Sílvia Zatz
André Zatz
Sergio Halaban
Brinca Comigo!
Tudo sobre brincar
e os brinquedos
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A brincadeira é a mais pura, a mais espiritual atividade do
homem e, ao mesmo tempo, típica da vida humana como
um todo — da vida natural interior escondida no homem
e em todas as coisas. Por isso ela dá alegria, liberdade,
contentamento, descanso interno e externo, paz com o
mundo. Ela tem a fonte de tudo o que é bom. (…) Não
é a expressão mais bela da vida, uma criança brincando?
(…) A brincadeira não é trivial, ela é altamente séria e de
profunda significância. Cultive-a e crie-a, oh, mãe; protejaa e guarde-a, oh, pai! Para a visão calma e agradável
daquele que realmente conhece a Natureza Humana, a
brincadeira espontânea da criança revela o futuro da vida
interior do homem. As brincadeiras da criança são as
folhas germinais de toda a vida futura; pois o homem todo
é desenvolvido e mostrado nela, em suas disposições mais
carinhosas, em suas tendências mais interiores.
Friedrich Froebel
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PREFÁCIO
Como brincar com meu filho? É possível estimular o desenvolvimento de minha filha sem tolher sua liberdade? Qual é o brinquedo
mais adequado à idade dela? Como participar do seu processo de
aprendizagem?
Quem nunca se viu frente a frente com dúvidas desse tipo? Qual o
pai que não quer contribuir para o crescimento saudável de seu filho?
Incentivá-lo a aprender e facilitar sua adaptação ao atribulado mundo
em que vivemos? Se estas questões lhe interessam, Brinca comigo! poderá ajudá-lo a compreender melhor as necessidades do seu filho ou
filha e oferecer aquilo de que eles precisam.
Para a criança, brincar é mais do que uma maneira divertida de
passar o dia. Na primeira infância, é por meio da brincadeira que a
criança aprende e desenvolve todo tipo de habilidades físicas, intelectuais e sociais. Cabe a nós, pais zelosos e educadores preocupados,
criar um ambiente favorável e, de certa forma, orientar a brincadeira
e a escolha dos brinquedos, sem comprometer sua espontaneidade.
Por outro lado, todo pai sonha em trazer para casa o brinquedo que
vai fazer os olhos da criança brilharem, e que vai se tornar o favorito,
pelo menos por algumas semanas. Neste ponto, nos deparamos com a
falta de informação, especialmente em se tratando do comércio. Nos
encontramos numa loja de brinquedos em meio a centenas, milhares de
produtos, e nos perguntamos: qual o brinquedo ideal para meu filho?
Como posso saber se este produto é seguro? Será que é adequado à
idade dele?
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Nós, os autores, temos tentado insistentemente, como pais e profissionais com atividades intrinsecamente ligadas ao universo infantojuvenil, compreender as crianças e desenvolver produtos adequados às
suas necessidades. Motivados por esse interesse, realizamos uma vasta
pesquisa que nos proporcionou um grande aprendizado em relação
ao universo dos brinquedos e do brincar, numa acepção bem ampla.
É precisamente esse aprendizado que gostaríamos de compartilhar
com vocês neste livro.
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SUMÁRIO
A importância da brincadeira e do brinquedo
Brincar é essencial ao ser humano
Brinquedo é coisa séria
Como escolher um brinquedo?
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Em busca da diversidade: categorias de brinquedos
adequadas às fases de desenvolvimento da criança
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O bebê até um ano
A criança de um a dois anos
A criança de três a seis anos
A criança a partir dos sete anos
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O papel do adulto
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Brinquedos e brincadeiras: como lidar com eles?
Brinquedo bom é brinquedo seguro
Serão mesmo vilões?
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O específico dentro do universo lúdico
95
Livro pode ser um brinquedo?
Jogos: um capítulo à parte
Improvisar às vezes é bom
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Nota do Editor
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Referências Bibliográficas
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A IMPORTÂNCIA
DA BRINCADEIRA
E DO BRINQUEDO
Um homem somente brinca quando é humano…
e só se torna plenamente humano quando brinca.
Friedrich Schiller
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BRINCAR É ESSENCIAL
AO SER HUMANO
A brincadeira é uma atividade inerente ao ser humano. Durante
a infância, ela desempenha um papel fundamental na formação e
no desenvolvimento físico, emocional e intelectual do futuro adulto.
