FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
ENSP- Escola Nacional de Saúde Pública
Mestrado em Saúde Pública – 2000
Subárea - SANEAMENTO AMBIENTAL
Aluno – Pedro Alexandre Moitrel Pequeno
Orientador – Prof. Dr. Teófilo Carlos do Nascimento Monteiro
COLETA SELETIVA DE LIXO
Uma alternativa para minimização de resíduos com geração de renda
AGOSTO / 2002
i
Ficha catalográfica
PEQUENO, Pedro Alexandre Moitrel
Coleta Seletiva de Lixo: Uma alternativa para
minimização de resíduos com geração de renda
Rio de Janeiro, 2002.
XVIII. 148p 29,7 cm( ENSP/FIOCRUZ, M.Sc.
Saneamento Ambiental, 2002 )
Dissertação – FIOCRUZ
1 . Saneamento Ambiental 2.Políticas Pública
3. Resíduos Sólidos 4. Coleta Seletiva de Lixo
ii
RESUMO
O lixo produzido pelas atividades urbanas representa um dos mais graves
problemas
ambientais
da
atualidade.
Como
agravante,
observa-se
um
crescimento generalizado nas quantidades geradas. Devido aos altos custos para
o seu recolhimento e transporte, e à escassez de áreas para sua correta
destinação, é fundamental a pesquisa visando a implementação de soluções
que resultam na redução dessas quantidades.
Analisando-se a composição média desses resíduos, observa-se a presença
de diversos materiais com relativo valor econômico. A partir da segregação na
origem, através de algum sistema de coleta seletiva de lixo, torna-se possível
agregar valor a
esses materiais, promovendo a geração de renda aos
participantes dos sistemas,
como também, e principalmente, minimizando as
quantidades de lixo dispostas no meio ambiente.
O objetivo desta pesquisa consiste em apresentar aspectos característicos
dos sistemas de coleta seletiva de lixo que contribuem efetivamente para redução
de resíduos no meio ambiente. O enfoque é a experiência desenvolvida no
Município de Angra dos Reis, no período de 1993 a 2000, quando foram
registradas quantidades expressivas de lixo reciclável, coletadas e retornadas,
como matéria prima, às indústrias.
A concepção adotada para o sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos
Reis se baseou, intensivamente, na remuneração do lixo reciclável fornecido pela
população ao sistema, através de um programa de troca por alimentos, material
escolar e cimento. Conhecendo-se o valor de mercado dos componentes do lixo
(alumínio, metais em geral, vidros, papéis e plásticos), estabeleceu-se uma tabela
de valores para troca. A Prefeitura Municipal, no sentido de viabilizar a
participação
da
população,
implantou
uma
estrutura
para
recolhimento,
recebimento, beneficiamento e comercialização desse material, composta por
iii
galpões;
veículos;
embarcações;
usina
de
beneficiamento;
funcionários
operacionais; e estrutura administrativa.
A partir dos dados coletados, tanto em visitas a diversas experiências, como
em pesquisa bibliográfica, foi possível concluir que, apesar dos custos financeiros
para
implantação e manutenção dos sistemas, os resultados em relação à
diminuição dos impactos no meio ambiente e à melhoria na geração de renda da
população participante são considerados altamente positivos.
iv
ABSTRACT
Nowadays, the municipal solid wastes (MSW) are one of the most important
environment problem in the world. We can also observe that the increasing
quantities of the produced MSW, because of their high costs to their collection and
transportation, with a few offer of good areas to make a correct destination, are the
main reasons to research solutions for the problem.
Considering the basic composition of the solid waste produced by the cities,
we can observe some sort of materials with important economic values. After the
separation of these materials in the begining of the process (Solid Waste Selective
Collection ), it is possible to add them economic values, increasing na extra income
to the clientes of this service. The reduction of the quantities of MSW stored on the
land fills means an important reduction on the negatives environment impacts .
This research relates an experience developed in the city of Angra dos Reis,
State of Rio de Janeiro, Brasil, during seven years , from 1993 to 2000. In that
period, expressives recycling quantities were registered, going back to the industry
sector, developing new products.
The design
chosen for the system of Solid Waste Select Collection
(Recycling) in Angra dos Reis was mainly based on remuneration for the clients,
proporcionaly to the solid waste quantity given from each person or institution
(clients).
The recyclable materials delivered to the system, gather points to the clients to
be changed by food, and school or construction materials.
In addition to the reduction of the quantities of solid wastes on the
environment, was observed an important upgrade on income level of the
participant people.
v
AGRADECIMENTOS
A todos que com determinação, paciência e sensibilidade, lutam
preservação ambiental, em especial, na
busca por
pela
soluções para o grave
problema de destinação final dos resíduos sólidos.
À equipe da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Angra dos
Reis, no período de 1990 a 1992, pela iniciativa da proposta de implantação de um
sistema de coleta seletiva de lixo no município, em especial à engenheira Berenice
Cordeiro, pela elaboração da primeira concepção do projeto; ao biólogo Mário
Moscatelli, pela busca e viabilização dos recursos financeiros iniciais; e ao
arquiteto Gonçalo Guimarães, Secretário de Planejamento, pela viabilização das
parcerias institucionais – PMAR - Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, CCFDComitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento (França), CEDAC-Centro
de Ação Comunitária, COMAM-Conselho Municipal das Associações de
Moradores, e diversas associações de moradores.
À equipe do setor de Saneamento Básico da Prefeitura Municipal de Angra
dos Reis, no período de 1993 a 1996, pela sensibilidade social, ambiental e
política, garantindo a continuidade do sistema de coleta seletiva de lixo no
Município de Angra dos Reis, em especial ao arquiteto urbanista Marcos Thadeu
Abicalil – Secretário de Obras; ao sociólogo Alberto Gomes Silva – Coordenador
do Programa de Saneamento Básico; e
ao engenheiro Jorge Arraes –
Subcoordenador de Saneamento Básico.
E à equipe do setor de Saneamento Básico da Prefeitura Municipal de Angra
dos Reis, no período de 1997 a 2000, pela luta, tentando demonstrar o óbvio, para
manutenção do sistema de coleta seletiva de lixo no município, em especial ao
sociólogo Carlos Bastos – coordenador do setor de Mobilização Social; a Benedito
do Nascimento – encarregado geral dos serviços de gerenciamento dos resíduos
sólidos no município; e
a Paulo Sevalho Gonçalves, o “Paulinho do lixo” –
vi
coordenador da Coleta Seletiva de Lixo. Este último, o grande responsável pelo
sucesso do sistema no município.
Finalmente, agradeço à Fundação Osvaldo Cruz, através da Escola Nacional
de Saúde Pública, pela capacitação (Engenheiros de Saúde Pública – 1984), e
pela relação permanente ao longo de todos esses anos, em especial ao Prof. Dr.
Odir Clécio da Cruz Roque e ao Prof. Dr. Teófilo Carlos do Nascimento Monteiro.
Um especial agradecimento a todos da Secretaria Acadêmica da ENSP, cuja
colaboração foi fundamental para a conclusão deste trabalho.
vii
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------- 1
CAPÍTULO 1 – Resíduos Sólidos: Contexto atual ----------------------------------3
Revisão da Literatura
1.1 – Conceitos -------------------------------------------------------------------------------- 3
1.2 – Os resíduos sólidos e suas implicações na saúde pública ------------------- 4
1.3 – A Agenda 21 e sua relação com a gestão dos resíduos sólidos ------------ 6
1.4 – A situação dos resíduos sólidos no Brasil ---------------------------------------- 10
1.5 - Algumas alternativas para a destinação final do lixo -------------------------- 15
1.5.1–Experiências Internacionais --------------------------------------------------- 15
1.5.2- Experiências nacionais --------------------------------------------------------- 19
1.5.2.1- Relação de alguns sistemas de coleta seletiva de lixo no Brasil -19
CAPÍTULO 2 – Objetivos e Métodos
-------------------------------------------------27
2.1 – Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------27
2.1.1 - Objetivo geral ----------------------------------------------------------------------27
2.1.2 -Objetivos específicos ------------------------------------------------------------28
2.2 - Metodologia ------------------------------------------------------------------- ------------29
viii
CAPÍTULO 3 – Estudo de Caso ----------------------------------------------------------31
O Sistema de Coleta Seletiva de Lixo de Angra dos Reis (1993/2000) --------31
3.1– Histórico -------------------------------------------------------------------------------- 31
3.2- O gerenciamento dos resíduos sólidos em Angra dos Reis ----------------35
3.3- O Programa de Troca de Lixo (concepção e estrutura operacional) ----- 41
3.4 - Educação Ambiental ------------------------------------------------------------------59
3.5- Comercialização ------------------------------------------------------------------------61
3.6 - Quantidades processadas no programa -----------------------------------------64
3.7 - Custos do programa -------------------------------------------------------------------68
CAPÍTULO 4 – Discussão -------------------------------------------------------------------72
CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS--------------------------------------------------------97
ANEXOS
--------------------------------------------------------------------------------------104
ix
RELAÇÃO DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 - Estimativa do impacto da doença devido à precariedade do ambiente
doméstico nos países em desenvolvimento – 1990 – Pág. 5
Quadro 2 - Enfermidades relacionadas com os resíduos sólidos, transmitidas por
macro vetores e reservatórios – Pág. 5
Quadro 3 - Tempo de sobrevivência ( em dias ) de microorganismos patogênicos
nos resíduos sólidos – Pág. 6
Quadro 4 - Estimativa de uso de diferentes métodos de tratamento para os
resíduos sólidos municipais (MSW) na Europa em 1993 (%) – Pág.15
Quadro 5 - Quadro de Gerenciamento dos resíduos sólidos – Pág.37
Quadro 6 - Número de funcionários e equipamentos envolvidos – Pág. 38
Quadro 7 - Custos dos serviços de Limpeza Urbana no Município de Angra dos
Reis – RJ – Pág.40
Quadro 8 – Programação de trabalho nos postos de troca e estrutura – Pág. 54
Quadro 9 – Estrutura de pessoal e equipamentos da Usina de Lixo – Pág. 59
Quadro 10 - Quadro de Compradores, Exigências e Preços – Pág. 61
Quadro 11 - Quadro de Venda de Lixo - Média Mensal – Pág.64
Quadro 12 - Demonstrativo de entrada de lixo no Programa ( Kg ) – Pág. 65
Quadro 13 - Custos médios mensais de coleta e administração da troca – Pág 70
Quadro 14 - Custos Médios Mensais de Beneficiamento – Pág.70
Quadro 15 - Custos globais do programa – Pág.70
Quadro 16 - Composição física dos resíduos sólidos urbanos relativa a várias
localidades citada por diferentes autores – Pág. 74
Quadro 17 - Massas específicas dos resíduos sólidos – Pág. 79
Tabela 1 -
Destinação Final do lixo gerado no Brasil – Pág. 13
Tabela 2 - Tabela de pontuação do Programa de Troca – Pág.43
Tabela 3 - Quantidades médias, por tipo de material no programa – Pág. 67
Tabela 4 -
Evolução quantitativa do Programa de Troca (kg) – Pág.68
x
Tabela 5 - Demonstrativo de custos por habitante – Pág. 69
Tabela 6 -Média de preços de materiais recicláveis no Estado do Rio de Janeiro
– Pág. 76
Tabela 7 – Média de preços de materiais recicláveis em diversas cidades
brasileiras – Pág. 77
xi
RELAÇÃO DE FOTOGRAFIAS E FIGURAS
Fotografias
Foto 1 – Vazadouro de lixo urbano – “lixão”- Ariró – Angra dos Reis – jan/2001 –
Pág. 11
Foto 2 – Resíduos sólidos urbanos depositados irregularmente em espaço público
– Pág. 12
Foto 3 - Ponto de entrega voluntária para diversos materiais, inclusive roupas.
