Clipping Nacional de Educação Segunda-feira, 03 de Fevereiro de 2014 Capitare Assessoria de Imprensa SHN, Quadra 2 Bloco F Edifício Executive Tower - Brasília Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br 05/02/14 4843 HOLOFOTE OTÁVIO CABRAL Um aliado para esconder O péssimo desempenho de Fernando Haddad, reprovado por 80% dos paulistanos, fez com que Lula mudasse a estratégia inicial da campanha de Alexandre Padilha a governador. Para não se contaminar com o desgaste do prefeito, ele não será apresentado como um político "novo", mas como um experiente ministro que passou cinco anos em Brasília. Padilha priorizará agora as viagens pelo interior, onde a influência negativa de Haddad é menor. Sua primeira aparição pública será neste sábado em Ribeirão Preto. 05/02/14 4 8 4 4 Cláudio de Moura Castro Escola ideal para alunos não ideais Na segunda metade do século XIX, dom Pedro II transformou a primeira escola pública secundária do Brasil em um modelo inspirado no colégio Louis Le Grand, reputado como o melhor da França. Mantiveram-se na sua réplica brasileira as exigências acadêmicas do modelo original. O próprio dom Pedro selecionava os professores, costumava assistir a aulas e arguir os alunos. Sendo assim, o colégio que, mais adiante, ganhou o seu nome constituiu-se em um primoroso modelo para a educação das elites brasileiras. Dele descendem algumas excelentes escolas privadas. Mais tarde do que seria desejável, o ensino brasileiro se expande, sobretudo no último meio século. Como é inevitável, passa a receber alunos de origem mais modesta e sem o ambiente educacional familiar que facilita o bom desempenho. Sendo mais tosca a matéria-prima que chega, em qualquer lugar do mundo não se podem esperar resultados equivalentes com o mesmo modelo elitista. Os países de Primeiro Mundo perceberam isso e criaram alternativas, sobretudo no ensino médio. A melhor escola é aquela que toma alu- nos reais — e não imaginários — e faz com que atinjam o máximo do seu potencial. Se os alunos chegam a determinado nível escolar com pouco preparo, o pior cenário é tentar ensinar o que não conseguirão aprender. O conhecimento empaca e a frustração dispara. Aquela velha escola de elite deve permanecer, pois há quem possa se beneficiar dela. Mas, como fizeram os países educacionalmente maduros, respondendo a uma época de matrícula quase universal, é preciso criar escolas voltadas para o leque variado de alunos. Voltemos a 1917, às conferências de Whitehead em Harvard. Para ele, o que quer que seja ensinado, que o seja em profundidade. Segue daí que é preciso ensinar bem o que esteja ao alcance dos alunos, e não inundá-los com uma enxurrada de informações e conhecimentos. Ouvir claudio de moura falar de teorias não serve para nada. O que se castro é economista aprende na escola tem de ser útil na vida real. Nessa nova escola, os currículos e ementas precisam ser ajustados aos alunos, pois o contrário é uma quimera nociva. Na prática, devemse podar conteúdos, sem dó nem piedade. É preciso mostrar para que serve o que está sendo aprendido. Ainda mais importante, é preciso aplicar o que foi aprendido, pois só aprendemos quando aplicamos. A escola deve confrontar seus alunos com problemas intrigantes e inspiradores. E deve apoiá-los e desafiá-los para que os enfrentem. No entanto, sem encolher a quantidade de matérias, não há tempo para mergulhar em profundidade no que quer que seja. Se mesmo os melhores alunos das nossas melhores escolas são entulhados com mais do que conseguem digerir, e os demais, os alunos médios? Como suas escolas mimetizam as escolas de elite, a situação é grotesca. Ensina-se demais e eles aprendem de menos. Pelos números da Prova Brasil, pouco mais de 10% dos jovens que terminam o nível médio têm o conhecimento esperado em matemática! A escola está descalibrada do aluno real. Atenção! Não se trata de uma escola aguada em que se exige menos e todos se esforçam menos. Sabemos que bons resultados estão associados a escolas que esperam muito de seus alunos, que acreditam neles. A diferença é que se vai exigir Continua Continuação 05/02/14 o que tem sentido na vida do estudante e está dentro do que realisticamente ele pode dominar. Precisamos redesenhar uma escola voltada para os nossos alunos, e não para miragens e sonhos. Quem fará essa escola? Claramente, o MEC precisa promover os ajustes dos currículos e ementas. Mas quem esculpirá essa nova instituição? As melhores escolas privadas recebem alunos peneirados e não precisam de muitas mudanças. A quase todos os estados faltam densidade técnica e apetência. Uma possibilidade são o Sesi e o Sesc, que operam um conjunto de instituições semipúblicas, têm amplos recursos e flexibilidade para tomar novos rumos. Quem sabe, querem ir para a história, embarcando nessa aventura? Não é só isso. Cura mesmo, só enfrentando as fraquezas das faculdades de educação. Mas só a desobrigação de ensinar um currículo impossível já é uma bela ajuda para os mestres. 05/02/14 4845 BRASIL Hegemonia nas urnas em 2014? Além de reeleger a presidente Dilma, o PT acredita que pode atingir a hegemonia política neste ano, fazendo a maior bancada no Congresso, conquistando o comando nos três principais estados do Brasil e consolidando seu poder nos rincões O Vale do Iuiú, região formada por oito municípios na divisa entre Bahia e Minas Gerais, já foi um dos maiores produtores de algodão do Brasil. Nos anos 1970 e 1980, caminhões pau de arara chegavam de diversas partes do país apinhados de homens, mulheres e crianças que ajudariam na colheita do chamado ouro branco. Sobrava emprego. A queda da produção, no entanto, começou a jogar as famílias na miséria. Em decadência econômica, o distrito rural de Iuiú se emancipou e, em 1989, virou município. Desde então, coronéis e comerciantes controlam o poder. Os governos de Lula e Dilma Rousseff não mudaram essa realidade, mas houve uma adaptação: os poderosos locais aderiram ao PT e a suas benesses, servindo de correia de transmissão dos interesses políticos e eleitorais do partido. "Sempre fomos amigos do ACM", lembra o prefeito Vagner Frota, um admirador do ex-governador Antonio Carlos Magalhães. Ele já pertenceu aos quadros do PTB e ao PRP. Filiou-se ao PT às vésperas da eleição, em 2011, e se elegeu por apertados dezenove votos de diferença. e Miriam Belchior para mostrar que — como petistas e amigos do rei — teriam mais condições de levar verba federal para o município. Há alguns anos seria impensável um carlista se transformar em petista, ou vice-versa, mas a conversão de Frota segue a estratégia do partido de conquista total do poder, seja nos rincões mais distantes, seja no Congresso Nacional. O prefeito é um médico rico que ganhou fama por reservar um dia da semana para atender os pobres. A oposição o acusa de usar a caridade para conseguir votos, mas ele diz que apenas já praticava o que hoje fazem os médicos cubanos. Popular, Frota foi convidado pelo vereador Raimundo Castro a trocar de partido. Em Iuiú, metade dos 11.000 habitantes recebe o Bolsa Família — e o programa, como em tantas outras cidades, explica a chegada do PT à prefeitura. Pouco depois de ser eleito vereador, em 2004, o petista Raimundo Castro obteve o direito de operar uma correspondência bancária da Caixa Econômica Federal, utilizada pela população para sacar o dinheiro do Bolsa Família. Com esse instrumento em mãos, Castro conseguiu mais um mandato de vereador e ajudou a eleger Frota para a prefeitura. Na campanha, os dois usaram até depoimentos dos ministros Gilberto Carvalho Não só escolas e hospitais, mas a própria sobrevivência da população de Iuiú está diretamente ligada ao caixa da União. É no "Centro Educacional Presidente Lula" que as crianças da cidade receberão o ensino fundamental. É no "Centro de Educação Infantil Presidenta Dilma Rousseff " que a pequena Liliane estudará a partir deste mês. Ela é a caçula dos cinco filhos de Elias Rodrigues dos Santos, que não tem emprego fixo desde 2002. Santos nem lembra onde guardou a carteira de trabalho. Para sobreviver, faz bicos como técnico em eletrônica e mecânica e conta com os 394 reais que recebe todos os meses do Bolsa Família. "Essa é a minha valência, e eu agradeço muito. Mas gostaria de não ficar tanto na dependência do governo. Queria ter um emprego fixo." A realidade de luiú serepete na maioria dos municípios de pequeno porte do país. Historicamente, eles vivem sobretudo das verbas federais. Quem ganha com isso é a legenda que está no poder. Foi assim com o PMDB e com o PSDB. É assim, agora, com o PT. A diferença é que os petistas ampliaram, e muito, o leque de benefícios repassados e a Continua Continuação 05/02/14 presença da máquina federal nas pequenas cidades, tornando-se também um partido dos grotões. Até 2004, o PT comandava 140 municípios com até 100 000 habitantes. Dez anos depois, o número quadruplicou (veja o quadro na pág. 53). Esse crescimento repercutiu no Congresso. Atualmente, a bancada petista é a maior da Câmara, com 86 parlamentares. Neste ano. o partido espera ter 100 deputados eleitos. "Estamos sendo massacrados. Há programas que distribuem equipamentos, máquinas agrícolas, ônibus escolar. Tudo que você imaginar. Na hora de distribuir, eles só carimbam para a bancada do PT" afirma o líder do PMDB na Câmara. Eduardo Cunha. Aliados dos petistas no plano federal, os peemedebistas temem perder a presidência da Câmara e a do Senado e reclamam da ofensiva do PT em busca do "hegemonismo" (veja a entrevista na página ao lado). Lula e petistas estrelados, de fato, falam da possibilidade de a sigla reeleger Dilma, conquistar os governos de Rio. São Paulo e Minas Gerais, formar a maior bancada na Câmara e, de quebra, ameaçar o predomínio do PMDB no Senado. Se isso se confirmar, o PT terá alcançado um nível de poder nunca antes experimentado pelo partido. Tal pretensão é legítima. É da essência das agremiações políticas buscai- o poder e tentar a perpetuação nele. Quando estavam no governo, os tucanos projetavam pelo menos vinte anos de PSDB na Presidência. Sonhar é do jogo. O problema está nas tentações decorrentes do excesso de poder conquistado nas urnas. Nesse quesito, setores petistas já mostraram que qualquer arma pode ser empregada para mantê-los no topo, mesmo aquelas que ameaçam liberdades constitucionais e afrontam instituições republicanas. Recentemente, radicais petistas tentaram manietar o Ministério Público e levar adiante um projeto de censura à imprensa, como forma de retaliação pela investigação e denúncia do esquema do mensalão, o maior escândalo de corrupção política da história do país. Até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram pressionados a absolver os mensaleiros, inclusive com a ameaça de se tornarem alvo de uma investigação parlamentar. Essas iniciativas não prosperaram porque os demais partidos governistas barraram os falcões do PT. Apesar dessas divergências, esses mesmos partidos, com o PMDB à frente, marcharão em defesa da reeleição da presidente Dilma. Todos estão negociando seu apoio eleitoral e seu precioso tempo na propaganda de TV em troca de ministérios e cargos de ponta (veja reportagem na pág. 56). Quando a política é feita à base de moedas, o risco de hegemonismo é real. Basta comprá-lo. Continua Continuação 05/02/14 05/02/14 4846 BRASIL "Você não muda o Brasil em doze anos" O deputado federal José Guimarães é um dos vice-presidentes do PT. Líder da