Núcleo de documentação
Câmara Municipal de Évora
Centenário do nascimento de túlio espanca | 8 de Maio de 2013
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Ficha Técnica
Autoria: Antonieta Félix, Núcleo de Documentação/DCHPCT
Desenho da Capa: António Couvinha, DCHPCT
Desenhos e fotografias do interior cedidas por Rui Arimateia, DCHPCT, e pelo Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Évora
Paginação/Grafismo: Maria João Raimundo, GICRE
Revisão de texto: Teresa Molar, GICRE
Edição: Câmara Municipal de Évora, Núcleo de Documentação/DCHPCT, Outubro de 2013
Agradecimentos: Rui Arimateia
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O Senhor Espanca
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Numa carroça, aninhado entre móveis e outros haveres, um rapaz de
sete anos de idade chega ao Rossio de Évora, num início de noite do Outono
de 1920, e pasma perante a electrificação do terreiro, pois jamais tinha visto
tantos candeeiros.
Mas o seu encanto pela cidade viria a ser muito maior e mais abrangente, de modo a ter ficado fascinado por ela, dedicando-lhe toda a sua
vida.
Com os irmãos, quatro rapazes e uma rapariga, na madrugada daquele
dia deixou a terra onde nasceu, Vila Viçosa, para se vir juntar aos pais, que
se tinham mudado para Évora à procura de trabalho. E também ele, desde
muito cedo, teve de contribuir para o sustento da família. Só andou na escola quatro anos, mas veio a ser sábio.
Sem professores por perto, apenas porque assim o quis e assim teimou, leu, estudou, e investigou, imenso, ao longo de toda a sua vida, e ele
mesmo descobriu a história da cidade e se tornou historiador. Um dos maiores, sobre Évora e sobre o Alentejo.
Veio a ser muito respeitado entre historiadores e investigadores, sem
nunca ter perdido a humildade e a candura. Foi um homem simples, mas
persistente, deu mais de 50 anos da sua vida ao estudo e divulgação do património da cidade de Évora e amou-a acima de todas as coisas.
O seu nome? Túlio Alberto da Rocha Espanca.
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Túlio Espanca, como ficou conhecido, nasceu em 1913, em Vila Viçosa. Os pais chamavam-se José de Jesus da Rocha Espanca e Maria Rosa Alberto - o pai exercia a profissão de sapateiro
e era natural de Vila Viçosa e a mãe da freguesia de Nossa Senhora de Machede - e vieram morar
para Évora em busca de melhores condições de vida. Naquela época, onde não havia riqueza, trabalhavam os pais e os filhos, por isso, ele e os irmãos pouco frequentaram a escola. Tiveram que
procurar ‘ofícios’, como então se dizia, para aprenderem sim, desde logo, uma profissão e começarem a ajudar nas despesas da casa.
Só aos 8 anos foi então Túlio Espanca para a Escola de S. Mamede, ali completando a 4.ª
classe, em 1925, com 12 anos. Por terem vivido em vários sítios, no Centro Histórico da cidade,
apenas quando os pais encontraram uma casa com uma renda acessível, no bairro de S. Mamede,
deixaram de andar em mudanças constantes e houve paz e sossego, para que ele e os irmãos
pudessem ir à escola, aprender a ler e escrever… Diziam os pais, mal sabendo que este seu filho,
apenas com quatro anos de escola, viria um dia a ensinar estudantes, professores e investigadores
e ele próprio a ser um Doutor, e Doutor Honoris Causa, por uma universidade…
Ainda enquanto criança era muito atento a tudo o que o rodeava e, ao mesmo tempo, alegre
e imaginativo. Entretinha-se bastante a escrever e a ler. Adorava, e devorava, livros. Mas, também
brincava e fantasiava imenso.
Nos teatros que faz com os irmãos, uma das suas ocupações preferidas, nada é deixado ao
acaso. Desenham cartazes, vendem bilhetes e, tocando tambores, apregoam os espectáculos pelas
ruas do bairro de S. Mamede. O ‘Teatro Risota’, como chamam a um desses teatros, ficou bastante
conhecido naquelas redondezas, tal não era a algazarra e a movimentação cada vez que havia uma
sessão…
Abandona com a idade este tipo de brincadeiras, mas nunca deixa de ler ou de escrever,
muito pelo contrário. Aos 11 anos aparece com ‘O Pipoca’, uma revista, devidamente ilustrada, que
cria e da qual edita, pois assim se pode dizer, 12 números, entre 1924 e 1926. Mas, até 1930, ou
seja, até perto dos 17 anos, vai-se saindo com outras revistas, como ‘Capitão Filipe, o Lião dos Mares’, ‘As proezas do Bandido Mexicano Nunez’ e ‘A Formiga’, igualmente por ele escritas e ilustradas.
A música também o cativa bastante e, juntamente com o irmão Otelo, Túlio Espanca anda
na Escola de Amadores de Música Eborense, e aprende a
tocar clarinete. Os dois saem com a banda dessa escola
em 1928-1929, teria ele 16-17 anos. E participa também
em ‘cavalinhos’, que eram grupos de oito músicos de sopro, que em ocasiões especiais, como o Carnaval, tocavam
pelas ruas.
