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junho de 2013
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Terminais
querem ampliar
uso da ferrovia
Produção de açúcar
na safra de 2012/2013
SP
MG
GO
MS
A ocorrência de problemas logísticos no escoamento da safra de açúcar até o Porto de Santos depende cada vez mais de quanto dessa carga chega à região por trem
11,6%
3,3%
1,6%
Fonte: Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio (MDIC)
CARLOS NOGUEIRA
P
FERNANDA BALBINO
DA REDAÇÃO
elo menos 25
milhões de toneladas de
açúcar serão
exportadas
ainda neste
anopelos portos brasileiros. O volume corresponde a
mais de 70% da produção total
dessacommodity na região Centro-Sul do País. A maior parte
desta carga deixará o Brasil pelo
Porto de Santos, que será responsável por escoar 17,6 milhõesde toneladas, segundoprojeções da Companhia Docas do
Estado de São Paulo (Codesp),
a Autoridade Portuária.
Com um volume tão grande
a ser embarcado, ficam as
dúvidas sobre os impactos da
chegada dessas mercadorias
à região, como será o planejamento das operações e se a
infraestrutura de acesso ao
complexo portuário está preparada para recepcionar os
carregamentos. Essas questões são o tema desta segunda
reportagem da série Na Rota
do Caos, publicada diariamente
por A Tribuna nesta semana.
Uma primeira pergunta sobre a chegada dos carregamentos de açúcar ao cais santista é
exatamente qual meio de
transporte será utilizado nessas operações. Terminais especializados garantem que a carga chegará tanto pelas rodovias quanto pelos trilhos. E
que a utilização do modal ferroviário, que, em alguns casos,
responde por 50% do volume
escoado até a região, será capaz de reduzir os transtornos
dos gigantescos congestionamentos rodoviários no acesso
ao cais santista.
O açúcar é a carga de maior
volume no Porto de Santos. No
primeiro trimestre do ano, a
commodity atingiu 3,8 milhões
de toneladas. Esse número representa 99,2% acima do registrado no mesmo período do ano
passado, quando 1,9 milhão de
toneladas foram encaminhadas
ao complexo santista.
82,2%
Embarque de açúcar em terminal do Porto de Santos: complexo marítimo é líder nacional nos embarques da commodity e deve movimentar, neste ano, 17,66 milhões de toneladas
Parte desse volume foi escoada durante março, marcado por
enormes congestionamentos
na entrada da Cidade. Nesta
época, caminhões travaram o
acesso ao Porto e ao município,
transtornando profundamente
a vida de quem vive na região.
Mas dificilmente essas filas
foram motivadas pela chegada
do açúcar, tendo em vista o uso
de ferrovias no transporte até o
cais santista.
De acordo com a Autoridade
Portuária, o volume exportado
deve ser distribuído durante todo o ano, sem grandes concentrações em meses específicos.
Apenas entre agosto e outubro
o movimento deve subir, mas
sem se destacar. A estimativa é
de que, em média, cerca de 1,5
milhão de toneladas sejam escoadas a cada 30 dias.
PERFIL COMERCIAL
O mercado de açúcar tem outras características peculiares.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-
cio (MDIC), o Estado de São
Paulo, como ocorre frequentemente, foi o que mais produziu
açúcar nesta safra (2012/2013).
Sua participação chegou a
82,2%, enquanto Minas Gerais
contribuiu com 11,6%, Goiás,
3,3%, e Mato Grosso do Sul,
1,6%.
Analisando as exportações,
na safra 2012/2013, São Paulo
mantém a liderança, tendo respondidopor 60,98%dos embarques. O Paraná aparece em segundo lugar, com 10,39%, se-
guido por Minas Gerais
(9,85%), Alagoas (6,42%) e Mato Grosso do Sul (5,65%).
O principal consumidor do
açúcar brasileiro continua sendo a China. O país asiático deve
manter seu patamar de compra
neste ano, adquirindo em torno
de 10% do volume da commodity exportada pelo Brasil. Emirados Árabes e Indonésia seguem
comprando 7,7% e 6,8% do produto nacional.