Londres, 1998. – Pág. 16
Foto 4 – Ponto de entrega voluntária para sapatos – Londres, 1998. – Pág.17
Foto 5 – Embarcação de coleta seletiva de lixo em operação na Ilha Grande –
Pág. 48
Foto 6 – Embarcação de coleta seletiva de lixo em operação na Ilha Grande –
Pág. 49
Foto 7 – Galpão de Coleta Seletiva - São Bento – Angra dos Reis – Pág. 52
Foto 8 – Imagem da troca de lixo reciclável por prêmios – Pág. 53
Foto 9 – Latas de flandres estocadas, aguardando beneficiamento – Pág. 55
Foto 10 – Plástico estocado, aguardando beneficiamento – Pág. 56
Foto 11 – Latas de alumínio prensadas sendo comercializadas – Pág. 57
Figuras
Figura 1 - Mapa do Município de Angra dos Reis – RJ – Pág. 33
Figura 2 - Fluxograma do sistema de coleta seletiva de lixo – Pág. 34
Figura 3 - Fluxograma geral do Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
– Pág. 36
Figura 4 -
Fluxograma do Prograrma de Troca de Lixo por bens de consumo –
Pág. 44
xii
Figura 5 - Composição percentual média do lixo domiciliar em alguns países –
Pág. 73
Figura 6 - Composição percentual média do lixo domiciliar em alguns municípios
brasileiros – Pág. 75
xiii
RELAÇÃO DE ANEXOS – Pág. 104
Anexo 1 - Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra
dos Reis, em 1991 – Pág.106
Anexo 2 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra
dos Reis – Adesivos para pontos de entrega voluntária ou para recipientes
domiciliares – Pág. 110
Anexo 3 – Idem Anexo 2 – Pág. 112
Anexo 4 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra
dos Reis, em 1991 – “Folder” promocional – Pág.114
Anexo 5 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra
dos Reis, em 1993 – Programa de Troca – Pág. 119
Anexo 6 – Material de divulgação de uma coleta seletiva comercial – Pág. 122
Anexo 7 – Material de divulgação de uma coleta seletiva comercial – Pág. 125
Anexo 8 – Planilhas de controle de entrada de lixo reciclável no galpão principal
do sistema de coleta seletiva de lixo de Angra dos Reis – Registros do “Programa
de Troca – Pág. 127
Anexo 9 – Gráficos que apresentam resultados de pesquisa em relação ao
comportamento dos participantes do sistema de coleta seletiva de lixo em São
Francisco – Niterói – RJ – Pág. 131
Anexo 10 – A triste realidade da destinação dos plásticos e uma alternativa
comercial como solução –Pág. 140
xiv
Anexo 11 – Alguns exemplos da comercialização dos recicláveis como alternativa
de geração de renda a partir do lixo – Pág. 144
Anexo 12 – Exemplo da reciclagem como arte e instrumento de educação
ambiental – Pág. 147
xv
RELAÇÃO DE SIGLAS
3 Rs – Reduzir, Reaproveitar, Reciclar
ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASSEMAE – Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CF – Constituição Federal
CEF – Caixa Econômica Federal
CIRS – Centro de Informações sobre Resíduos Sólidos
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CREA –RJ – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro
DMLU – Departamento Municipal de Limpeza Urbana
ECO-92
–
Conferência
das
Nações
Unidas
Desenvolvimento
ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública
ETE – Estação de Tratamento de Esgotos
FGV – Fundação Getúlio Vargas
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPT – Instituto de Pesquisa Tecnológica
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
ISER – Instituto de Estudos da Religião
ISWA – International Solid Waste Association
LEV – Locais de Entrega Voluntária
xvi
sobre
Meio
Ambiente
e
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NBR – Norma Brasileira
ONG – Organização Não-Governamental
OPAS – Organização Panamericana de Saúde
PEV – Pontos de Entrega Voluntária
PIB – Produto Interno Bruto
PROSAB – Programa de Saneamento Básico
RSS – Resíduos de Serviços de Saúde
RSU – Resíduos Sólidos Urbanos
UFF – Universidade Federal Fluminense
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
xvii
RELAÇÃO DE NORMAS
NBR 10004/set. 1987 – Resíduos Sólidos - Classificação
NBR 13463/set. 1995 – Coleta
acondicionamento ao transporte
de
Resíduos
Sólidos
Urbanos
–
Do
NBR 12980/ago. 1993 – Coleta, Varrição e Acondicionamento de Resíduos
Sólidos Urbanos
NBR 13221/nov. 2000 – Transporte de Resíduos
NBR 8419/abr. 1992 – Apresentação de Projetos de Aterros Sanitários de
Resíduos Sólidos Urbanos
NBR 12807/jan. 1993 – Resíduos de Serviços de Saúde – Definições
NBR 12808/jan. 1993 – Resíduos de Serviços de Saúde – Classificação
NBR 12809/fev. 1993 – Manuseio de Resíduos de Serviços de Saúde
NBR 12810/jan. 1993 – Coleta de Resíduos de Serviços de Saúde
xviii
1
INTRODUÇÃO
Os grandes problemas ambientais ultrapassam as fronteiras territoriais e
devem ser tratados de forma global, pois afetam a vida de todos no planeta.
A atividade humana gera impactos ambientais que repercutem nos meios
físicos, biológicos e sócio-econômicos afetando os recursos naturais e a saúde
humana. Esses impactos se fazem sentir nas águas, ar e solo e na própria
atividade humana.(FNS, 1999)
Um aumento da população mundial implica no aumento do uso das reservas
do planeta, da produção de bens - e também da geração de lixo.
A população mundial aumentou no século XX em quase 5 bilhões de
habitantes. A previsão, para os próximos 30 anos, é de um aumento de 3 bilhões
de habitantes, chegando a um total de 8 bilhões de habitantes. Nossos padrões de
consumo e de produção resultam numa quantidade cada vez maior de resíduos
de toda espécie, o que torna o problema do lixo bastante complexo, prevendo-se
que até o ano 2025, sejam produzidos cinco vezes mais resíduos do que hoje.
(Campos, 1999)
Atrelado a isto, vem o aumento da poluição do solo, das águas (subterrâneas
e de superfície) e do ar, levando a um contínuo e acelerado processo de
deterioração de nosso ambiente, com uma série de implicações na qualidade de
vida de seus habitantes e nos seus bens naturais.(IPT/CEMPRE, 1995.)
A problemática da destinação final dos resíduos sólidos
exemplifica
perfeitamente essa situação, correlacionando-se com a sociedade e com o meio
ambiente, desde a origem de todo o processo de produção e consumo. A atual
complexidade do problema e, ao mesmo tempo,
o sentimento de que todo
cidadão participa ativamente do processo, são fatores determinantes nos debates
das questões ambientais no mundo.
O presente estudo vem trazer uma contribuição para esse tema, levantando
dados a respeito da situação geral dessa problemática no mundo e no Brasil, e
também apresentando diversos aspectos de várias experiências para tratamento e
destinação dos resíduos sólidos.
2
O correto tratamento dado aos resíduos sólidos tem influência direta nas
condições de saúde publica da população. Diversas enfermidades e também
várias endemias são decorrentes da forma de acondicionamento e destinação dos
resíduos.
