Centro de Estudos de Arquitectura Paisagista
Prof. Francisco Caldeira Cabral
Instituto Superior de Agronomia
Análise Biofísica
Clima
Na região Norte o clima é muito diversificado e deve-se essencialmente à conjugação de três
variáveis fundamentais: a orografia, a proximidade do oceano e a latitude.
A influência da latitude é frequentemente perturbada pela morfologia do terreno, sendo que a altitude
e a exposição das encostas explicam frequentemente a existência de contrastes climáticos bruscos
entre zonas adjacentes.
A região de Trás-os-Montes encontra-se sob a influência do maciço galaico-duriense que impede a
penetração de massas de ar húmido oceânico para o interior. Assim, a quantidade de precipitação
diminui de Poente para Nascente, embora se produzam variações locais devidas à altitude. Ainda
nesta região verifica-se que, de Norte para Sul, a temperatura aumenta, o ar torna-se mais seco e o
número de dias de geada diminui.
Na
região
de
Trás-os-Montes
é
possível
identificar
regiões
climaticamente homogéneas
frequentemente denominadas por Terra Fria e Terra Quente, em que o factor de diferenciação é,
como o próprio nome indica, a temperatura. É possível também distinguir uma região de transição
entre estas.
As cidades de Chaves e Vila Real encontram-se na zona de transição, já que a sua temperatura
média anual se encontra entre os 12,5 -14ºC, mas a cidade de Vila Pouca de Aguiar e as serras do
Alvão, Marão e da Padrela inserem-se na Terra Fria.
Estas regiões estão intimamente relacionadas com a altitude, sendo que a terra de transição se
encontra geralmente entre 350/400 metros e os 600 metros de atitude, e a Terra Fria se inicia
geralmente a partir dos 600 metros.
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Terra Fria, Terra Quente e zona de transição.
MONTALEGRE
BRAGANÇA
CHAVES
VILA POUCA DE AGUIAR
M. DOURO
MIRANDELA
RIO
DOURO
MOGADOURO
VILA REAL
MONCORVO
TERRA FRIA
LAMEGO
TERRA QUENTE
ZONA DE TRANSIÇÃO
O clima da área em estudo pode ser descrito por meio dos dados obtidos nas estações
meteorológicas de Chaves, Vila Real e Pedras Salgadas, e nos postos udométricos de Vidago e Vila
Pouca de Aguiar.
Temperatura
Estações
Climatológicas
Temperatura
média anual (ºC)
Temperatura
média mês
mais frio (ºC)
Temperatura
Mês mais
frio
média mês
mais quente (ºC)
Mês mais
quente
Chaves
12,5
5,3
Dezembro
20,6
Julho
Pedras Salgadas
12,1
6,0
Janeiro
20,3
Julho
Vila Real
13,4
6,4
Janeiro
21,4
Julho
Verifica-se então que a temperatura média anual aumenta de Chaves para Vila Real, aumentando
também a temperatura média do mês mais frio. O facto da temperatura média do mês mais quente
não aumentar também de Norte para Sul (com a temperatura de Pedras Salgadas mais baixa que a
temperatura de Chaves) terá a ver com fenómenos orográficos locais.
O mês mais frio em Chaves é Dezembro enquanto que nas outras duas estações climatológicas é em
Janeiro, no entanto o mês mais quente é, em todas, em Julho. Refere-se a grande amplitude térmica
da região que expressa o carácter pouco moderado do clima.
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Precipitação
Estações
Climatológicas
e Postos
Udométricos
Precipitaç
ão total
(mm)
Chaves
715,2
Vidago
765,9
Pedras
Salgadas
Vila Pouca de
Aguiar
Vila Real
1041,8
Meses
Precipitação
Mês com
Precipitação
Mês com
máxima
maior
mínima
maior
(mm)
precipitação
(mm)
precipitação
107,9
Janeiro
14,3
Julho
114,8
Fevereiro
11,6
Agosto
147,0
Janeiro
12,2
Julho
219,8
Fevereiro
19,7
Julho
165,5
Fevereiro
14,2
Julho
secos
Julho e
Agosto
Julho e
Agosto
1503,7
1128,1
Julho e
Agosto
Da análise do quadro anterior verifica-se que a precipitação diminui de Poente para Nascente, ou
seja, de Vila Real para Chaves. A excepção é Vila Pouca de Aguiar, que apesar de se encontrar mais
a Nascente que Vila Real tem precipitações mais elevadas devido à sua altitude.
