ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, VIDA MENOS DOLOROSA
Cada vez mais frequentes no meio em que vivemos, as dores crônicas constituem uma
grande ameaça à qualidade de vida da população. Alteram negativamente o sono, o apetite, a
libido e as atividades profissionais, familiares e sociais. A alta prevalência dessas dores,
caracterizadas por uma duração igual ou maior que 6 meses, explica-se pelos hábitos de vida
adotados no mundo ocidental moderno: alimentação inadequada, inatividade física, uso de
fumo e álcool e rotina estressante. Devido ao grande impacto que as dores representam à
saúde humana, seu tratamento e prevenção têm sido abordados frequentemente pelos
veículos midiáticos, como em uma recente publicação da revista Viva Saúde.
Elementos como alergias alimentares, estresse oxidativo, inflamação, alteração da
permeabilidade intestinal e disfunção mitocondrial têm tido suas presenças descritas em
diversas formas de dor crônica, como fibromialgia, dor miofascial e cefaleias. Todos esses
fatores são influenciáveis pela dieta, conferindo à Ciência da Nutrição grande potencial ao
tratamento e à prevenção destas moléstias.
Alergias alimentares são cada vez mais frequentes em um meio no qual a alimentação
é monótona e baseada em alimentos com alto potencial alergênico, como laticínios, derivados
do trigo e da soja. Em casos de enxaqueca, é necessário considerar também a possibilidade
de reação adversa a aminas biogênicas presentes em frutas cítricas, abacaxi, abacate e
bebidas fermentadas, como a octopamina e a tiramina.
A excessiva ingestão de aditivos químicos, gorduras trans e saturadas e alimentos de
alto índice glicêmico, assim como a vida estressante e o contato constante com toxinas
ambientais tornam o mundo ocidental contemporâneo extremamente inflamatório e oxidante, o
que é refletido na alta prevalência de dor crônica nesse meio. Alimentos como frutas,
hortaliças, temperos naturais como alho e cúrcuma, peixes e cereais integrais têm potencial
anti-inflamatório e antioxidante, sendo assim, benéficos no tratamento e na prevenção das
dores.
A integridade intestinal é importante para a saúde do corpo como um todo, já que uma
permeabilidade alterada do intestino pode aumentar a absorção de toxinas e proteínas intactas,
gerando assim uma resposta inflamatória crônica que contribui para o surgimento ou piora do
quadro doloroso. Uma correta oferta de micronutrientes, fibras solúveis e glutamina, bem como
de compostos bioativos (a exemplo da curcumina), contribuem para um bom perfil da
microbiota e da mucosa intestinais.
A mitocôndria é a organela encarregada da geração de energia dentro de uma célula.
Situações em que este elemento tem sua função reduzida podem desencadear entre outros
problemas, a dor crônica. Mitocôndrias necessitam de vitaminas do complexo B, coenzima
Q10, magnésio, vitaminas e minerais antioxidantes, entre outros nutrientes para um bom
funcionamento. Tais substâncias são escassas nos alimentos mais consumidos em nosso
meio, como pão branco, bebidas açucaradas e laticínios. São, porém, abundantes em frutas,
hortaliças, cereais integrais e ovos.
Dores crônicas ameaçam a qualidade de vida da população, e o aumento de sua
prevalência é preocupante. Alterações dos hábitos alimentares são indispensáveis para a
mudança deste quadro, e dependem de um intenso trabalho de educação nutricional.
Texto adaptado por Fabiana Belini
Nutricionista FB Aldeota
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