Este estudo apresenta os resultados da experiência de coleta seletiva de lixo
desenvolvida no Município de Angra dos Reis, entre os anos de 1993 e 2000. A
redução nas quantidades de resíduos lançados ao meio ambiente durante esse
período, pode estar associada a uma melhoria nas condições de saúde da
população participante, uma vez que a concepção adotada, além de minimizar
resíduos no meio ambiente, promoveu significativa geração de renda.
3
CAPÍTULO 1 – Resíduos Sólidos: Contexto atual
Revisão da Literatura
1.1– Conceitos
Integram
o
sistema
de
limpeza
urbana
as
etapas
de
geração,
acondicionamento, coleta, transporte e disposição final dos resíduos sólidos, além
da limpeza de logradouros públicos.
Grande parte dos resíduos gerados no país não é regularmente coletada,
permanecendo junto às habitações ou sendo vazada em logradouros públicos,
terrenos baldios, encostas e cursos dágua. Diante dessa realidade, constata-se
uma deficiência na gestão dos serviços, pelo fato da não integração de diversas
instâncias da administração pública, entre si, e junto à sociedade. Neste contexto
surge o conceito de “gestão integrada” como sendo fundamental para o alcance
de resultados a partir de qualquer intervenção. Gerenciar o lixo de forma integrada
demanda trabalhar integralmente os aspectos sociais com o planejamento das
ações técnicas e operacionais do sistema de limpeza urbana.
Para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos existem diversas alternativas.
É muito importante, portanto, conceituar este termo. Define-se tratamento de
resíduos sólidos urbanos como uma série de procedimentos destinados a reduzir
a quantidade ou o potencial poluidor dos resíduos sólidos, seja impedindo
descarte de lixo em ambiente ou local inadequado, seja transformando-o em
material inerte ou biologicamente estável.
Sob a mesma ótica da atenção aos impactos ambientais define-se reciclagem
de lixo como a separação de materiais do lixo domiciliar, tais como papéis,
plásticos, vidros e metais, com a finalidade de trazê-los de volta à indústria para
serem beneficiados. Esses materiais são novamente transformados em produtos
comercializáveis no mercado de consumo.(IBAM, 2001)
4
1.2 - Os Resíduos Sólidos e suas implicações na Saúde Pública
O conceito de saúde entendido como um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, não restringe o problema sanitário ao âmbito das doenças.
A maioria dos problemas sanitários que afetam a população mundial estão
intrinsecamente relacionados com o meio ambiente.
No Brasil as doenças resultantes da falta ou inadequação de saneamento,
especialmente em áreas pobres, têm agravado o quadro epidemiológico, sendo
uma questão de máxima relevância na transmissão de um grande conjunto de
doenças, tais como dengue e leptospirose.(Minayo, 1995)
A disposição inadequada do lixo está diretamente ligada à presença de
vetores de diversas doenças. Em função da oferta de alimento, abrigo e água,
vetores como urubus, ratos, baratas e mosquitos
encontram no acúmulo
descontrolado de resíduos o ambiente propício à sua participação nos ciclos das
doenças. Recentemente, passamos por uma epidemia de dengue pela presença
do mosquito Aedes aegypti, atingindo, a cidade do Rio de Janeiro,
aproximadamente com 200 mil casos, e 50 óbitos. Segundo Pignatti (UFMT,
2000), o controle do dengue no ambiente urbano depende da incorporação nos
programas de controle da doença de ações de saneamento do meio, entre essas
ações, o destino adequado do lixo.
Os roedores causam prejuízos à saúde humana, pois são transmissores de
uma série de doenças ao homem e a outros animais, participando da cadeia
epidemiológica de pelo menos 30 zoonoses.
Leptospirose,
peste, tifo,
hantaviroses, salmoneloses, febre da mordedura, triquinose, são algumas das
principais doenças nas quais o roedor participa de forma direta ou indireta.(
FNS,1999)
Dentre os artrópodos, os grupos de maior interesse sanitário pertencem à
Classe Insecta (insetos), sendo os mais relacionados com a presença de lixo sem
controle,
as moscas, as baratas e os mosquitos, sendo a estes atribuída a
transmissão de diversas doenças, tais como: febre tifóide, diarréia infecciosa,
peste bulbônica, febre amarela, dengue, entre outras.
5
A problemática do destino inadequado do lixo e a falta de conscientização da
população em relação à importância do equilíbrio ambiental e seus reflexos na
incidência de doenças atreladas à proliferação de vetores, são fatores
determinantes no processo saúde-doença (Bromberger, 2000)
Apresenta-se, a seguir, alguns quadros relativos à influência dos resíduos
sólidos na saúde ambiental:
Quadro 1 - Estimativa do impacto da doença devido à precariedade do ambiente
doméstico nos países em desenvolvimento – 1990
Principais Doenças ligadas à Precariedade
do Ambiente Doméstico
Problema Ambiental
Tuberculose
Superlotação
Diarréia
Falta de saneamento, de abastecimento de
água, de higiene
Doenças tropicais
Falta de saneamento, má disposição do lixo,
foco de vetores de doenças nas redondezas
Verminoses
Infecções respiratórias
Falta de saneamento, de abastecimento de
água, de higiene
Poluição do ar em recinto fechado, superlotado
Doenças respiratórias crônicas
Poluição do ar em recinto fechado
Câncer do aparelho respiratório
Poluição do ar em recinto fechado
Fonte : Banco Mundial, 1993
Quadro 2 - Enfermidades relacionadas com os resíduos sólidos, transmitidas por
macro vetores e reservatórios
Vetores
Forma de transmissão
Enfermidades
Rato e pulga
Mordida, urina, fezes e picada
Mosca
Asas, patas, corpo, fezes e saliva
Mosquito
Picada
Barata
Asas, patas, corpo e fezes
Gado e porco
Ingestão de carne contaminada
Leptospirose, Peste
bulbônica, Tifo murino
Febre tifóide, Cólera,
Amebíase, Disenteria,
giardíase, Ascaridíase
Malária, Febre amarela,
Dengue, Leishmaniose
Febre tifóide, Cólera,
Giardíase
Teníase, Cisticercose
Cão e gato
Urina e fezes
Toxoplasmose
Fonte: Barros, 1995.
6
A massa de resíduos sólidos apresenta agentes patogênicos e microorganismos
prejudiciais à saúde humana, já que a elevada sobrevida destes agentes aumenta
o risco de doenças, conforme demonstrado no Quadro 3.
Quadro 3 - Tempo de sobrevivência ( em dias ) de microorganismos patogênicos
nos resíduos sólidos
Microorganismos
Doenças
Bactérias
Salmonella typhi
Salmonella Paratyphi
Salmonella sp
Shigella
Coliformes fecais
Leptospira
Mycrobacterium tuberculosis
Vibrio cholerae
Febre tifóide
F. paratifóide
Salmoneloses
Disenteria bacilar
Gastroenterites
Leptospiroese
Tuberculose
Cólera
Tempo de sobrevivência nos
Resíduos.Sólidos (dias)
29 - 70
29 - 70
29 – 70
02 – 07
35
15 – 43
150 – 180
1 – 13
Vírus
-
-
Enterovirus
Poliomielite (Poliovirus)
20 – 70
Ascaridíase
Trichiuríase
Ancilostomose
-
2000 – 2500
1800
35
25 – 40
-
Helmintos
Ascaris lumbricoides
Trichuris trichiura
Larvas de ancilóstomos
Outras larvas de vermes
Protozoários
Entamoeba histolítica
Amebíase
Fonte : Suberkropp (1974) In Lima (1995)
08 - 12
1.3 - A Agenda 21 e sua relação com a Gestão dos Resíduos Sólidos
Considera-se um marco nas discussões sobre as questões ambientais a
Conferência Mundial do Meio Ambiente, ocorrida em 1972, em Estocolmo, na
Suécia. Ao longo dos vinte anos seguintes o Mundo pode perceber, sob ótica mais
7
crítica, as transformações ambientais e suas consequências para a preservação
do planeta. Em 1992, no Rio de Janeiro, a Segunda Conferência Mundial do Meio
Ambiente – ECO-92, permite ao mundo conhecer o amadurecimento da discussão
ambiental e um dos resultados foi o estabelecimento de uma relação de
compromissos que
as nações signatárias cumpririam ao longo dos anos
seguintes e, principalmente, pelo século 21. Esse documento, intitulado Agenda
21, vem nortear as estratégias de desenvolvimento, com preservação ambiental
A Agenda 21 é uma carta de compromissos sobre temas que aliam o
desenvolvimento à preservação do meio ambiente e à equidade social. Seu
princípio básico é o de que todos nós somos responsáveis por promover o
desenvolvimento sustentável das sociedades. É um documento de 500 páginas,
com 40 capítulos, organizados em quatro seções, cobrindo desde temas
estritamente ligados ao meio ambiente até questões sociais. Para sua elaboração,
contribuíram governos e instituições de 179 países.
Os capítulos 19, 20, 21 e 22 da Agenda abordam as questões relacionadas
aos resíduos, sob o ponto de vista do manejo ecologicamente saudável e do
desenvolvimento sustentável. De acordo com ela, tratar os resíduos sólidos de
maneira
sustentável
significa
levar
em
conta
objetivos
cuidadosamente
determinados e centrar-se nas quatro principais áreas de programas relacionadas
com eles:
-
Redução da produção de resíduos ao mínimo;
-
Aumento máximo da reutilização e da reciclagem ambientalmente saudáveis
dos resíduos;
-
Promoção do tratamento e da localização ambientalmente saudáveis dos
resíduos;
-
Ampliação dos serviços que se ocupam dos resíduos.
