VISITA GUIADA AO MUSEU DA VIDA COMO ESTRATÉGIA DE
FOMENTO À REFLEXÃO SOBRE DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
Carlos Eduardo da Silva FILOMENO
[email protected]
BOLSISTA PIBID/CAPES/UERJ
Débora de Aguiar LAGE
[email protected]
COORDENADORA PIBID/CIÊNCIAS BIOLÓGICAS/CAP-UERJ
RESUMO
Doenças negligenciadas são enfermidades que estão relacionadas à pobreza, situações de desvantagem
socioeconômica e à falta de investimento no desenvolvimento de novas drogas e vacinas. No Brasil, o Programa
de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas listou sete doenças que configuram o quadro de
prioridades no país, a saber: Dengue, Doença de Chagas, Esquistossomose, Hanseníase, Leishmanioses, Malária
e Tuberculose. Porém, na maioria das vezes, a temática saúde é trabalhada no ambiente escolar de forma
tradicional, higienista e prescritiva. Sendo assim, este estudo teve o intuito de trabalhar com os estudantes as
principais doenças negligenciadas no Brasil, fomentando uma visão crítica e reflexiva sobre saúde, a partir de
uma visitação guiada a um espaço não-formal de ensino. A pesquisa, de caráter quantitativo e qualitativo, foi
desenvolvida com alunos do Ensino médio de um colégio estadual do Rio de Janeiro. Inicialmente, os alunos
foram questionados sobre seus conhecimentos acerca do assunto e posteriormente realizaram uma atividade
no Museu da Vida, na Fiocruz, onde participaram de uma aula sobre história, curiosidades e os principais
cientistas que iniciaram e alavancaram o desenvolvimento da pesquisa em saúde no Rio de Janeiro e no Brasil.
Ainda na Fiocruz, os estudantes foram recebidos por um pesquisador titular da casa, para um diálogo informal e
enriquecedor sobre questões atuais relacionadas à Ciência e à Educação em saúde. Após a realização das
atividades, foi possível concluir que os procedimentos desenvolvidos durante a visita guiada ao Museu da Vida
foram capazes de proporcionar ganhos cognitivos, científicos e críticos aos alunos visitantes. Neste sentido,
concluímos que o Museu da Vida, como um espaço não-formal de ensino, revela-se uma opção promissora,
principalmente no fomento às discussões, reflexões e aprendizagem das Doenças negligenciadas no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Espaço não-formal - Reflexão - Doenças negligenciadas.
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1. INTRODUÇÃO
1.1 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
O termo Doenças negligenciadas caracteriza-se como o conjunto de doenças causadas
por agentes infecciosos e parasitários (vírus, bactérias, protozoários e helmintos), os quais são
endêmicos em populações de baixa renda, que vivem principalmente em países em
desenvolvimento na África, Ásia e nas Américas (ABC, 2010).
Segundo a ANVISA (2007), as Doenças negligenciadas têm como características
comuns o elevado endemismo nas áreas rurais e nas áreas urbanas menos favorecidas de
países em desenvolvimento. Além disso, são doenças que apresentam escassez de pesquisas
científicas, pouco financiamento pelas agências de fomento e pouco investimento econômico
para o desenvolvimento de novos fármacos, seja por sua baixa prevalência, ou por atingir
preferencialmente a população de regiões com baixo nível de desenvolvimento.
Neste sentido, o predomínio das doenças negligenciadas é atribuído principalmente a
quatro fatores: (I) falha na ciência – conhecimentos não são suficientes; (II) falha de mercado –
medicamentos ou vacinas são inexistentes ou apresentam um custo restritivo; (III) falha de
saúde pública – medicamentos baratos ou gratuitos que não são utilizados devido ao
planejamento deficiente (MOREL, 2006); e (IV) falha de acesso à informação – ausência ou
inacessibilidade a informações sobre doenças negligenciadas (PIMENTA, 2008).
