Diversificando Áreas
com Cultivo do Tabaco
uma experiência no Centro-Sul do Paraná
BOLETIM TÉCNICO Nº 74 - JULHO/11 - ISSN 0100-3054
Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
Dirk Claudio Ahrens
Rafael Fuentes Llanillo
Róger Daniel de S. Milléo
CARLOS ALBERTO RICHA
Governador do Estado do Paraná
NORBERTO ANACLETO ORTIGARA
Secretário de Estado da Agricultura
e do Abastecimento
INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR
FLORINDO DALBERTO
Diretor-Presidente
ARMANDO ANDROCIOLI FILHO
Diretor Técnico-Científico
ALTAIR SEBASTIÃO DORIGO
Diretor de Administração e Finanças
ADELAR ANTONIO MOTTER
Diretor de Recursos Humanos
BOLETIM TÉCNICO Nº 74
JULHO/2011
ISSN 0100-3054
DIVERSIFICANDO ÁREAS COM CULTIVO DO TABACO
uma experiência no Centro-Sul do Paraná
Dirk Claudio Ahrens
Rafael Fuentes Llanillo
Róger Daniel de Souza Milléo
INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ
Londrina
2011
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28/10/2011 13:54:55
INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ
Comitê Editorial
Rui Gomes Carneiro - Coordenador
Séphora Cloé Rezende Cordeiro
Telma Passini
Tiago Pellini
Editor Executivo
Álisson Néri
Revisão
Bella Artes
Ficha Catalográfica e
Normalização de Referências
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Editor de Layout/Diagramação
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Capa
Bureau Londrina
Distribuição
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[email protected] | (43) 3376-2373
Tiragem: 1.000 exemplares
Impresso na Imprensa Oficial do Estado do Paraná.
Publicação financiada com recursos do
Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA.
Todos os direitos reservados.
É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.
É proibida a reprodução total desta obra.
A287a
Ahrens, Dirk Claudio
Diversificando áreas com cultivo do tabaco: uma experiência
no Centro-Sul do Paraná / Dirk Claudio Ahrens, Rafael Fuentes
Llanillo, Róger Daniel de Souza Milléo – Londrina : IAPAR,
2010.
65 p. ( IAPAR. Boletim Técnico, 74).
ISSN 0100-3054
1. Agricultura familiar. 2. Agroecologia. 3. Tabaco.
4. Socioeconomia I. Fuentes Llanillo, Rafael. II. Milléo, Róger
Daniel de Souza. III. Instituto Agronômico do Paraná, Londrina,
PR. IV. Título.
CDD 338. 98162
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
2011
1 Fumo_FdR.indd 2
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AUTORES
Dirk Claudio Ahrens
Graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1977), Mestre
em Ciência e Tecnologia de Sementes pela Universidade
Federal de Pelotas (1993) e Doutor em Agronomia
(Produção Vegetal) pela Universidade Federal do Paraná
(2000). Atualmente é pesquisador científico e líder do
Programa de Pesquisa em Agroecologia do Instituto
Agronômico do Paraná (IAPAR). Representa a instituição
junto ao Programa de Diversificação em Áreas Cultivadas
com Tabaco, da Secretaria da Agricultura Familiar do
Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Rafael Fuentes Llanillo
Graduado em Engenharia Agronômica pela Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade
de São Paulo (1978), Mestre em Economia Agrária pela
mesma instituição (1984) e Doutor em Agronomia pela
Universidade Estadual de Londrina (2007). Pesquisador da
Área de Socioeconomia do IAPAR desde 1979, atualmente
é gerente do projeto Redes de Referência para a Agricultura
Familiar e líder do Programa Sistemas de Produção.
Róger Daniel de Souza Milléo
Graduado em Administração pela Universidade Estadual
de Ponta Grossa (1992), Especialista em Gestão Ambiental
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2003), em
Educação e Gestão Ambiental pela Faculdades Integradas
do Vale do Ivaí (2010) e em Gestão Pública pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa (2010). Agente de Ciência e
Tecnologia do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR),
tem atuado em trabalhos de pesquisa e desenvolvimento
nas Redes de Propriedades Familiares Agroecológicas
no Centro-Sul do Paraná e na implantação do Sistema de
Gestão Ambiental do IAPAR.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos, em especial, às famílias dos
agricultores que interagiram conosco na realização
deste trabalho, pessoas sem as quais não seria
possível a sua execução: família Pauluk, família
Iaczaczaki, família Ramina, família Wenglarek, família
Albuquerque, família Mangoni e família Wrubleski.
Reconhecemos, também, a colaboração dos
colegas que se envolveram com o projeto: Albino
Schraier, Alex Sander S. do Carmo, Ana Simone Richter,
Dácio Antonio Benassi, Ednilson Pereira Gomes, Elton
William Zemke, José Armindo Bonatto, Maria Isabel
Radomski, Paulo Rogério Borszowskei e Rafael Oles
dos Santos.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................... 7
1.1 Opção pela Agricultura de Base Ecológica................................ 8
1.2 Autoconsumo e Agroindústria Familiar.................................. 10
1.3 Áreas Cultivadas com Tabaco e sua Diversificação................ 14
1.4 Caracterização das Áreas de Estudo....................................... 17
1.4.1 Território Vale do Iguaçu............................................... 17
1.4.2 Território Centro-Sul do Paraná.................................... 19
1.5 Breve Histórico do Projeto Rede de Propriedades
Familiares Agroecológicas...................................................... 22
2 ESCOLHA DAS FAMÍLIAS DE AGRICULTORES
E SEUS HISTÓRICOS................................................... 25
2.1 Escolha das Famílias................................................................ 25
2.2 Descrição dos Indicadores Selecionados................................ 26
2.3 Histórico das Famílias e suas Propriedades............................ 27
2.3.1 Família 1: sistema tabaco convencional
mais leite no município de São Mateus do Sul............. 27
2.3.2 Família 2: sistema tabaco orgânico
mais grãos no município de São Mateus do Sul........... 29
2.3.3 Família 3: sistema tabaco orgânico especializado
no município de São Mateus do Sul.............................. 32
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2.3.4 Família 4: sistema tabaco orgânico diversificado
no município de São Mateus do Sul.............................. 34
2.3.5 Família 5: sistema tabaco orgânico mais grãos
no município de Rio Azul............................................... 38
2.3.6 Família 6: sistema agroindústria diversificado
no município de União da Vitória................................. 39
2.3.7 Família 7: sistema de produção de olerícolas
e pequenos frutos no município de Rio Azul................ 42
3 AVALIAÇÃO SOCIECONÔMICA DOS SISTEMAS.........47
3.1 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas
de Produção............................................................................ 47
3.2 Avaliação do Autoconsumo e de Outras Rendas
na Composição da Renda Familiar.......................................... 49
3.3 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas
por Unidade de Área.............................................................. 51
3.4 Diversificação dos Sistemas e a Independência
em Relação ao Cultivo do Tabaco........................................... 53
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................57
5 REFERÊNCIAS..........................................................59
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1
Introdução
Este livro apresenta os resultados da comparação de desempenho
entre os sistemas de produção de sete famílias de agricultores do CentroSul do Paraná realizada durante três anos, de 2005/2006 a 2007/2008.
O objetivo deste trabalho foi verificar a rentabilidade do sistema de
tabaco convencional em relação a sistemas de base agroecológica com
renda baseada em tabaco orgânico e outras culturas. Para tanto, foram
estudados sistemas de: tabaco convencional; tabaco especializado;
tabaco orgânico diversificado; frutas, mel e erva-mate orgânicos com
agroindústria; e, hortaliças mais pequenos frutos orgânicos com valor
agregado. Adicionalmente, avaliou-se o valor do autoconsumo e de outras
rendas relevantes para os sistemas avaliados.
Esta publicação traz indicativos do desempenho econômico sobre a
agricultura de base ecológica, a importância do autoconsumo, a agregação
de valor da produção da agricultura familiar e o cultivo do tabaco com
diversificação de espécies no Centro-Sul do Paraná. Na introdução, fazse a caracterização das duas regiões onde se desenvolveu o estudo e um
breve histórico do trabalho do projeto Rede de Propriedades Familiares
Agroecológicas. No segundo capítulo, é descrita a metodologia utilizada
na seleção das famílias de agricultores, suas histórias de vida e os
sistemas de culturas que utilizam. No terceiro capítulo, são abordadas a
avaliação socioeconômica dos sistemas, comparando-se a rentabilidade
dos sistemas de produção, a avaliação do autoconsumo e de outras
rendas na composição da renda familiar, a comparação da rentabilidade
dos sistemas por unidade de área, a diversificação dos sistemas e a
independência em relação ao cultivo do tabaco. No quarto e último
capítulo, são apresentadas as considerações finais do trabalho.
Este livro compila os resultados obtidos pelo projeto Rede de
Propriedades Familiares Agroecológicas que foi parcialmente financiado
pelo Programa de Diversificação das Áreas de Cultivo com Tabaco, da
Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (SAF/MDA).
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
1.1 Opção pela Agricultura de Base Ecológica
Nesta publicação, o termo “agricultura de base ecológica” foi escolhido
para distinguir os estilos de agricultura resultantes da aplicação dos princípios
e conceitos da agroecologia1 e do modelo de agricultura convencional ou
modelo agroquímico.
A agricultura de base ecológica compreende agriculturas alternativas
com diferentes denominações: orgânica2, biológica, biodinâmica3,
permacultura4, entre outras. Cada uma delas segue determinados
princípios, tecnologias, normas, regras e filosofias, segundo as correntes
teóricas a que estão vinculadas.
A agroecologia é uma ciência e fornece o suporte científico e as
ferramentas metodológicas necessárias para que a participação da
comunidade se torne a força geradora dos objetivos e atividades dos projetos
de desenvolvimento rural sustentável. Altieri (2004) argumenta que:
sob a perspectiva da produção, a sustentabilidade
somente poderá ser alcançada no contexto de uma
organização social que proteja a integridade dos
recursos naturais e estimule a interação harmônica
entre os seres humanos, o agroecossistema e o
ambiente.
Caporal e Costabeber (2009) destacam que os atuais modelos de
desenvolvimento rural e de agricultura convencional são insustentáveis
A agroecologia é entendida como um enfoque científico destinado a apoiar a transição
dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional para estilos de
desenvolvimento rural e de agricultura sustentáveis (CAPORAL e COSTABEBER, 2002). A
agroecologia constitui um enfoque teórico e metodológico que, lançando mão de diversas
disciplinas científicas, pretende estudar a atividade agrária sob uma perspectiva ecológica
mais ampla.
2
Agricultura orgânica e biológica é o termo frequentemente utilizado para a produção
de alimentos, produtos animais e vegetais sem o uso de produtos químicos sintéticos ou
alimentos geneticamente modificados e geralmente adere aos princípios de agricultura
sustentável. Seus produtos são certificados por empresas nacionais ou internacionais.
(PLANETA ORGÂNICO, 2009).
3
A agricultura biodinâmica auxilia aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade
materialista na concepção da natureza, para que possam encontrar uma relação espiritualética com o solo, as plantas, os animais e os coirmãos humanos. O ponto central da
agricultura biodinâmica é o ser humano, que conclui a criação a partir de suas intenções
espirituais baseadas numa verdadeira cognição da natureza (SIXEL, 2009).
4
A permacultura é um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas de
escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis,
socialmente justos e financeiramente viáveis (PERMEAR, 2009).
1
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ao longo do tempo em função de sua grande dependência de recursos não
renováveis e limitados. Estes modelos, também, tem sido responsáveis
por crescentes danos ambientais e pelo aumento das diferenças socioeconômicas no meio rural, havendo necessidade de se buscar estilos
de desenvolvimento rural e de agricultura que assegurem maior
sustentabilidade ecológica e equidade social.
A construção desse processo de mudança tem impulsionado uma
transição agroambiental que se materializa no estabelecimento de
diferentes estilos de agricultura ecológica ou orgânica, entre outras
denominações, e consideram enfoques de desenvolvimento local
ou regional aqueles que levam em conta as realidades dos distintos
agroecossistemas.
Nesse sentido, devem ser privilegiados espaços nos quais os
participantes do processo possam expressar seus interesses e necessidades
por meio de métodos e estratégias participativos capazes de assegurar
o resgate da autoestima e o pleno exercício da cidadania. O intercâmbio
de informações entre agricultores através de visitas, treinamentos
adequados e permanência no campo devem ser incentivados, visando à
expansão das trocas e a difusão de informações, como afirma Caporal e
Costabeber (2002):
Uma forma de estimular o manejo agroecológico é
a promoção de parcerias entre os diversos atores:
pesquisadores, produtores rurais, agentes da extensão
rural oficial, organizações não governamentais
(ONGs) e outros.
O mercado de produtos orgânicos e/ou de base ecológica vem
crescendo porque a sociedade de consumo deseja esses produtos. Surgem
como alternativa ao que Khatounian (2001, p. 48) denomina de:
[...] alimento moderno, que não tem mais identidade,
se internacionalizou [...] não pertence a lugar nenhum,
não tem sabor de coisa alguma, enche o estômago,
mas não alimenta a alma no contexto dos aromas,
história, de vínculo com o meio ambiente. Enche o
estômago, mas a alma percebe o seu vazio.
Na safra 2003/2004, o mercado de orgânicos no Paraná teve uma
discreta produção de feijão orgânico ou de base ecológica (260 t), 200 t
de hortaliças e 100 t de plantas medicinais (IAPAR, 2008).
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Pelos dados do IBGE (2006), o Brasil contava com 90.497
estabelecimentos orgânicos, com uma área total de 4.935.473 ha e
renda total obtida de R$ 1.200.900,00. Assim, o Brasil é o terceiro maior
país com áreas destinadas ao cultivo de orgânicos, com 1,8 milhão de
hectares, superado apenas por Austrália e Argentina (IFOAM, 2009).