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Antes disso, no mesmo bairro que o vê perder-se nos afazeres e sonhos de menino e de
adolescente, surge-lhe, aos 14 anos, o primeiro trabalho, numa fábrica de transformação de cortiça. Pouco depois, a Praça Luís de Camões rouba-o a S. Mamede, como aprendiz de chapeleiro,
seguindo-se a Rua de Aviz, que o resgata como aprendiz de barbeiro. Profissão que vem a praticar
na tropa e também depois de sair da tropa, de 1934 a 1940.
A idade é pouca, mas os motivos que o levam a trabalhar tão cedo são de peso, e Túlio
Espanca é arredado das letras, das artes e de tudo o mais que o fascina. Só muito mais tarde retoma a sua verdadeira vocação… Chegando a receber, em Portugal e no estrangeiro, importantes
prémios, pela sua dedicação e insistência, pela sua sabedoria e pelo seu método de trabalho,
muito minucioso. Os homens mais cultos e entendidos admiram as suas pesquisas e ouvem as
suas conferências. Muitos o consideram um defensor maior do património e um grande crítico
de arte.
Arte, ou o contacto com a arte, é coisa que, ainda na sua infância e juventude, não falta …
Não sendo abastados, abundam na família dotes artísticos.
O tio paterno João Maria Espanca é antiquário, está sempre rodeado de objectos de arte
e de antiguidades, e tem em casa uma biblioteca, coisa rara hoje em dia, quanto mais na altura. E
também é fotógrafo, pintor e adora música. É aliás aos gostos musicais e literários que vai buscar
os nomes que dá aos sobrinhos: Natal; Demóstenes Apeles; Otelo; Túlio e Sócrates - a sobrinha,
Joana, escapa a esta opção recebendo o nome de uma avó.
Este tio é de Vila Viçosa, mas vive em Évora, com os filhos, Apeles e Florbela. Primos direitos, mais velhos, que Túlio Espanca bastante admira. Ele é aviador, pintor e fotógrafo e ela poetisa, a célebre Florbela Espanca - que é também sua madrinha e, por isso, lhe deu, logo em bebé,
o seu segundo nome, Alberto, por ser o do seu marido de então.
Entre os livros e os objectos antigos do tio, as viagens e as pinturas do primo, os versos
da prima, passa tardes e serões sem fim. Lê volumes atrás de volumes da biblioteca do tio João
Maria e assiste a conversas e encontros de poetas e escritores amigos de Florbela Espanca.
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A efervescência cultural e artística em que se vê mergulhado na adolescência e na juventude leva Túlio Espanca a desenvolver fortes gostos e interesses por História, Arte, Pintura e Literatura. Em 1930, quando teria 17 anos, tenta, pela primeira vez, escrever num caderno um conjunto
de textos sobre curiosidades históricas de Évora e inicia uma série de diários, que mantém até
1940. A sociedade secreta que tem para brincadeiras e explorações nos conventos em ruínas
que então existiam em Évora, como os Lóios ou a Cartuxa, as aventuras que vive com os amigos
em passeios, festas e romarias, e as suas preocupações de ordem social, preenchem as páginas
desses diários, entre os seus 17 e 22 anos. Neles revela que gosta de ler Sherlock Holmes, entre
outros heróis, e começa a fazer descrições de momentos da sua vida social e de eventos e monumentos de Évora.
Destemido, como os protagonistas dos seus livros de aventuras, decide ir para a tropa.
Assenta praça no Regimento de Artilharia Ligeira N.º 1, como voluntário, e lá permanece de 1931
a 1933. Deseja ser músico mas, por haver muitos jovens na banda militar, é encaminhado para a
barbearia. Também foi condutor de carros puxados a cavalos, mas nenhuma das tarefas o satisfaz.
Assim, neste período, resta-lhe desenhar.
Conhecem-se por isso desta altura da sua vida alguns auto-retratos. E os oficiais superiores, vendo a sua mestria para o desenho convidam-no a decorar as paredes de certos espaços do
quartel. Mas nem esse pedido o prende à vida militar. Desencantado, sai da tropa. No ano de 1934
está de volta às barbas e cabelos, na A. Marques e Irmão, barbearia do n.º 60 da Praça do Giraldo,
em que ficou até 1940.
Antes, porém, apaixonou-se e casou-se. Nuns festejos de santos populares, conhece Engrácia Maria de Oliveira, a quem acrescenta, por via do matrimónio, cerca de um ano depois, em
1936, o apelido de Espanca. Nesta data, o casamento é apenas por registo, em casa de seus pais,
onde ficam a viver uns tempos. Mais tarde, em 1952, por conselho do então presidente da Câmara
Municipal de Évora, Túlio Espanca baptiza-se e casa pelo religioso, na Igreja de N.ª S.ª do Carmo.
Desenhos de Túlio Espanca
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Ainda durante os anos em que trabalha na barbearia, Túlio Espanca, que se considera um
“mau barbeiro”, dá asas à sua curiosidade e, sozinho, estuda, em todos os livros a que consegue
deitar a mão, monumentos e episódios de história de Évora. E muitos clientes passam a frequentar
aquele estabelecimento, não pela sua habilidade com o pente e a navalha, mas para conversar
com ele. Professores de liceu e outros intelectuais já então se deliciam a ouvi-lo. Nasce o orador,
o futuro conferencista, que cativa o mais simples cidadão e a mais ilustre figura da cultura.
Também nesta fase, escreve pela primeira vez na imprensa. O Arraiolense é o primeiro jornal que lhe publica cinco artigos, sobre a história de Vila Viçosa, série iniciada a 25 de Novembro
de 1939, e desde então não mais pára. Surge o articulista, e com o caminhar do tempo o ensaísta,
sempre lido por um público muito numeroso e variado, erudito e não erudito.