Outras variáveis climatológicas
Estações
Climatológicas
Chaves
Pedras
Salgadas
Vila Real
Humidade
Insolação
relativa do ar
total
(%)
(horas)
63-78
Neve
Nevoeiro
Geada
Granizo
( nºdias/ano)
( nº dias/ano)
( nº dias/ano)
2 318,8
32,5
55,5
0,5
1,1
56-71
2 423,8
21,6
124,8
2,7
8,4
63-86
2 435,2
20,6
32,4
2,6
3,6
( nº
dias/ano)
O clima desta região é considerado em termos gerais húmido, com o período da tarde mais seco e
quente que o período da manhã. Em termos de insolação, ou seja, do número de horas de sol por
ano, esta é menor a Norte, em Chaves, e aumenta para Sul até Vila Real. É no entanto de referir que
este fenómeno não está apenas relacionado com a latitude mas também com a
localização
depressionária da cidade de Chaves, que conduz à existência de nevoeiros frequentes especialmente
no inverno. Em situações de continentalidade como as que se observam na área em estudo os
nevoeiros são mais frequentes nas zonas de vale e da parte da manhã.
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Os ventos dominantes nas estações climatológicas de Chaves e Vila Real são do quadrante
Sudoeste, são geralmente fracos verificando-se situações de calmaria frequentes. Em Pedras
Salgadas, a maior altitude, os ventos dominantes são do quadrante Sul, são mais fortes e as
situações de calmaria são muito menos frequentes.
Pode-se concluir a abordagem dos fenómenos climáticos expressando as características mais
importantes do clima, que influenciam obrigatoriamente a vivência do espaço na área em estudo.
Assim, a região onde se desenvolve o eixo Chaves - Vila Pouca de Aguiar - Vila Real é caracterizada
por Invernos frescos e Verões moderados, amplitudes térmicas elevadas que resultam num clima
pouco moderado a continental, níveis de precipitação elevados no Inverno e ocorrência significativa
de orvalho e geada. Nas zonas mais altas, a partir dos 800 metros, é de prever a ocorrência de queda
de neve.
Da classificação climática de Koppen resulta que na região em estudo se verifica a presença de um
clima mesotérmico húmido, com estação seca no Verão, sendo que o Verão é pouco quente mas
1
extenso .
Geologia
A região Norte é, na sua maior parte, constituída por solos antigos cujo substrato pertence à Zona
Centro Ibérica do Maciço Hespérico, que é considerado a ossatura central da Península Ibérica.
A região em estudo insere-se na Sub-Zona da Galiza Média e Trás-os-Montes, caracterizada pelo
predomínio dos maciços de granito, de vários tipos e idades. Esses maciços graníticos surgem a par
de formações metassedimentares mais antigas e também das formações de recobrimento mais
recentes.
Os granitos caracterizam-se por dar origem a um relevo característico que se desenvolve em
patamares ou terraços, enquanto que nos xistos ocorrem as variações mais bruscas de orografia.
As formações de recobrimento, resultado da erosão e depósito em zonas depressionárias, surgem no
sopé de zonas escarpadas, ao longo das linhas de água e, com maior expressão, na Veiga de
Chaves. Nas linhas de água surgem depósitos modernos aluvio-coluvionares e na Veiga de Chaves,
de solos altamente produtivos,
verifica-se a existência de depósitos de terraços do período
plistocénico.
1
Adaptado de IP3, Scut Interior Norte – lanço Chaves ( Fronteira) / Vila Real ( IP4), vol. 4 – Estudo de Impacte Ambiental,
4.2. – Relatório Base, p.IV. 28.