No Brasil, o Ministério da Saúde através do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento
em Doenças Negligenciadas, definiu em 2006, a lista com as sete doenças que configuram o
quadro de prioridades no programa de doenças negligenciadas. São elas: Dengue, Doença de
Chagas, Esquistossomose, Hanseníase, Leishmanioses, Malária e Tuberculose (BRASIL, 2010).
No ambiente escolar, estas doenças geralmente são estudadas nas disciplinas de
Ciências e Biologia. Entretanto, em muitos casos, a forma como são trabalhadas com os alunos
se limita à prevenção e ao tratamento das doenças, ou seja, prevalecendo uma metodologia
descritiva e sem significado para o discente. Segundo Mohr (2002), embora nas últimas
décadas, a compreensão sobre saúde tenha mudado de uma perspectiva exclusivamente
individual, para tornar-se um processo mais amplo, dinâmico e com cunho socioeconômico,
cultural e ambiental, as atividades de “Educação em Saúde” no cenário escolar continuam a
ser trabalhadas com enfoques ultrapassados, com ênfase em objetivos comportamentalistas e
sanitaristas, inadequados em uma situação de educação para a formação do cidadão.
Assim, pode-se observar que as práticas desenvolvidas sob a designação de “Educação
em Saúde”, na verdade, constituem atividades semelhantes às estratégias de marketing e de
campanhas emergenciais de saúde pública, as quais objetivam fortemente e talvez
unicamente, a mudança de comportamento (VENTURI e MOHR, 2011, p. 2). Este modelo está
diametralmente oposto ao que seria desejável em se tratando de escola/ensino/educação,
uma vez que a escola visa o desenvolvimento de habilidades cognitivas, de raciocínio, de
reflexão e de senso crítico nos alunos.
Neste sentido, a fim de fomentar reflexões e efetivar uma aprendizagem significativa
relacionada à saúde, procuramos trabalhar as principais doenças caracterizadas como
negligenciadas no Brasil, de forma crítica, diferenciada, distante dos padrões presentes nos
livros didáticos, que enfatizam agentes etiológicos e profilaxias. Assim, buscou-se estimular a
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reflexão dos alunos para uma série de condições políticas, econômicas e sociais que favorecem
a ocorrência de diversas enfermidades no país e no mundo, e para isso utilizou-se estratégias
como visitação a espaço não-formal de ensino.
1.2 ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE ENSINO
A escola busca abordar os problemas sociais com intuito de formar o cidadão crítico,
mas é difícil a sua compreensão na dimensão real, sem ter um contato mais próximo dessas
situações. Desta forma, uma alternativa possível é flexionar a educação escolar e buscar
parcerias e colaboração com outras instituições e espaços, o que é quase natural (SANTOS e
TERÁN, 2013). Neste cenário, espaços não-formais de ensino, isto é, aqueles que se opõem ao
modelo formal de controle e estrutura dada pela instituição escola, se inserem como
estratégias enriquecedoras no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que oferecem ao
educador e ao educando uma forma interativa e dinâmica de construção de conhecimento,
além do ensino formal, o mais frequente dentro de nossas escolas.
Santos e Terán (2013, p.9) conceituam o ensino não-formal, formal e informal da
seguinte maneira:
Educação ou ensino não formal é a aprendizagem por meio de
estabelecimento e ambiente reconhecido de divulgação cultural ou
científica, não sendo necessária a certificação oficial do Estado, ou que
obrigue a um programa de estudos;
Educação ou ensino formal é a aprendizagem por meio de estabelecimento
e ambiente reconhecido de ensino com certificação e programa de estudos;
Educação ou ensino informal é a aprendizagem não delimitada por
planejamento de programa de estudo, tempo e local, nem sistematizado
sobre algum conteúdo, pois ocorre espontaneamente em contato com as
interações sociais;
Em relação ao espaço não-formal, formal e informal, os autores apontam que:
Espaço formal é o local pertencente ao estabelecimento reconhecido de
ensino, onde o aluno estuda. Logo, utilizar um espaço das dependências do
estabelecimento, mesmo fora da sala de aula, não configura uso de Espaços
Não Formal, pois ainda pode-se utilizar da estrutura física e do seu contexto
sócio-institucional;
Espaço Não Formal é o local externo e não pertencente ao estabelecimento
reconhecido de ensino. Podendo ser: a) institucionalizado, pois pertence a
uma pessoa jurídica como instituição privada ou pública; b) não
institucionalizado, porque não pertence a qualquer organização (pessoa
jurídica);
Espaço informal não é necessária discriminação, pois não ocorre processo
de ensino-aprendizagem planejado.
