APLICAÇÃO DE MEDIDAS DE
MITIGAÇÃO EM ACIDENTES COM
PEÕES: CASOS DE ESTUDO
WILSON SÉRGIO BARBOSA VIEIRA
Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM VIAS DE COMUNICAÇÃO
Orientador: Professora Doutora Sara Maria Pinho Ferreira
JUNHO DE 2015
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2014/2015
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
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Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
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Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja
mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil 2014/2015 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2015.
As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o
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Autor.
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
À minha Família
O pessimista reclama do vento, o otimista espera que ele mude.
O sábio ajusta as velas.
John Maxwell
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço à minha orientadora, Professora Doutora Sara Maria Pinho Ferreira, por
toda a disponibilidade e acompanhamento, por todos os conhecimentos transmitidos, pela partilha de
opiniões e sugestões que foram fundamentais para a elaboração e enriquecimento deste trabalho.
Um agradecimento especial à minha família, aos meus pais, avós e irmã, que foram o meu maior
suporte, acreditaram sempre em mim e ajudaram-me a ultrapassar todos os obstáculos. Por me terem
dado todas as condições para chegar a esta fase, pela confiança transmitida, e por tudo o que
representam para mim.
Aos meus amigos pela amizade, preocupação e incentivo constante, por estarem sempre presentes e
disponíveis para ajudar e por todos os momentos partilhados.
Por último, à Marta, pelo suporte e apoio, pela disponibilidade em colaborar e incentivar, pela palavra
amiga e de motivação fundamental também na elaboração deste projeto.
Mais uma vez, um sincero agradecimento.
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
RESUMO
A Sinistralidade Rodoviária é atualmente umas das problemáticas mundiais e uma das principais
causas de morte. Os custos associados aos acidentes rodoviários para além de serem economicamente
elevados, atingem também valores sociais e psíquicos inerentes ao sofrimento quer das vítimas quer
dos familiares podendo prolongar-se por vários anos.
Assim, é necessário encarar esta problemática nas políticas de desenvolvimento dos Países e assumir
políticas de redução e prevenção de acidentes nas suas estratégias de desenvolvimento sustentável.
Ao longo dos anos foram assumidos planos e medidas, como o Plano Nacional de Prevenção
Rodoviária e as Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, que tiveram um efeito notório na
redução da sinistralidade do País.
Apesar disso, em Portugal, a razão de vítimas mortais na estrada por milhão de habitantes é atualmente
ainda superior à média da União Europeia. Por isso, é necessário encarar esta problemática como um
Desafio Nacional e a sua redução um objetivo que deve ser partilhado por todos.
O presente estudo tem como foco de análise a sinistralidade na cidade do Porto com base nos anos de
2006 a 2011. Após esta análise que envolveu todo o tipo de acidentes, considerou-se os acidentes com
vítimas por atropelamento como o foco principal do trabalho, tendo em conta que a deslocação
pedonal é uma das apostas da Comissão Europeia por ser um meio sustentável, barato e saudável.
Como tal o objetivo deste estudo é a identificação de medidas de mitigação de acidentes nos locais
com um elevado número de vítimas por atropelamento.
Assim, foi possível analisar as caraterísticas inerentes às vítimas de atropelamento como a idade e o
sexo, bem como a data de ocorrência, condições da via, entre outros aspetos.
Além disso, assumiu-se também como objetivo identificar os pontos com maior acumulação de
acidentes e posteriormente seleção dos locais para análise.
Após a determinação dos locais mais gravosos relativamente aos atropelamentos realizou-se um
estudo dos mesmos e através do Highway Safety Manual e do portal online da CMF Clearinghouse
selecionou-se as medidas de mitigação a implementar.
De referir ainda que os Planos Municipais de Segurança Rodoviária e a sua importância na redução da
sinistralidade foram considerados.
Este estudo adquire importância tanto pela identificação para posterior implementação de medidas nos
locais estudados e consequente redução da sinistralidade, como na divulgação de ferramentas que
podem ser usadas no tratamento desta problemática.
PALAVRAS-CHAVE: Segurança Rodoviária, Acidentes Rodoviários, Atropelamentos, Medidas de
Mitigação, Plano Municipal de Segurança Rodoviária.
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ABSTRACT
Currently road accidents are one of the world’s greatest problems and one of the leading causes of
death. The costs related to road accidents are economically but also social and psychologically high
since the suffering of the victims and of their families remains for many years.
It is necessary to include countermeasures as policies for countries’ development and to assume
strategies to reduce accidents in the sustainable urban mobility plans.
In Portugal, over the last years, plans and measures have been successfully implemented to reduce
accidents, such as the National Plan for Road Safety or the National Road Safety Strategy.
Nonetheless, the ratio (per million inhabitants) of road accidents that resulted in death is still higher
than the European Member States average. That’s why this problem has to be faced as a national
challenge and everybody has to be involved in it.
The present study is focused on the accidents occurred in Porto city during the period between 2006
and 2011. After a previous analysis covering all type of accidents, a special attention was assumed to
the pedestrian-vehicle collisions in order to assist the European Commission strategy on the promotion
of the pedestrian mobility as a clean and smart transport mode. In this sense, the objective of this study
is to identify countermeasures to be applied to the sites with a high number of pedestrian victims.
Therefore, accident data was analyzed considering the victim characteristics such as age and gender as
well as other information such as the time and date of the accident and infrastructure conditions.
Alongside with this task, the identification and selection of the sites with higher number of accidents
were also carried out. in order to study of the sites and its’ countermeasures. To do that, the Highway
Safety Manual and the online portal CMF Clearinghouse were used to define some mitigation
measures to future implementation. Additionally, the Municipal Road Safety Plans were explored
assuming their relevance in the strategy to reduce road accidents.
The importance of the present study is not only because of the implementation of countermeasures to
prevent and reduce road accidents, but also to spread the existent tools which are essential to discuss
this problem as a target.
KEYWORDS: Road Safety, Road Traffic, Pedestrian-collision accident, Mitigation measures, Municipal
Road Safety Plan.
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................................. I
RESUMO ………………………………………………………………………………………………………….III
ABSTRACT .........................................................................................................................................V
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1
1.1. ÂMBITO ...................................................................................................................................... 1
1.2. OBJETIVOS ................................................................................................................................ 3
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................................................................................. 3
2. ENQUADRAMENTO ................................................................................................ 5
2.1. SINISTRALIDADE ........................................................................................................................ 5
2.2. PEÃO E A SEGURANÇA RODOVIÁRIA ......................................................................................... 9
2.3. CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS ..................................................................................................12
2.3.1. CLASSIFICAÇÃO MAIS ................................................................................................................12
2.4. ENTIDADES RESPONSÁVEIS PELA SEGURANÇA RODOVIÁRIA .................................................13
2.5. PLANOS MUNICIPAIS DE SEGURANÇA RODOVIÁRIA.................................................................14
3. METODOLOGIA.........................................................................................................17
3.1. LOCALIZAÇÃO DOS ACIDENTES................................................................................................17
3.2. PROJETO LIVE .........................................................................................................................17
3.3. HIGHWAY SAFETY MANUAL......................................................................................................18
3.4. CRASH MODIFICATION FACTORS .............................................................................................19
4. SINISTRALIDADE NA CIDADE DO PORTO .....................................21
4.1. ENQUADRAMENTO DA CIDADE DO PORTO ...............................................................................21
4.2. DADOS DA CIDADE DO PORTO .................................................................................................23
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
4.3. SINISTRALIDADE - ESTADO DA ARTE........................................................................................24
4.4. DESCRIÇÃO DA BASE DE DADOS .............................................................................................25
4.4.1. ANÁLISE DA BASE DE DADOS ......................................................................................................26
4.5. INDICADORES DE ESTUDO ........................................................................................................31
5. IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DAS ZONAS CRÍTICAS
.........................................................................................................................................................33
5.1. INTERSEÇÃO DA PRAÇA DAS FLORES COM A AVENIDA 25 DE ABRIL ......................................33
5.1.1. DESCRIÇÃO DO LOCAL ...............................................................................................................33
5.1.2. REGISTO DE ACIDENTES .............................................................................................................37
5.1.2.1. Registo dos Hospitais e Classificação MAIS .........................................................................38
5.1.3. IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DOS ATROPELAMENTOS ....................................................................39
5.1.4. MEDIDAS MITIGAÇÃO .................................................................................................................42
5.2. CRUZAMENTO DA RUA DE FERNANDES TOMÁS COM A RUA DOM JOÃO IV ............................45
5.2.1. DESCRIÇÃO DO LOCAL ...............................................................................................................45
5.2.2. REGISTO DE ACIDENTES .............................................................................................................51
5.2.2.1. Registo dos Hospitais e Classificação MAIS .........................................................................53
5.2.3. IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DOS ATROPELAMENTOS ....................................................................53
5.2.4. MEDIDAS MITIGAÇÃO .................................................................................................................56
5.3. RUA DIOGO BOTELHO ..............................................................................................................60
5.3.1. DESCRIÇÃO DO LOCAL ...............................................................................................................60
5.3.2. REGISTO DE ACIDENTES .............................................................................................................65
5.3.2.1. Registo dos Hospitais e Classificação MAIS .........................................................................65
5.3.3. IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DOS ATROPELAMENTOS ....................................................................66
5.3.4. MEDIDAS MITIGAÇÃO .................................................................................................................68
6. CONCLUSÃO ...............................................................................................................73
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Evolução das vítimas mortais por milhão de habitantes em acidentes rodoviários (fonte:
CARE) ............................................................................................................................................... 2
Figura 2 - Distribuição das mortes no trânsito por tipo de utente da via em 2010 (fonte: [13]) ............. 2
Figura 3 - Evolução do número de Vítimas Mortais entre 1990 e 2006................................................ 6
Figura 4 - Evolução do número de Feridos Graves entre 1990 e 2006 ................................................ 6
Figura 5 - Número de Vítimas Mortais por 1.000.000 habitantes em 1995 (fonte CARE) ..................... 7
Figura 6 - Número de Vítimas Mortais por 1.000.000 habitantes em 2005 (fonte: CARE) .................... 8
Figura 7 - Número de Vítimas Mortais (24 horas) no ano de 2013 (fonte:[8]) ...................................... 9
Figura 8 - Modos de deslocação em função da distância [12] ............................................................10
Figura 9 - Relação entre a velocidade dos veículos e a probabilidade de ocorrer um acidente fatal ...11
Figura 10 - Freguesias do Porto ........................................................................................................22
Figura 11 - Hierarquia Rodoviária da Cidade do Porto (Fonte: Câmara Municipal do Porto) ...............22
Figura 12 - Processo de ligação de dados no Projeto LIVE ...............................................................26
Figura 13 - Distribuição percentual dos atropelamentos por grupos etários........................................31
Figura 14 - Esquema representativo da interseção em estudo ...........................................................33
Figura 15 - Cruzamento da Praça das Flores com a Av. 25 de Abril ..................................................34
Figura 16 - Oficinas de automóveis proximas da interseção ..............................................................35
Figura 17 - Escola das Flores e Parque de lazer da Praça das Flores ...............................................35
Figura 18 - Estacionamento na Praça das Flores (esquerda) e Av. 25 de Abril (direita) .....................36
Figura 19 - Pormenor das passadeiras ..............................................................................................36
Figura 20 - Pormenor dos passeios ...................................................................................................37
Figura 21 - Mudança de via feita pelos peões recorrendo à passadeira .............................................39
Figura 22 - Passagem dos peões fora das passadeiras .....................................................................40
Figura 23 - Avenida 25 de Abril .........................................................................................................41
Figura 24 - Estacionamento indevido para efetuar cargas e descargas..............................................41
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 25 - Tabela com CMF da medida proposta .............................................................................43
Figura 26 - Tabela com CMF correspondente à elevação da passadeira mas sem as marcas
horizontais ........................................................................................................................................43
Figura 27 - Localização das bandas sonoras .....................................................................................43
Figura 28 - Tabela com CMF correspondente à implementação de bandas sonoras transversais ......44
Figura 29 - Bandas sonoras transversais...........................................................................................44
Figura 30 - Imagem aérea do Cruzamanto da Rua Fernandes Tomás com a Rua Dom João IV
(fonte:[22]) ........................................................................................................................................45
Figura 31 – Centro comercial Via Catarina ........................................................................................46
Figura 32 - Centro Comercial Porto Gran Plaza.................................................................................46
Figura 33 - Estabelecimentos comerciais e casas abandonadas presentes no local ..........................47
Figura 34 - Pormenor das passadeiras ..............................................................................................48
Figura 35 - Pormenor da intersecção.................................................................................................48
Figura 36 - Estacionamento na Rua Fernandes Tomás (esquerda) e Rua Dom João IV (direita) .......49
Figura 37 - Pormenor do pavimento na Rua Dom João IV .................................................................49
Figura 38 - Esquema representativo do cruzamento e das fases da sinalização luminosa .................50
Figura 39 - Esquema representativo dos movimentos no cruzamento................................................51
Figura 40 - Passagem dos peões fora das passadeiras na Rua Dom João IV....................................54
Figura 41 - Passagem dos peões fora das passadeiras na Rua Dom João IV....................................54
Figura 42 - Passagem dos peões desrespeitando a sinalização luminosa .........................................55
Figura 43 - Estacionamento indevido próximo das passadeiras na Rua D.João IV (esq) e Rua
Fernandes Tomás (dir) ......................................................................................................................55
Figura 44 - Rua Comandante Rodolfo de Araújo ...............................................................................56
Figura 45 - CMF correspondente à introdução de sinalização vertical ................................................57
Figura 46 - CMF correspondente à introdução de um temporizador ...................................................57
Figura 47 - CMF correspondente à introdução de uma nova fase na sinalização luminosa ................58
Figura 48 - Exemplo dos pilaretes metálicos propostos como medida ...............................................59
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 49 - Exemplo do espelho proposto como medida....................................................................59
Figura 50 - Pormenor da pouca iluminação na interseção .................................................................60
Figura 51 - CMF relativo à introdução de iluminação no cruzamento .................................................60
Figura 52 - Imagem aérea de uma parte da Rua Diogo Botelho.........................................................61
Figura 53 - Complexos habitacionais e estabelecimentos comerciais presentes na rua .....................61
Figura 54 - Parque de Lazer da Pasteleira ........................................................................................62
Figura 55 - Pormenor passagem de peões ........................................................................................62
Figura 56 - Pormenor pavimento .......................................................................................................63
Figura 57 - Terrenos abandonados presentes na rua ........................................................................63
Figura 58 - Pormenor do passeio próximo da Universidade Católica .................................................64
Figura 59 - Estacionamento indevido próximo da Universidade Católica............................................64
Figura 60 - Caraterísticas da rua que propiciam excessos de velocidade ..........................................66
Figura 61 - Estado do pavimento em algumas zonas.........................................................................67
Figura 62 - Pormenor de uma passadeira que está em mau estado e com as marcas sobrepostas ...67
Figura 63 - Estacionamento indevido próximo da Universidade Católica............................................68
Figura 64 - CMF correspondente à introdução de sinalização vertical................................................69
Figura 65 - CMF correspondente ao aumento do atrito do pavimento ................................................69
Figura 66 - Sistema controlo de velocidade por cores........................................................................70
Figura 67 - Sistema controlo de velocidade sugerido .........................................................................70
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Atropelamentos ocorridos em 2013 na Cidade do Porto (fonte: relatório ANSR)...............11
Quadro 2 - Evolução dos acidentes com vítimas, feridos graves e mortos de 2004 a 2013 no concelho
do Porto (Fonte: ANSR) ....................................................................................................................23
Quadro 3 - Evolução das vítimas mortais, feridos graves e feridos ligeiros de 2004 a 2013 no
concelho do Porto (Fonte:[ANSR]) ....................................................................................................24
Quadro 4 - Tipo de acidentes registados entre 2006 e 2011 ..............................................................27
Quadro 5 - Idade e género das vítimas para todo o tipo de acidentes ................................................28
Quadro 6 - Gravidade das vítimas considerando todo tipo de acidentes ............................................28
Quadro 7 - Distribuição das vítimas pelas freguesias.........................................................................29
Quadro 8 - Gravidade das vítimas de atropelamento .........................................................................29
Quadro 9 - Distribuição das vítimas de atropelamento pelas freguesias .............................................30
Quadro 10 - Idade e género das vítimas de atropelamento ................................................................31
Quadro 11 - Dados dos Atropelamentos no Entroncamento da Praça das Flores com a Av. 25 de Abril
.........................................................................................................................................................38
Quadro 12 - Diagrama de tempos para o cruzamento às 16h ............................................................51
Quadro 13 - Dados dos Atropelamentos no Cruzamento da Rua de Fernandes Tomás com a Rua
Dom João IV .....................................................................................................................................52
Quadro 14 - Dados dos atropelamentos na Rua Diogo Botelho .........................................................65
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ABREVIATURAS
OMS - Organização Mundial de Saúde
PNPR - Plano Nacional de Prevenção Rodoviária
ENSR - Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária
ANSR - Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária
HSM - Highway Safety Manual
CMF - Crash modification factors
CE - Comissão Europeia
CNSR - Concelho Nacional de Segurança Rodoviária
RRN - Rede Rodoviária Nacional
UE - União Europeia
DGV - Direção Geral de Viação
IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes
IP - Infraestruturas de Portugal
PSP - Polícia de Segurança Pública
GNR - Guarda Nacional Republicana
AIS - Abbreviated Injury Scale
MAIS - Maximum Abbreviated Injury Scale
PMSR - Plano Municipal de Segurança Rodoviária
OMSR - Observatório Municipal de Segurança Rodoviária
ISRM - Indicador de Sinistralidade Rodoviária Municipal
OO - Objetivos operacionais
OE - Objetivos estratégicos
OOA - Objetivos operacionais de atuação
OOC - Objetivos operacionais de cooperação
BEAV - Boletins Estatísticos dos Acidentes de Viação
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
FHWA - Federal Highway Administration
VCI - Via de Cintura Interna
TMDA - Tráfego médio diário anual
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
1
INTRODUÇÃO
1.1.
ÂMBITO
A sinistralidade rodoviária é atualmente uma das problemáticas mundiais e uma das principais causas
de morte. A situação é tão grave que em 2011 foi considerada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) a nona maior causa de morte a nível global e, se nada for feito para inverter esta realidade,
poderá subir para a quinta posição em 2030 [1].
Os custos associados aos acidentes rodoviários para além de serem economicamente elevados,
atingem também valores sociais e psíquicos inerentes ao sofrimento quer das vítimas quer dos
familiares podendo prolongar-se por vários anos.
Assim é necessário encarar esta problemática nas políticas de desenvolvimento dos Países e assumir
políticas de redução nas suas estratégias de desenvolvimento sustentável.
Ao longo dos anos, e como será mencionado mais detalhadamente à frente, foram assumidos planos e
medidas, como o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária (PNPR) e as Estratégia Nacional de
Segurança Rodoviária (ENSR), que tiveram um efeito notório na redução da sinistralidade do País. A
eficácia das medidas estabelecidas está evidente na figura 1, em que se pode verificar, que no ano de
2006 o número de vítimas mortais está próximo de média Europeia.
Contudo, e apesar do número total de acidentes rodoviários ter vindo a diminuir ao longo dos últimos
anos, em Portugal a razão de vítimas mortais na estrada por milhão de habitantes é atualmente ainda
superior à média da União Europeia [2].
Além disso, e para dar mais relevo a esta problemática, em 2014 ocorreram, em média, uma vítima
mortal e seis feridos graves por dia, valores muito elevados e que não podem ser ignorados [3].
