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II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA
ANÁLISE DO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO E DIAGNÓSTICO SÓCIOECONÔMICO DOS MUNICIPIOS ÁGUA FRIA E PADRE BERNARDO NAS
FRONTEIRAS DO NORDESTE GOIANO1
Prof. Dr. Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira2
Pollyanne Moises de Souza Ferreira3
INTRODUÇÃO
O referido trabalho teve como objetivo identificar os elementos fundamentais que
caracterizam o uso, a ocupação e o processo de evolução dos municípios Água Fria e Padre
Bernardo, situados no Entorno do Distrito Federal, bem como avaliar os resultados e a eficácia do
enfoque regional na pesquisa, tendo como suporte teórico-metodológico a linha constituída por
Barreira (2002) denominada de “Geografia Regional do Município”.
Seguindo esta trajetória coube, em nosso trabalho, verificar os diversos componentes,
variáveis e indicadores que dão especificidades aos municípios pesquisados, ao mesmo tempo que
inseridos no contexto regional, nacional e mundial.
Para efetuar a análise do processo de apropriação do espaço é preciso compreender os
componentes de ordem natural e social. Pois, sabemos que o espaço geográfico é físico, social,
político, econômico e simbólico-cultural. E é neste espaço que o sujeito atua, produz e constrói sua
história, condicionado é claro, às relações de produção, que bem retratam a dimensão social.
Mas, não basta compreender os elementos naturais separados dos sociais. É preciso
entender a interdependência da Natureza-Sociedade, bem como o relacionamento entre seus
componentes. Porque é a partir dessa realidade interdependente que o espaço geográfico é
produzido historicamente.
Essa compreensão permitiu-nos identificar os elementos fundamentais que caracterizam o
uso e a ocupação territorial dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, bem como a análise de
suas dinâmicas espaciais, as especificidades sócio-econômicas e paisagísticas perante o contexto
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Relatório de Pesquisa
Professora do curso de Geografia do IESA, Universidade Federal de Goiás.
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Aluna do curso de Geografia do IESA, Universidade Federal de Goiás e bolsista PIBIC.
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regional, a dimensão de sua articulação na rede espacial, e o contexto territorial urbano sob a lógica
do capital.
Para avaliar a dimensão das potencialidades e vulnerabilidades paisagísticas, fez-se
necessário a elaboração de mapas temáticos que representassem o meio físico. Para tal, adquirimos
os mapas através do SIG-Goiás, e tratamos as informações utilizando programas de
geoprocessamento. As informações foram reunidas em um quadro síntese tendo por base os tipos
de solos, os quais foram devidamente caracterizados com os elementos do meio físico
predominantes (vegetação, geologia, geomorfologia etc).
A partir da compreensão dos elementos norteadores na estruturação da paisagem – que foi
possível através das correlações espaciais de suas características dominantes, relacionamos o meio
físico com o processo de ocupação e com as principais atividades econômicas nos municípios Água
Fria e Padre Bernardo, que são a agricultura e a pecuária. O entendimento desta relação – NaturezaSociedade, aliado aos dados referentes à população e a produção, atenta-nos a questão sócioambiental, presente no processo de adequação e apropriação do espaço natural numa região que tem
sido caracterizada como fronteira.
Essa dinâmica capitalista, que permite a articulação com diversos setores produtivos e
financeiros, tem estabelecido uma nova configuração no território urbano. Procuramos então,
analisar o processo de urbanização e a organização do espaço urbano nos municípios Água Fria e
Padre Bernardo, e o seu grau de inserção em escala regional.
- COMPREENSAO DO MEIO FÍSICO NATURAL
Ressaltando, a compreensão do meio físico natural é indispensável no estudo do espaço
geográfico. É através da correlação do natural e do social que se obtém a visão de totalidade do
espaço que é construído e transformado pelo homem, através de seu trabalho.
Diante disso, elaboramos mapas que representam os componentes do meio físico natural
dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, para realizar a leitura e interpretação das informações
georreferenciadas. Os mapas elaborados foram os de solos, vegetação, altimetria, hipsometria,
geomorfologia e uso do solo.