bancada até dezembro passado, ele é considerado um articulador habilidoso. Ao contrário de algumas lideranças do partido, transita com desenvoltura por todas as correntes do PT, das mais radicais às moderadas, sem se comprometer com nenhuma delas. Irmão do mensaleiro José Genoino, o parlamentar é defensor do projeto petista de controlar a imprensa. No ano passado, depois do resultado do julgamento do mensalão, porém, foi um dos poucos petistas a se posicionar contra a aprovação da lei que restringia os poderes de investigação do Ministério Público. Nesta entrevista, Guimarães diz que para o PT é fundamental conquistar a hegemonia política nas urnas neste ano. O que há de novo no projeto eleitoral do PT neste ano? Vamos ter candidaturas próprias e competitivas nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas. É um fato muito relevante. Isso foi pensado estrategicamente? São Paulo e Minas, sim. Houve uma construção. Por quê? Pela importância desses estados. São estados governados pelo PSDB. Isso tem um sentido político muito grande. Qual é a finalidade de ter essas candidaturas fortes? Eleger novamente a presidente Dilma Rousseff. Qual a análise que o senhor faz sobre uma possível vitória nesses estados? Nunca governamos São Paulo ou Minas. Se ganharmos os dois, nós estaremos nas nuvens. Se ganharmos um, estaremos atravessando todas as turbulências. O que isso significa? Significa que está consolidada a nossa hegemonia e que a sucessão presidencial futura (em 2018) passa por esses estados. Por que visar à hegemonia? Porque nós governamos o país. Qualquer partido quer manter seus nichos de poder, como o PSDB, que já governa São Paulo há mais de vinte anos. Qualquer partido tem vocação para o poder. É realista a meta de eleger 100 deputados federais? Nossa expectativa é que a bancada cresça, tanto na Câmara quanto no Senado. Mas ainda não temos uma projeção. Nem podemos dizer quantos parlamentares elegeremos. O PT está há doze anos no governo federal... É pouco para fazer tudo aquilo que a gente vem fazendo. Você não muda o Brasil em doze anos. É preciso haver mais governos progressistas para fazer as transformações. O projeto inclui os partidos aliados? De preferência. 05/02/14 4847 BRASIL Negócios ministeriais Em ano eleitoral, o governo precisa compensar os mais de dez partidos políticos aliados com cargos em um dos 39 ministérios. O resultado disso?... O governo anunciou na semana passada a primeira etapa da mais recente reforma ministerial. O senhor da foto ao lado atende pelo nome de Manoel Dias. É o atual ministro do Trabalho, indicado pelo PDT, partido que se adonou da cadeira ainda no governo Lula e de lá não saiu após a posse de Dilma Rousseff como presidente da República — nem deve sair. Na divisão do mapa do poder, o PDT é o donatário do Ministério do Trabalho, aconteça o que acontecer. Para o governo, o importante é manter o apoio dos partidos aliados, a despeito do desempenho e da conduta dos que comandam as pastas. Manoel Dias é um símbolo desse modelo. Ele foi nomeado em março do ano passado por indicação do presidente do PDT, Carlos Lupi, que foi demitido debaixo de acusações de cobrança de propina de entidades que recebiam verbas do ministério. Na ocasião, a pasta foi entregue a Brizola Neto, rival de Lupi e expoente de outra facção pedetista. Presidente do partido, Lupi reagiu: ameaçou levar o PDT para a oposição e, com isso, ganhou o ministério de volta. Como não cairia bem ele próprio retornar ao cargo de ministro, indicou Manoel Dias, um de seus mais fiéis escudeiros. A confusão foi em 2011. De lá para cá, o ministério passou por outros escândalos. Um deles resultou até em prisões, numa operação policial em que o número 2 da pasta teve de se explicar a um delegado. Mesmo assim, o PDT continua firme e forte no ministério. Tão dono que as duas facções do partido — a de Lupi e a de Brizola Neto — estão agora numa guerra fratricida para definir qual delas levará a melhor na reforma ministerial iniciada na semana passada por Dilma (veja o quadro ao lado), num esforço para conseguir uma vaga para representantes dos catorze partidos que apoiam o governo. Um lado acusa o outro de recebimento de propina. "Agora é guerra de bugio. Eles de lá e nós de cá", disse a VEJA um auxiliar de Lupi, referindo-se a uma espécie de macaco que, quando briga, costuma lançar dejetos nos rivais. A única certeza que os bugios têm é que o cargo continuará com o PDT. Outro donatário de uma parcela da Esplanada, o PMDB tem sob seus domínios o Ministério da Agricultura. A exemplo dos colegas pedetistas, o partido já passou por diversas acusações de malfeitos na pasta. Mas, também nesse caso, segue firme no comando. O caso de um frigorífico do Paraná que vem brigando para conseguir seu registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF) é um exemplo acabado de como — e por que — os interesses políticos falam mais alto. Com capacidade para abater 420000 aves por dia e faturar 1 bilhão de reais por ano, a BR Frango está com a linha de produção paralisada desde agosto por não conseguir o registro. Na área técnica do ministério, tudo já foi resolvido. Um diretor da pasta, porém, revelou que o problema é político. Advogados da empresa protocolaram no ministério um documento no qual acusam o deputado Osmar Ser-raglio, presidente do PMDB do Paraná, de impedir o registro. Em reuniões gravadas pelos representantes da empresa, os burocratas do ministério deixam claro onde está o obstáculo. "Eu não podia fazer nada... Quem é o presidente do PMDB hoje?", diz um deles, resignado. Serraglio tem entre seus doadores de campanha um frigorífico paranaense, concorrente da BR Frangos. A VEJA, ele admitiu que trabalha contra a liberação do registro para a BR — e, por conseqüência, a favor dos interesses do concorrente, cuja sede está na cidade de Umuarama, seu reduto eleitoral. Além das mudanças já anunciadas, outros seis novos ministros devem ser indicados nos próximos dias. Continua Continuação 05/02/14 03/02/14 4848 CENAS BRASILEIRAS O Risco Copa Confrontos em protestos, obras pela metade e custos que assustam turistas. O Mundial de 2014 enfrenta ameaças graves - e exige um esforço final que garanta uma festa cativante e segura Lepoldo Mateus, Raphael Gomide, Rodrigo Turrer e Vinicius Gorczeski O suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa, estava desconfiado desde o início. No dia 30 de outubro de 2007, ao anunciar o Brasil como sede da Copa de 2014, ele disse: "O Comitê Executivo decidiu, unanimamente, dar a responsabilidade, não apenas o direito, mas a responsabilidade de organizar a Copa de 2014 ao Brasil". Responsabilidade. A palavra nunca aparecera em anúncios anteriores. "A Copa do Mundo de 2010 será organizada na África do Sul", disse Blatter ao abrir o envelope em maio de 2004. "O vencedor é a Alemanha", afirmou, em julho de 2000. Para 2014, não houve disputa. A Fifa criara um rodízio entre continentes, hoje abandonado, e era a vez da América do Sul. Como único candidato, o Brasil recebeu a Copa com pouco esforço – e Blatter quis dizer, para o mundo ouvir, que os brasileiros tinham obrigação de realizar um bom trabalho. Semanas atrás, ele afirmou: "O Brasil é o país com mais atrasos desde que estou na Fifa". A impaciência parece justificada. Blatter lembrou que o Brasil foi o único a ter sete anos para organizar a Copa do Mundo. A Alemanha e a África do Sul tiveram seis. A Fifa também não queria uma Copa tão complexa como a que o Brasil decidiu organizar. Preferia um torneio com dez cidades sedes, como fez a África do Sul. Em 1994, os Estados Unidos fizeram sua Copa em nove cidades. O governo brasileiro insistiu em realizar um Mundial com 12 sedes - mesmo número da Alemanha em 2006 com logística mais complexa e gastos mais vultosos. Nos últimos anos, o custo do Mundial subiu de forma escandalosa. A previsão inicial de gastos era de R$ 17 bilhões. Em junho último, o Grupo Executivo da Copa do Mundo (Gecopa) atualizou o total para R$ 28 bilhões e anteviu um acréscimo de ao menos R$ 5 bilhões até a bola rolar - um total de R$ 33 bilhões. Dessa quantia, a União será responsável por 85,5%, e o setor privado por 14,5% - cerca de R$ 4,7 bilhões. Em 2007, em Zurique, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmara: "Tudo será bancado pela iniciativa privada". A apenas quatro meses do início do Mundial, as cidades brasileiras deveriam estar coloridas com as cores do Mundial. Banners, bandeiras, Brazucas e Fulecos gigantes deveriam já alimentar um clima festivo no país. Em vez disso, o Brasil segue tomado pela dúvida sobre sua capacidade de organizar a Copa de forma satisfatória. Na semana passada, as inquietações foram estampadas na capa da tradicional revista francesa France Foot-ball, com a manchete "Medo sobre o Mundial". Para a publicação, a Copa tornouse uma "fonte de angústia". A presidente Dilma Rousseff repete que o Brasil fará "a Copa das Copas". Apesar das dificuldades, isso ainda é possível. Poucos países desejaram tanto receber o Mundial de futebol quanto o Brasil, e os ingredientes necessários para uma competição profissional, cativante e histórica continuam presentes. Para realizá-la, será preciso superar as várias ameaças e desafios que cresceram nos últimos anos. ÉPOCA relaciona a seguir os principais riscos. VIOLÊNCIA Um coral de vozes dissonantes – ainda pouco numerosas, mas barulhentas - rejeita a Copa no Brasil. Movimentos de bairro, centrais sindicais, partidos radicais de esquerda, movimentos de defesa da saúde, das mulheres, hackers, o grupo Anonymous e black blocs foram às ruas no dia 25 de janeiro, sábado, na primeira grande onda de protestos contra o Mundial. Tomaram ruas de 13 capitais do país. Na cidade de São Paulo, que comemorava seu Continua Continuação 460º aniversário, houve tanto caminhada pacífica como depredação de patrimônio e confronto com a Polícia Militar - 135 pessoas foram detidas e depois liberadas. Dezenas de manifestantes invadiram o hotel Linson, na Rua Augusta, região central, ocupado em seguida por PMs. O estudante da Unifesp Vinicius Duarte diz ter sido agredido por policiais, no saguão do hotel - acumulou uma fratura no nariz, três dentes quebrados e um coágulo na cabeça. O secretário paulista da Segurança Pública, Fernando Grella, defendeu a ação da PM e prometeu investigar possíveis excessos. "Qualquer pessoa que tenha registrado uma ocorrência, noticiando uma situação de abuso, esse fato será apurado", disse Grella a ÉPOCA. Um caso mais grave envolveu o es-toquista Fabrício Proteus Nunes Fonseca, de 22 anos, atingido por dois tiros de PMs, no bairro nobre de Higienópolis, após uma perseguição. Os policiais dizem ter agido em legítima defesa, e o caso é investigado. Imagens registradas por uma câmera da rua são inconclusivas sobre quem atacou primeiro. Segundo o secretário Grella, policiais devem evitar o uso de armas letais, mas elas não são proibidas em situações de legítima defesa. Em outro vídeo que originou uma investigação da PM, uma pessoa caída aparece ao ser atropelada por um policial numa moto. Os confrontos em São Paulo geraram debates sobre a qualidade da ação policial diante de protestos de rua. O especialista em segurança 03/02/14 pública George Felipe de Lima Dantas defende uma regulamentação nacional que esclareça à população o que a polícia pode fazer em cada tipo de situação. Segundo ele, em vários países do mundo os cidadãos têm mais consciência