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Estudo do Potencial da Geração de Energia
Elétrica em Vitória da Conquista Utilizando
Biodigestão da Manipueira e a Energia Eólica
S. M. Tamires, e S. F. Jaime
Abstract--The southwestern of the state of Bahia has a huge
emphasis in the nacional production of cassava. In 2004 and
2005, it was the first one largest producer in Bahia and the
second largest producer in Brazil. The climatic characteristics
of this region, show that it has great conditions to becomes
itself able to use the wind energy as an alternative source to
supply eletric power.
The use of biogas, product of cassava's treatment, and the
generating of eletric power are indispensable factors in
reduction enviroments impacts. This article, as a
bibliographic review, has an objective, figure out the
potential generating of eletric power in Vitória da Conquista's
city, through this two mechanism.
Resumo-- A região sudoeste do estado da Bahia possui um
enorme destaque na produção nacional de mandioca. No ano
de 2004 e 2005 foi o maior produtor baiano e o segundo maior
produtor do Brasil. As características climáticas da região
denotam que a mesma, possui excelentes condições que
viabilizam a utilização da energia eólica como fonte
alternativa para a geração de energia elétrica.
O aproveitamento do biogás, produto do tratamento da
manipueira, e a geração de energia eólica para a obtenção de
energia elétrica, são duas ferramentas imprescindíveis na
redução de impactos ambientais. O presente trabalho, em
caráter de revisão bibliográfica, objetivou realizar um
diagnóstico do potencial de geração de energia elétrica na
cidade de Vitória da Conquista por meio desses dois
mecanismos.
Palavras-chave-- Biogás, energias renováveis, impactos ambientais.
I. INTRODUÇÃO
O
S modelos de desenvolvimento econômico e social,
adotados por inúmeros países, vêm expondo a população
mundial aos reflexos catastróficos de uma exploração
desordenada e insustentável do ambiente.
A busca por novas fontes de energia cresceu a partir da
primeira crise do petróleo nos anos 1970. Atualmente, as
motivações para buscar novas fontes de energia não se referem
somente as questões ambientais, como também, refere-se às
questões econômicas, pois muitas empresas temem perder
renda se as catástrofes ambientais se agravarem.
A manipueira, resíduo líquido oriundo do processo de
prensagem da raiz de mandioca, é um potente agente poluidor,
dezenas de vez superior ao esgoto doméstico, de modo que,
pode-se obter um grande aproveitamento desse resíduo através
da utilização de biodigestores anaeróbicos para produção do
biogás. Na região de Vitória da Conquista, objeto estudo deste
trabalho, é muito comum este resíduo ser jogado diretamente
nos corpos d’água e no próprio ambiente circundante,
formando enormes lagos, constituindo inúmeros problemas
ambientais nos locais de processamento da raiz da mandioca.
A energia eólica se caracteriza por apresentar uma fonte
alternativa de energia elétrica. Ela é gerada através de uma
turbina eólica que capta uma parte da energia cinética do
vento, passando através da área varrida pelo rotor e a
transforma em energia elétrica. No Brasil, a utilização deste
recurso se materializa em dezenas de projetos em
desenvolvimento, principalmente, nas regiões Nordeste e Sul.
Segundo o Atlas do Potencial Eólico do Estado da Bahia
2006, o Estado se encontra na região de transição entre
distintos regimes de ventos: mais ao norte atuam os ventos
alísios, os quais convergem para a depressão e mais ao sul
predomina a dinâmica da interação entre o centro de altas
pressões e Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul e as
incursões de massas polares. Isso permite que ele brilhe neste
promissor cenário nacional por apresentar um significativo
potencial eólico, estimado em 10,1% do potencial nacional, o
que se refere a aproximadamente uns 143,5 mil MW.
