimentos. Verificam, por
exemplo, se no primeiro ano de
escolaridade a criança aprendeu as
Continua
Continuação
03/02/14
operações básicas da aritmética, a
ler e a escrever. Não medem a
qualidade da formação do ser
humano. Tenho uma recomendação
aos pais. Quando escolhi a escola do
meu filho, vi as três melhores do
bairro - com base nas avaliações do
Ministério da Educação - e depois
as visitei. Procurei entender o
projeto, a filosofia de cada uma, para
além das notas do IDEB. Porque,
afinal, numa cidade grande, a
diferença entre as cem melhores
escolas pode ser pequena. E
dificilmente uma avaliação medirá se
a escola forma uma pessoa ética e
com iniciativa.
São esses os dois pontos
principais na formação de uma
criança ou adolescente: deve se
tornar um ser humano íntegro, e ao
mesmo tempo o mais criativo
possível. Mas não é tão fácil unir
estas duas qualidades. Muita ênfase
na iniciativa pode levar a uma
formação competitiva demais - com
o risco de não respeitar o outro, de
atropelá-lo. E não podemos
confundir o respeito aos outros com
o respeito à autoridade. Nas minhas
visitas encontrei um colégio que
apresentava, como virtude a
valorizar naquele mês, a obediência.
Ora, respeito não é obediência.
Respeito se dirige a todos e institui
um mundo de iguais. Já a obediência
geralmente é vertical, é do
subordinado em relação ao superior.
Uma pessoa criativa e com iniciativa
deve ser respeitosa, mas será
obediente? Não muito.
Temos assim rumos diferentes
para a educação aprimorar as
pessoas, dando-lhes instrumentos
para crescer na vida - e não apenas
pela ascensão social. Na verdade, o
mais importante da educação é o que
fica dentro da pessoa: sua formação.
E esta é uma das vantagens da
educação, sobre o consumo, na
inclusão social: o que você consome
se esvai imediatamente e precisa ser
substituído; já a pessoa que você se
tornou não se perde. É sua para
sempre. O trabalho da educação é
mais consistente.
Renato Janine Ribeiro é professor
titular de ética e filosofia política na
Universidade de São Paulo. Escreve
às segundas-feiras
E-mail: [email protected]
Valor Econômico
03/02/14
4852
OPINIÃO
O aprendizado e o desenvolvimento
Por Morten Olsen e Ria Ivandic
De sites de notícias a conversas
em torno da mesa de jantar, um
tópico pareceu ser uma insaciável
fonte de discussões no início de
dezembro, quando a Organização
para
Cooperação
e
Desenvolvimento Econômico
(OCDE) divulgou os resultados do
Pisa 2012 (Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes). E ficou
no ar uma pergunta: deveríamos nós
- economistas e autoridades
governamentais - preocupar-nos
com os resultados do Pisa? E, mais
importante, o que esses resultados
podem nos dizer sobre o presente e
também sobre o mundo que virá?
Há muito tempo já foi
reconhecida a importância de investir
em educação para estimular o
desenvolvimento de um país. Após
décadas de reconhecimento sobre o
papel fundamental da educação, ela
tornou-se consagrada como uma
prioridade mundial nos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio.
Além de ter uma influência
decisiva sobre a renda de uma
pessoa, a educação desempenha um
papel central na explicação das
diferenças entre os países em termos
agregados: a educação incrementa
o capital humano inerente à força de
trabalho, o que aumenta a
produtividade do trabalho e resulta
em um nível mais elevado do
equilíbrio da produção (Mankiw,
Romer e Weil, 1992). A educação
também aumenta a capacidade de
inovar no âmbito da economia,
acelerando a adoção de novas
tecnologias, promovendo, assim, o
crescimento (Lucas; 1988).
Países da Ásia com melhores
desempenhos colocam ênfase na
seleção e treinamento de
professores,
priorizando
investimentos em capital humano, no
corpo docente, em detrimento de
ampliar o número de alunos por sala
de aula.
Quando essas previsões teóricas
são testadas contra dados históricos,
a educação é geralmente definida
como a medida quantitativa de anos
de escolaridade, em termos de média
em toda a força de trabalho. No
entanto, avaliando as realidades, é
justo pensar que um ano de estudo
na Etiópia é equivalente a um ano de
estudo na Finlândia? Uma vez que
grande parte das pesquisas
concentraram-se nas medidas de
escolaridade sem considerar as
diferenças de realidade, os resultados
das comparações empíricas entre
países resultam prejudicadas.
Empregando um amplo conjunto de
testes internacionais para medir os
êxitos dos alunos, Barro (2001)
conclui que, embora tanto a
quantidade como a qualidade da
educação seja relevante para o
crescimento econômico, a qualidade
é muito mais importante. Barro
conclui que, quando a qualidade da
educação é levada em conta, cresce
substancialmente a margem de
variação entre países e dos níveis de
desenvolvimento econômico.
Esse resultado explica porque
não conseguimos ver mudanças
adequadas nas condições
econômicas. A situação atual nos
países em desenvolvimento é muito
pior do que geralmente retratada
com base apenas no número de
matrículas escolares e êxito dos
alunos. Embora as matrículas no
ensino primário em regiões em
desenvolvimento tenham chegado a
90% em 2010, acima dos 82%
registrados em 1999, ainda hoje mais
de 125 milhões de jovens em todo o
mundo não dominam habilidades
básicas de leitura e redação, das
quais 61% são jovens mulheres.
Além disso, muitas crianças
concluem a escola primária tendo
adquirido muito poucas habilidades
produtivas. Parece que muitas vezes
esquecemos que a educação não é
um objetivo em si mesmo, mas um
meio de alcançar um conjunto mais
amplo de objetivos.
Isso ressalta o fato de que a
qualidade da educação de uma
pessoa é de suma importância e não
há dúvida de que o futuro do
desenvolvimento tecnológico só fará
crescer ainda mais o valor de uma
educação de boa qualidade. E é por
isso que os testes Pisa são tão
importantes. Coordenado pela
OCDE, o Pisa mensura as
habilidades dos estudantes de 15
anos de idade em termos de leitura,
Continua
Continuação
matemática, conhecimento científico
e solução de problemas. Realizado
a cada três anos e envolvendo mais
de meio milhão de estudantes em 65
países, o Pisa continua sendo a
pesquisa mundial mais completa na
mensuração comparativa da
qualidade da educação em diferentes
países. Neste ano, o foco foi em
matemática, uma vez que o domínio
da matemática parece ser um bom
indicador para prevermos
participação em cursos póssecundários e rendas futuras mais
altas. Mais uma vez, os tigres
asiáticos, tendo à frente Xangai,
China e Cingapura, dominaram em
conhecimentos de matemática.