Diante da importância de
São Paulo no mercado do açú-
car (o Estado também é líder
nas exportações da commodity), Santos é a principal porta
de embarque do produto no
País. Essa escolha é feita apesar
das dificuldades e da má qualidade do serviço oferecido nas
instalações santistas, segundo
agricultores e exportadores. O
que prevalece, para que essa opção seja utilizada, é a proximidade entre as zonas produtoras e o
Porto de Santos.
MELHORIAS
Segundo o diretor da União
da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Sérgio Prado, ainda há muito o que fazer no
Porto de Santos, em relação
ao escoamento da safra, principalmente quanto à agilidade dos embarques marítimos
e aos acesso ao complexo. Para ele, é preciso ampliar a
eficiência e a utilização do
modal ferroviário, sabidamente mais barato.
“Aperfeiçoar Santos e todos
os outros portos é uma necessidade reconhecida. É preciso
garantir embarques em épocas
de chuva e evitar atrasos, para
que os compromissos sejam
honrados”, afirma Prado.Ele
lembra que o carregamento
dos navios com açúcar não pode ocorrer quando está chovendo. Por isso, o executivo defende a construção de coberturas
sobre os berços de atracação
dos terminais portuários. Elas
protegeriam as embarcações –
especialmente a boca de seus
porões - das frequentes intempéries do Litoral de São Paulo.
Em Santos, um único terminal, da Rumo Logística (Grupo Cosan), está construindo
uma cobertura sobre seus pontos de atracação. De acordo
com a empresa, as obras devem ser concluídas somente
no ano que vem.
De acordo com Sérgio Prado,
o cenário só não é pior por
conta de parcerias entre as usinas e os terminais portuários
especializados. Tais acordos
permitem que as operações de
transporte até o Porto e embarque sejam planejadas em
conjunto e sempre priorizando a utilização de
trens.
Com essa integração vários carregamentos chegam à
Baixada
Santista
com a participação da
hidrovia e da ferrovia.
A expectativa nesta safra é
que haja menos 40 mil viagens de caminhões das regiões produtoras, no Interior
de São Paulo, até o Porto de
Santos.
Portos exportadores
de açucar
Exportações por Santos
em 2012
em milhões de toneladas
16,9
19,41
16,93
16,78
Santos
68,8%
17,66
Paranaguá
20,9%
13
Maceió
6,7%
2008
2009
2010
2011
2012
2013*
Recife
2,2%
Outros
1,4%
Fonte: Codesp *estimativa
Exportação anual de açúcar por local de embarque e ano-safra
na safra atual, valores atualizados até 3/2013, em toneladas
Local de Embarque
2009/2010
2010/2011
2011/2012
2012/2013
SANTOS
17.406.390
19.608.141
17.078.081
18.614.079
PORTO DE PARANAGUÁ (PR)
3.636.632
4.687.637
4.771.415
5.469.878
MACEIÓ - PORTO (AL)
1.815.070
1.859.221
1.863.346
1.704.438
RECIFE - PORTO (PE)
802.742
794.397
699.952
571.870
RECIFE - PORTO DE SUAPE (PE)
198.013
164.453
232.863
180.749
VITÓRIA - PORTO (ES)
93.572
107.893
133.476
89.035
0
102.994
0
0
SANTANA DO LIVRAMENTO - RODOVIA (RS)
20.193
18.028
34.080
27.196
NATAL - PORTO (RN)
40.000
28.000
0
0
0
16.592
37.615
5.070
75.814
127.096
94.875
129.465
CENTRO-SUL
21.232.601
24.668.381
22.149.541
24.334.722
NORTE-NORDESTE
2.855.826
2.846.071
2.796.160
2.457.056
24.088.426
27.514.452
24.945.701
26.791.778
ANTONINA (PR)
CORUMBÁ - PORTO (MS)
OUTROS
TOTAL
INFOGRAFIA MONICA SOBRAL/AT
LUIGI BONGIOVANNI
J. FREITAS/ABR
Falta planejamento estratégico, acusa ex-ministro
Parceria entre usinas e terminais visa impulsionar a utilização da ferrovia para levar o açúcar ao cais santista
❚❚❚ Os problemas de infraestrutura e logística no transporte das safras agrícolas, das regiões produtoras até o Porto
de Santos, não prejudicam
apenas agricultores, operadores e exportadores. O cidadão
comum também vive seu suplício. É ele quem enfrenta enormes barreiras para se deslocar
quando gigantescos congestionamentos paralisam as rodovias de acesso à região. Eles
são causados pelas intermináveis filas de caminhões à espera de carregar ou descarregar
no cais. E ele também pagará
todos os gastos desnecessários da cadeia logística.