As suas colaborações na imprensa regional passam depois por jornais como o Diário do
Sul, A Defesa, O Notícias de Évora, A Democracia do Sul, O Montemorense e o Brados do Alentejo. Em
muitas outras revistas e boletins, especializados e de âmbito nacional, aparecem textos seus publicados, ao longo dos anos, como foi o caso de Anais da Academia da História, A Cidade de Évora,
Almansor e Colóquio. No Dicionário de História de Portugal; nos Tesouros Artísticos de Portugal e
também na Enciclopédia Verbo há várias entradas por ele assinadas.
Mas não é Túlio Espanca um barbeiro apenas com a quarta classe? Como é que os seus trabalhos sobre história adquirem importância ao ponto de chegarem a estas publicações científicas
e de renome?
Da mesma forma como vem a publicar livros sobre património e história; como vem a assumir a realização dos inventários artísticos do concelho e do distrito de Évora; e como vem a ser
membro da Academia Nacional de Belas-Artes e da Academia Portuguesa de História.
Apenas com um mínimo de escolaridade, atingiu grande projecção e notoriedade por ter,
numa época em que ainda não havia uma consciência cívica e ética dos valores históricos e patrimoniais, a percepção da importância da defesa desses valores, nomeadamente da história da
arte alentejana. Ninguém, no seu tempo, teve igual percepção, em iguais condições, pelo menos
ao ponto de fazer da salvaguarda desses valores o centro da sua vida e daí ter resultado um trabalho rigoroso e exaustivo.
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Mas, para que esta paixão e vontade desmedidas por conhecer a história e preservar o
património deixassem o plano metafísico e se tornassem uma realidade no quotidiano de Túlio
Espanca, muito contribuiu o que em 1939 lhe sucedeu. Dois homens de vulto da cena cultural
eborense de então, com quem tinha entretanto encetado amizade, Celestino David e António
Bartolomeu Gromicho, notando o seu interesse, entrega e grau de informação sobre a História
de Évora, incentivam-no a ser associado do Grupo Pró-Évora, que lideravam, e posteriormente a
inscrever-se no Curso de Cicerone que essa instituição promoveu, nesse ano.
O Grupo Pró-Évora, a primeira associação de defesa do património a surgir em Portugal,
criou este curso, também pioneiro no país, para dar resposta às imensas solicitações que recebia, de guias para mostrar a cidade. Túlio Espanca esteve muito reticente em fazê-lo, temendo
não passar, uma vez que todos os outros candidatos são muito mais letrados que ele. Mas obtém
o primeiro lugar, entre os 11 que são apurados para prestar provas na final - recebendo um prémio monetário de 150 escudos.
O galardão maior, porém, recebe-o quando a Câmara Municipal de Évora, após este resultado, o convida para trabalhar no Posto de Turismo municipal. Funções que assume em 1940 e
que lhe permitem fazer o que gosta, estudar a cidade.
Esta oportunidade aproveita-a Túlio Espanca para desabrochar. Eleva aos máximos expoentes a sua obstinação pelo saber e, munido do seu agudo espírito de observação e da sua
minúcia, dedica-se por inteiro à investigação histórica e patrimonial de Évora. Há mesmo quem
diga que se esquece de si próprio e que sacrifica não só interesses pessoais e familiares, como
também a própria vida, tal é a sua entrega e devoção.
Assim se faz o homem que nunca é visto num
café, que não conta o tempo que passa a trabalhar, no
terreno, em pesquisas, ou no seu escritório, no Posto
de Turismo, na Praça do Giraldo. Chega a casa tarde,
muito depois do jantar da família, a quem pede silêncio para poder continuar a ler e a estudar mais pela
noite fora.
Este empenho, que posteriormente dá frutos,
e faz de Túlio Espanca um homem reputado e reconhecido, caracteriza-o até ao final dos seus dias. Da
mesma forma que a sua dignidade, tolerância e modéstia.
Nas ruas de Évora fala com as pessoas que
constantemente o abordam. Nos seus aposentos do
Posto de Turismo recebe estudantes, professores e
investigadores que a ele recorrem para esclarecimentos sobre Arte, História da Arte e História de Évora e
do Alentejo. A todos atende pacientemente, doutos e
simples curiosos.
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Inteiramente dedicado à observação e pesquisa dos monumentos e edifícios históricos
de Évora, que tanto o cativam desde a juventude, Túlio Espanca inicia, por volta de 1940, visitas
guiadas à cidade, uma das actividades pelas quais se torna mais conhecido, na região e em todo
o país.
Sempre ao sábado à tarde, o cicerone alicia para estas visitas pessoas dos mais variados
quadrantes, que atentamente absorvem as suas palavras. Pais e filhos, avós e netos residentes
em Évora fazem deste um ritual de fim-de-semana, mas também é frequente a presença de professores, investigadores e historiadores, vindos de todos os pontos do país.
A partir de certa altura as visitas alargam-se, extravasando a cidade e incluindo, primeiro,
as freguesias rurais do concelho e, numa fase posterior, outras localidades do distrito. O maior
sucesso recai, porém, sobre as visitas guiadas a Évora, que são semanalmente anunciadas nos
jornais locais, com indicação do itinerário, e que têm um êxito tal que persistem por quatro décadas, sem que nunca lhes faltasse, por parte do seu guia, vigor ou rigor.