Não surpreendentemente, as
comparações de resultados do Pisa
entre diferentes países são utilizadas
como instrumentos de politização
dentro dos países. Mas acima de
tudo, temos de perceber que, embora
haja um crescente consenso de que
a escolaridade deve concentrar-se
03/02/14
mais na qualidade do que
quantidade, há menos consenso
quanto à forma de conseguir isso.
Alguns veem o problema como
resultado de financiamento
insuficiente, enquanto outros
gostariam de ver as escolas
incentivarem alunos, funcionários e
professores. Os pesquisadores do
Pisa veem um foco em ambos como
frutíferos. Eles enfatizam que, para
todos os países, focar mais recursos
nos estudantes menos privilegiados
é uma forma eficaz de melhorar as
notas, e eles observam que os países
com melhores desempenhos,
especialmente na Ásia, colocam
ênfase na seleção e treinamento de
professores,
priorizando
investimentos em capital humano de
professores, em detrimento de
ampliar o número de alunos por sala
de aula.
tempo já percebemos que a melhor
maneira de produzir de tudo - de
televisores a aplicativos para
celulares a vacinas - é oferecer
incentivos adequados. No entanto,
de alguma forma, deixamos de
aplicar a mesma visão ao nosso bem
mais precioso, a educação de nossos
filhos.
Nessa linha, a atual ausência de
incentivos na maioria dos sistemas
educacionais é estranha. Há muito
Ria Ivandic é assistente de
pesquisa na IESE Business School.
Seja qual for a maneira de
aperfeiçoar nossos sistema
educacionais, é claro que devemos
fazê-lo. E quando contemplamos as
maneiras de melhorar nossos
próprios sistemas, que melhor
maneira de aprender do que olhar ao
redor do mundo para ver como
outros sistemas brilham ou falham?
(Tradução de Sergio Blum)
Morten Olsen é professor de
Economia na IESE Business School,
03/02/14
4853
O PAÍS
ENTREVISTA Brian Perkins
‘O modelo de escola é autoritário’
Continua
Continuação
03/02/14
Continua
Continuação
03/02/14
03/02/14
4854
LEI FEDERAL EXIGE 60%
DE PRESENÇA NA PRÉ-ESCOLA
CAPA
03/02/14
4855
COTIDIANO
Escolas de todo o país vão
exigir 60% de presença na pré-escola
Regra, que vale para crianças de
4 e 5 anos, está prevista em lei que
passou a vigorar neste ano
Medida atinge quase 5 milhões de
crianças no Brasil; os casos mais
graves de faltas podem render multa
aos pais
FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO
PAULO
As famílias das quase 5 milhões
de crianças na pré-escola de todo o
país terão uma preocupação a mais
neste ano. Uma lei federal passou a
exigir que os alunos nessa etapa
tenham ao menos 60% de presença.
Vale para crianças na faixa de quatro
e cinco anos, da rede pública e
particular.
Em termos absolutos, o aluno não
pode faltar mais do que 80 dos 200
dias letivos ou 320 das 800 horas
anuais.
Caso a criança ultrapasse esse
patamar, pais e escolas poderão ser
obrigados a apresentar explicações às
supervisões municipais de ensino
(que devem fazer avaliações
periódicas dos relatórios da rede
pública e particular).
Os casos graves de faltas podem
ser encaminhados ao conselho tutelar
ou ao Ministério Público, segundo a
Secretaria Municipal de Educação de
São Paulo.
No limite, os pais correm o risco
de serem punidos com base no
Estatuto da Criança e do Adolescente,
por descumprimento de dever
inerente ao poder familiar (multa de
3 a 20 salários mínimos; isto é, de R$
2.172 e R$ 14.480).
Por outro lado, a lei federal que
prevê o controle de faltas é clara em
dizer que a criança não pode ser
reprovada na pré-escola.
A NORMA
A frequência mínima está prevista
em lei sancionada pela presidente
Dilma Rousseff em abril de 2013, que
regulamenta a obrigatoriedade das
matrículas no país (até 2016, todas as
crianças e adolescentes de 4 a 17 anos
deverão estar na escola).
A restrição às faltas não ganhou
repercussão à época, mas passará a
ser cobrada neste ano, segundo o
Ministério da Educação e a Secretaria
Municipal de Educação.
Na capital paulista, por exemplo,
alguns supervisores de ensino já
avisaram as escolas que vão
acompanhar a frequência das
crianças.
A restrição pode atingir, por
exemplo, famílias que viajam de férias
durante o período letivo --como a préescola não tem currículo rígido como
do ensino fundamental ou médio,
alguns pais sentem mais liberdade em
não levar a criança para o colégio.
Localizada na zona oeste de São
Paulo, a escola Jacarandá enviou
informe aos pais pedindo que sejam
evitadas "faltas desnecessárias",
devido à nova lei.
A diretora da escola, Tania
Rezende, disse, porém, serem raros
os casos de crianças que extrapolem
o limite de faltas. E aponta que a
supervisão de ensino precisa relevar
casos de problemas sérios de saúde
ou de desenvolvimento.
Já o diretor do colégio Equipe, no
centro de São Paulo, disse que ainda
não foi instruído por nenhum dirigente
de ensino sobre a regra. "Como não
está claro o objetivo da lei, ela fica
meio inócua."
À Folha o Ministério da Educação
disse que a frequência foi imposta
"porque não havia baliza de
frequência mínima para ser utilizada
por operadores do direito ou agentes
públicos para atestar que o direito das
crianças pequenas estavam
garantidos".
Até então, havia frequência
mínima apenas para os ensinos
fundamental e o médio (75% de
presença).
"A educação infantil tem currículo,
objetivos", disse o secretário municipal
de Educação de São Paulo, César
Callegari, cuja pasta é responsável
pela supervisão do ensino infantil na
cidade. "A presença é importante
para que o currículo seja
desenvolvido."
Ex-membro do Conselho Nacional
de Educação e atual integrante do
Conselho Estadual de Educação
paulista, a pedagoga Sylvia Gouvêa
afirma que o acompanhamento das
faltas parece ser uma medida
meritória, mas cobra que sejam
divulgados explicitamente os
procedimentos a serem adotados em
caso de muitas ausências.