A análise é do coordenador
do Centro de Agronegócio da
Fundação Getúlio Vargas
(FGV), Roberto Rodrigues,
que foi ministro da Agricultura no primeiro governo do expresidente Lula, entre 2003 e
2006. “Não há horizonte positivo para a logística brasileira a
curto prazo. O que dá para
fazer é mitigar alguns impactos de anos de falta de planejamento e investimento”.
Para Rodrigues, o maior pro-
blema para escoar as cargas é
a ausência de planejamento
estratégico. E, também, a falta
de integração entre os vários
meios de transporte para que
os produtos cheguem logo ao
Porto.
Segundo o especialista em
Logística, as alternativas escolhidas para minimizar esses
impactos precisam reduzir a
utilização de caminhões nas
operações com destino a Santos. Isto porque o complexo
santista não consegue mais
atender plenamente este meio
de transporte. Há grandes dificuldades nas rodovias de acesso à região e faltam estacionamentos para os veículos de
carga e áreas de armazenagem
para as mercadorias. Tudo isso é resultado da falta de investimentos em infraestrutura
nos últimos 20 anos.
“A agricultura sofre duas vezes. Precisa de portos para importar insumos e exportar a produção. Esse peso ainda não é
tão grande porque o preço da
soja está bom na cotação internacional. Mas a situação pode
se reverter e o produtor não vai
absorver esse prejuízo sozinho”,
destaca Roberto Rodrigues.
Para o coordenador do Centro de Agronegócio, os problemas logísticos e de infraestrutura prejudicam a competitividade da produção nacional.
Nos últimos meses, os atrasos
na chegada das cargas aos terminais levaram ao cancelamento de exportações. Em
março, no auge dos congestionamentos nos acessos ao complexo santista, dez navios chineses cancelaram seus embarques na região e se deslocaram
para a Argentina para o carregamento de soja.
CORRIDA CONTRA O TEMPO
E os problemas viários tendem
a se agravar com o aumento da
área de plantio no Mato Grosso, estado responsável por dois
terços da soja embarcada no
Porto. Até 2018, o espaço dedicado ao grão deve crescer de 7
milhões para 16,4 milhões de
hectares (de 70 mil para 164
mil quilômetros quadrados)
no estado.
Como essa ampliação deve
ocorrer em um prazo de cinco
anos, há uma luz no fim do
túnel, destaca Roberto Rodrigues. Há tempo para a construção (ou a conclusão das obras)
de rodovias e ferrovias. A implantação de armazéns nas
áreas de plantio é outra saída
que pode amenizar o problema, afirma.
Outra medida importante, a
fim de ampliar a conexão de
meios de transporte para trazer
cargas até Santos, é a construção de eclusas em usinas hidrelétricas. A obra permitirá que
trechos navegáveis de rios, separados por quedas, sejam interligados, ampliando seu potencial
como via de transporte. Também é estratégica a ampliação
de vãos de pontes, para permitir a passagem das barcaças.
Tais melhorias, porém, esbarram na burocracia do poder público e na dificuldade de
comunicação entre órgãos.
“Para mim, o grande problema
é a falta de ligação entre os
envolvidos no processo logístico. Portos, Transporte e Agricultura são pastas que precisam trabalhar juntas. Mas
quem é o ministro dos Portos?
EMBARQUE
Ninguém sabe o nome e nem a
que veio. Ele precisa intervir,
forçar o desenvolvimento de
outros modais e portos para
tirar a pressão de Santos”, explica Rodrigues.
AÇÚCAR
De acordo com o ex-ministro, o
transporte de açúcar para Santos não oferece grandes riscos
de sobrecarga ao Porto. Mas,
ele adverte sobre o aumento de
10% na safra de cana neste ano.
Apesar da maior oferta de
açúcar no País, a estrutura intermodal dos terminais especializados tem condições de minimizar os impactos do grande
movimento. Isso será possível
graças à plena utilização das
ferrovias no deslocamento da
carga das zonas de produção
até o complexo santista.