No entanto, e como resultado das medidas estabelecidas nos últimos anos, estes valores são muito
inferiores aos verificados em 2005, em que se registaram aproximadamente três mortos e dez feridos
graves por dia. Por isso, é necessário continuar a levar a cabo estas políticas de redução de
sinistralidade porque só assim conseguimos combater esta problemática mundial.
1
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 1 - Evolução das vítimas mortais por milhão de habitantes em acidentes rodoviários (fonte: CARE)
O modo de deslocamento motorizado era até agora aquele onde recaiam mais atenções e aquele que
adquiria maior importância do nível da segurança e comodidade. No entanto, atualmente a Comissão
Europeia está a apostar na deslocação pedonal e por bicicletas, uma vez que são meios de transportes
baratos, sustentáveis e saudáveis. Por estas razões o presente estudo é centrado no peão, e como tal os
atropelamentos adquirem elevado relevo.
O peão é o elemento mais vulnerável de todo o sistema de transporte em qualquer meio urbano por
isso, é necessário de alguma forma implementar medidas que tornem o modo pedonal mais seguro e
viável.
Em 2010, e como se pode ver na figura 2, cerca de 22% das vitimas mortais a nível mundial eram
peões, número bastante elevado e que justifica por completo esta aposta da Comissão Europeia em dar
especial atenção ao peão e aos atropelamentos.
Figura 2 - Distribuição das mortes no trânsito por tipo de utente da via em 2010 (fonte: [13])
2
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Nesse sentido, e dado o elevado número de vítimas mortais nas estradas, e mais especificamente o
número de atropelamentos, é necessário encarar esta problemática como um Desafio Nacional e
assumir políticas mais rigorosas e capazes de alterar os números registados.
É necessário um empenho total de todos se queremos um sistema viário mais seguro, através de uma
interligação das entidades reguladoras públicas e privadas e de todos os cidadãos que utilizam o
sistema rodoviário, pois só assim se conseguirá resultados positivos.
Além disso, também é necessário encarar a política intitulada “Visão Zero”, que tem como objetivo
final a não ocorrência de mortos e feridos graves em acidentes rodoviários, como uma política viável e
uma linha condutora a seguir. Sendo necessário para isso definir objetivos intermédios, atingíveis de
acordo com a concepção e execução de planos de segurança rodoviária. Apesar de ser um objetivo
difícil de ser alcançado é no entanto, uma meta para a qual deveremos trabalhar.
Com foco na redução da sinistralidade é fundamental as Câmaras adotarem também Planos
Municipais de Segurança Rodoviária, uma vez que estes definem a metodologia que deve ser
assumida na aplicação das medidas, tornando assim um processo mais simples e uma escolha de
medidas mais credível e com resultados mais positivos.
Estes planos assumem estratégias importantes na delineação de medidas nos municípios e tem um
impacto direto na redução da sinistralidade. Mesmo em cidades de grande dimensão como é o caso de
Nova Iorque é possível estabelecer um Plano de Segurança eficiente com vista a redução da
sinistralidade [4].
Assim, é necessário encarar a sinistralidade rodoviária como uma problemática atual e a sua
diminuição um objetivo da responsabilidade de todos.
1.2.
OBJETIVOS
Um dos objetivos desta dissertação consiste na análise da sinistralidade na Cidade do Porto com base
nos acidentes registados nos anos de 2006 a 2011. Após analisar a sinistralidade de uma forma geral,
considerando todo o tipo de acidentes, restringiu-se ao foco principal deste estudo que são os
atropelamentos. Assim, com base nos dados registados pela polícia é possível analisar as caraterísticas
inerentes às vítimas de atropelamento como a idade e o sexo, a data de ocorrência, condições da via,
entre outros aspetos.
Além disso, e depois de analisar todas as caraterísticas dos atropelamentos, assumiu-se também como
objetivo identificar os pontos com maior acumulação de acidentes e posteriormente selecionar os
locais para análise.
Após a determinação dos locais mais gravosos relativamente aos atropelamentos fez-se uma descrição
dos mesmos, analisou-se mais pormenorizadamente os registos dos acidentes, identificou-se as
possíveis causas, e classificou-se a gravidade das vítimas. Finalmente, através do HIGHWAY
SAFETY MANUAL e do portal online da CMF Clearinghouse, definiu-se as melhores medidas de
mitigação a implementar cumprindo o principal objetivo deste estudo.
1.3.
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho é composto por seis capítulos. O primeiro tem como objetivo introduzir a problemática
da sinistralidade rodoviária e posteriormente aprofundar a temática dos atropelamentos.
3
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
O segundo capítulo consiste no enquadramento bibliográfico, em que é abordado mais
aprofundadamente a problemática da sinistralidade rodoviária e dos atropelamentos em particular.
Neste capítulo define-se as principais entidades responsáveis pela segurança rodoviária e a
classificação das vítimas que é atualmente usada. Além disso também será abordada a importância dos
Planos Municipais de Segurança Rodoviária na redução da sinistralidade.
O terceiro capítulo é referente è metodologia utilizada para a realização desta dissertação. Na qual se
faz referências aos processos de seleção dos locais escolhidos, e se aprofunda o HIGHWAY SAFETY
MANUAL e o portal online da CMF Clearinghouse como ferramentas de apoio à decisão e seleção
das medidas. Por fim também se dá especial destaque ao Projeto LIVE.
O quarto capítulo é referente ao caso em estudo, isto é à sinistralidade na Cidade do Porto, na qual se
aborda esta problemática mais centrada no Município e analisa-se os dados referentes à sinistralidade
na cidade. Neste capítulo também se faz referência à base de dados usada para o trabalho e a todo o
seu processo de seleção. Além disso são descritos também outros trabalhos já elaborados com a
mesma temática e indica-se os indicadores de estudo utilizados para a realização do presente trabalho.
O quinto capítulo corresponde à identificação e tratamento das zonas críticas, onde é dado destaque ao
estudo detalhado dos locais escolhidos e à aplicação de medidas de mitigação nos mesmos.
O último capítulo apresenta as conclusões resultantes deste trabalho.
4
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
2
ENQUADRAMENTO
2.1.
SINISTRALIDADE
A sinistralidade rodoviária é uma problemática atual assumindo um papel de relevo nas políticas de
desenvolvimento sustentável dos países. As exigências impostas pelos países nesta problemática
prendem-se com o elevado número de vítimas mortais ainda registadas, constituindo em Portugal a
principal causa de morte até aos 35 anos [5].
De salientar que os custos associados aos acidentes rodoviários para além de serem economicamente
elevados, atingem também valores sociais e psíquicos inerentes ao sofrimento quer das vítimas quer
dos familiares. Assim o número de vítimas não se resume exclusivamente aos indivíduos sinistrados
nem os custos são estáticos no tempo, podendo o custo de um determinado acidente prolongar-se por
vários anos.
Encarando a gravidade deste problema tornou-se urgente adotar uma política de prevenção. Nos
últimos anos a Comissão Europeia (CE) criou diversos planos e metas que devem ser cumpridas
através do empenho e compromisso de todos os países envolvidos. Só através do trabalho conjunto de
todos os países é possível fazer frente a esta problemática.
A estas políticas foram também aliadas estratégias nacionais que se adaptam à realidade de cada país
na luta pelo objetivo comum que é a redução da sinistralidade.
Assim, o Conselho Nacional de Segurança Rodoviária (CNSR), sob a alçada da Secretaria de Estado
da Administração Interna iniciou um processo para elaboração do Plano Nacional de Prevenção
Rodoviária (PNPR), em 2003 [1].
O PNPR [6], em articulação com o European Road Safety Action Programme assumiu como principal
objetivo a redução de pelo menos 50% no número de vítimas mortais e de feridos graves até 2010, em
referência à média de sinistralidade dos anos de 1998 a 2000.
Ao analisar o diagrama da figura 3 é possível concluir que o objetivo estabelecido no PNPR para 2010
foi alcançado em 2006 em todas as Redes (Redes Municipais e Rede Rodoviária Nacional) e na Rede
Rodoviária Nacional (RRN) [7].
5
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 3 - Evolução do número de Vítimas Mortais entre 1990 e 2006
Relativamente aos feridos graves pode-se constatar pela figura 4 que o objetivo também foi alcançado
em 2006, sendo que entre 2000 e 2006 registaram-se reduções de 54% e 51%, em todas as Redes e
na RRN, respetivamente.
Figura 4 - Evolução do número de Feridos Graves entre 1990 e 2006
6
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Além da redução de pelo menos 50% no número de mortos e feridos graves, o PNPR estipulou outros
objetivos, nomeadamente a redução destas vítimas em pelo menos 60% no caso de serem peões ou
utentes acidentados dentro das localidades.
Como indicador de todo o esforço dado a este tema, apresentam-se os diagramas das figuras 5 e 6 que
espelham o resultado das medidas implementadas e a evolução do País face a esta problemática, entre
os anos de 1995 e 2005.
Figura 5 - Número de Vítimas Mortais por 1.000.000 habitantes em 1995 (fonte CARE)
7
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 6 - Número de Vítimas Mortais por 1.000.000 habitantes em 2005 (fonte: CARE)
Constata-se pela figura 5 que em 1995 o número de vítimas mortais em Portugal era o mais elevado
(271), e que tal valor era cerca do dobro da média da UE25 (132). Em 2005, o mesmo indicador
reduziu-se para menos de metade (119), situando-se então a cerca de 30% acima da média da UE25
(91) [7].
Com o passar dos anos e após a aplicação do PNPR [6] a diminuição da mortalidade rodoviária em
Portugal convergiu de forma consistente com a média da União Europeia continuando, mesmo assim,
acima dela. Foi então decidido encarar a questão como um desafio nacional. Para combater o
problema foi criado um documento intitulado Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR),
tendo em conta as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Prevenção Rodoviária (PNPR), onde
8
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
são apresentadas políticas para a redução de acidentes rodoviários. Estas medidas foram estipuladas
para o espaço temporal de 2008 a 2015 e apresentam como objetivos:

Alcançar os 62 mortos por milhão de habitantes, equivalente a uma redução de 31,9% em
relação a 2006.
 Redução de mortes dentro das localidades:
Veículos de duas rodas 22% - 32%
Veículos ligeiros 32%-49%
Peões 15%-32%
 Redução de condutores mortos com taxa de alcoolémia no sangue ilegal 25%
Com base nestas estratégias e para o ano de 2013 já foi possível obter resultados muito positivos,
como se pode ver na figura7, em que se pode verificar que dos objetivos estipulados para 2015 apenas
a redução das vítimas mortais com nível de alcoolemia superior à permitida está ainda um pouco longe
do pretendido. Mas importa referir que os resultados apenas correspondem ao ano de 2013, por isso o
valor atual pode já estar nos limites desejados [8].
Figura 7 - Número de Vítimas Mortais (24 horas) no ano de 2013 (fonte:[8])
Assim, e apesar de ter ocorrido na última década melhorias significativas na redução da sinistralidade,
há ainda muito a fazer para que se atinjam os níveis de segurança da circulação registados em diversos
países da U.E. É necessário sensibilizar as pessoas para o problema no mundo moderno que constitui a
Sinistralidade Rodoviária, e consequentemente alertar para a necessidade de prosseguir e intensificar
os esforços já encetados para melhorar as condições de circulação nas estradas e ruas, e em particular
para a necessidade de intensificar formas de cooperação entre os diversos organismos responsáveis, a
sociedade civil e o público [7].
É necessário assumir a Segurança Rodoviária como um Desafio Nacional e admitir como horizonte a
política intitulada “Visão Zero” que tem como objetivo zero vítimas mortais e zero feridos graves.
Esta política tem que ser encarada como o futuro, tendo como exemplo a Suécia que assumiu esta
política inovadora em 1997, conseguindo atingir a meta pretendida [9].
2.2.
PEÃO E A SEGURANÇA RODOVIÁRIA
A Comissão Europeia, contrariando a estratégia do passado em que os estudos de segurança e
comodidade se centravam nos veículos motorizados, está atualmente a apostar na deslocação pedonal
e por bicicletas, uma vez que são meios de transportes baratos, sustentáveis e saudáveis. Por estas
razões o presente estudo centrado no peão e nos atropelamentos adquire elevado relevo.
9
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
O peão é o elemento mais vulnerável de todo o sistema de transportes de um qualquer meio urbano,
assim é necessário dar importância às condições de segurança dos peões através do estudo dos
métodos que assegurem uma mobilidade mais segura em toda a rede pedonal. Soluções como a
integração do peão como o elemento mais importante, o dimensionamento de transporte coletivo
eficiente e a restrição do uso do automóvel, têm sido apontadas como bastante positivas para o
ambiente urbano centrado na mobilidade e acessibilidade dos peões [10].
De salientar que para distâncias curtas o modo pedonal é o mais usado, tal como mostra a figura 8,
sendo substituído para médias ou grandes distâncias por outro tipo de transporte como a bicicleta ou o
automóvel, sendo por isso fulcral ter as condições físicas e de segurança necessárias para tornar as vias
mais vocacionada para o peão, acrescentando para isso mais mobiliário urbano, sinalização vertical e
semafórica [11].
Figura 8 - Modos de deslocação em função da distância [12]
Os peões são os elementos do sistema viário mais problemáticos, pois são o elemento mais
desprotegido e que muitas vezes assumem comportamentos de risco, sendo atualmente a ação de
caminhar um modo de transporte que assume um perigo real. Este perigo é justificado pelo elevado
número de veículos a motor e a frequência da sua utilização em todo o mundo, mas também reflete a
negligência por vezes dos peões ao desrespeitarem a sinalização. Esta vulnerabilidade pedonal é ainda
agravada em ambientes onde as leis de trânsito são aplicadas de forma inadequada.
A redução ou eliminação dos riscos enfrentados pelos peões é um importante e viável objetivo
político. Atropelamentos, como outros acidentes de trânsito, não devem ser aceites como inevitáveis,
porque eles são de facto previsíveis e evitáveis [13].
Nesse sentido é necessário intervir e proporcionar melhores condições de segurança ao peão,
implementando medidas e exigindo empenho e tomada de decisões por parte dos governos, da
indústria, organizações não-governamentais e organizações internacionais para que a sinistralidade
possa diminuir.
De salientar também que o número de atropelamentos é ainda muito elevado. Como se pode verificar
no quadro 1, no ano de 2013, foram registadas 1113 vítimas por atropelamento. Número muito
elevado e que acrescenta maior importância a este estudo, sendo fulcral intervir no imediato.
10
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Quadro 1 - Atropelamentos ocorridos em 2013 na Cidade do Porto (fonte: relatório ANSR)
Atropelamento
Atropelamento
com fuga
Atropelamento
de animais
Atropelamentos
de peões
Total
Acidentes
c/ Vítimas
Vítimas
Mortais
Feridos
Graves
Feridos
Ligeiros
Total
Vítimas
91
2
5
86
93
4
0
0
4
4
943
14
56
946
1016
1038
16
61
1036
1113
Relativamente ainda aos atropelamentos, e porque estes ocorrem por colisão dos veículos com os
peões a circular na via, importa referir a importância dos condutores adotarem comportamentos
defensivos e respeitarem as velocidades estipuladas. Sendo que, muitas das medidas propostas para a
redução dos atropelamentos prendem-se com a limitação das velocidades nas vias. Isto acontece
porque, como se pode ver na figura 9 à medida que a velocidade aumenta a probabilidade de
resultarem colisões fatais para o peão também aumenta, apresentando valores superiores a 80%
quando o veículo circula a 50 Km/h.
Por isso a velocidade dos veículos é um dos fatores fundamentais a intervir se queremos reduzir os
atropelamentos e as consequências destes [14].
Figura 9 - Relação entre a velocidade dos veículos e a probabilidade de ocorrer um acidente fatal
11
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
2.3.
CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS
É considerada vítima qualquer ser humano que em consequência de um acidente sofra danos
corporais. [17].
Em Portugal, como na maioria dos países, a definição da gravidade das vítimas atualmente utilizada é
de: vítima mortal, para a pessoa cujo óbito ocorra no local do acidente ou nos 30 dias seguintes com
causa da morte diretamente relacionada com o acidente; ferido grave para a pessoa cujos danos
corporais obriguem a um período de hospitalização superior a 24 horas e que não venha a falecer nos
30 dias após o acidente; ferido ligeiro para a pessoa que não seja hospitalizada, ou que o seja por um
período inferior a 24 horas. [18].
Esta classificação é feita com base na avaliação das vítimas por parte das autoridades, sendo
possivelmente atualizada mais tarde com os dados clínicos referentes aos hospitais. Assim, e como as
autoridades não possuem conhecimentos clínicos aprofundados podem ocorrer muitos erros de
diagnóstico, e possível incoerência entre a informação dos boletins estatísticos do acidente e os dados
dos hospitais.
Para haver maior credibilidade nos diagnósticos e na classificação, a Comissão Europeia definiu
recentemente um critério a ser utilizado em todos os estados membros para a distinção entre Ferido
Ligeiro e Ferido Grave utilizando a escala médica Maximum Abbreviated Injury Scale (MAIS). Esta
classificação, que já é usada por exemplo em Espanha, é mais realista e aprofunda mais os aspetos
clínicos das vítimas, visto ser realizada nos hospitais e pelos médicos, ou seja o diagnóstico é feito por
profissionais da área. Neste caso, com esta nova escala a definição de ferido leve e grave é:
Ferido Ligeiro – MAIS < 3
Ferido Grave – MAIS ≥ 3
De salientar que a classificação MAIS vai ser obrigatória futuramente o que revela a importância na
sua rápida introdução.
2.3.1
CLASSIFICAÇÃO MAIS
O Abbreviated Injury Scale (AIS) é um método desenvolvido pelo trabalho conjunto de três
associações dos Estados Unidos da América, a American Medical Association, a Association for the
Advancement of Automotive Medicine e da Society of Automotive Engineers, com a primeira
publicação em 1971 sobre o título “Rating the Severity of Tissue Damage – The Abbreviated Injury
Scale”, sendo atualizada e melhorada em 1980, 1985, 1990, 1998, 2005 e sendo a versão mais atual de
2008, “AIS © 2005 Update 2008” [19].
O AIS foi criado com o propósito de responder à necessidade de um sistema normalizado para
classificar o tipo e gravidade de ferimentos causados por acidentes rodoviários.
É um método de classificação de gravidade de ferimentos que consiste em atribuir uma classificação a
nove partes do corpo. Os valores desta classificação são de 1 a 6, crescendo com a gravidade do
ferimento. A escala de gravidade é a seguinte:






12
1 = Menor
2 = Moderado
3 = Grave
4 = Severo
5 = Crítico
6 = Máximo (habitualmente indicando a morte do paciente)
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
O código MAIS (MAXIMUM ABBREVIATED INJURY SCALE ) é obtido selecionando o valor máximo das
classificações AIS atribuídas a cada parte do corpo, sendo estas [18]:
 1 – Cabeça
 2 – Face
 3 – Pescoço
 4 – Tórax
 5 – Abdómen
 6 – Coluna Vertebral
 7 – Membros Superiores
 8 – Membros Inferiores
 9 – Não Especificado
Assim é possível obter uma classificação mais realista e com dados clínicos mais detalhados e
credíveis, no entanto e apesar de ser um ótimo método de classificação, os elevados encargos
financeiros que advêm dela são um entrave para a sua rápida adoção.
Um dos objetivos estipulados inicialmente seria incluir esta classificação na análise das vítimas, mas
tal não aconteceu por não haver dados disponíveis, visto que atualmente esta classificação só é
aplicada aos internamentos e todas as vítimas analisadas não tiveram provavelmente que ser
hospitalizadas mais do que 24 horas por serem feridos ligeiros.