A primeira etapa constituiu em identificar as quadrículas que os municípios em estudo estão
inseridos e adquiri-las via SIG-Goiás. Após formar um mosaico, com as quadrículas sd22zb,
sd22zd, sd23ya e sd23yc, destacamos apenas os municípios Água Fria e Padre Bernardo para
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trabalharmos com os dados e as informações existentes, utilizando o programa ArcView. A
finalização dos mapas (formatação, legenda, escala gráfica e localização de área) foi realizada no
programa Corel Draw.
Feito isso, procuramos correlacionar espacialmente os solos com os demais elementos
naturais representados nos mapas elaborados. A base desta correlação foi delimitada a partir dos
tipos de solos. Assim, cada classe de solo foi representada com as características dominantes do
relevo, das feições mórficas, da geologia, da vegetação, do potencial e das vulnerabilidades no uso.
Para facilitar a análise elaboramos um quadro síntese elencando todas essas correlações.
Assim, podemos tecer as seguintes considerações:
Os solos são resultantes de determinadas formações geológicas. Neste caso, temos
formações do mesoproterozóico e do Terciário/Quaternário, representados pelos Grupos Canastra e
Paranoá. Os principais solos destas formações são os Latossolos e o Cambissolo.
Observando os mapas percebemos que o latossolo é o mais usado para agricultura. Nem
sempre foi assim. Por causa do intenso intemperismo a que são submetidos, a maior parte dos
latossolos são pobres em nutrientes vegetais, sendo considerados até pouco tempo como
problemáticos para a agricultura, devido sua baixa fertilidade natural e grande susceptibilidade à
erosão. Com a política de desbravamento do cerrado e os avanços tecnológicos relacionados ao
emprego adequado de corretivos de acidez do solo (calcário) e adição de fertilizantes de tipos e
quantidades adequadas, pôde-se obter excelentes resultados com a atividade agrícola em áreas de
latossolos. Soma-se a isso, o relevo plano e suave ondulado favorável a mecanização.
Consequentemente tem-se o aumento da produtividade, o que torna este solo bastante procurado.
O Cambissolo é um solo sem grande desenvolvimento de horizontes, e o relevo, geralmente
com acentuado declive, torna-o num solo não muito próprio para a agricultura. No entanto, é
propício à pastagem. De forma mais específica:
- O solo dominante em Água Fria de Goiás é o Cambissolo, de textura argilosa e média, com
caráter cascalhento. A área do Cambissolo pode ser dividida em dois principais segmentos de
relevo, que são reprentados pelas cotas entre 700 e 900m e as de 900 a 1100m. Em geral, o declive
é acentuado, perpassando o suave ondulado ao montanhoso;
- A segunda maior ocorrência é a de Latossolo Vermelho-Escuro, seguido do solo litólico. O LE
apresenta textura argilosa a muito argilosa e o relevo é plano e suave ondulado apesar de as cotas
altimétricas serem entre 700 e 1100m. O Solo Litólico apresenta textura média, caráter cascalhento
e relevo forte ondulado a montanhoso, de topo aguçado, com cotas que variam entre 900 e 1300m;
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- Os solos que compõem o relevo plano são o Gleissolo, Solo Aluvial, Solo Petroplíntico e
Podzólico Vermelho-Escuro;
- De todos estes, os solos que apresentam aptidão para lavoura com potencial de mecanização e
irrigação são o Latossolo Vermelho-Escuro e o Podzólico Vermelho-Escuro, sendo recomendado a
cultura anual de ciclo curto. Atualmente a área de LE é utilizada para a agricultura comercial, e o
PE como pastagem plantada;
- O cambissolo é o único em Água Fria utilizado como Pastagem Natural;
- As áreas utilizadas como pastagens plantadas correspondem ao Gleissolo (que também é usado
pela agricultura comercial, apesar de não recomendado), ao Solo Aluvial, ao Solo Petroplíntico e ao
PE.
- O Solo Litólico é utilizado como área de preservação, que também é uma aptidão do Cambissolo.