Para cada uma destas visitas, no concelho e no distrito, Túlio Espanca prepara uma “pagela”, como ele mesmo lhe chama, em regra com uma fotografia na frente e um texto seu no verso,
que distribui pelos participantes - sendo ainda hoje estas publicações muito requisitadas.
A par das visitas para o público em geral, realiza também outras, específicas para grupos
de estudantes, turistas ou quaisquer grupos que tivessem interesse num determinado tema e/ou
monumento. É igualmente ele que mostra a cidade a todas as altas individualidades, nacionais e
internacionais, que venham a Évora, sejam reis, embaixadores, ministros, presidentes ou artistas.
Como forma de preparação para as visitas guiadas, mas também porque a sede de saber
desde muito jovem o caracteriza, Túlio Espanca intensifica e sistematiza então os seus conhecimentos sobre a cidade. Lê os principais historiadores que estudam Évora, André de Resende,
Manuel Severim de Faria, Cunha Rivara, Augusto Filipe Simões, Gabriel Pereira, António Francisco
Barata e Celestino David, entre outros. E vai às fontes, tornando-se também ele historiador.
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Perde-se nas bibliotecas e nos arquivos, nomeadamente na Biblioteca Pública de Évora; no
Arquivo Distrital; nos Arquivos da Sé, da Misericórdia e das confrarias; e nos tombos municipais e
paroquiais, onde vai esquadrinhar os manuscritos arcaicos, chegando ao ponto de aprender um
pouco de paleografia para melhor os decifrar, mas para tal efeito pede sobretudo ajuda a padres.
Percorre e perscruta museus, monumentos e obras de arte que povoam a cidade e as redondezas,
o que leva muitos a considerarem que se tornou também arqueólogo e crítico de arte.
Atrai para o seu rol de amigos os directores e os responsáveis de muitas daquelas instituições e priva com imensos académicos de gabarito, no decorrer das suas campanhas em arquivos,
bibliotecas, igrejas e museus.
Debruça-se sobre quase todos os períodos da História, mesmo a Pré-História, e ao longo
dos anos estuda também arquitectura e várias formas de arte, como pintura, escultura, música,
talha, azulejo, cerâmica, mobiliário, numismática, ourivesaria, vidraria ou tecelagem.
Meticuloso, Túlio Espanca anota todas as suas observações, considerações e conclusões,
vindo a publicar grande parte dos seus estudos, o que totaliza uma obra de um volume invulgar.
Obra que em muito contribuiu para a divulgação da história e do património de Évora e que, por
sua vez, constituiu uma sólida base para o lançamento da candidatura da cidade a Património
Mundial da Humanidade. Classificação que veio a ser concedida a Évora pela UNESCO, em 1986.
O Boletim A Cidade de Évora, da Câmara Municipal, é uma das primeiras e das mais conceituadas publicações em que os seus trabalhos são editados. Um ano após a sua entrada para a autarquia eborense, como funcionário do turismo, a qualidade das suas competências é tão notória
que é colocado a trabalhar no Boletim A Cidade de Évora, tornando-se seu editor a partir de 1942.
Função que, de forma exímia, desempenha durante 50 anos, demonstrando o maior zelo pela regularidade e pela alta qualidade desta publicação municipal.
Desta década em diante Túlio Espanca trabalha mais afincadamente que nunca, conciliando, com êxito, as facetas de investigador, editor, conferencista, organizador de exposições de
arte, entre outras. Incansável, de espírito livre e de modo afável, ganha o apelido de “mestre”. O
seu grau de conhecimentos; a sua disponibilidade e gosto em ensinar aos outros aquilo que sabe;
o seu poder de captar para as suas visitas e conferências os mais variados públicos e auditórios
e de atrair pessoas por qualquer rua por onde passe tornam-no mestre de gente culta e de gente
simples.
Entre 1949 e 1990, das mais altas instâncias científicas e governativas, nacionais e internacionais, recebe distinções, prémios e honrarias, intensifica a sua colaboração com jornais e revistas e publica imenso. Desta extensa lista pode destacar-se, logo em 1949, a sua nomeação, pelo
então presidente da Câmara Municipal de Évora, Henrique da Fonseca Chaves, como Conservador
dos Monumentos Nacionais do Distrito de Évora.
Nesse ano também, publica o Guia de Évora, que conhece seis edições sucessivas, e Évora
- Encontro com a Cidade, ambos expressão da sua actividade de guia turístico.
Em 1953, ganha uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, no valor de 36 contos, e vai seis
meses para França e Itália. Mais tarde, após publicar o livro Património Artístico do Concelho de
Évora, Arrolamentos das Freguesias Rurais, em 1957, e dada a sua credibilidade e reconhecimento
no meio científico e académico, é convidado pela Academia Nacional de Belas-Artes para ser seu
membro, o que sucede em 1959 - sendo até hoje o único membro desta academia com a instrução primária.
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Na sequência daquele convite, vem um outro, o de assumir a realização do Inventário
Artístico do Concelho e do Distrito de Évora. Esta missão foi endereçada pela Academia Nacional
de Belas-Artes a Mário Tavares Chicó, então director do Museu de Évora, mas este recusa-a, impossibilitado pelo seu estado de saúde e recomenda com veemência Túlio Espanca para a sua
realização.
Surge o inventariador do Alentejo, como muitos lhe chamam. São da sua autoria oito tomos do Inventário Artístico de Portugal, todos os que correspondem ao distrito de Évora e parte
dos do distrito de Beja, estes entre 1967 e 1993.
