Aos servidores temporários do IBGE
Os trabalhadores do IBGE
protagonizaram uma greve que
resistiu 80 dias. Uma das maiores
da história deste Sindicato.
Neste período, enfrentamos o autoritarismo
da Direção do IBGE, respaldada pelo governo
Dilma. Nossa greve foi levada à Justiça na primeira semana, impondo um limite absurdo de
30% para adesão em cada local de trabalho. Depois de algumas semanas, o autoritarismo voltou-se contra a parcela mais fragilizada e
precarizada de nossa categoria, buscando calar
sua organização coletiva com demissões
massivas, em diversas partes do País.
A greve acabou, ainda que seja nossa compreensão que a luta deve se intensificar. Afinal, o que ganhamos com o processo grevista? Será que valeu a pena lutar? Será que nada
mudou no IBGE?
A ASSIBGE-SN convida você a fazer uma reflexão sobre o que se passou nestes últimos
meses.
O movimento S.O.S. IBGE surgiu a partir de
uma série de problemas acumulados nos últimos
anos, que estão colocando em risco o trabalho
de excelência que sempre foi marca do IBGE. O
estopim da crise foi a decisão da Direção do IBGE
em suspender a divulgação da PNAD Contínua,
após conversa com senadores da base do governo, o que levou à suspeita de ingerência política.
Uma ampla reação da categoria forçou a Direção a voltar atrás em seus propósitos, mas expôs a crise de gestão no IBGE para a sociedade.
A partir dali o que ficou evidente é que a
precarização das relações de trabalho que vem
sendo implementada no IBGE faz parte de um
projeto maior para todo o serviço público federal. O IBGE se converteu em uma espécie de laboratório da precarização, na medida em que
avançam as contrações temporárias para atividades contínuas do órgão e se reduz a proporção de servidores efetivos. Junto com a política
de restrição de direitos aos trabalhadores temporários, este projeto
combina a prática do barateamento do investimento estatal com o objetivo político de tentar
diminuir a capacidade de resistência dos trabalhadores ao projeto de precarização.
A greve, que começou no final de maio e foi
até agosto, teve como principal objetivo denunciar e quebrar o autoritarismo da administração,
além de levantar as reivindicações mais sentidas
dos diversos setores da categoria.
No entanto, quando se acreditava que seria
possível chegar a um acordo, mesmo que em
bases parciais, a Direção do IBGE retomou práticas do tempo da ditadura militar, quando servidores censitários foram demitidos porque lutavam por seus direitos. Em solidariedade, centenas de chefes e supervisores colocaram seus cargos a disposição em todo o Brasil.
Longe de amenizar a crise interna, a demissão de 186 servidores temporários evidencia a
urgência da mudança de rumos no IBGE e nos
serviços públicos. Segue mais necessária do que
nunca a luta pela democratização da gestão. Precisamos de uma Direção que esteja ao lado dos
trabalhadores, disposta ao diálogo, que ouça as
demandas e encampe as reivindicações dos que
fazem o dia a dia do IBGE.
As demissões criaram uma fratura exposta,
que impede a retomada de um ambiente de trabalho saudável no IBGE, enquanto não forem
revogadas. Ao contrário do que imagina a Direção do IBGE, essas demissões fragilizam ainda
mais sua já debilitada autoridade junto ao corpo
técnico da casa.
O Sindicato não descansará enquanto esta injustiça vergonhosa não for reparada e dará todo
o apoio jurídico e político necessários aos demitidos. Estamos preparando a intensificação de
campanhas em defesa dos companheiros.
A ASSIBGE-SN tem um compromisso e uma
história de luta e solidariedade. Foi assim com
os censitários na década de 80 e com os demitidos do governo Collor. Todos foram reintegrados,
porque fomos incansáveis em buscar seu retorno ao trabalho.
Ao mesmo tempo, nossa greve conquistou grupos de trabalho importantes para toda a categoria, que seguirá debatendo os rumos da instituição. O GT sobre carreira e salários deve discutir
uma adequação a patamares semelhantes aos dos
servidores de órgãos do chamado Ciclo de Gestão. O GT sobre trabalho temporário pode representar novos parâmetros, tanto que diz respeito
aos limites deste tipo de trabalho no IBGE, como
no tocante a direitos. Não nos renderemos às tentativas de imposição da Direção do IBGE, e debateremos amplamente com a categoria o Instituto
que queremos. Chega de trabalho indecente!
Ao final da greve ouvimos vozes que se somam à Direção do IBGE, que acusam o Sindicato
de ter sido irresponsável e usar os temporários
como "bucha". Esse é um argumento que não
se justifica, visto que quase metade da mão de
obra em atividade no IBGE está precarizada, subordinada a realização de quaisquer tarefas, quase sem direitos e recebendo em torno de R$ 1
mil. Não há como superar essa condição sem lutar de maneira organizada. A precariedade dos
contratos não só é fonte cotidiana de assédio
moral contra uma parcela cada vez mais expressiva de nossos colegas de trabalho, como foi a
base para as demissões de grevistas.
A greve também provou que é possível avançar em algumas questões fundamentais para os
temporários: 1) os reajustes salariais dos APM
não precisam esperar os editais de PSS, bastando ter mais orçamento e, segundo a direção, foi
pedido orçamento para reajuste para o próximo
ano; 2) o governo informou que a indenização
de campo dos temporários será encaminhada ou
por medida provisória ou por projeto de lei, o
que for mais rápido; 3) poderemos convocar a
CONJUR para uma sabatinada tanto para a pontuação de experiência de trabalho para o concurso, quanto para a indenização de campo.
Foi a própria vivência destas situações que
motivou os trabalhadores a entrarem em greve,
reivindicando melhorias em suas condições de
trabalho. Os desligamentos têm o único objetivo de sinalizar que, para esta estrutura de gestão, os servidores temporários devem trabalhar
calados, aceitando sua condição de precarizados,
pois, se ousarem lutar por melhores condições
de trabalho, terão como resposta da Direção do
órgão e do governo a demissão.
Terminada a greve, fica a certeza de que enfrentamos apenas mais uma batalha e que seguiremos em frente. Para isso é preciso agora
reorganizar nosso movimento, de maneira firme, democrática e serena, sem rancores e de
forma objetiva, a partir das necessidades dos
trabalhadores do IBGE e da sociedade, como
sempre fizemos.
As grandes mudanças não acontecem numa
batalha, mas ao final de uma jornada de lutas.
Não se faz a luta pensando apenas naqueles que
não vão participar dela, mas nos caminhos que
ela abrirá para o futuro de todos.
A ASSIBGE-SN considera os servidores temporários como parte importante da categoria,
para a qual exigimos respeito. Enquanto houver temporários no IBGE defenderemos suas
reivindicações e seu direito de organização. É
com base nisso que chamamos todos a seguirem participando das lutas, das assembleias,
de seus núcleos sindicais e de todos os fóruns
da ASSIBGE-SN.
Sigamos, juntos, contra a precarização,
contra a perseguição dos que lutam e
em defesa de um IBGE melhor!
ASSIBGE-SINDICATO NACIONAL
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