- Em Padre Bernardo os solos dominantes são o Cambissolo (textura argilosa e média, caráter
cascalhento) e os Latossolos (textura muito argilosa e argilosa). O Cambissolo tem maior ocorrência
na porção leste, sendo representado pelas cotas entre 700 e 900m de altitude. E em menor grau,
pelas cotas entre 500 e 700m. O relevo destas áreas é ondulado e forte ondulado, com morros de
topo tabular e convexo. Há ainda relevo de morros e colinas com topo aguçado em altitudes de 900
a 1100m. O Latossolo Vermelho-Amarelo ocorre, predominantemente, em altitudes entre 700 e
900m, num relevo plano e suave ondulado. O Latossolo Vermelho-Escuro é encontrado em cotas
que variam entre 500 e 700m, próximo ao LA, e entre 1100 e 1300m circundado pelo Solo Litólico.
- O Solo Litólico, com relevo de morros e colinas e de forte controle estrutural, predomina em
altitudes entre 1100 e 1300m. Porém, chega a alcançar 1500m.
- Os Podzólicos são os que menos ocorrem no município. O Podzólico Vermelho-Amarelo é
encontrado próximo ao LE, apresenta textura média e argilosa, relevo suave ondulado e ondulado
(500-700m). Já o Podzólico Vermelho-Escuro é uma estreita faixa entre o Cambissolo, com relevo
suave ondulado e ondulado em altitudes entre 700 e 900m.
- Os Latossolos Vermelho-Amarelo e Vermelho-Escuro são os que apresentam aptidão para lavoura
de cultura anual e são propícios à mecanização e irrigação. Atualmente estes solos são utilizados
para a agricultura comercial e pastagem plantada.
- Os podzólicos possuem aptidão para a lavoura, sendo recomendado a cultura anual para o PA, que
apresenta boa propensão à mecanização e regular à irrigação, e a cultura permanente para o PE, com
restrição à irrigação e regular propensão à mecanização. No entanto, estes solos são utilizados como
pastagem plantada.
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- O Cambissolo é usado como pastagem natural e área de preservação.
- O Solo Litólico, com o uso agrícola desaconselhável é utilizado como preservação.
- Tanto em Água Fria como em Padre Bernardo, o Solo Litólico é usado como preservação
devido às restrições geológicas e geomorfológicas no que diz respeito à produção agropecuária. Sua
litologia é formada por quartzito, calcário e outros, além do que, o relevo é forte ondulado com a
presença de morros de topo aguçado.
Nesta etapa da pesquisa nos limitamos estudar as propriedades dos solos e seus afins, de
forma a facilitar a análise do perfil sócio-econômico dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, de
caráter eminentemente agropecuário. Fica assim, para a etapa posterior um estudo mais amplo e
detalhado dos componentes naturais como a vegetação, o clima, rede de drenagem entre outros,
fundamentais no estudo da paisagem.
ANÁLISE DO PROCESSO DE POVOAMENTO
Segundo Gomes (1993) o povoamento do estado de Goiás se deu de forma lenta por etapas
distintas, coincidindo com os seguintes fatores:
- corrida do ouro (séc.XVIII);
- agropecuária tradicional (séc. XIX E XX);
- colonização espontânea e oficial (primeiras décadas do séc. XX);
- garimpagem de pedras preciosas e cristal de rochas (séc. XX);
- ferrovias e rodovias de integração nacional (séc. XX);
- expansão recente da fronteira agrícola baseada nas culturas da soja e cana-de-açúcar e na pecuária
melhorada.
A relação homem-natureza no processo de povoamento pode ser vista nos fatores acima
destacados. A corrida do ouro e a garimpagem de pedras preciosas estão intimamente ligadas a
determinadas litologias; a agropecuária está relacionada, principalmente, aos solos e aos recursos
hídricos; e a implantação de ferrovias e rodovias depende da disposição do relevo.
Destes
fatores, ao menos três fazem parte da dinâmica demográfica dos municípios Água Fria e Padre
Bernardo, situados no entorno do Distrito Federal.