2.4.
ENTIDADES RESPONSÁVEIS PELA SEGURANÇA RODOVIÁRIA
O Parlamento, que é o principal órgão legislativo em Portugal, é responsável pela emissão da leiquadro geral sobre o tráfego e requisitos da segurança. Toda a legislação de normas específicas é
desenvolvida a nível ministerial. Relativamente às entidades portuguesas com maiores
responsabilidades de trânsito e segurança rodoviária é possível destacar as seguintes:

Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) - concentram-se na ANSR as
atribuições da extinta Direção Geral de viação (DGV), e é um serviço central da administração
direta do Estado dotado de autonomia administrativa.
A ANSR tem por missão o planeamento e coordenação a nível nacional de apoio à política do
Governo em matéria de segurança rodoviária, bem como a aplicação do direito
contraordenacional rodoviário.
Destacam-se como as suas principais funções a definição das políticas no domínio do trânsito
e da segurança rodoviária, a elaboração e monitorização do Plano Nacional de Segurança
Rodoviária e a delineação dos documentos estruturantes relacionados com a segurança
rodoviária, promovendo o seu estudo, nomeadamente das causas e fatores intervenientes nos
acidentes de trânsito. Também promove e apoia iniciativas cívicas e estabelece parcerias com
entidades públicas e privadas, designadamente no âmbito escolar, e realiza ações de
informação e sensibilização que fomentam uma cultura de segurança rodoviária e de boas
práticas na condução. Além disso também é a responsável pela elaboração de estudos, pela
adoção de medidas que visem o ordenamento e disciplina do trânsito e pela fiscalização e
cumprimento das disposições legais sobre trânsito e segurança. [3].

Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) - é um instituto público integrado na
administração indireta do Estado, dotado de autonomia administrativa e financeira. Apresenta
como funções a regulamentação técnica, de licenciamento, coordenação, fiscalização e
planeamento no setor dos transportes terrestres, fluviais e respetivas infraestruturas e na
13
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
vertente económica do setor dos portos comerciais e transportes marítimos. Além disso
também é o responsável pela gestão de contratos de concessão em que o Estado seja
concedente, nos referidos setores ou em outros setores, nomeadamente relativos a transporte
aéreo e infraestruturas aeroportuárias, de modo a satisfazer as necessidades de mobilidade de
pessoas e bens. [15].

Infraestruturas de Portugal (IP) – Entidade responsável pela concepção, planeamento,
construção, financiamento, conservação, exploração, requalificação e alargamento da rede
rodoviária nacional [16].

Polícia de Segurança Pública (PSP) e Guarda Nacional Republicana (GNR) –
Organismos responsáveis pela aplicação das leis relativas à viação e aos transportes
rodoviários no território nacional.

Tribunais - Instituições envolvidas na aplicação de sanções por infrações muito graves, sendo
que a aplicação das restantes sanções é da competência da ANSR.
2.5.
PLANOS MUNICIPAIS DE SEGURANÇA RODOVIÁRIA
Com foco na redução da sinistralidade em meio urbano é fundamental as Câmaras adotarem Planos
Municipais de Segurança Rodoviária, uma vez que estes definem a metodologia que deve ser
assumida na aplicação das medidas. Apesar de não serem ainda obrigatórios são fundamentais para
combater a sinistralidade, daí a sua implementação assumir elevada importância.
Este planos são globais e atuam em diversas áreas como na introdução de novas leis, fiscalização,
implementação de medidas na infraestrutura, educação, sensibilização, entre outras.
De facto se Portugal quer atingir as metas da ENSR [20] e tornar-se num dos dez países europeus com
sinistralidade mais baixa, é necessária intervenção de entidades públicas e privadas, bem como da
comunidade em geral.
Nesse sentido a ANSR elaborou, em colaboração com o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e
da Empresa, um Guia para a elaboração de Planos Municipais de Segurança Rodoviária. Este guia
serve de suporte à definição, desenvolvimento, controlo e implementação dos Planos Municipais que
as Autarquias pretendam desenvolver [21].
As autarquias e o poder autárquico são uns dos instrumentos fundamentais para a implementação de
políticas locais de aplicação da ENSR, e nesse sentido a ANSR através deste documento ajuda a
estabelecer objetivos e metas a alcançar.
Este guia que é um impulsionador da ENSR está organizado da seguinte forma:
1. Identificação da estrutura municipal para implementação do Plano Municipal de
Segurança Rodoviária (PMSR)
2. Identificação da sinistralidade rodoviária municipal
3. Definição dos objetivos quantitativos para a diminuição da sinistralidade rodoviária
municipal
4. Definição dos objetivos estratégicos do PMSR
5. Definição dos objetivos operacionais do PMSR
6. Linhas de orientação para o desenvolvimento das Ações Chave
Em primeiro lugar deve ser criada uma estrutura autónoma, integrada o quanto possível com técnicos
especializados, com a missão de estudar, desenvolver, implementar e controlar as políticas municipais
14
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
de segurança rodoviária. Considerando a interligação entre estas políticas e as que se prendem com o
trânsito e a mobilidade, será aconselhável que para municípios de menores dimensões estas funções
possam ser efetuadas pelo mesmo organismo.
Esta estrutura autónoma deverá estudar a sinistralidade rodoviária e atuar, transversalmente em todas
as esferas de influência do município, sobre as suas causas e consequências.
Esta estrutura vai ter dois núcleos fundamentais: O Observatório Municipal de Segurança Rodoviária
(OMSR), que é o responsável técnico pela concepção, implementação, acompanhamento,
monitorização e desenvolvimento do PMSR, competindo-lhe propor os objetivos estratégicos e
operacionais e ainda o estudo das melhores soluções para o Município. O segundo núcleo será
respeitante ao Conselho Consultivo do Plano Municipal de Segurança Rodoviária, uma estrutura de
acompanhamento do PMSR, constituída por organismos, entidades, associações e indivíduos que,
pelas suas competências e qualificações, podem colaborar na implementação do Plano.
Em segundo lugar também deve constar no PMSR a identificação e caraterização da sinistralidade
rodoviária municipal. É necessário fazer um estudo aprofundado dos fenómenos para compreender a
sua origem, intervir sobre as suas causas e compreender os seus efeitos. O PMSR terá assim como
base o conhecimento da realidade e dos fatores que com ela interagem.
Em terceiro lugar, temos como parte constituinte do PMSR, a definição dos objetivos quantitativos
para a diminuição da sinistralidade rodoviária municipal. Para se poderem estabelecer planos
sustentados, objetivos claros e metas realistas é necessário a definição de indicadores seguros,
universais e facilmente compreensíveis. Nesse sentido recorre-se a um Indicador de Sinistralidade
Rodoviária Municipal (ISRM) como é o caso do indicador de gravidade, que abordaremos
aprofundadamente mais à frente. Estes indicadores servem de monitorização nos esforços envolvidos
na redução da sinistralidade.
Com base nos indicadores calculados cada município deve assumir objetivos próprios de acordo com a
análise do seu sistema de mobilidade. Assim os PMSR podem ser encarados como impulsionadores da
ENSR, e os seus objetivos devem estar centrados na meta comum da redução da sinistralidade. Os
objetivos podem ser por exemplo a redução percentual do número de mortes por milhão de habitantes.
Em quarto lugar o PMSR deve definir os objetivos estratégicos, estabelecendo as áreas de atuação,
como por exemplo a segurança dos veículos, ensino e escolas de condução, melhoria da infraestrutura,
fiscalização dos condutores e veículos, comunicação, sensibilização, melhoria do socorro e apoio às
vítimas, entre outras áreas. Após a escolha da área é necessário identificar os objetivos estratégicos,
definindo os grupos de risco (condutores, peões, circulação dentro das localidades, etc) e os fatores de
risco (velocidade, dispositivos de segurança, infraestrutura, etc). Durante a definição dos objetivos
estratégicos deverão ser criados indicadores de resultados para que possam possibilitar uma clara
comunicação dos resultados do PMSR.
Em quinto lugar o PMSR deve definir os seus objetivos operacionais (OO). Os OO do PMSR deverão
ser objeto de discussão pública com as entidades que terão a seu cargo a implementação das ações
chave que lhe serão associadas. Estes objetivos surgem a partir do cruzamento dos objetivos
estratégicos (OE) do PMSR com os objetivos operacionais (OO) da ENSR. Por essa razão, também
neste caso existirão os objetivos de atuação (OOA) e de cooperação (OOC). Sendo que apenas
poderão ser considerados OOC quando os interlocutores do Município possam assegurar o seu
compromisso na realização das metas estabelecidas.
15
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Depois de definidos os OO são calendarizados e enquadrados na sua contribuição para os OE. De
salientar que a cada OO deverá estar associado um indicador de cumprimento face às metas
estabelecidas pelas entidades responsáveis.
Por fim o PMSR deve conter também linhas de orientação para o desenvolvimento das ações chave.
As ações chave apenas deverão ser estudadas após a definição dos OO, uma vez que o PMSR é um
sistema fechado em que todos os seus componentes interagem de forma harmoniosa. A cada ação
chave deve corresponder uma definição clara, um objetivo bem identificado (seja de natureza
quantitativa como qualitativa), uma calendarização exata e um orçamento, exceção quando a ação é
suportada pelo funcionamento normal da ou das entidades que a promovem.
De salientar que a cada ação chave deverá estar associado indicadores de atividade e de resultados que
permitiraão a monitorização e o controlo da sua execução, de acordo com os parâmetros que para ela
foram definidos [21].
16
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
3
METODOLOGIA
3.1.
LOCALIZAÇÃO DOS ACIDENTES
No registo e caraterização de cada acidente rodoviário as autoridades preenchem um campo
correspondente à descrição da localização. Esta informação torna possível ter uma percepção dos
locais onde há maior acumulação de acidentes e por isso os locais a intervir mais prontamente. Como
será abordado posteriormente existem muitos casos em que ocorre um incorreto preenchimento deste
campo o que compromete a análise. Isto acontece por exemplo quando se verifica ausência do registo
do número de polícia, nomes de ruas mal escritos ou incompletos e até nomes de ruas que não existem.
Assim, é fulcral haver um maior rigor no preenchimento dos Boletins Estatísticos dos Acidentes de
Viação (BEAV), uma vez que sem dados fiáveis não há possibilidade de inferir corretamente para
futuras ações.
Para a determinação dos locais a intervir foi utilizada a base de dados usada no âmbito do Projeto
LIVE, e que contem a informação das coordenadas GPS do local dos acidentes com vítimas, ou seja
todos os acidentes com os locais identificados com base na latitude e longitude.
Assim, foi possível identificar cada acidente com o geocode correspondente. Posteriormente
exportaram-se as coordenadas para o googlemaps [22], através de uma ferramenta desenvolvida no
âmbito do Projeto Europeu LIVE. Com esta aplicação foi possível determinar os locais mais críticos,
isto é, com mais pontos de acumulação de acidentes e consequentemente aqueles passíveis de
intervenção. De referir que primeiramente fez-se a análise para a generalidade dos acidentes,
aprofundando-se mais tarde os atropelamentos.
3.2.
PROJETO LIVE
O “Projeto LIVE – Tools to Injury Prevention” [2] é um projeto que tem como um dos seus objetivos
fazer a ligação estre os registos dos acidentes rodoviários feito pelas autoridades, e que constam nos
BEAV`s, e o registo dos hospitais, de forma a ter um mais completo conhecimento das vitimas dos
acidentes e das suas consequências. Além disso, e apesar deste projeto estar apenas centrado na região
do Porto, tem como objetivo futuro alargar o sistema de correspondência a todo o País.
Pela primeira vez em Portugal desenvolveu-se uma base de dados ligada entre os dados da Autoridade
Nacional de Segurança Rodoviária e dos hospitais, com foco na região do Porto. Os dados hospitalares
foram obtidos dos três hospitais principais da Área Metropolitana do Porto (Hospital Santo António,
Hospital S. João e Hospital de Gaia). Os dados das autoridades policiais, fornecidos pela ANSR,
foram limitados às fronteiras das áreas abrangidas pelos hospitais em estudo. Devido a leis de proteção
de dados, campos de identificação de dados pessoais das vítimas não foram fornecidos [18].
17
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De salientar que apesar da correspondência entre os dados dos hospitais e os das autoridades nos
possibilitar obter mais informações clinicas das vítimas bem como das características dos acidentes,
apenas foi possível cruzar cerca de 41 % dos registos, aspeto que será explicado no próximo capítulo.
3.3.
HIGHWAY SAFETY MANUAL
O Highway Safety Manual (HSM) foi inicialmente desenvolvido pela Federal Highway
Administration (FHWA) dos EUA com o objetivo de colmatar a ausência de um único documento
oficial a ser usado para avaliar quantitativamente o impacto de decisões em infraestruturas em termos
de segurança, tendo sido publicado em 2010 [23].
O HSM apresenta uma variedade de ferramentas e metodologias para a consideração da segurança em
toda a gama de atividades rodoviárias, e facilitar na fase de planeamento, no desenvolvimento de
projeto, na construção, na comparação de alternativas e manutenção com base numa análise precisa
das suas consequências relativas à segurança. O objetivo deste manual é transmitir conhecimentos
atuais em matéria de informação e segurança nas estradas para uso dos profissionais da área.
Este manual foi desenvolvido primeiramente para ajudar a reduzir a frequência e a gravidade dos
acidentes nas estradas americanas, fornecendo ferramentas para considerar a segurança no processo de
desenvolvimento do projeto.
De salientar que o HSM reúne atualmente informações e metodologias que permitem estimar
quantitativamente a frequência de acidentes ou a sua gravidade e por isso é um ótimo meio de análise,
para ponderação e tomada de decisões.
Assim o HSM é um documento base para os profissionais da área onde é possível consultar um grande
número de informação de boa qualidade e que se encontra em constante atualização na página web do
manual [1].
O HSM é constituído por quatro partes:
Parte A – Introdução, Fatores Humanos e Fundamentos da Segurança;
Parte B – Processo de Gestão da Segurança da Estrada;
Parte C – Métodos de previsão;
Parte D – Crash Modification Factors para planeamento, geometria e elementos operacionais
A Parte A faz uma introdução ao manual e descreve a finalidade e âmbito deste, explicando a relação
do HSM para as atividades de planeamento, projeto, operações e manutenção. Também inclui nesta
parte fundamentos dos processos e ferramentas descritas no HSM. Além disso também fornece as
informações básicas necessárias para aplicar os métodos de previsão, fatores de modificação dos
acidentes e métodos de avaliação previstos nas partes B, C e D.
Na Parte B apresentam-se sugestões de medidas para controlar e reduzir a frequência e gravidade de
acidentes nas redes viárias existentes. Inclui métodos úteis para a identificação de locais com potencial
de melhoria, diagnóstico, avaliação económica, escolha de projetos, e avaliação da eficácia.
A Parte C aborda os métodos possíveis de previsão para estimar a frequência de acidentes em
determinados locais. Estes métodos de previsão baseiam-se em funções de desempenho de segurança
que estimam a frequência média acidente em função do volume de tráfego e das características viárias
[24].
18
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
A Parte D é a parte que tem especial interesse nesta dissertação uma vez que é a referente aos Crash
Modification Factors (CMF). A informação apresentada na Parte D do HSM baseia-se numa extensa
revisão da literatura de pesquisas de segurança de estradas publicadas por mais de cinco décadas,
baseada em evidências e análise rigorosa, e apoiada pela evidência estatística da precisão e validade
dos estudos. As informações apresentadas neste capítulo, e mais propiamente acerca dos CMFs,
permitem quantificar a alteração média esperada de acidentes resultante das modificações geométricas
ou operacionais de um determinado local [1].
3.4.
CRASH MODIFICATION FACTORS
Os CMFs são os fatores de modificação da sinistralidade e quantificam a variação do número esperado
de acidentes após alteração das características implementadas num determinado local. Assim
possibilita prever a influência de determinada medida mesmo antes de ser aplicada.
Um CMF superior a 1,0 indica um aumento esperado nos acidentes, enquanto um valor inferior a 1,0
indica uma redução após a aplicação da medida que lhe é associada. Por exemplo, um CMF de 0,8
indica um benefício de segurança, mais especificamente, uma redução em 20% dos acidentes. Um
CMF de 1,2 indica uma degradação na segurança, mais concretamente um aumento de 20% no
número de acidentes.
Os índices são atribuídos através do estudo de casos anteriores em que as medidas foram aplicadas, e
pela análise da influência das medidas na sinistralidade rodoviária dos locais. São calculados pela
razão da frequência de acidentes depois de implementada a medida sobre a frequência de acidentes
antes de implementada a medida [1].
(1)
Apesar de ser uma ferramenta muito fiável estes indicadores dependem de local para local e por isso
pode haver variações em relação às alterações inicialmente previstas.
Cada medida implementada tem um índice atribuído, mas é no entanto possível prever a influência
geral de todas as medidas utilizadas.
Assim, na aplicação de várias medidas no mesmo local é prática comum multiplicar os índices para
estimar o efeito combinado da totalidade das medidas. Neste caso, e mesmo que a implementação de
várias medidas possa ser mais eficaz do que apenas uma, é improvável que o efeito total do conjunto
seja maior do que aquele provocado apenas por uma se estas não forem bem escolhidas e
implementadas.
Isto é particularmente real se as medidas forem direcionadas para o mesmo tipo de acidente, como por
exemplo, instalação de iluminação e reforçar marcações de pavimento para enfrentar acidentes
noturnos.
Portanto, a menos que as medidas sejam completamente independente, ao multiplicar vários CMFs é
provável superestimar o efeito combinado e assim prever reduções superiores àquelas que se verificam
na realidade. A probabilidade de sobreavaliação aumenta com o número de CMFS que são
multiplicados.
Assim é necessário um estudo rigoroso por parte dos profissionais da área para estimar o efeito
combinado das várias intervenções no local. Idealmente um CMF para um tratamento combinado deve
19
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ser derivado diretamente de uma avaliação rigorosa antes e depois dos locais onde o tratamento de
combinação foi aplicado [25].
Um CMF deve ser selecionado com base nas características do local, estando dependente do tipo de
área, geometria, controle e volume de tráfego, classificação funcional, e / ou jurisdição, entre outras
características. Estes índices são uma importante ferramenta de trabalho para os profissionais da
segurança rodoviária para obter o maior ganho de segurança com recursos limitados, comparar as
consequências de segurança entre várias alternativas de medidas e locais, possibilitar a identificação
de estratégias de baixo custo e verificar a razoabilidade das avaliações. Além disso o recurso a estes
índices permite também obter uma análise do custo benefício, sendo assim uma das ferramentas
fundamentais na delineação da segurança viária [23] e [24].
Importa também referir que a aplicação de uma medida pode ter diferentes valores de CMFs, por
exemplo, a instalação de um sinal de trânsito pode reduzir colisões laterais mas aumentar colisões
traseiras.
O portal online da CMF Clearinghouse [26], é uma das ferramentas de apoio na escolha das medidas a
implementar, porque contém um banco de dados dos CMFs e documentação de apoio que permite
ajudar os profissionais da área a identificar as medidas mais adequadas para as necessidades de
segurança procuradas. Este portal, que se foca na parte D do HSM, é apenas uma das ferramentas e
recursos para ajudar os profissionais a tomar as melhores decisões relativas à segurança.