A seguir, é apresentada uma breve revisão bibliográfica sobre o
autoconsumo e a agroindústria familiar com o objetivo de contextualizar
melhor a importância destes temas para a agricultura familiar.
1.2 Autoconsumo e Agroindústria Familiar
O homem, ao deixar de ser nômade, estabeleceu-se para praticar
a agricultura de subsistência, isto é, produzir para o autoconsumo. As
aglomerações urbanas, ao se constituírem, eram alimentadas com os
excedentes produzidos pelos agricultores. Entretanto, com a Revolução
Verde5, muitos agricultores passaram a ocupar suas áreas com cultivos
cuja totalidade da produção era vendida, sem disponibilizar espaço para
a exploração de animais e vegetais destinados ao autoconsumo.
Santos et al. (2006a) descrevem o autoconsumo como uma renda
interna da família, de baixo custo, que evita o desembolso e garante a
qualidade e a variedade dos alimentos. A produção para o autoconsumo
garante ao agricultor a possibilidade de superar crises de receita em
virtude de adversidades climáticas ou de preços regionais e nacionais
em queda. Ainda, os Valores Monetários Anuais do Autoconsumo
(VMAA) fazem variar a oferta diária máxima de alimentos por grupo de
valor. Se o VMAA for de até R$ 500,00 anuais, a oferta diária máxima de
alimentos é de 0,535 kg.pessoa-1.dia. Com receitas de até R$ 5.000,00,
esse valor passa para 5,351 kg.pessoa-1.dia. Há também um número
significativo de famílias que necessitam recorrer à suplementação
de alimentos comprados fora da propriedade para compor uma dieta
mínima de 2.000 calorias diárias por pessoa, pois o cultivo destinado ao
autoconsumo é insuficiente.
A Revolução Verde é um modelo com elevadas produções agrícolas baseadas no uso
intensivo de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. Iniciada na década de 1960, teve seu
apogeu em 1970 com Norman Borlaug, seu grande defensor, que recebeu o Prêmio
Nobel da Paz daquele ano. Segundo Andrade e Ganimi (2007), apesar do aumento da
produtividade, há uma série de contrapontos como: a deterioração das condições sociais,
o êxodo rural, os prejuízos à saúde, a concentração fundiária e de renda, a marginalização
da população rural, o envenenamento do ecossistema por agrotóxicos e a diminuição da
biodiversidade e da biomassa, proporcionando intensa dependência de tecnologia de
produção de empresas transnacionais.
5
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As avaliações de Buainain et al. (2003) confirmam que a renda
agropecuária gerada pelos agricultores familiares varia, também,
entre os sistemas produtivos adotados e o grau de capitalização desses
agricultores (Tabela 1). Muitas vezes, a receita gerada na propriedade
é baixa e insuficiente para elevar o nível de vida das famílias acima do
patamar da pobreza e assegurar a sucessão na propriedade.
Alguns produtos do autoconsumo são processados para a sua melhor
conservação (estoque de alimentos para os períodos de entressafra) e, de
forma geral, o processamento começa a ser realizado nas dependências
domésticas. Em determinado momento, o excedente passa a ser visto
pelos agricultores como um produto comercial (com valor monetário de
troca) e, portanto, como fonte de renda da unidade de produção familiar.
Com o crescimento da atividade, são necessários maquinários e estrutura
física mínima para a instalação de uma agroindústria familiar. Portanto,
as motivações para constituir uma agroindústria familiar são de natureza
econômica e social, sendo a principal delas de ordem econômica, com
a agregação de valor aos produtos pela transformação artesanal ou
semiartesanal aos excedentes que os produtores rurais não conseguem
comercializar in natura.
Dentre as motivações sociais mais relevantes, destacam-se a fixação
do agricultor na propriedade rural e a manutenção da integridade
familiar pelo envolvimento de todos na produção, inclusive das donas de
casa (RUIZ et al., 2009).
Tabela 1. Renda agropecuária dos principais sistemas de produção típicos da
agricultura familiar da Região Sul do Brasil (adaptado de Buainain et
al., 2003).
Sistemas de produção
Máxima
Mínima
Autoconsumo
1.458,00
1.388,00
Milho + criações
4.060,00
i.n.p.
Milho + autoconsumo
Fumo + autoconsumo
Soja e aveia + milho
Soja, trigo e aveia + milho
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1
Renda anual (R$)
Soja, trigo e aveia + suínos
5.354,00
3.639,00
5.609,00
20.945,00
15.622,00
Informações não prestadas pelos autores.
2.856,00
i.n.p.1
i.n.p.
i.n.p.
i.n.p.
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Na Região Oeste do Estado de Santa Catarina, segundo Mior (2009),
os produtores excluídos da atividade de produção de suínos buscam
outras atividades produtivas como o incremento da produção de fumo,
a exploração leiteira e a agregação de valor por meio de estratégias de
agroindustrialização. Tais atividades de agregação de valor proporcionam
às famílias de agricultores a vivência de novos relacionamentos com
outros agentes da cadeia produtiva como fornecedores de insumos,
processadores, distribuidores de alimentos e consumidores. Portanto, ao
iniciar o processamento de seus produtos, a família precisa conscientizarse da radical mudança na sua comercialização, tanto na compra de novos
insumos como dos novos consumidores que devem ser conquistados.
Dorigon (2009) afirma que existem problemas sérios de
comercialização, pois na maioria das vezes os ingressantes na atividade
agroindustrial familiar não conhecem as oportunidades do mercado. A
informalidade é muito comum, há pouco aporte tecnológico e gerencial
e reduzida capacidade de assimilar informações técnicas, gerenciais e
mercadológicas. Como consequência, a pouca disposição de adaptação às
mudanças do ambiente econômico faz com que apenas 3% desses novos
empreendedores tenham sucesso na atividade.
No que se refere à agroindústria familiar de pequeno porte, Marques
et al. (2006) consideraram 18 tipos de problemas reunidos em quatro
grandes grupos. Relatam que 11,6% dos problemas estavam relacionados
à seleção e oferta de matéria-prima; 32,3% vinculados à transformação
(processamento, máquinas, equipamentos e instalações); 42,9% relativos
à padronização de qualidade (apresentação do produto e embalagem) e
comercialização; e apenas 13,15% relacionados a problemas de legislação
e gestão.
Uma questão não estudada por Marques et al. (2006) é a ligação
entre a eficiência da agroindústria e o associativismo. No Brasil, diversos
pesquisadores (ROCHA et al., 2004; LAZZAROTTO, 2009; MIRANDA e
ACUÑA, 2009) concluíram que iniciativas isoladas de agroindustrialização
de pequeno porte têm poucas chances de se viabilizar e que para enfrentar
novas formas de comercialização e as legislações sanitária e fiscal, dentre
outros fatores, a organização dos agricultores precisa estar presente em
três níveis: comunidade, município e região.
Mas, para Gomes (2006), a legislação sanitária impõe normas de
estrutura física para pequenas e grandes agroindústrias. A legislação
sanitária para produtos de origem animal limita a circulação dos produtos
conforme o tipo de serviço de inspeção utilizado (municipal, estadual ou
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federal). Isso é um grande entrave à comercialização dos produtos da
agroindústria familiar em mercados de pequeno e médio porte.
Ainda para Gomes (2006), a legislação fiscal brasileira não
contempla um tipo de personalidade jurídica adequado às peculiaridades
dos produtos industrializados nas unidades familiares, impedindo-os
de circular sem o acompanhamento de nota fiscal. Obrigados a criar
empresas, ficam excluídos da condição de agricultores familiares e de
segurados especiais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pela
legislação previdenciária, impossibilitando-os de receber, no futuro,
a aposentadoria rural. Também acompanha essa situação uma série
de desafios como impostos, taxas, contabilidade, gestão, transporte,
embalagem, comercialização, marketing, responsabilidade técnica e
escala de produção, entre muitos outros.
Para incentivar o crescimento da agroindústria familiar, foram
criados nos últimos anos vários programas como:
a) Pronaf Agroindústria Familiar6;
b)Programa de Verticalização da Pequena Produção Rural do
Distrito Federal (Prove/DF) e do Mato Grosso do Sul (Prove
Pantanal);
c) Projeto de Agregação de Valor pela Verticalização da Produção,
em Santa Catarina (Projeto Desenvolver/SC);
d) Programa Sabor Gaúcho, no Rio Grande do Sul;
e) Programa Fábrica do Agricultor, no Paraná.
Mas, para os agricultores familiares ainda há uma gama de exigências
legais, ligadas principalmente à legislação sanitária e fiscal, e a falta de
recursos financeiros para realizar os investimentos necessários, o que
resulta em um pequeno efeito em relação às potencialidades apresentadas
pelo setor.
O cultivo do tabaco e as possibilidades de diversificação serão
abordados na sequência deste livro, em função da região em estudo
ser grande produtora desta cultura e por estar em concordância com o
programa Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco, gerenciado
pela Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (SAF/MDA).
O Pronaf Agroindústria Familiar (MDA) tem por objetivo apoiar a agroindustrialização
da produção dos agricultores familiares e a comercialização, de modo a agregar valor,
gerar renda e oportunidades de trabalho no meio rural, com consequente melhoria da
qualidade de vida dos agricultores.
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
1.3 Áreas Cultivadas com Tabaco e sua Diversificação
A produção mundial de tabaco está migrando dos países
desenvolvidos para aqueles em desenvolvimento, confirmando a
projeção de crescimento da produção no Brasil para as próximas décadas.
Avaliando-se os projetos de expansão de cada empresa do setor, podese afirmar que entre os anos de 2015 e 2020 o Brasil colherá mais de
1,5 milhão de toneladas de tabaco por ano, ampliando o número de
agricultores envolvidos na produção primária, que avança sobre regiões
ainda não cultivadas com fumo (GEWEHR, 2008).
Na Região Sul do Brasil, na safra 2003/2004, havia 411.290 hectares
cultivados com fumo, sendo colhidas 851.060 t de folha, o que corresponde
a 96,41% da área de fumo do país.
Na safra 2004/2005, a área cultivada passou para 446.180 hectares,
com 884.510 t de folhas colhidas (AFUBRA citado por BIOLCHI, 2005).
Na safra 2005/2006 foram plantados 416.398 hectares e colhidas
774.767 t de fumo (SINDIFUMO citado por BONATO, 2007).
Nas safras 2006/2007 e 2007/2008, a área plantada com fumo foi
reduzida em 22%, o que corresponde a 75.000 hectares a menos, com
tendência à recuperação se não surgirem alternativas de diversificação
para os agricultores.
Na safra 2008/2009, o plantio de fumo recuperou 20.000
hectares devido às estratégias de ampliação das indústrias do setor
(GEWEHR, 2008).
A estrutura fundiária e o tamanho do estabelecimento são
questões importantes para a opção no cultivo do tabaco. As famílias
de fumicultores dispõem de pequenas áreas de terra, tendo em média
14,70 hectares, enquanto a média das propriedades entre as famílias
que não produzem fumo é de 17,00 hectares. Além disso, em relação
à posse, cerca de 10,6% destas famílias trabalham exclusivamente em
terras de terceiros e 20,8%, além de possuírem terra própria, arrendam
outras áreas, totalizando 31,4% o número de fumicultores que
utilizam terras de terceiros. As limitações de área agrícola dificultam a
migração desses agricultores para outras culturas, diversificando suas
atividades (BONATO, 2007).
As 182.000 famílias que cultivam tabaco no Sul do Brasil
têm um antecedente histórico de pluriatividade, diversificação e
agroindustrialização de alimentos que, com o passar dos anos, em
função da falta de políticas agrícolas adequadas, migrou para o sistema
integrado da fumicultura, que de acordo com Bonato (2007) tem como
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
15
vantagens a disponibilidade de crédito por parte da indústria fumageira,
assistência técnica, entrega de insumos e recebimento da produção na
propriedade, ou seja, mercado garantido e de fácil acesso, praticamente
sem preocupação com a comercialização. Além disso, a cultura do
tabaco tem uma capacidade de geração de renda razoavelmente estável,
produzindo muito em pequenas áreas, adequando-se à realidade
das famílias com pouca terra, e requer investimentos que podem ser
amortizados ao longo de vários anos. Contudo, o tabaco cria maior
dependência do fumicultor em relação à empresa.
Do total de 182.000 famílias citado anteriormente, cerca de
40.000 delas (22,2%) chegam a auferir renda superior a R$ 800,00 por
pessoa ao mês, uma renda considerada boa, que ocorre em função da
alta produtividade (entre 2.500 e 3.300 kg.ha-1) e da especialização no
monocultivo de fumo.
Aproximadamente 80.000 famílias (44,5%) tem uma renda média
inferior ao salário mínimo brasileiro, próximo de R$ 400,00 pessoa.mês-1,
com produtividade média de 2.000 kg.ha-1.
As demais 60.000 famílias (33,3%) têm renda baixíssima, por não
terem terras adequadas ao plantio, por falta de assistência técnica e
organização produtiva.
A grande maioria desses trabalhadores necessitam do benefício
do Programa Bolsa Família, do Governo Federal, para sobreviver.
Estão neste grupo meeiros, arrendatários, agregados e parceiros
(GEWEHR e ROCHINSKI, 2008).