Brincar é essencial para a criança, pois é deste modo que ela descobre
o mundo à sua volta e aprende a interagir com ele. O lúdico está sempre presente, o que quer que a criança esteja fazendo. Naturalmente
curiosa, ela se sente atraída pelo ambiente que a rodeia. Cada pequena
atividade é para ela uma possibilidade de aprender e pode se tornar
uma brincadeira.
O ato de brincar é intrínseco à vida e ao aprendizado. Essa experiência essencialmente natural não é exclusiva do homem, pois é sabido
que os animais também brincam. Os mamíferos aprendem quase tudo
o que necessitam saber para a sua vida adulta por meio de brincadeiras,
em que as crias experimentam, entre si e com adultos, capacidades e
habilidades que serão necessárias no futuro. Desenvolvem, assim, as
técnicas de caça (brincam de se esconder e assustar o outro, de morder,
de fugir) e de luta também (brincando de brigar e lutar, rolando pelo
chão).
Poderia se dizer que com os homens, guardadas as proporções, o
processo ocorre de forma semelhante. É brincando que a criança conhece o ambiente que a cerca. Desde recém-nascido, o bebê estabelece uma
relação lúdica com as pessoas. Os pais brincam com ele, estimulando os
sentidos que compõem sua interface com o mundo. Em seguida, o bebê
aprende a brincar com o próprio corpo, especialmente com seus pés e
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suas mãos. Depois de alguns meses, começa a se interessar pelos objetos
e introduzi-los na sua brincadeira. No início, brinca sozinho; depois,
consegue brincar junto. Brincando, a criança aprende a se relacionar,
a compartilhar as coisas, a se comunicar e a expressar suas idéias e
sentimentos. Descobre o prazer de cantar, dançar, desenhar, representar.
Desenvolve seu raciocínio, sua linguagem, sua criatividade.
Ao brincar, a criança conta o mundo a si mesma e exercita sua imaginação. A brincadeira de faz-de-conta desempenha papel fundamental
na formação da criança. É por meio desta brincadeira que ela compreende e abarca a complexidade do mundo ao seu redor. Brincando,
ela representa o universo dos adultos, das ferramentas, utensílios domésticos, meios de transporte, relações espaciais em escala (casa, rua,
cidade) e também das relações humanas. Ao mesmo tempo em que a
brincadeira oferece um campo para exercer a fantasia e criar seu mundo
particular, a criança também reproduz nela suas atividades rotineiras e
conflitos diários. É um espaço no qual ela pode expressar suas inquietações e dramatizar situações que lhe são desconfortáveis, sejam elas
decorrentes de fatos ocorridos (como, por exemplo, a separação dos
pais, o nascimento de um irmão, uma mudança de casa ou de escola)
ou simplesmente uma dificuldade de adaptação ou de relacionamento
pelas quais, em diferentes níveis, todos nós já passamos. A brincadeira
é o laboratório, lugar destinado às pesquisas e experiências.
Além disso, a brincadeira, de maneira geral, é um momento em
que os pais podem estar com seus filhos. É uma oportunidade única
de desfrutar momentos agradáveis, proporcionados por este universo.
Brincar junto reforça os laços afetivos e faz a criança se sentir amada e
prestigiada. A presença de adultos queridos na brincadeira por vezes introduz também um desafio, provocando um desejo de ir mais além.
A criança leva sua brincadeira muito a sério, e é importante respeitá-la neste sentido. Quando Ciça e Michel, pais de Laura, a chamam
para fazer alguma coisa quando ela está brincando, a menina diz
imediatamente: Agora não posso ir, estou brincando! A pequena Laura
expressa com toda simplicidade a essência da relação tão intrincada
da criança com a brincadeira. Ela considera que está ocupada quando
está brincando, e de uma maneira que merece consideração especial.
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Deve-se evitar interromper a concentração de uma criança nesse momento mágico e precioso.
Nas palavras de Froebel, o primeiro educador a enfatizar a importância do brinquedo e do lúdico na educação infantil, a brincadeira
não é trivial, ela é altamente séria e de profunda significância.
Alguns filósofos garantem que brincar é a base da cultura de um
povo. Brincadeiras tradicionais vêm sendo transmitidas de uma geração
à outra, de um país a outro, há centenas, milhares de anos. É comum
as pessoas não se darem conta da grandeza e da riqueza que há nesta
transmissão. Não é simplesmente a mecânica de determinado jogo,
uma parlenda ou rima infantil que está sendo ensinada. Por trás dessa
forma, uma concepção de mundo se manifesta. Diferentes realidades
e contextos sociais e culturais se expressam por meio das brincadeiras
realizadas pelas crianças. Talvez seja possível mesmo conhecer e compreender muitas coisas a respeito de uma comunidade simplesmente
vendo suas crianças brincarem.