03/02/14
4856
COTIDIANO
Escolas não informam sobre
norma e pegam famílias de surpresa
FABRÍCIO LOBEL DE SÃO
PAULO
Muitas famílias devem ser pegas
de surpresa neste início de ano letivo
devido à nova exigência sobre a
frequência mínima na pré-escola.
Pais com filhos na rede particular,
consultados pela Folha na semana
passada, disseram que não foram
avisados pelas escolas sobre a nova
norma federal. Quando informados
pela reportagem sobre a validade da
lei, os pais apresentaram opiniões
distintas.
Para a farmacêutica Ana Carboni,
39, mãe de uma menina de cinco
anos, a medida é salutar. "Nessa
idade, eles já estão na préalfabetização, então é importante um
acompanhamento contínuo."
Para a advogada Márcia La
Laina, 40, mãe de dois filhos, a
medida também é bem-vinda. "Acho
fundamental que as crianças tenham
frequência na escola desde cedo.
Mesmo nessa idade, já é importante
impor uma rotina de disciplina",
afirmou.
Outra mãe que desconhece a
nova lei é a administradora Anna
Regina Amarante, 38. Para ela, a
medida voltada para alunos de
quatro e cinco anos é um exagero.
"Tem de haver um controle, mas acho
um exagero exigir a frequência
mínima de crianças de quatro e cinco
anos de idade."
Segundo Anna Regina, a nova
regra poderá ocasionar o
replanejamento de futuras viagens da
família, que costuma viajar em maio
ou agosto.
"Para nós, as melhores viagens
são as que fazemos com a família
inteira. E só conseguimos conciliar
isso na baixa temporada. É
importante que as crianças tenham
essa experiência familiar", disse.
03/02/14
4857
RIBEIRÃO
Prefeituras de SP se dividem
sobre aulas durante a Copa
Dos 30 municípios mais
populosos do Estado, 11 terão férias
durante jogos
Cinco prefeituras vão dispensar
os alunos apenas nos dias de jogos
do Brasil; duas não fecharam datas
CAMILA TURTELLI DE
RIBEIRÃO PRETO
As prefeituras dos 30 municípios
mais populosos do Estado de São
Paulo estão divididas sobre o
período de aulas nas escolas durante
os jogos da Copa do Mundo no
Brasil, que será realizada de 12 de
junho a 13 de julho.
para o trânsito e prejuízos ao ano
letivo.
Todas as prefeituras prometem
cumprir os 200 dias letivos conforme
determina a Lei de Diretrizes e Bases
--obrigatórios nos casos dos ensinos
fundamental e médio.
Além das prefeituras, o argumento
do trânsito e da organização do país
também foi adotado pelo governo
paulista, segundo a responsável pelo
planejamento da rede escolar e
matrícula da Secretaria de Estado da
Educação, Andrea Grecco.
Onze prefeituras anteciparam e
ampliaram o período das férias nas
escolas municipais para coincidir
com os jogos, enquanto seis delas
ou anteciparam ou prolongaram as
férias, mas sem contemplar todo o
campeonato.
Na rede estadual de ensino, o
início das aulas foi antecipado neste
ano para o dia 28 de janeiro para
que as férias ocorram de 12 de junho
a 11 de julho. A final da Copa é no
domingo, 13. A rede estadual
atenderá 4,3 milhões de alunos neste
ano.
Outras cinco prefeituras
afirmaram que só vão dispensar os
alunos ou liberar mais cedo nos dias
dos jogos do Brasil, enquanto outras
duas adaptaram o período do
recesso escolar. Duas ainda não
definiram o calendário.
"É também um ganho pedagógico
os alunos estarem em férias durante
os jogos e não perderem dias letivos
para assistir aos jogos", disse Andrea
Grecco. De acordo com ela, os
municípios chegaram a consultar o
Estado para seus calendários.
O principal argumento das
prefeituras é evitar transtornos, como
"Em muitas famílias há irmãos que
estudam nas diferentes redes, assim
como professores que lecionam no
Estado e município. Por isso o
interesse de combinar datas."
REGIÃO
Em Ribeirão Preto, os alunos não
terão férias durante a Copa do
Mundo. O recesso, segundo
informou a prefeitura, será de 8 a 27
de julho. Na abertura do mundial, no
dia 12 de junho, os alunos serão
dispensados.
O calendário em São Carlos
também já foi definido. As aulas
começam hoje e as férias serão de
30 de junho a 11 de julho. As
crianças poderão assistir à final em
casa.
Em Franca, as aulas na rede
municipal começaram no dia 28 de
janeiro para que os alunos possam
ser liberados das aulas nos dias de
jogos do Brasil. Já em Araraquara,
os alunos serão liberados uma hora
antes dos jogos.
Campinas seguirá o recesso do
Estado. Os alunos terão um mês de
férias, ao contrário do normal, de 15
dias corridos. Porém, as aulas vão
até 23 de dezembro.
03/02/14
4858
RIBEIRÃO
Municípios precisam cumprir
200 dias letivos previstos em lei
DE RIBEIRÃO PRETO
A justificativa de algumas
prefeituras para não esticarem o
período de férias escolares por
causa da Copa do Mundo de futebol
é a dificuldade de garantir os 200
dias letivos com outros eventos
programados durante o ano --alguns
deles locais.
A preocupação da Prefeitura de
Santos além da Copa, por exemplo,
é com as eleições. No período, a
Justiça Eleitoral usa as escolas para
organizar as urnas de votação dos
eleitores.
O município pretende manter o
ano letivo tradicional, mas vai
dispensar os alunos por quatro dias
antes da final do campeonato
mundial, em 13 de julho.
A Prefeitura de Bauru também
não fez mudanças por causa da
Copa. Os alunos terão aulas
normalmente e só serão dispensados
uma hora antes dos jogos do Brasil.
Isso porque, entre os dias 3 e 15
de novembro, a cidade recebe os
Jogos Abertos do Interior. Durante
os 13 dias, as escolas municipais são
usadas como alojamento de atletas
e, por isso, as aulas serão suspensas.
Já em Barretos, a prefeitura vai
trocar a tradicional dispensa dos
alunos da educação infantil nos dias
da Festa do Peão da cidade, por
folgas durante os dias de jogo. A
Festa do Peão de Boiadeiro acontece
de 21 a 31 de agosto.