Para Bonato (2007), na descrição das políticas públicas de apoio
à agricultura familiar e fumicultura, destaca-se o Programa de Apoio à
Diversificação Produtiva nas Áreas Cultivadas com Tabaco7, composto por
quatro eixos:
O Programa Nacional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco foi lançado
pela Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/
MDA), em 2005, para estimular a geração de renda e a qualidade de vida com o apoio a
projetos de extensão rural, formação e pesquisa para o desenvolvimento de estratégias de
diversificação nas produções agrícolas e não agrícolas em propriedades de agricultores
familiares fumicultores. São 47 projetos apoiados na Região Sul, que abrangem
500 municípios, envolvendo representantes de organizações governamentais e não
governamentais na implantação de ações do Programa de Diversificação. O programa é
uma conquista das entidades que apoiaram a ratificação pelo Brasil da Convenção Quadro
para o Controle do Tabaco. O programa apoia entidades que atuam em pesquisa, extensão
rural e assistência técnica voltadas à busca de alternativas de desenvolvimento rural
sustentável. Os resultados apresentados neste trabalho fazem parte do referido projeto.
7
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
1)Financiamentos que incentivam a diversificação produtiva, com
recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf);
2)Acesso à tecnologia com incentivo a pesquisas e assistência
técnica na diversificação produtiva;
3) Agregação de valor à produção local dos agricultores por meio da
organização e agregação de valor local da produção rural primária;
4) Apoio à comercialização por meio do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA)8.
Além desse, existem outros programas de desenvolvimento rural
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que podem apoiar
iniciativas de diversificação como:
1) Programa ATER na implementação e consolidação de estratégias
de desenvolvimento rural sustentável;
2) Seguro Agrícola Familiar, exclusivo para financiamentos realizados
pelo Pronaf;
3) Seguro de Preços Agrícolas da Agricultura Familiar, pelo sistema
de equivalência-produto;
4) Programa Biodiesel, por meio do Selo Combustível Social, que
obriga as empresas a adquirir óleo vegetal proveniente da
agricultura familiar;
5) Programa de Turismo Rural, que incentiva o agricultor familiar a
explorar melhor os recursos naturais de sua terra;
6) Programa Agroecologia, que será apoiado pelo Programa Nacional
de Apoio à Agricultura de Base Ecológica nas Unidades Familiares
de Produção, prevendo-se recursos para apoiar a produção,
industrialização e comercialização de alimentos orgânicos.
O Programa de Diversificação das Áreas de Cultivo com Tabaco,
segundo Gewehr (2008), precisa avançar rápido para que políticas
públicas como Pronaf, PAA e Mais Alimentos9 cheguem aos fumicultores
interessados em diversificar suas atividades, principalmente àqueles
Programa para aquisição de alimentos, criado com a finalidade de incentivar a agricultura
familiar, compreende ações vinculadas à distribuição de produtos agropecuários para
pessoas em situação de insegurança alimentar e à formação de estoques estratégicos. Conta
com o apoio do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) com intermédio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) entre os
produtores e as entidades beneficiárias (creches, asilos e outros).
9
Plano Safra Mais Alimentos 2008/2009, que contou com recursos do Pronaf e teve a
finalidade de incentivar a produção de alimentos pela agricultura familiar.
8
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
17
que obtêm renda média ou insuficiente com o plantio de fumo. Dentre
outras ações, para que isso ocorra é necessária a contratação de técnicos
extensionistas com visão sistêmica de diversificação para atuar no campo
e orientar os agricultores.
1.4 Caracterização das Áreas de Estudo
As estratégias para o desenvolvimento agrícola requerem a
busca ativa por novos tipos de pesquisa, extensão e formação agrícola
relacionados ao manejo de recursos naturais, fundamentados em
princípios agroecológicos e em abordagens participativas em relação
ao desenvolvimento e à difusão de tecnologia. O foco da atenção nos
vínculos entre a agricultura e o manejo de recursos pode contribuir
significativamente para a solução de problemas relativos à diversificação
das áreas de cultivo com tabaco de forma sustentável, considerando as
dimensões ambiental, ética, social, cultural, política e econômica.
Para a execução deste trabalho foram escolhidos dois Territórios da
Região Centro-Sul do Estado do Paraná: o Território Vale do Iguaçu e o
Território Centro-Sul. Os sistemas de produção predominantes nestes
dois Territórios têm como características comuns:
a) Uso de mão de obra familiar;
b) Tração animal como principal fonte de potência na propriedade,
sendo substituída gradativamente pelo trator;
c) Cultivo de lavouras anuais em áreas com declividade acentuada;
d) Baixa rentabilidade, em virtude do predomínio do cultivo de
milho e feijão.
1.4.1 Território Vale do Iguaçu
Este Território é constituído pelos dez municípios que compõem a
Associação dos Municípios do Sul do Paraná (AMSULPAR): Antônio Olinto,
Bituruna, Cruz Machado, General Carneiro, Paula Freitas, Paulo Frontin,
Porto Vitória, São João do Triunfo, São Mateus do Sul e União da Vitória.
A população do Território é de 154.944 habitantes, com percentual
médio de pessoas abaixo da linha da pobreza de 16,7% (10,8% para o
Estado do Paraná, Tabela 2), conforme Doretto et al. (2003). O maior índice
de pessoas abaixo da linha da pobreza foi verificado em Antônio Olinto,
com 26,2%, sendo que 98,9% desta população reside no meio rural. Os
dados demonstram a necessidade de investimentos governamentais em
assistência social, saúde, educação e em atividades que gerem renda.
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Segundo Radomski et al. (2006), as áreas de abrangência dos
municípios de Porto União - SC e União da Vitória - PR distribuem-se nos
limites das formações sedimentares do Segundo Planalto e dos derrames
basálticos do Terceiro Planalto. Estes municípios estão localizados às
margens do Rio Iguaçu, onde se encontram extensas áreas de várzea.
Tabela 2. População rural e urbana dos municípios do Território do Vale do
Iguaçu abaixo da linha da pobreza no ano de 2000 (Adaptado de
DORETTO et al., 2003).
População
Municípios
Pessoas abaixo da linha de pobreza
Total
Total
nº
Antônio
Olinto
7.407
Urbana
%
1.940 26,19
nº
nº
22
1,11
1.918 98,89
0,71
384
8,40
4.188 91,60
0,71
15.966
2.721 17,04
488 17,93
General
Carneiro
13.879
1.937 13,96
1.015 52,38
1.106 16,88
207 18,72
Paula
Freitas
Paulo
Frontin
Porto
Vitória
17.587
5.027
6.555
3.994
4.572 25,99
1.000 19,90
537 13,44
São João
do Triunfo
12.464
3.504 28,11
União da
Vitória
48.107
3.819
São Mateus
do Sul
Total do
Território
Total do
Estado
36.422
167.408
258 25,81
224 41,71
%
2.233 82,07
923 47,62
742 74,19
899 81,28
313 58,29
687 19,61
2.816 80,39
3.399 89,00
420 11,00
6.781 18,61
3.606 53,17
27.917 16,68
10.290 36,86
7,94
IDH-M1
%
Bituruna
Cruz
Machado
Rural
3.175 46,83
17.627 63,14
9.501.559 1.029.012 10,83 667.728 64,89 361.284 35,11
0,72
0,71
0,74
0,74
0,73
0,68
0,77
0,79
0,79
IDH-M – IPARDES (2009). Fonte: Microdados do Censo Demográfico do Paraná (IBGE, 2000).
1
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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À exceção dessas áreas, o relevo regional é predominantemente forte
ondulado, com 20-45% de declividade. Em São Mateus do Sul, Paula Freitas e
Paulo Frontin prevalecem declividades de 0-10% (até 6 graus de inclinação),
correspondendo às áreas dos Campos Naturais, aptas ao uso agrossilvopastoril,
com solos do tipo regular, que apresentam problemas de erosão e fertilidade.
O restante da mesorregião apresenta declividades superiores a 20%
(acima de 25 graus), condicionadas basicamente pela presença da Serra
da Boa Esperança, onde o relevo é fortemente ondulado a montanhoso.
Essas áreas compõem os municípios de Cruz Machado, Bituruna, União
da Vitória, Porto Vitória, General Carneiro e são inaptas a atividades
agrícolas. Em função das limitações do relevo para a prática de agricultura
mais intensiva, predominam no Território atividades relacionadas
ao extrativismo florestal como madeira, carvão, lenha e erva-mate. A
substituição das florestas nativas pelo plantio de pínus passou a ser, nos
últimos dez anos, prática comum.
1.4.2 Território Centro-Sul do Paraná
O Território compreende os dez municípios da Associação dos
Municípios da Região Centro-Sul do Paraná (AMCESPAR): Fernandes
Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet,
Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul e Teixeira Soares, e dois municípios
da Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG), Ipiranga e Ivaí
(AMCESPAR, 2008).
A população deste Território, segundo a AMCESPAR (2008), é de
218.163 habitantes, sendo que 44.008 pessoas (20,1%) vivem abaixo da
linha da pobreza. Boa parte desta população reside no meio rural (43,0%)
e tem 50,0% da renda familiar dependente da produção de tabaco.
O Território destaca-se na produção de tabaco e possui a maior área
cultivada do Estado, com 22,6% da área total e 21,3% da produção total.
Segundo Doretto et al. (2003), a região possui percentual médio de
20,2% de pessoas abaixo da linha da pobreza. O município de Rebouças
alcança 29,4% de pessoas abaixo da linha da pobreza, com 71,3% destas
residentes no meio rural (Tabela 3). O município de Guamiranga, com
25,1% das pessoas abaixo da linha da pobreza, possui 84,3% delas no
meio rural, onde encontram-se 29.258 agricultores familiares, sendo que
26.124 destes possuem áreas de 1,00 hectare a 50,00 hectares e somente
3.314 possuem lotes superiores a 50,00 hectares (AMCESPAR, 2008).
A utilização das áreas com lavouras de culturas anuais, principalmente
milho, feijão, fumo e soja representam 34,9% (299.290 hectares) da área
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
total do Território. A cultura da soja corresponde a 2% em área e em
produção do total do Estado, com 4.005.157 hectares na safra 2008/2009
(SEAB, 2009), de modo que a região tem pouca expressão em relação
à produção estadual, mas sua produtividade supera em 29% a média
estadual, o que demonstra uma prática agrícola tecnificada e especializada.
Tabela 3. População rural e urbana dos municípios do Território Centro-Sul
abaixo da linha da pobreza no ano de 2000 (Adaptado de Doretto et
al., 2003).
População
Municípios
Pessoas abaixo da linha de pobreza
Total
Total
nº
Fernandes
Pinheiro
Guamiranga
Imbituva
Inácio Martins
Ipiranga
Irati
Ivaí
Mallet
6.364
7.146
24.363
10.958
13.281
51.853
11.759
12.560
Urbana
%
1.568 24,64
1.793 25,10
466 21,08
4.032 56,54
2.033 16,19
839 41,25
2.617 22,25
2.476 19,13
Total do
Território
218.863
Total do
Estado
8.167
528 20,28
7.132 13,75
12.939
Teixeira
Soares
281 15,67
2.213 16,66
2.606 23,78
Rio Azul
13.624
300 19,14
1.701 51,30
12.878 28,09
Rebouças
%
3.316 13,61
45.849
Prudentópolis
nº
736 28,11
3.384 26,28
4.009 29,42
1.150 28,69
1.367 16,73
399 29,21
647 26,12
Rural
nº
IDH-M1
%
1.268 80,86
1.512 84,33
1.615 48,70
2.077 79,72
1.746 78,92
3.100 43,46
1.881 71,89
1.195 58,75
9.494 73,72
2.859 71,31
1.829 73,88
0,71
0,70
0,73
0,69
0,73
0,74
0,70
0,76
0,73
0,71
0,71
968 70,79
0,74
9.501.559 1.029.012 10,83 667.728 64,89 361.284 35,11
0,79
44.008 20,11
14.463 32,86 29.544 67,13
IDH-M – IPARDES (2009). Fonte: Microdados do Censo Demográfico do Paraná (IBGE, 2000).
1
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
21
A fruticultura é uma das alternativas de produção para diminuir
a dependência dos agricultores em relação à cultura do tabaco.
Atualmente, os cultivos de kiwi, morango e uva apresentam maior
expansão de área e o interesse dos agricultores familiares em cultivar
essas espécies tem aumentado.
A piscicultura, uma referência de atividade alternativa para pequenas
propriedades, ainda se encontra em fase de implantação.
O mel tem sido objeto de destaque na pauta de produtos para
exportação, com qualidade apreciada na Europa e Ásia.
A produção florestal, extrativista e de reflorestamento possui grande
importância para o Território, pois é responsável por grande parte do
valor bruto da produção agropecuária. De maneira geral, a existência de
várias atividades oriundas do setor madeireiro caracterizam o Território
com produção significativa em relação à estadual.
O Território possui grande diversidade edafoclimática, conforme
o mapa de solos elaborado por Bhering e Santos (2008) e pelas Cartas
Climáticas do Estado do Paraná (IAPAR, 1994).
Os solos do Território formaram-se a partir de rochas do tipo arenito,
siltito, argilito e folhelhos, e apresentam limitações de fertilidade em
função da baixa disponibilidade de fósforo, cálcio e magnésio, e médios a
elevados teores de alumínio trocável.
O relevo, em sua maioria, é suave ondulado a ondulado, o que dificulta
as operações agrícolas. Predominam os solos litólicos, cambissolos – estes
dois ocorrem em condições de topografia ondulada e forte ondulada,
sendo pouco desenvolvidos –, podzólicos10 vermelho-amarelos, podzólicos
vermelho-escuros e podzólicos bruno-acinzentados.
