Stephen Crane
O emblema vermelho da coragem
Stephen Crane (1871-1900) teve vida curta, mas produziu uma
obra extensa e de grande intensidade literária. O emblema vermelho
da coragem, seu livro mais importante, é considerado um clássico da
literatura moderna americana. Quando foi editado, em 1895, seu
autor era um jovem de 25 anos que já havia publicado um romance e
vivia como jornalista, com poucos recursos. O sucesso de público de
O emblema vermelho da coragem foi imediato: no ano de seu
lançamento teve três reimpressões e no ano seguinte, catorze. Já a
recepção da crítica foi dividida: alguns compararam o escritor a
Tolstói, Balzac, Victor Hugo e Zola; outros viram problemas de
verossimilhança, pois Crane não fora, como seu protagonista, um
combatente da Guerra de Secessão, tendo nascido seis anos após seu fim.
Apesar de nunca ter “sentido o cheiro da pólvora”, como ele
mesmo dizia, o escritor compôs uma narrativa realista a partir de
uma série de relatos jornalísticos publicados na revista Century sobre
batalhas e líderes da Guerra Civil americana, descrevendo os
combates de O emblema vermelho da coragem através dos olhos e da
consciência de um jovem soldado, Henry Fleming. A narrativa
acompanha os momentos de espera, tensão e luta desse soldado
inexperiente, que se alistou sonhando com grandes feitos e atos de
bravura. As ideias que Henry tem da guerra vêm da literatura, e seu
parâmetro são os heróis gregos da Ilíada, de Homero. No entanto, o
que descobre no acampamento e na frente de batalha é que a guerra
moderna é uma aventura que beira o absurdo, na qual o sentido e a
verdade estão em constante movimento. Não existem heróis nem
homens de reputação inabalável, e é preciso determinação, instinto de
preservação e sorte.
Com uma narrativa que combina elementos de naturalismo à
percepção psicológica e impressionista de um jovem soldado, Stephen
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Crane inscreveu seu nome para sempre na literatura universal, sendo
precursor dos grandes realistas norte-americanos do século XX, como
Ernest Hemingway e Norman Mailer.
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1. Quais eram as primeiras expectativas do protagonista Henry
Fleming a respeito da guerra, quando os confrontos ainda não tinham
sido iniciados na frente de batalha?
O jovem soldado se encontrava em uma espécie de transe. Estava
atônito com a espera e a expectativa de enfim lutar. Custava a crer que
iria participar de um acontecimento grandioso. Sonhara com batalhas
e conflitos violentos a vida inteira, mas não conseguia vislumbrar
como seria esse momento. Estava dividido entre o medo e a ansiedade
pelos grandes atos de bravura. (capítulo 1)
2. Antes de ir para o campo de batalha, quando ainda estava em casa,
qual era a ideia que Henry fazia da guerra?
Ele achava que uma guerra em seu próprio país não seria uma
guerra nos moldes clássicos. Via a guerra com “suspeita”, como
uma encenação. Não esperava presenciar um combate à moda grega,
cheio de façanhas espantosas. Imaginava que os homens modernos
eram melhores ou mais tímidos que os antigos e que os interesses
financeiros mantinham “as paixões”, ou seja, a violência, sob
controle. (capítulo 1)
3. Como Henry se sentiu nos primeiros dias no regimento, quando a
espera pelo combate tornava tedioso o cotidiano?
Ao reencontrar o caminho do acampamento e alguns de seus
companheiros, como Wilson, Henry diz que foi atingido por um tiro
na testa. Essa mentira permite ao jovem justificar de maneira digna
sua ausência e o fato de ter se desgarrado do regimento. (capítulo 13)
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4. Qual acontecimento corriqueiro no acampamento fez o jovem
soldado se sentir “inteiramente só no mundo” e “um pária mental”?
Henry teve uma discussão com outro soldado a respeito das
conjecturas que faziam sobre o comportamento de ambos quando a
batalha começasse. Henry estava temeroso de sua própria reação e
provocou o companheiro: “Como você sabe que não vai fugir quando
chegar a hora?”, perguntou. Ambos estavam com medo do que ia
acontecer, mas nenhum deles queria admitir. Então, quando o colega
magoado o deixou a sós, Henry sentiu-se inteiramente só no mundo. À
noite, ao tentar dormir, teve a impressão de que não seria capaz de lidar
com aquele “monstro”, a guerra que se aproximava. (capítulo 2)
5. Quando os regimentos se agruparam, Henry percebeu que era
chegada a hora da guerra. Qual era o seu sentimento, então?
O jovem soldado notou que os homens armados começaram a
aparecer como se “acabassem de brotar da terra”. Ele percebeu que
seu caráter seria avaliado e então se sentiu “como um bebê”. Indefeso
e assustado, julgou ser impossível escapar do regimento, que o
“engolfava”. Então repensou a decisão de ter se alistado e imaginou que
jamais desejara ir para a guerra (um autoengano, pois tinha se alistado
voluntariamente). Sua sensação era a de que “fora sugado pelo governo
impiedoso” e que “o levavam para o abatedouro”. (capítulo 3)
6. Pouco antes do começo do combate em si, o jovem soldado foi
acometido por um forte sentimento de coletividade. Como ele percebeu
essa sensação: de maneira positiva ou negativa? Por quê?