sobre como a polícia pode agir. "Os limites ainda são pouco claros na sociedade brasileira." O secretário Grella afirma que, depois das manifestações de junho do ano passado, foram feitos investimentos para melhorar a atuação da polícia paulista, criticada na época pela violência. "Há uma licitação em andamento para comprar carros de jato d"água, que são modernos. É uma arma não letal, para dispersão. Esperamos ter esses veículos já para a Copa." Além dos movimentos contra a Copa, a polícia de São Paulo se vê ocupada com a criminalidade comum e protestos de toda sorte. Apenas em janeiro, 30 ônibus foram incendiados na periferia da capital paulista. Os manifestantes anti-Copa associam o evento a mazelas de vários tipos. Segundo Sérgio Lima, da Frente Popular de Saúde, as obras do Itaquerão, estádio da Zona Leste paulistana que será palco da abertura do Mundial, desapropriaram 400 famílias. Ele pede moradias, reformas nas Unidades Básicas de Saúde e mais vagas em creches no bairro. "Cansei de percorrer gabinetes públicos à procura de soluções. Vamos à rua contra a Copa." Guilherme Camilo Fernandes, de 25 anos e estudante de psicologia, diz que os gastos com obras para o Mundial deveriam ter sido usados para melhorar a educação. Os ativistas trocam informações desde os protestos que tomaram o país em junho do ano passado - e repetem, em cartazes e nas redes sociais, o bordão "Não vai ter Copa". "É um grito que sai das ruas, um deboche, uma provocação ao brasileiro. É um "não vai ter Copa" se não tiver hospitais, se não tiver escolas", afirma Renato Cosentino, de 30 anos, da entidade de direitos humanos Justiça Global e membro do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas no Rio de Janeiro. "Havia o discurso de que era possível ter os eventos e ainda investir em saúde, educação, como se os recursos fossem infinitos." O Comitê Organizador da Copa nega que o evento seja impopular. "As pesquisas de opinião mostram um nível de apoio alto, mesmo as realizadas durante as manifestações do ano passado", afirma o CEO do Comitê, Ricardo Trade. Ele também rebate a ideia de que os recursos gastos não trarão retorno à sociedade brasilera. "Os estádios são financiados por empréstimos do BNDES que serão pagos com juros, não sai do orçamento da União. Esses estádios geram empregos, movimentam a economia local." Nenhum ativista acredita ser capaz de impedir o Mundial. "Vai ter Copa, claro, mas a síntese é outra expressão: "Copa para quem?"", pergunta Givanildo Santos, de 45 anos, do Comitê Popular de São Paulo. "Os ingressos têm preços absurdos, trabalhador não entra no estádio. Boa parte dos recursos é pública e deveria ser usada para outras necessidades." Continua Continuação A possibilidade de incidentes violentos preocupa hoje o governo federal mais que carências em infraestrutura. Na semana passada, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse a colegas na Presidência àa República que a polícia captara uma troca de mensagens ameaçadoras entre integrantes de uma grande torcida organizada de São Paulo. Em referência aos manifestantes que, no dia anterior, haviam vandalizado estabelecimentos no centro de São Paulo no protesto contra a Copa, os torcedores diziam que esses grupos não repetiriam isso em Itaquerão. Falavam em agressões caso os manifestantes se aproximassem do estádio. Cardozo já comunicara que o setor de Inteligência da Polícia Federal captara conversas telefônicas em que presos combinavam motins simultâneos em diversos presídios durante a Copa, especialmente em Estados do Nordeste. As duas ameaças foram discutidas numa reunião de rotina estabelecida no começo do ano pela presidente Dilma Rousseff. A cada sete ou dez dias, ela vinha conversando com os ministros Aldo Rebelo (Esporte), Celso Amorim (Defesa), Moreira Franco (Aviação Civil), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Agnaldo Ribeiro (Cidades) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), além de Cardozo, sobre problemas na organização da Copa - desde segurança até problemas visíveis, como estádios atrasados e aeroportos com tapumes. INFRAESTRUTURA No dia 4 de janeiro, a menina ar- 03/02/14 gentina Camila Palacios, de 3 anos, caiu de uma altura de 7 metros por um buraco de 18,5 centímetros, ao lado de uma escada rolante, no aeroporto do Galeão, ou Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro. Sofreu traumatismo craniano e de face. O acidente expôs mais uma vez as condições precárias e improvisadas de uma das maiores portas de entrada de turistas durante a Copa. O Galeão, em intermináveis reformas de ampliação e modernização desde 2008 - para aumentar sua capacidade de 13 milhões de passageiros para 47,2 milhões por ano -, continuará um canteiro de obras durante o Mundial. O presidente da Infraero, Gustavo Vale, já reconheceu que será impossível terminar tudo a tempo. As reformas, de R$ 440 milhões, estão entre as mais atrasadas para a Copa. O terminal 1 do Rio deveria ter sido entregue há quase um ano e meio. O terminal 2 está cinco meses fora do prazo. O Galeão também oferece extremo desconforto aos passageiros neste verão. A pretexto das reformas, o sistema de ar-condicionado não é suficiente. Usuários protestam nas redes sociais contra a "sauna sem eucalipto". No fim de janeiro, foi finalmente inaugurada a nova área de embarque do terminal 2, com 11.000 metros quadrados. A previsão é que, até abril, sejam entregues os pavimentos comercial e de desembarque. No fim de novembro, o consórcio Aeroportos do Futuro venceu o leilão de privatização, com proposta de R$ 19 bilhões. O grupo, porém, só assumirá o controle integral, por 25 anos, após a Copa do Mundo. Segundo a Embratur, ao menos 600 mil turistas estrangeiros deverão desembarcar em junho e julho no Brasil para a Copa. Tamanha invasão, já prevista em 2007, deveria ter provocado o início imediato da modernização dos aeroportos. Não foi o que aconteceu. As obras do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, começariam em abril de 2010, segundo a Infraero. Foram postergadas para julho de 2011. Começaram a sair do papel apenas em agosto passado - com 36 meses de atraso. Hoje, 12 intervenções da Infraero em terminais de passageiros apresentam índice de execução inferior a 50%. Aeroportos de Belo Horizonte (Confins), Campinas (Viracopos), Curitiba (Afonso Pena), Porto Alegre (Salgado Filho) e Rio de Janeiro (Galeão) estão ameaçados por atrasos. Se pelo ar está ruim, por terra é ainda pior. Tidas como maior legado da Copa do Mundo, as melhorias nos sistemas de transporte urbano, usado por 84% da população do país, receberam a promessa de altos investimentos públicos. Ao todo, R$ 12 bilhões foram prometidos para a reestruturação do transporte. Grande parte ficou no papel. "Ficaremos devendo, e muito, aos turistas no quesito transporte", afirma Otávio Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU). "Os municípios são a favor de transformar em feriados os dias de jogo, porém isso não será o suficiente. Teremos muitos gargalos." Dados dos comitês locais da Copa do Mundo revelam que 75,6% das obras previstas nos transportes estão atrasadas ou Continua Continuação não estarão prontas a tempo da competição. Entre as justificativas para o atraso ou cancelamento das obras estão burocracia, chuvas, imprevistos e disputas judiciais. Os Veículos Leves Sobre Trilhos de Fortaleza, do Distrito Federal e de Cuiabá só serão entregues depois do Mundial. Obras de duplicação e prolongamento de rodovias e avenidas em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre estão descartadas. O custo também aumentou. O valor do Corredor Aeroporto Rodoferroviária, em Curitiba, saltou de R$ 104,8 milhões, em 2010, para R$ 143,19 milhões. O VLT de Cuiabá passou de R$ 1,26 bilhão para R$ 1,57 bilhão. Em 2010, segundo a Matriz de Responsabilidades, o total de investimentos na rubrica "mobilidade urbana" era de R$ 11,9 bilhões. Após atrasos e cancelamentos, caiu para R$ 7,02 bilhões – menos que os R$ 8 bilhões gastos nos estádios. ESTÁDIOS O drama da Copa de 2014 também atinge a mais básica atividade do evento - as partidas de futebol. Com apenas 6% do tempo total disponível de preparação, cinco dos 12 estádios ainda não estão prontos: Curitiba, Cuiabá, Manaus, Porto Alegre e São Paulo. Foram concluídos apenas os seis estádios usados na Copa das Confederações, em junho do ano passado, e a Arena das Dunas, em Natal, inaugurada há duas semanas. A Fifa exigia que todos as arenas fossem entregues até o fim de 2013, mas o último estádio deverá ficar pronto apenas em maio. No iní- 03/02/14 cio de janeiro, em visita ao Brasil, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ameaçou retirar da Copa a Arena da Baixada, em Curitiba. Trade, o CEO do comitê organizador da Copa, admite as dificuldades: "Até o dia 18 de fevereiro decidiremos todos juntos se o nível de preparação de cada estádio nessa data nos dá a confiança para realizar os jogos da Copa do Mundo e não coloca em risco a organização do evento. Teremos pessoas da Fifa e do comitê monitorando diariamente a evolução do estádio e trabalharemos muito e em parceira com os governos e o Atlético Paranaense para que Curitiba esteja na Copa". O resultado do planejamento pífio foi, como no caso da infraestrutura, o aumento dos custos. Ao todo, em comparação com a Matriz de Responsabilidades, assinada em 2010, que delineava prazos e custos das obras para a Copa, os estádios encareceram 66% - de R$ 5,3 bilhões para R$ 8 bilhões. Somados, os 22 palcos dos Mundiais de 2006, na Alemanha, e de 2010, na África do Sul, custaram menos: R$ 6,8 bilhões. Dos R$ 8 bilhões gastos no Brasil, apenas R$ 133,2 milhões não têm a mãozinha do Estado. O cálculo engloba incentivos fiscais, empréstimos e os R$ 3,9 bilhões atrelados a financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O custo humano também aumentou. Cinco operários morreram em acidentes nos estádios em 2013, incluindo dois na queda de um guindaste no Itaquerão. OS PREÇOS A Copa do Mundo tornou-se desculpa para uma explosão de preços em quase todo tipo de serviços, com desculpa para uma explosão de preços em quase todo tipo de serviços, com destaque para hospedagem. O número de leitos em quartos de hotel no país não é suficiente, e a maioria não tem mão de obra capacitada para atender todo o público esperado. O resultado é a disparada dos valores cobrados. No Rio, estima-se que mais de 300 mil visitantes cheguem à cidade, para apenas 55.400 leitos. Segundo a Embratur, os preços em hotéis dobraram se comparados a valores regulares. Há hotéis cujas diárias de R$ 100 saltaram para R$ 2 mil na Copa. Algumas redes já foram notificadas pela Justiça por superfaturar as tarifas. Com isso, empresas passaram a repensar o plano de trazer convidados - no Rio de Janeiro, o custo chega a R$ 28 mil por pessoa. Emissoras de TV estrangeiras decidiram rever planos de cobertura da Copa, devido aos orçamentos exorbitantes. "Sem dúvida, a maior preocupação hoje é com os preços cobrados no Brasil", afirma Alessandro de Caló, redator-chefe do jornal italiano La Gazzetta dello Sport. Para fugir do preço cobrado por hotéis no Brasil, a Associação de Torcedores da Bélgica montou pacotes em que os turistas ficarão acampados em barracas e se deslocarão de ônibus entre cidades sedes. A Federação de Torcedores da Inglaterra, com mais de 180 mil integrantes, assustou-se com os valores. "Os preços são Continua Continuação 03/02/14 exorbitantes, os mais altos que já vimos", afirma Kevin Miles, um dos representantes da Federação. O que fazer? E impossível voltar a 2007 para corrigir os inúmeros erros e desmandos da Copa de 2014. Nem existe a possibilidade de adiar a competição. A única saída de governos e do comitê organizador é otimizar esforços para garantir segurança, conforto e facilidade nos deslocamentos para todos. O Brasil ainda pode realizar um Mundial digno de sua paixão pelo futebol e que apague, ao menos em parte, a triste lembrança de sete anos desperdiçados. E o que merecem brasileiros e estrangeiros que torcerão, não apenas por suas seleções, mas por um Mundial alegre, pacífico e repleto de belos gols. Com Leandro Loyola, Flávia Tavares e Aline lmercio 03/02/14 4849 Ruth de Aquino Isso pode? Nossos representantes começam a descobrir que não adianta tentar controlar ou censurar a imprensa ou a televisão – e criar uma máquina de informações governamentais, como sonha o PT de Lula e Dilma. Políticos, juízes e atletas hoje sabem que um passo mal dado, uma declaração desrespeitosa, uma "escala técnica" para comer bacalhau, um riso fora de lugar ou um gasto mal explicado vão todos para o ventilador virtual, com ajuda de uma apuração jornalística 24 horas por dia e fiscalização da população antenada. Reuni dez destaques da semana que me fizeram pensar: "Isso pode?". 