Nos dias de hoje, a aptidão lúdica do homem continua presente,
apesar de todas as intempéries que a vida moderna acarreta. As crianças
vão cada vez mais cedo à escola e as escolas aceleram seus programas
e currículos. A infância é encurtada e o processo de transformação em
adulto ocorre mais e mais cedo, como se isso fosse uma exigência da
sociedade em que vivemos. A brincadeira, tão importante para a saúde
mental do ser humano, é abandonada ou colocada em segundo plano.
Muitas vezes, a criança é precocemente submetida a situações estruturadas e levada a cumprir tarefas para alcançar um desempenho
que é esperado dela. O processo de aprendizado, que deveria ser estimulante, muitas vezes se torna maçante. Isso acaba comprometendo
sua espontaneidade e reduzindo a possibilidade de ela encontrar sua
vocação e descobrir seu jeito próprio de ser.
A semente que existe em cada um de nós precisa ser cultivada.
Assim como nos preocupamos com a qualidade da alimentação de
nossos filhos, devemos nos perguntar sobre a qualidade das oportunidades que lhes são oferecidas para desenvolver suas potencialidades. É
nesse contexto que a brincadeira e o brinquedo desempenham papel
fundamental na formação da criança.
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BRINQUEDO
É COISA SÉRIA
Os brinquedos fazem parte do universo da criança desde os primeiros momentos de sua existência. Eles são os meios utilizados para
a realização da brincadeira, o suporte que dá um colorido especial ao
ato de brincar. Sua relação com os brinquedos começa desde o nascimento, quando recebe seu primeiro brinquedo, o que constituirá uma
primeira experiência na direção de aprender a brincar.
À medida que cresce, a relação da criança com esses objetos, que
serão fundamentais para a formação de sua personalidade, reforça-se.
Seus brinquedos passam a fazer parte de um universo que ela constrói
e reconstrói incessantemente. Com a ajuda deles, a criança “se conta”
o mundo. Como um diretor que conduz uma peça de teatro ou um
maestro que rege sua orquestra, a criança dirige seu próprio mundo.
É nessa fase que damos vida a seres inanimados que passam a
fazer parte de nossa vida. Buscando lá no fundo, todo mundo tem
a lembrança terna de uma boneca querida, do bichinho inseparável ou
do carrinho mais veloz… Eles realmente faziam parte de nosso mundo,
mesmo que não fossem movidos a pilha ou com controle remoto. Eram
coisas inertes que ganhavam vida na nossa imaginação. E um amigo
imaginário pode ser bastante real para uma criança!
Percebemos que o brinquedo é muito mais do que um entretenimento. É, antes, oportunidade de desenvolvimento. Brincando,
a criança experimenta, desenvolve sua linguagem, testa seus limites e
extravasa seus medos. Além disso, o brinquedo estimula a curiosidade e
a autoconfiança da criança. Brinquedo é coisa séria!
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É bem nesse processo de descoberta que os brinquedos atuam,
ajudando a criança a se preparar para a vida que vem pela frente.
Desde os primeiros meses, a percepção sensorial do bebê é estimulada
por móbiles musicais, chocalhos e mordedores. Um pouco mais tarde,
seus bonecos e bonecas serão peças-chave no desenvolvimento de sua
afetividade. Carrinhos, blocos de montar e encaixar vêm trazer desafios
e trabalhar a coordenação motora. Sem falar nas miniaturas de objetos
do mundo adulto que serão fundamentais para o desenvolvimento da
imaginação, ajudando a criança a representar e dramatizar cenas do
cotidiano, como preparar uma comidinha para a mamãe, dar banho
na boneca, consertar todas as portas da casa… Mais tarde, para as
crianças já na fase escolar (ensino fundamental), entram os jogos de
sociedade, que exercitam o raciocínio e a concentração, além de promover a socialização. O modo como a brincadeira, que é um dom natural
da criança, é explorada e cultivada na infância poderá determinar o
equilíbrio do futuro adulto.
A HISTÓRIA DO BRINQUEDO
A história do brinquedo é tão antiga quanto a história do homem.
Estudiosos do assunto dizem até que os brinquedos podem contar a
história do próprio homem e sua evolução social, cultural e até política.