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Entre Chaves e Vilarinho das Paranheiras é o subtracto xistoso que prevalece, observando-se a
presença de arenitos, calcoxistos e xistos negros do Sílurico. Este é o substracto que prevalece
também nas serras da Pardela e do Alvão.
A partir de Vilarinho das Paranheiras e no vale onde se desenvolve a antiga linha de comboio
prevalece o subtracto granítico. Aqui, o granito biotítico em geral de grão médio a grosseiro e
porfiróide é o subtracto dominante.
Entre Parada de Aguiar e Tourencinho, no denominado vale de Vila Pouca de Aguiar, surge uma
zona depressionária caracterizada pela existência de formações de recobrimento, novamente
depósitos de terraços do período plistocénico.
De Tourencinho a Vila Real são novamente os granitos, desta vez granitos de duas micas de grão
médio a grosseiro, porfiróides, que prevalecem como substracto dominante.
As principais linhas morfológicas da região de Trás-os-Montes são mais ou menos paralelas e de
orientação NNE - SSW. É com esta orientação que surgem as serras que limitam a área em estudo.
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Geomorfologia
A geomorfologia da região entre Chaves e Vila Real é caracterizada essencialmente por uma
situação de montanha, constituída pelas serras da Padrela e Falperra a Nascente e pelas serras do
Alvão e do Marão a Poente. A serra da Padrela atinge 1147 metros de altitude máxima, a serra do
Alvão sobre até aos 1329 metros de altitude enquanto que na serra do Marão se atingem os 1415
metros. À situação de montanha contrapõem-se vales profundos e férteis por onde correm as linhas
de água da região e onde se pratica uma agricultura geralmente intensiva, como aqueles onde se
localiza a área de estudo.
Este sistema de serras integra-se no Planalto Transmontano, sendo que as serras de Nascente e de
Poente são interrompidas por um fosso tectónico originado por um sistema de falhas e abatimentos
de blocos. A Falha de Vila Real é a principal fractura da região, e é a responsável pelo referido fosso
por onde corre a antiga linha de comboio.
Esta falha atinge uma extensão longitudinal de cerca de 500 Km e é a sua conjugação com outras de
direcções diferentes que permite a ocorrência dos fenómenos hidrogeológicos que se observam na
região, nomeadamente a existência de importantes nascentes minerais e termais.
As localidades de Chaves, Campilho, Vidago, Salus e Pedras Salgadas constituem uma importante
rota no panorama das nascentes de água mineral do país, sendo que os principais centros
hidrotermais da região são Chaves, Vidago, e Pedras Salgadas. Sabroso era também um centro
hidrotermal que actualmente se encontra desactivado. As águas de Campilho tem como finalidade
exclusiva o engarrafamento.
Características hidrotermais de alguns dos centros termais existentes na região:
Termas
Caracterização
bioquímica
Bicarbonatada,
Caldas de Chaves
sódica, fluoretada,
Indicações terapêuticas
Aparelho digestivo,
doenças reumáticas e
denças musco-
gasocarbónica
Bicarbonatada,
Termas de Vidago
sódica, ferruginosa,
fluoretada,
Utilização
Banhos, ingestão.
esqueléticas.
Aparelho digestivo,
respiratório, pele, sistema
nervoso.
gasocarbónica
Banhos, ingestão,
engarrafamento.
Termas de Pedras
Bicarbonatada,
Aparelho digestivo,
Banhos, ingestão,
Salgadas
sódica, ferruginosa,
doenças metabólico-
engarrafamento.
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fluoretada,
endócrinas.
gasocarbónica
O fosso tectónico referido conduz à existência de depressões ou vales preenchidos por depósitos de
cobertura de natureza aluvionar ou resultantes da meteorização. A depressão de Chaves é um
exemplo deste fenómeno.