1. Dilma mentiu bobamente. Flagrada com sua equipe em 45 suítes milionárias em Lisboa, mandou dizer que era uma escala inesperada na volta de Davos, devido à meteorologia. Mas não. A agenda estava definida desde a semana anterior, e o restaurante foi visitado por gente da Dilma na véspera. "Paguei a minha conta", afirmou a presidente. Os brasileiros não conseguem ter acesso à caixa- preta dos cartões corporativos. Tem problema o passeio? Não. Mas mentir não pode. O incidente apressou a saída da ministra Helena Chagas, da Comunicação Social. Dilma quer "melhorar relação com a mídia". O culpado foi o mensageiro. Isso pode? 2. Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência pelo PSB, usou a estrutura do governo de Pernambuco para divulgar, com touquinha e roupa de médico, o nascimento de seu quinto filho, em e-mail e redes sociais oficiais. Campos também anunciou que o bebê, Miguel, tem síndrome de Down. As fotos foram logo retiradas do site institucional do governo. Campos chamou de "equívoco". Ninguém constatou a impropriedade antes do tempo? 3. O Ministério do Trabalho aumentou em 149% - mais do que duplicou - os registros de sindicatos no ano passado em relação a 2012. Foi um "mutirão", segundo o ministro Manoel Dias (PDT). Um país que cria uma casta de sindicatos, com favores e benefícios, não vai no bom caminho. A empresária de transportes Ana Maria Aquino afirma ter entregado R$ 200 mil ao ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi. Ou essa empresária é louca varrida ou é preciso levar a investigação até o fim. Ela deu detalhes e disse ter levado o dinheiro pessoalmente ao gabinete de Lupi para acelerar o registro de um sindicato em Pernambuco. Lupi negou e chamou a acusação de "surreal". 4. O Brasil continua sendo um dos dez países com maior número absoluto de analfabetos no mundo. Em 2012, tínhamos 13,1 milhões de jovens e adultos analfabetos, 8,7% da população nessa faixa etária. Isso não pode mesmo. 5. O Brasil fiscaliza agrotóxico em apenas 13 alimentos. Estados Unidos e Europa analisam 300 tipos de alimentos por ano, incluindo os industrializados. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. A fiscalização é falha. Dos 50 defensivos mais usados em nossas lavouras, 22 são proibidos na União Europeia. Isso pode? 6. Todo dia, em média, oito ônibus são incendiados ou depredados nas grandes cidades do Brasil. É no ônibus que se despeja a ira contra qualquer coisa - de aumentos de passagens a balas perdidas, falta de passarelas, mortes de jovens, condições de presídios, descaso com saneamento. Vandalizar os ônibus não é protesto legítimo. Isso não pode. 7. Um caminhão com a caçamba levantada derrubou passarela na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, matou e feriu. O motorista falava ao celular, trafegava em horário proibido e acima da velocidade permitida – como tantos, sem controle até uma tragédia acontecer. Passarelas deveriam ser mais resistentes, diante da burrice e da irresponsabilidade humanas. Nada disso pode. Continua Continuação 03/02/14 8. Mais da metade dos projetos da Olimpíada ainda não tem orçamento definido: só 24 dos 52 empreendimentos chegaram à fase da licitação, a dois anos dos Jogos. Isso pode? 9. Neymar recebeu • 10 milhões (R$ 32,7 milhões) do Barcelona mais de um mês antes da final do Mundial de clubes entre Santos e o time catalão, em 2011. Quem recebeu a grana foi a empresa do pai de Neymar. O Santos perdeu a final de 4 a 0. Neymar poderia ter entrado em campo? Por um ano e meio, Neymar jogou pelo Santos já comprometido com o Barcelona. A falta de transparência e as aparentes irregularidades no contrato derrubaram o presidente do Barça, Sandro Roseli. E, no Brasil – isso pode? 10. O deputado federal Romário foi anunciado como garoto-propaganda de uma marca de cerveja, Devassa, no Carnaval. Não se sabe se a escolha foi resultado de sua foto de mãos dadas com uma transexual operada. A morena não importa. Deputado federal pode fazer propaganda de cerveja? No Brasil, pode... Aqui pode tudo! 05/02/14 4850 RICARDO BOECHAT Governo Fio da meada Ministro do Trabalho até março de 2013, Brizola Neto afirma que o governo precisa investigar se as irregularidades na pasta alcançaram os serviços de qualificação profissional. “Caiu misteriosamente o valor da hora-aula, de R$ 10 para uns R$ 6. A queda afasta das licitações boas organizações técnicas e abre as portas para tudo, inclusive à entrada de escolas desqualificadas. O setor tem orçamento anual próximo a R$ 500 milhões.” Brizola Neto está certo de que surgirão novas denúncias de negociatas no ministério envolvendo a abertura de sindicatos. Valor Econômico 03/02/14 4851 POLÍTICA A inclusão social pela educação Por Renato Janine Ribeiro C omentei na semana passada o pacto implícito que resultou na maciça inclusão social pelo consumo, promovida pelo PT, para satisfação geral da nação - das dezenas de milhões que subiram para a classe C, podendo agora comprar todo bem de consumo durável doméstico; dos empresários que lucraram com isso; da sociedade que respirou, porque imaginem só o tamanho da violência num cenário de alto desemprego e de falta de perspectivas de ascensão social para os mais pobres. Mas alertei para os problemas do consumismo, facilitados pela forte marca do prazer em nossa sociedade. E se a inclusão - que precisa passar pela renda e pelo consumo - realmente sustentável se der pela educação? Qualquer discussão sobre a ascensão social dos pobres terá, como uma das principais respostas, a educação. Ela é muito elogiada. Mas nem sempre a sério. Às vezes é um meio de desviar a atenção de reformas econômicas e sociais que aumentem realmente a renda dos pobres. Como tudo na educação demora tempo, invocá-la pode ser um modo de jogar para escanteio as transferências de renda necessárias para extinguir, não só a miséria, mas também a pobreza. E uma boa educação custa dinheiro. Mas hoje discutirei o valor da educação, não seu preço ou custo tema que fica para outra vez. A educação dá poder às pessoas. Vivemos na sociedade mais complexa da História. Vejam: há vinte anos, a USP oferecia menos de cem habilitações (ou "diplomas") diferentes na graduação. Hoje são uns 250. Essa riqueza de cursos é um modo de formar profissionais capazes de entender a diversidade do mundo e de atuar nele. Mas, se é um modo, não é o único. As universidades federais da Bahia e do ABC fizeram experiências audazes na graduação. Apostaram no bacharelado interdisciplinar que, em vez de direcionar para uma profissão específica, busca formar alguém que, no futuro, seja capaz de reposicionar-se, de mudar seus rumos. A ideia - que já defendi em livro - é que o aluno aprenda as várias linguagens do mundo, mais que o conteúdo de cada uma delas. Por exemplo, antropologia e economia veem a sociedade de maneiras distintas. Se os futuros profissionais souberem quando precisam mudar de ferramenta mental, estarão mais aptos a lidar com o imprevisto, a diferença, a surpresa, as mudanças na vida. Preparar um jovem para as surpresas da vida Isso, também, porque cada vez menos formados trabalham na profissão que escolheram na faculdade. Engenheiros se tornam gerentes de banco, porque seu principal trunfo nem sempre é saber construir casas ou pontes, mas sim dominar o raciocínio mais prático que existe. Formados em filosofia se espalham pelas profissões, porque sabem mudar de forma de pensamento - de "paradigma", se quiserem - velozmente. Em 2007, o presidente do Conselho Nacional de Educação dizia que um terço dos formados em medicina, um dos cursos mais caros que há, não atuava como médico. Dos diplomados em direito e administração, a grande maioria trabalha em outra área. A meu ver, isso deveria reduzir o stress na escolha do curso universitário: é bem possível que meu filho ou o seu mude de rumo, na faculdade ou depois dela, e isso pode ser um êxito, não uma falha. Mas há também a educação básica. As avaliações, em especial o IDEB, permitem medir de maneira acurada as escolas do Brasil inteiro. Uma pessoa responsável deve leválas em conta na hora de escolher a escola do filho. Quem paga a escola diretamente deve cobrar-lhe resultados. Quem a paga pelo imposto, colocando o filho na escola pública, deve exigir dos governantes que tenha qualidade. Aqui há um alerta a fazer. As avaliações de desempenho das escolas se focam no êxito - ou fracasso - delas na transmissão de conhecimentos. Verificam, por exemplo, se no primeiro ano de escolaridade a criança aprendeu as Continua Continuação 03/02/14 operações básicas da aritmética, a ler e a escrever. Não medem a qualidade da formação do ser humano. Tenho uma recomendação aos pais. Quando escolhi a escola do meu filho, vi as três melhores do bairro - com base nas avaliações do Ministério da Educação - e depois as visitei. Procurei entender o projeto, a filosofia de cada uma, para além das notas do IDEB. Porque, afinal, numa cidade grande, a diferença entre as cem melhores escolas pode ser pequena. E dificilmente uma avaliação medirá se a escola forma uma pessoa ética e com iniciativa. São esses os dois pontos principais na formação de uma criança ou adolescente: deve se tornar um ser humano íntegro, e ao mesmo tempo o mais criativo possível. Mas não é tão fácil unir estas duas qualidades. Muita ênfase na iniciativa pode levar a uma formação competitiva demais - com o risco de não respeitar o outro, de atropelá-lo. E não podemos confundir o respeito aos outros com o respeito à autoridade. Nas minhas visitas encontrei um colégio que apresentava, como virtude a valorizar naquele mês, a obediência. Ora, respeito não é obediência. Respeito se dirige a todos e institui um mundo de iguais. Já a obediência geralmente é vertical, é do subordinado em relação ao superior. Uma pessoa criativa e com iniciativa deve ser respeitosa, mas será obediente? Não muito. Temos assim rumos diferentes para a educação aprimorar as pessoas, dando-lhes instrumentos para crescer na vida - e não apenas pela ascensão social. Na verdade, o mais importante da educação é o que fica dentro da pessoa: sua formação. E esta é uma das vantagens da educação, sobre o consumo, na inclusão social: o que você consome se esvai imediatamente e precisa ser substituído; já a pessoa que você se tornou não se perde. É sua para sempre. O trabalho da educação é mais consistente. Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras E-mail: [email protected] Valor Econômico 03/02/14 4852 OPINIÃO O aprendizado e o desenvolvimento Por Morten Olsen e Ria Ivandic De sites de notícias a conversas em torno da mesa de jantar, um tópico pareceu ser uma insaciável fonte de discussões no início de dezembro, quando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do Pisa 2012 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). E ficou no ar uma pergunta: deveríamos nós - economistas e autoridades governamentais - preocupar-nos com os resultados do Pisa? E, mais importante, o que esses resultados podem nos dizer sobre o presente e também sobre o mundo que virá? Há muito tempo já foi reconhecida a importância de investir em educação para estimular o desenvolvimento de um país. Após décadas de reconhecimento sobre o papel fundamental da educação, ela tornou-se consagrada como uma prioridade mundial nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Além de ter uma influência decisiva sobre a renda de uma pessoa, a educação desempenha um papel central na explicação das diferenças entre os países em termos agregados: a educação incrementa o capital humano inerente à força de trabalho, o que aumenta a produtividade do trabalho e resulta em um nível mais elevado do equilíbrio da produção (Mankiw, Romer e Weil, 1992). A educação também aumenta a capacidade de inovar no âmbito da economia, acelerando a adoção de novas tecnologias, promovendo, assim, o crescimento (Lucas; 1988). Países da Ásia com melhores desempenhos colocam ênfase na seleção e treinamento de professores, priorizando investimentos em capital humano, no corpo docente, em detrimento de ampliar o número de alunos por sala de aula. Quando essas previsões teóricas são testadas contra dados históricos, a educação é geralmente definida como a medida quantitativa de anos de escolaridade, em termos de média em toda a força de trabalho. No entanto, avaliando as realidades, é justo pensar que um ano de estudo na Etiópia é equivalente a um ano de estudo na Finlândia? Uma vez que grande parte das pesquisas concentraram-se nas medidas de escolaridade sem considerar as diferenças de realidade, os resultados das comparações empíricas entre países resultam prejudicadas. Empregando um amplo conjunto de testes internacionais para medir os êxitos dos alunos, Barro (2001) conclui que, embora tanto a quantidade como a qualidade da educação seja relevante para o crescimento econômico, a qualidade é muito mais importante. Barro conclui que, quando a qualidade da educação é levada em conta, cresce substancialmente a margem de variação entre países e dos níveis de desenvolvimento econômico. Esse resultado explica porque não conseguimos ver mudanças adequadas nas condições econômicas. A situação atual nos países em desenvolvimento é muito pior do que geralmente retratada com base apenas no número de matrículas escolares e êxito dos alunos. Embora as matrículas no ensino primário em regiões em desenvolvimento tenham chegado a 90% em 2010, acima dos 82% registrados em 1999, ainda hoje mais de 125 milhões de jovens em todo o mundo não dominam habilidades básicas de leitura e redação, das quais 61% são jovens mulheres. Além disso, muitas crianças concluem a escola primária tendo adquirido muito poucas habilidades produtivas. Parece que muitas vezes esquecemos que a educação não é um objetivo em si mesmo, mas um meio de alcançar um conjunto mais amplo de objetivos. Isso ressalta o fato de que a qualidade da educação de uma pessoa é de suma importância e não há dúvida de que o futuro do desenvolvimento tecnológico só fará crescer ainda mais o valor de uma educação de boa qualidade. E é por isso que os testes Pisa são tão importantes. Coordenado pela OCDE, o Pisa mensura as habilidades dos estudantes de 15 anos de idade em termos de leitura, Continua Continuação matemática, conhecimento científico e solução de problemas. Realizado a cada três anos e envolvendo mais de meio milhão de estudantes em 65 países, o Pisa continua sendo a pesquisa mundial mais completa na mensuração comparativa da qualidade da educação em diferentes países. Neste ano, o foco foi em matemática, uma vez que o domínio da matemática parece ser um bom indicador para prevermos participação em cursos póssecundários e rendas futuras mais altas. Mais uma vez, os tigres asiáticos, tendo à frente Xangai, China e Cingapura, dominaram em conhecimentos de matemática. Não surpreendentemente, as comparações de resultados do Pisa entre diferentes países são utilizadas como instrumentos de politização dentro dos países. Mas acima de tudo, temos de perceber que, embora haja um crescente consenso de que a escolaridade deve concentrar-se 03/02/14 mais na qualidade do que quantidade, há menos consenso quanto à forma de conseguir isso. Alguns veem o problema como resultado de financiamento insuficiente, enquanto outros gostariam de ver as escolas incentivarem alunos, funcionários e professores. Os pesquisadores do Pisa veem um foco em ambos como frutíferos. Eles enfatizam que, para todos os países, focar mais recursos nos estudantes menos privilegiados é uma forma eficaz de melhorar as notas, e eles observam que os países com melhores desempenhos, especialmente na Ásia, colocam ênfase na seleção e treinamento de professores, priorizando investimentos em capital humano de professores, em detrimento de ampliar o número de alunos por sala de aula. tempo já percebemos que a melhor maneira de produzir de tudo - de televisores a aplicativos para celulares a vacinas - é oferecer incentivos adequados. No entanto, de alguma forma, deixamos de aplicar a mesma visão ao nosso bem mais precioso, a educação de nossos filhos. Nessa linha, a atual ausência de incentivos na maioria dos sistemas educacionais é estranha. Há muito Ria Ivandic é assistente de pesquisa na IESE Business School. Seja qual for a maneira de aperfeiçoar nossos sistema educacionais, é claro que devemos fazê-lo. E quando contemplamos as maneiras de melhorar nossos próprios sistemas, que melhor maneira de aprender do que olhar ao redor do mundo para ver como outros sistemas brilham ou falham? (Tradução de Sergio Blum) Morten Olsen é professor de Economia na IESE Business School, 03/02/14 4853 O PAÍS ENTREVISTA Brian Perkins ‘O modelo de escola é autoritário’ Continua Continuação 03/02/14 Continua Continuação 03/02/14 03/02/14 4854 LEI FEDERAL EXIGE 60% DE PRESENÇA NA PRÉ-ESCOLA CAPA 03/02/14 4855 COTIDIANO Escolas de todo o país vão exigir 60% de presença na pré-escola Regra, que vale para crianças de 4 e 5 anos, está prevista em lei que passou a vigorar neste ano Medida atinge quase 5 milhões de crianças no Brasil; os casos mais graves de faltas podem render multa aos pais FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO As famílias das quase 5 milhões de crianças na pré-escola de todo o país terão uma preocupação a mais neste ano. Uma lei federal passou a exigir que os alunos nessa etapa tenham ao menos 60% de presença. Vale para crianças na faixa de quatro e cinco anos, da rede pública e particular. Em termos absolutos, o aluno não pode faltar mais do que 80 dos 200 dias letivos ou 320 das 800 horas anuais. Caso a criança ultrapasse esse patamar, pais e escolas poderão ser obrigados a apresentar explicações às supervisões municipais de ensino (que devem fazer avaliações periódicas dos relatórios da rede pública e particular). Os casos graves de faltas podem ser encaminhados ao conselho tutelar ou ao Ministério Público, segundo a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. No limite, os pais correm o risco de serem punidos com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, por descumprimento de dever inerente ao poder familiar (multa de 3 a 20 salários mínimos; isto é, de R$ 2.172 e R$ 14.480). Por outro lado, a lei federal que prevê o controle de faltas é clara em dizer que a criança não pode ser reprovada na pré-escola. A NORMA A frequência mínima está prevista em lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff em abril de 2013, que regulamenta a obrigatoriedade das matrículas no país (até 2016, todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos deverão estar na escola). A restrição às faltas não ganhou repercussão à época, mas passará a ser cobrada neste ano, segundo o Ministério da Educação e a Secretaria Municipal de Educação. Na capital paulista, por exemplo, alguns supervisores de ensino já avisaram as escolas que vão acompanhar a frequência das crianças. A restrição pode atingir, por exemplo, famílias que viajam de férias durante o período letivo --como a préescola não tem currículo rígido como do ensino fundamental ou médio, alguns pais sentem mais liberdade em não levar a criança para o colégio. Localizada na zona oeste de São Paulo, a escola Jacarandá enviou informe aos pais pedindo que sejam evitadas "faltas desnecessárias", devido à nova lei. A diretora da escola, Tania Rezende, disse, porém, serem raros os casos de crianças que extrapolem o limite de faltas. E aponta que a supervisão de ensino precisa relevar casos de problemas sérios de saúde ou de desenvolvimento. Já o diretor do colégio Equipe, no centro de São Paulo, disse que ainda não foi instruído por nenhum dirigente de ensino sobre a regra. "Como não está claro o objetivo da lei, ela fica meio inócua." À Folha o Ministério da Educação disse que a frequência foi imposta "porque não havia baliza de frequência mínima para ser utilizada por operadores do direito ou agentes públicos para atestar que o direito das crianças pequenas estavam garantidos". Até então, havia frequência mínima apenas para os ensinos fundamental e o médio (75% de presença). "A educação infantil tem currículo, objetivos", disse o secretário municipal de Educação de São Paulo, César Callegari, cuja pasta é responsável pela supervisão do ensino infantil na cidade. "A presença é importante para que o currículo seja desenvolvido." Ex-membro do Conselho Nacional de Educação e atual integrante do Conselho Estadual de Educação paulista, a pedagoga Sylvia Gouvêa afirma que o acompanhamento das faltas parece ser uma medida meritória, mas cobra que sejam divulgados explicitamente os procedimentos a serem adotados em caso de muitas ausências. 03/02/14 4856 COTIDIANO Escolas não informam sobre norma e pegam famílias de surpresa FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO Muitas famílias devem ser pegas de surpresa neste início de ano letivo devido à nova exigência sobre a frequência mínima na pré-escola. Pais com filhos na rede particular, consultados pela Folha na semana passada, disseram que não foram avisados pelas escolas sobre a nova norma federal. Quando informados pela reportagem sobre a validade da lei, os pais apresentaram opiniões distintas. Para a farmacêutica Ana Carboni, 39, mãe de uma menina de cinco anos, a medida é salutar. "Nessa idade, eles já estão na préalfabetização, então é importante um acompanhamento contínuo." Para a advogada Márcia La Laina, 40, mãe de dois filhos, a medida também é bem-vinda. "Acho fundamental que as crianças tenham frequência na escola desde cedo. Mesmo nessa idade, já é importante impor uma rotina de disciplina", afirmou. Outra mãe que desconhece a nova lei é a administradora Anna Regina Amarante, 38. Para ela, a medida voltada para alunos de quatro e cinco anos é um exagero. "Tem de haver um controle, mas acho um exagero exigir a frequência mínima de crianças de quatro e cinco anos de idade." Segundo Anna Regina, a nova regra poderá ocasionar o replanejamento de futuras viagens da família, que costuma viajar em maio ou agosto. "Para nós, as melhores viagens são as que fazemos com a família inteira. E só conseguimos conciliar isso na baixa temporada. É importante que as crianças tenham essa experiência familiar", disse. 