Mas o aspecto que nos interessa aqui é o lúdico, e o modo como ele
afeta o crescimento físico, emocional e intelectual da criança.
Muitos brinquedos que conhecemos hoje têm sua origem nas mais
antigas civilizações. E alguns deles se apresentam em versões praticamente inalteradas, se considerarmos a distância temporal e cultural
que nos separa deles.
É o caso das bonecas, por exemplo. As primeiras bonecas que
foram construídas, possivelmente há quarenta mil anos, na Ásia e na
África, eram usadas em rituais. Acredita-se ter sido no Egito, há cerca
de dois mil anos, que elas se transformaram em brinquedos, feitos de
corda, pano e papel.
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Outro exemplo são os piões, que, por volta do ano 3000 a.C., na
Babilônia, eram feitos de argila e tinham as bordas decoradas com
desenhos ou relevos representando formas humanas ou animais.
Os primeiros chocalhos, surgidos também no Egito, datam de
1300 a.C. Geralmente, apresentavam forma de animais como pássaros, ursos etc.
As pipas apareceram na China no ano 1000 a.C., mesma época em
que os primeiros ioiôs de pedra e cerâmica começaram a ser usados
na Grécia.
Outros exemplos relativamente mais “recentes” são os soldadinhos de chumbo, que nasceram no século XVIII como peças de jogos
de guerra, praticados por reis famosos como o francês Luís IX. Já as
caixinhas de música, precursoras de toda uma gama de gadgets musicais, foram criadas no século XVIII pelos suíços, que utilizaram seus
conhecimentos na arte da relojoaria para desenvolvê-las.
E apenas como curiosidade histórica, vale lembrar que o primeiro
trem elétrico em miniatura (brinquedo tão admirado pelos meninos em
suas variadas versões) foi feito em 1935 por um ferreiro nova-iorquino;
e a primeira caixa de lápis de cera foi produzida comercialmente em
1903, para alegria de nossos futuros artistas.
Esta pequena viagem pela história dos brinquedos nos dá a dimensão histórica desta atividade tão inerente ao ser humano. São brinquedos
que, de uma forma ou de outra, podemos reconhecer que estiveram
presentes em nossa infância e muito provavelmente farão parte da
infância de nossos filhos. Acreditamos que relembrar nossa própria
meninice nos capacita a interagir melhor com as crianças, podendo
contribuir positivamente para o seu desenvolvimento. Assim como as
brincadeiras tradicionais, os brinquedos também constituem uma espécie de herança cultural que se perpetua de geração em geração através
dos tempos. Fazer parte desta cadeia é uma experiência que podemos
ter a felicidade de compartilhar com nossos filhos.
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CURIOSIDADE
Piões
Os piões mais antigos foram descobertos em escavações realizadas
na Babilônia no século XIX. Os arqueólogos encontraram tumbas
de 3000 anos atrás, tempo em que as pessoas eram enterradas
na companhia de seus pertences mais queridos. No caso das
crianças, os pertences eram seus brinquedos favoritos, que, em
grande parte dos casos, incluíam piões feitos de argila e decorados
com desenhos de animais. Historicamente, os piões passaram pela
Grécia, Índia, Rússia e Japão, em cada lugar adquirindo coloração
local. Os japoneses, por exemplo, foram os primeiros a introduzir
furos nos piões para fazê-los apitar enquanto giram. Na Nova
Zelândia, os maoris (povo local) inventaram um pião chamado
potaka, enfeitado com conchas e posto em movimento por meio
de uma espécie de chicote. Na Europa medieval, os artesãos construíam enormes piões de madeira do tamanho de uma pessoa.
Nas manhãs de inverno, os aldeões se reuniam para fazer o pião
girar, empurrando-o com as mãos. Desse modo, eles espantavam
o frio, se aquecendo enquanto se divertiam.
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COMO ESCOLHER
UM BRINQUEDO?
Em um primeiro estágio de desenvolvimento da criança, brinquedos simples são suficientes para proporcionar horas de diversão.
À medida que ela cresce, passa a ter necessidade de brinquedos e
brincadeiras mais complexos que tragam desafios e contribuam para
seu aprendizado.
Como saber o que é adequado para cada criança? Quando começamos a procurar um brinquedo para dar a nosso filho ou filha,
várias dúvidas aparecem. Vejam o relato de nossa amiga Mônica, mãe
de Júlia, de dois anos e quatro meses, e de Cláudia, mãe de Francisco,
de quatro anos.