A depressão de Chaves tem cerca de 10 Km de comprimento e 5 km de largura máximas. A sua
região central, de solo aluvionar profundo e fértil é denominada a Veiga de Chaves e
nela se
encontra o Rio Tâmega, uma linha de água pouco encaixada. A região Sul desta depressão é
fechada pelo levantamento do bloco granítico de Santa Bárbara, que obriga o rio a encaixar. A sul de
Santa Bárbara individualizam-se as bacias hidrográficas de Vidago e de Pedras Salgadas.
A bacia de Vidago corresponde a um vale de fractura. A bacia de Pedras Salgadas, de direcção de
Norte para Sul, estende-se até Vila Pouca de Aguiar e é limitada a Nascente pela serra da Padrela e
a Poente pela serra do Alvão.
Na bacia de Vila Pouca de Aguiar localiza-se o troço mais a montante do rio Corgo, que acompanha a
antiga linha de comboio e passa mais a jusante por Vila Real. Esta bacia é limitada a Nascente pela
serra da Falperra e a Poente pela serra do Alvão. Nestas serras observam-se afloramentos e blocos
de granito que acentuam a rusticidade da paisagem.
A sul de Vilarinho de Samardã e até Vila Real o relevo suaviza-se e a altitude baixa atingindo-se a
altitude média de 450 metros nesta cidade. O rio Corgo encaixa-se no fundo deste vale e a Serra do
Marão encontra-se a Poente.
Solos
Os solos transmontanos são geralmente delgados e pobres, frequentemente sujeitos a fortes
fenómenos erosivos, consequência, quer das formações geológicas dominantes, quer da orografia.
Predominam na região transmontana os terrenos do precambrico-arcaico e os granitos, na zona em
estudo são frequentemente granitos.
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Nas zonas de montanha o solo é frequentemente erosionado pela precipitação e o substrato rochoso
encontra-se à vista. Aqui os solos são, como já foi referido, delgados e pobres, Cambissolos e
Leptossolos. São solos de fraca aptidão agrícola.
Os Cambissolos húmicos de origem granítica são os mais abundantes na área em estudo, ocorrendo
normalmente em zonas planas ou de declive moderado, húmidas e de altitude. Os Cambissolos
húmicos de origem xistenta surgem apenas junto a a Vilarinho das Paranheiras.
Os Leptossolos são solos delgados, com espessura inferior a 50 cm, que ocorrem pontualmente na
área em estudo, especialmente mas zonas em que o substrato é o xisto e o declive é elevado.
Nas zonas de vale e especialmente na veiga de Chaves e entre Parada de Aguiar e Tourencinho - as
zonas depressionárias mais importantes - surgem fluvissolos dístricos (ácidos), originados pela
acumulação de sedimentos transportados pela água.
Existem também fluvissolos dístricos associados às principais linhas de água e seus afluentes, rio
Tâmega, ribeira da Oura, rio Avelâmes e rio Corgo. Estes solos, de elevada espessura e fertilidade,
possuem grande aptidão agrícola e são usadas nas culturas de regadio, inclusive nos lameiros.
Vegetação
A paisagem da área em estudo é caracterizada pelo domínio da ocupação agrícola do solo, que
actualmente se encontra em regressão devido ao abandono dos campos por parte de uma população
cada vez mais envelhecida.
A vegetação potencial, aquela que ocorreria naturalmente na região e que se estabelece quando os
campos agrícolas são abandonados, localiza-se actualmente em zonas de baldios e incultos e em
galerias ripícolas que acompanham as linhas de água.
As linhas e água apresentam galerias ripícolas geralmente bem conformadas e de grande interesse
em termos de paisagem e de conservação da natureza. De entre estas destacam-se as do rio Corgo,
que além disso se apresenta com fraco grau de poluição.
As espécies arbóreas dominantes nas linhas de água são os Amieiros (Alnus glutinosa), o Choupo
negro (Populus nigra) e diversas espécies de salgueiros (Salix atrocinera e Salix salvifolia, entre
outras). Em termos de andar arbustivo dominam os silvados ( Rubus sp.), ocorrendo também por
vezes o pilriteiro (Crataegus monogyna) e outras.