Os municípios de Rebouças e Rio Azul apresentam topografia com
declividades de 0% a 10%. Terrenos mais íngremes (declividade entre
10% e 20%, até 12 graus) são encontrados nos municípios de Ipiranga,
Imbituva, Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro. As áreas inaptas a
atividades agrícolas (acima de 25 graus de declividade) ocorrem
principalmente nos municípios de Prudentópolis, Ivaí, Irati, Guamiranga
e Mallet (RADOMSKI et al., 2006). Entretanto, Inácio Martins apresenta
áreas com declividade superior a 45 graus (IPARDES, 2010), sendo a
cidade mais alta do Paraná, localizada a 1.198 metros de altitude.
Segundo a classificação de Köeppen, o clima é Cfb - subtropical
úmido mesotérmico com verões frescos, sem estação seca e com geadas
Pela atual classificação de solos, os podzólicos passaram a argissolos bruno-acinzentados,
argissolos vermelhos e argissolos vermelho-amarelos.
10
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22
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
severas. A temperatura do mês mais frio fica abaixo de 18oC e a do mês
mais quente é inferior a 22oC. A precipitação total anual situa-se entre
1.300 mm e 1.800 mm, com chuvas relativamente bem distribuídas
ao longo do ano. Mesmo em meses mais secos, como julho e agosto, as
médias mensais são superiores a 80 mm (IAPAR, 1994).
Apesar da boa distribuição de chuvas, há risco de veranicos em
novembro e dezembro, aproximadamente 20% para os veranicos de
5 dias, coincidindo com a fase de florescimento do feijão das águas
(CARAMORI et al., 1991).
A temperatura é o fator climático mais limitante da região, em
função da alta incidência de geadas que, dependendo do local, podem
ocorrer desde o final de abril até o final de setembro. Tal fenômeno limita
a possibilidade de plantios antecipados e tardios das lavouras de verão
em áreas mais altas das propriedades e controla muitas das espécies
vegetais de ciclo estival (principalmente o papuã, Brachiaria plantaginea)
e de pastagens, resultando em baixa disponibilidade de forragem para as
criações no outono e no inverno.
Segundo Chang e Sereia (1993), a região apresenta, ainda, grande
diversidade socioeconômica, predominando numericamente os Produtores
Simples de Mercadorias (PSM), com baixa contratação de mão de obra e baixo
a médio grau de capitalização e receitas, e os Produtores de Subsistência
(PS), agricultores familiares mais pobres, com baixa contratação de mão de
obra, baixa capitalização e baixíssima receita. Milho, feijão, fumo e soja são
as culturas mais importantes com relação ao número de produtores e/ou
por sua participação no Valor Bruto da Produção Regional.
1.5 Breve Histórico do Projeto Rede de Propriedades
Familiares Agroecológicas
O projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas do
Centro-Sul do Paraná surgiu para atender à crescente demanda dos
agricultores em dispor de tecnologias para migrar da agricultura
tradicional para uma agricultura alternativa, baseada no menor impacto
ao ambiente, na redução da utilização de insumos industriais, na busca
pela sustentabilidade da propriedade e na qualidade de vida do agricultor
(AHRENS et al., 2006).
O contato dos agricultores com os princípios da agroecologia
ganhou forma quando lideranças regionais e locais organizaram o I
Congresso de Agricultura Familiar: Alimentos para a vida, em julho de
1995. Concomitantemente à realização do evento, os 160 agricultores
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
23
presentes, procedentes de 16 municípios, fundaram o Fórum Regional das
Organizações dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Centro-Sul
do Paraná, agrupando sindicatos de trabalhadores rurais, organizações
de produtores, associações e a Pastoral da Juventude Rural. Alguns
anos depois, em 1998, o Fórum promoveu o II Congresso de Agricultura
Familiar e, neste evento, foram demandados trabalhos de pesquisa e de
extensão rural voltados à agricultura familiar e ecológica.
Em 1999, firmou-se uma parceria entre o Fórum, a AS-PTA11 e
o IAPAR com o objetivo de articular melhor estes atores, identificar
demandas de pesquisa e executar projetos interinstitucionais de pesquisa
e desenvolvimento. O resultado desta parceria foi a execução, no período
de 1999 a 2004, do projeto Promoção e Participação de AgricultoresExperimentadores no Processo de Desenvolvimento Tecnológico,
coordenado pelo IAPAR.
A proposta foi apresentada em agosto de 2000 no VI Encontro
Regional dos Agricultores-Experimentadores em Manejo Ecológico de
Solos, promovido pela AS-PTA/Fórum. Além disso, depois de seguidos
encontros entre IAPAR e AS-PTA, foram desenvolvidas diversas propostas
de pesquisa, destacando-se duas: 1) Validação de Sistemas de Plantio
Direto Sem Herbicida; e, 2) Manejo da Fertilidade do Solo Com o Uso de
Fosfatos Naturais.
O I Seminário da Agricultura Familiar Ecológica no Centro-Sul do
Paraná ocorreu em julho de 2002, na cidade de Irati, sob a coordenação
do IAPAR, com participação da EMATER, AS-PTA e Fórum. No ano
seguinte, em novembro de 2003, na cidade de União da Vitória, foi
realizado o II Seminário da Agricultura Familiar Ecológica no Centro-Sul
do Paraná.
As demandas regionais por trabalhos de pesquisa em agroecologia
e os bons resultados alcançados com o projeto Redes de Referência para
a Agricultura Familiar em outras regiões do Estado, numa parceria entre
IAPAR e EMATER, motivaram a equipe da Unidade Regional de Pesquisa
Centro-Sul do IAPAR, sediada em Ponta Grossa, a desenvolver um trabalho
semelhante na Região Centro-Sul do Paraná. Construiu-se, então, o projeto
Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas como forma alternativa
de pesquisa e desenvolvimento.
Com enfoque sistêmico, as Redes prescrevem o trabalho em meio
real, em contato estreito com os agricultores, levando em conta o sistema
AS-PTA: Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, com sede no Rio de
Janeiro e escritórios no Paraná, Santa Catarina (a partir de 1994) e Paraíba.
11
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 23
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24
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
de produção em sua totalidade, permitindo uma administração técnica,
econômica e ambientalmente sustentável. Os trabalhos tiveram início
nos municípios de Porto Vitória, São Mateus do Sul, União da Vitória,
Fernandes Pinheiro, Rio Azul e Teixeira Soares.
As Redes de Referência para a Agricultura Familiar propõem que os
agricultores familiares se tornem sujeitos de seu próprio desenvolvimento,
condição indispensável para o avanço das comunidades rurais como
protagonistas e tomadoras de decisão dos rumos dos processos de
mudança social. Buscam-se nas Redes, metodologias que possam
atender às novas exigências do mercado, considerando que tecnologias
apropriadas podem ser desenvolvidas baseadas no conhecimento
dos sistemas de produção existentes e que estas tecnologias devem
ser avaliadas não apenas pelo seu desempenho técnico em ambientes
específicos, mas também de acordo com os objetivos e a capacidade
técnico-econômica dos agricultores.
Em outubro de 2004, a equipe de pesquisadores da Unidade Regional
de Pesquisa Centro-Sul do IAPAR apresentou uma proposta de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico dentro do projeto Uso dos Subprodutos do
Processamento do Xisto Pirobetuminoso na Agricultura, com o apoio da
Petrobras. Este projeto tinha como objetivos identificar e caracterizar os
sistemas de produção agroecológicos na área de abrangência do projeto
assim como validar tecnologias de uso dos subprodutos do processamento
do xisto em sistemas de produção familiar agroecológica.
Em março de 2007, foi aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), junto ao Programa de Apoio à Diversificação Produtiva
em Áreas Cultivadas com Tabaco, o projeto Reconversão de Sistemas
de Produção com Base no Fumo no Centro-Sul do Paraná: Rede de
Propriedades Familiares Agroecológicas e Produção de Oleaginosas
para Biodiesel e Co-produtos para dar continuidade aos trabalhos em
propriedades das Redes de Referência para a Agricultura Familiar.
No Capítulo 2 está apresentada a metodologia de trabalho utilizada na
escolha das famílias, a descrição dos indicadores e a história de cada família
participante do projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas.
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2
Escolha das Famílias de
Agricultores e seus Históricos
2.1 Escolha das Famílias
O processo de seleção e escolha das famílias baseou-se em
variáveis que permitiram garantir a representatividade da amostra
frente às características da agricultura familiar descritas no capítulo
anterior e a execução da metodologia (AHRENS, 2006), que prevê a
atuação do agricultor em atividades como a anotação de dados e a
apresentação de resultados.
No processo de escolha, a participação de extensionistas da EMATER,
do Fórum e dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Rio Azul e de
São Mateus do Sul foi fundamental na prestação de informações das
propriedades e na viabilização dos contatos com os agricultores.
A escolha das famílias foi realizada em duas etapas. A primeira
delas ocorreu a partir de informações do Fórum, dos Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais de Rio Azul e de São Mateus do Sul, da
EMATER dos municípios de União da Vitória e Rio Azul e definiu um
conjunto de 50 famílias que já praticavam ou tinham interesse em
praticar a agroecologia em suas propriedades. Na segunda etapa,
dois procedimentos metodológicos foram utilizados: a tipificação e o
diagnóstico (MILLÉO et al., 2006). Um questionário para tipificação
foi aplicado ao universo de 50 famílias com o objetivo de identificar o
grau em que estas se encontravam no que tange às práticas voltadas
à agroecologia em suas propriedades. Os resultados permitiram
identificar 32 famílias já praticando a agricultura de base ecológica em
processo de transição. Para estas famílias, aplicou-se um questionário
de diagnóstico para se obter informações referentes à composição da
mão de obra, uso da terra e dados econômicos das propriedades.
Para discutir a diversificação do cultivo de tabaco, foram
escolhidas sete famílias de agricultores, em função de terem exercido
ou exercerem atividades voltadas ao tabaco, em municípios dos dois
Territórios estudados (Fig. 1).
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Municípios das Associações
AMSULPAR
1) Antônio Olinto
2) Bituruna
3) Cruz Machado
4) General Carneiro
5) Paula Freitas
6) Paulo Frontin
7) Porto Vitória
8) São João do Triunfo
9) São Mateus do Sul
10) União da Vitória
AMCESPAR
1) Fernandes Pinheiro
2) Guamiranga
3) Imbituva
4) Inácio Martins
5) Ipiranga
6) Irati
7) Mallet
8) Prudentópolis
9) Rebouças
10) Rio Azul
11) Teixeira Soares
Municípios e produtores acompanhados
Município
Porto Vitória
Rio Azul
São Mateus do Sul
União da Vitória
Total
Número de propriedades
1
1
4
1
7
Figura 1. Municípios de atuação e número de famílias acompanhadas.
2.2 Descrição dos Indicadores Selecionados
Para a avaliação econômica nas safras de 2005/2006 a 2007/2008
foram escolhidos os seguintes indicadores:
a) Custos Variáveis Totais (CVT) = insumos + combustíveis e manutenção
+ mão de obra contratada + aluguel de máquinas;
b) Renda Bruta Total (RBT) = somatório da quantidade de produto x
preço do produto;
c) Margem Bruta Total (MBT) = renda bruta total – custos variáveis totais;
d) MBT/SAU1 = margem bruta por unidade de área utilizada;
e) Unidade de Trabalho-Homem (UTH) = 2.400 horas de trabalho de
uma pessoa adulta (300 dias de 8 horas)
f) Unidade de Trabalho-Homem familiar (UTHf) = total de horas
trabalhadas na produção pela família divididas por 2.400 horas, que
representa um adulto com jornada diária de 8 horas, durante 300
dias úteis de trabalho do ano agrícola (RODRIGUES et al., 1997).
SAU: superfície agrícola útil em hectares destinada ao cultivo em cada estabelecimento
agrícola, descontando-se as áreas não cultivadas (florestas, áreas inaproveitáveis,
construções e estradas).
1
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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Os valores monetários levantados em cada safra foram corrigidos
para valores em Real do mês de junho de 20082 (SOARES JÚNIOR e
SALDANHA, 2000; MILLÉO et al., 2006).
A avaliação do autoconsumo e de outras rendas na composição da
renda familiar foram consideradas relevantes.
A avaliação econômica do autoconsumo foi realizada calculando-se o
consumo de alimentos produzidos na propriedade pela cotação diária de
preços médios no varejo do Paraná (SEAB/DERAL, 2008).
2.3 Histórico das Famílias e suas Propriedades
2.3.1 Família 1: sistema tabaco convencional mais leite
no município de São Mateus do Sul
Na propriedade de 11,00 hectares, onde a família reside há 20 anos,
as lavouras anuais representam 56% do total e as áreas de pastagem em
torno de 30% do total. Os 14% restantes estão divididos em pequenas
glebas com mata nativa, áreas reflorestadas com eucalipto, erva-mate e a
sede (Fig. 2).
A cultura do fumo convencional e a produção de leite são as
duas atividades agrícolas que geram renda para a família. O tabaco é
mais intensamente trabalhado pelo agricultor, enquanto sua esposa é
responsável pela produção leiteira. Na época da colheita e beneficiamento
do tabaco, a esposa participa das duas atividades, além de cuidar do lar.
A família cultiva, há dez anos, 66.500 pés de tabaco a cada safra, em
4,40 hectares de área própria, distante 6 km da sede da propriedade. É
esta área que concentra a maior UTHf (Tabela 4).
A atividade leiteira é mais recente, com cinco anos de produção e
venda, e apesar da pouca tecnologia implantada, baseada em pasto
nativo com baixa fertilidade natural, tem-se melhorado a produção
constantemente: de 70 litros.dia-1 com 10 vacas mestiças, no início,
para 200 litros.dia-1 com 20 vacas holandesas, em 2007. Os animais
se alimentam de pastagem comum, parte implantada em sistema
silvipastoril, de suplementação de silagem e ração.