A cidade de Vitória da Conquista localizada no Sudoeste
da Bahia possui latitude 14°53'S e longitude 40°48'W. Devido
a elevação da cidade, com média de 923 m e mais de 1.100 m
nos bairros mais altos ela é uma das cidades mais amenas das
regiões Norte e Nordeste do país, registrando temperaturas
inferiores a 10 °C em alguns dias do ano. O mês mais quente é
março, com temperatura média de 21,8 °C, enquanto o mês
mais frio é julho, com média de 17,8 °C. A pluviosidade
média anual é de 734 mm, com estação seca de maio a
setembro. Ela possuiu um índice de velocidade média anual do
vento de aproximadamente 6,51 m/s.
II. ENERGIA EÓLICA
A energia eólica se caracteriza por ser uma energia obtida
do movimento das massas de ar, ou seja, energia do vento. O
seu aproveitamento se dá através da conversão da energia
cinética de translação em energia cinética de rotação das
turbinas eólicas ou aerogeradores, para a geração de energia
elétrica.
O vento é o resultado do desigual aquecimento da
superfície da terra pelos raios do sol e dos movimentos de
rotação e translação que ela executa. Deste modo, essas
características justificam a variedade dos ventos em sítio
dependendo de sua latitude, altitude, de sua proximidade do
mar ou de montanhas, na estação do ano, entre outros fatores.
Para a obtenção da energia eólica tem que levar em
consideração que nem todos os locais são apropriados e
considerar os principais componentes: Turbina, Gerador,
2
Caixa Multiplicadora, Sistemas de Controle e Torre que
melhor se aplica a determinada região.
De acordo com alguns fabricantes de turbinas eólicas,
para que o sistema seja economicamente viável, a velocidade
média anual mínima deve ser de 5,5 a 7,0 m/s [2]. Assim, para
efetuar qualquer projeto de instalação de um sistema eólica de
geração de energia elétrica é necessário que se obtenha dados
de medição das velocidades e freqüências dos ventos.
No Atlas do Potencial Eólico do Estado da Bahia (2006)
elaborado pela Coelba, a cidade de Vitória da Conquista
possui um índice de velocidade média anual do vento de
aproximadamente 6,51 m/s, como é mostrado na tabela I.
Logo, este resultado denota que a cidade, além de outros
fatores, possui ótimas condições para a implantação de
sistemas de geração eólicas.
TABELA I
VELOCIDADE MÉDIA ANUAL A 50m
Cidades
Camamu
Capão Redondo
Conde
Costa Dourada
Fátima
Monte Alto
Morro do
Chapéu
Placas II
Rio De contas
Sauípe
Sobradinho
Teofilândia
Vitória da
Conquista
Cascavel
Correntina
Nova Itarana
Irecê
Porto Seguro
Placas I
Ourolândia
Uma
Serra Grande
Curundundum
Belmonte
Rio de Contas II
Caetité
Velocidade Média Anual a 50m
Medido
Calculado
Erro (%)
(m/s)
(m/s)
5.47
6.14
12.2
6.57
6.01
-8.5
6.86
6.59
-3.9
6.83
6.80
-0.4
5.69
5.80
1.9
6.06
6.33
4.5
6.02
6.23
3.5
5.74*
6.71
6.54
6.35
5.79
6.51
6.10
6.50
6.53
6.04
5.71
6.35
6.3
-3.1
-0.2
-4.9
-1.4
-2.5
5.18*
5.79*
5.70*
6.44*
5.02
5.18
5.39
6.18
6.22
7.21*
8.49*
5.65
5.88
6.02
6.54
5.48
5.34
5.74
6.11
6.40
7.57
8.42
9.1
1.6
5.6
1.6
9.2
3.1
6.5
-1.1
2.9
5.0
-0.8
Na tabela I, houve uma comparação entre a velocidade
média anual medida (extrapolada para 50m a partir de
medições em duas alturas e considerando o perfil logarítmico
de camada-limite atmosférica) e aquela calculada pelo
WindMap, é apresentada para todas as estações COELBA. O
desvio padrão das diferenças cálculo-medição foi de 4.9%.