03/02/14
4859
METRÓPOLE
Das mil creches previstas até o fim do
ano, governo estadual só entregou 24
Continua
Continuação
03/02/14
03/02/14
4860
METRÓPOLE
Continua
Continuação
03/02/14
CORREIO BRAZILIENSE
03/02/14
4861
POLÍTICA
LEGISLATIVO » Teste
para a articulação do governo
Aloizio Mercadante levará a
mensagem do Executivo para a
abertura do ano no Congresso e deve
dividir a interlocução entre Planalto
e base com Ideli Salvatti. Reforço
visa a desarmar pautas bombas e
evitar surpresas até a campanha
ADRIANA CAITANO
IVAN IUNES
Rusgas com o PMDB e partidos
da base fizeram Dilma Rousseff
reforçar a articulação do governo no
Congresso
Poucas horas depois de tomar
posse como ministro-chefe da Casa
Civil, Aloizio Mercadante dará a
largada oficialmente nesta segundafeira ao seu mais importante papel
na função: o de articulador entre o
Palácio do Planalto e o Congresso.
Ele será o portador da mensagem da
presidente Dilma Rousseff à sessão
solene de abertura do ano legislativo
e será dele também o ônus de
pressionar os parlamentares pela
votação de temas de interesse do
governo em tempo recorde. Com a
Copa do Mundo no meio do ano
seguida das eleições, o parlamento
tem quatro meses para aprovar tudo
o que deixou acumular em 2013 e
ainda novas pautas apontadas por
Dilma.
Em reunião no fim da semana
passada com os líderes do governo
no Senado, Eduardo Braga (PMDBAM), na Câmara, Arlindo Chinaglia
(PT-SP), e no Congresso, José
Pimentel (PT-CE), a ministra de
Relações Institucionais, Ideli Salvatti,
deixou claro que as chamadas
“pautas bombas” continuam vetadas
este ano. A ideia é extinguir qualquer
ideia de causar impacto nas finanças
públicas, o que deixa de fora
propostas alvo de pressão social que
adormecem no parlamento, como as
que criam um piso salarial no país
para agentes comunitários de saúde
e para policiais militares e bombeiros.
As prioridades, de acordo com
as lideranças que estavam no
encontro, serão as medidas
provisórias e os projetos com
urgência constitucional definidos pelo
Planalto, que trancam a pauta. “Já é
trabalho demais para este começo de
ano”, comentou Chinaglia. O ano do
Congresso já inicia com 14 MPs em
tramitação, sendo que nove delas
passam a trancar a pauta a partir de
março. A MP 625/13, que destina
R$ 60 milhões para recuperar
equipamentos de geração de energia
elétrica a serem cedidos à Bolívia,
tranca as votações da Câmara. No
Senado, quem emperra as demais
votações é a MP 626/2013, que
abriu crédito extraordinário de R$
2,53 bilhões para o Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies).
Reforma atrasada
O presidente da Câmara,
Henrique Eduardo Alves (PMDBRN), porém, tem as próprias
prioridades. “Fazer andar a reforma
política”, responde rapidamente ao
Correio. O tema tinha sido anunciado
por ele como urgente e foi colocado
como necessidade número um do
governo na época das manifestações
de 2013, mas até agora não andou.
Henrique comenta que pretende
garantir a votação também de temas
que não foram analisados no ano
passado por falta de acordo e
tempo, como o Código de Processo
Civil, o orçamento impositivo e a
regulamentação da PEC das
empregadas domésticas, ou porque
a pauta estava trancada pelo
governo.
Ele cita ainda importantes
propostas como a do marco civil da
internet, a que torna a corrupção um
crime hediondo e a que cria regras
nacionais para a segurança em
boates e casas de espetáculo. “Mas
Continua
Continuação
03/02/14
tudo vai depender das urgências
constitucionais que a Câmara tem
que enfrentar”, diz. Na terça-feira,
ele se reúne com os líderes
partidários para definir a pauta dos
primeiros meses deste ano atípico.
No Senado, um dos temas que
surgirão logo no início dos trabalhos
é o projeto que cria legislação
específica sobre o terrorismo,
inibindo a prática sem restringir os
direitos de manifestação no país.
Turbulência no diálogo
Esta será a segunda experiência
de Aloizio Mercadante na articulação
entre governo e base. Se agora ele
dividirá a função com Ideli Salvatti,
no passado, ele foi responsável pela
liderança do governo no Senado no
primeiro mandato de Luiz Inácio Lula
da Silva (2003-2006). No segundo
mandato do petista, Mercadante foi
líder do PT no Senado. A passagem
dele pela função ficou marcada com
o pedido de demissão via internet —
insatisfeito com a orientação da
direção da legenda, para que os
senadores do partido votassem pelo
arquivamento de processos contra o
presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP).
14
Quantidade de medidas
provisórias em tramitação. Nove
delas trancam a pauta a partir de
março
CORREIO BRAZILIENSE
03/02/14
4862
OPINIÃO
Norucongo no quadrilátero
ISAAC ROITMAN
Professor emérito e coordenador
do Núcleo de Estudos do Futuro da
UnB
O leitor certamente achou
estranho o título do artigo.
Norucongo é uma nova palavra. Tive
o cuidado de verificar no Google. A
sua criação foi inspirada na Belíndia,
conjunção da Bélgica e Índia, termo
popularizado por Edmar Bacha em
sua fábula O rei da Belíndia.
Norucongo é a conjunção de outros
dois países, a Noruega e o Congo.
O quadrilátero se refere à forma
geométrica do Distrito Federal.
Este texto é inspirado no
documentário Noruega e Congo no
centro do Brasil, de Camila
Murugussa e Jhady Arana, que
utilizaram dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
e da Companhia de Planejamento do
Distrito Federal (Codeplan). Na
excelente obra cinematográfica, é
mostrado que temos a Noruega e o
Congo dentro do quadrilátero.
A Noruega é representada pelo
Lago Sul e o Congo pela Cidade
Estrutural. A Noruega é o país que
apresenta o maior Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH):
0,943. O Lago Sul supera o IDH
da Noruega: 0,945. Por sua vez, a
Cidade Estrutural tem IDH
semelhante ao do Congo, país de
menor índice do planeta: 0,286.
O IDH é baseado em renda,
educação e saúde (expectativa de
vida) e foi criado como contraponto
ao indicador utilizado até então, o
Produto Interno Bruto (PIB), que
considera apenas a dimensão
econômica do desenvolvimento.