O CMF Clearinghouse permite aos utilizadores aceder a uma base de dados que contém todos os
CMFs incluídos no HSM bem como outros que entretanto vão sendo adicionados em função dos
novos estudos realizados. Esta listagem compila todos os CMFs documentados, centralizando-os, e
fornece uma base de dados pesquisável e de fácil consulta. Através do portal é também possível
acrescentar CMFs novos para serem incluídos na lista já existente. Sendo que, é importante reconhecer
os pontos fortes e os problemas associados com os diferentes métodos de determinação dos CMFs. A
consciência dessas diferenças irá ajudar os investigadores a identificar um adequado método para
desenvolver um CMF, dadas as limitações da sua avaliação específica e o nível de confiabilidade
exigida [25].
A maioria dos CMFs listados tem uma ficha correspondente onde está detalhada toda a informação
que é necessária ter em conta na sua aplicação como a tipologia da rua, o tipo e gravidade dos
acidentes que a medida pode influenciar, o número de vias do local, o limite de velocidade, o volume
de tráfego, entre outras características. Nesta mesma ficha também é apresentada uma pequena tabela
que detalha pormenores referentes às condições em que foi desenvolvido.
De salientar que cada CMF tem uma avaliação que atribui padrões de qualidade através de uma escala
que pode ir até cinco estrelas, sendo que, quanto mais estrelas tem uma medida maior é o seu grau de
confiança estatística.
Este portal é mantido pela Highway Safety Research Center UNC com o financiamento da Federal
Highway Administration dos EUA [1].
20
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
4
SINISTRALIDADE NA CIDADE DO PORTO
4.1.
ENQUADRAMENTO DA CIDADE DO PORTO
A cidade do Porto apresenta uma área de 41,42 km², e tem uma população de 237 591 habitantes
(2011 ), sendo a segunda maior cidade do pais, seguindo-se a Lisboa, e por isso um importante polo de
turismo e comércio que levam á circulação de milhares de pessoas e veículos.
Em 2014 o Porto foi eleito Melhor Destino Europeu, galardão que tinha já obtido em 2012 e
recentemente lançou a corporização gráfica da marca Porto, algo que nunca tinha existido e que
servirá como instrumento de promoção nacional e internacional do destino.
Neste momento é uma cidade em plena recuperação económica e reabilitação, sendo evidente isso na
reabilitação do Centro Histórico e dos bairros municipais.
Apresenta uma excelente rede de transportes, bons serviços de saúde, e uma dinâmica social e cultural,
que fazem hoje do Porto uma cidade acolhedora, tanto para pessoas como para empresas, e assim uma
cidade em constante desenvolvimento, na qual o turismo impulsionou quer a cidade como as suas
dinâmicas [27].
Nesse sentido, e face a este desenvolvimento a segurança rodoviária é assumida com enorme relevo
pois a sinistralidade rodoviária é uma das preocupações mundiais e um claro indicador de
desenvolvimento sustentável que é fundamental para uma cidade. Sendo que segundo o relatório das
Nações Unidas para a melhoria da segurança rodoviária global, os acidentes rodoviários representam
entre 1 a 3 por cento do produto interno bruto de um país. Por isso, é fundamental os municípios
encararem este problema nas suas estratégias de desenvolvimento porque só assim conseguem um
desenvolvimento sustentável, com políticas adequadas e relacionadas com os problemas atuais.
Na figura 10 estão identificadas as 7 freguesias que constituem o concelho do Porto. Na verdade, três
delas são "Uniões" de freguesias, resultantes da reforma administrativa concretizada em 2013, sendo
constituído pela União das Freguesias de Aldoar. Foz do Douro e Nevogilde, União das Freguesias de
Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, União das Freguesias de Lordelo do
Ouro e Massarelos e pelas freguesias de Bonfim, Campanhã, Paranhos e Ramalde [27].
21
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 10 - Freguesias do Porto
Relativamente á Rede Viária da cidade pode-se dizer que é muito complexa e hierarquizada, tendo
como exemplo a figura 11 em que se pode ver parte do concelho e diferentes vias diferenciadas
funcionalmente. As vias identificadas com a cor azul na figura representam o eixo urbano estruturante
e de articulação intermunicipal, as vias representadas a verde correspondem ao eixo urbano
complementar ou estruturante local. As restantes vias são de acesso local.
Figura 11 - Hierarquia Rodoviária da Cidade do Porto (Fonte: Câmara Municipal do Porto)
22
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
4.2.
DADOS DA CIDADE DO PORTO
Segundo os dados de 2013 evidenciados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR)
o concelho do Porto é aquele com o segundo maior registo de acidentes em todo o país, seguindo-se a
Lisboa. No relatório anual de vítimas a 24 horas do ano de 2013, ou seja cuja classificação da vítima
(ferido grave, ligeiro ou morto) é feita nas primeiras 24 horas, podemos analisar a evolução dos
acidentes com vítimas nos anos de 2004 a 2013. Como se pode verificar pelo quadro 2, apesar do
numero de acidentes com vítimas se tenha mantido constante, e de ser bastante considerável, o numero
de acidentes com mortos e /ou feridos graves diminuiu substancialmente.
Quadro 2 - Evolução dos acidentes com vítimas, feridos graves e mortos de 2004 a 2013 no concelho do Porto
(Fonte: ANSR)
O índice de gravidade da última coluna da tabela é calculado da seguinte forma:
IG = 100xM + 10xFG + 3xFL
(2)
Em que M é o número de mortos, FG o de feridos graves e FL o de feridos leves.
Relativamente às vítimas mortais, no período em questão, tem vindo a diminuir consideravelmente,
bem como o número de feridos graves, diminuído mais de 50% em ambos (quadro 3), o que
demonstra que as estratégias assumidas, como foi o Plano Nacional de Segurança Rodoviário e mais
recentemente com a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR) estão a ter um efeito
positivo, e por isso uma boa filosofia para adoptar e um incentivo para continuar a levar a cabo estas
políticas.
Apesar de não termos dados mais recentes é de supor que tem evoluído de acordo com os anos
anteriores, ou seja tem ocorrido uma redução da sinistralidade.
23
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Quadro 3 - Evolução das vítimas mortais, feridos graves e feridos ligeiros de 2004 a 2013 no concelho do Porto
(Fonte:[ANSR])
Os dados para a elaboração de todos os relatórios mensais e anuais da ANSR são baseados nas
informações transmitidas pelos Boletins Estatísticos de Acidentes de Viação (BEAV’s), ver anexo 2.
Quando ocorre um acidente e os intervenientes chamam as forças de segurança, estas preenchem os
BEAV’s, que são uma fonte muito completa de todas as informações relevantes do acidente. Como a
localização, tipo e natureza do acidente, número de veículos envolvidos, características técnicas do
traçado, condições do pavimento, sinalização, condições atmosféricas. Além disso também fornecem
todas as informações dos condutores envolvidos, como a idade, género, nível de álcool no sangue,
habilitações de condução, etc.
Porém, pelo facto das autoridades competentes não possuírem os aparelhos necessários, na
determinação da localização é muitas vezes impossível preencher as coordenadas GPS e assim obter
com precisão o local do acidente. Como não possuem estes sistemas as autoridades recorrem a outros
métodos, como é o caso do registo do número de polícia, e assim podem localizar determinado
arruamento ou local aproximado em que ocorreu o acidente.
Nos casos em que o número de polícia não existe ou não foi preenchido, é ainda possível registar um
ponto de referência inequívoco, como é o caso de rotundas ou cruzamentos em que são referidos os
nomes dos dois arruamentos [5].
Assim, e para a diminuição dos erros de localização, era fundamental recorrer a equipamentos como
por exemplo GPS que tornariam muito mais fiável a determinação das zonas mais gravosas, e a sua
posterior intervenção.
O envio dos dados dos boletins para a ANSR é efectuado no mês seguinte ao da ocorrência.
Posteriormente ocorre a análise e validação dos respectivos dados, mas apenas utilizando os acidentes
com vítimas. Por fim são elaborados os relatórios mensais e anuais que vão servir de análise da
sinistralidade do País.
4.3.
SINISTRALIDADE - ESTADO DA ARTE
A redução da sinistralidade tem que assumir um papel fulcral no desenvolvimento dos países, uma vez
que é uma problemática atual e os acidentes rodoviários representam uma das principais causas de
morte.
Nesse sentido, e dada a elevada importância deste tema já foram realizados vários estudos com foco na
Cidade do Porto. De realçar o estudo realizado no âmbito de uma dissertação de Mestrado Integrado
24
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
em Engenharia Civil por José Manuel Barbosa em 2008 [5] na qual foram apresentadas medidas de
baixo custo para redução da sinistralidade rodoviária na Cidade do Porto. Este estudo assume maior
relevo pelo facto de algumas medidas propostas terem sido implementadas pela Câmara, o que revela
a importância do estudo e do tema. Exemplo da Rua Santa Justa com a Avenida de Fernão Magalhães
em que, com base no estudo alterou-se a estrutura da via e introduziu-se estacionamento.
Para além deste, forem realizados estudos mais recentes com o mesmo tema, como é a dissertação
realizada no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil pela Ana Sofia Dias Salvador em
2014 [1] que se foca nos factores de risco de acidentes com vítimas e estudo das medidas de
mitigação, e a dissertação realizada por Alberto José Simões em 2015 [18] que se inseriu na análise de
custos dos acidentes rodoviários.
De realçar também os estudo realizado em 2012 por Rui Miguel Silva Duarte que se centra na
aplicação do método de previsão de acidentes do Highway Safety Manual em interseções do meio
urbano [28] e o estudo realizado em 2013 por Joana Filipa Carvalho Martins que se foca na seleção de
interseções com potencial redução da sinistralidade - aplicação do HSM [29]. De referir que estes
últimos estudos também foram realizados no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil.
4.4.
DESCRIÇÃO DA BASE DE DADOS
Para o desenvolvimento deste estudo foram usadas bases de dados com os registos das vítimas em
acidentes rodoviários de 2006 a 2011 com foco na cidade do Porto. Dando relevo ao meio urbano que
é onde ocorre a maioria dos acidentes [13].
Inicialmente recorreu-se à base de dados da polícia, para o período em questão, a qual era composta
por 6604 registos de vítimas, e informações tanto da natureza do acidente como a data, hora, a
localização, o tipo de acidente, as condições do pavimento, de visibilidade, as características da via,
bem como informações das vítimas como a idade, sexo, o nível de álcool no sangue, a gravidade dos
ferimentos, entre outros aspectos. Com esta base de dados foi possível desde logo fazer uma análise
inicial da localização, tipo de acidentes, idade e gravidade, e assim ficar com uma perspectiva dos
pontos mais gravosos e das vítimas mais vulneráveis.
Como um dos objetivos do trabalho era considerar a classificação MAIS para a gravidade das vítimas
resolveu-se posteriormente optar pela base de dados usada no Projeto LIVE, que resulta do processo
de ligação Hospital-Polícia. Com esta opção vai ocorrer a diminuição dos registos de vítimas, visto
que, como se pode verificar pela figura 12 apenas foi possível cruzar cerca de 41% dos registos entre
Hospitais e Polícia [2].
De salientar que este objetivo de aprofundar a classificação MAIS deixou de ser considerado por falta
de dados, como será verificado mais a frente.
25
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 12 - Processo de ligação de dados no Projeto LIVE
O processo de ligação entre os registos dos hospitais e aqueles reportados pela polícia é efectuado pela
idade e género das vítimas, e pela data e hora de registo. Esta perda de registos, cerca de 59%, pode
ser justificada por erros no processo de preenchimento dos Boletins Estatísticos dos Acidentes de
Viação, pela omissão de certos campos ou pelo facto do agente responsável ter de prever por exemplo
a idade da vítima pelo facto de esta não estar em condições de o poder confirmar.
De destacar também que há vítimas que não se deslocam imediatamente ao hospital e por isso dificulta
o cruzamento dos dados correspondentes á data e hora, daí também o número de registos dos hospitais
ser consideravelmente superior quando comparado com os da polícia.
A nova base de dados, realizada no âmbito do projeto LIVE, inclui 2970 registos no caso da cidade do
Porto. A estes eliminou-se os que se localizavam fora das localidades e os localizados na
circunvalação e vias rápidas porque estas apresentam carácter menos urbano e não pertencem à
jurisdição da Câmara Municipal do Porto. Fazendo este processo de seleção resultou a nossa base de
dados final que inclui 2251 registos, sendo cada um deles corresponde a uma vítima e não a um
acidente. Portanto poderá haver vários registos que na realidade correspondem ao mesmo acidente.
4.4.1.
ANÁLISE DA BASE DE DADOS
Inicialmente analisou-se as vítimas não restringindo ao tipo de acidente para termos uma visão global,
aprofundando posteriormente a análise aos atropelamentos, que como foi referido, é um dos principais
objetivos de estudo.
Como se pode verificar pelo quadro 4 as colisões laterais com veículos em movimento são o tipo de
acidentes com mais vítimas, este valor reflete-se provavelmente pelo facto deste tipo de acidentes ser o
mais frequente, e por isso aquele onde resultam mais feridos.
26
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Além disso, pode-se verificar que os atropelamentos registam 638 vítimas (considerando também os
casos em que houve fuga), valor muito elevado e que dá ainda mais importância ao nosso estudo. Este
valor pode ser justificado pelo facto de a maioria dos acidentes veículo/peão resultar frequentemente
em ferimentos no peão.
Quadro 4 - Tipo de acidentes registados entre 2006 e 2011
Tipo de Acidente
Número de
Registos
Atropelamento com fuga
18
Atropelamento de animais
1
Atropelamento de peões
620
Colisão choque em cadeia
75
Colisão com fuga
13
Colisão com outras situações
121
Colisão com veículo ou obstáculo na faixa de rodagem
27
Colisão frontal
236
Colisão lateral com outro veículo em movimento
653
Colisão traseira com outro veículo em movimento
239
Despiste com capotamento
20
Despiste com colisão com veículo imóbil ou obstáculo
73
Despiste com dispositivo de retenção
21
Despiste com fuga
7
Despiste com transposição do dispositivo de retenção lateral
1
Despiste sem dispositivo de retenção
42
Despiste simples
51
Não Definida
33
Total Geral
2251
Relativamente à idade das vítimas pode-se verificar pelo quadro 5 que existe uma distribuição muito
uniforme entre os 18 e os 65 anos, grupos etários onde se verifica também o maior número de vítimas.
Estes valores podem ser explicados pelo facto de serem os grupos mais ativos por motivos
profissionais e familiares, e como tal com maior impacto na mobilidade. Os idosos, mais de 65 anos, e
os jovens com idade inferior a 18 anos apresentam menor número pelo facto de muitas vezes estarem
dependentes de outros para se deslocarem, e não usam o carro com tanta frequência.
Analisando a distribuição do número de vítimas pelo género pode-se constatar que não existe muita
diferença.
27
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Quadro 5 - Idade e género das vítimas para todo o tipo de acidentes
Grupos Etários
Masculino
Feminino
0-18
217
114
103
18-30
568
328
240
30-45
541
301
240
45-65
550
274
276
>65
375
157
218
Total
2251
1174
1077
Analisando a gravidade das vítimas em todo o tipo de acidentes pode-se verificar pelo quadro 6 que a
maioria, e como era esperado, consiste em feridos ligeiros. Porém existem 29 vítimas mortais o que é
considerável e por isso algo a refletir nas políticas e medidas a aplicar futuramente.
Quadro 6 - Gravidade das vítimas considerando todo tipo de acidentes
Gravidade
Número de Registos
Ferido Ligeiro
2167
Ferido Grave
55
Vítima Mortal
29
Total
2251
Relativamente às freguesias onde se verificaram maior número de registos, coincidem com aquelas
onde estão localizadas vias rápidas, e vias com elevado tráfego como é o caso da circunvalação e da
VCI (Via de Cintura Interna) classificada como via coletora não apresentando como tal um perfil do
tipo urbano.
As causas prováveis para tal estão relacionadas com a elevada velocidade praticada, que é
frequentemente superior à recomendada, aliada ao grande volume de tráfego que circula diariamente
nestas vias. Estes dois factores são ainda agravados em dias de chuva devido à má drenagem de
algumas zonas e também à falta de cuidado dos condutores que não adaptam o seu comportamento às
exigências que esta condição atmosférica implica. Nesse sentido, e como se pode ver no quadro 7,
destacam-se as freguesias de Paranhos, Ramalde e Campanhã. De notar que são também aquelas com
maior área geográfica.
De salientar que estamos a analisar as freguesias não considerando a reforma administrativa
concretizada em 2013 que apenas considera 7 freguesias, visto que os dados são de 2006 a 2011.
28
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Quadro 7 - Distribuição das vítimas pelas freguesias
Freguesia
Número de
Registos
Aldoar
59
Bonfim
146
Campanhã
253
Cedofeita
254
Foz do Douro
90
Lordelo do Ouro
201
Massarelos
102
Miragaia
22
Vitória
19
Nevogilde
92
Paranhos
442
Ramalde
277
Santo Ildefonso
171
São Nicolau
16
Sé
93
Não Definida
14
Total
2251
Posteriormente à análise global, considerando todo o tipo de acidentes, e com foco nos objetivos do
trabalho analisou-se os registos das vítimas mas restringindo apenas aos atropelamentos. Como se
verificou anteriormente, existem 638 atropelamentos, número elevado quando comparado com o
número total de registos, assumindo a sua redução um papel fundamental se queremos reduzir a
sinistralidade, uma vez que o peão é o interveniente principal para a segurança rodoviária e por isso é
sobre ele que devem recair os maiores cuidados. Além disso, e como se pode ver pelo quadro 8, ainda
é considerável o número de mortes provocadas por atropelamentos.
Quadro 8 - Gravidade das vítimas de atropelamento
Gravidade
Número de Registos
Ferido Ligeiro
594
Ferido Grave
32
Vítima Mortal
12
Total
638
29
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Considerando a localização das vítimas pelas freguesias da cidade do Porto destacam-se as freguesias
de Cedofeita, Bonfim, Campanhã, Santo Ildefonso e Paranhos como as mais críticas, e por isso
aquelas onde provavelmente existirão mais zonas de acumulação de acidentes, ver quadro 9. De
salientar também que temos dois registos em que não foi possível determinar a localização,
provavelmente pelos problemas referidos anteriormente relativamente ao registo dos acidentes.
Quadro 9 - Distribuição das vítimas de atropelamento pelas freguesias
Freguesias
Número de Registos
Aldoar
16
Bonfim
61
Campanhã
66
Cedofeita
84
Foz do Douro
33
Lordelo do Ouro
38
Massarelos
28
Miragaia
4
Vitória
16
Nevogilde
16
Paranhos
110
Ramalde
49
Santo Ildefonso
73
São Nicolau
6
Sé
36
Não Definida
2
Total
638
Analisando os grupos etários das vítimas por atropelamento pode-se verificar que o grupo etário que
abrange as pessoas com idade superior a 65 anos é o que se destaca, sendo 38% dos atropelamentos,
figura 13, isto deve-se provavelmente às capacidades físicas, umas vezes que há menor mobilidade
física e têm menos capacidade de reagir ao conflito iminente. Além disso, são grupos etários que usam
menos o carro e deslocam-se mais a pé. Destaca-se também o grupo etário dos 45 aos 65 anos, estes
não pelas características anteriormente referidas, mas provavelmente por haver um maior número de
peões com esta idade e por isso, há uma maior exposição deste grupo. De salientar também pelo
quadro 10 o número muito superior das vítimas do sexo feminino quando comparado com as do sexo
masculino, podendo-se justificar pelo facto de terem provavelmente um padrão de mobilidade do tipo
pedonal maior do que as do sexo masculino e eventualmente utilizarem mais o transporte público,
ficando assim mais expostas a este tipo de acidentes.
