FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL – UM PEQUENO RELATO
HISTÓRICO E UMA GRANDE CRISE
Semí Cavalcante de Oliveira
INTRODUÇÃO
Em maio de 2011, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o francês
Dominique Strauss-Kahn, envolveu-se em um escândalo sexual em New York, nos Estados
Unidos (EUA). O político francês negou as acusações e até ventilou a possibilidade de uma
conspiração política, já que ele liderava a corrida presidencial na França para as eleições de
2012. Sua prisão nos EUA abre duas frentes políticas: uma sobre a disputa presidencial
francesa e a outra sobre a sucessão no FMI, agência financeira multilateral ligada à
Organização das Nações Unidas (ONU).
1. FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL – UM BREVE RELATO HISTÓRICO
A conferência monetária e financeira realizada em Bretton Woods nos EUA, mais
precisamente em New Hampshire, em Julho de 1944, visava reestruturar o sistema financeiro e
monetário do pós Segunda Guerra Mundial.
Essa grande reunião de 44 países para planejar o sistema financeiro e cambial arrasado
pela 2º guerra mundial foi um marco na história do sistema capitalista, uma vez que
modernizou o sistema financeiro mundial. Todos os acordos no âmbito de Bretton Woods
tiveram validade para o conjunto das nações lideradas pelos EUA. Os objetivos específicos
desses acordos buscavam o planejamento de um novo sistema financeiro e cambial – a
modificação do antigo padrão ouro para um novo padrão, o dólar/ouro – além da fixação de
taxas de câmbio para evitar desvalorizações concorrenciais.
Sobre os antecedentes históricos de Bretton Woods, é fundamental ressaltar o padrão
ouro, ou seja, a emissão de dinheiro até 1944 era baseada no ouro, o que admitia a utilização
de moedas do metal ou notas cobertas por uma garantia proporcional. Ademais, estabelecia a
livre conversão das notas ao ouro e determinava que os pagamentos das transações
internacionais seriam realizados por intermédio do ouro.
A Partir de Bretton Woods, foi implantado o padrão ouro/dólar, que vigorou de 1944 a 1971.
De acordo com esse novo padrão, o valor das moedas seria determinado por um teor de ouro
que teria um valor correspondente a uma moeda. Foi estipulado que essa moeda seria o dólar,
o que o transformou em espinha dorsal do sistema monetário internacional, atrelando as
economias capitalistas à economia dos EUA. Para a conversão do antigo padrão ouro para o
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novo padrão ouro/dólar, convenciou-se que uma Onça/troy valeria 35 dólares. A moeda dos
EUA foi escolhida, pois, além do peso político, aquele país possuía a supremacia no comércio
mundial, uma economia forte, que foi alavancada pela economia de guerra.
Os acordos implantados em Bretton Woods possuíam uma lógica que era o equilíbrio do
sistema financeiro capitalista internacional. Foi estabelecido que cada nação deveria ter fundo
de reservas em ouro/dólar para eventuais flutuações na balança de pagamento e, caso não
fosse suficiente, recorreria ao FMI.
O FMI é uma agência especializada da ONU, sediada em Washington. Foi criado com a
finalidade de promover a cooperação monetária entre os países capitalistas, coordenar as
paridades monetárias a fim de evitar as desvalorizações cambiais concorrenciais. O FMI
também levanta fundos entre os países membros para auxiliar os que têm dificuldades nos
pagamentos internacionais, regula a paridade das moedas em relação ao ouro e procura
manter constantes as taxas de compra e venda das moedas entre si.
Praticamente todos os países industrializados fazem parte do FMI. Cada país contribuiu
com uma cota definida de ¼ em ouro e o restante em moeda corrente. Essas cotas são
determinadas pela participação de cada país no comércio internacional.
A organização interna do FMI é constituída por 25 diretores, sendo que 5 deles são
nomeados pelo detentor de maior número de cotas, ou seja, os EUA, e os demais são eleitos
pelos países membros, com mandatos pré determinados. O diretor-gerente do FMI, que
equivale ao cargo de presidente no Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento –
BIRD, também conhecido como Banco Mundial, é eleito pelos 25 diretores. Vale ressaltar que
na época da criação do FMI e do BIRD, em 1944, os EUA e Europa firmaram um acordo tácito
e extraoficial de divisão de poderes no comando do sistema financeiro internacional. Os EUA
apoiariam de forma irrestrita a Europa para presidir o FMI e a Europa garantiria para os EUA a
presidência do BIRD.