Para Santos e Terán (2013), a utilização dos espaços não-formais está ligada aos
pressupostos teóricos de diversas tradições, uma vez que este conceito é uma forma crescente
de uso metodológico diversificado para o desenvolvimento de conteúdos escolares. Neste
caso, os ambientes formais de ensino são criticados por sua aridez e baixa interatividade com a
realidade do mundo que se estuda. Assim, considerando que muitos pesquisadores apontam
que a atual educação em Ciências não pode mais se limitar ao contexto estritamente escolar
(VALENTE; CAZELLI; ALVES, 2005; ROCHA; LEMOS; SCHALL, 2007; JACOBUCCI; JACOBUCCI;
3
MEGID NETO, 2009; MARANDINO, 2009), é preciso valorizar o papel dos espaços não-formais
de ensino, como museus, jardins botânicos, parques ecológicos, zoológicos, casas de cultura,
dentre outros, onde os conteúdos curriculares possam ser trabalhados de forma lúdica e
contextualizada, visando oferecer aos alunos oportunidades de interação com a sociedade.
2. METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do subprojeto de Ciências Biológicas
(PIBID/Capes/UERJ) do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ) em
um colégio estadual do Rio de Janeiro, localizado no bairro de Vila Isabel - RJ. A pesquisa teve
um caráter quantitativo e qualitativo com o intuito de trabalhar com os estudantes do Ensino
médio as principais doenças negligenciadas no Brasil de forma significativa, fomentando uma
visão crítica e reflexiva sobre saúde e bem estar social por meio de uma visita guiada a um
espaço não-formal relacionado à temática trabalhada, doenças negligenciadas.
Três turmas da unidade escolar participaram da visita guiada, sendo uma turma do
primeiro e duas turmas do segundo ano do Ensino médio. Todos os estudantes, com idade
entre 15 e 19 anos, tomaram ciência da investigação e assinaram um termo de consentimento
livre esclarecido e autorização de uso de imagem para participar do estudo. Em caso de
estudantes menores de 18 anos, este termo foi assinado pelo responsável legal.
Antes da visitação, num contato inicial com alunos em sala de aula, estes foram
estimulados a participar de uma pesquisa quantitativa realizada a partir da aplicação de um
questionário contendo três perguntas fechadas. A primeira questionava os estudantes sobre o
significado da palavra “negligência”. O objetivo da segunda pergunta era saber se os
estudantes já tinham ouvido falar em Doenças negligenciadas. E a terceira questão, solicitava a
seleção de doenças negligenciadas em uma lista com doze doenças diversas apenas àqueles
que já ouviram falar nestas doenças. Assim, o questionário, sem identificação, foi respondido
individualmente pelos alunos, em cerca de 10 minutos e, em seguida, devolvidos ao professor
para serem posteriormente tabulados e refletidos no contexto educacional. Após a aplicação
deste questionário, na forma de aula dialógica, os bolsistas do subprojeto introduziram a todos
o que são doenças negligenciadas e quais são as prioridades no Brasil.