30
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Quadro 10 - Idade e género das vítimas de atropelamento
Grupos Etários
Masculino
Feminino
0-18
76
32
44
18-30
72
25
47
30-45
91
41
50
45-65
160
56
104
>65
239
84
155
Total
638
238
400
Os grupos etários dos 0 aos 18 anos e dos 18 aos 30 anos apresentam menor percentagem pelo facto de
eventualmente andarem menos a pé.
Distribuição Percentual dos Atropelamentos por
Grupos Etários
12%
0-18
38%
11%
18-30
30-45
14%
45-65
>65
25%
Figura 13 - Distribuição percentual dos atropelamentos por grupos etários
4.5.
INDICADORES DE ESTUDO
Existem vários métodos de avaliação de desempenho segundo o HIGHWAY SAFETY MANUAL
(HSM) [23] que recorrem a indicadores de sinistralidade fundamentais para a análise e estudo da
segurança da estrutura viária. São estes indicadores que permitem localizar os pontos críticos e por
conseguinte uma localização precisa dos locais a intervir. Pode-se destacar como indicadores a
frequência média de acidentes, frequência de acidentes apenas com dados materiais, índice de
gravidade relativa, nível de serviço de segurança, probabilidade de ocorrência de acidentes, taxa de
acidentes, taxa crítica de acidentes, entre outros [23] e [29].
No presente estudo vai ser utilizado o indicador correspondente à frequência de acidentes com vítimas,
indicador normalmente utilizado pelos municípios quando avaliam e ponderam reduzir a sinistralidade
rodoviária, uma vez que é o indicador que se obtém com maior facilidade. Após analisar as vítimas na
31
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
generalidade dos acidentes restringiu-se às resultantes por atropelamentos. No caso do estudo dos
atropelamentos é difícil obter os indicadores de exposição e o volume de peões o que condiciona a
escolha do indicador de sinistralidade.
Nesse sentido, e analisando toda a base de dados que contem 2251 registos, dos quais 638 são
atropelamentos, o estudo vai-se centrar em 6 locais onde foi registado maior número de
atropelamentos, identificados assim como os locais mais críticos e passiveis de rápida intervenção. É o
caso do cruzamento da Rua Antero Quental com a Rua Damião Góis com seis atropelamentos, o
mesmo número verificado na interseção da Praça das Flores com a Avenida 25 de Abril. Também
assumiu relevo o cruzamento da Rua Fernandes Tomás com a Rua D.João IV na qual foram registados
cinco atropelamentos. Além destes, destaca-se também a Avenida Marechal Gomes da Costa, a Rua
Diogo Botelho e a Rua S.Roque da Lameira pela ocorrência também de cinco atropelamentos em cada
uma.
Importa referir que o local definido como zona de acumulação de acidentes corresponde a uma área de
aproximadamente 50 metros.
A escolha dos locais a intervir, e os critérios para esta, vão ser evidenciados no próximo capítulo.
32
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
5
IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DAS ZONAS CRÍTICAS
Neste capítulo vamos dar destaque ao estudo detalhado dos locais escolhidos e à aplicação de medidas
de mitigação nos mesmos. Dos 6 locais mais críticos relativamente aos atropelamentos, evidenciados
anteriormente, vamos destacar 3. A escolha foi feita para abranger vias com tipologias e funções
diferentes. Nesse sentido vamos analisar a interseção da Praça das Flores com a Avenida 25 de Abril,
um local cujo cruzamento ocorre por cedência de passagem. O cruzamento da Rua Fernandes Tomas
com a Rua D.João IV, que é semaforizado, e a Rua Diogo Botelho que adquire elevada importância
por ter vários polos geradores de movimento de pessoas como uma escola de ensino superior, um
posto de abastecimento de combustível e algum comércio.
5.1.
INTERSEÇÃO DA PRAÇA DAS FLORES COM A AVENIDA 25 DE ABRIL
5.1.1.
DESCRIÇÃO DO LOCAL
A Rua da Praça das Flores é considerada uma via estruturante local de duplo sentido, enquanto a
Avenida 25 de Abril é uma estruturante principal de sentido único. As ruas são perpendiculares entre
si e o cruzamento entre elas pode ser considerado um local de elevada importância tanto pelo volume
de tráfego como pelo número considerável de peões que circulam na zona, nomeadamente crianças e
jovens devido à proximidade de uma escola. A Praça das Flores apresenta duas vias, enquanto a Av.
25 de Abril 3, ver figura 14 e 15 com esquema representativo.
Figura 14 - Esquema representativo da interseção em estudo
33
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De referir que para a classificação hierárquica das ruas em análise considerou-se a definida pela
Câmara Municipal do Porto e que consta no documento da Planta Hierárquica Rodoviária realizada no
âmbito do Plano Diretor Municipal.
O local pode ser caracterizado como sendo uma zona com muitas habitações multifamiliares, de
comércio e oficinas. A altura dos edifícios não ultrapassa os 4 andares, estando o comércio reservado
para os pisos inferiores.
Apenas existem linhas contínuas a separar as vias numa pequena extensão imediatamente antes da
interseção. Na restante extensão as vias são separadas por traço descontínuo apresentando-se bem
marcadas. De referir que a maioria das casas tem número de porta, exceção dos edifícios abandonados.
Não se verificou a existência de garagens que interfiram diretamente com o trânsito no cruzamento,
nem vias destinadas apenas para os autocarros.
Figura 15 - Cruzamento da Praça das Flores com a Av. 25 de Abril
No entanto, e como se pode ver na figura 16, constata-se a existência de algumas oficinas de
automóveis na Praça das Flores que intersetam diretamente com a rua e por isso pode haver um
aumento dos pontos de conflito.
34
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 16 - Oficinas de automóveis proximas da interseção
O movimento de peões que atravessa o cruzamento é regular e bastante frequente, isto deve-se tanto
pela existência do parque de lazer e da Escola das Flores, localizados a poucos metros, como pelos
estabelecimentos comerciais presentes na área envolvente, figura 17.
Figura 17 - Escola das Flores e Parque de lazer da Praça das Flores
De salientar também a existência de algumas casas devolutas e alguns terrenos abandonados. O
estacionamento apresenta-se em número considerável e é gratuito, tanto na Praça das Flores (90
graus), como na Avenida 25 de Abril (em paralelo), ver figura 18. Apesar desta oferta, verificou-se
algum estacionamento indevido na faixa de rodagem, numa área adjacente ao entroncamento, mas são
paragens rápidas de clientes das lojas comerciais e não estão diretamente relacionados com os
acidentes na interseção, ou para efetuar por exemplo cargas e descargas.
35
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 18 - Estacionamento na Praça das Flores (esquerda) e Av. 25 de Abril (direita)
Trata-se de um espaço aberto e com boa iluminação conferindo assim maior segurança aos
utilizadores. Junto ao cruzamento existem pequenos jardins e árvores que tornam a zona mais
acolhedora. O pavimento está em boas condições, apresentando apenas algumas fissuras.
O cruzamento apresenta duas passadeiras, bem sinalizadas, com sinalização vertical (como se pode ver
na figura 19), apesar de se denotar algum desgaste já nas suas marcas. De destacar que apresentam
também o rebaixamento para acessibilidade de pessoas que se movem de cadeira de rodas.
Figura 19 - Pormenor das passadeiras
36
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
O limite de velocidade é de 50 Km/h.
Existem duas paragens de autocarro na zona envolvente, mas não interfere diretamente com o
cruzamento, ficando a cerca de 150 metros do local de estudo.
O tráfego no entroncamento é gerido por sinalização vertical, tendo para isso toda a sinalização
necessária
Existem passeios em todos os arruamentos, que estão em boas condições, apesar de em certos lugares
terem largura insuficiente por cruzamento com postes de iluminação, e por isso é um dos aspectos a
melhorar, figura 20.
Figura 20 - Pormenor dos passeios
Relativamente ao comportamento do peão, pode-se dizer que no período de levantamentos de dados a
maioria tinha um comportamento responsável e atravessava nas passadeiras, exceção feita em alguns
casos em que para assumir uma trajetória mais curta atravessavam a Av. 25 de Abril pelo lado que não
tinha passadeira ou a meio da Praça das Flores.
5.1.2
REGISTO DE ACIDENTES
No período de 2006 a 2011 foram registadas 6 vítimas por atropelamento neste cruzamento, de
salientar que 4 foram no mesmo local, ou seja no entroncamento, e dois na zona adjacente. Após a
análise dos dados relativos à frequência dos acidentes nos locas, foi necessário cruzar com a
informação da polícia para o mesmo período e assim obter mais características dos acidentes.
37
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Assim, e como se pode ver pelo quadro 11, dois dos atropelamentos ocorreram fora da passagem de
peões mesmo quando esta se encontrava a menos de 50 metros. Os restantes ocorreram quando a
vítima surgiu inesperadamente na faixa de rodagem de trás de um obstáculo.
As vítimas são na maioria crianças e jovens o que pode ser justificado pela existência da Escola das
Flores que se encontra na zona envolvente, e gera assim um maior movimento de jovens.
De referir também, que apenas uma vítima é do sexo masculino e que das seis, quatro vítimas por
atropelamento foram registadas no dia 15 de Março de 2008 às 15:50h, ou seja, provavelmente foi o
mesmo veículo que vitimou as quatro pessoas.
Quadro 11 - Dados dos Atropelamentos no Entroncamento da Praça das Flores com a Av. 25 de Abril
Idade
Género
Data
Hora
Gravidade
Proteção
Ação
52
M
29-042006
12:30
Ferido
Ligeiro
A pé
Atravessando fora da passagem de
peões, a menos de 50m de uma
passagem
4
F
27-122006
19:50
Ferido
Ligeiro
A pé
Atravessando fora da passagem de
peões, a menos de 50m de uma
passagem
12
F
15-032008
15:50
Ferido
Ligeiro
A pé
Surgindo inesperadamente na faixa de
rodagem de trás de um obstáculo
12
F
15-032008
15:50
Ferido
Grave
A pé
Surgindo inesperadamente na faixa de
rodagem de trás de um obstáculo
7
F
15-032008
15:50
Ferido
Ligeiro
A pé
Surgindo inesperadamente na faixa de
rodagem de trás de um obstáculo
8
F
15-032008
15:50
Ferido
Ligeiro
A pé
Surgindo inesperadamente na faixa de
rodagem de trás de um obstáculo
Todos os atropelamentos ocorreram em pleno dia e com boas condições atmosféricas, exceção do
acidente registado a 27 de Dezembro de 2006 que ocorreu às 19:50h. Também podemos referir, pela
base de dados da polícia, que à data das ocorrências o piso encontrava-se em bom estado.
Faz-se ressalva a que não houve nenhuma vítima mortal e dos seis registos apenas um foi considerado
ferido grave.
5.1.2.1 REGISTO DOS HOSPITAIS E CLASSIFICAÇÃO MAIS
Para estes seis registos não foi encontrada nenhuma correspondência com a base de dados dos
hospitais, e por isso não é possível averiguar as consequências em termos de informações clinicas.
Esta ausência de resultados é explicada, como foi referido anteriormente, por apenas se conseguir
fazer ligação de cerca de 41% entre os dados dos hospitais e os da polícia e como tal não foi possível
encontrar o registo destas vitimas nos hospitais.
Pela mesma razão não foi possível classificar a gravidade da vítima segundo classificação MAIS, uma
vez que esta só é possível de determinar com base no diagnóstico dos pacientes internados.
38
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
5.1.3.
IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DOS ATROPELAMENTOS
A existência do Parque de lazer da Praça das Flores e da Escola, torna este local preponderante para
melhorar a segurança rodoviária pela passagem de um número considerável de peões que assumem em
geral comportamentos de maior risco. Além disso, o comercio na zona envolvente e as duas paragens
de autocarros também gera um movimento de pessoas que importa ser estudado e gerido. Como o
número de pessoas a circular é considerável é necessário ter especial cuidado e assumir medidas para
evitar futuros sinistros.
Os acidentes ocorridos neste local, em que resultaram atropelamentos, como se pode ver nos boletins
da polícia, deveu-se principalmente por comportamento incorreto do peão, nomeadamente passar fora
da passadeira quando esta se encontrava a menos de 50 metros ou quando o peão atravessa
inesperadamente a rua por de trás de um obstáculo surpreendendo assim o condutor. Este
comportamento ocorre muitas vezes quando o peão por não pressentir perigo adota trajetórias mais
curtas e não recorre as passadeiras para mudar de via. Este comportamento tem que ser de algum
modo contrariado para poder haver uma redução da sinistralidade neste local.
De salientar que no dia em que houve recolha de dados e caracterização do local a maioria das pessoas
recorria à passagem de peões para mudar de via, figura 21. Mas havia sempre quem não o fizesse, e
optasse pela trajetória mais curta, ver figura 22. Nesse sentido, e visto os atropelamentos serem uma
problemática deste cruzamento, é necessário reencaminhar as pessoas para as passadeiras, visto que os
atropelamentos registados ocorreram fora delas.
Figura 21 - Mudança de via feita pelos peões recorrendo à passadeira
39
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 22 - Passagem dos peões fora das passadeiras
Independentemente do local das ocorrências importa também referir as caracteristicas fisicas da via
envolvente, nomeadamente a Avenida 25 de Abril que por ser retilínea e com três vias induz os
condutores a adoptarem neste local velocidades superiores áquelas estipuladas no código da estrada,
ver figura 23. Ao assumirem maiores velocidades a sinalização vertical pode não ser suficiente para
alertar da presença de uma passadeira e possiveis peões a atravessá-la, e consequentemente pode levar
os condutores a efetuarem travagens bruscas para permitir a passagem dos peões. Esta também tem
que ser uma hipótese a considerar estudar visto que ao controlar a velocidade na zona evita-se também
a possível ocorrência de colisões entre veiculos por travagens bruscas, aquando da passagem de peões,
e mais importante a ocorrência de atropelamentos.
40
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 23 - Avenida 25 de Abril
Como foi referido anteriormente nesta zona e na sua envolvente existem algumas lojas e oficinas que
levam a um maior movimento de carros e a paragens de veículos para cargas e descargas. Esta
paragem dos automóveis que acontece, como se pode ver na figura 24, na maioria das vezes com
estacionamento em segunda fila, leva a um constrangimento do trânsito e a um movimento extra de
pessoas que estão a efetuar a descarga, e assim cria-se nestes casos também um possivel ponto de
conflito que pode ser eliminado por delimitação de lugares própios para efetuar cargas e descargas.
Figura 24 - Estacionamento indevido para efetuar cargas e descargas
41
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
5.1.4.
MEDIDAS MITIGAÇÃO
Após analisar as características do local e todos os fatores de risco que podem levar a ocorrência de
atropelamentos, analisaram-se as possíveis medidas a implementar.
Para a escolha destas medidas foram analisados todos os CMFs disponíveis e compatíveis com a
interseção de três ramos e cujo tipo de acidente fosse o resultante da colisão entre um veículo e um
peão, ou seja, atropelamento.
O tráfego médio diário anual (TMDA) registado, correspondente ao ano de 2011, foi de 20901
veículos por 24 horas na Avenida 25 de Abril e de 5186 veículos por 24 horas na Rua da Praça das
Flores. É importante referir que estes valores foram obtidos com base na média das tendências de
crescimento entre os anos de 2001 e 2011 realizada num trabalho anterior [1].
De entre os CMFs resultantes foram excluídos aqueles cujo valor fosse superior a 1, uma vez que esse
valor indica o aumento do número de acidentes e portanto contrário ao efeito pretendido de diminuir o
número de atropelamentos.
Por fim, foram também retirados os que já se encontravam aplicados, como a sinalização vertical, e
medidas que implicassem uma reestruturação total da via ou elevados custos, como seria o caso da
introdução de semáforos.
Os CMFs apresentados, foram obtidos através da página online CMF Clearinghouse, e foram
selecionados com base na melhor relação custo/beneficio.
De referir que a qualidade das medidas é avaliada de 1 a 5, sendo 5 as medidas que apresentam melhor
qualidade. Esta qualidade está relacionada com o tipo de medida, mas também com a confiança
estatística obtida nos resultados dos estudos realizados para avaliação da mesma. Esses resultados
dependem da base de dados usada para o estudo bem como da metodologia estatística utilizada. Se for
assente sobre bases de dados mais amplas e diversificadas terá o estudo dessa medida melhor
qualidade.
Antes de referir as medidas concretas, e visto ser um local com elevado volume de tráfego e
movimento de pessoas, deve-se melhorar as marcas nas passadeiras existentes, uma vez que já estão
um pouco desgastadas. Com a manutenção devida das passagens de peões, aumenta-se a
consciencialização dos peões para atravessarem na passadeira, bem como permitir uma melhor
visibilidade aos condutores.
Face a todos os registos e após analisar as características do local propôs-se elevar as duas passadeiras
presentes no entroncamento ao nível dos passeios. Esta medida foi escolhida porque por um lado, o
peão é intuitivamente reencaminhado para fazer corretamente a travessia, e por outro lado, obriga os
condutores a reduzir a velocidade e assim diminuir também o risco de atropelamento e/ou a gravidade
dos mesmos.
De referir que a passadeira da Avenida 25 de Abril teria que ser recuada em relação ao entroncamento
para que esta não se encontre no ponto de viragem para a Rua da Praça das Flores. Esta medida
apresenta um CMF de 0.55 e por consequência uma redução em cerca de 45% nos atropelamentos,
sendo assim bastante eficaz.
42
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 25 - Tabela com CMF da medida proposta
Importa referir que mesmo elevando a passadeira deve-se manter as marcas horizontais, uma vez que,
como se pode ver pela figura 26, a elevação da passadeira mas sem as marcas, apenas reduz em cerca
de 39% os atropelamentos.
Figura 26 - Tabela com CMF correspondente à elevação da passadeira mas sem as marcas horizontais
Além desta medida também se propõem a implementação de bandas sonoras transversais para acalmia
de trafego e redução da velocidade à saída do túnel Goelas de Pau (figura 27). Esta localização permite
reduzir a velocidade dos veículos sem impacto sonoro para as habitações, e assim induziria a um
comportamento mais prudente dos condutores face à aproximação desta zona onde há maior número
de pessoas a circular.
Figura 27 - Localização das bandas sonoras
43
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Como se pode ver pela figura 28 esta medida teria impacto em todos os acidentes, por isso é uma
opção bastante viável para adoptar, sendo que diminuí a generalidade dos acidentes em cerca de 34 %
(CMF de 0.66). De ressalva a excelente qualidade dos resultados referentes ao estudo desta medida,
sendo-lhe atribuído 4 estrelas.
Figura 28 - Tabela com CMF correspondente à implementação de bandas sonoras transversais
De salientar que as bandas sonoras têm a vantagem de não serem tão salientes como as lombas
redutoras de velocidade, e assim não provocam danos nos veículos.
Figura 29 - Bandas sonoras transversais
Além destas medidas, deve ainda ser reservado estacionamento específico para efetuar cargas e
descargas na Rua da Praça das Flores, e assim permitir que os veículos afetos ao comércio não
perturbem o normal funcionamento da via pública. Esta medida seria benéfica porque gera menos
movimento de pessoas na faixa de rodagem e consequentemente diminuía a sua exposição a possíveis
atropelamentos.
Para além disso também seria importante que a sinalização vertical de aproximação da passagem de
peões fosse iluminada à noite, para que os condutores também adotem um comportamento noturno
defensivo.
Estas últimas medidas não apresentam nenhum CMF atribuído, sendo necessário como tal, registar os
acidentes rodoviários durante um período mínimo depois de aplicada a medida, de modo a que esses
registos possam ser usados para o estudo de um novo CMF.