Levando-se em conta as margens de incerteza nos
anemômetros NRG não aferidos, e principalmente, as margens
de incerteza introduzidas na extrapolação das velocidades a 20
ou 30m para a altura de 50m, podendo atribuir ao cálculo uma
exatidão dentro da margem de incerteza nas medições
existentes.
Portanto, uma proposta interessante deste trabalho seria
integrar a geração eólica às redes elétricas. Uma vez que os
aerorogeradores, em grande número, normalmente com grande
potência individual, não necessitariam de armazenamento de
energia, toda a sua geração seria disponibilizada à rede
elétrica.
III. MANIPUEIRA
Diante da importância da mandiocultura para o país e para
o estado da Bahia, na região de Vitória da Conquista a cadeia
produtiva enfrenta vários e sérios problemas ambientais
referente ao manejo do resíduo proveniente da produção. A
cultura é explorada, principalmente por pequenos produtores
descapitalizados, com acesso difícil ao crédito e à assistência
técnica, e que utilizam técnicas tradicionais de cultivo,
segundo [3]. O autor destaca também, que existem sérios
problemas ambientais, resultantes do desgaste do solo, da
derrubada da mata nativa, da queima de lenha durante o
beneficiamento e da falta de tratamento de resíduos. Em tupiguarani a manipueira significa “o que brota da mandioca”,
possui um enorme potencial poluente, e é um resíduo líquido
resultante da prensagem da raiz de mandioca.
Na etapa de processamento é que são gerados os
principais subprodutos e resíduos. Esses representam um
volume nada desprezível. Por exemplo, no processamento da
fécula são gerados aproximadamente, por tonelada de raiz,
2,62 m3 de água de lavagem, 3,68 m3 de água de extração de
fécula, 1,1 m3 de manipueira e uma quantidade de bagaço
(massa ou farelo) equivalente a 1.070 kg [4].
No processamento da mandioca para indústria geram-se
subprodutos fibrosos (cepa, casca e bagaço) e subprodutos
líquidos (água de lavagem das raízes, água de extração de
fécula e manipueira).
A produção da manipueira está associada à quantidade de
mandioca a ser processada, por exemplo, para uma tonelada de
mandioca resultam aproximadamente 300 l de manipueira.
Dessa maneira, para uma fecularia que utiliza uma tonelada de
raízes de mandioca/dia equivale à poluição ocasionada por
200-300 habitantes/dia.
Os glicosídeos cianogênicos, açúcares solúveis e amidos
liberados do processo contribuem para a elevada carga
orgânica das águas residuárias do processo de obtenção do
amido de mandioca. Quando não são tratados adequadamente
os resíduos decorrentes do processamento de farinha, originam
uma carga potencialmente poluidora para os rios, bem como
nos locais de produção a formação de enormes volumes deste
líquido, provocam condições de insalubridade na população e
afetam à saúde e a economia desta atividade.
Um dos principais danos causados por esse resíduo está
associado a sua toxidez, pois, a planta de mandioca contém
glicosídio denominado linamarina, presente em todas as partes
da planta, e que por hidrólise origina a glicose, a acetona e o
ácido cianídrico, tóxico dos mais poderosos e que pode afetar
células nervosas. Este glicosídio combina se com a
3
hemoglobina do sangue, tornando-se um inibidor na cadeia
respiratória.
Por tratar-se de um ácido, o consumo deste resíduo em
pequena quantidade causa certo desconforto semelhante ao da
embriaguez, e se ela for ingerida em grande quantidade por
humanos ou animais domesticados, pode causar a morte por
envenenamento. Existem relatos de morte de animais que
beberam da água aonde ocorreram descargas da manipueira e
também a morte de peixe, pois ela apresenta gosto adocicado
devido a glicose que contém, sendo muito procurada pelos
animais. A tabela II abaixo indica a composição média da
manipueira segundo alguns autores [7].