Mais relacionado com a questão dos resíduos sólidos urbanos, o Capítulo 21-
Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas
com os esgotos, é transcrito, em parte, a seguir:
8
21.1 – (...) “A Assembléia afirmou que o manejo ambientalmente saudável dos
resíduos se encontrava entre as questões mais importantes para a manutenção da
qualidade do meio ambiente da Terra e, principalmente, para alcançar um
desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países”.
21.4 – “O manejo ambientalmente saudável destes resíduos deve ir além da
simples deposição ou aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados
e buscar resolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os
padrões não-sustentáveis de produção e consumo. Isto implica a utilização do
conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade única
de conciliar o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente”.
A mudança nos padrões de produção e consumo é o ponto central da Agenda
21, ocupando todo o seu capítulo 4. Esta mudança é um dos maiores objetivos da
Agenda, pois toca o atual modelo de desenvolvimento exatamente no seu núcleo
econômico -
o núcleo que sustenta as duas pontas, a da produção e a do
consumo.
A Agenda 21 propõe uma série de ações para orientar governos e sociedade
nesta mudança:
-
Reduzir e eliminar incentivos (principalmente os de energia) e aumentar os
impostos para as atividades produtivas e os padrões de consumo que
provocam desperdícios de toda ordem;
-
Promover medidas para incluir tanto os custos quanto os benefícios ambientais
nos preços dos produtos e serviços;
-
Desenvolver maneiras de detectar o consumo indesejado e a produção
insustentável;
-
Promover programas nacionais para o uso eficaz dos recursos naturais
(energia e matérias-primas) com datas de implantação definidas;
9
-
Levar os governos municipais, estaduais e federal a serem os primeiros a
mudar seus padrões de consumo, a fim de melhorarem os seus próprios
desempenhos ambientais;
-
Envolver os meios de comunicação de massa, as empresas e os prestadores
de serviços de marketing em campanhas educativas de combate a todo tipo de
desperdício e de incentivo ao uso de produtos ambientalmente sustentáveis, os
que apresentam o “selo ecológico”. Esta proposta vem causando bastante
polêmica, pois não vem acompanhada de alternativas em relação ao aumento
dos custos decorrentes de novos impostos ou outras restrições, que quase
sempre prejudicam os países mais pobres ou menos desenvolvidos.
-
Incentivar as iniciativas econômicas que utilizam “tecnologias limpas”;
-
Informar cada vez melhor, e a cada vez mais gente, sobre os danos ao meio
ambiente e à saúde, causados pelo desperdício na produção e no consumo.
(SEDU/IBAM, 2001)
10
1.4 - A Situação dos Resíduos Sólidos no Brasil
As
administrações
públicas,
principalmente
as
prefeituras
municipais,
desempenham papel fundamental na prestação dos serviços à população.
Os serviços públicos de infra-estrutura, em especial os de saneamento
–
abastecimento de água, esgotamento sanitário e limpeza urbana – são atribuições
municipais definidas pela Constituição Federal de 1988. Há controvérsias em
relação a água e esgotos, mas não há dúvidas em relação à limpeza urbana.
Na leitura do Artigo 30 – Inciso V - da Constituição Federal de 1988 percebese a subjetividade na interpretação e definição de responsabilidades em relação à
prestação de serviços de saneamento .
Artigo 30 – “Compete aos Municípios: V- Organizar e prestar, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local,
incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;” ( Constituição
Federal, 1988.)
É um consenso, porém, que, na maior parte dos casos, as questões
relacionadas a resíduos sólidos devem ser gerenciadas pelos municípios, o que
significa
um
desafio
para
essa
instância
da
administração
pública,
tradicionalmente frágil, porém, mais próxima dos usuários dos serviços.
No Brasil a situação é bastante grave e pode ser melhor conhecida pela
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB,1989, realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que mostrou que o crescimento
populacional, bem como o aumento do grau de urbanização não foi acompanhado
de medidas necessárias para dar ao lixo gerado por esta população um destino
adequado.(IPT/CEMPRE, 1995.)
Mais recentemente, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB,
2000, continuou demonstrando que, apesar das melhorias, a maior parte das
cidades brasileiras não conta ainda com soluções adequadas para o tratamento
do lixo e, como resultado, observa-se o acúmulo dos mais diversos
tipos de
11
resíduos, em diferentes locais, espalhados pelas cidades e em seus arredores
(IBGE, 2000).
As imagens apresentadas nas fotos 1 e 2 são representativas dessa crítica
situação.
Foto 1 – Vazadouro de lixo urbano – “lixão”- Ariró – Angra dos Reis – jan/2001
12
Foto 2 – Resíduos sólidos urbanos depositados irregularmente em espaço
público
Do total do lixo doméstico produzido no Brasil diariamente, aproximadamente
250.000 toneladas, 75% estão dispostos inadequadamente, sem receber qualquer
tratamento. Dos restantes 25%, a maior parte recebe, apenas, algum tipo de
controle, conforme apresentado na Tabela 1. Na parcela referente a aterro
controlado (10%), este controle consiste , na maior parte dos casos, no
recobrimento com material inerte, geralmente saibro, causando problemas
operacionais, já que este saibro nem sempre encontra-se disponível facilmente e
muitas vezes provém de jazidas não licenciadas e mal exploradas.
13
Tabela 1 –
Destinação Final do lixo gerado no Brasil
DESTINO DO LIXO (GERAL)
%
CÉU ABERTO
ATERRO CONTROLADO
ATERRO SANITÁRIO
USINA DE COMPOSTAGEM
USINA DE INCINERAÇÃO
Fonte: IBGE, 1991
76
13
10
0,9
0,1
É importante observar que os números apresentados na Tabela 1
consideram, apenas, as quantidades de lixo coletadas. As quantidades de lixo não
coletadas que se espalham pelas vias urbanas, córregos, rios, taludes, encostas,
etc. não estão contabilizadas e contribuem, significativamente, para a degradação
ambiental e consequentes agravos à saúde pública.
Diversos fatores são apontados como causas para essa realidade no Brasil:
condições
sócio-econômicas;
nível
de
conscientização
ambiental;
baixa
sensibilidade em relação às questões de saúde ambiental; custos elevados para
implantação e operação dos serviços, falta de priorização de investimentos
públicos, etc.
Nos últimos vinte anos, o Brasil mudou muito, e o seu lixo também. O
crescimento acelerado das cidades e, ao mesmo tempo, as mudanças no
consumo dos cidadãos também são fatores que vêm causando a produção de um
lixo muito diferente daquele que as cidades produziam há trinta anos.
O Quadro 16, no Capítulo 4, pág. 74, apresenta a composição média do lixo
municipal em diferentes épocas e locais. Sua análise permite demonstrar que o
lixo atual é diferente em quantidade, qualidade, em volume e em composição.
Em relação a legislação e normatização, a situação no Brasil também é muito
desigual. Alguns estados e municípios contam com alguns instrumentos legais,
enquanto outros ainda não. A nível federal, finalmente surge uma proposta para
implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em tramitação no
14
Congresso Federal e em debate com a sociedade através de inúmeras audiências
públicas. (Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2002)
Conforme informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância –
UNICEF -, no Brasil, “as 45 mil crianças e adolescentes que trabalham no lixo são
filhos de famílias muito pobres. São meninos e meninas de todas as idades (e
quase todos em idade escolar e bem poucos na escola). Ganham de R$1,00 a
R$6,00 por dia, mas o trabalho que fazem é fundamental para aumentar a renda
de suas famílias”.(UNICEF, 1999). Para enfrentar esta realidade foi criado o
“Fórum Nacional Lixo e Cidadania”. Seu objetivo é tirar as crianças e os
adolescentes da catação de lixo e reinseri-los na sociedade com cidadania,
capacitando os atuais catadores de lixões a participar de programas de coleta
seletiva nas cidades e mudar radicalmente a atual situação da destinação final do
lixo no Brasil.(IBAM, 2001)
Ë importante, porém, observar que, diante dessa realidade surgem no país
iniciativas importantes com o objetivo de reverter esse quadro. Entre elas, diversos
cursos de capacitação presenciais, seminários, congressos, etc. Vale destaque
aos cursos não presenciais, na
modalidade de ensino a distância, que como
vantagens têm a possibilidade de atingir um número maior de interessados em
menores prazos.(Fiocruz, 2001; SEDU/Ibam, 2001)
15
1.5 – Algumas alternativas para o problema de destinação final do lixo
1.5.1 – Experiências Internacionais
Nos últimos 25 anos foram desenvolvidas diversas alternativas para solucionar
os problemas de destinação final do lixo. Entre elas, podemos citar a
modernização na concepção dos aterros sanitários; os incineradores; e,
principalmente, as usinas de reciclagem e compostagem. Segundo Bury, K. em
“The development of Landfill for the Next Century”, New Zealand,1997, um
importante fator que influenciará o futuro desenvolvimento dos aterros sanitários
será o progresso no mercado internacional da reciclagem. As usinas,
desenvolvidas visando reduzir os impactos nos aterros sanitários, prolongando
sua vida útil, visam, também, resgatar o valor contido nos resíduos, já que uma
parcela relevante, principalmente a composta por vários tipos de plásticos, vidros,
alumínio, papéis e metais, possui valor comercial, conforme demonstrado na
Tabela 6.
A seguir, no Quadro 4, é apresentada uma estimativa de uso de diferentes
métodos para o tratamento de resíduos sólidos municipais (MSW) na Europa,
onde se verifica uma predominância no uso do aterro sanitário como solução para
destinação final.