No Lago Sul, a renda per capita
é de aproximadamente R$ 6 mil e a
renda familiar de cerca de R$ 19 mil.
Na Cidade Estrutural, a renda per
capita é de R$ 300 e a familiar, de
R$ 1.300. No documentário,
especialistas — Julio Miragaya
(presidente da Codeplan), Serguei
Suarez, Herton Araújo e Marcelo
Medeiros (pesquisadores do Ipea)
— discutem a extrema desigualdade
social do Distrito Federal, que é a
maior entre as unidades federativas
do Brasil.
No Lago Sul, 84% dos chefes de
domicílio têm curso superior, ao
contrário dos baixos níveis de
escolaridade da Cidade Estrutural. A
grande migração que vem ocorrendo
no DF e região metropolitana é
também um vetor importante para a
construção desses cenários tão
desiguais entre duas localidades
separadas por uma distância de
20km. Para agravar o problema
social, os investimentos em
infraestrutura (educação, saúde,
segurança, transporte etc.) são
maiores nas regiões cujos habitantes
são de alta renda. Essa lógica
perversa precisa ser revertida.
A miséria e a desigualdade no
Brasil são herança do período
colonial escravagista. O crescimento
econômico sem a repartição da
riqueza em um modelo de
concentração de rendas e terras, de
esgotamento de recursos naturais e
sem proporcionar uma educação de
qualidade,
provavelmente,
aumentará o abismo entre ricos e
pobres. Sem a reversão desse
quadro, as crianças e jovens de
famílias de baixa renda não terão
oportunidade de terem educação de
qualidade.
Assim, não terão oportunidades
em um mercado de trabalho justo e
serão candidatos a uma vida no
mundo da marginalidade.
Provavelmente,
estamos à beira da explosão do
caldeirão social. O abismo que se
alarga entre “os que têm e os que
não têm” transformou o
relacionamento humano em cenário
de conflitos permanentes — étnicos,
tribais, religiosos, nacionalistas ou
meramente sociais —, enquanto os
indivíduos experimentam frustração,
alienação e desconforto sem-fim.
Continua
Continuação
03/02/14
Os recentes fenômenos sociais
(manifestações nas ruas e rolezinhos),
que são frutos de mobilização social
e da consciência do reconhecimento
dos jovens a seus direitos,
expressam a insatisfação dos
habitantes das populações
marginalizadas e sofridas.
As políticas e instrumentos de
inclusão social (Bolsa Família, cotas
etc.) podem amenizar a situação.
Porém, políticas de longo prazo
devem ser introduzidas para que
essas medidas sejam extintas. O
primeiro passo seria proporcionar
educação básica de qualidade a
todos os jovens brasileiros. Teríamos,
assim, uma nova geração com
oportunidade de trabalho para uma
vida digna e comportamento social
com solidariedade e ética.
Chegamos a uma encruzilhada na
evolução da espécie humana. A
ameaça de cairmos numa nova idade
de trevas tornou-se concreta. É
importante que tenhamos a
consciência de que estamos todos
vivendo uma breve viagem no
planeta. Nessa viagem, devemos
deixar um legado virtuoso para
nossos descendentes. Esse esforço
de cada um de nós para a extinção
do Norucongo no DF e no Brasil
deverá missão prioritária.
CORREIO BRAZILIENSE
03/02/14
4863
CIDADES
VESTIBULAR » UniCeub
divulga lista de 1.250 aprovados
» Juliana Contaifer
O resultado da primeira chamada
do vestibular de verão do UniCeub
para o primeiro semestre de 2014
já está disponível no site do Correio
(www.correiobraziliense.com.br) e
será publicado às 12h de hoje no
portal da Universidade e nos campi
da Asa Norte e de Taguatinga. As
provas foram aplicadas nesse fim de
semana e 4,5 mil estudantes se
inscreveram para as 1.250 vagas
ofertadas. Os cursos mais
procurados foram o de direito, com
50 candidatos por vaga, seguido de
engenharia civil e arquitetura e
urbanismo.
Os
aprovados
devem
comparecer ao câmpus para o qual
prestaram o vestibular em 6 e 7 de
fevereiro, entre 8h e 20h, munidos
de cópias autenticadas do
certificado de conclusão do ensino
médio e histórico escolar,
documento de identidade, título de
eleitor, Cadastro de Pessoa Física
(CPF) e Certidão de Nascimento ou
Casamento. Também precisarão
levar uma foto 3x4 colorida e recente
e prova de que está em dia com as
obrigações militares. A efetivação da
matrícula depende da entrega do
comprovante de conclusão de ensino
médio, que pode ser feito até o meiodia de 12 de fevereiro.
Para aqueles que foram
aprovados mas ainda não terminaram
o ensino médio, é possível optar por
uma matrícula provisória. Basta
comparecer ao câmpus nos mesmos
dias que os demais aprovados para
assinatura de um termo de
compromisso de entrega dos
documentos que provam a conclusão
do ensino médio e o pagamento da
primeira parcela da mensalidade. Se
houver vagas remanescentes, a
segunda chamada será divulgada em
8 de fevereiro, depois das 12h. Os
estudantes podem também conferir
o gabarito do vestibular no site da
universidade (www.uniceub.br), que
já está disponível.
JORNAL DE BRASÍLIA
03/02/14
4 8 6 4 DO ALTO DA TORRE
JORNAL DE BRASÍLIA
03/02/14
4865
PONTO DO
SERVIDOR
MILENA LOPES
Atenção, professores
aposentados!
O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF)
convoca os aposentados para uma reunião, quinta-feira, às 14h,
no auditório do Sinpro (SIG, Quadra 6, Lote 2.260) para discutir
estratégias de luta para a categoria.