Existem algumas manchas florestais de maior dimensão localizadas em Vidago e Pedras Salgadas, e
outras manchas de menor dimensão que se encontram ao longo do percurso do antigo comboio. As
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manchas florestais localizadas em Vidago e Pedras Salgadas são constituídas essencialmente por
floresta mista de folhosas e resinosas, destacando-se de entre as folhosas o castanhal.
De entre as manchas de menor dimensão mas de grande importância ecológica destacam-se os
carvalhais, essencialmente de Quercus pyrenaica mas também de Quercus robur. Estes carvalhais
apresentam frequentemente um subcoberto de vegetação herbáceo-arbustiva. Os Quercus suber
ocorrem de forma pontual. Aos carvalhais de maior altitude estão por vezes associados vidoeiros, na
proximidade das linhas de água, bem como o castanheiro, a aveleira, o loureiro e o azevinho,
formando bosques mistos de folhosas.
Os matos, formações muito marcantes na área em estudo, são constituídos por tojais (Ulex sp.),
giestais (Cytisus sp. e Genista sp.), urzais ( Calluna sp. e Erica sp.) e sargaçais (Halimium allysoides),
denunciando estes últimos uma etapa muito avançada de regressão dos carvalhais. Verifica-se a
existência de algumas manchas de pinhal, Pinus pinaster em zonas de menor altitude e Pinus
sylvestris em zonas mais altas. Os castanhais ocorrem também frequentemente.
Entre Sigarrosa e Fortunho e na zona de Loivos verificaram-se dois grandes incêndios que
destruíram a vegetação existente, este último no Verão de 2002. Estes incêndios devem-se às
condições climáticas locais mas também à falta de limpeza das matas, em especial dos pinhais. Nas
zonas de incêndio a vegetação encontra-se em regeneração, sendo que as formações dominantes
são habitualmente tojais, giestais e urzais.
Da vegetação potencial fazem parte espécies perfeitamente adaptadas às condições edafo-climáticas
e orográficas locais, pelo que o seu estudo pode ser de grande importância para a vegetação a
propor. No entanto, a intervenção na paisagem poderá ser marcada também pela presença de
espécies ornamentais adaptadas às condições da zona. Para o estudo da vegetação potencial é
importante o conhecimento da biogeografia, o modo como os seres vivos se dispõem
geograficamente, e particularmente da fitogeografia, relativa à flora. A fitossociologia é o modo como
a flora surge agrupada ao nível local.
Em termos biogeográficos, a região em estudo insere-se nas seguintes categorias:
•
Reino Holártico
•
Região Mediterrânica
•
Sub-região Mediterrânica-Ocidental
•
Superprovíncia Mediterrânica Ibero-Atlântica
•
Província Carpetano-Ibérico-Leonesa
•
Sector Oresano-Sanabriense
•
Subsector Margato-Sanabriense
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Relativamente ao sector dominante e do qual decorre a maior parte da vegetação potencial, o Sector
Oresano-Sanabriense, este integra-se nas unidades biogreográficas acima referenciadas e cujas
características preponderantes e que se verificam na área em estudo se apresentarão de seguida.
A Província Carpetano-Ibérico-Leonesa é dominada pela bacia hidrográfica do Douro e inclui a maior
parte de Trás-os-Montes e uma parte significativa da Beira Alta. É limita da Oeste pelo planalto do
Barroso e pelas Serras do Alvão e Marão, pelo que a área em estudo se integra nesta unidade. Nesta
província dominam as rochas siliciosas câmbricas e pré-câmbricas, sobressaindo destas os xistos do
complexo xisto-grauváquico e os granítos hercínicos.
Na zona portuguesa desta província a vegetação potencial é constituída por carvalhais de Quercus
pyrenaica, sobreirais de Quercus suber e mais raramente azinhais (de Quercus rotundifolia). Entre as
comunidades arbustivas destacam-se os giestais e os estevais.
O sector Oresano-Sanabriense é um território supra-mediterrânico sub-húmido a húmido, que no
distrito administrativo de Vila Real inclui a Veiga de Chaves, a Serra da Padrela e a área planáltica
que se prolonga do sopé da Serra do Marão até às proximidades dos troços inferiores dos rios
Tinhela e Pinhão. Existe um elevado número de espécies de plantas vasculares cujas populações,
em Portugal, são exclusivas ou estão quase totalmente incluídas neste sector.