Quadro 4
- Estimativa de uso de diferentes métodos de tratamento para os
resíduos sólidos municipais (MSW) na Europa em 1993 (%)
PAÏS
Aterro Sanitário
Incineração
Compostagem
Reciclagem
Dinamarca
19
59
1
22
Alemanha
43
26
10
22
França
44
44
6
5
Itália
86
6
0
4
Holanda
40
28
14
17
Grã Bretanha
85
10
0
5
Fonte : Sorce: Coopers & Lybrand CSERGE (1996) “Cost-benefit analysis of the different MSW
treatment methods in Europe”.
16
Outra alternativa que passou a ser gradativamente adotada, capaz também
de resgatar o valor dos resíduos, promovendo seu retorno ao processo industrial
como matéria prima para fabricação de diversos produtos, foram os sistemas de
coleta seletiva de lixo, visando a reciclagem, que já contam com expressiva
participação na Dinamarca, Alemanha e Holanda, conforme apresentado no
Quadro 4.
A modalidade de entrega voluntária é muito comum em alguns países da
Europa. As fotos 3 e 4 apresentam pontos de entrega voluntária em Londres,
Inglaterra. Observa-se que entre os itens aceitos, estão incluídos sapatos e roupas
destinados a obras sociais.
Foto 3 – Ponto de Entrega Voluntária (PEV) em Londres, Inglaterra - 1998
17
Foto 4 – Ponto de entrega voluntária para sapatos – Londres, 1998.
Existe ainda, principalmente em alguns países da Europa, a coleta seletiva
“porta a porta” incluindo, como um dos itens, os resíduos apenas orgânicos. Esta
modalidade normalmente visa a compostagem, domiciliar quando possível, ou
centralizada. Este é o caso da Alemanha que, segundo Wiedemann (Goethe
Institute/UFF, 1999) a compostagem de resíduos orgânicos é um caminho viável,
e em certas cidades ou alguns bairros (Berlim por exemplo) há coleta de resíduos
18
orgânicos domésticos. Ainda segundo o mesmo autor,
de um modo geral, a
compostagem funciona melhor em sistemas descentralizados. A compostagem no
próprio quintal é superior a qualquer outra forma, e serve bem ao aproveitamento
de resíduos orgânicos domésticos, produzindo um adubo de boa qualidade. A
compostagem centralizada de resíduos verdes de jardins particulares, de parques
públicos e da queda de folhagens nas ruas no outono, recebe, junto com o
material orgânico, também plásticos, latas, vidro quebrado, etc. Estes materiais
comprometem a qualidade do composto, que permanece, porém, dentro dos
limites estabelecidos. A compostagem centralizada, sem uma pré-seleção do
material orgânico, é hoje impensável na Alemanha.
Outro exemplo de inclusão dos resíduos orgânicos como item de coleta
seletiva podemos citar no sistema denominado “Deep-Collection System”,
desenvolvido na Finlândia, onde foi experimentado em 1600 residências de um
condomínio de 16 blocos. Os resíduos eram segregados no domicílio, em quatro
categorias: resíduos orgânicos; papéis e papelões; vidros e metais; e a fração
remanescente, considerada a parcela seca do restante dos resíduos (Hietanen, L.
e Hanninen, k. – Finland, 1996).
Segundo Jerry Powell, em seu artigo para a Conferência Mundial da ISWA
(International Solid Waste Association) em 1997, intitulado “O potencial da
reciclagem na próxima década”, as atuais e futuras tendências no gerenciamento
dos resíduos sólidos municipais demonstram que a reciclagem e a compostagem
vão assumir, ainda mais, grande importância nos próximos dez anos. Os motivos
apontados são, entre outros, as inúmeras dificuldades na implantação,
manutenção e gerenciamento dos aterros (carência de áreas disponíveis, custos,
etc); e o crescente mercado da reciclagem. Enquanto o manejo dos resíduos é um
problema local, a reciclagem, mais do que nunca, envolve o mercado global,
principalmente pela permanente entrada de novos materiais entre os resíduos
descartados (têxteis, eletrônicos, tecnológicos, etc.).( ISWA, 1997)
Tomando os Estados Unidos como exemplo, já que se pode considerá-los os
líderes no mundo na produção de lixo, de acordo com a EPA- Environmental
19
Protection Agency, o órgão de controle ambiental federal dos EUA, cada
americano produzia em 1995, 1,63 kg/dia de lixo, sendo geradas 200 milhões de
toneladas por ano de lixo. Essa quantidade é suficiente para encher um comboio
de caminhões de lixo dando a volta oito vezes no globo terrestre. Deste total, dois
terços vão para os aterros, 16% é incinerado e o restante é separado e vai para a
reciclagem. Este último valor tende a crescer no futuro, uma vez que os
programas de coleta seletiva para reciclagem vem crescendo continuamente. Em
1988, eram cerca de mil programas. Hoje, são mais de 5.000 programas
envolvendo cerca de 85 milhões de pessoas.(IPT/CEMPRE, 1995)). Os Estados
Unidos fazem reciclagem e compostagem de 22 % dos resíduos sólidos urbanos,
segundo relatório da agência ambiental norte-americana. Em 1990, a taxa foi de
17 %.(Cempre Informa No.21)
Observa-se, portanto, que há uma forte tendência para adoção da reciclagem
como alternativa, visando a redução dos resíduos nos aterros sanitários.
1.5.2 - Experiências Nacionais
Ainda sem representar melhorias acentuadas na situação geral dos resíduos
sólidos no Brasil, diversas iniciativas, governamentais e não governamentais, para
implantação e manutenção de sistemas de coleta seletiva de lixo vêm sendo
desenvolvidas com sucesso. Muitas dessas experiências bem sucedidas
consistem em atribuir ao lixo algum valor econômico, representando um estímulo à
população, e garantindo a continuidade dos serviços.
No primeiro semestre de 1999, 135 cidades brasileiras estavam operando
programas de coleta seletiva e a população beneficiada por esse serviço era da
ordem de 6 milhões de brasileiros. Assumindo direta ou indiretamente a sua
realização, prefeituras de todas as partes do País têm destinado recursos, que
mesmo não obtendo lucro imediato, a atividade não dá prejuízo aos cofres
20
públicos e tem a vantagem de gerar renda para as famílias carentes, além de
resolver o problema da destinação final.(Cempre, 1999)
Os sistemas de coleta seletiva de lixo não seguem um padrão préestabelecido. Cada experiência se adapta às condições do órgão ou instituição
que as implantou e algumas delas misturam várias modalidades em um só
sistema, ou seja, ocorrem ao mesmo tempo a coleta seletiva “porta a porta, a
coleta seletiva em pontos de entrega voluntária e a coleta seletiva com incentivos,
sem doação. Esta última pode ser “porta a porta” ou em Pontos de Entrega
Voluntária (PEVs)(UFF/CIRS/ECOMARAPENDI, 1998.)
Os sistemas de coleta seletiva chamados
“porta a porta” e os sistemas
baseados em “PEVs” (postos de entrega voluntária), são os mais comuns. Alguns
outros sistemas, visando incentivar a participação da população, introduziram a
troca de lixo reciclável por diferentes bens de consumo.(INSTITUTO PÓLIS, 1998)
Na verdade, nas cidades brasileiras, a coleta seletiva de resíduos orgânicos
sempre existiu, principalmente nas áreas rurais ou próximas a elas. Esses
resíduos orgânicos, comumente chamados de
“lavagem”, sempre serviram à
alimentação de suínos. Em Porto Alegre, no sentido de desenvolver ações
voltadas para a questão dos resíduos, juntamente a um trabalho com os
produtores de suínos, desenvolveu-se a coleta seletiva de restos de alimentos de
algumas cozinhas hospitalares ( DMLU - Porto. Alegre, 1992).
1.5.2.1– Relação de alguns sistemas de coleta seletiva de lixo no Brasil
Apresenta-se a seguir uma relação de diversas experiências brasileiras e
algumas informações relevantes a respeito de cada uma:
1) Local – São Francisco – Niterói - RJ
21
Gestor – Centro Comunitário São Francisco (CCSF) e Universidade Federal
Fluminense (UFF)
Modalidade - Porta a porta
Pop. Total do Município – 400.000 hab.
Pop. Atendida pelo sistema – 1200 domicílios (~ 6000 hab.)
Quantidade média coletada – 25 ton/mês
Custos – R$ 126,00/ton
OBS: É considerada a primeira experiência de coleta seletiva de lixo no Brasil,
tendo sido iniciada em 1985. A renda gerada é revertida à estrutura do sistema,
principalmente para o pagamento da mão de obra. A entrada dos materiais se dá
pela doação pela população, que, além de lixo reciclável, doa também livros,
roupas e outros objetos inservíveis. A importância do trabalho é vista também pela
oportunidade para a Universidade obter parâmetros do funcionamento do
sistema.(UFF/ECOMARAPENDI, 1999)
2) Local – Rio de Janeiro - RJ
Gestor – COMLURB/ Cooperativas de Catadores
Modalidade - mista
Pop. Total do Município – 5,7 milhões
Quantidade média coletada – ~1500 ton/mês
No. de Cooperativas - 15
No. de catadores - ~500
Ganho médio/catador.mês – R$ 1.000,00 (1999)
Obs: A renda gerada pela comercialização dos materiais coletados é
integralmente revertida para as cooperativas. A participação da população ocorre
predominantemente na doação dos materiais, recebendo a visita dos catadores à
sua porta ou levando os materiais às diversas cooperativas existentes na cidade.