A etapa seguinte constituiu na visita guiada ao Castelo Mourisco, do Museu da Vida,
localizado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Toda a atividade de visita e descobertas nos
espaços do Castelo Mourisco durou cerca de 50 minutos e foi direcionada por uma monitora
do próprio Castelo. Ao final desta etapa, os alunos participaram de uma aula-debate com um
professor titular da Fiocruz, onde foram discutidos diversos assuntos relacionados às pesquisas
atuais que estão sendo realizadas no Brasil acerca das doenças negligenciadas. Este debate
ocorreu nos espaços do Castelo Mourisco, com duração de cerca de 90 minutos. Para avaliar
esta etapa importante na aquisição de conhecimentos e reflexões, ao final da visitação, os
alunos foram questionados sobre a relevância da visita ao castelo Mourisco e o debate com
um especialista na área de saúde, no fomento à reflexão e à discussão sobre as doenças
negligenciadas no Brasil.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 CONCEPÇÕES DOS ALUNOS ACERCA DAS DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
Analisando as respostas dos estudantes em relação ao questionário inicial, pode-se
constatar que quando inqueridos sobre o significado da palavra “negligência
negligência”, muitos
estudantes (67%) demonstraram
aram ter um conhecimento correto sobre este conceito, porém um
número expressivo de alunos (22%) considerou a palavra como sinônimo de ausência de
cautela ou ponderação, enquanto os demais (11%), apontaram negligência como sendo falta
de habilidade (Figura 1).
O que significa negligência?
A
22%
C
67%
B
11%
Figura 1: Concepção dos alunos sobre o significado da palavra negligência. A - Falta de cautela
ou precaução, ausência de sensatez ou ponderação; B - Ausência de habilidade, falta de
experiência ou destreza; incompetência; C - Descuido; falta de atenção, de aplicação, de
exatidão, de interesse, displicência, desleixo, desmazelo.
Entretanto, quando questionados se já teriam ouvido falar em doenças negligenciadas,
61% dos estudantes alegaram
aram nunca ter ouvido falar sobre o assunto, enquanto 39% já havia
ouvido sobre o termo anteriormente.
anteriormente Neste caso, tais estudantes apontaram a dengue (31%),
a Doença de Chagas (23%), a tuberculose (23%) e a malária (26%), como sendo as principais
doenças negligenciadas (Figura 2). Entretanto, percebe-se que estes apontamentos são muito
intuitivos, pois estes mesmos estudantes também destacaram o sarampo (6%), a rubéola (5%),
a gripe (10%) e a hipertensão arterial (6%), como sendo doenças negligenciadas no Brasil.
Conforme observado neste estudo, verifica-se que embora a maioria dos alunos saiba
o significado de negligência, poucos discentes já ouviram sobre doenças negligenciadas.
negligenciadas De
fato, embora sejam termos relacionados, a palavra negligência (s.f.) refere-se
refere
à falta de
cuidado, de aplicação, de exatidão; descuido, incúria, displicência, desatenção (CEGALLA,
2005), enquanto doenças negligenciadas tratam de enfermidades que acometem populações
menos favorecidas e que possuem baixo investimento na produção de pesquisas e novos
medicamentos (MOREL, 2006).
2006 Deste modo, tais resultados refletem tanto a ausência de
informações na mídia sobre o tema, como a escassez de novas abordagens sobre saúde no
ensino de Ciências e Biologia,, uma vez que, como alunos do Ensino médio, todos frequentam o
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ambiente escolar há pelo menos nove anos. Já a palavra negligência é amplamente empregada
no estudo das Ciências Humanas e, deste modo, é possível que esta já tenha sido trabalhada
com os estudantes nas disciplinas de História, Geografia ou Sociologia.
Adicionalmente, a partir dos dados observados na Figura 2, verificou-se
verificou que a dengue
foi a doença mais citada dentre os alunos que disseram conhecer sobre a temática. Este fato
pode estar associado às intensas campanhas de combate à dengue divulgadas na televisão,
te
rádio e internet, que apontam a falta de cuidado da população com o acúmulo de água parada,
como o principal fator de reemergência da doença (ASSIS, 2012). É importante ressaltar que
Doença de Chagas, malária e tuberculose, alcançaram alta porcentagem
porcentagem de indicação, o que
reflete um certo conhecimento sobre doenças negligenciadas. Contudo, é possível constatar
que este é limitado e insuficiente, uma vez que alguns alunos também selecionaram doenças
controladas a partir de campanhas de vacinação, como a rubéola, como sendo negligenciadas.