A renda oriunda da venda das folhas de tabaco não permite à
família deixar o exercício da atividade nas próximas safras por não haver
Todos os valores obtidos de Rendas Brutas Totais (RBT), Custos Variáveis Totais (CVT)
e Margens Brutas Totais (MBT) ao fim de cada ano-safra foram corrigidos para junho de
2008, pela inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI)
da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
2
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
a
b
Figura 2. Vista parcial da propriedade com atividade leiteira (a) e sistema
silvipastoril (b).
Tabela 4. Descrição do sistema de produção da Família 1 segundo o uso da terra
e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Descrição
Área total (própria + arrendada)
Área cultivada com tabaco
Área cultivada com grãos
Área com pastagens de verão
Área adicional com pastagens de inverno
Área com mata
Área com outros usos
Mão de obra na atividade leiteira
Mão de obra disponível
Média de 3 safras (2005 a 2008)
ha
UTHf
18,26
-
4,40
1,17
6,40
0,01
3,14
5,33
3,81
1,58
-
-
0,05
0,02
pés (no)
66.500
0,00
0,00
0,46
3,00
alternativa tão boa em termos de receita para quitar as dívidas com a
fumageira e os investimentos realizados na atividade leiteira.
A equipe técnica do IAPAR, na tentativa de diversificar as rendas
da propriedade, promoveu ações propositivas na atividade leiteira
com a instalação de uma unidade de validação de pastagens de inverno
(Avena strigosa - aveia comum x aveia preta IAPAR 61), pastagem perene
(Panicum maximum cv. Aruana), leguminosas de inverno (Vicia sativa
L. - ervilhaca comum) e de verão (Crotalaria juncea e Arachis pintoi amendoim forrageiro), fosfatagem (fosfato natural de Registro - SP),
calagem e adubação.
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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Em 2008, a família interrompeu a atividade leiteira e vendeu as vacas
em produção. Contudo, manteve as novilhas e a estrutura, constituída
de ordenhadeira e resfriador, para um possível retorno à atividade. A
decisão foi tomada em função dos baixos preços (R$ 0,45 por litro na
safra 2007/2008) praticados pelo único laticínio da região e pelos bons
resultados obtidos com o tabaco e o feijão, comercializado na safra das
águas de 2007/2008 por R$ 200,00 a saca de 60 kg.
Parte das áreas reservadas à pastagem foi destinada ao tabaco e ao
feijão das secas na safra 2008/2009.
2.3.2 Família 2: sistema tabaco orgânico mais grãos
no município de São Mateus do Sul
Antes de se casar, o agricultor sempre trabalhou junto a seus pais e
irmãos, na produção de feijão.
Com a introdução da fumicultura na região de São Mateus do Sul, a
família ingressou nesta atividade que prometia ser a melhor opção para
a agricultura familiar em pequenas áreas. Durante 12 anos, cultivaram
tabaco de maneira convencional.
Após o casamento, nos primeiros dois anos, o casal dedicou-se à
agricultura de subsistência em imóvel próprio. Com o nascimento do
primeiro filho, a necessidade de elevar a renda os levou a reiniciar a
fumicultura convencional, na qual atuaram por três anos.
Segundo o agricultor, a introdução da agricultura de base ecológica
na propriedade se deu por influência e incentivo da AS-PTA. No ano de
1999, com o nascimento do segundo filho, que apresentava alergia à
lactose e precisava ser alimentado com leite de soja, o casal decicidiu
cultivar soja orgânica e processar o leite na propriedade, pois não
tinha recursos financeiros suficientes para comprar o produto
industrializado.
A partir disso, a família aumentou gradativamente a produção de
alimentos cultivados de maneira ecológica para o autoconsumo e percebeu
nessa mudança melhorias na saúde da família e nas finanças, com a redução
dos custos de produção.
Durante esse período, a propriedade encontrava-se em fase de
transição para uma agricultura de base ecológica, sendo que em 2003
a família iniciou o cultivo de tabaco orgânico certificado. A atividade
proporcionava remuneração até 50% maior que a fumicultura convencional,
porém demandava mais mão de obra e trabalho árduo.
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Em 2004, na tentativa de encontrar uma alternativa à cultura do
tabaco na região e de comercializar o excedente da produção orgânica, os
agricultores se mobilizaram para fundar uma cooperativa de produtores
de base ecológica. Como resultado, em 2005 foi fundada a Cooperativa
de Famílias de Agricultores Ecológicos em São Mateus do Sul (COFAECO).
A propriedade da família está dividida em glebas, nas quais são
realizadas rotações de culturas, sendo uma parte utilizada para plantio
de tabaco (Fig. 3), em média 30.667 pés em 2,10 hectares, que demandam
boa parte da mão de obra (Tabela 5). No restante da propriedade, cultivase cebola, alho, batata, feijão (Fig. 4), milho e arroz orgânicos – principais
fontes de renda da família, que produz as sementes da maioria das espécies
cultivadas na propriedade, o que reduz ainda mais os custos de produção.
Segundo o agricultor, tem-se constatado a partir de análises do solo
que a fertilidade vem melhorando gradativamente, em virtude do uso de
cama de aviário e de adubação verde, aumentando a produtividade.
A família possui trator e implementos para o preparo do solo, porém
a maior parte das atividades é realizada com o uso de tração animal.
Para eles, os principais problemas de ordem técnica na propriedade
são: controle de plantas invasoras, alto custo dos insumos adquiridos,
principalmente a cama de aviário, e a falta de equipamentos e implementos
adequados ao sistema agroecológico.
O manejo do solo inadequado associado à declividade da área
tem causado erosão na propriedade. As perdas de solo verificadas e
contabilizadas pela equipe do IAPAR sensibilizaram a família, que passou
a adotar medidas conservacionistas mais efetivas nas áreas com maiores
Figura 3. Cultivo de tabaco orgânico.
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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Tabela 5. Descrição do sistema de produção da Família 2 segundo o uso da terra
e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Descrição
Área total (própria + arrendada)
Área cultivada com tabaco
Área cultivada com grãos
Área com pastagens nativas
Área com mata
Área com outros usos
Mão de obra com criações
Mão de obra disponível
Média de 3 safras (2005 a 2008)
ha
UTHf
18,37
-
2,11
0,99
4,36
0,02
7,63
0,70
3,57
-
0,30
0,01
pés (nº)
30.667
0,00
0,13
2,00
Figura 4. Cultivo de feijão orgânico IPR Graúna.
problemas. Em parte da área foram construídas curvas de nível, sobre as
quais foram plantadas mudas de laranjeira.
A família relata que o maior entrave encontrado é a dificuldade na
comercialização dos produtos, pois não há certeza da comercialização
e o tempo para desempenhar as tarefas de produzir e comercializar
simultaneamente é escasso. A pouca organização comunitária também
contribui com o aumento dessas dificuldades. Os problemas de ordem
social da comunidade estão na infraestrutura insuficiente de saúde e
educação e na ausência de lazer.
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
O uso indiscriminado de produtos químicos na vizinhança inviabilizou
a produção de base ecológica em certas áreas e obrigou a família a mudar
o local da residência para outra área da propriedade, mais distante das
atividades principais.
Nas últimas duas safras, foram feitos investimentos na construção de
uma estufa e um galpão, próximos à residência, para secagem e preparo
das folhas de tabaco. Antes, era utilizada a estrutura do pai, mais distante
da sede, para a realização deste serviço. Também foi adquirida uma
colhedora de milho de uma linha usada, acoplada ao trator, com o objetivo
de diminuir a penosidade do trabalho e reduzir o tempo de colheita. O
milho destinado ao consumo próprio ainda é colhido e armazenado em
espigas, já o colhido à máquina é comercializado a granel, logo após a
colheita. Na safra 2008/2009 foi possível aumentar a área cultivada com
milho, diversificando mais a renda em relação ao tabaco.
2.3.3 Família 3: sistema tabaco orgânico especializado
no município de São Mateus do Sul
Quando solteiro, o agricultor morava com os pais e dez irmãos, tendo
a fumicultura como atividade principal da família. A propriedade tinha
aproximadamente 120,00 hectares e foi dividida entre os irmãos logo
após o falecimento dos pais, tendo cada irmão herdado aproximadamente
10,00 hectares, administrados em forma de condomínio. Na sua área, o
agricultor produzia grãos, principalmente feijão, em sociedade com um
cunhado. Com os lucros da atividade, investiu na compra de outras áreas
e implementos de tração animal, possuindo atualmente 13,00 hectares.
Frustrações em safras anteriores e a baixa lucratividade das atividades
agrícolas levaram o agricultor, já casado, a trabalhar como pedreiro por
sete meses. No entanto, com o incentivo do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de São Mateus do Sul, que junto à AS-PTA promovia eventos de
divulgação das práticas agroecológicas, a família iniciou alguns trabalhos
nesta área. Convencidos de que não poderiam continuar trabalhando da
maneira em que se encontravam, devido aos altos custos de produção, o
agricultor relata que “ou mudavam o sistema de produção ou teriam que
se mudar para a cidade.”
Decidiram, então, iniciar a conversão da propriedade para a
agroecologia em 1998 e começaram a trabalhar com horticultura,
mas tiveram problemas na produção devido à escassez de água na
propriedade. Estavam com 70% da propriedade convertida, porém
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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a atividade não era lucrativa devido à necessidade de mão de obra
contratada e ao alto custo do transporte da produção até a cidade.
Também, pela falta de mercado específico, comercializavam o produto
orgânico pelo mesmo preço do convencional.
Em 2002, o agricultor iniciou o cultivo de tabaco orgânico certificado
com 30.000 pés em 1,77 hectare. A atividade, que não permite o uso de
produtos químicos, proporcionava remuneração até 50% superior ao da
fumicultura convencional, porém demandava mais trabalho (1,05 UTHf)
(Tabela 6). A família optou por essa atividade por possuir uma propriedade
familiar pequena, mas tem esperanças de que outras alternativas mais
rentáveis e menos onerosas possam substituir a fumicultura e manter a
sustentabilidade da família e da propriedade.
A família cultiva tabaco orgânico em rotação com outras culturas
como milho e feijão, no sistema orgânico, por exigência da empresa
certificadora. A reposição de nutrientes é feita com cama de aviário e
adubação verde (Raphanus sativus L. - nabo forrageiro IPR 116, Avena
strigosa - aveia preta IAPAR 61, Lolium multiflorum L. - azevém comum
e Vicia sativa - ervilhaca comum). O preparo do solo é mecanizado e os
tratos culturais são realizados com implementos de tração animal (Fig. 5a)
e manual (Fig. 5b). Na safra 2007/2008 foi implantado um pomar de pera
e outro de uva com a intenção de comercializar a produção e diversificar
um pouco a atividade.
Uma das dificuldades é que a propriedade é desprovida de nascentes
de água, embora conte com uma área de mata nativa que está sendo
mantida e conservada. Outro problema que impede a diversificação é a
impossibilidade de obter financiamentos, pois a propriedade faz parte
Tabela 6. Descrição do sistema de produção da Família 3 segundo o uso da terra
e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Descrição
Média de 3 safras (2005 a 2008)
ha
UTHf
Área total
13,00
-
Área com mata
4,45
Área cultivada com tabaco
Área cultivada com grãos
Área com outros usos
Mão de obra disponível
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 33
1,77
1,05
3,54
-
3,24
-
0,20
0,02
pés (nº)
30.000
2,00
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34
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
a
b
Figura 5. Agricultor realizando capina mecânica com tração animal (a) e repasse
manual (b) no tabaco.
de um condomínio e não está registrada em nome da família. A dificuldade
de comercialização associada à pouca mão de obra e ao alto risco que a
mudança de atividade pode trazer são outros entraves encontrados.
De acordo com o agricultor, ainda falta infraestrutura na comunidade,
como posto de saúde, que está fechado, e o escoamento da produção é
difícil. Esses fatores são limitantes para que a família permaneça na zona
rural. Outra preocupação, segundo ele, está no choque cultural que as
crianças da zona rural sofrem quando vão estudar na área urbana. Ele
acredita que deveria se investir na formação dessas crianças no campo,
evitando confrontos culturais e de valores.
A propriedade ainda possui alguns problemas de ordem ambiental
como os resíduos de agrotóxicos de propriedades vizinhas e as
pulverizações aéreas que têm limitado a produção de tabaco orgânico
devido às rigorosas exigências da certificadora.
2.3.4 Família 4: sistema tabaco orgânico diversificado
no município de São Mateus do Sul
O agricultor construiu, em 1974, a primeira estufa para secagem das
folhas do tabaco em parceria com três de seus irmãos, pois a fumicultura
prometia ser a melhor opção para a agricultura familiar. Aos poucos,
adquiriram novas áreas e diversificaram a produção com o cultivo de
batata, milho, feijão e extração de erva-mate.
A mudança para a agricultura de base ecológica deu-se em virtude
de problemas de saúde resultantes de intoxicações por agrotóxicos e da
busca por melhor qualidade de vida para a família.
Conhecimentos empíricos os levaram à adoção de novas práticas
no sistema de produção tais como uso de adubo verde, camas de aviário
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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(frango e peru) e esterco de suíno. Observaram que o solo começou a
melhorar, a aumentar seu teor de matéria orgânica e as análises de solo
comprovaram a melhoria na fertilidade com o uso de calcário e fosfato
natural, o que resultou no aumento de produtividade.
Inserida no contexto regional, a família sempre atuou politicamente
em busca de melhorias e benefícios para a agricultura familiar,
estando presente por mais de 20 anos na diretoria do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de São Mateus do Sul, onde contribuiu e difundiu
seus conhecimentos. A família participou do projeto Agrofloresta, uma
ação da AS-PTA na região.