TABELA II
COMPOSIÇÃO MÉDIA DA MANIPUEIRA
do crescimento excessivo de algas, devido ao excesso de
nitrogênio e fósforo. Tendo como os seus principais geradores,
fatores como a agricultura, criação de animais, esgotos
domésticos e desmatamento.
Verificma-se na tabela III, os resultados das analises da
água coletada no Rio Santa Rita, único rio que corta a cidade
de Vitória da Conquista e que está sendo poluído pelo
lançamento da manipueira, foram coletados amostras de água
à jusante, conforme metodologia recomendada pela empresa
de análise, e encaminhou para análise físico-química [12].
TABELA III
RESULTADO DA ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA NA BACIA
DO RIO SANTA RITA
Resultados
Variáveis
Sólidos totais
Sólidos voláteis %MS
DQO g.L-1
Cianeto total mg. L-1
Nitrogênio
Carbono
Fósforo
Potássio
Cálcio
Enxofre
Magnésio
Ferro
Cobre
Zinco
Manganês
Autores
*
**
***
****
6,28
5,23
63,0
444,00
4.900
37.000
160
1.863
227
195
405
15,3
1,1
4,0
3,7
6,00
5,40
69,3
206,83
2.000
35.000
250
2.810
200
78
290
7,0
1,2
3,0
3,3
4,51
3,83
60.0
140,7
3.000
35.000
300
3.800
400
200
600
6,4
1,4
5,0
3,5
5,54
4,76
62,3
112,2
1.242
12.330
326
1.972
838
60
326
12,4
3,1
32,5
2,2
* CEREDA (1994)
** FERNANDES JUNIOR (1995)
*** BARANA (1996)
**** BARANA (2000)
Observa-se que a água residual pode apresentar-se com
variadas concentrações, sobretudo com relação à matéria
orgânica e ao potencial tóxico, isso porque depende da forma
de processamento.
Nos bairros de Campinhos e Simão, localizados no
município de Vitória da Conquista, é notório o descarte sem
nenhum tipo de tratamento o que contribui com a poluição da
bacia do rio Santa Rita, isso não tem prejudicado somente o
meio ambiente, como também as atividades econômicas, uma
vez que, em determinadas épocas do ano o descarte destes
resíduos próximos aos locais de produção impossibilitam as
atividades, tornando o ambiente insalubre. Deste modo, faz-se
necessário um tratamento adequado a manipueira, de modo
que elimine a contaminação do meio ambiente.
A Manipueira “in natura”, tem um potencial poluidor de
25 vezes a do esgoto doméstico [7]. Isso ocorre porque a
capacidade de depuração (autodepuração) do rio não é capaz
de contornar a poluição provocada pela manipueira, ou seja, o
fenômeno pelo qual o rio se recupera por mecanismos
puramente naturais. Como também a eutrofização, decorrente
Cloretos (Cl)
DBO
DQO
Dureza total
(CaCO3)
Turbidez
(NTU)
780 mg. L-1
243 mg. L-1
63.560 mg. L-1
3.000 mg. L-1
Limites máximos
tolerados**
250,0 mg. L-1
5,0 mg. L-1
500,0 mg. L-1
2.530 NTU
5,0
Como pode ser observado com os resultados das análises
físico-químicas visualizado na tabela 2, verifica-se que a DQO
(Demanda Química de Oxigênio) possui um valor muito
elevado quando se comparado ao esgoto doméstico (2.000,00
mg/L). Pode-se concluir que a DQO do Rio Santa Rita é mais
de 30 vezes superior ao esgoto doméstico e que o rio encontrase fortemente poluído e, possivelmente, eutroficado.