Os bosques característicos deste sector são de Quercus pyrenaica sendo que, à semelhança do que
acontece por todo o país, a paisagem é dominada pelos matos que são urzais, giestais e o
medronhal.
Nas galerias ripícolas dos cursos de água temporários e dos cursos de água de regime torrencial com
águas rápidas e turbulentas são constantes os salgueirais arbustivos. Os freixais foram praticamente
extintos e substituídos por prados permanentes, os lameiros. Nas margens dos lameiros abundam
silvados.
É, no entanto, de referir que a zona depressionária onde se encontra a área de estudo é o limite de
diversas unidades biogeográficas pelo que sofre a influência do Superdistrito da Terra Quente
(inserido na Província Carpetano-bérico-Leonesa mas no Sector Lusitano-Duriense) e do
Superdistrito do Alvão-Marão ( inserido no Subsector Miniense da região Eurosiberiana ). Deste facto
resulta uma distribuição da vegetação potencial por vezes complexa em determinados troços da área
em estudo. Assim, e na parte mais ocidental do distrito administrativo de Vila Real, a área de
influência do Superdistrito da Terra Quente faz-se sentir especialmente numa faixa longitudinal em
que o Quercus suber existe mas onde também se verificam matos em que dominam a Lavandula sp.
e o Cytisus sp.
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As serras do Alvão e do Marão integram-se no Superdistrito do Alvão-Marão e caracterizam-se pela
presença de Quercus robur e de Quercus pyrenaica mas também de Pinus sylvestris em altitude,
entre outras espécies.
Em termos de carvalhais, e na área de estudo, destaca-se a dominância dos carvalhais constituídos
por Quercus pyrenaica, seguidos dos povoamentos mistos de Quercus pyrenaica e Quercus robur e
finalmente de carvalhais de Quercus robur. Refira-se que este tipo de habitat, o carvalhal GalaicoPortuguês de Quercus robur e de Quercus pyrenaica que domina na Área Classificada do Sítio AlvãoMarão (a qual ainda faz parte da área em estudo) é um dos habitats considerados prioritários em
termos de conservação da natureza e como tal é de grande valor e sensibilidade ecológica. Os
sobreirais são raros ou encontram-se quase extintos, no entanto ocorrem pontualmente exemplares
de Quercus suber na área em estudo de grande porte e valor. As azinheiras não ocorrem na área da
envolvente à antiga linha de comboio.
Algumas espécies de vegetação potencial características da região em estudo:
Andar herbáceo - arbustivo
Espécie
Nome vulgar
Carex sp.
Juncus sp.
Crataegus
monogyna
Galeria
Junco
Pilriteiro
Molinia coerulea
Andar arbóreo
Espécie
Nome vulgar
Alnus glutinosa
Amieiro
Frangula alnus
Fraxinus
angustifolia
Populus nigra
ripícola
Sanguinho da
água
Freixo
Choupo negro
Salix
Rosa sp.
Rosa
atrocinera;
silvestre
Salix salvofolia
Salgueiro
e outros.
Rubus ulmifolius
Silvado
Scirpus sp.
Bunhos
Até 600
Calluna vulgaris
Urzes
metros
Chamaespartium
tridentatum
Carquejas
Cytisus sp.
Giestas
Erica sp.
Urzes
Genista sp.
Giestas
Halimium sp.
Sargaços
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Ulmus minor
Ulmeiro
Arbutus unedo
Medronheiro
Acer
campestre
Castanea
sativa
Cedrus
atlantica
Bordo comum
Castanheiro
Cedro
Cupressus
Cedro do
lusitanica
Buçaco
Pinus pinaster
Pinheiro bravo
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Lavandula sp.
Rosmaninhos
Ulex sp.
Tojos
Chamaespartium
tridentatum
A partir
de 600
Cytissus sp.