44
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De salientar também a importância de fazer campanhas de sensibilização na Escola das Flores, para os
pais e alunos, com foco na relevância que se deve dar à segurança rodoviária, e no comportamento que
o peão deve adotar no dia-a-dia, visto ser ele um dos elementos fulcrais para a redução da
sinistralidade. A importância destas campanhas é justificada pelo facto da maioria das vítimas serem
jovens.
De entre os tratamentos possíveis para redução deste tipo de acidentes, as medidas acima referidas são
as que provavelmente terão uma melhor relação custo/benefício pois tratam-se de medidas de baixo
custo, anteriormente aplicadas e estudadas como sendo eficientes.
Alguns CMFs não foram considerados como hipótese por implicarem um esforço financeiro muito
grande e uma total remodelação da zona.
5.2. CRUZAMENTO DA RUA DE FERNANDES TOMÁS COM A RUA DOM JOÃO IV
5.2.1.
DESCRIÇÃO DO LOCAL
Considerando a classificação hierarquica das ruas definidas pela Câmara Municipal do Porto, pode-se
classificar estas duas ruas como estruturantes locais, sendo que a circulação é de sentido único. Tratase de um cruzamento ortogonal semaforizado, e portanto um local onde ocorrem tipicamente acidentes
mais gravosos, e assim um local de relevo para estudar, ver figura 30. Além disso, é um ponto de
passagem de um volume considerável de automóveis e peões, que são atraídos pelos vários
estabelecimentos comerciais presentes na zona envolvente. Este cruzamento localiza-se na freguesia
de Santo Ildefonso.
Figura 30 - Imagem aérea do Cruzamanto da Rua Fernandes Tomás com a Rua Dom João IV (fonte:[22])
A Rua Dom João IV apresenta duas vias, uma que permite seguir em frente e a outra permite, para
além de seguir em frente, mudar de direção à esquerda para a Rua de Fernandes Tomás. A Rua
Fernades Tomás apresenta também duas vias, de sentido único, sendo uma delas reservada para os
autocarros.
45
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De salientar o volume considerável de automóveis a circular neste cruzamento, principalmente na Rua
Fernandes Tomás uma vez que se trata de uma rua com uma envolvente que atrai muitas pessoas, dada
a proximidade do mercado do bolhão, do Centro Comercial Porto Gran Plaza e muitas superficies
comercias, ver figura 31 e 32. Além disso, a Rua de Santa Catarina, que é a artéria mais comercial
da Baixa do Porto, encontra-se nas proximidades, o que justifica desde logo este movimento de
pessoas e automóveis.
Figura 31 – Centro comercial Via Catarina
Figura 32 - Centro Comercial Porto Gran Plaza
Analisando as características do cruzamento verifica-se que é um local onde existe grande número de
habitações multifamiliares, sendo a maioria casas antigas, com algumas superficies comerciais. Os
edifícios não ultrapassam os 4 andares e os pisos inferiores são os destinados ao comercio, ver figura
46
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
33. No entanto, constata-se também a existência de casas e terrenos abandonados. Não se verificou a
presença de garagens que interfiram directamente com o trânsito no cruzamento.
Figura 33 - Estabelecimentos comerciais e casas abandonadas presentes no local
Como foi referido anteriormente, a Rua Fernandes Tomás apresenta uma via destinada para BUS,
sendo que a cerca de 50 metros do cruzamento existe uma paragem de autocarro, e por isso gera um
movimento extra de pessoas que importa ser estudado e gerido. A iluminação é composta por um
sistema antigo, e portanto é algo a ter em conta para uma futura requalificação.
O limite de velocidade é de 50 Km/h.
Existem passeios em todos os arruamentos e verificou-se que estes são largos e encontram-se em bom
estado. Fazem parte do cruzamento três passadeiras, que estão em boas condições, no entanto não
existe sinalização vertical que indique a passagem de peões, nem rebaixamento para a passagem de
pessoas em cadeiras de rodas, ver figura 34, sendo portanto um dos aspectos a melhorar.
Apenas existem linhas contínuas a separar as vias numa pequena extensão imediatamente antes da
intersecção. Na restante extensão as vias são separadas por traço descontínuo e apresentam-se bem
marcadas.
47
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 34 - Pormenor das passadeiras
De referir que é um espaço algo fechado o que confere alguma insegurança, principalmente de noite.
Este facto deve-se às casas e terrenos abandonados, mas também pelo cruzamento apresentar ângulos
muito retos e os edifícios estarem muito próximos do ponto de intersecção, retirando visibilidade tanto
ao peão como ao condutor, ver figura 35.
Relativamente ao comportamento dos peões, pode-se dizer que a maioria age corretamente e atravessa
nas passadeiras, face a uma mudança de via, mas havia sempre excepções em que, para reduzir a
trajetoria atravessavam o cruzamento pelo lado Norte da Rua Dom João IV, lado este que não tem
passagem para peões. De salientar que a recolha de dados foi feita pelas 16h, hora que já apresentava
um número consideravel de pessoas a circular.
Figura 35 - Pormenor da intersecção
48
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Relativamente ao estacionamento, verificou-se que existe em número insuficiente, dado o volume
considerável de automóveis e pessoas afectos à zona envolvente (Bolhão e Via Catarina). Este
estacionamento é pago e apenas localizado na Rua Dom João IV, sendo feito em paralelo. No entanto,
e apesar de não ser permitido, os veículos estão estacionados ao longo da Rua Fernandes Tomás,
provavelmente pelo facto desta via ser larga e pelo estacionamento aparentemente não perturbar o
normal funcionamento do tráfego (figura 36). Assim, futuramente será de ponderar a introdução de
estacionamento nesta rua, uma vez que possui as características físicas para tal.
Figura 36 - Estacionamento na Rua Fernandes Tomás (esquerda) e Rua Dom João IV (direita)
O pavimento apresenta-se em bom estado, apresentando apenas algumas fissuras, exceção de um
pequeno troço da Rua Dom João IV que precisa ser melhorado futuramente, ver figura 37.
Figura 37 - Pormenor do pavimento na Rua Dom João IV
49
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
O tráfego no cruzamento é gerido por sinalização luminosa. Esta sinalização funciona em duas fases
representadas na figura, uma pela cor vermelha (R) e outra pela cor verde (G).
A fase R do semáforo, representada pela cor vermelha, permite a circulação de todos os veículos que
vem da rua Dom João IV, assim como de todos os peões que pretendem atravessar a Rua Fernandes
Tomás pelas duas passadeiras.
A fase G do semáforo, representado pela cor verde, permite a circulação de todos os veículos,
provenientes da Rua Fernandes Tomás, assim como de todos os peões que pretendem atravessar a rua
Dom João IV.
De destacar, que a passadeira do lado oeste do cruzamento também pode ser acionada pelos peões, e
quando isso acontece fica vermelho para as duas correntes de tráfego.
Na figura 38 podemos ver um esquema representativo do cruzamento, com as características físicas
das ruas, as passadeiras presentes e a gestão da sinalização luminosa.
Figura 38 - Esquema representativo do cruzamento e das fases da sinalização luminosa
Após analisar as fases foram estudados os diagramas de tempo de cada movimento, para saber se é
necessário implementar medidas que alterem o ciclo da sinalização luminosa. Assim, e como se pode
ver na figura 39 existem 6 movimentos, três referentes às correntes de tráfego e os outros três
movimentos referentes ao peão.
50
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 39 - Esquema representativo dos movimentos no cruzamento
De salientar que o tempo dos movimentos é variável conforme a altura do dia, no sentido em que se
verifica tempos maiores nas horas de maior afluência, como se pode observar no quadro 12. O
levantamento dos dados representados no quadro foi realizado às 16 horas. No levantamento efetuado
por volta das 20:30 horas, verificou-se tempos mais reduzidos sendo que se registou cerca de metade
do tempo de verde para peões (em todas as passadeiras).
Quadro 12 - Diagrama de tempos para o cruzamento às 16h
Movimentos
1
2e3
4
6
5
60 segundos
65 segundos
67 segundos
67 segundos
58 segundos
Tempos
3 seg.
38 segundos
45 segundos
32 segundos
32 segundos
3
A diferença de tempo entre os ciclos é explicada pela existência do movimento 6, quando os peões
acionam o botão para efetuar a passagem. Como o funcionamento dos semáforos é coordenado, os
ciclos alteraram-se em função da presença de peões e respetivo acionamento da botoneira, e como tal,
não existem tempos fixos no cruzamento.
5.2.2
REGISTO DE ACIDENTES
Recorrendo à base de dados usada para o estudo, e como se verificou anteriormente, neste cruzamento
foram registadas cinco vítimas por atropelamento. Destes cinco registos, dois são do sexo feminino e
51
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
três do masculino, contrapondo a estatística descrita no capítulo anterior em que as mulheres eram as
principais vítimas deste tipo de acidente.
De salientar que, quatro vítimas estão relacionadas com acidentes registados no próprio cruzamento, e
a outra, por um ocorrido um pouco a oeste deste local.
Como se pode ver no quadro 13 dois dos atropelamentos ocorreram quando a vítima atravessava fora
da passagem de peões, por esta se encontrar a mais de 50 metros ou quando não existia. Também foi
registada uma vítima de 60 anos que atravessou a passagem desrespeitando a sinalização semafórica.
De destacar também que no acidente que ocorreu a 30 de Janeiro de 2006 pelas 16:35h, para além de
registar a vítima de 60 anos, por atropelamento, também foram registados ferimentos ligeiros no
passageiro que seguia na retaguarda da viatura, e que estava sem cinto de segurança. Assim apesar de
não ter sido atropelada esta vítima de 69 anos também foi considerada para o estudo.
Por omissão dos agentes da Policia ou algum erro, não foi registada a ação que levou ao atropelamento
da vítima de 59 anos a 10 de Dezembro de 2009.
Quadro 13 - Dados dos Atropelamentos no Cruzamento da Rua de Fernandes Tomás com a Rua Dom João IV
Idade
19
Género
F
Data
30-012009
Hora
14:15
Gravidade
Ferido
Ligeiro
Proteção
A pé
19
F
30-012009
14:15
Ferido
Ligeiro
A pé
60
M
30-012006
16:35
Ferido
Ligeiro
A pé
69
M
30-012006
16:35
Ferido
Ligeiro
59
M
10-122009
13:40
Ferido
Ligeiro
S/ uso
cinto
segurança
A pé
Ação
Atravessando fora da
passagem de peões, a mais
de 50m de uma passagem
ou quando não existia
passagem
Atravessando fora da
passagem de peões, a mais
de 50m de uma passagem
ou quando não existia
passagem
Atravessando em passagem
sinalizada com desrespeito
da sinalização semafórica
Desconhecido
Não definido
Como se pode verificar, todos os acidentes foram registados ao início/meio da tarde, facto este que
influenciou a hora que ocorreu o levantamento de dados (16h). De referir que, pela base de dados da
polícia, à data das ocorrências o piso encontrava-se em bom estado. No entanto, no acidente ocorrido a
30 de Janeiro de 2009, que vitimou duas pessoas, as condições climatéricas não eram favoráveis, tendo
sido registado a ocorrência de chuva o que não acontece nos outros casos.
Faz-se ressalva a que não houve nenhuma vítima mortal, sendo apenas registados feridos ligeiros.
52
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
5.2.2.1 REGISTO DOS HOSPITAIS E CLASSIFICAÇÃO MAIS
Para estes 5 registos, apenas foi encontrada correspondência com a base de dados dos hospitais da
vítima de 60 anos resultante do acidente que ocorreu a 30 de Janeiro de 2006. Apesar da
correspondência, não foi possível retirar mais dados clínicos, uma vez que a base de dados do hospital
apenas tinha a hora de entrada do paciente.
Os restantes registos não foram encontrados na base de dados dos hospitais, facto que já foi explicado
anteriormente, e que se deve há dificuldade de cruzamento entre dados dos hospitais e polícia.
Em relação à classificação MAIS também não foi possível obter dados, uma vez que esta é feita
atualmente só para os internamentos e a única vítima que consta na base de dados do hospital, por ser
ferido ligeiro, provavelmente não teve que ficar internada, e assim não lhe foi atribuída esta
classificação.
5.2.3.
IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DOS ATROPELAMENTOS
Este cruzamento é um local de passagem de um volume considerável de pessoas e veículos. Este facto
deve-se principalmente pela sua envolvente, constituída por vários estabelecimentos comerciais como
o mercado do bolhão, o Centro Comercial Porto Gran Plaza e a Rua de Santa Catarina, artéria mais
comercial da Baixa do Porto.
De referir também a paragem de autocarro, que se encontra a poucos metros do cruzamento, e que
aumenta a afluência de peões. Face ao movimento de pessoas, e pelo número de atropelamentos
registados, é um local importante a estudar, para futuramente intervir e contribuir para a diminuição da
sinistralidade.
Como se pode constatar pelo descrito anteriormente, os atropelamentos ocorreram na sua maioria por
comportamento incorreto do peão, casos em que a vítima mudou de via fora da passadeira, quando
esta se encontrava a mais de 50 m ou quando não existia, havendo porém um registo em que embora o
tivesse feito na passagem de peões desrespeitou a sinalização luminosa.
Este comportamento ocorre muitas vezes quando o peão pretende reduzir a trajetória, ou evitar tempos
de espera, e atravessa a rua arriscando a sua segurança.
No dia em que ocorreu o levantamento dos dados e caracterização da zona, pode-se referir que a
maioria dos peões agia corretamente e fazia a mudança de via pedonal através da passagem de peões.
No entanto, também se constatou alguns comportamentos incorretos em que, para diminuir a trajetória
atravessavam a rua fora da passadeira, caso verificado maioritariamente do lado Norte da Rua Dom
João IV, como se pode verificar pelas figuras 40 e 41.
53
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 40 - Passagem dos peões fora das passadeiras na Rua Dom João IV
Figura 41 - Passagem dos peões fora das passadeiras na Rua Dom João IV
Este comportamento tem que ser contrariado e é necessário intervir na zona, no sentido de
reencaminhar os peões para as passadeiras, visto ser a passagem fora destas a principal causa de
atropelamentos neste local.
54
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Além disso, e como se verificou nos boletins da polícia, um atropelamento ocorreu aquando da
passagem da vítima na passadeira, mas desrespeitando a sinalização luminosa. Nesse sentido fez-se
um levantamento dos tempos de verde e vermelho para os peões. Recorrendo a esse estudo, e face ao
número considerável de peões a circular, pode-se concluir que os tempos de verde são um pouco
reduzidos, sendo aconselhável intervir nesse aspeto. De facto, as passadeiras colocadas na Rua
Fernandes Tomás têm 32 segundos de verde e a colocada na Rua Dom João IV 58 segundos.
De salientar que no período em que se efetuou a recolha de dados, e como se pode verificar pela figura
42, foram registados vários casos em que o peão desrespeitou a sinalização luminosa.
Figura 42 - Passagem dos peões desrespeitando a sinalização luminosa
De destacar também, que alguns carros estavam estacionados indevidamente até aos limites da
passadeira, diminuindo o ângulo de visão do peão e do condutor. Como a visibilidade vai ser menor
gera-se um ponto de conflito e podem ocorrer atropelamentos. Este facto ocorre tanto na Rua Dom
João IV, como na Rua Fernandes Tomás, ver figura 43. Assim torna-se importante assumir medidas
que proíbem definitivamente o estacionamento nestas zonas e por consequência aumentar a
visibilidade e distância de segurança.
Figura 43 - Estacionamento indevido próximo das passadeiras na Rua D.João IV (esq) e Rua Fernandes Tomás
(dir)
55
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Como se pode constatar anteriormente a fase vermelha do sistema luminoso permite a circulação dos
veículos provenientes da Rua Dom João IV, e dos peões que pretendam atravessar a Rua Fernandes
Tomás. Nesse sentido pode criar-se um ponto de conflito entre os peões que estejam a atravessar a
passadeira Oeste da Rua Fernandes Tomás e os veículos que pretendam mudar para essa rua.
Outro dos fatores que aumenta os pontos de conflito, e que pode levar à ocorrência de atropelamentos,
é a existência da Rua Comandante Rodolfo de Araújo, paralela à Rua D. João IV e interseta a Rua
Fernandes Tomás imediatamente antes da sinalização luminosa (figura 44). Este facto faz com que, ao
surgir um veículo neste arruamento que pretenda passar para a Rua Fernandes Tomás, pelo
cruzamento não ter visibilidade, tenha que intersectar o passeio e interferir com as correntes de peões.
Acontecendo isto gera-se um ponto de conflito tanto para os veículos que circulam na Rua Fernandes
Tomás como para os próprios peões.
Figura 44 - Rua Comandante Rodolfo de Araújo
5.2.4.
MEDIDAS MITIGAÇÃO
As medidas para este cruzamento foram escolhidas com base nas características do local, nos fatores
de risco identificados e nos indicadores disponíveis. Nesse sentido foram analisados todos os CMFs
disponíveis e compatíveis com um cruzamento de quatro ramos e semaforizado.
O tráfego médio diário anual (TMDA) registado, correspondente ao ano de 2011, foi estimado como
sendo de 11704 veículos por 24 horas na Rua Fernandes Tomás e de 9232 veículos por 24 horas na
Rua D.João IV. É importante referir que estes valores foram obtidos com base na média das tendências
de crescimento entre os anos de 2001 e 2011 de um trabalho anterior [1].
Após a análise de todas as medidas possíveis, restringiu-se aquelas cujo valor do CMF fosse inferior a
1, para acidentes em que resultassem atropelamentos, visto que se pretende diminuir a sinistralidade
rodoviária a este nível.
Também foram retirados os que já se encontravam aplicados no local, como por exemplo a introdução
de semáforos, e aqueles que resultassem em medidas que implicasse a restruturação total da via com
custos associados muito elevados.
Importa referir que os CMFs foram escolhidos recorrendo tanto ao HSM como à página online CMF
Clearinghouse [24].
56
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Face ao exposto, e pelas características do local, decidiu-se em primeiro lugar propor a introdução de
mais sinalização vertical, nomeadamente a de aproximação de uma travessia de peões. Esta medida
assume relevo no sentido em que alerta os condutores para um eventual ponto de conflito com peões.
Além disso e como se pode ver pela figura 45, a introdução de sinais diminui todo o tipo de acidentes
em cerca de 17% em zona urbana.
Figura 45 - CMF correspondente à introdução de sinalização vertical
Para além disso, e com vista à diminuição dos atropelamentos, também se propôs alterar os sinais
luminosos do peão adicionando um temporizador com contagem decrescente. Esta medida é muito
simples, mas eficaz e de baixo custo, representando uma diminuição satisfatória nos atropelamentos.
De salientar que já foram elaborados vários estudos relacionados com esta medida, o que justifica a
existência de valores distintos para o CMF, como se pode ver na figura 46, em que no primeiro ocorre
uma diminuição de 3,3% e no segundo de 5,7%. Esta diferença de resultados pode ser explicada pelas
distintas bases de dados usadas nos estudos, que representam muitas vezes diferenças sociais como
cultura e educação, faixas etárias, diferentes extractos sociais, entre outras variáveis.
Figura 46 - CMF correspondente à introdução de um temporizador
Outra das medidas que se pode implementar é a introdução de uma nova fase na sinalização luminosa,
só para a passagem de peões. Esta medida apesar de ser bastante eficaz, reduz em pelo menos 28,9%
os atropelamentos nos estudos realizados, interfere com todo o sistema de gestão de tráfego da cidade
do Porto, sendo necessário haver uma posterior regularização. Como se pode verificar pela figura 47 já
foram realizados vários estudos nesta área, sendo a disparidade dos resultados justificada mais uma
vez pelas eventuais diferenças nas bases de dados usadas. De salientar que os valores apresentam
57
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
reduções de acidentes no intervalo de 28,9% a 44,6%. Relativamente à qualidade das medidas, pode-se
verificar que as duas primeiras são as melhores, sendo-lhe atribuídas 3 estrelas.