03/02/14 4857 RIBEIRÃO Prefeituras de SP se dividem sobre aulas durante a Copa Dos 30 municípios mais populosos do Estado, 11 terão férias durante jogos Cinco prefeituras vão dispensar os alunos apenas nos dias de jogos do Brasil; duas não fecharam datas CAMILA TURTELLI DE RIBEIRÃO PRETO As prefeituras dos 30 municípios mais populosos do Estado de São Paulo estão divididas sobre o período de aulas nas escolas durante os jogos da Copa do Mundo no Brasil, que será realizada de 12 de junho a 13 de julho. para o trânsito e prejuízos ao ano letivo. Todas as prefeituras prometem cumprir os 200 dias letivos conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases --obrigatórios nos casos dos ensinos fundamental e médio. Além das prefeituras, o argumento do trânsito e da organização do país também foi adotado pelo governo paulista, segundo a responsável pelo planejamento da rede escolar e matrícula da Secretaria de Estado da Educação, Andrea Grecco. Onze prefeituras anteciparam e ampliaram o período das férias nas escolas municipais para coincidir com os jogos, enquanto seis delas ou anteciparam ou prolongaram as férias, mas sem contemplar todo o campeonato. Na rede estadual de ensino, o início das aulas foi antecipado neste ano para o dia 28 de janeiro para que as férias ocorram de 12 de junho a 11 de julho. A final da Copa é no domingo, 13. A rede estadual atenderá 4,3 milhões de alunos neste ano. Outras cinco prefeituras afirmaram que só vão dispensar os alunos ou liberar mais cedo nos dias dos jogos do Brasil, enquanto outras duas adaptaram o período do recesso escolar. Duas ainda não definiram o calendário. "É também um ganho pedagógico os alunos estarem em férias durante os jogos e não perderem dias letivos para assistir aos jogos", disse Andrea Grecco. De acordo com ela, os municípios chegaram a consultar o Estado para seus calendários. O principal argumento das prefeituras é evitar transtornos, como "Em muitas famílias há irmãos que estudam nas diferentes redes, assim como professores que lecionam no Estado e município. Por isso o interesse de combinar datas." REGIÃO Em Ribeirão Preto, os alunos não terão férias durante a Copa do Mundo. O recesso, segundo informou a prefeitura, será de 8 a 27 de julho. Na abertura do mundial, no dia 12 de junho, os alunos serão dispensados. O calendário em São Carlos também já foi definido. As aulas começam hoje e as férias serão de 30 de junho a 11 de julho. As crianças poderão assistir à final em casa. Em Franca, as aulas na rede municipal começaram no dia 28 de janeiro para que os alunos possam ser liberados das aulas nos dias de jogos do Brasil. Já em Araraquara, os alunos serão liberados uma hora antes dos jogos. Campinas seguirá o recesso do Estado. Os alunos terão um mês de férias, ao contrário do normal, de 15 dias corridos. Porém, as aulas vão até 23 de dezembro. 03/02/14 4858 RIBEIRÃO Municípios precisam cumprir 200 dias letivos previstos em lei DE RIBEIRÃO PRETO A justificativa de algumas prefeituras para não esticarem o período de férias escolares por causa da Copa do Mundo de futebol é a dificuldade de garantir os 200 dias letivos com outros eventos programados durante o ano --alguns deles locais. A preocupação da Prefeitura de Santos além da Copa, por exemplo, é com as eleições. No período, a Justiça Eleitoral usa as escolas para organizar as urnas de votação dos eleitores. O município pretende manter o ano letivo tradicional, mas vai dispensar os alunos por quatro dias antes da final do campeonato mundial, em 13 de julho. A Prefeitura de Bauru também não fez mudanças por causa da Copa. Os alunos terão aulas normalmente e só serão dispensados uma hora antes dos jogos do Brasil. Isso porque, entre os dias 3 e 15 de novembro, a cidade recebe os Jogos Abertos do Interior. Durante os 13 dias, as escolas municipais são usadas como alojamento de atletas e, por isso, as aulas serão suspensas. Já em Barretos, a prefeitura vai trocar a tradicional dispensa dos alunos da educação infantil nos dias da Festa do Peão da cidade, por folgas durante os dias de jogo. A Festa do Peão de Boiadeiro acontece de 21 a 31 de agosto. 03/02/14 4859 METRÓPOLE Das mil creches previstas até o fim do ano, governo estadual só entregou 24 Continua Continuação 03/02/14 03/02/14 4860 METRÓPOLE Continua Continuação 03/02/14 CORREIO BRAZILIENSE 03/02/14 4861 POLÍTICA LEGISLATIVO » Teste para a articulação do governo Aloizio Mercadante levará a mensagem do Executivo para a abertura do ano no Congresso e deve dividir a interlocução entre Planalto e base com Ideli Salvatti. Reforço visa a desarmar pautas bombas e evitar surpresas até a campanha ADRIANA CAITANO IVAN IUNES Rusgas com o PMDB e partidos da base fizeram Dilma Rousseff reforçar a articulação do governo no Congresso Poucas horas depois de tomar posse como ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante dará a largada oficialmente nesta segundafeira ao seu mais importante papel na função: o de articulador entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Ele será o portador da mensagem da presidente Dilma Rousseff à sessão solene de abertura do ano legislativo e será dele também o ônus de pressionar os parlamentares pela votação de temas de interesse do governo em tempo recorde. Com a Copa do Mundo no meio do ano seguida das eleições, o parlamento tem quatro meses para aprovar tudo o que deixou acumular em 2013 e ainda novas pautas apontadas por Dilma. Em reunião no fim da semana passada com os líderes do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDBAM), na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e no Congresso, José Pimentel (PT-CE), a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, deixou claro que as chamadas “pautas bombas” continuam vetadas este ano. A ideia é extinguir qualquer ideia de causar impacto nas finanças públicas, o que deixa de fora propostas alvo de pressão social que adormecem no parlamento, como as que criam um piso salarial no país para agentes comunitários de saúde e para policiais militares e bombeiros. As prioridades, de acordo com as lideranças que estavam no encontro, serão as medidas provisórias e os projetos com urgência constitucional definidos pelo Planalto, que trancam a pauta. “Já é trabalho demais para este começo de ano”, comentou Chinaglia. O ano do Congresso já inicia com 14 MPs em tramitação, sendo que nove delas passam a trancar a pauta a partir de março. A MP 625/13, que destina R$ 60 milhões para recuperar equipamentos de geração de energia elétrica a serem cedidos à Bolívia, tranca as votações da Câmara. No Senado, quem emperra as demais votações é a MP 626/2013, que abriu crédito extraordinário de R$ 2,53 bilhões para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Reforma atrasada O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDBRN), porém, tem as próprias prioridades. “Fazer andar a reforma política”, responde rapidamente ao Correio. O tema tinha sido anunciado por ele como urgente e foi colocado como necessidade número um do governo na época das manifestações de 2013, mas até agora não andou. Henrique comenta que pretende garantir a votação também de temas que não foram analisados no ano passado por falta de acordo e tempo, como o Código de Processo Civil, o orçamento impositivo e a regulamentação da PEC das empregadas domésticas, ou porque a pauta estava trancada pelo governo. Ele cita ainda importantes propostas como a do marco civil da internet, a que torna a corrupção um crime hediondo e a que cria regras nacionais para a segurança em boates e casas de espetáculo. “Mas Continua Continuação 03/02/14 tudo vai depender das urgências constitucionais que a Câmara tem que enfrentar”, diz. Na terça-feira, ele se reúne com os líderes partidários para definir a pauta dos primeiros meses deste ano atípico. No Senado, um dos temas que surgirão logo no início dos trabalhos é o projeto que cria legislação específica sobre o terrorismo, inibindo a prática sem restringir os direitos de manifestação no país. Turbulência no diálogo Esta será a segunda experiência de Aloizio Mercadante na articulação entre governo e base. Se agora ele dividirá a função com Ideli Salvatti, no passado, ele foi responsável pela liderança do governo no Senado no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006). No segundo mandato do petista, Mercadante foi líder do PT no Senado. A passagem dele pela função ficou marcada com o pedido de demissão via internet — insatisfeito com a orientação da direção da legenda, para que os senadores do partido votassem pelo arquivamento de processos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). 14 Quantidade de medidas provisórias em tramitação. Nove delas trancam a pauta a partir de março CORREIO BRAZILIENSE 03/02/14 4862 OPINIÃO Norucongo no quadrilátero ISAAC ROITMAN Professor emérito e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da UnB O leitor certamente achou estranho o título do artigo. Norucongo é uma nova palavra. Tive o cuidado de verificar no Google. A sua criação foi inspirada na Belíndia, conjunção da Bélgica e Índia, termo popularizado por Edmar Bacha em sua fábula O rei da Belíndia. Norucongo é a conjunção de outros dois países, a Noruega e o Congo. O quadrilátero se refere à forma geométrica do Distrito Federal. Este texto é inspirado no documentário Noruega e Congo no centro do Brasil, de Camila Murugussa e Jhady Arana, que utilizaram dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Na excelente obra cinematográfica, é mostrado que temos a Noruega e o Congo dentro do quadrilátero. A Noruega é representada pelo Lago Sul e o Congo pela Cidade Estrutural. A Noruega é o país que apresenta o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 0,943. O Lago Sul supera o IDH da Noruega: 0,945. Por sua vez, a Cidade Estrutural tem IDH semelhante ao do Congo, país de menor índice do planeta: 0,286. O IDH é baseado em renda, educação e saúde (expectativa de vida) e foi criado como contraponto ao indicador utilizado até então, o Produto Interno Bruto (PIB), que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. No Lago Sul, a renda per capita é de aproximadamente R$ 6 mil e a renda familiar de cerca de R$ 19 mil. Na Cidade Estrutural, a renda per capita é de R$ 300 e a familiar, de R$ 1.300. No documentário, especialistas — Julio Miragaya (presidente da Codeplan), Serguei Suarez, Herton Araújo e Marcelo Medeiros (pesquisadores do Ipea) — discutem a extrema desigualdade social do Distrito Federal, que é a maior entre as unidades federativas do Brasil. No Lago Sul, 84% dos chefes de domicílio têm curso superior, ao contrário dos baixos níveis de escolaridade da Cidade Estrutural. A grande migração que vem ocorrendo no DF e região