JORNAL DE BRASÍLIA
03/02/14
4866
BRASIL
Continua
Continuação
03/02/14
JORNAL DE BRASÍLIA
03/02/14
4867
BRASIL
JORNAL DE BRASÍLIA
03/02/14
4868
ECONOMIA
Continua
Continuação
03/02/14
JORNAL DE BRASÍLIA
03/02/14
4869
CIDADES
JORNAL ALÔ BRASÍLIA-DF
03/02/14
4870
BRASÍLIA
Apenas 7% das creches foram concluídas
JORNAL ALÔ BRASÍLIA-DF
03/02/14
4871
BRASÍLIA
Calendário para a Copa
Continua
Continuação
03/02/14
05/02/14
4872
PODER
por Denize Bacoccina
Influência ampla
Casa Civil
Ministro-chefe da Casa Civil desde a
segunda feira 3, Aloizio Mercadante se
consolida como o novo homem forte da
Esplanada dos Ministérios. Além de ocupar o posto mais próximo da Presidência,
responsável pela coordenação dos demais
ministros, Mercadante mantém sua influência nas pastas que ocupou. Na Educação,
quem assume é o secretário-executivo José
Henrique Paim, a exemplo do que ocorreu
no Ministério da Ciência e Tecnologia, herdado por Marco Antonio Raupp. Sobre a
mesa de Mercadante, na Casa Civil, repousam dois abacaxis deixados pela
antecessora Gleisi Hoffman: os marcos
regulatórios das concessões de ferrovias e
do arrendamento de portos.
05/02/14
4873
Assédio moral
Xingou e foi afastado
Em uma decisão raramente vista no País,
a Justiça do Trabalho determinou a demissão ou afastamento do diretor-geral da
Anhanguera Educacional, de Sorocaba
(SP), Adriano Pila. Ele foi acusado de ter
chamado alguns de seus subordinados de
“incompetentes”, “lesmas”, “burros” e “vagabundos”. A empresa poderá ter de pagar uma multa de R$ 10 milhões e indenização por dano moral coletivo.
4873
A SEMANA
02/02/14
4874
ECONOMIA
Brasileiros gastam quase meio
bilhão de dólares para estudar fora
Continua
Continuação
02/02/14
02/02/14
4875
ECONOMIA
Mochila digital
CELSO MING
Há 60 anos - os coroas se
lembram disso - a novidade nas
listas de material escolar era a
caneta tinteiro. Nos anos 50,
apareceram as esferográficas e já
não era preciso enfrentar derrames
desastrosos de tinta e o emprego
dos mata-borrões. Agora, a
novidade é mais clean e mais cara:
os tablets.
Mesmo que persista certa
desconfiança de familiares e
professores sobre o uso de
dispositivos eletrônicos móveis na
sala de aula, gestores do ensino
público e particular começam a
correr atrás da adaptação do
conteúdo didático para formatos
digitais, uma vez que, antes mesmo
de largar as fraldas, um número
cada vez maior de crianças já tem
mais o que fazer com os dedinhos
do que roer unhas.
Para o ano letivo de 2014, o
Ministério da Educação (MEC)
aplicou R$ 67 milhões em
ferramentas
digitais
complementares aos livros
impressos.
Essa
quantia
corresponde a 6% do total de R$
1,1 bilhão gasto por meio do
Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD) em material dos
ciclos Fundamental e Médio (veja
o gráfico). O edital de compra
para 2015 já prevê a aquisição de
livros digitais e obras multimídia,
com vídeos, animações, mapas
interativos e outros recursos
associados aos textos escritos.
O
diretor
de
Ações
Educacionais do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), Rafael Torino, avisa que
aí vai um primeiro sinal: "Este é
um processo gradual de inserção
digital. Não será obrigatório e não
será uma substituição pura e
simples dos livros impressos". Em
2013, também foram repassados
R$ 140 milhões para as redes
estaduais para a compra de 460 mil
tablets para professores do Ensino
Médio. E aí está mais um obstáculo
a ser enfrentado. Não é qualquer
professor que sabe lidar com essas
modernidades.
Na rede privada de ensino, cada
vez mais as escolas deixam aos
alunos a escolha entre livros
digitais ou impressos. Mas as
estratégias variam de instituição
para instituição.
No Colégio Visconde de Porto
Seguro, em São Paulo, por
exemplo, para cada R$ 1 destinado
à compra de computadores, tablets
e lousas digitais, outros R$ 5 são
investidos na capacitação dos
professores, que se reúnem em
grupos destinados a aprender o uso
dessa tecnologia. Em Brasília, o
Centro Educacional Sigma investiu
cerca de R$ 3 milhões, não só na
aquisição de equipamentos e
softwares, mas também na
melhoria das instalações elétricas
e na distribuição de sinal de
internet sem-fio. A lista do
material escolar do Ensino Médio
se limita a um caderno de
anotações e ao tablet, equipamento
que leva a vantagem de poder ser
usado nos anos seguintes.
Para Dilermando Piva Júnior,
autor do livro Sala de Aula Digital,
a maioria das escolas e das
editoras não está preparada para a
mudança. "Não basta colocar o
livro no tablet, é preciso planejar
e desenvolver conteúdos
específicos",
observa. A
presidente da Federação Nacional
das Escolas Particulares (Fenep),
Amábile Pacios, acredita que a
transição para formatos digitais é
irreversível, mas ainda não passou
de algumas escolas do eixo Sul e
Sudeste. "É o Brasil. Enquanto há
escolas passando para o 3D,
alguns Estados ainda não têm
cobertura de banda larga"... /
COLABOROU DANIELLE
VILLELA
CORREIO BRAZILIENSE
02/02/14
4876
VESTIBULAR
PROVAS NO UNICEUB
O vestibular de verão do
UniCeub foi aplicado ontem a 4.147
candidatos que disputam 1.250
vagas nos 25 cursos de nível
superior da instituição. Direito,
engenharia civil e arquitetura foram
os mais concorridos, com 50, 15 e
12 candidatos por vaga,
respectivamente. O secretário-geral,
Maurício Neves, espera que o nível
das notas de corte subam mais neste
ano. “A última seleção da UnB
aprovou mais candidatos de outros
estados do que o normal, por isso,
a expectativa é que mais estudantes
capacitados tentem o vestibular do
UniCeub”, afirma. A lista de
aprovados estará disponível aos
candidatos a partir do meio-dia de
segunda-feira, nos câmpus da
faculdade. As aulas começam em 12
de fevereiro.
CIDADES
JORNAL DE BRASÍLIA
02/02/14
4877
OPINIÃO
JORNAL DE BRASÍLIA
02/02/14
4878
OLHO NO ECA
JORNAL DE BRASÍLIA
02/02/14
4879
CIDADES
01/02/14
4880
EDITORIAL
Ministério sob medida para palanque eleitoral
Dilma e PT demonstram que não passarão a faixa
presidencial sem muita luta. Afinal, muitos interesses se
cristalizaram nestes três mandatos consecutivos
Em discurso de improviso para prefeitos paraibanos,
em março do ano passado, a presidente Dilma confessou
que “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”,
para em seguida ressalvar que, “no exercício do
mandato, temos de nos respeitar”(...).