“Existe uma estrutura (logística) bem definida pela iniciativa privada. São parcerias entre
usinas de açúcar, terminais açucareiros e concessionárias ferroviárias que propiciam essa
integração, que não existe na
cadeia da soja e do milho”, afirma Roberto Rodrigues.
❚❚❚ Cerca de metade do açúcar a
granel exportado por terminais
especializados do Porto de Santos chega à região através dos
trilhos. A Rumo Logística e o
Terminal Açucareiro Copersucar (TAC) garantem que 50%
da commodity que embarcam
são entregues em suas instalações em vagões. Mas as empresasqueremaumentaressaparticipaçãodomodalferroviáriopara80%e70%,respectivamente.
No ano passado, 16,78 milhõesdetoneladasdeaçúcardeixaram o País pelo Porto. Contabilizando apenas os carregamentosagranel(excluindo,portanto, o produto movimentado
em sacos e em contêineres), foram 14,2 milhões de toneladas.
Para este ano, a expectativa da
Codespéaumentaramovimentaçãoa granelpara16,3milhões
detoneladas, 14,8%amais.
Somadas,asoperaçõesdosdois
terminais especializados equivalemàquasetotalidadedosembarques a granel. Na safra passada,
períodocompreendidoentreabril
doanopassadoemarçodesteano,
aRumoLogísticaexportou8,6milhõesdetoneladas,tantoemsacaria quanto a granel. Metade foi levadaatéàinstalaçãoportrens.
Já o TAC somou, no período,
5,2milhõesdetoneladasepretendeampliarpara7,5milhõesdetoneladas o embarque para esta safra,44% a mais. Apesardo crescimento, a empresa não prevê impactosnotrânsitodaCidade,porquejácomeçouafazerinvestimentosdeR$2bilhõesemlogística.
Entre as melhorias previstas,
estão obras nos terminais multimodais de São José do Rio Preto
(SP) e Ribeirão Preto (SP), que
vãopermitiromaiorusodotrem
no escoamento da safra até Santos. Comisso,deixarão de ser feitas 100 mil viagens de caminhão
por safra. Hoje, uma composição que sai dessa região e segue
para o Porto demora sete dias
parafazerotrajetodeidaevolta.
A maior parte do açúcar embarcado em Santos é proveniente do Interior do Estado. O
restante vem de Minas Gerais
(MG),Goiás (GO) e MatoGrosso do Sul (MS).
Segundoa RumoLogística,pelasrodoviasotempodeviagemvaria de20 a 48 horas. Jápela ferrovia, o tempo médio é de 96 horas.
Masoíndicedevecairpelametade
comaduplicaçãodaferroviaentre
CampinaseSantos,administrada
pelaconcessionáriaALL.
Um vagão pode carregar até
100 toneladas de açúcar, quantidade transportada por 3,5 caminhões. Geralmente, uma
composição tem 75 vagões, ou
seja, um trem completo equivale a 263 veículos.
“Não há horizonte positivo para a logística
brasileira a curto prazo. O que dá para fazer
é mitigar alguns impactos de anos de falta
de planejamento e investimento”
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e atual coordenador
do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas
Até dois navios com capacidade para 50 mil toneladas de
açúcar cada podem ser carregados durante um dia nas instalações da Rumo.
Na Copersucar, um cargueirodeste porte concluios embarques em até 10 horas. A empresa conta, em sua unidade portuária, com dois shiploaders.
Juntos, podem embarcar 2,4
mil toneladas por hora. O volume aumentará com a entrega
de um 3º equipamento, capaz
de embarcar mais 3 mil toneladas por hora.
A Copersucar pode armazenar até 190 mil toneladas de
açúcar a granel em suas instalaçõesnoPortodeSantos.Acapacidade será ampliada para 300
mil toneladas, o que aumentará
seu poder de embarque das
atuais 5 milhões para 10 milhõesdetoneladasporano.
A Rumo pode armazenar 500
mil toneladas de cargas em seus
terminaise embarcar,ao ano, 14
milhõesdetoneladasdeaçúcar.
Leia amanhã:
Na 3a reportagem da série,
os problemas envolvendo o
transporte rovodiário.
Criação gráfica Luiz Sérgio Moura
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