APRESENTANDO A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA AO PROGRAMA MAIS
EDUCAÇÃO
Giselly de Oliveira Silva1 [email protected]; Erivaldo Gumercindo de Souza
Neto2; Manuela Maria da Silva1; Aguinalda Alves Teixeira Filha1
Resumo
A pesquisa científica apresenta sua importância junto à educação, no entanto,é pouco
explorada nas escolas. Ao identificar como ocorre o processo de construção da ciência
os alunos têm mais facilidade em compreender os assuntos trabalhados, e
posteriormente podem desenvolver o lado pesquisador. O presente trabalho tem como
objetivo mostrar como está sendo apresentada a investigação científica no Programa
Mais Educação da Escola Municipal Dr. Ivo Queiroz Costa em Vitória de Santo Antão
– PE. Participaram do estudo 33 alunos do Programa Mais Educação da referida escola.
O Programa Mais Educação é um projeto do Governo Federal introduzido nas escolas
municipais com o intuito de promover a educação em horário integral.Foi realizado um
experimento sobre a presença da pressão atmosférica. Seguindo as etapas estabelecidas
no método científico (observação,formulação da pergunta, formulação da hipótese,
experimentação, aceitar ou rejeitar a hipótese, formulação da lei).Foi realizado um
experimento mostrando a presença da pressão atmosférica com um copo d’água
tampado por um pedaço de papel, que quando virado de cabeça para baixo teve o papel
agindo como uma tampa.Foi solicitado que eles escrevessem as suposições e conclusões
que viessem a surgir. Ficou perceptível a ausência de aulas experimentais no ensino
fundamental, ao explicar a atividade do dia muitos ficaram abismados e encantados
questionando se era possível fazer um experimento apenas com um copo, água e papel,
ao concretizar o experimento alguns alunos perguntaram se era mágica, e se tinha algum
truque.
Palavras-chaves:ensino fundamental, alfabetização científica, ciência
Introdução
O tripé ensino, pesquisa e extensão proporciona aos professores e educandos
uma base consolidada para facilitar a relação ensino-aprendizagem. No entanto, não é
comum a inserção desse tríplice na educação básica. Na maioria das vezes o aluno só
vem ter contato com a pesquisa na graduação, pois ainda configura na cabeça de muitos
professores que pesquisa só faz, aquele profissional que possui uma tecnologia de ponta
apropriada para investigação, deixando de perceber que uma pesquisa científica pode
ser realizada em qualquer situação, basta apenas ter uma inquietação inicial, um
problema ao qual leve os pesquisadores a buscar soluções.
1
2
Instituto Federal de Pernambuco – Campus Vitória de Santo Antão
Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão
2
A alfabetização científica é de tamanha importância quanto o “saber ler e
escrever”, a partir do conhecimento científico forma-se cidadãos críticos que
questionam as causas e as consequências. A falta de recursos, de tempo, de laboratório
fazem com que muitas vezes os professores da educação básica não estimulem o
desenvolvimento científico dos seus alunos até porque, poucos são os professores desse
nível de educação que se dedicam à pesquisa.
ParaLudke e Cruz (2005) as condições de trabalho reside em um aspecto de
extrema importância para a pesquisapor parte do professor. Para que o seu exercício na
educação básica deixede ser algo distanciado da realidade escolar é importante que seja
assumido como atividade orgânica da escola, contando com fatores como contrato de
trabalho, tempos para a pesquisa, apoio financeiro e infra-estrutura física para a
realização das atividades de investigação.
Ramos e Rosa (2008) apontam em sua pesquisa algumas dificuldades que os
professores que participaram de seu estudo encontram para trabalhar com a atividade
experimental, tais como: pequena quantidade de material, ausência de um
local
adequado e falta de preparo para lidar com esse tipo de situação.Binsfeld e Auth (2011)
também apontam problemas como carência de materiais, excessiva carga horária de
trabalho semanal, muitos estudantes por turma e má remuneração.
Estudos como esse são de suma importância para a educação científica, pois a
partir dele os professores tomam conhecimento de como podem despertar o interesse de
seus alunos da educação básica de forma prazerosa e construtiva.
O presente estudo tem com objetivo mostrar como está sendo apresentada a
investigação científica aos alunos do Programa Mais Educação da Escola Municipal Dr.
Ivo Queiroz Costa em Vitória de Santo Antão, Pernambuco.
O estudo faz uma apresentação da importância e da necessidade da investigação
científica na educação básica, seguida por um aporte teórico. Posteriormente é exposto
como o trabalho foi desenvolvido, a seguir é evidenciado os principais resultados e
realizada as discussões a respeito do tema, sendo finalizado com as conclusões
formuladas a partir do estudo.