Observa-se, também, principalmente em relação às latinhas de alumínio, uma
relação comercial, ou seja, são preferencialmente vendidas e não doadas. A
22
cooperativa da Barra da Tijuca, por exemplo, atende a diversos clientes, entre eles
alguns grandes condomínios, para os quais existe uma tabela de preços de
compra de materiais recicláveis. A explicação é que se não comprarem, o material
dificilmente será separado em quantidades e frequências que justifiquem os
custos operacionais.(Cooperativa de catadores da Cidade do Rio de Janeiro,
2000)
3) Local – Curitiba - PR
Gestor – Departamento de Limpeza Pública
Modalidade - mista
Pop. Total do Município – 1,5 milhões
Quantidade média coletada – ~55 ton/dia
Obs: O sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos em Curitiba é considerado
um dos mais bem sucedidos no Brasil. Esse reconhecimento se deve, em parte, à
forma como conseguiu atingir a mídia. É um sistema polêmico pelo fato de manter
vários programas de remuneração pelo lixo – “O Lixo que não é Lixo”, “Câmbio
Verde” e a Ünidade de Valorização de Resíduos Sólidos” . Os gestores do sistema
apontam vários benefícios advindos da adoção de incentivos para o aumento da
participação. A modalidade adotada é considerada mista, pois ocorre, dependendo
do programa, remuneração pelo lixo. Ocorre também, por filantropia, doação de
materiais recicláveis com renda revertida à Fundação de Ação Social
.(Ecomarapendi, 1998)
4) Local – Porto Alegre - RS
Gestor – Departamento Municipal de Limpeza Urbana - DMLU
Modalidade - Porta a porta e LEVs
Pop. Total do Município – 1,3 milhões
Quantidade média coletada – 60 ton/dia
23
Custos – R$ 80,00 /ton
% orçamento – 0,18
Obs: A entrada de materiais no sistema ocorre por doação da população, com
a renda gerada pela comercialização destinada às cooperativas.
(UFF/Ecomarapendi, 1998)
5) Local – Belo Horizonte -MG
Gestor – Superintendência de Limpeza Urbana (SLU)
Modalidade – Locais de entrega voluntária - LEVs
Pop. Total do Município – ~ 2,0 milhões
Quantidade média coletada – 425 ton/mês
Custos – R$ 250,00/ton
% orçamento – 0,08
Obs: A entrada de materiais recicláveis ocorre a partir de doações da
população, com os benefícios da comercialização sendo destinados à cooperativa
de catadores e à Santa Casa de Misericórdia.(UFF/Ecomarapendi, 1998)
6) Local – Santos - SP
Gestor – Prodesan – Progresso e desenvolvimento de Santos S.A.
Modalidade – Mista (Porta a porta e LEVs)
Pop. Total do Município – 420.000 hab.
Pop. Atendida pelo sistema – 100%
Quantidade média coletada – 180 ton/mês
Custos – R$130,00/ton
% orçamento – 3,5
(UFF/Ecomarapendi, 1998)
7) Local – Campinas - SP
Gestor – Departamento de Limpeza Urbana
Modalidade - mista (Porta a porta e LEVs)
24
Pop. Total do Município – 1,0 milhão hab.
Pop. Atendida pelo sistema – ~250.000 hab.
Quantidade média coletada – 20 ton/dia
Custos – R$ 245,00/ton
Obs: A renda gerada pela comercialização dos recicláveis é revertida para
programas sociais.(Ecomarapendi, 1998)
8) Local – Ribeirão Preto - SP
Gestor – Departamento de Urbanização e Saneamento de Ribeirão Preto DUSARP
Modalidade - mista
Pop. Total do Município – 430.000 hab.
Pop. Atendida pelo sistema – ~ 40.000 hab.
Quantidade média coletada – 50 ton/mês
Custos – R$ 320,00/ton
Obs: A entrada dos materiais ocorre por doação e a renda gerada pela
comercialização dos recicláveis reverte para instituições assistenciais. Os vidros
são doados à Casa das Mangueiras, entidade assistencial, onde adolescentes
beneficiam e comercializam esse material.(UFF/Ecomarapendi, 1998)
9) Local – São Sebastião - SP
Gestor – Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Modalidade - Preferencialmente porta a porta
Pop. Total do Município – 45.000 hab.
Pop. Atendida pelo sistema – 35.000 hab.
Quantidade média coletada – 4 ton/dia
Custos – R$ 324,00/ton
% do orçamento – 0,76
Obs: A entrada dos materiais ocorre por doação e a renda gerada pela
comercialização dos recicláveis reverte para diversas instituições, tais como:
escolas; sociedades de bairro, etc.(UFF/Ecomarapendi, 1998)
25
10) Local – Condomínio Conjunto Nacional – São Paulo - SP
Gestor – O próprio Condomínio
Modalidade - Porta a porta
Pop. Total do Condomínio – 10.000 fixos + 10.000 flutuantes = 20.000 pessoas
Quantidade média coletada – 12 ton/mês
Custos – R$ 350,00/ton
Obs: A entrada dos materiais ocorre por doação e a renda gerada pela
comercialização
dos
recicláveis
reverte
para
os
funcionários
do
condomínio.(UFF/Ecomarapendi, 1998)
11) Local – Angra dos Reis - R J
Gestor – DISK RECICLE
Modalidade - Coleta seletiva comercial
Quantidade média coletada – 10 ton/mês
Obs: Este sistema pode ser considerado uma iniciativa privada, com objetivos
comerciais, espelhada no sistema da prefeitura municipal (Programa de Trocas).
Através de pedidos a telefones celulares os participantes marcam dia e horário
para serem visitados por um veículo dotado de balança. O material é pesado e
pago no mesmo momento, ou posteriormente, conforme a relação de confiança
entre o cliente e o sistema. Os valores são os de mercado de materiais recicláveis.
Os materiais coletados são encaminhados a compradores intermediários ou
diretamente a indústrias recicladoras. O material de divulgação dos serviços é
apresentado no Anexo 6.
12) Local – Angra dos Reis - RJ
Gestor – Lavoisier Reciclagem
Modalidade - Coleta seletiva comercial
Quantidade média coletada (ton/mês) – Não informado
26
Obs: Este sistema é muito parecido com o descrito anteriormente, conforme
material de divulgação apresentado no Anexo 7.
13) Local – Itabira - MG
Gestor – Prefeitura Municipal – Secretaria Municipal de Educação
Modalidade - Troca de lixo reciclável por livros ( “Projeto Lixo por Livro” )
Obs: Geração de receita para compra de livros e equipamentos para 29
escolas, que atendem 13,5 mil alunos, diminuindo os efeitos negativos ao meio
ambiente causados pelos resíduos sólidos.(FGV/Fundação Ford, 1998)
14) Local – Juiz de Fora - MG
Gestor – Departamento Municipal de Limpeza Urbana
Modalidade - Troca de lixo reciclável por leite (“Programa Troca de Lixo por
Leite”)
Obs: Promove a participação da população na seleção de lixo reciclável ou
orgânico, ajudando a evitar a formação de focos de doenças, proliferação de
vetores de animais nocivos, poluição de encostas de morro, beiras de córregos,
etc.(FGV/Fundação Ford, 1998)
15) Local – Campo Mourão - PR
Gestor – Secretaria Municipal de Agricultura e do Meio Ambiente
Modalidade – Compra de lixo reciclável ( “Projeto Lixo é Real”)
Obs: O projeto dispõe de um caminhão dotado de balança e equipe de 5
funcionários que percorre bairros em campanha que troca 1 kg de lixo reciclável
por 1 “vale-real”, com valor de R$ 0,05, aceito para compra de alimentos em
feiras, que tiveram sua produção acrescida em 27 toneladas, beneficiando 35 %
da população.(FGV/Fundação Ford, 1998)
27
CAPÍTULO 2 – OBJETIVOS E MÉTODOS
2.1 – Objetivos
OBJETIVO GERAL
Dadas as dificuldades em se definir áreas adequadas para disposição final
dos resíduos sólidos municipais, agravadas pelos altos custos para seu correto
acondicionamento,
coleta,
transporte
e
tratamento,
os
programas
gerenciamento integrado de resíduos sólidos, em qualquer cidade,
de
buscam
soluções que promovam a redução das quantidades de resíduos dispostos
inadequadamente no meio ambiente.
O objetivo geral é demonstrar que os sistemas de coleta seletiva de lixo , em
especial o modelo adotado no Município de Angra dos Reis, no período entre 1993
e 2000, surgem, no contexto do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil e
no mundo, nos últimos quinze anos, como uma alternativa bastante viável e eficaz
para minimização de resíduos, principalmente os domésticos, em todas as etapas
em um sistema de limpeza urbana.
É fundamental, portanto, registrar de todas as formas, as experiências que,
independentemente da concepção adotada, tenham promovido benefícios sociais
e ambientais à sociedade.
28
- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
A
pesquisa pretende demonstrar alguns aspectos
comuns a todas as experiências estudadas,
considerados relevantes e
que permitam a comparação de
diversos parâmetros, tais como:
- composição média do lixo doméstico e seu potencial econômico
- minimização de resíduos no meio ambiente
- geração de renda aos participantes
-comportamento dos participantes em um sistema de coleta seletiva de lixo
-relações de comercialização (relação com o mercado comprador de lixo
reciclável)
-o papel das administrações públicas, principalmente, as prefeituras municipais, no
fomento aos sistemas de coleta seletiva de lixo
-os custos dos sistemas
29
2.2 - Metodologia
Diversas experiências de coleta seletiva de lixo existentes e pesquisadas
serviram de base para o levantamento de dados.