Eu queria comprar um brinquedo para a Júlia, alguma coisa
para eu brincar junto com ela. Mas confesso que na loja fiquei
muito confusa, sem saber o que escolher. Gostei de uma caixa
de blocos para empilhar, mas o fabricante dizia ser indicado
para dezoito meses e achei que talvez fosse fácil demais para
ela. Acabei comprando uma boneca, mas me arrependi, pois
ela já tem muitas e eu gostaria de ter encontrado alguma
coisa diferente.
Mônica
Eu separei quatro brinquedos dos quais tinha gostado e achei
que poderiam ser interessantes para o Chico. O primeiro era
um tipo de “Lego” para montar, o segundo era um quebra-ca-
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beças progressivo, outro era um barco pirata e o último eram
uns bichos pré-históricos articulados que faziam barulho (pelo
menos era o que a caixa dizia, mas nem eu nem o vendedor
conseguimos descobrir como funcionava, mesmo depois de o
gerente autorizá-lo a abrir a caixa). O Chico é uma criança
muito agitada, com dificuldade de concentração. O que eu
queria saber era se algum desses brinquedos seria mais adequado para brincarmos, agora que estou de férias e posso
dedicar um tempo maior a ele. Saí da loja com mais dúvidas
do que quando entrei.
Cláudia
Os discursos da Mônica e da Cláudia são muito sintomáticos. De
fato, temos dificuldade em escolher um presente e não encontramos
uma orientação que nos satisfaça.
Sentimos que a indústria e as lojas de brinquedos, com raríssimas
exceções, não alimentam adequadamente as necessidades reais das
crianças. Muitas vezes, encontramos brinquedos caros, complicados
e até perigosos. Além disso, encontramos pouca orientação, mesmo
nas lojas especializadas, com relação à faixa etária e interesses pessoais da criança. Freqüentemente, os produtos são dispostos sem muito
critério nas prateleiras, as etiquetas referentes à idade são genéricas ou
mal sinalizadas e há pouquíssima – ou nenhuma – informação sobre
como aquele determinado brinquedo funciona e que habilidades da
criança ele explora.
Todos nós queremos que nossos filhos se divirtam ao brincar e
apreciem os brinquedos que lhes damos de presente. Queremos trazer
para casa o brinquedo mágico, que vai fazer a criança vibrar. E isso
está certo, já que, no ato de dar um presente, está embutida a intenção
de dar prazer à criança, de agradá-la. Por isso, não se pode deixar de
levar em conta o gosto pessoal da menina ou do menino.
Mas, por outro lado, começamos a nos preocupar também com
que esse brinquedo, além de ser atraente, estimule a criança de alguma
forma, contribua de alguma maneira com o seu desenvolvimento. E, o
que é mais importante, queremos evitar trazer para dentro de nossas
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casas brinquedos que sejam nocivos ou prejudiciais a nossos filhos,
como brinquedos que incitem à violência gratuita ou encoragem o
amadurecimento precoce da criança.
Até que ponto a criança deve participar da escolha? Podemos estar
agradando de um lado e prejudicando de outro? Como lidar com esse
dilema? Não pretendemos responder a pergunta de forma definitiva,
mas apontar alguns aspectos da questão que possam contribuir para
nossa reflexão.
É verdade que sondar nossos filhos desde cedo sobre o que gostariam de ganhar nos torna sujeitos a ceder a impulsos de compra ou a
modas passageiras. E é fato também que queremos oferecer brinquedos
que durem, ou seja, com os quais a criança possa brincar ao longo de
bastante tempo. Mas é bom ter em mente que acertar sempre é impossível, pois essa escolha não é uma ciência exata. É normal que as
crianças não brinquem com todos os brinquedos que ganham. Às vezes,
a criança não se interessa por aquele brinquedo de imediato, mas vai
recuperá-lo semanas, meses ou até mesmo anos mais tarde.
Outro aspecto a considerar é o estágio de desenvolvimento no
qual seu filho se encontra. Os estágios são mais ou menos os mesmos
para quase todas as crianças, mas o momento e o modo como eles
acontecem podem variar. A participação da criança na escolha de seus
brinquedos poderá revelar qual é realmente seu interesse no momento.
É preciso saber interpretar seus sinais.