Contudo, todos os países membros têm direito a um representante na instituição
multilateral. O representante do Brasil, desde 2009, indicado pelo governo Lula, é o economista
Paulo Nogueira Batista Junior, grande crítico da atuação do fundo, principalmente em relação
aos sócios emergentes.
O Fundo empresta recursos aos países membros com dificuldades de equilibrar o balanço
de pagamentos. Esses empréstimos são liberados mediante a assinatura de uma carta de
intenções, em que o país recebedor dos fundos se compromete a seguir as determinações da
instituição, ou seja, seguir a política econômica recomendada pelo FMI.
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2. AS POSSIBILIDADES DE CRISE
A prisão de Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI, por crime sexual, evidenciou
as dúvidas e incertezas sobre a crise da dívida da zona do euro, sobretudo na Grécia e
Portugal, derrubando a cotação do euro para o menor valor em quase dois meses e
automaticamente influenciando as Bolsas de Valores de todo o mundo.
Não há indícios concretos de que as rotinas gerais do FMI serão alteradas, contudo a
prisão de Strauss-Kahn ocorreu a poucos dias de uma série de novas negociações sobre a
crise na zona do euro. O então diretor-gerente do FMI, Strauss-Kahn, que também liderava as
pesquisas para a corrida presidencial francesa, era o único interlocutor que tinha peso político
e econômico para persuadir a chanceler alemã, Angela Merkel, em especial, e os outros
ministros das finanças da zona do euro, em geral, a rediscutirem suas políticas econômicas a
fim de contribuírem de forma mais efetiva na crise econômica que a União Européia vem
enfrentado desde 2008.
A sucessão no FMI traz à tona um problema crônico, pois quando esta agência foi criada,
em 1944, a nova ordem mundial possuía determinadas características políticas e econômicas
que justificavam a hegemonia da Europa e dos EUA nas duas instituições financeiras
multilaterais: o FMI e o BIRD. Todavia, com a novíssima ordem mundial, consolidada com a
ascensão econômica dos países que compõem o grupo dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e
China, a partir dos anos de 1990, aquela predominância da “nova-velha” ordem de 1944 vem
sendo questionada. Os países emergentes vêm criticando esse status quo, exigindo que a
escolha para presidência do BIRD e de diretor-gerente do FMI seja por mérito, e não pela
origem. Um exemplo concreto dessa situação: a Europa, por exemplo, controla 29% dos votos
no fundo e tem um peso econômico mundial que ronda 20%. A China, que concentra 14% do
PIB global, tem apenas 6% dos votos.
O FMI, assim como a ONU, são dois exemplos de instituições que não se adaptaram às
transformações internacionais. A disputa pelo comando do FMI ocorre em um momento crítico,
uma vez que essa instituição não possui mais a importância que teve nas últimas décadas,
principalmente nos anos de 1980, quando desempenhava papel fundamental no auxílio aos
países atingidos pelas sucessivas crises econômicas e financeiras.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo espera mudanças nas esferas de poder do FMI, assim como no Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento. Essas mudanças visam dar mais espaço
aos países emergentes, principalmente à China. Entretanto, os especialistas não acreditam
que isso ocorra já na escolha do sucessor de Strauss-Kahn. A França, por exemplo, já se
antecipou ao debate e manifestou o desejo de permanecer no cargo com a indicação de sua
ministra das finanças: Christine Lagarde. Contudo, Lagarde pode ser alvo de investigações
criminais, uma vez que a Justiça francesa deve decidir nas próximas semanas se pede uma
investigação contra ela. A ministra é suspeita de favorecimento ilícito ao milionário Bernard
Tapie numa ação que ele movia contra o então banco estatal Crédit Lyonnais na
comercialização do grupo Adidas.
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REFERÊNCIAS
Carta Capital. Sucessão no FMI: Os EUA e a Europa vão ter de sentar à mesa e negociar.
Disponível em <http:/www.cartacapital.com.br/internacional> acesso em 20 mai 2011.
LANDES, David. Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento
industrial na Europa ocidental desde 1750 até a nossa época. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1994.
PASSET, Rene. A ilusão neoliberal. Editora Record, 2002.
PERKINS, John. Confissões de um assassino econômico. São Paulo: Cultrix, 2005.
STIGLITZ, Joseph E. A Globalização e seus Malefícios. São Paulo: Futura, 2002.
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