A metodologia para a pesquisa se baseou, principalmente, em pesquisa
bibliográfica, e em
documentos elaborados pelos gestores das diversas
experiências.
Dentre
os
documentos
pesquisados
destacam-se
trabalhos
técnicos,
relatórios, publicações em revistas técnicas, livros, monografias, teses de
mestrado e doutorado, e buscas a páginas da Internet.
Além da pesquisa bibliográfica, foram realizadas visitas a algumas
experiências, obtendo informações de trabalhadores dos sistemas e da população
participante.
A dissertação se concentra no sistema de coleta seletiva de lixo de Angra dos
Reis, cuja documentação produzida ao longo dos anos de 1993 a 2000, bem como
visitas ao local com entrevistas aos participantes, permitiram produzir dados e
parâmetros para avaliação dos sistemas.
São apresentados relatórios representativos da participação da população
individualmente, ou coletivamente através de alguma instituição. São listagens em
programa Microsoft Excel, com dados extraídos dos livros de registro de
pontuação relativa à movimentação do lixo reciclável, por diferente galpão de
troca, no município, conforme Anexo 8.
Esta pesquisa é materializada baseando-se em normas e convenções de
apresentação de publicações científicas e contribui para a reflexão sobre a
estrutura do discurso científico, uma vez que o tema em estudo se caracteriza
30
como uma atividade ainda muito mais pragmática do que teórica com formato
acadêmico.(Marques e Mandarim-de-Lacerda, 1995)
31
CAPÍTULO 3
O Sistema de Coleta Seletiva de Lixo de Angra dos Reis - RJ - 1993/2000
O texto a seguir relata a experiência de coleta seletiva de lixo desenvolvida em
Angra dos Reis – RJ, no período entre 1993 e 2000. As informações contidas no
texto foram extraídas de diversos relatórios e publicações, produzidos ao longo
desse período pela equipe de coordenação do programa.
3.1 - Histórico
A Prefeitura Municipal de Angra dos Reis implantou, em 1990, um sistema de
coleta seletiva de lixo com recursos financeiros iniciais, em torno de 15 mil
dólares, obtidos junto à ONG francesa, Comitê Católico contra a Fome e pelo
Desenvolvimento (CCFD).
A elaboração do projeto e a busca por financiamento fez parte do trabalho da
equipe da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis.
A implantação e a continuidade do sistema de coleta seletiva de lixo foram
trabalhos desenvolvidos pelo setor de saneamento básico, cujo gerenciamento era
responsabilidade de uma equipe de servidores, entre eles, técnicos, agentes
administrativos, motoristas, encarregados e coordenados por um engenheiro, o
autor desta dissertação.
O trabalho foi desenvolvido em parceria com o Conselho Municipal de
Associações de Moradores (COMAM) e se restringia a alguns morros do Centro
(1º Distrito) e à Ilha Grande, onde, por dificuldade de acesso, não existia qualquer
tipo de coleta de lixo. O objetivo, naquele momento, era implantar algum tipo de
coleta de lixo naquelas comunidades, se caracterizando como um projeto piloto
com possíveis desdobramentos futuros.
A modalidade adotada foi a de PEVs. (Pontos de entrega voluntária). Após
discussão com as comunidades contempladas, foram definidos diversos pontos
nos quais foram instalados recipientes de cores diferentes para depósito do lixo
32
orgânico e inorgânico. Nos Anexos 1,2,3 e 4 são apresentados exemplares de
materiais de divulgação distribuídos à população atendida.
A partir de 1991, com o esgotamento dos recursos do CCFD, a Prefeitura
Municipal decidiu por assumir os custos operacionais, mantendo a contratação de
mão de obra e de equipamentos, garantindo a continuidade do programa. Nesse
momento, a administração municipal e a população em geral, começavam a
perceber o grave problema de destinação final do lixo, devido, principalmente, à
escassez de áreas adequadas a essa finalidade.
É importante conhecer as características do município, que possui área total
de 819 Km2, com uma população de, aproximadamente, 100.000 habitantes. A
parte continental possui 623 Km2 e as ilhas, 196 Km2 . Apenas a Ilha Grande
equivale em tamanho à Baía de Guanabara com 187 Km2. O continente e as ilhas
são muito montanhosos, ricos em Mata Atlântica, com extensas áreas
consideradas de preservação permanente e com índices pluviométricos muito
elevados. Há poucas áreas planas, sendo a maior parte ocupada por núcleos
urbanos ou brejos e manguezais. Essas áreas, pequenas e muito valorizadas,
dificultam sua utilização pelo poder público, principalmente para implantação de
aterros sanitários. O mapa cartográfico da região é apresentado na figura 1.
33
Mapa do Município
Figura 1 - Mapa do Município de Angra dos Reis - RJ
Para a Prefeitura Municipal, gestora dos serviços de limpeza urbana, incluindo
a destinação final dos resíduos, a coleta seletiva era especialmente importante
porque passou a ser encarada como a principal forma de reduzir volume de lixo
no aterro, aumentando assim sua vida útil. Desta forma, o sistema de coleta
seletiva de lixo, com o programa de troca de lixo adotado como modalidade a
partir de 1993, se inseriu no conjunto de atividades relacionadas à limpeza urbana
no município. A figura 2 apresenta o fluxograma do sistema de coleta seletiva de
lixo. Observa-se nessa figura que o lixo gerado, tanto nas ilhas como no
continente, tinha como destino final o Aterro do Ariró ou as indústrias de
reciclagem. Os materiais provenientes da coleta seletiva se destinavam às
indústrias e a parcela restante, ao aterro.
34
Figura 2 - Fluxograma do sistema de coleta seletiva de lixo
Observa-se que o fluxograma está apresentado, com as diversas representações
gráficas, da forma como foi utilizado no programa.
35
É importante, portanto, observar como estavam organizadas as atividades
relacionadas aos resíduos sólidos no município.
3.2 – O Gerenciamento dos Resíduos Sólidos em Angra dos Reis
3.2.1 – A estrutura de gerenciamento
O gerenciamento dos serviços de limpeza urbana era realizado de uma forma
pouco otimizada, não se caracterizando como uma gestão integrada. Parte das
atividades eram de responsabilidade da Coordenadoria de Saneamento e outra
parte do Departamento de Serviços Públicos da Secretaria de Obras. A figura 3
apresenta o fluxograma geral do gerenciamento dos resíduos sólidos, no qual
observa-se que a usina de lixo, mesmo operando apenas para beneficiamento dos
materiais provenientes da coleta seletiva, tinha importância fundamental no
gerenciamento dos serviços.
36
Resíduos em geral
ATERRO
DO
ARIRÓ
LIMPEZA
URBANA
Rejeitos e/ou lixo
bruto pesado
sem separação
COLETA
DOMICILIAR
Lixo bruto
não pesado
COLETA
SELETIVA
Lixo Seletivo
- Espalhamento
- Recolhimento
- Compostagem (a
ser implementada)
USINA DE
LIXO
- Pesagem
- Separação
- Beneficiamento
- Comercialização
Material
Reciclável
COMPRADORES
MATERIAL
RECICLÁVEL
Figura 3 - Fluxograma Geral do Sistema de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos em Angra dos Reis
Observa-se também que a Figura 3 está apresentada na forma utilizada pelo
programa.
O Quadro 5 apresenta a relação dos serviços existentes e alguns aspectos do
seu gerenciamento.
37
Quadro 5 - Quadro sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos
SERVIÇO
EXECUÇÃO
1-Coleta domiciliar
Empresa Contratada
(convencional)
GERENCIAMENTO
OBSERVAÇÕES
PMAR, Coordenadoria de
Serviços pagos por
Saneamento
tonelada coletada
Abrangência: Todas
as localidades
situadas no continente
2-Coleta Seletiva de Lixo
Empresa Contratada
(incluindo Usina de Lixo)
PMAR , Coordenadoria de
Serviços pagos por
Saneamento
apropriação de mão
de obra e
equipamentos
Abrangência: Todo o
Município.
3-Aterro de Lixo
Empresa Contratada
PMAR, Coordenadoria de
Serviços pagos por
Saneamento
apropriação de mão
de obra e
equipamentos.
4-Varrição
Empresa Contratada
PMAR, Coordenadoria de
Serviços pagos por
Saneamento
kilometro varrido
Abrangência: Várias
localidades situadas
no continente
5-Recolhimento de
Empresa Contratada
entulhos em locais fixos
PMAR, Coordenadoria de
Serviços pagos por
Saneamento
tonelada coletada
Abrangência:
(caçambas)
Algumas localidades
situadas no continente
6- Barco do lixo
7-Capina, limpeza de
canais, recolhimento de
Empresa Contratada
Empresa Contratada
PMAR,Coordenadoria de
Serviços pagos por
Saneamento
viagem realizada.
PMAR, Dep. Serviços
Serviços pagos por
Públicos da Sec. de Obras
apropriação de mão
entulhos sem local fixo,
de obra e
pequenas varrições
equipamentos
eventuais etc
Abrangência: Todo o
Município.
38
Eram recolhidos resíduos: doméstico, hospitalar, comercial, podas, entulhos
de obra, sucatas (carcaças, carrocerias, motores etc), madeiras e varrição de rua.