A frase presidencial ganhou o merecido destaque na
imprensa, e agora ela volta à lembrança no momento em
que Dilma começa a executar a reforma do ministério.
O objetivo é adequá-lo às eleições deste ano, um pleito
estratégico, quando o PT, depois de completar o recorde
de 12 anos no poder por meio do voto direto — Getúlio
permaneceu 15 consecutivos, mas com um período
ditatorial entre eles —, tenta completar o ciclo de meia
geração no Planalto.
Se a presidente começa ou não a “fazer o diabo”,
ainda será discutido. Mas ela e o PT demonstram que
não passarão a faixa presidencial sem lutar bastante.
Afinal, muitos interesses cristalizados nestes três
mandatos consecutivos estão em jogo. Apenas em
“cargos de confiança” são mais de 22 mil. Há muitos
companheiros amparados na máquina pública. Mesmo
funcionários concursados.
O afastamento da ministra Helena Chagas da
Secretaria de Comunicação serve de barômetro. Sua
substituição pelo porta-voz da Presidência, Thomas
Trauman, é interpretada como o atrelamento do canal
de comunicação do governo com a sociedade — e
respectiva verba de publicidade — à campanha.
Subordinar o governo às eleições de outubro é o que se
deve mesmo esperar.
As mudanças começaram pelo núcleo petista da
administração, o qual, é claro, se mantém sob controle
do partido: Aloizio Mercadante na Casa Civil, com a
saída de Gleisi Hoffmann para disputar o governo do
Paraná; Arthur Chioro, secretário de Saúde de São
Bernardo, no lugar de Alexandre Padilha, escalado por
Lula para conquistar enfim a cidadela tucana do Palácio
dos Bandeirantes; e José Paim, petista com experiência
em tocar o MEC como secretário-geral desde 2006,
em substituição a Mercadante.
A fase da reforma que se inicia agora requer jogo de
corpo — não é o forte da presidente —, fígado forte e
cérebro ágil. Será a hora de intensas barganhas — no
sentido exato da palavra — no balcão de negociações
fisiológicas, bastante familiar ao lulopetismo. As contas
feitas e refeitas no Planalto consideram os minutos na
propaganda eleitoral dita gratuita que poderão ser
somados ou subtraídos em função de adesões ou
deserções. E no centro do quebra-cabeças está o
PMDB, especialista em ter poder sem mandato
presidencial. Com cinco ministérios, o partido quer, no
mínimo, preservar o espaço. Mas Dilma precisa retribuir
a neoaliados, como PROS e PSD. Pelo jeito, haverá
choro e ranger de dentes.
PT e presidente não podem cometer erros graves.
Pois a conjuntura econômica não é favorável e pela
primeira vez, nestes 12 anos, uma dissidência do seu
campo político vai às ruas disputar votos. Tensões à
frente.
01/02/14
4881
OPINIÃO
Falta de educação
PAULO SARDINHA
Levantamento indica que 38%
dos nossos universitários são
analfabetos funcionais
Entre os desafios atuais da gestão
com pessoas está o de contribuir
para o aumento da produtividade
das organizações. Como produzir
melhor é uma questão urgente, ainda
mais quando pesquisas como a do
Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/
FGV) apontam que somente com
uma alta média de 3% ao ano na
produtividade do trabalho será
possível a economia brasileira
crescer na casa de 4% ao ano. Para
piorar esse cenário, há estudos que
colocam o país entre os últimos na
América Latina neste quesito.
Para as empresas, o dilema é
visto do seguinte ângulo: como
implementar uma cultura de alto
desempenho? Desafios assim exigem
rapidez de resposta das
organizações, principalmente para
aquelas que querem aproveitar as
oportunidades que surgem com a
Copa e as Olimpíadas. Entretanto,
a mudança cultural passa
necessariamente pelo sucesso do
engajamento das pessoas.
Não há como negar que o
desempenho da empresa está
diretamente relacionado ao
comprometimento dos funcionários.
Fazer com que as pessoas deem o
melhor de si — porque são
estimuladas pelos objetivos da
empresa, facilitando, assim, o
trabalho no regime de colaboração
e integração — é vital para alcançar
os resultados desejados.
Entretanto, a produtividade não
depende apenas de engajamento,
mas também da capacidade de cada
profissional. Por mais que as
empresas invistam em ferramentas e
programas que valorizem os
colaboradores, a falta de mão de
obra qualificada tornou-se um dos
principais empecilhos para o
aumento da produtividade.
Há iniciativas para tentar
minimizar esse cenário. As próprias
empresas vêm, cada vez mais,
investindo em qualificação, seja
financiando a graduação ou pósgraduação de funcionários, a
concretização de parcerias com
faculdades, a criação de suas
universidades corporativas, além da
realização periódica de cursos de
atualização profissional.
Infelizmente, as deficiências são
ainda mais básicas em um país que
tem, segundo o IBGE, 13,2 milhões
de analfabetos. E levantamento do
Instituto Paulo Montenegro e da
ONG Ação Educativa indica que
38% de nossos estudantes
universitários são analfabetos
funcionais. São pessoas que entram
no mercado de trabalho com
dificuldade para realizar tarefas
simples como a leitura e
compreensão de um texto ou um
cálculo matemático.
Por maior que seja o
comprometimento dos setores de
RH com os resultados que as
empresas devem alcançar — e esse
será justamente um dos pontos do
RH Rio, em maio —, as ações terão
resultados limitados enquanto a
educação persistir como um dos
principais problemas no país.
Enquanto nossos índices continuarem
próximos dos de países
subdesenvolvidos, não haverá
engajamento suficiente que
impulsione o crescimento das
organizações.
01/02/14
4882
COTIDIANO
Com interdição, início das aulas
na USP Leste continua indefinido
DE SÃO PAULO
Os cerca de mil novos alunos
dos dez cursos oferecidos pela
USP Leste terão de esperar para
saber quando começarão a estudar.
Embora o início das aulas na
universidade esteja marcado
oficialmente para o dia 17, ainda
não há definição sobre a data de
retorno das atividades na unidade
da zona leste da capital.
O campus está fechado por
determinação da Justiça desde o
mês
passado
devido
a
contaminação ambiental.
O problema é a presença no
solo de gás metano, que é tóxico e
explosivo, proveniente do lixo
orgânico presente no terreno onde
a universidade foi construída.