Referencial Teórico
Ensinar ciências envolve apresentar, de modo organizado e hierarquicamente
sequenciado, um conjunto de conceitos e teorias científicas. O ensino consiste assim em
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uma sequência didática de definições, exemplificações e exercícios destinados à fixação
da aprendizagem (LIMA et al., 2000).
O ensino tradicional mostrou-se ineficiente quando se começou a dar
prioridade ao ensino do “método científico”, e assim surgiu uma nova
maneira de ensinar Ciências, o ensino por redescoberta. Na prática,
este se revelou equivocado, mas teve o mérito de romper com a
tradição do ensino de Ciências por transmissão-recepção. Além disso,
o ensino por redescoberta tentou aproximar os alunos da atividade
científica e da própria história das ciências. Essa nova maneira de
ensinar Ciências estava baseada na idéia de os alunos vivenciarem o
método científico (CAMPOS; NIGRO, 2009).
Para Longhini (2008)o ensino de Ciências para as primeiras séries do Ensino
Fundamental possui algumasespecificidades quando comparado ao dos níveis mais
avançados, como por exemplo, o fato decontar com um professor polivalente,
geralmente responsável também pelo ensino de outras áreasdo conhecimento.
Independente se este é um fator que facilita ou não o ensino de Ciências nestaetapa da
escolaridade, o que pesquisas têm apontado é que ele apresenta um rol de problemas.
Segundo Sasseron e Carvalho (2008) emerge a necessidade de um ensino de
Ciências capaz de fornecer aos alunos não somente noções e conceitos científicos, mas
também é importante e preciso que os alunos possam “fazer ciência”, sendo defrontados
com problemas autênticos nos quais a investigação seja condição para resolvê-los.
É preciso também proporcionar oportunidades para que os alunos tenham um
entendimento público da ciência, ou seja, que sejam capazes de receber informações
sobre temas relacionados à ciência, à tecnologia e aos modos como estes
empreendimentos se relacionam com a sociedade e com o meio-ambiente e, frente a tais
conhecimentos, sejam capazes de discutir tais informações, refletirem sobre os impactos
que tais fatos podem representar e levar à sociedade e ao meio ambiente e, como
resultado de tudo isso, posicionarem-se criticamente frente ao tema.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) é papel do professor criar
oportunidades de contato direto de seus alunos com fenômenos naturais e artefatos
tecnológicos, em atividades de observação e experimentação, nas quais fatos e idéias
interagem para resolver questões problematizadoras, estudando suas relações e suas
transformações, impostas ou não pelo ser humano.
Não basta o professor saber que aprender é também apodera-se de um
novo gênero discursivo, o gênero cientifico escolar, ele também
precisa saber fazer com que seus alunos aprendam a argumentar, isto
é, que eles sejam capazes de reconhecer às afirmações, além da
capacidade de integração dos méritos de uma afirmação. Eles
precisam saber criar um ambiente propício para que os alunos passem
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a refletir sobre seus pensamentos, aprendendo a reformulá-los por
meio da contribuição dos colegas, mediando conflitos pelo diálogo e
tomando decisões coletivas (CARVALHO et al., 2004).
Zancan (2000) acredita que o desafio é criar um sistema educacional que explore
a curiosidade das crianças e mantenha a sua motivação para apreender através da vida.
As escolas precisam se constituir em ambientes estimulantes, em que o ensino de
matemática e da ciência signifique a capacidade de transformação. A educação deve
habilitar o jovem a trabalhar em equipe, a apreender por si mesmo, a ser capaz de
resolver problemas, confiar em suas potencialidades, ter integridade pessoal, iniciativa e
capacidade de inovar. Ela deve estimular a criatividade e dar a todos a perspectiva de
sucesso.
Em sua pesquisa Ramos e Rosa (2008) identificaram os principais fatores
condicionantes que levam os professores a não realizarem aulas experimentais com uma
maior frequência: falta de incentivo e de orientação por parte dos diretores e
coordenadores pedagógicos das escolas; ausência de um planejamento adequado que
possibilite o desenvolvimento dos experimentos no tempo disponível de aula; escassez
de materiais para a realização de atividades experimentais; ausência de um trabalho
coletivo que envolva todos os educadores; falta de preparo dos professores durante os
cursos de formação inicial e continuada para o desenvolvimento de atividades
experimentais; estímulo dentro das escolas para a manutenção de uma postura
tradicionalista de ensino.