A nomeação da Academia Nacional de Belas-Artes, para realizar o Inventário Artístico de
Portugal, é somente concedida a catedráticos, mas Túlio Espanca desempenhou-a na perfeição,
segundo muitos dos seus pares e colegas que com ele o fizeram ou que o supervisionaram. O seu
trabalho, afirmam, é de alta qualidade, se não o melhor do inventário.
Esta responsabilidade encara-a Túlio Espanca com grande compromisso e seriedade. Usa
toda a sua paciência e minúcia e não há canto, recanto ou elemento do património artístico do
distrito de Évora que fique esquecido ou fora do alcance dos seus registos.
Por freguesias e por concelhos, percorre o distrito ao pormenor. Primeiro recolhe informações em bibliotecas, como a Biblioteca Pública de Évora e a Biblioteca Nacional, em Lisboa,
fazendo todo o trabalho documental em fichas, e depois passa ao terreno, realizando in loco a
leitura do monumento ou lugar que referencia.
Em Évora desloca-se sempre a pé, nos locais afastados da cidade vai de táxi ou de boleia
com amigos, de modo a poupar a verba que lhe é dispensada para cada serviço. Mas, mesmo
indo de carro, acaba por fazer imensos quilómetros a pé, pois muitos sítios são inacessíveis ao
automóvel ou os motoristas que o levam recusam-se a ir até lá. A ermida só e abandonada, a
fonte antiga e desterrada, o cruzeiro magro e perdido, o marco ignorado e coberto pelas silvas e
pelo tempo, ou qualquer outro corpo arqueológico é para ele motivo de incessante busca e de
complexa referência.
As resistências e a oposição de muitos proprietários, uns que se negam terminantemente
a colaborar e outros que, tendo-o feito primeiro, mais tarde vieram ter com ele autorizando-o
a ir às suas propriedades e fazer as necessárias explorações; e os sacrifícios pessoais que tem
de fazer, sobretudo pelo tempo que tem de despender, são algumas das dificuldades que Túlio
Espanca assinala na elaboração deste trabalho em entrevistas que dá aos jornais, nos anos de
1990.
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Da Academia Nacional de Belas-Artes há generosos elogios à sua prestação, como o comprovam os comentários dos responsáveis pelos volumes em que ele colabora.
Reinaldo dos Santos, sobre o volume VII do Inventário Artístico de Portugal, referente ao
concelho de Évora, de 1966, diz que: “Dada a sua importância, a Academia Nacional de Belas-Artes
confiou ao académico correspondente Senhor Túlio Espanca a sua realização, pela confiança que
lhe merecia a sua obra de investigador, um dos mais dedicados à história da nobre cidade. (…).
Este volume, pela informação segura do texto e larga ilustração dos monumentos e obras de arte
da cidade, reflecte a competência e dedicação do autor, ao qual não só a Academia mas a própria
Nação devem ficar gratas por este novo enriquecimento da obra monumental, que é o Inventário
Artístico de Portugal”.
Luís Cristino da Silva, do volume VIII, referente ao distrito de Évora, zona norte, de 1975,
afirma que: (…) É seu autor, em continuação do magnífico trabalho por si já anteriormente elaborado, (…), o ilustre académico correspondente senhor Túlio Espanca, notável investigador de comprovada competência testemunhada através da sua já vastíssima obra sobre a arte eborense e a sua
história (…)”.
José-Augusto França, sobre o volume IX, que compreende o distrito de Évora, zona sul, de
1978, reconhece que: “(…) As qualidades de seriedade, informação erudita e método do autor são
sobejamente conhecidas (…) é inexcedível a dedicação com que ele tem levado a cabo as sucessivas etapas do trabalho que lhe foi cometido”.
Entretanto, outras vozes e outras instituições, no país e fora dele, declaram e louvam o elevado teor do lavor de Túlio Espanca. No ano de 1982, a Câmara Municipal de Évora atribui-lhe a
Medalha de Ouro da Cidade; da Alemanha, pela Fundação F.V.S., de Hamburgo, chega-lhe o Prémio
Europeu da Conservação dos Monumentos Históricos e pelo Presidente da República Portuguesa,
General Ramalho Eanes, é contemplado com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada, concedido a personalidades que se destacam pelo seu mérito artístico, literário ou científico.
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Também a Universidade de Évora o distingue, com o seu mais alto grau académico honorífico na área científica, fazendo dele Doutor Honoris Causa de História da Cultura Portuguesa.
Numa cerimónia que decorreu no dia 1 de Novembro de 1990 e em que o Professor Doutor Joaquim Chorão Lavajo se referiu a Túlio Espanca com o seguinte discurso: “(…) embora não possuindo qualquer grau académico é exuberantemente detentor da competência científico-pedagógica
que aquele pressupõe. A obra e o nome de Túlio Espanca ficarão indelevelmente marcados nos
contornos culturais da cidade de Évora, tal como as grandes pedras graníticas, incrustadas na sua
muralha multi-secular, sucessivamente romana, visigótica, árabe e cristã”.