Portanto, pode-se afirmar que a manipueira não deve ser
jogada, em hipótese alguma, nos corpos d’água. Mesmo que o
processo de descontaminação do resíduo tenha uma eficiência
de 90%, os 10% restantes ainda são algumas vezes superiores
à atividade poluidora do esgoto doméstico.
IV. BIODIGESTORES DE
MANIPUEIRA
A. Biogás
Denomina-se biogás (também conhecido como gás dos
pântanos) à mistura gasosa, combustível, resultante da
fermentação anaeróbica da matéria orgânica.
O biogás é obtido a partir de um processo que degrada a
matéria orgânica, possibilitando a produção de energia térmica
e elétrica e vem de uma forma inexorável proporcionar novas
aplicações para os resíduos das explorações agro-pecuárias, da
atividade industrial e esgotos.
Ele é um gás incolor, geralmente inodoro (se não contiver
demasiadas impurezas) e insolúvel em água.
A composição do biogás está relacionada a vários
parâmetros, como o tipo de digestor e o substrato a digerir.
Porém, esta mistura é essencialmente constituída por metano
(CH4), com valores médios na ordem de 55 a 65%, e por
dióxido de carbono (CO2) com aproximadamente 35 a 45% de
sua composição e de outros gases em menor quantidade [12].
O seu poder calorífico está diretamente relacionado com a
4
quantidade de metano existente na mistura gasosa. A tabela IV
representa a sua composição média gasosa.
TABELA IV
COMPOSIÇÃO MÉDIA DA MISTURA GASOSA
Metano (CH4)
Dióxido de Carbono (CO2)
Hidrogênio (H2)
Azoto (N2)
Oxigênio (O2)
Sulfureto de Hidrogênio (H2S)
Amoníaco (NH3)
Monóxido de Carbono (CO)
Água (H2O)
50 a 75 %
25 a 40 %
1a3%
0.5 a 2.5 %
0.1 a 1 %
0.1 a 0.5 %
0.1 a 0.5 %
0 a 0.1 %
Variável
O biogás é, devido à presença do metano, um gás
combustível, sendo o seu Poder Calorífico Inferior (P.C.I.)
cerca de 5500 Kcal/m3, quando a proporção em metano é
aproximadamente de 60 %. Segundo [6], a presença de
substâncias não combustíveis no biogás, como água e dióxido
de carbono, prejudica o processo de queima tornando-o menos
eficiente uma vez que, presentes na combustão absorvem parte
da energia gerada. A tabela v que segue apresenta os P.C.I.’s
para os outros gases correntes, é uma referência para poder
comparar-los.
TABELA V
PODER CALORÍFICO INFERIOR DE DIFERENTES GASES
Gás
Metano
Propano
Butano
Gás de Cidade
Gás Natural
Biometano
P.C.I. em Kcal /m3
8500
22000
28000
4000
7600
5500
É de fundamental importância ressaltar que o biogás é
um gás leve e de fraca densidade. Mais leve do que o ar,
contrariamente ao butano e ao propano, ele suscita menores
riscos de explosão na medida em que a sua acumulação se
torna mais difícil. A sua fraca densidade implica, em
contrapartida, que ele ocupe um volume significativo e que a
sua liquefação seja mais difícil, o que lhe confere algumas
desvantagens em termos de transporte e utilização.
B. Biodigestores
A quantidade de biogás produzido está associada a
diversos fatores, bem como, modelo do biodigestor, a forma
de operação, uso ou não do percentual de inóculo com relação
ao volume do substrato, assim como do tempo de retenção
hidráulica necessária a estabilização completa.
A produção do biogás é proveniente dos biodigestores
através de um processo conhecido há muito tempo, a
biodigestão anaeróbia. A energia oriunda do biogás serve para
cozimento, iluminação e como bio-fertilizante e é muito
popular nos países asiáticos a exemplo da China e Índia.