Carquejas
Giestas
Erica sp.
Urzes
metros
Genista sp.
Giestas
Halimium sp.
Sargaços
Ulex sp.
Tojos
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Quercus
pyrenaica
Carvalho negral
Quercus robur
Carvalho roble;
Quercus suber
Sobreiro
Betula
celtiberica
Pinus sylvestris
Quercus
pyrenaica
Bétula;
Vidoeiro
Pinheiro
silvestre
Carvalho-negral
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Hipsometria, Declives, Exposições e Hidrografia
Hipsometria (MDT)
Sobre a base altimétrica (curvas de nível) do IPCC à escala 1:25000, elaborou-se a carta
hipsométrica, tendo sido definidas 12 classes de altimetria entre os 0 e os 1200 metros,
correspondendo cada uma delas a um intervalo de 100 metros (Ver Figura HIP).
A partir da cartografia produzida verifica-se que a região em estudo apresenta variações
altimétricas consideráveis, motivadas pela alternância entre as cumeadas (zonas altas) e os
talvegues (zonas baixas). Devido à morfologia do terreno é possível diferenciar três situações
altimétricas específicas - as veigas de Chaves e entre Parada de Aguiar e Tourencinho, os vales
aluvionares de Vidago e de Pedras Salgadas; o sistema de serras a Nascente, e o sistema de
serras a Poente.
A primeira situação corresponde às cotas mais baixas, encontrando-se associada à presença e
acumulação de água – a veiga de Chaves e de Parada de Aguiar - Tourencinho, e aos vales
aluvionares acima referidos. É, no entanto, na veiga de Chaves que as cotas inferiores a 50m
assumem maior expressão.
A segunda situação assenta num conjunto de cotas mais elevadas correspondente às serras da
Padrela (1147m) e Falperra, a Nascente da linha férrea.
É na terceira situação que ocorrem os pontos mais altos da região, correspondendo a
configurações de relevo marcadas desta vez pelo sistema serrano das serras do Alvão (1329m) e
do Marão (1415m).
Declives
Os declives foram calculados sobre a base altimétrica (curvas de nível) do IGEOE, à escala
1:25000 e subdivididos em 5 classes de declives, apresentadas no quadro seguinte :
Classes de Declives
0 -3%
3 -8%
8 -16%
16 -25%
>25%
A sua apresentação está referenciada na Figura DEC .
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Os menores declives (0-3% e 3-8%) dominam na veiga de Chaves, que constitui uma área
aplanada de grande extensão e regularidade, na veiga entre Parada de Aguiar e Torencinho, nos
vales aluvionares do rio Tâmega, em Vidago, em Pedras Salgadas e ao longo dos seus principais
afluentes – ribeira da Oura e rio Avelãmes, e no vale do rio Corgo, em Vila Pouca de Aguiar.
Esta classe de declives está essencialmente associada a planícies aluvionares.
Nas restantes áreas, em especial entre Chaves e Vilarinho das Paranheiras, e entre Vilarinho de
Samardã e Vila Real, predominam as classes de declives de 8-16% e 16-25%, apresentado
declives máximos da ordem dos 30-40%, em que o relevo é caracterizado pela alternância das
cumeadas com os vales encaixados a muito encaixados, com vertentes declivosas.
Estes taludes encontram-se ocupados essencialmente por Pinhal Bravo e por vegetação arbóreaarbustiva de montanha.
Em ambas as classes de declives é de notar as fortes limitações à implantação de actividades
humanas, devendo a edificação ocorrer de forma pontual, e a actividade agrícola tem que recorrer
a processos de armação do terreno e a práticas culturais realizadas segundo as curvas de nível,
de modo a evitar grandes perdas de solo, tal como as que se verificam nos lameiros que
apresentam um declive médio a suave (8-16%).
Os maiores declives, superiores a 25%, são atingidos no cume das serras, em geral em encostas
modeladas em formações xistosas, como é o caso do vale muito encaixado do rio Tâmega.