Antes disso, as aulas já haviam
sido suspensas por causa da má
qualidade da água e da infestação
de ácaros.
De acordo com a assessoria de
imprensa da Each (Escola de
Artes, Ciência e Humanidades),
nome oficial da unidade, o objetivo
é que "as atividades no campus
retornem o mais brevemente
possível e em total segurança para
os seus usuários".
MATRÍCULA
Também em razão da interdição,
os aprovados em primeira
chamada nos cursos da unidade
terão de fazer a etapa presencial
da matrícula no prédio Faculdade
de Saúde Pública, na região
central.
O processo ocorre
próximos dias 12 e 13.
nos
Segundo a assessoria do
campus leste, os novos alunos
serão orientados no ato da
matrícula e "qualquer novidade em
relação a um possível retorno ao
campus será amplamente
divulgada".
A universidade informou,
também via assessoria, que sua
procuradoria-geral "tem atuado, do
ponto de vista jurídico, para a
liberação da área".
01/02/14
4883
METRÓPOLE
CORREIO BRAZILIENSE
01/02/14
4884
Operação Gota d’Água
Suspeitos em liberdade
A Justiça determinou a soltura
dos seis suspeitos de desviar R$ 8
milhões da Secretaria de Educação.
O dinheiro era destinado à
Associação Assistencial de Santa
Maria, mantenedora da Creche
Gotinha de Luz, na cidade. A
cofundadora da instituição Eunice
Alves da Silva Costa; a diretora do
conselho fiscal, Miraci Oliveira
Marques; a presidente, Marieta
Cortes Ferreira; e a filha dela Tatiana
Cortes, à época diretora
administrativa da creche, deixaram
o Presídio Feminino, no Gama, por
volta das 22h30. Os investigados
Paulo Henrique Braga Barbosa, 43,
e Roberto Airton Rodrigues Braga
também ganharam a liberdade. Os
seis foram presos na última quartafeira durante a Operação Gota
d’Água, da Delegacia de Repressão
ao Crime Organizado (Deco), na
qual é apurado um desvio de parte
dos R$ 19 milhões repassados à
creche pela Secretaria de Educação
entre 2004 e 2011. O titular da
Deco, Fábio Sousa, disse que não
vai pedir a prorrogação das prisões.
“Conseguimos ouvir muitas pessoas
relacionadas ao inquérito, e os seis
não apresentam mais ameaça para
as investigações”, disse.
CIDADES
CORREIO BRAZILIENSE
01/02/14
4885
CIDADES
REDE PÚBLICA » Temporários reforçam ensino
Secretaria de Educação
anuncia a contratação de 4,5 mil
professores para o reinício das
aulas. Os quase 500 mil alunos das
291 escolas voltam às aulas na
próxima quarta-feira. De acordo
com a pasta, os colégios passaram
por reparos para o retorno dos
estudantes
» ANA POMPEU
É hora de organizar as mochilas
e separar o uniforme. Na próxima
quarta-feira, os estudantes da rede
pública de ensino voltam às aulas.
O número não está fechado, mas
chega a quase meio milhão de alunos.
A Secretaria de Educação estima
que 471 mil tenham efetivado a
matrícula. Não só as crianças e os
adolescentes devem estar prontos
para o retorno. Para recebê-los, as
escolas também se prepararam. A
secretaria garante que está tudo em
dia para receber os alunos.
O Secretário de Educação,
Marcelo Aguiar enfatizou duas
frentes de ação do governo: a
estrutural e o quadro de professores.
“Mas o mais importante de todo
esse processo é que conseguimos
atender 100% da demanda para os
ensinos fundamental e médio. E
temos condições de receber os
estudantes”, garante. Na questão de
infraestrutura, a pasta focou na
operação de reparos e de
manutenção das unidades de ensino,
como em todo início de ano.
De acordo com o secretário, 291
escolas receberam as equipes
contratadas para os consertos, que
incluem pintura, instalações elétricas,
hidráulicas, troca de vasos sanitários,
torneiras, bebedouros e, em um dos
casos, do piso do banheiro. “Não é
uma grande reforma, mas vamos
entregar tudo funcionando. Varia de
escola para escola. Estamos
atendendo aquelas que mais
precisam, que solicitaram”, explica o
secretário. Outras unidades passam
por reformas mais radicais. Pelo
menos três delas serão
reconstruídas. Por isso, os estudantes
foram transferidos para outros
prédios.
Marcelo Aguiar defende também
que, ao contrário de anos letivos
anteriores, este começará com o
quadro completo de professores.
“Estamos contratando 4,5 mil
temporários para substituir as
licenças do corpo docente. Minha
equipe me garantiu que não teremos
problemas com falta”, enfatiza. Ele
lembra ainda a convocação do
concurso da secretaria. Neste mês,
mais 711 profissionais foram
chamados. Mesmo assim, o
secretário ressalta na importância
dos temporários. “Num universo de
30 mil, eles são necessários para
casos especiais. Não fossem as
contratações, eles teriam que ser 7
mil”, calcula.
Dívidas
Ao mesmo tempo em que o
secretário enumera as ações para o
sucesso da volta às aulas, o Sindicato
dos Professores do DF (Sinpro)
indica questões que podem ser
problemas para o retorno à rotina das
comunidades escolares. O diretor do
Sinpro, Cláudio Antunes, explica
que, por enquanto, a entidade teve
o retorno apenas de alguns diretores
de escolas. Pais e alunos devem se
manifestar quando voltarem para a
escola. “Nós temos, sim, problemas
com a estrutura de escolas. Elas não
receberam a verba do PDAF
(Programa de Descentralização
Administrativa Financeira) agendada
para o fim do ano passado. Assim,
muitas unidades estão endividas ou
com falhas na estrutura. A verba será
liberada agora, mas atrasada e em
parcelas”, afirma o diretor.
Para ele, os repasses feitos pelo
GDF não estão de acordo com as
necessidades das unidades. “Escolas
com 3 mil estudantes devem receber
algo em torno de R$ 25 mil, o teto
do repasse. Elas estão habituadas a
receber R$ 500 mil. É irrisório”,
analisa. Em relação ao número de
professores, o sindicato também tem
preocupações. “A convocação dos
efetivos foi pequena. O volume da
rede é muito grande. Na disciplina
que chamamos Atividades é onde
temos a maior carência”, afirma,
referindo-se aos professores que
lecionam até o 5° ano do ensino
fundamental.
JORNAL DE BRASÍLIA
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CIDADES
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