Alguns pais têm a tendência de achar que seus filhos são pequenos
gênios. Isso faz com que comprem brinquedos inapropriados, voltados
para uma faixa etária superior. Isso é um erro tremendo. Os especialistas acreditam que, como regra geral, é melhor oferecer brinquedos
que não excedam muito a capacidade atual da criança. Brinquedos ou
jogos difíceis demais vão provocar frustração na criança, que vai se
sentir desapontada consigo mesma. Os próprios pais podem se frustrar
pelo fato de o filho não corresponder às expectativas. Ao contrário,
devemos sempre procurar reforçar a auto-estima da criança, buscando
atividades que apresentem pequenos desafios, direcionados a habilidades que ela já domina ou que está prestes a desenvolver. Em suma,
o ideal é que haja um equilíbrio: o desafio não pode ser impossível,
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mas também não pode ser fácil demais. Ambos serão desestimulantes
para a criança e farão com que ela perca rapidamente o interesse por
aquele brinquedo.
Por último, devemos tomar cuidado ao pedir a opinião da criança,
para evitar uma decepção. Lembre-se que a surpresa é um elemento
muito apreciado pelas crianças e do qual elas fazem muita questão na
hora de abrir um presente.
O papel dos pais é muito importante na escolha dos brinquedos,
portanto não devemos nos omitir. Incentivar a participação da criança
na escolha não significa de modo algum diminuir nossa responsabilidade. Podemos nos preparar para ajudar nossos filhos nesse sentido.
Não há uma regra, mas várias coisas devem ser consideradas na
hora de escolher um brinquedo.
10 DICAS PARA ESCOLHER
O BRINQUEDO DO SEU FILHO (A)
1. O gosto da criança deve ser levado em conta, suas preferências,
seu temperamento, suas habilidades e suas limitações. O brinquedo deve ser, antes de tudo, divertido, ao mesmo tempo em
que contribua para sua formação.
2. O conhecimento da idade e da fase de desenvolvimento na qual
a criança se encontra é fundamental na escolha de um brinquedo
adequado.
3. Devemos procurar brinquedos que estimulem a imaginação,
a criatividade, a raciocínio e o faz-de-conta.
4. É interessante buscar brinquedos que estimulem a interação
humana.
5. É muito fácil sucumbir ao personagem promovido pelo filme do
momento. Não devemos deixar que modas passageiras constituam exclusivamente o conjunto de brinquedos da criança.
6. Evitar que produtos eletrônicos ocupem a totalidade do tempo
da criança.
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7. Não escolher brinquedos que agradam a você (com os quais você
gostaria de brincar), sem pensar na criança.
8. Não se fixar apenas no aspecto estético do produto. Levar em conta
também aspectos como lugar disponível em casa, ruído etc.
9. Considerar se a criança já possui outros brinquedos semelhantes
ou do mesmo tipo. É importante criar diversidade.
10.Atentar para a segurança do produto (não deve conter peças
pequenas para crianças até três anos; deve apresentar uma boa
qualidade de fabricação; não possuir arestas cortantes etc.).
De preferência, o brinquedo deve conter o selo do Inmetro.
CURIOSIDADE
Blocos de montar
Segundo Friedrich Froebel, célebre educador do século XIX,
conhecido como o pai do jardim-de-infância, brincar com
blocos de montar é uma experiência muito rica e útil para o
desenvolvimento e o aprendizado da criança. Froebel desenvolveu uma linha própria de blocos de montar e outras estruturas de madeira manipuláveis. Vários fabricantes se baseiam
até hoje nos seus conceitos para criar versões modernas e
atualizadas de seus conjuntos de blocos de montar. O grande
arquiteto americano Frank Lloyd Wright considerava as experiências com os blocos de Froebel vividas na sua infância como
a base de toda sua arquitetura. Assim como ele, a brincadeira
com blocos de montar ajudou muitos arquitetos famosos a
expandir sua criatividade, na medida em que assumiam os
papéis de construtores, engenheiros e planejadores mirins.
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EM BUSCA DA DIVERSIDADE:
CATEGORIAS DE BRINQUEDOS
ADEQUADAS ÀS FASES DE
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
É uma verdade que o brinquedo é apenas o suporte
do jogo, do brincar, e que é possível brincar com a
imaginação. Mas é verdade também que sem brinquedo
é muito mais difícil realizar a atividade lúdica. (…)
Se a criança gosta de brincar, gosta também de brinquedo.
Porque as duas coisas estão intrinsecamente ligadas.
Vital Didonet
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Brinca Comigo! - Editora Nobel