Esta classe de declives é caracterizada pela grande sensibilidade à erosão, devido ao movimento
de massas superficial ou profundo, devendo por isso ser evitadas a edificação ou a falta de
vegetação. Deverão, por outro lado, ser tomadas medidas especiais que favoreçam a
estabilização destas vertentes.
A variação de classes ocorrida ao longo da linha férrea, contribui para definição de áreas com
características muito diferenciadas em termos de susceptibilidade à erosão, onde a dinâmica
fundamental é o movimento de massas superficial. Assim, no caso dos declives >25% deverão
ser tomadas medidas especiais que favoreçam a estabilização destas vertentes.
Exposições
Como é sabido, diferentes exposições solares geram microclimas distintos, determinantes no
conforto bioclimático e na natureza da vegetação a implantar.
O conforto bioclimático varia de acordo com a exposição solar das diferentes vertentes. Assim, as
vertentes expostas a Sul (no Hemisfério Norte) recebem uma maior quantidade de radiação ao
Ciclovia Chaves – Vila Real * arquitectura paisagista
Lisboa 2003
Centro de Estudos de Arquitectura Paisagista
Prof. Francisco Caldeira Cabral
Instituto Superior de Agronomia
longo do ano, aumentando esta quantidade com o declive. Enquanto, as vertentes expostas a
Norte apresentam valores muito baixos de radiação recebida, entre o Solstício de Inverno e os
Equinócios, o que as torna desconfortáveis.
Entre
os
quadrantes
anteriores,
encontram-se
valores
de
radiação
intermédios,
que
correspondem às exposições a Nascente e Poente. Nas vertentes expostas a Poente, os valores
de temperatura do ar são superiores aos das exposições a Nascente, devido ao aquecimento das
massas de ar acumulado ao longo do dia e há menor acumulação de orvalho.
Quanto ao caso em estudo, algumas situações de microclima de vale, nas veigas de Chaves e
entre Parada de Aguiar e Tourencinho e nos vales aluvionares, que são sobretudo influenciadas
pela circulação e acumulação do ar frio, durante a noite. Este microclima é caracterizado por uma
maior percentagem de humidade relativa durante a noite do que durante o dia.
Verifica-se na análise da área percorrida pela linha férrea, a predominância das encostas
expostas a Noroeste e a Oeste. Seguem-se, em termos de representatividade, as vertentes e
vales aluvionares expostos a Norte e com um nível inferior, as áreas expostas a Este e a Sudeste.
As exposições Norte, mais desfavoráveis em termos de conforto bioclimático, apresentam uma
vegetação com menos densa e de características alpinas (ex. encosta das antigas estações
Fortunho e Samardã).
Hidrografia
Em termos de hidrografia identificam-se, entre Chaves e Vila Real, quatro bacias hidrográficas
independentes, as bacias de Chaves, Vidago, Pedras Salgadas e Vila Pouca de Aguiar. Estas
bacias dispõem-se em patamares ou terraços sucessivos e possuem drenagem independente.
A grande maioria das linhas de água da região transmontana são linhas de água encaixadas em
vales profundos, caso de diversos troços dos rios e das ribeiras localizadas na área em estudo. A
excepção são as zonas de veiga, onde o depósito de produtos provindos de montante ou de
zonas de maior altitude suaviza o terreno nas zonas mais baixas.
Na bacia de Chaves a linha de água de primeira é o rio Tâmega, na bacia de Vidago encontra-se
a ribeira da Oura, em Pedras Salgadas evidencia-se o rio Avelâmes e a bacia de Vila Pouca de
Aguiar tem como linha de água principal o rio Corgo. Todas são, em última, análise afluentes do
Douro.
O rio Tâmega nasce em Espanha, passa em Chaves e em Mondim de Basto e une-se ao Douro
em Entre-os-Rios. O rio Corgo nasce no planalto de Vila Pouca de Aguiar, acompanha o traçado
da antiga linha de comboio até Vila Real, e desagua no rio Douro junto à Régua
Ciclovia Chaves – Vila Real * arquitectura paisagista
Lisboa 2003
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Análise Biofísica