Figura 47 - CMF correspondente à introdução de uma nova fase na sinalização luminosa
Para de algum modo direcionar os peões para as passadeiras e impedir a travessia na Rua Dom João
IV pelo lado Norte, propõem-se a introdução de pilaretes metálicos desse lado da rua, que alerta o
peão para um eventual perigo ao fazer aí a travessia. Esta medida teria assim um efeito dissuasivo.
Também poderão ser implementados estes dispositivos na zona anterior às passadeiras para proibir
definitivamente o estacionamento indevido que ocorre até ao limite destas. Ao ocorrer isso garante-se
a distância mínima de visibilidade para os condutores e peões.
58
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 48 - Exemplo dos pilaretes metálicos propostos como medida
Relativamente ao ponto de conflito criado pelos veículos que circulam a partir da Rua Comandante
Rodolfo de Araújo e intersetam a Rua Fernandes Tomás, poderá ser implementado um espelho como o
da figura 49, na Rua Fernandes Tomás que permita aos condutores atravessar para esta rua com
segurança, diminuindo os conflitos com os outros veículos e peões.
De salientar que estas três últimas medidas não têm CMF definido, pelo que, se forem implementadas
é necessário fazer um estudo da eficácia delas e futuramente estabelecer um novo valor de CMF.
Figura 49 - Exemplo do espelho proposto como medida
Além destas medidas, e pelo facto de ser um cruzamento crítico relativamente a acidentes, e carecer
um pouco de iluminação, como se pode ver pela figura 50, sugere-se também a introdução de mais
fontes de iluminação. Esta medida adquire importância no sentido em que uma interseção bem
iluminada reduz em cerca de 11,9% os acidentes noturnos. Assim é sempre algo a destacar e a
ponderar restruturar.
59
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 50 - Pormenor da pouca iluminação na interseção
Figura 51 - CMF relativo à introdução de iluminação no cruzamento
Por fim propõem-se a introdução de estacionamento, em paralelo, na Rua Fernandes Tomás, uma vez
que as características físicas da rua assim o permite, e como foi referido anteriormente, apesar de ser
proibido já acontece em toda a sua extensão.
5.3.
RUA DIOGO BOTELHO
5.3.1.
DESCRIÇÃO DO LOCAL
Primeiramente importa referir que ao contrário do que foi realizado para os dois locais anteriores, esta
rua vai ser analisada numa perspetiva mais abrangente, sendo estudada em toda a sua extensão. A Rua
Diogo Botelho é classificada hierarquicamente como uma via distribuidora principal de dois sentidos.
Apresenta um tráfego médio diário anual (TMDA), relativamente ao ano de 2011, de 20556 veículos
por 24 horas. Este valor foi obtido com base na média das tendências de crescimento entre os anos de
2001 e 2011 de um trabalho anterior [1].
É uma rua muito extensa, ver figura 52, e apresenta um volume elevado de automóveis a circular. Este
tráfego de automóveis, que se reflete também na presença de peões, é justificado pelos polos geradores
de movimento presentes na zona, destacando-se a Universidade Católica Portuguesa-Campus Foz.
60
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 52 - Imagem aérea de uma parte da Rua Diogo Botelho
Além disso é uma zona habitacional, com muitos apartamentos com vários andares e com forte
potencial de desenvolvimento, ver figura 53. Destacam-se também muitos estabelecimentos
comerciais e de restauração que influenciam e justificam também o elevado movimento de veículos e
pessoas.
Figura 53 - Complexos habitacionais e estabelecimentos comerciais presentes na rua
Importa também referir a existência da Escola E.B.1 São João da Foz e do Parque de lazer da
Pasteleira presentes ao longo da rua, que atraem mais pessoas à zona e dão maior importância a este
estudo para a redução da sinistralidade.
O Parque da Pasteleira, que apresenta uma área total de 7 hectares, constitui um elemento fundamental
da estrutura verde da cidade, é um centro de convívio, recreio, lazer e desporto, acolhendo também um
Centro de Educação Ambiental. Em 2009 foi criada uma ciclovia com cerca de 2 km ligando o Parque
da Pasteleira ao Parque da Cidade [31]. Por isso é um ponto de interesse da cidade do Porto e atrai
cada vez mais pessoas à zona, aumentando assim as preocupações na segurança rodoviária e atribui
importância à requalificação total da Rua Diogo Botelho.
61
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 54 - Parque de Lazer da Pasteleira
Denota-se a inexistência de sinalização vertical de aproximação de passagem de peões em algumas
passadeiras, bem como o rebaixamento para a mobilidade por cadeira de rodas. Como se pode
verificar pela figura 55, as marcas em algumas travessias apresentam-se também desgastadas e por
vezes sobrepostas. Por isso é algo a mudar o mais breve possível dada a importância das mesmas na
prevenção da sinistralidade e melhoria da mobilidade e acessibilidade.
Figura 55 - Pormenor passagem de peões
Relativamente ao piso da Rua Diogo Botelho foi possível verificar que apresenta alguns troços em
más condições, apresentando muitas fissuras e com as marcas de desgaste, sendo portanto também
uma das preocupações a assumir, ver figura 56.
62
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 56 - Pormenor pavimento
De referir também que é uma rua bem iluminada e que transmite segurança na maioria da sua
extensão, contudo, e como se pode ver na figura 57 foram registados alguns terrenos abandonados.
Relativamente a casas devolutas não foram assinaladas muitas, sendo o parque habitacional
aparentemente novo.
Figura 57 - Terrenos abandonados presentes na rua
O limite de velocidade é de 50 Km/h.
Ao longo da rua constatou-se que alguns troços não apresentam passeio, ou este não está em boas
condições. Pode-se verificar isso na proximidade da Universidade Católica em que de um lado da rua
o passeio apresenta más condições, tendo como exemplo a figura 58.
63
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 58 - Pormenor do passeio próximo da Universidade Católica
Relativamente ao comportamento dos peões foi possível concluir que a maioria age corretamente e
quando pretende mudar de via recorre às passagens apropriadas. No caso dos condutores verificou-se
que em muitos casos não respeitam os limites de velocidade, facto influenciado por ser uma faixa
bastante larga e uma rua retilínea de longa extensão, que leva a ocorrência de muitas ultrapassagens.
No que se refere ao estacionamento, existe perto dos maiores polos geradores de movimento como é o
caso dos estabelecimentos comerciais e da Universidade Católica. No entanto, e dado o volume
considerável de veículos a circular nesta zona o número de estacionamento é insuficiente. Este
estacionamento é gratuito, sendo feito em paralelo. Importa referir que próximo da Universidade
existem veículos estacionados ao longo da rua em locais que não são permitidos, como se pode ver
pela figura 59. Isto acontece pelo facto desta via ser larga e pelo estacionamento nela não perturbar o
normal funcionamento do tráfego. Assim futuramente seria viável a introdução de mais
estacionamento, uma vez que a rua possui as características físicas para tal e os condutores deixavam
de cometer infracções.
Relativamente ao parque da pasteleira possui estacionamento privado para as pessoas que o pretendam
usufruir.
Figura 59 - Estacionamento indevido próximo da Universidade Católica
64
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De destacar também a existência de paragens de autocarro ao longo da rua que gera movimento extra
de pessoas que importa ser estudado e gerido.
5.3.2
REGISTO DE ACIDENTES
Como foi referido anteriormente neste terceiro local vai se analisar a rua em toda a sua extensão.
Assim, e recorrendo à base de dados usada para o estudo, registou-se cinco vítimas de atropelamento.
Destes cinco registos, três são do sexo feminino e dois do masculino. Relativamente à idade das
vítimas, três pessoas têm idade superior a 45 anos, o que espelha a estatística feita no capítulo anterior,
em que cerca de 63% dos atropelamentos ocorre com vítimas com idade superior a 45 anos.
Como se pode ver pelo quadro 14, dois dos atropelamentos ocorreram atravessando fora da passagem
de peões e a menos de 50 metros de uma. A vítima resultante do atropelamento ocorrido a 31 de
Dezembro de 2006 surgiu inesperadamente na faixa de rodagem de trás de um obstáculo. Também foi
registado um atropelamento aquando da travessia em passagem sinalizada e um atropelamento
aquando do atravessamento fora da passagem de peões a mais de 50 metros de uma, ou quando esta
não existia.
Quadro 14 - Dados dos atropelamentos na Rua Diogo Botelho
Idade
Género
Data
Hora
Gravidade
Proteção
28
F
25-102006
10:42
Ferido
Ligeiro
A pé
51
M
31-122006
13:15
Ferido
Ligeiro
A pé
86
F
15-052007
14:20
Ferido
Ligeiro
A pé
16
F
11-022009
19:30
Ferido
Ligeiro
A pé
49
M
25-112010
16:15
Ferido
Ligeiro
A pé
Ação
Atravessando fora da passagem de
peões, a menos de 50m de uma
passagem
Surgindo inesperadamente na faixa de
rodagem de trás de um obstáculo
Atravessando fora da passagem de
peões, a menos de 50m de uma
passagem
Atravessando em passagem sinalizada
Atravessando fora da passagem de peões
a mais de 50m de uma passagem ou
quando não existia passagem
Como se pode verificar pelo quadro, quatro dos acidentes foram registados em pleno dia e por isso
com boas condições de iluminação. De referir que, pela base de dados da polícia, à data das
ocorrências o piso encontrava-se em bom estado, exceção no acidente ocorrido a 11 de Fevereiro de
2009 em que o piso estava em estado regular. As condições climatéricas eram favoráveis em todos os
acidentes, estando bom tempo.
Faz-se ressalva a que não houve nenhuma vítima mortal, sendo apenas registados feridos ligeiros.
5.3.2.1 REGISTO DOS HOSPITAIS E CLASSIFICAÇÃO MAIS
Como aconteceu nos dois locais estudados anteriormente, houve grande dificuldade de cruzamento de
dados entre a base de dados usada e a base dos hospitais, sendo que, só para a vítima de 28 anos
resultante do acidente ocorrido a 25 de Outubro de 2006 foi possível encontrar correspondência.
65
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Apesar disso, não nos foi possível retirar mais dados clínicos, uma vez que a base de dados do hospital
apenas tinha a hora de entrada do paciente.
Relativamente à classificação MAIS não foi possível obter dados porque a única vítima encontrada na
base, apresentava apenas ferimentos ligeiros e por isso provavelmente não foi internada.
5.3.3.
IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DOS ATROPELAMENTOS
Como se pode ver pela figura 60 a rua em estudo é bastante larga, e como apresenta muitos troços
retilíneos propicia a ultrapassagens e a práticas de velocidades elevadas, principalmente durante a
noite pois o volume de tráfego é consideravelmente mais reduzido. Como o limite de velocidade
(50Km/h) é muitas vezes ultrapassado, e é uma zona com muito movimento de pessoas, pelos vários
polos evidenciados anteriormente, é necessário intervir para de algum modo induzir o condutor a
adotar velocidades adequadas e diminuir a probabilidade de ocorrência de acidentes. Uma vez que ao
adotaram velocidades superiores, os condutores vão ter menos tempo de reagir e podem ocorrer pontos
de conflito com os peões que estão a circular.
Figura 60 - Caraterísticas da rua que propiciam excessos de velocidade
De notar que no período em que ocorreu recolha de dados foi registado que alguns condutores
ultrapassavam em zonas de linhas contínuas, e por isso é fulcral intervir na zona para haver uma
redução das velocidades praticadas e dos comportamentos incorretos.
Outro dos aspectos registados foi o desgaste das marcas das linhas do pavimento e o mau estado que
este apresenta em algumas zonas, como se pode verificar na figura 61. É um dos aspectos a melhorar
visto que a marcação do pavimento e o bom estado deste, são determinantes para reduzir os acidentes,
induzindo o condutor nas atitudes a adotar.
66
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 61 - Estado do pavimento em algumas zonas
As passadeiras existentes estão em certas zonas muito distanciadas entre si, o que leva a que os peões
prefiram correr o risco de passar fora das mesmas em vez de percorrer uma longa distância para
atravessar de forma segura. Esta situação é ainda agravada pelo facto de existirem muitas paragens de
autocarro ao longo da rua.
A grande largura da rua, combinada com as velocidades elevadas e a falta de passagens para peões são
fatores que propiciam a ocorrência de atropelamentos.
Relativamente às passadeiras importa também referir que algumas apresentam as marcas com
desgastes e sobrepostas, o que causa confusão quer ao peão como ao condutor e pode provocar
também acidentes, figura 62. De destacar também a ausência em algumas travessias de sinalização
vertical de aproximação de passagem de peões, que não induz deste modo o condutor a adotar
comportamento mais defensivo, sendo portanto algo a melhorar.
Figura 62 - Pormenor de uma passadeira que está em mau estado e com as marcas sobrepostas
67
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De referir também, que alguns carros estavam estacionados indevidamente ao longo da rua, nas
proximidades da Universidade Católica (figura 63). Isto acontece dada a grande afluência a esta
instituição e por o estacionamento na via não perturbar o normal funcionamento do trânsito. Nesse
sentido, os carros ao estacionarem em locais que não lhe são destinados criam por si pontos de conflito
em particular com os peões, tornando-se obstáculos que diminuem o ângulo de visão entre peões e
condutores. Assim torna-se importante proibir definitivamente o estacionamento nestas zonas ou
estruturar a rua e implementar estacionamento, visto que as características físicas da via assim o
permite.
Figura 63 - Estacionamento indevido próximo da Universidade Católica
5.3.4.
MEDIDAS MITIGAÇÃO
As medidas para esta rua foram escolhidas pensando na restruturação total da via, e assim contribuir
para a homogeneidade da zona. Para isso, e com base nas características da zona, nos fatores de risco
identificados e nos indicadores disponíveis foram analisados os CMFs disponíveis.
Após a delineação da lista final, retirou-se os que já se encontravam de alguma forma aplicados, como
por exemplo a boa iluminação, e aqueles que resultassem em custos insuportáveis para a conjuntura
atual, tentando obter a melhor relação custo/beneficio. Restringiu-se a escolha também aqueles cujo
valor do CMF fosse inferior a 1 para acidentes em que resultassem atropelamentos, visto que se
pretende diminuir a sinistralidade rodoviária a este nível.
Face ao exposto, e pelas características do local, decidiu-se em primeiro lugar propor a introdução de
mais sinalização vertical, nomeadamente nas proximidades de travessias de peões visto que em
algumas passadeiras carece desta. Esta medida assume relevo no sentido em que alerta os condutores
para um eventual ponto de conflito com peões. Além disso e como se pode ver na figura 64 a
introdução de sinais diminui todo o tipo de acidentes em cerca de 17% em zona urbana.
68
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Figura 64 - CMF correspondente à introdução de sinalização vertical
Outra das medidas propostas e que implica uma restruturação total da via é a introdução ao longo da
rua de passeios, visto que em alguns troços estes não existem, ou apresentam-se em mau estado. Esta
medida vai fazer com que a zona deixe de ser focada nos veículos, dando maior importância ao peão.
Além dos passeios também é importante melhorar as marcas da estrada, visto que estas já se
encontram bastantes desgastadas. Relativamente ao pavimento, apresenta alguns troços em muito mau
estado, por isso sugere-se aumentar o atrito em toda a rua. Esta medida, como podemos ver na figura
65, apresenta uma ótima qualidade, e reduz cerca de 24% todos os acidentes. Sendo que, quando a
estrada se encontra molhada o valor pode chegar aos 57%.
Figura 65 - CMF correspondente ao aumento do atrito do pavimento
Como foi referido anteriormente a prática de velocidades excessivas é uma recorrente neste local, e
por isso, é provavelmente a principal causa de acidentes. Assim, e como existe um elevado número de
peões a circular na zona, devido aos polos evidenciados anteriormente, aumentam os possíveis pontos
de conflito que podem levar à ocorrência de atropelamentos. Nesse sentido é fulcral controlar a
velocidade ao longo da rua.
Por conseguinte, e para além introdução de passeios, referida anteriormente, sugere-se também
aumentar a largura destes, diminuindo a largura da faixa de rodagem. Com isso, e de acordo com o
69
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
novo conceito de mobilidade sustentável e/ou “a cidade para os peões”, a rua passa a centrar-se mais
no peão e paralelamente ocorre uma redução da velocidade praticada pelos veículos na zona.
Além disso propõem-se a instalação de sinais individuais de alerta de velocidade, ao longo da rua,
correspondendo a um CMF de 0.59. Esta medida representa um decréscimo de cerca de 41% no
número total de acidentes com vítimas graves e ligeiras independentemente do tipo de sinistro. No
entanto, os resultados associados à avaliação da medida têm uma qualidade muito baixa, apenas uma
estrela em cinco, segundo o CMFclearinghouse. Sendo assim, seria necessário fazer estudos
complementares para aferir a eficácia na zona em estudo.
Os sinais individuais variáveis de alerta de velocidade avisam os condutores da velocidade instantânea
a que circulam dando um alerta através de um ecrã. Existem várias maneiras de aplicar esta medida:
uma seria um alerta simples através de cores, como o evidenciado na figura 66, em que aparece verde
se a velocidade é abaixo da indicada para o local, amarelo se a velocidade é muito próxima mas ainda
abaixo ou igual à indicada para o local e vermelho se a velocidade for acima do limite legal; ou
implementação de um ecrã que mostrasse a velocidade a que o veículo circula.
Figura 66 - Sistema controlo de velocidade por cores
Em vez destes sistemas, pode ser implementado o sistema que já existe por exemplo na Via de Cintura
Interna (figura 67), em que apareça um sinal luminoso num ecrã, com o limite de velocidade legal no
local, sempre que um veículo circule acima desse limite. Estes dispositivos podem não ser providos de
câmara que registe os veículos que não cumprem a lei, sendo o seu principal objetivo a sensibilização
dos condutores para que estes adaptem a velocidade ao limite local [1].
Figura 67 - Sistema controlo de velocidade sugerido
70
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
De salientar que estes dois sistemas, que permitem controlar a velocidade, devem estar bem visíveis e
legíveis de modo a sensibilizar os condutores. Podendo também haver sinalização complementar para
alertar para a presença dos mesmos, mas tendo sempre especial cuidado para não haver sobreposição
de sinalização, que poderia levar a uma leitura confusa por parte dos condutores.
Não se optou por instalar câmaras de controlo nem registo dos veículos que circulam acima da
velocidade legal porque esta medida pretende apenas sensibilizar, e evita-se também os custos
excessivos que advém da necessidade de criação de uma entidade que seria responsável pelos registos
captados e que, de seguida, efectuasse todo o trabalho de identificação dos veículos, notificação dos
condutores e garantisse também o pagamento da coima.
Por fim propõem-se a introdução de estacionamento, em paralelo, na proximidade da Universidade
Católica, uma vez que as características físicas da via assim o permite, e como foi referido
anteriormente, apesar de ser proibido já acontece numa extensão considerável da rua.
71
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
6
CONCLUSÃO
A sinistralidade na cidade do Porto é uma das mais altas do País tendo mesmo o número de vítimas
mortais mais elevado dos últimos anos. Assim é necessário combater esta realidade, não só na cidade
do Porto mas no País em geral, uma vez que é uma problemática atual, tornando-se assim este trabalho
um bom indicador de análise e um instrumento para a redução da sinistralidade.