A Universidade de Évora, muito antes deste acto laudatório, reconhecia o contributo ímpar
de Túlio Espanca para a implantação dos valores científicos culturais e espirituais a nível local,
regional, nacional e internacional. No ano lectivo de 1976/77, tentou junto do Ministério da Educação que pudesse ser integrado no seu corpo docente, como Assistente da Divisão de Línguas
e História, mas motivos de ordem formal impedem essa concretização. É frequente ao longo dos
anos, não obstante tal impossibilidade, a sua colaboração com esta Universidade, como autor de
palestras, orientador de visitas de estudo ou prestando apoio científico na realização de muitos
trabalhos escolares de investigação. Como consultor artístico, acompanhou também a recuperação da ermida do Pátio do Paço Episcopal de Valverde, a de outras capelas na Cerca do Convento
dos Capuchos e a de alguns pavilhões do Colégio do Espírito Santo.
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Em nenhum momento, porém, se deixa Túlio Espanca deslumbrar pelos inúmeros louvores
de que é alvo. A energia, a vontade inamovível de querer saber e fazer mais e a sua infindável humildade perante nada recuam. Bastantes anos antes do seu doutoramento Honoris Causa recebeu
o epíteto de “o historiador de Évora”, ao qual com frequência se acrescentava o argumento de
ser um dos historiadores e críticos de arte que mais contribuiu para a elevação de Évora a Património Mundial da Humanidade, ao inventariar e defender a riqueza da história da cidade e o valor
dos seus monumentos e obras de arte. Mas ele contra-argumentava não se considerar historiador,
porque, dizia, “outros houve que se dedicaram ao estudo histórico da cidade”, enquanto ele fez
apenas o “estudo artístico dos monumentos”.
Esta sua postura foi, no entanto, regularmente rebatida. Professor do Instituto de História
da Arte da Faculdade de Letras de Coimbra, Vítor Serrão, declara no jornal Público, dois dias após
o seu falecimento, a 4 de Maio de 1993, que: “Túlio Espanca não foi um mero historiador e historiógrafo de âmbito regional (…) foi indiscutivelmente um historiador de arte de grande nível cuja
marca pedagógica e metodológica influiu em muitos dos mais jovens investigadores de hoje e
cujo trabalho publicado é verdadeiramente monumental”.
A 2 de Maio daquele ano, em consequência da queda de uma janela do Convento dos Lóios
(actual Pousada dos Lóios), situado junto ao Templo Romano, Túlio Espanca morre. Muitos dos que
de perto privam com ele ficam convictos de que também este foi mais um acto da sua singular
personalidade. Bem conhecido como alguém por demais delicado e que “não gostava de incomodar”, segundo uma amizade próxima, a sua morte pode, por isso, não ter sido acidental, visto
padecer de uma doença prolongada incurável, que a breve trecho o iria tornar incapaz, sob vários
aspectos. Igualável à especulação que abunda em torno do seu desaparecimento, uma certeza
persiste, Túlio Espanca tornou-se inesquecível.
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Ainda a propósito da sua partida se proferem declarações públicas como:
- “Túlio Espanca foi um dos grandes historiadores de arte portuguesa de sempre, o nosso
mais acertado inventariante do acervo patrimonial, e grande homem dos valores do espírito e da
cultura viva”.
- “O património cultural de uma comunidade é sempre um ‘organismo dotado de vida própria’ - essa lição ele deixava-a gravada na alma dos seus ouvintes, acompanhantes ou colaboradores (…)”.
- “Na sua postura humilérrima, foi sempre um sábio na verdadeira acepção oitocentista do
termo: senhor de ambiciosa e alargada cultura, conhecedor do terreno e das pessoas como ninguém, autodidacta que a disciplina de trabalho e o arguto domínio metodológico transformaram
em académico de renome dentro e fora de Portugal, Espanca deixou-nos ao longo de meio século
de trabalho aceso uma obra científica que é, quantitativa e qualitativamente, verdadeiramente
monumental. Percorreu todas as bibliotecas e os arquivos alentejanos (cujos fundos estavam,
até então, quase virgens de aproveitamento, senão desprezados…) e metodizou heuristicamente
a nova informação descoberta nos manuscritos, catalogou milhares de espécimes de arte móvel;
estudou com rara sensibilidade as leis de crescimento urbanístico de centenas de vilas e aldeias
alentejanas (…)”.
- “(…) é gratificante lembrar o trabalho de homens como Espanca, verdadeiros desbravadores do país profundo (termo que justifica ser de novo re-valorizado…), que com amor e desvelo
estudaram, registaram, ajudaram a proteger, os valores patrimoniais num âmbito metodológico de
globalidade”.
- “Portugal, ao contrário de muitos outros países não criou estruturas de salvaguarda da
sua memória patrimonial, nem a protege como valor identitário e sinal de acrescido orgulho e de
diferenciação, não fez inventários de registo e de acautelamento e restauros e não definiu prioridades de reabilitação de imóveis, etc. (…) Espanca estava bem consciente dos limites em que esta
batalha se inscrevia”.
- “A estrutura ímpar do historiador que recordamos não deve ignorar o quanto Túlio Espanca era pouco atreito a formalismos e homenagens académicas, como historiador que privilegiava
o contacto com as estradas, o campo e a gente humilde, e que entendia a obra de arte, erudita ou
não, numa bitola de pedagogia e de afectividade (…)”.
- “É também a este nível que a obra de Túlio Espanca se revela invulgarmente vanguardística. Não é só ao nível do evidenciado recorte erudito dos seus escritos, feitos sempre de uma recolha exaustiva ‘de tudo o que sentiu estar imbuído de especial significado’, como escreve Manuel
Joaquim Branco, a tudo situando no meio e na circunstância histórica geradora (…)”.