metropolitana é também um vetor importante para a construção desses cenários tão desiguais entre duas localidades separadas por uma distância de 20km. Para agravar o problema social, os investimentos em infraestrutura (educação, saúde, segurança, transporte etc.) são maiores nas regiões cujos habitantes são de alta renda. Essa lógica perversa precisa ser revertida. A miséria e a desigualdade no Brasil são herança do período colonial escravagista. O crescimento econômico sem a repartição da riqueza em um modelo de concentração de rendas e terras, de esgotamento de recursos naturais e sem proporcionar uma educação de qualidade, provavelmente, aumentará o abismo entre ricos e pobres. Sem a reversão desse quadro, as crianças e jovens de famílias de baixa renda não terão oportunidade de terem educação de qualidade. Assim, não terão oportunidades em um mercado de trabalho justo e serão candidatos a uma vida no mundo da marginalidade. Provavelmente, estamos à beira da explosão do caldeirão social. O abismo que se alarga entre “os que têm e os que não têm” transformou o relacionamento humano em cenário de conflitos permanentes — étnicos, tribais, religiosos, nacionalistas ou meramente sociais —, enquanto os indivíduos experimentam frustração, alienação e desconforto sem-fim. Continua Continuação 03/02/14 Os recentes fenômenos sociais (manifestações nas ruas e rolezinhos), que são frutos de mobilização social e da consciência do reconhecimento dos jovens a seus direitos, expressam a insatisfação dos habitantes das populações marginalizadas e sofridas. As políticas e instrumentos de inclusão social (Bolsa Família, cotas etc.) podem amenizar a situação. Porém, políticas de longo prazo devem ser introduzidas para que essas medidas sejam extintas. O primeiro passo seria proporcionar educação básica de qualidade a todos os jovens brasileiros. Teríamos, assim, uma nova geração com oportunidade de trabalho para uma vida digna e comportamento social com solidariedade e ética. Chegamos a uma encruzilhada na evolução da espécie humana. A ameaça de cairmos numa nova idade de trevas tornou-se concreta. É importante que tenhamos a consciência de que estamos todos vivendo uma breve viagem no planeta. Nessa viagem, devemos deixar um legado virtuoso para nossos descendentes. Esse esforço de cada um de nós para a extinção do Norucongo no DF e no Brasil deverá missão prioritária. CORREIO BRAZILIENSE 03/02/14 4863 CIDADES VESTIBULAR » UniCeub divulga lista de 1.250 aprovados » Juliana Contaifer O resultado da primeira chamada do vestibular de verão do UniCeub para o primeiro semestre de 2014 já está disponível no site do Correio (www.correiobraziliense.com.br) e será publicado às 12h de hoje no portal da Universidade e nos campi da Asa Norte e de Taguatinga. As provas foram aplicadas nesse fim de semana e 4,5 mil estudantes se inscreveram para as 1.250 vagas ofertadas. Os cursos mais procurados foram o de direito, com 50 candidatos por vaga, seguido de engenharia civil e arquitetura e urbanismo. Os aprovados devem comparecer ao câmpus para o qual prestaram o vestibular em 6 e 7 de fevereiro, entre 8h e 20h, munidos de cópias autenticadas do certificado de conclusão do ensino médio e histórico escolar, documento de identidade, título de eleitor, Cadastro de Pessoa Física (CPF) e Certidão de Nascimento ou Casamento. Também precisarão levar uma foto 3x4 colorida e recente e prova de que está em dia com as obrigações militares. A efetivação da matrícula depende da entrega do comprovante de conclusão de ensino médio, que pode ser feito até o meiodia de 12 de fevereiro. Para aqueles que foram aprovados mas ainda não terminaram o ensino médio, é possível optar por uma matrícula provisória. Basta comparecer ao câmpus nos mesmos dias que os demais aprovados para assinatura de um termo de compromisso de entrega dos documentos que provam a conclusão do ensino médio e o pagamento da primeira parcela da mensalidade. Se houver vagas remanescentes, a segunda chamada será divulgada em 8 de fevereiro, depois das 12h. Os estudantes podem também conferir o gabarito do vestibular no site da universidade (www.uniceub.br), que já está disponível. JORNAL DE BRASÍLIA 03/02/14 4 8 6 4 DO ALTO DA TORRE JORNAL DE BRASÍLIA 03/02/14 4865 PONTO DO SERVIDOR MILENA LOPES Atenção, professores aposentados! O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) convoca os aposentados para uma reunião, quinta-feira, às 14h, no auditório do Sinpro (SIG, Quadra 6, Lote 2.260) para discutir estratégias de luta para a categoria. JORNAL DE BRASÍLIA 03/02/14 4866 BRASIL Continua Continuação 03/02/14 JORNAL DE BRASÍLIA 03/02/14 4867 BRASIL JORNAL DE BRASÍLIA 03/02/14 4868 ECONOMIA Continua Continuação 03/02/14 JORNAL DE BRASÍLIA 03/02/14 4869 CIDADES JORNAL ALÔ BRASÍLIA-DF 03/02/14 4870 BRASÍLIA Apenas 7% das creches foram concluídas JORNAL ALÔ BRASÍLIA-DF 03/02/14 4871 BRASÍLIA Calendário para a Copa Continua Continuação 03/02/14 05/02/14 4872 PODER por Denize Bacoccina Influência ampla Casa Civil Ministro-chefe da Casa Civil desde a segunda feira 3, Aloizio Mercadante se consolida como o novo homem forte da Esplanada dos Ministérios. Além de ocupar o posto mais próximo da Presidência, responsável pela coordenação dos demais ministros, Mercadante mantém sua influência nas pastas que ocupou. Na Educação, quem assume é o secretário-executivo José Henrique Paim, a exemplo do que ocorreu no Ministério da Ciência e Tecnologia, herdado por Marco Antonio Raupp. Sobre a mesa de Mercadante, na Casa Civil, repousam dois abacaxis deixados pela antecessora Gleisi Hoffman: os marcos regulatórios das concessões de ferrovias e do arrendamento de portos. 05/02/14 4873 Assédio moral Xingou e foi afastado Em uma decisão raramente vista no País, a Justiça do Trabalho determinou a demissão ou afastamento do diretor-geral da Anhanguera Educacional, de Sorocaba (SP), Adriano Pila. Ele foi acusado de ter chamado alguns de seus subordinados de “incompetentes”, “lesmas”, “burros” e “vagabundos”. A empresa poderá ter de pagar uma multa de R$ 10 milhões e indenização por dano moral coletivo. 4873 A SEMANA 02/02/14 4874 ECONOMIA Brasileiros gastam quase meio bilhão de dólares para estudar fora Continua Continuação 02/02/14 02/02/14 4875 ECONOMIA Mochila digital CELSO MING Há 60 anos - os coroas se lembram disso - a novidade nas listas de material escolar era a caneta tinteiro. Nos anos 50, apareceram as esferográficas e já não era preciso enfrentar derrames desastrosos de tinta e o emprego dos mata-borrões. Agora, a novidade é mais clean e mais cara: os tablets. Mesmo que persista certa desconfiança de familiares e professores sobre o uso de dispositivos eletrônicos móveis na sala de aula, gestores do ensino público e particular começam a correr atrás da adaptação do conteúdo didático para formatos digitais, uma vez que, antes mesmo de largar as fraldas, um número cada vez maior de crianças já tem mais o que fazer com os dedinhos do que roer unhas. Para o ano letivo de 2014, o Ministério da Educação (MEC) aplicou R$ 67 milhões em ferramentas digitais complementares aos livros impressos. Essa quantia corresponde a 6% do total de R$ 1,1 bilhão gasto por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em material dos ciclos Fundamental e Médio (veja o gráfico). O edital de compra para 2015 já prevê a aquisição de livros digitais e obras multimídia, com vídeos, animações, mapas interativos e outros recursos associados aos textos escritos. O diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rafael Torino, avisa que aí vai um primeiro sinal: "Este é um processo gradual de inserção digital. Não será obrigatório e não será uma substituição pura e simples dos livros impressos". Em 2013, também foram repassados R$ 140 milhões para as redes estaduais para a compra de 460 mil tablets para professores do Ensino Médio. E aí está mais um obstáculo a ser enfrentado. Não é qualquer professor que sabe lidar com essas modernidades. Na rede privada de ensino, cada vez mais as escolas deixam aos alunos a escolha entre livros digitais ou impressos. Mas as estratégias variam de instituição para instituição. No Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, por exemplo, para cada R$ 1 destinado à compra de computadores, tablets e lousas digitais, outros R$ 5 são investidos na capacitação dos professores, que se reúnem em grupos destinados a aprender o uso dessa tecnologia. Em Brasília, o Centro Educacional Sigma investiu cerca de R$ 3 milhões, não só na aquisição de equipamentos e softwares, mas também na melhoria das instalações elétricas e na distribuição de sinal de internet sem-fio. A lista do material escolar do Ensino Médio se limita a um caderno de anotações e ao tablet, equipamento que leva a vantagem de poder ser usado nos anos seguintes. Para Dilermando Piva Júnior, autor do livro Sala de Aula Digital, a maioria das escolas e das editoras não está preparada para a mudança. "Não basta colocar o livro no tablet, é preciso planejar e desenvolver conteúdos específicos", observa. A presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, acredita que a transição para formatos digitais é irreversível, mas ainda não passou de algumas escolas do eixo Sul e Sudeste. "É o Brasil. Enquanto há escolas passando para o 3D, alguns Estados ainda não têm cobertura de banda larga"... / COLABOROU DANIELLE VILLELA CORREIO BRAZILIENSE 02/02/14 4876 VESTIBULAR PROVAS NO UNICEUB O vestibular de verão do UniCeub foi aplicado ontem a 4.147 candidatos que disputam 1.250 vagas nos 25 cursos de nível superior da instituição. Direito, engenharia civil e arquitetura foram os mais concorridos, com 50, 15 e 12 candidatos por vaga, respectivamente. O secretário-geral, Maurício Neves, espera que o nível das notas de corte subam mais neste ano. “A última seleção da UnB aprovou mais candidatos de outros estados do que o normal, por isso, a expectativa é que mais estudantes capacitados tentem o vestibular do UniCeub”, afirma. A lista de aprovados estará disponível aos candidatos a partir do meio-dia de segunda-feira, nos câmpus da faculdade. As aulas começam em 12 de fevereiro. CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 02/02/14 4877 OPINIÃO JORNAL DE BRASÍLIA 02/02/14 4878 OLHO NO ECA JORNAL DE BRASÍLIA 02/02/14 4879 CIDADES 01/02/14 4880 EDITORIAL Ministério sob medida para palanque eleitoral Dilma e PT demonstram que não passarão a faixa presidencial sem muita luta. Afinal, muitos interesses se cristalizaram nestes três mandatos consecutivos Em discurso de improviso para prefeitos paraibanos, em março do ano passado, a presidente Dilma confessou que “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”, para em seguida ressalvar que, “no exercício do mandato, temos de nos respeitar”(...). A frase presidencial ganhou o merecido destaque na imprensa, e agora ela volta à lembrança no momento em que Dilma começa a executar a reforma do ministério. O objetivo é adequá-lo às eleições deste ano, um pleito estratégico, quando o PT, depois de completar o recorde de 12 anos no poder por meio do voto direto — Getúlio permaneceu 15 consecutivos, mas com um período ditatorial entre eles —, tenta completar o ciclo de meia geração no Planalto. Se a presidente começa ou não a “fazer o diabo”, ainda será discutido. Mas ela e o PT demonstram que não passarão a faixa presidencial sem lutar bastante. Afinal, muitos interesses cristalizados nestes três