O trabalho teve como foco o peão e os atropelamentos porque como foi referido o número de
atropelamentos é atualmente muito elevado e a deslocação pedonal é uma das apostas da Comissão
Europeia. Nesse sentido importa delinear metas e definir medidas para tornar o modo pedonal mais
seguro e as estradas mais vocacionadas para o peão, tornando assim o caminhar um modo mais
frequente.
Para tal, é necessário intervir, proporcionar melhores condições de segurança ao peão, implementar
medidas e exigir empenho e tomada de decisões por parte dos governos, da indústria, organizações
não-governamentais e organizações internacionais para que a sinistralidade possa diminuir.
Só com o empenho e interligação de todos conseguimos diminuir esta problemática atual.
Assim o presente estudo adquire elevada importância uma vez que se foca nos atropelamentos e em
toda a sua problemática evidenciando medidas para a sua redução.
Em primeiro lugar realizou-se uma análise da sinistralidade na cidade do Porto, denotando desde logo
o elevado número de acidentes, facto esse expectável já que a sinistralidade no Porto é uma das mais
altas do País. Analisou-se primeiramente a generalidade dos acidentes, definindo a localização, idade e
sexo das vítimas e a sua gravidade. Posteriormente deu-se relevo aos atropelamentos que são o
principal foco de estudo, tendo-se analisado a idade e sexo das vítimas, a localização dos sinistros e a
gravidade dos feridos.
Após analisar a sinistralidade rodoviária e os atropelamentos foi possível destacar os locais com maior
acumulação de acidentes e por isso os locais que seriam mais propícios a intervir.
A escolha final destes locais foi feita de forma a abranger pontos com maior registo de atropelamentos
e vias com tipologias diferentes, para que o tratamento dos locais fosse o mais diferenciado possível e
abrangesse mais informação para utilização futura noutros locais. Sendo estes os critérios que levaram
à definição dos três locais escolhidos.
Com vista à concretização do principal objetivo deste trabalho, ou seja, a delineação e aplicação de
medidas de mitigação, iniciou-se o estudo pela análise dos locais escolhidos e registou-se as
características das vias, apurando a sua tipologia, tráfego médio diário anual, mobiliário urbano
existente, condições do pavimento, existência ou não de parques de estacionamento, condições de
73
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
visibilidade e iluminação, comportamento dos condutores e peões, entre outros aspetos. Após a
caraterização e descrição dos locais, procedeu-se à análise e registo das vítimas que ocorreram no local
e identificou-se as possíveis causas dos acidentes.
Com estas informações, e com os indicadores apresentados foi possível estipular as medidas mais
indicadas para reduzir os atropelamentos nas zonas em estudo. Estas medidas foram selecionadas com
base no Highway Safety Manual e no portal online da CMF Clearinghouse. A utilização destas
ferramentas facilitou o processo de decisão, na medida em que a seleção das medidas é ponderada com
base em estudos anteriores. Estas ferramentas, em particular o portal online, são alimentadas pela
implementação de medidas e sua monitorização para que a partir de estudos antes e depois se consiga
aferir da eficácia das mesmas.
Assim, através de uma futura aplicação das medidas nos locais estudados, bem como noutros com
caraterísticas similares, é possível atuar diretamente na redução da sinistralidade bem como contribuir
para o alargamento do estudo da eficácia das medidas.
Nesse sentido este trabalho assume desde logo um papel preponderante na Segurança Rodoviária, e
reafirma a necessidade de encará-la como um Desafio Nacional, enaltecendo a importância de
estabelecer objetivos de médio e longo prazo, não aceitando como inevitáveis os atropelamentos,
porque a redução ou eliminação dos riscos enfrentados pelos peões é um importante e viável objetivo
político e social.
De salientar também a importância dos Municípios adotarem Planos Municipais de Segurança
Rodoviária uma vez que são ferramentas importantes na redução da sinistralidade e permitem um
processo de seleção de medidas mais cuidadoso e preciso. No caso da cidade do Porto o Plano
Municipal de Segurança Rodoviária seria uma mais valia definindo como um dos objetivos
estratégicos a redução do número de atropelamentos. Para tal podiam ser elaborados planos que
destacassem as medidas mais apropriadas a implementar e os objetivos a alcançar, tal como ocorreu
nos casos apresentados. No caso particular da Praça das Flores seria ainda fulcral a introdução de
planos de sensibilização e educação dada a proximidade da Escola das Flores, para alertar as pessoas
sobre o comportamento que devem adotar.
74
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1]
Salvador, Ana. Fatores de risco de acidentes com vítimas e estudo das medidas de mitigação.
Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2014.
[2]
Ferreira, Sara e Amorim, Marco. LIVE - Tools to Injury Prevention - Delivery 1. Universidade
do Porto - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2014.
[3]
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75
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Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
77
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
78
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ANEXOS
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ANEXO I
Conceitos relacionados com acidentes
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Acidente: Ocorrência na via pública ou que nela tenha origem envolvendo pelo menos um veículo, do
conhecimento das entidades fiscalizadoras (GNR, GNR/BT e PSP) e da qual resultem vítimas e/ou
danos materiais.
Acidentes com vítimas: Acidente do qual resulte pelo menos uma vítima.
Acidente mortal: Acidente do qual resulte pelo menos um morto.
Acidente com feridos graves: Acidente do qual resulte pelo menos um ferido grave, não tendo
ocorrido qualquer morte.
Acidentes com feridos leves: Acidente do qual resulte pelo menos um ferido leve e em que não se
tenham registado mortos nem feridos graves.
Vítima: Ser humano que em consequência de acidente sofra danos corporais.
Morto ou vítima mortal (no local): Vítima de acidente cujo óbito ocorra no local do evento ou no
seu percurso até à unidade de saúde.
Vítima mortal a 30 dias: Vítima cujo óbito ocorra no período de 30 dias após o acidente. (Para obter
o número de mortos a 30 dias, aplica-se a este valor um coeficiente de 1,14).
Ferido grave: Vítima de acidente cujos danos corporais obriguem a um período de hospitalização
superior a 24 horas.
Ferido leve: Vítima de acidente que não seja considerada ferido grave.
Condutor: Pessoa que detém o comando de um veículo ou animal na via pública.
Passageiro: Pessoa afecta a um veículo na via pública e que não seja condutora.
Peão: Pessoa que transita na via pública a pé e em locais sujeitos à legislação rodoviária.
Consideram-se ainda peões todas as pessoas que conduzam à mão velocípedes ou ciclomotores de
duas rodas sem carro atrelado ou carros de crianças ou de deficientes físicos.
Índice de gravidade: Número de mortos por 100 acidentes com vítimas.
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
ANEXO II
Boletim Estatístico de Acidentes de Viação
Aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: Casos de estudo
Instrumento de notação registado no I.N.E., sob o n.º 10111, válido até
31/12/2014
(Reservado ao carimbo da unidade)
Nº Boletim
Entidade
Fiscalizadora
Ministério da Administração Interna
BOLETIM ESTATÍSTICO DE ACIDENTES DE VIAÇÃO
A - a preencher em todos os acidentes
3. 1
Sem berma ou impraticável
2
Berma não pavimentada
3
Berma pavimentada
4. SITUAÇÃO DO ACIDENTE
1
Em plena via
2
Na berma
3
No passeio
4
Em via ou pista reservada
5
Em parque de estacionamento
5. INTERSEÇÃO DE VIAS
1
Fora da interseção
A - IDENTIFICAÇÃO DO ACIDENTE
A1 DATA/HORA
Ano
Mês
Dia
Hora
Min.
A2 LOCALIZAÇÃO
Fora das localidades
Dentro das localidades
2. Distrito
1.
Concelho
Freguesia
2
3
4
5
Povoação (ou a mais próxima)
Coordenadas GPS
Latitude
Longitude
,
,
+
-
3. Designação de via
,
Km
Arruamento
n.º
4. Se houver separador central indique em que sentido
1
2
Crescente
Decrescente
A4 NATUREZA DO ACIDENTE
Ciclomotor e motociclo
Veículo ligeiro
Veículo pesado
Outros
A6 CONDUTORES INTERVENIENTES
1. SEXO
A B C
1
Masculino
2
Feminino
2. DATA DE NASCIMENTO
Ano Mês Dia
A
Ano
B
Mês
Ano
Mês
Dia
B - CIRCUNSTÂNCIAS EXTERNAS
B1 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA VIA
1. ESTRADA COM SEPARADOR
1 Autoestrada — nº de vias de trânsito no sentido
2 Outra via — nº de vias de trânsito no sentido
2. ESTRADA SEM SEPARADOR — nº de vias no sentido
3. VIA DE TRÂNSITO
1
Esquerda
2
Direita
3
Central
B2 TRAÇADO DA VIA
1. EM PLANTA
1
Reta
2
Curva
2. EM PERFIL
1
Em patamar
2
Com inclinação
3
Em lomba
Dia
Em pleno dia
Sol encandeante
Aurora ou crepúsculo
Noite, sem iluminação
Noite, com iluminação
B7 FATORES ATMOSFÉRICOS
1
2
3
4
5
6
7
Bom tempo
Chuva
Vento forte
Nevoeiro
Neve
Nuvem de fumo
Granizo
C - NATUREZA DO ACIDENTE
1. FAIXA DE RODAGEM COM
COLISÃO
1. TIPO DE PISO
A5 NÚMERO DE VEÍCULOS INTERVENIENTES
1
2
3
4
5
DESPISTE
B4 PAVIMENTO
Despiste
Colisão
Atropelamento
C
Em interseção desnivelada
B6 LUMINOSIDADE
6
Em via de aceleração
7
Em via de desaceleração
8
Em ramo de ligação — entrada
9
Em ramo de ligação — saída
6. ACIDENTE EM OBRAS DE ARTE
1
Túnel
2
Viaduto/Ponte
3
Passagem estreita
1
Sentido único
2
Dois sentidos
3
Reversível
2. VELOCIDADE PERMITIDA NO LANÇO
Limite geral
Km/h
Km/h
Limite local
Acidente só com danos materiais
Acidente com vítimas
Mortos
Feridos graves
Feridos leves
1
2
3
Em interseção de nível
Em cruzamento
Em entroncamento
Em rotunda
Em passagem de nível
B3 REGIME DE CIRCULAÇÃO
A3 TIPO DE ACIDENTE
1
2
B e seguintes - a preencher apenas em acidentes com vítimas
1
Terra batida
2
Betuminoso
3
Betão de cimento
4
Calçada
2. ESTADO DE CONSERVAÇÃO
1
Em bom estado
2
Em estado regular
3
Em mau estado
3. OBSTÁCULOS OU OBRAS
1
Inexistentes
2
Não sinalizados
3
Insuficientemente sinalizados
4
Corretamente sinalizados
4. CONDIÇÕES DE ADERÊNCIA
1
Seco e limpo
2
Húmido
3
Molhado
4
Com água acumulada na faixa de rodagem
5
Com gelo, geada ou neve
6
Com lama
7
Com gravilha ou areia
8
Com óleo
B5 SINALIZAÇÃO
1. MARCAS NO PAVIMENTO
1
Sem marcas rodoviárias ou pouco visíveis
2
Com marcas — separadoras de sentido de trânsito
Com marcas — separadoras de sentido e de vias de trânsito
3
2. SINALIZAÇÃO LUMINOSA
1
Inexistente
2
A funcionar normalmente
3
Intermitente
4
Desligada
3. SINAIS
1
Stop
2
Cedência de passagem
3
Proibição de ultrapassagem
4
Passagem de peões
5
Outros
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
Despiste simples
Com transposição do separador central
Com dispositivo de retenção
Sem dispositivo de retenção
Com transposição do dispositivo de retenção lateral
Com capotamento
Com colisão com veículo imobilizado ou obstáculo
Com fuga
Frontal
Traseira com outro veículo em movimento
Lateral com outro veículo em movimento
Com veículo ou obstáculo na faixa de rodagem
Choque em cadeia
Com fuga
Outras situações
ATROPELAMENTO
De peões
15
16
De animais
17
Com fuga
Incêndio posterior. A B C
A preencher no caso de se verificar
D - VEÍCULOS INTERVENIENTES
D1 CATEGORIA/CLASSE
1. VEÍCULOS A, B e C
A B C
1
Velocípede
2
Velocípede c/motor
3
Ciclomotor
4
Triciclo
5
Motociclo cilindrada ≤ 125cc
6
Motociclo cilindrada > 125cc
7
Automóvel ligeiro
8
Automóvel pesado
9
Veículo agrícola
10
Máquina industrial
11
Veículo sobre carris
12
Veículo de tração animal
13
Quadriciclo
14
Desconhecido
2. Se for automóvel ligeiro ou pesado, indicar o tipo:
1
2
3
4
5
A B C
Passageiros
Mercadorias
Misto
Trator
Veículo especial. Qual?
3.
1
2
A B C
2.
Sem semireboque/reboque
Com semireboque/reboque
3.
D2 TIPO DE SERVIÇO
1
2
A B C
D3 ANO DE MATRÍCULA
B
C
D4 INSPEÇÃO PERIÓDICA
1
2
3
A B C
1. Preencher apenas no caso de transporte de mercadorias perigosas
A B C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
1. CARGA/LOTAÇÃO
Sem carga
Com excesso de carga
Carga bem acondicionada
Carga mal acondicionada
Com lotação excedida
A B C
1
Sem deficiência
2
Com deficiência
3. TACÓGRAFO
A B C
Sem tacógrafo ou desativado
Com tacógrafo
2.
A B C
Com seguro
Sem seguro
Isento
E1 CARACTERÍSTICAS DA HABILITAÇÃO DE CONDUÇÃO
1. LICENÇA/CARTA DE CONDUÇÃO
A B C
1
Com licença/carta adequada ao veículo
2
Com licença/carta não adequada ao veículo
3
Em situação de instrução/exame
4
Caducada/suspensa
5
Sem licença/carta
6
Não necessária ao veículo que conduz
2. PAÍS DE EMISSÃO
A B C
1
2
3
A B C
B
C
1
2
3
4
C
Válido
Sem validade
Inexistente
E2 CONDIÇÕES PSÍCO/FÍSICAS
1.
2
3
4
5
6
7
A B C
Início de marcha
Saída de parqueamento ou rua particular
Em marcha normal
Ultrapassagem pela esquerda
Ultrapassagem pela direita
Mudança de direção para a esquerda
Mudança de direção para a direita
Marcha atrás
Circulação em sentido oposto ao estabelecido
Travagem brusca
Parado ou estacionado
Inversão do sentido de marcha
Trânsito em filas paralelas
Mudança de via de trânsito para a esquerda
Mudança de via de trânsito para a direita
Desvio brusco/saída de fila de trânsito
Atravessando a via
(Ver esquema em anexo)
A B C
Desrespeito da sinalização vertical
Desrespeito das marcas rodoviárias
Desrespeito da sinalização semafórica
Manobra irregular
Velocidade excessiva para as condições existentes
Não sinalização da manobra
Desrespeito das distâncias de segurança
Circulação afastada da berma ou passeio
Rebentamento pneumático
Queda de carga ou objeto
Falha mecânica do veículo
Ausência de luzes quando obrigatórias
Obstáculo imprevisto na faixa de rodagem
Abertura de porta
Encandeamento
Não identificada
Submetido ao teste de alcoolemia
Não submetido por
Doença
Lesão ou morte decorrente do acidente
Condutor não contactado na altura do acidente
Fuga
Recusa
Outra
A B C
Capacete
Cinto de segurança
Sem uso de cinto/capacete
Isento
F - CONSEQUÊNCIAS DO ACIDENTE
F1 CONDUTORES VÍTIMAS
1.
CONTROLO DO NÍVEL DE ALCOOLEMIA
A B C
1
Menos de 1 hora
De 1 a 3 horas
De 3 a 5 horas
Mais de 5 horas
Ignorada
E5 ACESSÓRIOS DE SEGURANÇA
1
Portugal
2
Outro(s) A
B
3. ANO DA HABILITAÇÃO
Relativamente ao veículo que conduzia
A
A B C
ESQUEMA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
E - CONDUTORES INTERVENIENTES
4. CERTIFICADO ADR
C
,
E4 INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR A AÇÕES
E MANOBRAS
D7 SEGURO
1
2
3
B
,
E3 AÇÕES E MANOBRAS ANTES DO ACIDENTE
D6 CARGA/LOTAÇÃO/PNEUS
1
2
OUTROS FATORES
A B C
1.
1
Válido
2
Sem validade
3
Inexistente
2. MATÉRIA/OBJETO PERIGOSO TRANSPORTADO
1
2
3
4
5
2. PNEUS
A
1
2
3
4
5
Não obrigatória
Válida
Sem validade
D5 CERTIFICADO ADR
A B C
,
1
Normal
2
Droga por despistagem
3
Sono/sonolência
4
Distração
5
Doença súbita
6
Fadiga
4. TEMPO DE CONDUÇÃO CONTINUADA
Particular
Público
A
TAXA DE ALCOOLEMIA
GRAU DE GRAVIDADE DAS LESÕES
A B C
1
2
3
Morto
Ferido grave
Ferido leve
2. IDADE
a
b
i
j
r
s
c
d
l
m
t
u
3. POSIÇÃO NO VEÍCULO
a b c d
1
2
3
F3 PEÕES VÍTIMAS
1. SEXO
2.
a b c d
1
2
1
2
SEXO
a b c d
i j l m
r s t u
Masculino
Feminino
a b c d
1
2
3
Peão isolado
Peões em grupo
Conduzindo à mão velocípedes, carros de crianças ou
de deficientes físicos
Deslocando-se sobre patins, trotinetes ou outros
4
3. IDADE
a
b
c
d
4. CONDIÇÕES PSÍCO-FÍSICAS
1
2
3
4
a b c d
Sem restrições
Com visão deficiente
Com audição deficiente
Com deficiência motora
Influenciada pelo álcool
b
a
5
,
,
,
c
,
1
2
a b c d
A sair ou entrar num veículo
Surgindo inesperadamente na faixa de rodagem de
trás de um obstáculo
3
Em plena faixa de rodagem
4
Em trabalhos na via
5
Atravessando fora da passagem de peões, a menos
de 50 m de uma passagem
6
Atravessando fora da passagem de peões a mais
de 50 m de uma passagem ou quando não exista
passagem
7
Atravessando em passagem sinalizada
8
Atravessando em passagem sinalizada com desrespeito da sinalização semafórica
9
Em ilhéu ou refúgio na via
10
Transitando pela direita da faixa de rodagem
11
Transitando pela esquerda da faixa de rodagem
12
Transitando pela berma ou passeio
6. UTILIZAÇÃO DE MATERIAL REFLETOR
a b c d
1
Sim
2
Não
7. GRAVIDADE DAS LESÕES
a b c d
1
Morto
Ferido grave
2
3
Ferido leve
/
/
Número de boletins utilizados neste acidente
Nome
Masculino
Feminino
d
5. AÇÕES
Veículo A Veículo B Veículo C
1.
r s t u
À frente
À retaguarda
Desconhecido
4. USO DE ACESSÓRIOS DE SEGURANÇA
a b c d i j l m r s t u
1
C/ capacete/cinto segurança
2
C/ sistema retenção de crianças
3
S/ uso capacete/cinto segurança
4
S/ sistema retenção de crianças
5. GRAU DE GRAVIDADE DAS LESÕES
a b c d i j l m r s t u
1
Morto
2
Ferido grave
3
Ferido leve
4
Ileso
DATA
F2 PASSAGEIROS VÍTIMAS
i j l m
(Posto)
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aplicação de medidas de mitigação em acidentes com peões: casos