O agricultor cita que em função dos altos custos das sementes
e da não adaptação das cultivares à realidade da agricultura familiar
estabeleceram, por intermédio do Fórum e com o apoio da AS-PTA, uma
parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) para desenvolver
o resgate e o melhoramento de variedades crioulas.
A propriedade está situada em um faxinal e possui 41,00 hectares
divididos em glebas, numa das quais, de aproximadamente 9,00 hectares,
cultiva-se erva-mate no sistema sombreado (Fig. 6), certificada como
produto orgânico pela Rede Ecovida3. São realizados cortes regulares
Figura 6. Vista parcial do faxinal com erva-mate.
A Rede Ecovida de Agroecologia é constituída por agricultores familiares, técnicos
e consumidores reunidos em associações, cooperativas, grupos informais, pequenas
agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento
da agroecologia. A sua certificação é participativa, pois além de garantir a qualidade
do produto ecológico, permite o respeito e a valorização da cultura local, aproximando
agricultores e consumidores pela construção de uma rede que congregue iniciativas de
diferentes regiões.
3
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
de três em três anos, em sistema de rodízio, em áreas de tamanho similar,
assim todos os anos há erva-mate para comercializar.
A erva-mate colhida é beneficiada dentro da propriedade, pois com
o auxílio do projeto Agrofloresta a família recebeu um sapecador e um
cancheador, que foram instalados com recursos próprios, visando a
alcançar um mercado diferenciado com erva beneficiada e a contribuir
com a comunidade no processamento. No faxinal, mantêm suínos para
consumo próprio e algumas cabeças para venda a terceiros.
Nas outras glebas, são realizadas rotações de culturas, sendo que
em 0,92 hectare são cultivados 13.467 pés de fumo. As demais áreas
são ocupadas com batata (Fig. 7), feijão, milho, arroz, centeio, aveia
e trigo orgânicos, que são as principais fontes de renda da família. Em
área próxima à sede são criados suínos, galinhas e cultivadas hortaliças
para consumo familiar e venda na feira de sábado, na cidade. Na Tabela 7
é apresentada a distribuição da mão de obra (UTHf) nas diferentes
atividades na propriedade.
A família possui trator, semeadora à tração mecânica, distribuidora
de calcário, trilhadeira, pulverizador, carreta, grade, arado e escarificador
(pé de pato), que foram adquiridos em sociedade pelos três irmãos. Os
tratos culturais são realizados com tração animal.
A família preserva a mata nativa, principalmente ao redor das
nascentes, e faz um trabalho de conscientização na comunidade buscando
melhorias na qualidade e manutenção da água.
Para o agricultor, os principais problemas de ordem técnica na
propriedade são a falta de equipamentos e implementos adequados à
Figura 7. Cultivo de batata IAPAR Cristina.
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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Tabela 7. Descrição do sistema de produção da Família 4 segundo o uso da terra
e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Descrição
Média de 3 safras (2005 a 2008)
ha
UTHf
Área total
41,00
-
Área com mata
20,68
Área cultivada com tabaco
Área cultivada com grãos
Área com outros usos
Mão de obra com criações
Mão de obra na comercialização
Mão de obra disponível
0,92
0,56
9,53
-
9,87
-
-
0,34
0,09
pés (nº)
13.467
0,08
0,20
3,00
realidade do sistema de base ecológica, o controle de plantas invasoras
e o manejo de doenças, pois não há produtos ou práticas específicos e
eficientes para todas as situações.
A dificuldade de comercialização dos produtos é o maior entrave
encontrado pela família, que cita não haver garantia de venda da
produção e que falta tempo para desempenhar bem as tarefas de produzir
e comercializar. Na opinião do agricultor, tais limitações ocorrem pela
pouca disponibilidade de mão de obra na família, constituída de três
pessoas apenas, e pela falta de organização comunitária. Os integrantes da
comunidade, segundo o agricultor, acomodaram-se em função do sistema
de trabalho das empresas fumageiras, que fornecem financiamento,
insumos e assistência técnica.
A distância de 11,5 km da propriedade até a cidade dificulta o
transporte da produção, o que prejudica a comercialização. A família tem
gastos com a compra de alimentos que não produz e são adquiridos em
uma venda da comunidade, onde os preços são elevados.
A família comprou na última safra novas áreas agrícolas, um trator e
um distribuidor de esterco sólido e corretivos (calcário e fosfato natural).
Com o projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas, a
família tem interagido com técnicos do IAPAR na instalação de Unidades
Técnicas de Validação (cultivares de feijão, milho, batata e centeio). Avanços
no controle contábil dos gastos e receitas têm sido alcançados na gestão da
propriedade, permitindo apostar na diversificação de atividades.
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4/8/2011 16:00:50
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
2.3.5 Família 5: sistema tabaco orgânico mais grãos
no município de Rio Azul
A cultura do tabaco se estabeleceu no município de Rio Azul em
1973 e a família aderiu ao plantio desta cultura até o ano de 1986. Em
1988, mudou-se para a cidade de Rio Azul, onde nasceu a filha mais
velha. No ano seguinte, construíram uma casa em uma propriedade
do pai, mudando-se novamente para a zona rural. Com as receitas
advindas do tabaco, construíram uma estufa e um paiol. Durante os
anos de 1990 a 1992, a venda das folhas de tabaco convencional foi
a principal renda da família. Por ter boa relação com pessoas ligadas
ao sindicato dos trabalhadores rurais do município, o agricultor foi
eleito presidente da instituição e a família mudou-se novamente para
a cidade de Rio Azul.
Como dirigente sindical, o agricultor dedicou-se à promoção da
agricultura de base ecológica em parceria com a AS-PTA. Com o fim do
mandato, em 1995, a família retornou à propriedade rural e iniciou o
cultivo de feijão, milho e arroz com o uso mínimo de agrotóxicos, porém
era a cultura de tabaco que gerava renda à família.
A família priorizou, em 1999, o cultivo de base ecológica na
propriedade, com o apoio da Pastoral da Juventude Rural, escolhendo
cultivares mais indicadas para esse sistema, entre elas a cultivar de feijão
IAPAR 44. De 2000 a 2006, as culturas predominantes foram milho, feijão
e arroz em cultivos de base ecológica e o tabaco convencional. Para maior
conhecimento sobre temas relacionados à agroecologia, a filha mais velha
fez o curso Técnico em Agroecologia no município de Palmeira, formou-se
no final de 2006, mas não permaneceu na propriedade.
No transcorrer do trabalho de acompanhamento, a equipe do projeto
Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas observou significativas
melhorias na propriedade, tais como: fertilidade do solo, melhora no
manejo das culturas e crescimento da renda familiar. A família participa
da maioria dos eventos relacionados à agroecologia na comunidade e
repassa informações aos produtores próximos.
A safra 2006/2007 foi constituída, na sua maioria, pela produção
de base ecológica de feijão e milho, sendo acompanhada por técnicos do
IAPAR em experimentos relacionados a técnicas de base ecológica. Nos
experimentos foram utilizadas as cultivares de feijão IPR Graúna, IPR
Chopim (Fig. 8a), IAPAR 44 e o milho variedade IPR 114 (Fig. 8b).
Segundo o agricultor, a frustração nos preços do feijão os “obrigou”
a voltar a trabalhar com tabaco, mas desta vez orgânico, com apoio dos
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 38
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
39
técnicos do IAPAR. Na média dos anos, a família cultiva 15.000 pés em
1,00 hectare, sem abdicar do feijão e do milho, mas em menor escala. A
distribuição da mão de obra, em UTHf, está representada na Tabela 8.
a
b
Figura 8. a) Tabaco orgânico (esquerda), feijão IPR Chopim em emergência
(centro) e feijão IPR Graúna (direita); b) Milho IPR 114.
Tabela 8. Descrição do sistema de produção da Família 5 segundo o uso da terra
e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Descrição
Área total
Área cultivada com tabaco
Área cultivada com grãos
Área com pastagens nativas
Área com mata
Área com outros usos
Mão de obra com criações
Mão de obra disponível
Média de 3 safras (2005 a 2008)
ha
UTHf
22,80
-
1,00
0,86
12,18
0,02
3,99
1,00
4,63
-
-
0,23
0,01
pés (nº)
15.000
-
0,08
2,00
2.3.6 Família 6: sistema agroindústria diversificado
no município de União da Vitória
A família relata que adquiriu a primeira propriedade, no município
de Cruz Machado, com a venda de nove porcos que pesavam em média
100 kg cada. A produção era de subsistência, plantando milho, arroz,
feijão e criando alguns animais, herança do pai do agricultor que dizia
que na propriedade é bom ter de tudo, inclusive vários tipos de animais.
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 39
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40
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
A propriedade onde a família reside atualmente, localizada no
município de União da Vitória, tem aproximadamente 40,00 hectares e
foi adquirida em 1983, com a venda da propriedade de Cruz Machado.
No início, exploravam lavouras de subsistência e a produção agrícola
era baixa. Não tinham como, para quem e o que comercializar. O pouco que
vendiam era para comprar sal e tecido para confecção de roupas para a
família. O manejo das lavouras era no sistema “roça de toco”, utilizando
tração animal para o plantio e capinas. Nas lavouras de arroz, utilizavam
adubos químicos, porém não agrotóxicos. A propriedade era dividida em
áreas de tamanhos iguais, nas quais era realizado o rodízio das lavouras
com pousio. O retorno à primeira área para plantio ocorria após cinco
anos, quando as capoeiras já estavam altas e a terra havia descansado o
suficiente. O plantio do tabaco teve início em 1995 e a família permanece na
atividade há dez anos para pagar algumas dívidas da propriedade (Fig. 9).
Com a passar dos anos, melhorias de infraestrutura chegaram à
comunidade, como o asfalto, que permitiu impulsionar o processo de
comercialização. Por incentivo da Associação dos Agricultores Orgânicos
do Paraná (AOPA), a família foi estimulada a plantar verduras de forma
agroecológica para vender em Curitiba e Região Metropolitana. Iniciaram
vendendo cenoura e beterraba, produtos que resistiam melhor ao
transporte e a maiores distâncias sem perder a qualidade. Obtinham com
a atividade uma renda em torno de um salário mínimo por mês.
Percebendo que a agroecologia era uma boa opção para agricultores
familiares, em 2003 foram feitos investimentos no plantio de 0,50 hectare
de uva rústica, colhendo 1.000 kg de frutos já na primeira produção.
Figura 9. Tradicional tabaco de corda.
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 40
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
41
Em 2004, a família iniciou a construção de uma unidade de
alvenaria de 40 m2, com recursos do PRONAF Agroindústria, para a
agroindustrialização do mel e da uva em forma de suco e vinho (Fig. 10).
A venda desses produtos, feita pelo Programa de Aquisição de Alimentos,
trouxe aumento na renda líquida familiar, atingindo o valor de R$ 8.000,00
na safra 2005/2006. A família participa do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e entrega mel e feijão em escolas, creches, asilos e outras
entidades assistenciais do município de União da Vitória.
As decisões de planejamento da propriedade são discutidas em
conjunto pela família, embora apenas um dos sete filhos ainda more na
propriedade com os pais.
Os agricultores recebem assistência técnica do Instituto Paranaense
de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e realizam pesquisas
participativas desenvolvidas em parceria com o IAPAR no projeto Rede de
Propriedades Familiares Agroecológicas.
As práticas de base ecológica adotadas na propriedade são o
uso de adubos verdes em consórcio com lavouras, plantio de inverno,
compostagem e aplicação das caldas bordalesa e sulfocálcica na uva.
Faltam tecnologias de base ecológica para diminuir a necessidade de
mão de obra para as capinas.
No decorrer de sua participação no projeto Rede de Propriedades
Familiares Agroecológicas, a família deixou de produzir tabaco em corda
e instalou uma agroindústria. Na safra 2006/2007, produziu 1.600
unidades de pepino em conserva, 3.600 kg de uva comercializada in
natura, vinho, suco, mel, milho e feijão embalados e comercializados
Figura 10. Mel e suco de uva processados na agroindústria.
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
junto ao PAA. O recebimento de duas aposentadorias também contribuiu
para a decisão de abandonar o cultivo de fumo.
Na safra 2007/2008, plantaram mais 1.000 pés de uva, sendo
que suas receitas foram oriundas da comercialização de produtos da
agroindústria: sucos, vinho e mel. Seus produtos são certificados pela
Ecocert4, por intermédio da Cooperativa Agroecológicos do Vale do
Iguaçu (Cooavi), com sede em União da Vitória. Na safra 2008/2009,
produziram mel, suco, vinho e grãos para consumo próprio, vendendo
o excedente.
Na Tabela 9 é apresentada a distribuição da mão de obra, em
UTHf, demonstrando a diversidade presente na propriedade.
Tabela 9. Descrição do sistema de produção da Família 6 segundo o uso da terra
e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Descrição
Área total
Área cultivada com tabaco em 2005
Área cultivada com grãos
Área com videiras
Área com pastagens nativas
Área com mata
Área com outros usos
Mão de obra na agroindústria
Mão de obra com criações
Mão de obra disponível
Média de 3 safras (2005 a 2008)
ha
UTHf
40,00
-
0,31
0,26
2,24
0,01
8,08
0,50
24,90
4,17
-
0,50
0,09
pés (nº)
5.000
-
0,01
0,20
0,23
3,50
2.3.7 Família 7: sistema de produção de olerícolas
e pequenos frutos no município de Rio Azul
O agricultor e sua esposa iniciaram a produção de tabaco logo que
se casaram, em 1982. Um ano depois, mudaram-se para o município de
Rio Azul, arrendaram uma área e uma estufa de tabaco e permaneceram
A Ecocert Brasil utiliza a certificação ESR - comércio justo, solidário e responsável, que
possui grande credibilidade e aceitação nos mercados internacionais, em especial na
União Europeia.