100%
Respostas
80%
60%
40%
20%
0%
Doenças
Figura 2: Porcentagem das
as doenças consideradas negligenciadas pelos estudantes que
alegaram ter algum conhecimento sobre o tema.
3.2 VISITA GUIADA AO CASTELO MOURISCO, FIOCRUZ
Esta etapa foi essencial no processo de fomento às reflexões sobre as Doenças
negligenciadas. Na Fundação, os alunos visitaram o Castelo Mourisco, conhecido como
Castelinho, onde conheceram um pouco mais sobre a saúde no Brasil e a história dos grandes
pesquisadores brasileiros que contribuíram significativamente para a melhoria da qualidade de
vida da população. Toda atividade realizada no Castelo Mourisco foi executada com o auxílio
de mediadores presentes na Fundação. Contudo, considerando toda a logística que envolve
uma saída de campo, nem todos os alunos puderam participar desta atividade.
No primeiro momento os alunos foram guiados ao Castelo Mourisco, onde puderam
apreciar a beleza arquitetônica, conhecer a história de sua construção e a vida do pesquisador
Oswaldo Cruz na Exposição:
Exposição Passado e Presente – Ciência, Saúde e Vida Pública. Neste
momento, foi explorada de forma breve, porém, significativa a história da saúde pública no
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Brasil e a influência social neste processo. A mediadora do Museu da Vida autorizou que os
demais profissionais presentes acrescentassem e ajudassem no direcionamento às Doenças
negligenciadas. Durante a visitação aos espaços do Castelo, os alunos puderam conhecer o
laboratório, além de materiais e equipamentos utilizados por Oswaldo Cruz nas suas
pesquisas. Adicionalmente, os estudantes visitaram a exposição entomológica, onde puderam
observar a diversidade de insetos vetores das doenças negligenciadas estudadas (Figura 3).
Ao final da atividade, os alunos receberam a visita do Dr. Marcelo Pelajo, pesquisador
titular da Fiocruz, o qual gentilmente disponibilizou algumas horas do seu dia para discutir um
pouco sobre saúde e doenças negligenciadas com os alunos. O encontro aconteceu no próprio
castelo Mourisco, no qual durante cerca de duas horas, foi possível observar o diálogo informal
e enriquecedor entre o pesquisador da área e os estudantes do Ensino médio.
Figura 3: Visita dos estudantes aos espaços do Castelo Mourisco, na Fiocruz.
Para nortear a discussão com os alunos, inicialmente o pesquisador da Fiocruz
levantou questões como: “O que é ciência?” e “O que é saúde?”. As respostas foram diversas,
com destaque para: “ciência é o que estuda a vida”, ”aquilo que serve pra melhoria da
qualidade de vida, é o “conhecimento acerca das coisas”. Em relação ao que é saúde, os alunos
disseram, que é “ter vida longa”, é o “bem estar social”. A visão dos alunos sobre essas
questões eram limitadas e os discursos às vezes eram aqueles reproduzidos na escola, porém
vazios de significados para os próprios estudantes.
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A partir destas respostas o pesquisador chegou a pontos que serviram de reflexões
para os alunos sobre questões de saúde e doenças, em especial as negligenciadas. A conversa
foi feita à luz dos seguintes argumentos: (a) Escassez de dados estatísticos sobre estas doenças
no Brasil, se comparada com outras doenças como a AIDS e diabetes, devido a dificuldades no
mapeamento das regiões endêmicas e identificação de pessoas possivelmente infectadas; (b)
Elevado custo para as indústrias na produção de remédios, principalmente no Brasil, onde as
taxas são relativamente altas; (c) Apesar da existência de tratamento gratuito no SUS para
essas doenças, muitas pessoas não têm condições de acesso ou conhecimento; (d) Faz sentido
tratar a doença e não oferecer condições adequadas à promoção de saúde?; (e) Qual é a
importância da aquisição do saber, do conhecimento e da educação na luta contra os
problemas sociais? Estas foram as principais questões discutidas ao longo di diálogo com o
professor, onde a atenção e a participação dos alunos parece ter influenciado na construção
de uma visão diferenciada sobre doenças negligenciadas.