mandatos consecutivos estão em jogo. Apenas em “cargos de confiança” são mais de 22 mil. Há muitos companheiros amparados na máquina pública. Mesmo funcionários concursados. O afastamento da ministra Helena Chagas da Secretaria de Comunicação serve de barômetro. Sua substituição pelo porta-voz da Presidência, Thomas Trauman, é interpretada como o atrelamento do canal de comunicação do governo com a sociedade — e respectiva verba de publicidade — à campanha. Subordinar o governo às eleições de outubro é o que se deve mesmo esperar. As mudanças começaram pelo núcleo petista da administração, o qual, é claro, se mantém sob controle do partido: Aloizio Mercadante na Casa Civil, com a saída de Gleisi Hoffmann para disputar o governo do Paraná; Arthur Chioro, secretário de Saúde de São Bernardo, no lugar de Alexandre Padilha, escalado por Lula para conquistar enfim a cidadela tucana do Palácio dos Bandeirantes; e José Paim, petista com experiência em tocar o MEC como secretário-geral desde 2006, em substituição a Mercadante. A fase da reforma que se inicia agora requer jogo de corpo — não é o forte da presidente —, fígado forte e cérebro ágil. Será a hora de intensas barganhas — no sentido exato da palavra — no balcão de negociações fisiológicas, bastante familiar ao lulopetismo. As contas feitas e refeitas no Planalto consideram os minutos na propaganda eleitoral dita gratuita que poderão ser somados ou subtraídos em função de adesões ou deserções. E no centro do quebra-cabeças está o PMDB, especialista em ter poder sem mandato presidencial. Com cinco ministérios, o partido quer, no mínimo, preservar o espaço. Mas Dilma precisa retribuir a neoaliados, como PROS e PSD. Pelo jeito, haverá choro e ranger de dentes. PT e presidente não podem cometer erros graves. Pois a conjuntura econômica não é favorável e pela primeira vez, nestes 12 anos, uma dissidência do seu campo político vai às ruas disputar votos. Tensões à frente. 01/02/14 4881 OPINIÃO Falta de educação PAULO SARDINHA Levantamento indica que 38% dos nossos universitários são analfabetos funcionais Entre os desafios atuais da gestão com pessoas está o de contribuir para o aumento da produtividade das organizações. Como produzir melhor é uma questão urgente, ainda mais quando pesquisas como a do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/ FGV) apontam que somente com uma alta média de 3% ao ano na produtividade do trabalho será possível a economia brasileira crescer na casa de 4% ao ano. Para piorar esse cenário, há estudos que colocam o país entre os últimos na América Latina neste quesito. Para as empresas, o dilema é visto do seguinte ângulo: como implementar uma cultura de alto desempenho? Desafios assim exigem rapidez de resposta das organizações, principalmente para aquelas que querem aproveitar as oportunidades que surgem com a Copa e as Olimpíadas. Entretanto, a mudança cultural passa necessariamente pelo sucesso do engajamento das pessoas. Não há como negar que o desempenho da empresa está diretamente relacionado ao comprometimento dos funcionários. Fazer com que as pessoas deem o melhor de si — porque são estimuladas pelos objetivos da empresa, facilitando, assim, o trabalho no regime de colaboração e integração — é vital para alcançar os resultados desejados. Entretanto, a produtividade não depende apenas de engajamento, mas também da capacidade de cada profissional. Por mais que as empresas invistam em ferramentas e programas que valorizem os colaboradores, a falta de mão de obra qualificada tornou-se um dos principais empecilhos para o aumento da produtividade. Há iniciativas para tentar minimizar esse cenário. As próprias empresas vêm, cada vez mais, investindo em qualificação, seja financiando a graduação ou pósgraduação de funcionários, a concretização de parcerias com faculdades, a criação de suas universidades corporativas, além da realização periódica de cursos de atualização profissional. Infelizmente, as deficiências são ainda mais básicas em um país que tem, segundo o IBGE, 13,2 milhões de analfabetos. E levantamento do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa indica que 38% de nossos estudantes universitários são analfabetos funcionais. São pessoas que entram no mercado de trabalho com dificuldade para realizar tarefas simples como a leitura e compreensão de um texto ou um cálculo matemático. Por maior que seja o comprometimento dos setores de RH com os resultados que as empresas devem alcançar — e esse será justamente um dos pontos do RH Rio, em maio —, as ações terão resultados limitados enquanto a educação persistir como um dos principais problemas no país. Enquanto nossos índices continuarem próximos dos de países subdesenvolvidos, não haverá engajamento suficiente que impulsione o crescimento das organizações. 01/02/14 4882 COTIDIANO Com interdição, início das aulas na USP Leste continua indefinido DE SÃO PAULO Os cerca de mil novos alunos dos dez cursos oferecidos pela USP Leste terão de esperar para saber quando começarão a estudar. Embora o início das aulas na universidade esteja marcado oficialmente para o dia 17, ainda não há definição sobre a data de retorno das atividades na unidade da zona leste da capital. O campus está fechado por determinação da Justiça desde o mês passado devido a contaminação ambiental. O problema é a presença no solo de gás metano, que é tóxico e explosivo, proveniente do lixo orgânico presente no terreno onde a universidade foi construída. Antes disso, as aulas já haviam sido suspensas por causa da má qualidade da água e da infestação de ácaros. De acordo com a assessoria de imprensa da Each (Escola de Artes, Ciência e Humanidades), nome oficial da unidade, o objetivo é que "as atividades no campus retornem o mais brevemente possível e em total segurança para os seus usuários". MATRÍCULA Também em razão da interdição, os aprovados em primeira chamada nos cursos da unidade terão de fazer a etapa presencial da matrícula no prédio Faculdade de Saúde Pública, na região central. O processo ocorre próximos dias 12 e 13. nos Segundo a assessoria do campus leste, os novos alunos serão orientados no ato da matrícula e "qualquer novidade em relação a um possível retorno ao campus será amplamente divulgada". A universidade informou, também via assessoria, que sua procuradoria-geral "tem atuado, do ponto de vista jurídico, para a liberação da área". 01/02/14 4883 METRÓPOLE CORREIO BRAZILIENSE 01/02/14 4884 Operação Gota d’Água Suspeitos em liberdade A Justiça determinou a soltura dos seis suspeitos de desviar R$ 8 milhões da Secretaria de Educação. O dinheiro era destinado à Associação Assistencial de Santa Maria, mantenedora da Creche Gotinha de Luz, na cidade. A cofundadora da instituição Eunice Alves da Silva Costa; a diretora do conselho fiscal, Miraci Oliveira Marques; a presidente, Marieta Cortes Ferreira; e a filha dela Tatiana Cortes, à época diretora administrativa da creche, deixaram o Presídio Feminino, no Gama, por volta das 22h30. Os investigados Paulo Henrique Braga Barbosa, 43, e Roberto Airton Rodrigues Braga também ganharam a liberdade. Os seis foram presos na última quartafeira durante a Operação Gota d’Água, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), na qual é apurado um desvio de parte dos R$ 19 milhões repassados à creche pela Secretaria de Educação entre 2004 e 2011. O titular da Deco, Fábio Sousa, disse que não vai pedir a prorrogação das prisões. “Conseguimos ouvir muitas pessoas relacionadas ao inquérito, e os seis não apresentam mais ameaça para as investigações”, disse. CIDADES CORREIO BRAZILIENSE 01/02/14 4885 CIDADES REDE PÚBLICA » Temporários reforçam ensino Secretaria de Educação anuncia a contratação de 4,5 mil professores para o reinício das aulas. Os quase 500 mil alunos das 291 escolas voltam às aulas na próxima quarta-feira. De acordo com a pasta, os colégios passaram por reparos para o retorno dos estudantes » ANA POMPEU É hora de organizar as mochilas e separar o uniforme. Na próxima quarta-feira, os estudantes da rede pública de ensino voltam às aulas. O número não está fechado, mas chega a quase meio milhão de alunos. A Secretaria de Educação estima que 471 mil tenham efetivado a matrícula. Não só as crianças e os adolescentes devem estar prontos para o retorno. Para recebê-los, as escolas também se prepararam. A secretaria garante que está tudo em dia para receber os alunos. O Secretário de Educação, Marcelo Aguiar enfatizou duas frentes de ação do governo: a estrutural e o quadro de professores. “Mas o mais importante de todo esse processo é que conseguimos atender 100% da demanda para os ensinos fundamental e médio. E temos condições de receber os estudantes”, garante. Na questão de infraestrutura, a pasta focou na operação de reparos e de manutenção das unidades de ensino, como em todo início de ano. De acordo com o secretário, 291 escolas receberam as equipes contratadas para os consertos, que incluem pintura, instalações elétricas, hidráulicas, troca de vasos sanitários, torneiras, bebedouros e, em um dos casos, do piso do banheiro. “Não é uma grande reforma, mas vamos entregar tudo funcionando. Varia de escola para escola. Estamos atendendo aquelas que mais precisam, que solicitaram”, explica o secretário. Outras unidades passam por reformas mais radicais. Pelo menos três delas serão reconstruídas. Por isso, os estudantes foram transferidos para outros prédios. Marcelo Aguiar defende também que, ao contrário de anos letivos anteriores, este começará com o quadro completo de professores. “Estamos contratando 4,5 mil temporários para substituir as licenças do corpo docente. Minha equipe me garantiu que não teremos problemas com falta”, enfatiza. Ele lembra ainda a convocação do concurso da secretaria. Neste mês, mais 711 profissionais foram chamados. Mesmo assim, o secretário ressalta na importância dos temporários. “Num universo de 30 mil, eles são necessários para casos especiais. Não fossem as contratações, eles teriam que ser 7 mil”, calcula. Dívidas Ao mesmo tempo em que o secretário enumera as ações para o sucesso da volta às aulas, o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) indica questões que podem ser problemas para o retorno à rotina das comunidades escolares. O diretor do Sinpro, Cláudio Antunes, explica que, por enquanto, a entidade teve o retorno apenas de alguns diretores de escolas. Pais e alunos devem se manifestar quando voltarem para a escola. “Nós temos, sim, problemas com a estrutura de escolas. Elas não receberam a verba do PDAF (Programa de Descentralização Administrativa Financeira) agendada para o fim do ano passado. Assim, muitas unidades estão endividas ou com falhas na estrutura. A verba será liberada agora, mas atrasada e em parcelas”, afirma o diretor. Para ele, os repasses feitos pelo GDF não estão de acordo com as necessidades das unidades. “Escolas com 3 mil estudantes devem receber algo em torno de R$ 25 mil, o teto do repasse. Elas estão habituadas a receber R$ 500 mil. É irrisório”, analisa. Em relação ao número de professores, o sindicato também tem preocupações. “A convocação dos efetivos foi pequena. O volume da rede é muito grande. Na disciplina que chamamos Atividades é onde temos a maior carência”, afirma, referindo-se aos professores que lecionam até o 5° ano do ensino fundamental. JORNAL DE BRASÍLIA 01/02/14 4886 CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 01/02/14 4887 CIDADES