4
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 42
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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nesta atividade por quatro anos. Frustrações financeiras e o nascimento
da primeira filha os levaram a desistir da atividade e procurar emprego
e residência fora da zona rural. Durante esse período, foram adquirindo
equipamentos agrícolas de tração animal para, no ano de 1993, retornarem
à fumicultura, em área e estufa arrendadas. Com o apoio e financiamento
da empresa fumageira, adquiriram a propriedade onde residem e
trabalham até os dias de hoje. Permaneceram na fumicultura por mais
sete anos, período em que também desenvolveram a horticultura.
Começaram a participar das atividades do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Rio Azul que, junto à AS-PTA, promovia eventos para divulgação
de práticas de base ecológica. A família também promovia o intercâmbio
de informações entre os agricultores que já estavam inseridos no sistema.
Gradativamente, adotaram práticas de base ecológica em função de
problemas de saúde e da baixa lucratividade da fumicultura.
Com o início do trabalho da Rede de Propriedades Familiares
Agroecológicas e principalmente pela realização da análise socioeconômica
da propriedade, constataram que a fumicultura já não era mais a melhor
opção de renda da família. Pararam definitivamente com a atividade e
fizeram novos investimentos para iniciar a produção de olerícolas e frutos
como morango, amora e uva. Aos poucos, aumentaram e diversificaram
a produção, de acordo com as exigências do mercado consumidor. Como
possuem uma área pequena, ocupam os espaços livres no parreiral para
produzir hortaliças (Fig. 11).
Atualmente, produzem uma grande diversidade de olerícolas que
são vendidas diretamente aos consumidores finais nas formas in natura,
Figura 11. Vista parcial do parreiral com cultivo de hortaliças.
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 43
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44
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
semiprocessada e processada (Fig. 12). Além das olerícolas, a uva que
produzem é vendida in natura e na forma de vinho e suco. O morango é
vendido in natura e como geleia. Também produzem grãos e cereais como
feijão, milho e arroz para autoconsumo, diminuindo custos externos à
propriedade. Na Tabela 10 consta a distribuição da mão de obra, em UTHf.
A propriedade, de aproximadamente 1,00 hectare, tem rotação
muito bem planejada para que a oferta esteja de acordo com a demanda.
Figura 12. Diversidade de produtos comercializados.
Tabela 10. Descrição do sistema de produção da Família 7 segundo o uso da
terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.
Média de 3 safras
(2005 a 2008)
Descrição
Área total (própria + arrendada)
Área cultivada com tabaco
Área cultivada com grãos
Área com olerícolas e frutas
Área com mata
Área com outros usos
Mão de obra no preparo e na comercialização
Mão de obra disponível
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 44
ha
UTHf
1,89
-
0,00
0,89
-
0,02
0,50
1,41
-
1,04
0,30
0,30
-
pés (nº)
0
-
-
3,00
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
45
Como é realizada uma agricultura de base ecológica, o composto
é produzido com restos de culturas e esterco de caprinos, ovinos e
bovinos obtidos na propriedade vizinha. Também utilizam urina de vaca
e supermagro5 como fonte de adubação e para o controle de doenças.
Os resultados das análises de solo feitas pelo IAPAR indicaram teores
altos de matéria orgânica pelo uso de composto e de adubação verde.
A localização favorável, a estrutura adequada e a boa receptividade
da família fazem com que vários eventos promovidos pelas instituições
atuantes na região sejam realizados nesta propriedade que, mesmo sendo
pequena, tem suas áreas da beira do rio preservadas para recuperação e
proteção da mata ciliar, pois a família trabalha junto com a comunidade
em um projeto de reposição da mata ciliar.
No Capítulo 3 está apresentado o desempenho comparado dos
sistemas:
a) Família 1: sistema tabaco convencional mais leite;
b) Família 2: sistema tabaco orgânico mais grãos;
c) Família 3: sistema tabaco orgânico especializado;
d) Família 4: sistema tabaco orgânico diversificado;
e) Família 5: sistema tabaco orgânico mais grãos;
f) Família 6: sistema agroindústria diversificado;
g) Família 7: sistema de produção de olerícolas e pequenos frutos.
Biofertilizante foliar obtido da mistura de materiais orgânicos, minerais, esterco e água.
5
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4 Livro Fumo 04-08-11.indb 46
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3
Avaliação Socieconômica
dos Sistemas
Os resultados apresentados nas Tabelas de 11 a 13 permitem
comparar o sistema convencional de produção de tabaco e leite (Família 1)
com quatro modalidades de produção de tabaco orgânico:
1) modalidade especializada em tabaco (família 3);
2) modalidade diversificada com tabaco e outras atividades de
menor renda (famílias 2, 4 e 5);
3) modalidade com dois sistemas alternativos ao tabaco envolvendo
um conjunto de produtos (frutas, hortaliças, erva-mate e mel)
processados e com valor agregado de caráter agroindustrial
(famílias 6 e 7).
3.1 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas de Produção
Na Tabela 11 são apresentadas as Rendas Brutas Totais (RBT), os
Custos Variáveis Totais (CVT) e as Margens Brutas Totais (MBT) das
unidades produtivas das sete famílias de agricultores.
A Margem Bruta Total (Receita Bruta Total - Custos Variáveis Totais)
é a medida de rentabilidade mais utilizada por pesquisadores, técnicos
e empiricamente pelos agricultores, devido à relativa facilidade de
obtenção e pelo significado prático imediato de saber quanto sobra da
receita total, retiradas as despesas diretas (Custos Variáveis). A margem
bruta por unidade de área permite a comparação entre estabelecimentos,
independentemente do tamanho (SOARES JÚNIOR e SALDANHA, 2000;
CARVALHO et al., 2001; FUENTES LLANILLO, 2007).
A Família 1 é típica produtora de tabaco convencional e leite, com uma
Margem Bruta Total (MBT) relativamente alta e estável de R$ 38.197,79 por
ano, a maior de todo o grupo em análise. Tem Custos Variáveis Totais (CVT)
elevados devido à intensidade de capital em insumos que a cultura de fumo
convencional exige.
As Famílias 2, 3 e 4 produzem tabaco orgânico e obtiveram, em
média, Margens Brutas Totais (MBT) relativamente semelhantes, porém
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 47
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48
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Tabela 11. Renda Bruta Total (RBT), Custo Variável Total (CVT) e Margem Bruta
Total (MBT) dos sistemas de produção e a RBT/CVT (R$/junho de
2008 - IGP-DI1).
Média de 3 safras (2005 a 2008)
Família
1
2
3
4
5
6
7
Sistema de produção
Fumo convencional + leite
Fumo orgânico + grãos
Fumo orgânico especializado
Fumo orgânico diversificado
Fumo orgânico + grãos
Agroindústria diversificado
RBT
CVT
MBT
RBT/
CVT
76.287,04 38.089,26 38.197,79 2,00
29.664,23
34.004,54
8.050,72 21.606,84 3,68
8.311,41 25.814,70 4,09
39.875,91 11.700,12 28.175,79 3,41
14.412,79
24.548,68
Olerícolas + pequenos frutos 25.259,77
3.354,40 11.058,39 4,30
9.304,01 15.244,67 2,64
4.272,16 20.987,60 5,91
mais próximas do padrão convencional, com valores que variam de R$
22.000,00 a R$ 28.000,00 por ano. Os produtores de tabaco orgânico,
inclusive a Família 5, apresentam RBT/CVT superior (de 3,41 a 4,30) à da
Família 1 (2,0).
Os melhores resultados dos sistemas de tabaco orgânico podem ser
explicados por duas razões: a primeira delas é que o tabaco orgânico,
assim como outras atividades orgânicas, tem Custos Variáveis Totais
(CVT) muito mais baixos que o tabaco convencional, facilitando a obtenção
de Margem Bruta Total (MBT) com pouca inversão. A segunda é que à
medida que a família passa pelo processo de transição, recebe bonificação
nos preços (que chegam a 50% sobre o preço do convencional), fator que
facilita o incremento na Margem Bruta Total (MBT).
A Família 5, produtora de tabaco orgânico mais grãos, apresentou
a menor Margem Bruta Total (MBT) do grupo porque dispõe de pouca
área de cultivo e está apenas começando a desfrutar dessa bonificação
de tabaco orgânico certificado. Contudo, apresentou RBT/CVT superior
(4,30) às demais famílias em função de praticamente não ter utilizado
insumos externos à propriedade. A migração do fumo para o feijão
na safra 2006/2007, período de baixa nos preços deste cultivo e da
decorrente frustração econômica, também contribuiu para uma menor
Margem Bruta Total (MBT).
IGP-DI: Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, apurado pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV) do primeiro ao último dia de cada mês.
1
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
49
Bertotti (2007) argumenta que a produção de tabaco orgânico
com bônus de 50% é um forte atrativo para os agricultores da região,
confirmando a tendência de ampliação da área cultivada com tabaco
no Brasil. Assim, as fumageiras se adaptam para continuar garantido a
produção de tabaco.
Pelinski e Guerreiro (2004) constataram, ainda, que a relação
benefício/custo total na produção orgânica de tabaco proporcionou
retorno de R$ 1,93 para cada unidade monetária aplicada, enquanto no
sistema convencional correspondeu a R$ 1,36.
As Famílias 6 e 7 conduzem sistemas alternativos em relação ao
tabaco e romperam o vínculo com a cadeia do fumo, que já foi a principal
fonte de ingresso de receita no passado.
A Família 6 produzia tabaco de corda até 2005/2006, quando seu
investimento na produção de uva (agroindustrializada em suco) e mel
processado evoluiu, mantendo a Margem Bruta Total (MBT) em torno de
R$ 15.000,00 por ano, além da produção para autoconsumo, como será
discutido a seguir.
A Família 7 deixou a cultura do tabaco, que era plantada em área
arrendada, na safra 2004/2005. A partir daí, começou a produzir
hortaliças para venda no varejo, in natura e processadas (lavadas e
cortadas, e em conservas), e frutas, in natura ou na forma de geleias.
Esse conjunto de atividades gera atualmente uma Margem Bruta Total
(MBT) de R$ 21.000,00 por ano, em média, com Custos Variáveis Totais
(CVT) muito baixos, bem como um RBT/CVT superior a todos os sistemas
estudados, demonstrando uma boa inversão de recursos financeiros.
3.2 Avaliação do Autoconsumo e de Outras Rendas na
Composição da Renda Familiar
A produção para autoconsumo, apresentada na Tabela 12, é um
importante componente na composição da renda e na qualidade de vida
das famílias dos Territórios em estudo, constituindo uma renda não
monetária importante para todos os sistemas estudados.
Nos casos de menor autoconsumo, estes assumem valores monetários
de R$ 3.100,00/ano (12% MBT) no sistema tabaco orgânico especializado
(Família 3) e R$ 4.600,00/ano (12% MBT) no sistema tabaco convencional
mais leite (Família 1).
Em casos intermediários, assumem valores de R$ 5.800,00/ano (27%
MBT), R$ 8.400,00/ano (31% MBT) e R$ 4.200,00/ano (38% MBT) para os
sistemas de tabaco orgânico mais grãos (Famílias 2, 4 e 5, respectivamente).
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50
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Tabela 12. Valor da produção de autoconsumo e outras rendas dos sistemas
(R$/ano de junho de 2008 - IGP-DI).
Família
1
2
3
4
5
6
7
Sistema de produção
Média de 3 safras (2005 a 2008)
Autoconsumo
Fumo convencional + leite
4.601,76
Fumo orgânico diversificado
8.367,26
Fumo orgânico + grãos
Fumo orgânico
Fumo orgânico + grãos
Agroindústria diversificado
Olerícolas + pequenos frutos
Outras rendas
-
5.837,56
2.235,32
4.210,56
-
3.139,13
12.314,00
4.218,07
-
-
5.908,28
1.579,73
No sistema olerícolas mais pequenos frutos (Família 7), a Margem Bruta
Total (MBT) passa a R$ 4.200,00/ano (20% MBT).
No caso de maior autoconsumo, destaca-se o sistema agroindústria
diversificado (Família 6), que alcançou R$ 12.300,00/ano (81% MBT) na
média das últimas três safras.
Em razão do valor do autoconsumo, ocorrem certas compensações
na renda em favor de sistemas diversificados como o da Família 6,
principalmente, mas também das Famílias 2 e 4. Assim, ao avaliarem
socioenomicamente a Família 6, Ahrens et al. (2007) descreveram a
grande diversidade de produtos consumidos: abóbora, abobrinha, alface,
amendoim, arroz, batata-doce, batatinha, beterraba, carnes (frango, gado
e suíno), cenoura, couve, erva-mate, feijão, leite, mandioca, mel, pepino,
ovos, rabanete, repolho, salsa, tomate e suco de uva.
Buainain et al. (2003) verificaram, entre os produtores mais
capitalizados da Região Sul do Brasil, um consumo de alimentos pela
família correspondente a quase 20% dos produtos gerados na propriedade,
denominado de autoconsumo. Ainda de acordo com pesquisa realizada
na safra 2006/2007 por Carmo et al. (2008), a produção destinada ao
autoconsumo totalizou 50 produtos, indicando diversificação da dieta,
correspondendo, em média, a 28% do rendimento total da família. Assim,
pode-se concluir que o autoconsumo é responsável pela segurança
alimentar das famílias.
Pelinski et al. (2006a) confirmam a importância da produção
destinada ao consumo de famílias de agricultores na Região CentroSul do Paraná. Constataram que a renda dessas famílias diminuiu 29%,
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
51
principalmente devido à queda da renda monetária (40%) em razão
dos problemas climáticos ocorridos na safra 2004/2005. A renda não
monetária permaneceu praticamente a mesma, sendo responsável,
em média, por 35,4% da renda total das famílias analisadas na safra
2005/2006. Esta estabilidade da produção para o autoconsumo é um
indicativo de sustentabilidade quanto à permanência da família no meio
rural e à segurança alimentar da agricultura agroecológica.