Desenho de Túlio Espanca
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Livros da autoria de Túlio Espanca
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Decorridos 100 anos sobre o seu nascimento, a 8 de Maio de 1913, o seu nome e a sua obra
são ainda hoje incontornáveis, na memória da cidade de Évora e entre os que fazem, estudam ou
se interessam pela sua História.
O trabalho que produziu, vastíssimo, merecedor de tantos títulos, de tão difundido prestígio
e estando directamente associado à atribuição do estatuto de Património Mundial da Humanidade
a Évora, continua a ser único.
O homem que foi, um eterno enamorado por Évora e pelo Alentejo, persistente, íntegro, de
admirável postura cívica, ponderado e modesto, permanece notável.
Dedicar mais de meio século ao estudo da História e da Arte de uma cidade, com total e
desinteressada entrega, consideram muitos ser feito apenas de uma mente prodigiosa como a sua
e de alguém com o seu carácter extraordinário.
A expensas próprias instrui-se. Ao ponto de vir ele a ser um ensinador. Faceta que desenvolveu, tanto como guia turístico, investigador, conferencista, organizador de exposições, inventariador ou desenhista (tantas foram as reproduções que fez dos monumentos que descreveu), e que
deixou vir ao de cima sempre que alguém nas ruas se metia com ele e sempre que se metia ele
com a cidade...
Passava e passeava-se pelas artérias de Évora com encanto e vagar. Podia demorar-se horas
em conversa, numa praça, num largo, numa igreja, onde quer que fosse interpelado, onde quer que
se sentisse inclinado a usar do dom da sua palavra.
Assim era Túlio Espanca, enquanto figura pública, e assim é ainda hoje recordado e evocado.
Na sua esfera íntima, os principais rasgos da sua personalidade e hábitos quotidianos não
são menos invulgares. A filha, Joana Espanca, em 1993, descreve o pai como alguém que “Passava
o seu pouco tempo livre estudando e lendo livros. Era uma pessoa extremamente bem disposta,
tinha um humor excelente”. A esposa, Engrácia Espanca, na mesma data recorda o marido como
“Um homem simples e pacato e muito amigo das pessoas”.
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Por outros testemunhos, de pessoas chegadas a Túlio Espanca, é sabido não perder tempo
com nada mais que não a sua causa maior, não frequenta cafés ou cervejarias, apenas assiste a
alguns eventos de certos circuitos culturais.
Aprecia futebol e é fã declarado de dois clubes, um local e outro nacional, dos quais faz
tema recorrente de cavaqueio. E gosta de contar histórias. Há quem o descreva como um “contador de
histórias nato”. Qualquer ocasião lhe serve de pretexto para relatar um caso, um acaso ou um episódio de
que fosse protagonista, como aquele em que nos seus
tempos de barbeiro ceifou o bigode a uma proeminente figura da cidade que tinha ido à barbearia para
cortar o cabelo.
Ama a música, o teatro e os livros, sobretudo
os livros. Escreve imenso e lê ainda mais. Usa todo
o dinheiro que consegue para comprar livros. Apesar
de adquirir também azulejos, pratos, santos e outros
objectos de arte, os livros são o seu principal investimento, em dinheiro e tempo. Através deles estuda
Arte, História e História da Arte, de Évora e do Alentejo, principalmente, mas também de Portugal, de Espanha e de outros países. Antigas ou recentes, novas ou
em segunda mão, compra todas as obras que encontra
sobre estes temas. Por saberem disso, rodas de ciganos envolvem-no com frequência, propondo-lhe a aquisição de livros que rebuscam já com o propósito de lhe vender.
Austero consigo mesmo, e frugal, vive em exclusivo para o estudo da cidade de Évora. Toda
a energia e todos os recursos de que dispõe são postos ao serviço da leitura e do estudo. Mas tal
acarreta um grave problema, a falta de espaço na sua casa para guardar tanto livro. Em todas as
divisões, sem excepção, há volumes e mais volumes, amontoados e albergados em todo e qualquer sítio. No seu quarto, montões de livros atulham-se no interior e no exterior do guarda-fato e
debaixo da cama. Nem a cozinha escapa.
Viajar, pelo país e pela Europa, e andar a pé são outras das suas paixões. É um caminheiro. Alimenta este gosto desde a adolescência e certa vez, já em adulto, chega a ir a pé de Évora
ao Algarve, acompanhado de alguns amigos. Com esta aptidão supera a escassez de transportes
públicos da altura e as dificuldades que tinha em custear esses meios e nunca se vê impedido de
calcorrear por qualquer lugar que quisesse conhecer.
Persistente, no pensar e no agir, Túlio Espanca vive para Évora. Torna-se muito popular e
populariza a cidade.
Brioso, vaidoso até, com a sua apresentação e vestir, parece estender essa preocupação
àquela a que queria tanto bem. A falta de consciência e de uma política expressa de preservação
do património histórico e artístico fazem-no arquear as espessas sobrancelhas. Trejeito que exibe
quando é acometido por algum descontentamento.
Se, além de as encurvar, Túlio Espanca mexer rapidamente as grossas sobrancelhas, significa que está constrangido ou aflito. Quem o conhece identifica bem estes sinais, assim como a sua
crítica irónica e indirecta. E qualquer um que com ele priva se apercebe do seu grande sentido de
humor.