A biodigestão anaeróbia se inicia na ausência de oxigênio,
as bactérias, primeiramente, convertem o material orgânico
particulado em compostos dissolvidos, num processo,
denominado hidrólise ou liquefação (primeira fase). Após a
degradação da matéria orgânica em substratos pequenos
(oligômeros e monômeros), estes substratos são metabolizados
em função do equipamento enzimático da célula, em ácidos
orgânicos, cetonas, álcoois, NH3, H2 e CO2, esta é a fase de
acidificação (segunda fase). Na terceira fase (acetogênese), as
bactérias acetogênicas (produtoras de hidrogênio que são
capazes de converter ácidos graxos com mais de 2 carbonos a
ácidos acéticos, CO2, H2 que são os substratos para as
bactérias metanogênicas) desempenham um importante papel
entre a acidogênese e a metanogênese. Na quarta e última fase,
os compostos orgânicos simples formados na fase acetogênica,
são consumidos por bactérias estritamente anaeróbias,
denominadas bactérias metanogênicas, que dão origem ao
metano (CH4) e ao gás carbônico (CO2).
Considerando os estudos de [1], que trabalharam com
reatores de fluxo ascendente e separando as fases acidogênica
e metanogênica (capacidade total de 4000 L), obtiveram uma
produção de biogás superior a 3,97 L por L de substrato, com
TRH (tempo de retenção hidráulica) de 4,4 dias. É importante
ressaltar que a separação de fases possibilita o melhor controle
sobre o processo de biodigestão, fornecendo condições ideais
para a ação das bactérias anaeróbicas em cada fase.
A equivalência energética do biogás em relação a outros
combustíveis é determinada levando em conta o poder
calorífico e a eficiência média de combustão, deste modo, 1
Nm3 de biogás equivale a 1,43 KWh de energia elétrica [3].
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento a partir de uma idéia simples emerge
conhecimentos inesperados e de grande importância para o
projeto, podendo abrir caminhos onde a aparente simplicidade
revela processos e teorias científicas centenárias.
Nesse contexto, visando trazer contribuições para o
desenvolvimento socioeconômico e minimização dos impactos
ambientais, este estudo torna-se de grande valia, fundamental
e o primeiro passo para a análise da utilização dos recursos.
Diante da realidade de Vitoria da Conquista, que possui
um índice de velocidade média anual do vento de
aproximadamente 6,51 m/s é notório que teria uma excelente
geração de energia eólica, pois se utilizarmos um aerogerador
de médio porte, a exemplo do TURBINA XL.1kW que é um
dos mais avançados no mundo nessa categoria (compactos,
econômicos e muito produtivos), com um diâmetro do pás de
2,5 metros e uma saída de pico de aproximadamente 1.600
watts o XL.1 teria uma produção em torno de 200 a 550kWh /
mês em 24Vdc, considerando ainda sua velocidade inicial do
vento para o inicio da geração em torno de 2,5 m/s.
Verifica-se também, neste estudo através dos dados
obtidos, a produção de energia elétrica a partir da biodigestão
da manipueira será de aproximadamente 156 Wh por dia.
Conclui-se que a possibilidade de utilização do biogás
para geração elétrica minimiza os impactos ambientais, agrega
valor ao resíduo diminuindo seus custos com tratamento e
possibilitando uma visão sistêmica do processo sob o ponto de
vista da gestão ambiental nas indústrias de fabricação da
5
farinha. E para o potencial eólico, nota-se que a região de
Vitória da Conquista apresenta amplas condições de
aproveitamento, como uma fonte viável e abundante, a
complementar a energia hidrelétrica.
.
VI.
[12] SANTOS, A. Possibilidades e Perspectivas para a sustentabilidade d
cultivo da mandioca no Planalto de Conquista. 2001. 124p. Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento Sustentável - Gestão e políticas ambientais)
Universidade de Brasília, Brasília.