Gazolla e Schneider (2007) demonstraram que a produção para
autoconsumo é importante para a autonomia familiar, a sociabilidade
comunitária e interfamiliar, o repasse do conjunto de conhecimentos dos
agricultores (denominado saber fazer) e a segurança alimentar das famílias.
De acordo com o DESER (2003/2004), Santos e Barreto (2005),
Santos et al. (2006b) e Dombek et al. (2006), a renda total de uma família
não advém exclusivamente da renda monetária, mas também da renda
não monetária, oriunda da contabilização da produção destinada ao
consumo interno, diminuindo as despesas com a manutenção alimentar e
da saúde, garantindo qualidade de vida e a própria segurança alimentar.
Quanto à avaliação das outras rendas no sistema diversificado de
olerícolas e pequenos frutos, destaca-se a Família 7, que tem garantida
a aposentadoria do casal da família. Este recurso proporciona uma
garantia de sobrevida, facilitando a decisão de não mais trabalhar
com tabaco e injetando, na média dos três últimos anos, 39% a mais
na Margem Bruta Total (MBT) da propriedade. O domicílio possui
eletrodomésticos adquiridos após o ingresso desta renda suplementar.
Para Buainain et al. (2003), a aposentadoria é a principal responsável
pelas rendas monetárias externas à propriedade e é importante na
distribuição e garantia de uma renda mínima para muitos agricultores
idosos e suas famílias. Corroborando esse estudo, Prieb et al. (2009), ao
estudarem os efeitos da previdência social rural na produção fumageira
dos municípios gaúchos de Candelária, Arroio do Tigre e Estrela Velha,
observaram que os benefícios previdenciários implicam em mudanças
positivas no comportamento dos principais indicadores de análise da
condição de bem-estar social e de vida das famílias.
3.3 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas
por Unidade de Área
Na Tabela 13, são apresentadas as Rendas Brutas Totais (RBT),
os Custos Variáveis Totais (CVT) e as Margens Brutas Totais (MBT)
por hectare de Superfície Agrícola Útil (SAU), comparando os sistemas
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 51
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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
Tabela 13. Renda Bruta Total (RBT), Custo Variável Total (CVT) e Margem
Bruta Total (MBT) por hectare de Superfície Agrícola Útil (SAU) dos
sistemas (R$/ha de junho de 2008 - IGP-DI).
Família
1
2
3
4
5
6
7
Sistema de produção
Fumo convencional + leite
Fumo orgânico + grãos
SAU Média de 3 safras (2005 a 2008)
(ha)
RB
CV
MB
17,87
12,70
Fumo orgânico especializado 10,46
Fumo orgânico diversificado 23,52
Fumo orgânico + grãos
Agroindústria diversificado
Olerícolas + pequenos frutos
8,10
10,17
4.269,00
2.131,46
1.695,40
497,45
2.335,77
3.250,91
1.779,36
2.413,83
0,50 50.519,53
633,92
794,59
414,12
914,85
2.137,54
1.701,33
2.467,94
1.197,95
1.365,23
1.498,98
8.544,32 41.975,21
independentemente do seu tamanho. Este instrumento também foi
considerado como o principal indicador de rentabilidade por Fuentes
Llanillo et al. (2008).
Assim, é possível verificar que os sistemas agroecológicos requerem
menores custos variáveis por hectare como ocorre com a Família 2 (tabaco
orgânico mais grãos), Família 3 (tabaco orgânico especializado), Família
4 (tabaco orgânico diversificado), Família 5 (tabaco orgânico mais
grãos), Família 6 (agroindústria diversificado) e Família 7 (olerícolas e
pequenos frutos).
Na média de três anos, os Custos Variáveis Totais (CVT) destas
famílias variaram de R$ 414,00 a R$ 914,00 por ha.ano quando
comparados aos da Família 1 (sistema tabaco mais leite convencional),
que investe R$ 2.131,00 por ha.ano.
A única exceção é a Família 7, que adota um sistema orgânico
muito intenso e rotacionado, e que mesmo sem o uso de insumos
agroquímicos desembolsa R$ 8.544,00 por ha.ano, em função da
própria atividade olerícola.
A Renda Bruta Total (RBT) por ha.ano do sistema fumo mais
leite convencional da Família 1 (R$ 4.269,00) só não supera o sistema
olerícolas mais pequenos frutos da Família 7 (R$ 50.550,00), cujo valor é
muito superior, em virtude da agregação do processamento da produção.
Com relação às Margens Brutas Totais (MBT) por ha.ano, o sistema
de tabaco convencional mais leite da Família 1 (R$ 2.138,00) foi superado
apenas por dois sistemas: o de tabaco orgânico especializado da Família 3
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
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(R$ 2.468,00) e o de olerícolas e pequenos frutos com agroindústria da
Família 7 (R$ 41.975,00). Os demais sistemas de tabaco orgânico com
outras atividades renderam de R$ 1.198,00 a R$ 1.701,00 por ha.ano.
O sistema de agroindústria diversificada de uva, mel e erva-mate
da Família 6 está gerando, em média, R$ 1.498,98 por ha.ano de Margem
Bruta Total (MBT).
Mesmo inferiores à Margem Bruta Total (MBT) do sistema
tabaco mais leite convencional da Família 1, todos os sistemas
orgânicos apresentaram margens superiores a R$ 1.200,00 por ha.ano,
comparáveis aos sistemas familiares mecanizados especializados de
grãos do Norte do Paraná, que variaram em média de R$ 967,00 por
ha.ano a R$ 1.842,00 por ha.ano em análise de seis safras realizada por
Fuentes Llanillo (2007).
3.4 Diversificação dos Sistemas e a Independência
em Relação ao Cultivo do Tabaco
A diversificação do sistema atua como um mecanismo de diminuição
da importância relativa do tabaco, com alguns destaques (Fig. 13).
Cerca de 70% da Margem Bruta Total (MBT) do sistema convencional
de tabaco mais leite da Família 1 é dependente do tabaco (66.500 pés em
4,40 hectares).
A Família 2 (tabaco orgânico mais grãos) e a Família 3 (tabaco orgânico
especializado) são ainda mais dependentes do tabaco na formação da
renda, mesmo desenvolvendo uma agricultura de base ecológica.
Exemplos de real diversificação são os sistemas de tabaco
orgânico diversificado da Família 4 (13.500 pés em 0,90 hectare), de
agroindústria diversificado da Família 6 e de hortaliças mais pequenos
frutos com agroindústria da Família 7, que ainda carecem de aumentar
a produção voltada ao mercado. Estas duas últimas famílias deixaram
o tabaco nas safras 2005/2006 e 2004/2005, respectivamente,
diversificando sua produção a partir de então e obtendo rendimentos
crescentes ano após ano.
A Família 4 apresenta uma grande diversidade de atividades em
sua propriedade, agregando valor à maioria dos seus produtos de base
ecológica, como a erva-mate processada a granel, farinhas de milho e
de mandioca e polvilho. A família também comercializa produtos como
feijão, batata e produtos da Rede Ecovida.
Talvez a situação mais difícil seja da Família 5, que deixou a
especialização em tabaco convencional (safra 2005/2006), migrou para
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54
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
30.000,00
MB (R$)
25.000,00
Família 1
20.000,00
Fumo
15.000,00
Leite
10.000,00
Outras
5.000,00
0,00
25.000,00
Família 2
MB (R$)
20.000,00
15.000,00
Fumo
10.000,00
Grãos
Outras
5.000,00
0,00
30.000,00
25.000,00
Família 3
MB (R$)
20.000,00
Fumo
15.000,00
Grãos
10.000,00
Outras
5.000,00
0,00
18.000,00
MB (R$)
15.000,00
Família 4
12.000,00
Fumo
9.000,00
Grãos
6.000,00
Outras
3.000,00
0,00
12.000,00
MB (R$)
10.000,00
Família 5
8.000,00
Fumo
6.000,00
Grãos
4.000,00
Outras
2.000,00
0,00
MB (R$)
10.000,00
Família 6
8.000,00
Fumo
6.000,00
Grãos
4.000,00
Agroind.
2.000,00
Frutas
Outras
0,00
Safra
2005/2006
2006/2007
2007/2008
MB (R$)
25.000,00
Família 7
20.000,00
Fumo
15.000,00
Olerícolas
10.000,00
P. frutos
5.000,00
Agroind.
0,00
Safra 2004/2005
2005/2006
2006/2007
2007/2008
Figura 13. Composição da Margem Bruta Total (MBT) das famílias nas safras em
estudo.
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 54
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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
55
grãos (2006/2007) e na safra seguinte (2007/2008) especializou-se em
tabaco orgânico (15.000 pés em 1,00 hectare).
Pelinski et al. (2006b), ao estudar as famílias de agricultores da Rede
de Propriedades Familiares Agroecológicas no Centro-Sul do Paraná,
constataram que a diversificação influencia diretamente o aumento do
lucro, sendo que a produção de apenas mais um item pode elevar a renda
em R$ 1.775,54 por ano. Além disso, verificaram que propriedades menos
diversificadas e que possuem como produto principal commodities (feijão
e milho) auferiram renda inferior às demais propriedades analisadas.
De acordo com Sepulcri et al. (2009), existem várias propostas
de diversificação das áreas com cultivo do tabaco nas propriedades
familiares, com destaque para a calêndula (Calêndula officinalis) (margem
bruta de 569% acima do tabaco), tomate (316%), mandioquinha salsa
(299%) e melissa (288%). Contudo, os autores não detalham o mercado
potencial. Afirmam, ainda, que a reconversão pode ser implementada de
forma gradual e contínua, a médio prazo. No primeiro momento devem
ser introduzidas alternativas de cultivo que permanecerão ao lado do
tabaco por um certo período e à medida que as alternativas se estabilizem
financeiramente, este pode ser eliminado da propriedade.
Segundo Wrubleski (2008), a saída da fumicultura está intimamente
ligada a outras atividades econômicas que podem dar suporte ao sistema
econômico-produtivo da família, conforme pode-se verificar nos dados
relativos à Família 6 (Fig. 13).
Corroborando a inferência dos resultados obtidos, Bonato (2007)
reporta famílias produtoras de tabaco de estufa com Valor Bruto da
Produção (VBP)2 46% maior que entre os não fumicultores. Assim, o nível
de renda entre as famílias produtoras de tabaco foi também um grande
entrave para que fumicultores migrassem para outras atividades.
De acordo com Bonato (2007), na quase totalidade dos 40 municípios
estudados, o tabaco ultrapassa 50% da produção agrícola municipal.
Em mais de um terço desses municípios, a fumicultura representa mais
de 80% do valor bruto da produção agrícola total. Além disso, essa
estrutura do sistema de produção é fruto de um longo processo histórico
e está bastante consolidada, criando dificuldades significativas para a
introdução, a curto e médio prazos, de novos sistemas de produção.
Outro entrave para a diversificação é que a fumicultura ocupa
pequenas áreas – em 1,00 hectare podem ser cultivados de 14.000 a
O Valor Bruto da Produção corresponde ao resultado da multiplicação dos preços dos
produtos pela respectiva quantidade produzida no período.
2
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 55
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56
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR
16.000 pés, dependendo do sistema – e proporciona forte dependência
para a geração de renda.
A Família 3 obteve Margem Bruta Total (MBT) de R$ 2.467,94 por
ha.ano na produção orgânica de tabaco (Tabela 13). Segundo Bonato
(2007), a cultura do tabaco tem uma capacidade de reter a população
no meio rural e a exigência de mão de obra para a produção fumageira
pode ser um dos fatores para manter o homem no campo, pois em mais
da metade dos municípios a população rural representa mais de 60% da
população total.
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4
Considerações Finais
A diversificação por meio da agregação de valor aos produtos é
fator de estabilização dos sistemas e uma das únicas estratégias viáveis
para diminuir a dependência do tabaco, mesmo que este permaneça
no sistema.
Embora em fase de consolidação, existem sistemas potenciais para
substituição completa da atividade fumageira, cuja viabilidade está
apoiada na transformação e agregação de valor em frutas, hortaliças,
erva-mate e mel.
A opção pelo autoconsumo é importante para a segurança alimentar
da família, além de permitir compensações de renda bastante significativas.
Os sistemas agroecológicos diversificados têm a vulnerabilidade de
não contar com uma cadeia produtiva organizada como a do tabaco, para
a qual existe crédito, seguro e comercialização regulamentados.
A fumicultura é uma atividade típica da agricultura familiar, cujos
resultados econômicos são difíceis de serem superados por outras
alternativas de renda.
O tabaco orgânico aparece como atividade capaz de igualar ou
superar a margem bruta e a renda bruta do fumo convencional sobre o
custo variável, incorrendo em menores custos e eliminando a utilização
de insumos agroquímicos industriais sem, no entanto, desvencilhar-se da
cadeia produtiva do fumo.
A pesquisa e a extensão rural devem continuar estudando novas
alternativas de renda para estes sistemas familiares.
4 Livro Fumo 04-08-11.indb 57
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4 Livro Fumo 04-08-11.indb 58
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Diversificando Áreas
com Cultivo do Tabaco
uma experiência no Centro-Sul do Paraná
BOLETIM TÉCNICO Nº 74 - JULHO/11 - ISSN 0100-3054
Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná
Dirk Claudio Ahrens
Rafael Fuentes Llanillo
Róger Daniel de S. Milléo
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Diversificando áreas com cultivo do tabaco