Na semana seguinte à realização do trabalho, ao serem questionados sobre a
relevância das atividades desenvolvidas no Museu da Vida, 81,3% dos estudantes
responderam que a etapa foi fundamental para fomentar o conhecimento e a reflexão sobre
as doenças negligenciadas. Entretanto, 18,7% dos alunos discordaram desta opinião.
Os experimentos e as narrativas presentes em museus, por exemplo, não estão
necessariamente ligadas ao currículo escolar, permitindo escolhas diversificadas de exploração
deste espaço, tanto em relação aos conteúdos científicos, como aos recursos de comunicação
e uso didático. Neste quadro, a Divulgação Científica em espaços institucionais, tais como
museus, planetários, centro de ciências, dentre outros, também estão relacionados à educação
não-formal, pois a escola e o professor não são os únicos educadores responsáveis por
desenvolvê-la (GOUVÊA e LEAL, 2001). Este e outros trabalhos observados reafirmaram a
contribuição que atividades em espaços não-formais de educação podem trazer para o
crescimento intelectual dos cidadãos (PAZ, 2012).
Nos últimos anos, a utilização de espaços não-formais vem sido estudada por diversos
pesquisadores, os quais apontam diversos fatores que ampliam a experiência de aprendizagem
nas visitas a museus de ciências (CARBONELL, 2002; KRASILCHIK, 2004; VIVEIRO e DINIZ, 2009;
SANTOS e TERÁN, 2013). Estes estudos não apenas sugerem resultados altamente satisfatórios
em relação aos aspectos afetivos e cognitivos dos alunos, como também ressaltam que
algumas atitudes e metodologias, como o planejamento do professor antes da visita e uma
estratégia de seguimento após a visita, podem aumentar consideravelmente a aprendizagem e
reflexão dos alunos (SOARES e SILVA, 2013).
Como assevera Mohr (2002), um fenômeno de aprendizagem significativa deve
permitir ao aluno a reflexão sobre o conhecimento que está sendo proposto e aproveitá-lo em
sua própria rede conceitual. Neste sentido, o currículo escolar deve ser organizado para
propiciar construção de conhecimento e reflexão do aluno, para que este possa dispor de
autonomia e conhecimento para suas escolhas e para que estas possam ser baseadas no
conhecimento científico, se o aluno assim o desejar.
Sendo assim, a diversificação de atividades didáticas contribui para motivar o
conhecimento e a reflexão dos estudantes acerca do assunto. Santos (2012), acrescenta que o
aluno precisa ser o personagem principal dessa novela chamada aprendizagem. Já não tem
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mais sentido continuarmos a escrever, dirigir e atuar neste cenário de forma unilateral, onde o
personagem principal fica sentado no sofá, estático e passivo, assistindo, na maioria das vezes,
a cenas que ele não entende. Assim, um pluralismo em nível de estratégias pode garantir
maiores oportunidades para a construção do conhecimento, além de fornecer subsídios para
que mais alunos encontrem as atividades que melhor os ajudem a compreender o tema
estudado (SANMARTÍ, 2002).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os dados apresentados neste trabalho, é possível concluir que o
procedimento e a dinâmica desenvolvida durante a visita guiada ao Museu da Vida, foram
capazes de proporcionar ganhos cognitivos, científicos e críticos aos estudantes do Ensino
médio. Neste sentido, a utilização do Museu da Vida como um espaço não-formal de ensino,
revela-se como uma opção promissora, principalmente no fomento às discussões, reflexões e à
aprendizagem sobre as Doenças negligenciadas.
Desta forma, acredita-se que o emprego de práticas pedagógicas diferenciadas no
ensino de Ciências e Biologia, seja capaz de promover uma Educação em Saúde de forma
significativa, voltada para formação de alunos críticos e conscientes da importância do seu
papel na sociedade.
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