SIMPÓSIOS:
[13] BARANA, A. C. Despoluição da manipueira e uso em fertilização do
REFERÊNCIAS
PERÍODICOS:
solo. I Simpósio Nacional sobre a Manipueira. Vitória da Conquista-Bahia,
[1] FEIDEN, A.; CEREDA, M. P. Potencial energético do biogás gerado no
2008.
tratamento de águas residuarias de fecularias em sistema piloto de biodigestão
anaeróbia com separação de fases. Energia na Agricultura (Botucatu), v. 18,
VII. BIOGRAFIAS
n. 2. P. 54-66. 2003.
LIVROS:
[2] ALDABÓ, R.. Energia Eólica, Editora Artliber Ltda, São Paulo, Brasil,
2002.
[3] CARDOSO FILHO, E. P. Fatores que influenciam na digestão
anaeróbica de efluentes líquidos. CETESB, 2001.
[4] CEREDA, M. P. A Industrialização da Mandioca no Brasil. In: O uso
da manipueira em Fertirrigação. Editora Paulicéia.São Paulo, 1994; p-58-66.
TAMIRES MARIA DA SILVA, filha de José
Maria da Silva e Maria Lúcia da Silva, nasceu em
Brumado, Bahia, em 16 de março de 1988.
Em fevereiro de 2005, iniciou o Curso Técnico
em Meio Ambiente no Instituto Federal da Bahia
(IFBA), Campus Vitória da Conquista, BA,
diplomando-se em dezembro de 2006.
Atualmente, é estudante do 7º semestre do Curso
de Engenharia Elétrica no Instituto Federal da
Bahia (IFBA), Campus Vitória da Conquista, BA
e Técnica em Meio Ambiente da Prefeitura
Municipal de Vitória da Conquista.
[5] RIBEIRO, C. M. V. et al. Atlas do Potencial Eólico do Estado da
Bahia. 2006. 61f. Elaborado pela equipe e gestão estratégica da COELBA.
DISSERTAÇÕES:
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uso energético do biogás gerado pela digestão anaeróbia de resíduos.
Dissertação de Mestrado. Programa Interunidades de Pós Graduação em
Energia (PIPGE) do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da
Universidade de São Paulo. 142 p. São Paulo, 2000.
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biodigestores fase acidogênica e metanogênica. 2000. 95f. Tese (Doutorado
em Energia na Agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas,
Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
[8] BRUNI, A. C. e SOUZA, G. M. L. Otimização de Sistema de
Bombeamento com Energia Eólica. 2007. 89f. Dissertação. (Mestrado em
Engenharia Mecânica) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal
- RN.
[9] FEIDEN, A. Tratamento de águas residuárias de indústrias de fécula
de mandioca através de biodigestor anaeróbico com separação de fases
em escala piloto. 2001. 80p. Tese (Doutorado em agronomia – Área de
concentração Energia na Agricultura) Universidade Estadual Paulista –
UNESP, Botucatu-SP. 2001.
[10] INOUE, K. R. A. Produção de biogás, car acterização e
aproveitamento agrícola do biofertilizante obtido na digestão da
Manipuer ia.
2008.
92f.
Disserta ção
(Ma gister
Scientie)
–
Universida de Federa l de Viçosa (UFV), Viçosa/MG, 2008.
[11] JUNIOR, D. M. Fernando. Viabilidade Técnica/Econômica para
Produção de Energia Eólica, em Grande Escala, no Nordeste Brasileiro.
2009. 53f. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em Formas Alternativas de
Energia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras - MG.
JAIME DOS SANTOS FILHO, filho de Jaime
dos Santos e Edil Borges dos Santos, nasceu
em Salvador, Bahia, em 02 de outubro de
1973.
Em 1993, iniciou o Curso de Engenharia
Elétrica na Universidade Federal da Bahia
(UFBA), diplomando-se em 1998.
Atualmente, é professor do Instituto Federal da
Bahia (IFBA), Campus Vitória da Conquista e
doutorando em Estatística e Experimentação
Agropecuária pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).
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