Menino divertido e imaginativo, jovem atinado e garboso, instala-se na idade adulta com
uma maneira de estar comedida, modos finos e um ar refinado. Traja roupas sóbrias e de cores
claras em qualquer ocasião e cobre a cabeça com um boné bege durante o estio e com uma boina
preta quando faz frio. Uns óculos e uma barba cerrada revestem-lhe a face nos últimos anos.
Duas coisas impregnam toda a vida do “Senhor Espanca”, como todos carinhosamente o
tratavam: o amor por Évora e a ânsia de possuir todo o seu conhecimento…
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Cronologia
Desenho de Túlio Espanca
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1913 (8 de Maio) - Nascimento, em Vila Viçosa, na Freguesia de N.ª S.ª da Conceição, filho de
José de Jesus da Rocha Espanca, natural da mesma freguesia, e de Maria Rosa Alberto, natural
da Freguesia de N.ª S.ª de Machede.
1920 - Vem morar para Évora com os pais e os irmãos, tem então 7 anos de idade.
1931 - Assentou praça no Regimento de Artilharia Ligeira N.º 1, como voluntário.
1934 - Inicia a actividade de barbeiro na Barbearia A. Marques e Irmão, na Praça do Giraldo N.º
60, até 1940. Os seus clientes, professores de liceu e outros intelectuais, deliciam-se a ouvi-lo
falar da História da cidade, e Celestino David e António Bartolomeu Gromicho incentivam-no
a ser associado do Grupo Pró-Évora.
1934 ou 1935 - Enceta o namoro com a que viria a ser a sua esposa, Engrácia Maria de Oliveira Espanca.
1936 - Casa-se, por registo, (só em 1952 contrai casamento pelo religioso e se baptiza, na
Igreja de N.ª S.ª do Carmo).
1939 - Tira o Curso de Cicerone do Grupo Pró-Évora e nele obtém o 1.º lugar.
- Publica os primeiros trabalhos num jornal, de 30 de Junho a 25 de Novembro, cinco
artigos, no O Arraiolense com o título Breve Descrição Histórica de Vila Viçosa.
1940 - A Câmara Municipal de Évora convida-o para Guia dos Serviços de Turismo.
- Promove visitas guiadas, primeiro à cidade de Évora, depois ao distrito.
1942 - Assume o cargo de editor do Boletim A Cidade de Évora.
1944 - Começa também a publicar trabalhos no Boletim A Cidade de Évora e inicia a publicação
dos Cadernos de Arte e História Eborenses, que saíram durante 36 números e que reúnem o
principal da sua obra.
1949- É Nomeado pelo presidente da Câmara Municipal de Évora, Henrique da Fonseca Chaves, Conservador dos Monumentos Nacionais do Distrito de Évora.
- Inicia a publicação dos Guias de Évora
1953 - Recebe uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, no valor de 36 contos, e passa seis meses França e Itália.
1957 - Publica o livro Património Artístico do Concelho de Évora, Arrolamentos das Freguesias
Rurais, obra que, entre outros factores esteve na origem do convite que lhe foi depois endereçado pela Academia Nacional de Belas-Artes para que dela se tornasse membro e assumisse
a realização dos Inventários Artísticos do Concelho e do Distrito de Évora.
1959 - É nomeado Membro da Academia Nacional de Belas-Artes.
1976 - Fica sócio correspondente da Academia Portuguesa de História.
1979 - É eleito vogal efectivo da Academia Nacional de Belas-Artes.
1982 - É eleito académico honorário da Academia Nacional de Belas-Artes.
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1982 - Recebe o Prémio Europeu da Conservação dos Monumentos Históricos atribuído pela
Fundação F.V.S. de Hamburgo, a 29 de Maio.
1982 - A Câmara Municipal de Évora atribui-lhe a Medalha de Ouro da Cidade, a 27 de Novembro.
1983 - É galardoado com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada, pelo Presidente da República Portuguesa, General Ramalho Eanes, que tem como objectivo distinguir
personalidades pelo seu mérito literário científico ou artístico.
1990 - Recebe o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora, na área científica
de História da Cultura Portuguesa, dia 1 de Novembro.
1993 - Após uma queda de uma janela do Convento dos Lóios, vem a falecer no Hospital de
Évora, dia 2 de Maio.
Desenho de Túlio Espanca
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BREVE BIBLIOGRAFIA
Artigos no Boletim A Cidade de Évora, a partir de 1942
Cadernos de História e Arte Eborense, de 1944 a 1976
Guias Histórico-Artísticos de Évora, de 1949 a 1980
Catálogos de Exposições de Arte realizadas em Évora, de 1954 a 1973
Património Artístico do Concelho de Évora, Arrolamentos das Freguesias Rurais, 1957
Inventário Artístico de Portugal, Tomo VII - Concelho de Évora, 1966
Inventário Artístico de Portugal, Tomo VIII - Distrito de Évora Zona Norte, 1975
Inventário Artístico de Portugal, Tomo IX - Distrito de Évora Zona Sul, 1978
Inventário Artístico de Portugal, Tomo XII - Distrito de Beja, 5 Concelhos, 1992
Colaborações em:
Tesouros Artísticos de Portugal, 1976
Enciclopédia «Verbo»
Revista Colóquio
Revista Almansor
Dicionário de História de Portugal
Imprensa regional
Nota: Esta bibliografia pretende apenas apontar as principais obras e temas de trabalho de Túlio
Espanca, não constitui uma bibliografia completa.
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Núcleo de documentação Câmara Municipal de Évora