- Água Fria
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Água Fria de Goiás fazia parte do município Planaltina, que nasceu sob influência da
exploração do ouro há 100 anos antes da construção de Brasília. Na década de 1960, quando foi
estabelecido o quadrilátero para o Distrito Federal, Planaltina, até então nas proximidades da
Capital Federal, teve sua sede transferida para a fazenda Brasília. E em meados da década de 1980,
a porção norte do município, uma área correspondente a 2.029.406 Km², foi desmembrada dando
origem ao município de Água Fria de Goiás. Essa fragmentação, possivelmente, deu-se pelo
irregular ritmo de crescimento entre uma área e outra. Vejamos como essa diferença refletiu-se na
população:
POPULAÇAO TOTAL DOS MUNICÍPIOS ÁGUA FRIA E PLANALTINA 19802005
1980
Água
-
1991
1996
2000
2001
2002
2003
2004
2005
3.976
3.771
4.469
4.527
4.573
4.621
4.722
4.778
40.201
58.576
73.718
77.882
80.770
84.043
90.914
94.717
Fria
Planaltina 16.178
Fonte: SEPLAN, 2006
Ademais, levando em consideração algumas características do meio físico como o potencial
hídrico e as transformações que ocorrem no campo desde a década de 1970, afirmamos que um dos
motivos do povoamento e urbanização em Água Fria foi a recente expansão da fronteira agrícola
com a exploração de lavouras comerciais. Em linhas gerais, o povoamento dessa área surgiu com a
necessidade de mão-de-obra dedicada à produção agrária e a urbanização, consequentemente, sob a
necessidade do fornecimento de meios de consumo pessoal e produtivo.
- Padre Bernardo
A ocupação do território de Padre Bernardo teve início no século XIX, com o
estabelecimento das primeiras fazendas de criação de gado às margens do rio maranhão. “Pelo
menos 20% das cidades goianas e tocantinenses surgiram de sedes de fazendas, em torno das quais
o lugarejo surgia e prosperava, em terrenos menos acidentados do que o relevo das cidades oriundas
da mineração. Este fator facilitou o crescimento e o desenvolvimento da cidade de origem
agropecuária... Para sair da estagnação econômica em que as regiões de Goiás e Tocantins se
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achavam, os seus habitantes encontraram a solução na roça e na criação extensiva, já que
dispunham de imensos espaços favoráveis à atividade agropastoril tradicional.” (GOMES, 1993;
p.71)
A emancipação do município Padre Bernardo, até então pertencente ao município de
Luziânia, deu-se no início da década de 1960, período em que teve início a construção da capital
federal, e junto a ela rodovias de integração, consideradas um importante fator de povoamento. As
rodovias atraíram trabalhadores de diversas regiões e também formas mais modernas do
capitalismo, que ao penetrarem no campo deram lugar a uma nova dimensão na principal atividade
econômica em Padre Bernardo. A pecuária passa da forma tradicional para uma forma “melhorada”
atendendo às exigências do mercado.
Além do fator econômico não podemos esquecer da importância da função religiosa no
processo de povoamento do município Padre Bernardo, que em meados da década de 1930, a
tradicional festa em louvou ao Divino Espírito Santo atraía romeiros de regiões vizinhas. Assim
podemos dizer que o aumento do rebanho e dos fiéis ocasionou o crescimento do município.
A DINÂMICA SÓCIO-ECONOMICA NO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
A dinâmica sócio-economica de um lugar é resultado de uma série de fatores, como
localização geográfica, recursos naturais, políticas públicas e, principalmente, o impacto do
capitalismo, que atinge os lugares de formas e intensidades diferenciadas. Todos esses fatores
refletirão na organização do espaço, e consequentemente nas relações de produção e na distribuição
e evolução da população sobre o território, o que dá uma nova dimensão ao urbano. De acordo com
Santos (1992), “o espaço é um sistema complexo, um sistema de estruturas, submetido em sua
evolução à evolução das suas próprias estruturas”. (p.16)
Dentre as estruturas do espaço, atemos-nos as estruturas demográficas, econômicas e suas
interações para entender o processo de urbanização dos municípios Água Fria e Padre Bernardo.
O município Água Fria foi fundado sob uma região agrícola, no final da década de 1980.
Sua população inicial, conforme o censo de 1991 era de 3.976 habitantes, sendo 76% da zona rural.