De maneira negativa. Henry achava que tinha se tornado um
membro de um regimento, não um homem. Sentia que alguma coisa
à qual ele pertencia, como um exército, uma causa, um país, estava
em crise. Ao mesmo tempo, o regimento o envolvia e o reconfortava:
a irmandade da batalha era poderosa. Era uma fraternidade
“misteriosa”, nascida “do risco de morrer”. (capítulo 5)
7. A primeira batalha de que o jovem participou foi dramática. De que
maneiras contrastantes ele reagiu a cada investida?
Na primeira investida, o tenente da companhia do jovem deteve
um praça que fugira aos gritos, em pânico. Homens tombavam feito
“pacotes”, o capitão de sua companhia morreu logo no início da ação,
um jovem ao seu lado levou um tiro de raspão, fazendo com que o sangue
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escorresse por seu rosto, e outro soldado teve o joelho estraçalhado por
uma bala. Henry ficara assistindo aos combates até que, de uma hora para
outra, tudo cessou, e ele se sentiu bem: “Passara no teste supremo. Vencera
as rubras, formidáveis agruras da guerra”. Ficou contente consigo mesmo
e teve as melhores sensações de sua vida: “Sentiu-se um excelente sujeito”.
Na segunda carga do combate, porém, ao entrever nas brechas da fumaça
o regimento inimigo vindo em sua direção, com os “homens correndo e
berrando feito demônios acossados”, Henry sentiu-se como uma presa no
momento de ser engolida. Ao ver dois companheiros deporem armas e sair
correndo, ele também decidiu fugir. Foi para trás da retaguarda “a passos
de gigante” e depois decidiu sair em debandada, correndo “como um
cego”. A culpa e a vergonha por esse episódio o atormentaram até o fim da
guerra. (capítulo 6)
8. Por que a pergunta do soldado maltrapilho o deixou em pânico? E
por que ele passou a desejar a derrota do próprio regimento?
Depois de se perder de seu regimento, Henry encontrou um
soldado maltrapilho gravemente atingido na batalha, que perguntou
onde o jovem soldado havia sido ferido. Henry então entrou em
pânico com a possibilidade de que descobrissem que fugira da
batalha. Cercado de soldados feridos, “sentia que sua ignomínia era
visível”. Chegava a ter inveja dos feridos e desejou também possuir
um ferimento grave, “um emblema vermelho da coragem”. Deprimido
e envergonhado, pensava que jamais seria um herói e sentia-se um
covarde desprezível. Passou a desejar a derrota do seu regimento,
pois, assim, estaria “desagravado”. Imaginou que aquilo provaria que
estava certo ao fugir, que era um profeta, um homem de visão que
previra o que aconteceria. Chegou a pensar que, se o exército saísse
do episódio coberto de glória, ele estaria perdido. (capítulo 9)
9. Na continuidade dos combates, Henry foi atingido na testa por uma
pancada de rifle, desferida por um companheiro irritado. Para que serve
este ferimento ao jovem soldado?
Ao reencontrar o caminho do acampamento e alguns de seus
companheiros, como Wilson, Henry diz que foi atingido por um tiro
na testa. Essa mentira permite ao jovem justificar de maneira digna
sua ausência e o fato de ter se desgarrado do regimento. (capítulo 13)
10. O que aconteceu, porém, logo que o regimento retomou a marcha?
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Henry passou a se sentir experiente, como um veterano, e seu
orgulho e sua confiança foram restaurados. Achava que seu segredo
(a fuga na primeira batalha) não seria descoberto, então não tinha
medo de encarar os olhos de seus “juízes”, nem permitia que seus
pensamentos o desviassem do caminho viril. A frase que lhe ocorreu era
uma desculpa a si mesmo: “Cometera seus erros no escuro; portanto,
ainda era um homem”. (capítulo 15)
11. Outras batalhas aconteceram, e Henry começou a pressentir novamente
a possibilidade da derrota. Quem ele responsabilizou por isso?
O jovem soldado passou a culpar o comando, os oficiais mais altos.
Ele se revoltou especialmente contra um dos generais, que chamou os
homens do seu regimento de “muleiros” e que os escolheu para o
sacrifício, isto é, para uma batalha que se sabia perdida. O diálogo que
presenciou aconteceu em segundos, mas a sensação de Henry era a de
ter envelhecido muitos anos. O que mais o chocou foi sua própria
insignificância. Pensou em se vingar do oficial que os chamou de
tropeiros de mula e se revoltou contra outro que os chamou de
“moleirões”. (capítulo 21)
12. Quais episódios transformaram Henry em um herói de guerra e o
reconciliaram com os oficiais?
As batalhas em que o jovem soldado lutou bravamente empunhando
a bandeira de seu próprio regimento, que arrebatara das mãos de um
sargento negro, e a batalha em que o seu regimento derrotou o inimigo.
Foi então que Henry e um outro soldado conseguiram tomar o pavilhão
do porta-estandarte rival. Com isso, acabou a guerra para aquele
regimento. Apesar de ainda sentir o fantasma da fuga em sua primeira
batalha, Henry recapitulou as passagens “douradas da memória” de
seus feitos de guerra e “reuniu forças para pôr o pecado à distância”.
Estivera muito perto da morte gloriosa e descobrira que, afinal, “ele era
um homem”. (capítulo 24)
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Leituras recomendadas
Sorrentino, Paul; Wertheim, Stanley. The correspondence of Stephen
Crane. Columbia University Press, 1988.
Mitchell, Lee Clark . New essays on The red badge of courage.
Cambridge University Press, 1986.
Pizer, Donald. Critical essays on The red badge of courage. Hall, 1990.
Stallman, R. W.. Stephen Crane: A critical bibliography. Iowa
University Press, 1972.
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