Material e Métodos
O estudo é de natureza qualitativa do tipo descritiva de campo. Participaram do
estudo 33 alunos que cursam o ensino fundamental e integram o Programa Mais
Educação da Escola Municipal Dr. Ivo Queiroz Costa em Vitória de Santo Antão –
Pernambuco. O Programa Mais Educação foi instituído pela Portaria Interministerial
n.º 17/2007 e integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como
uma estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e a
organização curricular, na perspectiva da Educação Integral (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2013).
O trabalho foi desenvolvido durante a realização da oficina de Ciências que
ocorre semanalmente.
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Foi realizado um experimento (Figura 1) a fim de que os alunos percebessem a
presença da pressão atmosférica (observação). Seguindo as etapas estabelecidas no
método científico segundo Bunge (1980)descobrimento do problema, colocação precisa
do problema, procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema,
tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados, invenção de
novas idéias, obtenção de uma solução, investigação das consequências da solução
obtida, prova (comprovação) da solução e correção das hipóteses, teorias,
procedimentos ou dados empregadosna obtenção da solução incorreta.
Inicialmente foi explicado como iria ocorrer o experimento, enchendo um copo
com água e tampando-o com um pedaço de papel, em seguida viraria ele de cabeça
abaixo.Foi solicitado que eles escrevessem as suposições e conclusões que viessem a
surgir. Ao realizar o experimento percebeu-se que o papel agiu como uma tampa
segurando a água no copo. Foi questionado a turma o que teria feito aquele fenômeno
acontecer (descobrimento do problema). A fim de encontrar a repostas os estudantes
solicitaram que o experimento fosse repetido.
Resultados e Discussão
A fim de explicar o fenômeno os estudantes formularam hipóteses como que
havia cola no papel, que tinha algum truque, que o segredo estava no tipo do papel.
Nenhum aluno relacionou a demonstração à força exercida pela pressão atmosférica.
A pressão atmosférica é a pressão exercida pela atmosfera terrestre. O ar, assim
como a água é um fluido. A pressão exercida sobre um objeto em um líquido provém de
todos os sentidos, de baixo e de cima, como da esquerda e da direita. Em nível
molecular, a pressão atmosférica explica-se pelas colisões entre as moléculas do ar com
qualquer superfície em que estejam em contato (CHANG, 2006, p. 133).
Ao encher completamente o copo com água e tampar com a folha de papel o ar
ao redor do copo realiza uma força (pressão atmosférica) em todos os sentidos, inclusive
de cabeça para baixo, impedindo que o papel se mova. Assim, a força exercida pelo é
maior do que o peso da água.
Os alunos ficaram encantados com a demonstração do experimento chegaram a
perguntar se era mágica e se havia algum truque. A partir da aula prática foi possível
explorar conceitos de difícil compreensão quando trabalhados apenas na teoria, como
presença do ar atmosférico, pressão do ar e gravidade.
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É possível pensar num ensino de ciências compatível com nossasrealidades por
meio de abordagens que propiciem maior participação do aluno e desenvolvam diversos
níveis de cognição. Para isso, é necessário mudar o foco, dando mais ênfase às
atividades de análise que de transmissão de informações, mudando-se, assim, a
perspectiva de ação em relação ao ensino de ciências (GIOPPO, 1998, p. 50).
Bevilacqua e Silva (2007) acreditam que a teoria educacional precisa seraplicada
na prática. A discussão sobre estratégias de ensino que permitam esta aplicação deve ser
valorada e ampliada entre pesquisadores e professores. E o professor deve, cada vez
mais, encarar a sala de aula como seu laboratório e assumir o papel de
professor/pesquisador que, em consonância com as necessidades da sociedade na qual
está inserido, deve ser capaz de exercer seu trabalho de forma dinâmica, atual e
consciente.
Para Lehenbauer et al, (2005) ao professor, cabe o papel de mediador dos
conhecimentos, facilitador do processo educativo, provocador de situações de
aprendizagens desafiadoras que visem, sobretudo, à investigação e a à curiosidade; o
aluno assume o papel de protagonista de sua aprendizagem.
Conclusão
A partir da realização do experimento percebe-se a defasagem do ensino de
Ciências da natureza, evidenciado pela falta de conhecimento a respeito dos conceitos
trabalhados. Ficou perceptível a falta de aulas experimentais, onde a teoria vista em sala
de aula pode ser complementada com demonstrações de baixo custo e que não exigem
laboratórios e matérias apropriados.
Com intuito de aproximar os estudantes do mundo científico toda semana é
trabalhado um conceito de ciências da natureza a partir de um experimento de baixo
custo, sendo explorado o método científico.
Referências
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2011.
p.
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7
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8
Figura 1. Realização do experimento.
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