Neste período as formas mais modernas do capitalismo penetravam no campo, e ao mesmo tempo
em que havia um aumento na produção, a distribuição da população sobre o território estava sendo
alterada. Isso se deve ao fato de que os pequenos agricultores, incapazes de acompanhar a lógica do
mercado, foram expuslos do campo e obrigados a vender seu trabalho para os empresários do
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campo em grandes plantações de soja e milho, ou então se aventurarem em pequenas ativiadades no
pacato aglomerado urbano.
Ao obsrvarmos o gráfico populacional do município, percebemos
que, entre 1991 e 1996, a população rural decresce consideravelmente em relação à urbana. Com
isso podemos afirmar que o exôdo rural foi o grande fator de urbanização em Água Fria.
Nestes 5 anos (1991-1996), a população total diminuiu em 6%, o que nos leva a crer que
houve um deslocamento, principalmente da população jovem, para os centros regionais, em busca
de estudo e emprego.
POPULAÇÃO - ÁGUA FRIA DE GOIÁS
5.000
4.000
3.000
Total
2.000
Urbana
1.000
Rural
0
1991
1996
2000
2001
2002
2003
Fonte: Seplan
A partir do ano 2000, a população total, assim como a rural e a urbana entra em uma
estabilidade, que pode ser entendida tanto como um equilíbrio nas relações sociais de produção ou
como uma estagnação social e econômica, já que o município até hoje, apresenta sua população
rural consideravelmente maior que a urbana.
Padre Bernardo apresenta uma trajetória temporal mais abrangente, porém, devido à
carência de dados tomamos como referência a partir de 1980, período em que as transformações
sócio-econômicas provenientes da construção de Brasília já completavam duas décadas. O
município participou diretamente dessas transformações, a qual repercutiu em sua estrutura
populacional, assim como em todos os municípios limítrofes com o Distrito Federal. Conforme os
dados referentes a 2003, a população total destes nove municípios no Entorno de Brasília somam
658.090 habitantes e a população urbana ultrapassa consideravelmente à rural. No caso de
Valparaíso a população rural é nula. É seguindo esta lógica que em 1980 a diferença entre a
população urbana e a rural em Padre Bernardo não ultrapassa 5%, e já em 1991 a população urbana
é maior.
POPULAÇÃO – PADRE BERNARDO
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25.000
20.000
15.000
Total
10.000
Urbana
Rural
5.000
0
1980
1991
1996
2000
2001
2002
2003
Fonte: Seplan
Em relação à dinâmica populacional do município Padre Bernardo, consideramos relevantes
os seguintes dados:
- entre 1980 e 1996 a população rural somente decresceu;
- a população urbana teve maior crescimento entre 1980-1991 e 1996-2000;
- a maior taxa geométrica de crescimento, 6,25% foi entre 1996-2000;
- a partir do ano 2000 a população rural volta a crescer e a população total tem um crescimento
lento, considerando os intervalos anteriores.
A partir desses dados percebemos que as maiores alterações na população do município
Padre Bernardo aconteceram entre 1996 e 2000. Já que o capitalismo atinge os lugares de formas e
em tempos diferenciados, foi nesse período que houve uma maior integração dos espaços,
juntamente com novas formas de produção e novas relações sociais de produção, que culminaram
no aumento da população total, através da migração de trabalhadores oferecendo mão-de-obra e de
novos investidores, já que as condições estavam sendo criadas.
A estrutura econômica dos municípios em estudo, segundo os dados do setor produtivo
apresentam algumas especificidades em comum e outras distintas. O que Água Fria de Goiás e
Padre Bernardo têm em comum é a economia de caráter agropecuária e a rede de articulação
espacial, sendo o escoamento da produção direcionado ao Distrito Federal concretizando a
estratégia do capital de distribuição das atividades produtivas e da população. O que difere é a
intensidade e os efeitos dessas relações perante o contexto regional, onde o grau de inserção em
escala regional repercute na organização do território urbano destes municípios.
A produção de grãos em Padre Bernardo não teve aumento significativo no período entre
1991 com aproximadamente 18 toneladas e 2003 com pouco mais de 20 toneladas. E a área (ha)
destinada à produção agrícola diminuiu neste período. Porém, o forte do município é a pecuária,
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estando em 2002 no ranking entre os 50 maiores rebanhos bovinos do Estado de Goiás, com
120.000 cabeças.
