Os custos logísticos continuarão subindo... o que você está
fazendo para minimizar o impacto desse aumento?
Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda
Vários fatores vêm pressionando os custos logísticos e elevando-os a patamares
nunca antes vistos. Esse fenômeno é mundial, e afetará todos os segmentos da
indústria, atacado e varejo, influenciando em alguns casos, o nível de competitividade
das empresas e a relação de poder e influência no mercado.
Abaixo relaciono os principais fatores que colaborarão para o aumento dos custos nos
próximos anos, e que deverá ser alvo de profunda análise em cada empresa, para o
desenvolvimento de medidas preventivas.
Mobilidade urbana e a dificuldade de entrega nas grandes cidades
O problema da difícil mobilidade nos grandes centros urbanos afeta a todos
diretamente ou indiretamente. Em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro,
a velocidade média no período de pico é inferior a 15 km/h; outras cidades como Belo
Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Manaus, Salvador e Recife também
apresentam problemas e em breve enfrentarão as mesmas dificuldades das grandes
metrópoles. As restrições impostas aos caminhões pesados e semi-pesados obrigam
a utilização de veículos leves e semi-leves, de menor capacidade e de custo
operacional muito mais alto. Resumindo, necessita-se de muito mais veículos para a
realização da operação, onerando de forma significativa os custos das entregas.
A resposta do poder público ao problema é lenta e ineficaz, e os municípios têm
adotado cada vez mais medidas restritivas na tentativa de amenizar o problema.
Essas medidas são paliativas, e não resolverão o problema da dificuldade de
locomoção nas grandes cidades.
Em 2.010 foram comercializados mais de 3,5 milhões de veículos 0 km, 11,9% a mais
quando comparado com 2.009; isso representa mais de 9.500 novos veículos por dia
circulando nas ruas brasileiras. Ainda foram vendidas mais de 1,8 milhões de
motocicletas.
Enquanto isso, o PAC 2 destinará apenas R$ 18 bilhões para incrementar a infraestrutura do transporte público coletivo nas 24 maiores cidades do País.
O que pode ser feito para reduzir as desastrosas conseqüências da baixa mobilidade
urbana? Quase nada, infelizmente. É um problema extremamente complexo, que
apenas será resolvido com pesados investimentos do setor público em transporte
coletivo (de qualidade) e em novas obras viárias.
Gargalos na infra-estrutura de transportes
Estamos à beira de um novo apagão logístico!
Os problemas relacionados à falta de investimentos em infra-estrutura de transportes
são visíveis por toda parte. Mais de 60% de nossas cargas utilizam exclusivamente o
modal rodoviário e o poder público tem investido 5 a 6 vezes menos do que o
necessário na recuperação, manutenção e ampliação da estrutura viária. Enquanto
que o PAC previu investir até R$ 33,4 bilhões, a CNT – Confederação Nacional de
Transportes sinalizava a necessidade de uma verba ao redor de R$ 125 bilhões. Na
prática, nem alcançamos a cifra estimada no PAC.
Na prática, também há muito pouco a ser feito. Tanto Embarcadores como
Transportadoras e Operadores Logísticos, assistirão de forma passiva e resignada aos
efeitos de uma má gestão dos recursos públicos.
Escassez de motoristas
Além dos problemas relacionados à mobilidade urbana e infra-estrutura de
transportes, outro problema, igualmente relevante, preocupa o setor logístico: a
escassez de motoristas. O déficit atual já é de mais de 130 mil motoristas e deverá
aumentar ao redor de 10% ao ano nos próximos anos. Infelizmente não há uma
solução simples de curto prazo. Com isso, o mercado não conseguirá atender de
forma elástica à demanda do mercado, afetando diretamente os preços dos fretes.
A falta de motoristas é um problema de todas as partes envolvidas na gestão e
operação da cadeia logística. A tarefa mais complexa caberá às Transportadoras,
responsáveis pela captação de recursos no mercado, desenvolvimento e retenção.
Recuperação de defasagens nas tarifas de fretes
As Transportadoras acumulam grandes defasagens em suas tarifas desde 1.995. Nos
últimos quinze anos, o combustível, principal custo operacional e que representa 30%
a 35% do custo total, variou cerca de 500% nesse período.
Outros custos relacionados ao próprio veículo (depreciação e remuneração do capital),
pneus e peças para a manutenção também pressionam a rentabilidade do setor,
afetando a saúde financeira das empresas e a sua capacidade de investimento, que é
contínua, em função da renovação da frota, ampliação de terminais de carga e
formação e retenção de mão-de-obra qualificada.
Transportadoras e Embarcadores precisarão atuar de forma colaborativa e identificar
ações de rápida implantação quer permitam reduzir os impactos da defasagem de
custos existentes.
Aumento da logística reversa
De coadjuvante a protagonista, a logística reversa está se tornando um dos principais
motivos para as “dores de cabeça” dos profissionais da área de logística.
Extremamente custosa, o volume movimentado na logística reversa aumenta ano após
ano, impactando diretamente na produtividade e nos custos dos Centros de
Distribuição, além de gerar despesas administrativas em função dos controles
necessários.
O fluxo reverso parte da coleta do material, envolve o recebimento, inspeção, triagem
e classificação. Dependendo do estado do material, ele poderá ser descartado ou
reaproveitado, podendo existir a necessidade de reparo. Em paralelo, existe um
complexo controle documental, que envolvem questões fiscais, lançamentos
contábeis, laudos técnicos e atualizações nos sistemas operacionais (em particular o
WMS – Warehouse Management System).
De imediato, é preciso criar indicadores específicos para o monitoramento do fluxo
reverso e examinar detalhadamente cada ocorrência, para identificarmos possíveis
oportunidades de melhorias.
No médio prazo será preciso rever a infra-estrutura existente e o modelo operacional,
além de definir políticas claras para a gestão do fluxo reverso.
Encarecimento da mão-de-obra
Faltam recursos qualificados, e em todos os níveis. Faltam auxiliares operacionais,
conferentes, operadores de empilhadeira, líderes operacionais, supervisores,
analistas, especialistas e até gerentes!
Devido à intensificação da competição pelos melhores talentos no mercado e à lenta
reposição devido às escassas fontes de suprimento, os salários dos profissionais da
área de logística deverão subir bem acima da inflação, e como um dos principais
componentes do custo logístico, tanto em transportes como nas operações de
movimentação e armazenagem, colaborarão diretamente para o aumento dos custos.
O que fazer? Você até poderá desenvolver sofisticados mecanismos de retenção de
talentos, mas não estará livre do assédio e promessas de outras empresas.
No fundo, todos nos transformaremos em concorrentes, não na disputa dos mesmos
mercados, mas na luta pelos melhores recursos humanos.
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