O município Água Fria tem como forte a produção de soja, milho e feijão. Apesar da
redução da área de cultivo entre 1991 e 2003 houve um considerável aumento na produção,
passando de pouco mais de 20.000 toneladas em 1991 para mais de 80.000 toneladas em 2003. Já o
efetivo da pecuária teve em 2002 44.136 cabeças de gado.
Arrecadação do ICMS (R$ mil)
2000
Água Fria
Padre
Bernardo
2001
2002
2003
2004
315
237
611
1.354
961
1.249
1.343
2.578
11.225
3.339
Fonte: Seplan
O setor secundário representado pela indústria de transformação, de construção e outras
atividades industriais são pouco expressivas em ambos os municípios. O setor terciário representado
pelo comércio, serviços e administração pública, em Água Fria é representado por pequenos
comércios varejistas que atendem a demanda local. E em Padre Bernardo é o setor majoritário,
concentrando 81% da população ocupada.
Estas informações nos mostram a dimensão urbana dos municípios em estudo, pois o
ordenamento e a dinâmica territorial urbana dependem de como se reproduz as relações sociais de
produção e a força de trabalho. Cabe então, na próxima etapa do trabalho estudar os efeitos dessas
relações, como as desigualdades sócio-espaciais, a articulação da cidade com os diversos setores
produtivos e o uso do solo urbano.
COMENTÁRIOS FINAIS
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Nesta fase da pesquisa buscamos compreender a apropriação espacial dos municipios Água
Fria e Padre Bernardo através de alguns fatores históricos geográficos e econômicos. A saber, a
dinâmica ambiental aliada à dinâmica do capital estruturou estes lugares sob determinadas formas e
relações de produção, responsáveis pelo ordenamento territorial, dinâmica demográfica, níveis de
integração sócio-espaciais, relação campo-cidade e funções urbanas.
A principal característica desta região no leste goiano, mais especificamente, no entorno de
Brasília é justamente a integração espacial que os municípios do entorno mantêm com o Distrito
Federal. Essa integração permite a articulação entre diversos setores produtivos e financeiros e é o
que define o grau de inserção de um município em escala regional.
A partir dessas considerações percebemos que a localização é um fator determinante,
diferenciando dentro de uma mesma região os efeitos dos fluxos ligados à produção,
comercialização e serviços.
Pelo viés da desigualdade sócio-espacial o modo de vida em Água Fria de Goiás está à
margem do contexto regional, sendo que nas proximidades do Distrito Federal há intenso
movimento de pessoas e mercadorias, desencadeando num processo de urbanização cada vez mais
acelerado, o que não acontece no município.
Padre Bernardo limita-se geograficamente com o Distrito Federal e apresenta uma via de
acesso direto à Brasilia, o que acelerou o processo de urbanização desde a década de 1980. Porém, a
produção agropecuária em expansão torna este processo um pouco mais complexo, já que a
população tende a se ocupar em atividades tanto urbanas quanto rurais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA
BARREIRA, celene Cunha Monteiro Antunes Barreira. Vão do Paranã – a estruturação de uma
região. Brasília: Ministério da Integração Nacional/UFG, 2002
DEUS, João Batista de. As atuais transformações estruturais na economia goiana e os seus
desdobramentos nas mudanças socioespaciais. In: ALMEIDA, Maria Geralda (org.) Abordagens
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GOMES, Horiestes e NETO, Antônio Teixeira. Geografia: Goiás/Tocantins. Goiânia: UFG, 1993
NETO, Antônio Teixeira. O território goiano: formação e processo de povoamento e urbanização.
In: ALMEIDA, Maria Geralda (org.) Abordagens geográficas de Goiás: o natural e o social na
contemporaneidade. p:177-196. Goiânia: IESA, 2002
SANTOS, Milton. Espaço e Método. 3° edição, São Paulo: Nobel, 1992
SEPLAN, Anuário Estatístico do Estado de Goiás. Goiânia, 1992
SEPLAN, Anuário Estatístico do Estado de Goiás. Goiânia, 2003
TEIXEIRA, Renato Araújo. Formosa: portal do nordeste goiano ou pólo regional no entorno de
Brasília? Goiânia: IESA, 2005
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econômico dos municipios água fria e padre bernardo na