Em termos quantitativos as únicas informações são as das coletas convencional,
seletiva, de entulho em caçambas fixas e do serviço de varrição. As informações
relativas ao trabalho do Departamento de Serviços Públicos da Secretaria de
Obras são incompletas pois não havia um gerenciamento sistemático nos serviços
sob sua responsabilidade. Apresenta-se no Quadro 6 uma relação de quantidades
de mão de obra e equipamentos envolvidos, no qual observa-se a inclusão de
uma embarcação na relação de equipamentos.
Quadro 6 - Número de funcionários e equipamentos envolvidos
SERVIÇO
PESSOAS
EQUIPAMENTOS (com operador)
PMAR.Coord.San
3
2 carros passeio
1-convencional
39
5 basculantes e 6 compactadores
2-seletiva
42
4 basculantes, 2 baú e 2 kombis
3-aterro
3
1 basculante, 2 tratores, 1 pá carreg. e 1 retro
4-varrição
35
1 pick-up saveiro
5-ent. caçambas
2
1 poliguindaste
6- barco do lixo
1
1 barco
7- capinas, etc.
TOTAL
~= 200
326
27
39
3.2.2- Médias mensais do sistema de gerenciamento de resíduos
Os valores apresentados a seguir representam os valores aproximados das
médias mensais praticadas nos respectivos serviços:
- coleta convencional - 2.000 ton
- coleta seletiva (em ton)
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papel
Papelão
TOTAIS
7
11
20
38
9
15
100
- entrada de resíduos no aterro de lixo - 2.233 ton
- varrição - 890 km
- entulhos em caçambas fixas - 135 ton
3.2.3 - Destinação Final
Com exceção dos materiais recicláveis provenientes da coleta seletiva e
da parcela orgânica do lixo gerado nas ilhas, todos os resíduos eram destinados
ao aterro do Ariró. Observa-se que em peso a coleta seletiva representava 5% da
convencional, sendo que em volume esses percentuais eram muito maiores,
devido às massas específicas dos materiais, conforme demonstrado no Quadro
17, no Capítulo 4.
3.2.4 - Custos do sistema
O orçamento da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis para 1997 era de
aproximadamente R$ 67.000.000,00. As taxas de coleta de lixo e de limpeza
pública são cobradas juntamente com o IPTU, sendo seus valores determinados
40
pelo Código Tributário Municipal, aprovado pela Câmara de Vereadores. Para
1997 a arrecadação prevista de taxa de lixo era de R$ 757.152,30 e a de limpeza
pública era de R$ 31.692,84. A soma das duas representava 9,65% do IPTU e
1,18% do Orçamento Municipal. Destacavam-se dois problemas: 1o - a soma das
taxas representava apenas 15% do custo total dos serviços; 2o - em 1996
arrecadou-se somente 43% do total de IPTU previsto.
Diante da realidade na arrecadação de recursos para custear os serviços
relativos a resíduos sólidos, constata-se, analisando-se o quadro 7, que uma
parcela do orçamento municipal, em torno de 7,91%, maior que o arrecadado com
as respectivas taxas, aproximadamente 1,18%, era comprometida com os
serviços.
Quadro 7 - Custos dos serviços de Limpeza Urbana no Município de Angra
dos Reis – RJ
SERVIÇO
1-convencional
QT
CUSTO
CUSTO
CUSTO ANUAL
% NO
MEDIA/MES
UNIT R$
MENSAL R$
R$
ORÇAMENTO
2.000 ton
62,42
124.840,00
1.498.080,00
2,24
100 ton
503,03
50.303,40
603.640,80
0,90
2.233 ton
8,50
18.980,50
227.766,00
0,34
4-varrição
890 Km
40,00
35.600,00
427.200,00
0,64
5-ent. caçambas
135 ton
62,42
8.426,70
101.120,40
0,15
6- barco do lixo
10 viagens
345,60
3.456,00
41.472,00
0,06
7- capinas, etc.
-
200.000,00
2.400.000,00
3,58
441.606,60
5.299.279,20
7,91
2-seletiva
3-aterro
TOTAL
-
41
3.3 - O Programa de Troca de Lixo
Em 1993, com os recursos da venda do lixo foi implantado o programa de
troca de lixo. O objetivo era transformar lixo em moeda, para estimular a
população a segregar os materiais em casa e a não poluir os ambientes com lixo
reciclável. O programa era baseado em uma tabela de pontuação que relacionava
os valores de cada tipo de lixo e dos prêmios. Essa tabela refletia o valor de
mercado dos materiais recicláveis e também dos bens de consumo para troca. A
idéia da pontuação surgiu em um
período com altas taxas de inflação.
Transformou-se, então, os valores para dólares. Não era possível, porém, que o
sistema se relacionasse com a população em dólares. Estabeleceu-se, naquele
momento, uma tabela de pontuação em que cada mil pontos representavam um
dólar. A partir de meados de 1994, com a implantação do Plano Real, cada mil
pontos representavam um real. A Tabela 2 obedece a essa relação, traduzindo
em pontos os preços de mercado do lixo e dos prêmios.
Os materiais recicláveis aceitos pelo sistema de coleta seletiva eram os
seguintes:
Alumínio - lataria, balde, panela, esquadria, antena, caneca, tabuleiro etc.
Plástico - frasco, pote, garrafa, balde, caneca, engradado, tabuleiro etc.
Ferro - lataria, fogão, geladeira, carcaça, motor, panela, balde, tabuleiro etc.
Vidro - copo, garrafa e pote.
Papel - Papelão, papel branco (escritório), jornal e revista.
Dependendo do perfil do participante – individual ou coletivo - , esses materiais
eram estocados nas casa das pessoas ou em espaços comunitários.
Para que o lixo fosse efetivamente recolhido, era exigido que o morador
tivesse selecionado e acondicionado os diferentes materiais,
identificando- os
42
com o seu nome e endereço para que se pudesse fazer o registro no livro de
coleta. No Anexo 8 é apresentada cópia de página do livro de controle de entrada
de lixo reciclável no programa de trocas.
Para acondicionar o lixo a Prefeitura não oferecia vasilhames. As pessoas
eram orientadas a utilizar os próprios sacos plásticos resultantes de uma compra
qualquer, evitando, desta forma, outra despesa desnecessária. Os papelões e
jornais tinham que estar amarrados. Em qualquer caso, o lixo tinha que estar
organizado. Peças grandes (fogão, carcaças) normalmente ficavam em um
quintal, terreno baldio ou até logradouros públicos de baixa circulação.
Apesar da tentativa de esclarecimentos, alguns impasses ocorreram devido
principalmente ao não conhecimento da diferença entre latas de flandres e
alumínio, e
materiais como lâmpadas, pirex, fax, papel engordurado ou com
sangue, embalagem “tetra pack”, saquinhos plásticos que não tinham valor
comercial. Na maioria das vezes, o problema foi contornado, embora houvesse
necessidade de paciência e argumentação.
Ao invés de acumular o lixo reciclável em casa, as pessoas o trocavam por
uma acumulação de pontos que, dependendo do número, poderiam ser obtidos
prêmios em forma de mercadorias. O lixo coletado era pesado e registrado nos
livros de coleta. Como um programa auto-sustentável a compra dos prêmios pela
Prefeitura era realizada com o próprio dinheiro gerado com a venda do lixo
reciclável, usado, portanto, exclusivamente para esse fim. São apresentadas no
Anexo 8, cópias de algumas páginas dos Livros de registro de entrada de lixo e
cópias de trechos de planilhas de totalização de pontos, por galpão de troca .
A Tabela 2 apresenta a pontuação do programa de troca da coleta seletiva
integrado ao sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos do Município de
Angra dos Reis.
43
Tabela 2 – Tabela de pontuação do Programa de Troca
Material
Pontos
Material
LIXO - 1 KILO
Pontos
MATERIAL ESCOLAR
Alumínio
500
Chamequinho
1.600
Plástico
100
Caderno grande (96 folhas)
1.300
Ferro
60
Caderno pequeno (48 folhas)
300
Vidro
50
Caderno desenho
800
Papéis
50
Lápis
100
Borracha
150
ALIMENTOS
Arroz (5 Kg)
3.900
Caneta
200
Feijão (1 Kg)
1.300
Apontador
200
Óleo Soja (lata 900 ml)
1.200
Açúcar (1 Kg)
650
CIMENTO (50 Kilos)
O dinheiro gerado pela venda do lixo era usado unicamente para a compra dos
prêmios, podendo ser melhor visualizado no fluxograma da figura 4.
Esse fluxograma é apresentado da mesma forma utilizada durante o
programa.
6.000
44
Figura 4 - Fluxograma do Programa de Troca de Lixo por bens de consumo
45
A coleta era feita de várias formas: domiciliar; em espaços coletivos; em
espaços públicos (escolas, cais de atracação, etc); e diretamente nos postos de
troca, para onde o lixo era levado pelos próprios participantes. Essas alternativas
dependiam da localização de um posto de troca, da característica física da
localidade e da forma como as pessoas se organizavam. Nos momentos de coleta
e de troca se dava o contato direto entre a população e os funcionários do
programa.
O programa atendia a uma grande diversidade de ambientes: comunidades das
ilhas, loteamentos populares, famílias de baixíssima renda, de classe média, de
classe alta, moradores de morros, comércio, população de rua, vilas residenciais
(Petrobrás, Furnas, Verolme), residências de veraneio (caseiros), pousadas,
escolas, unidades de saúde, etc.
Participavam do programa associações de moradores, escolas, comitês contra
a fome, grupos de vizinhas, e outros vários participantes coletivos. Eram as
pessoas individualmente que contribuíam com a maior parcela de lixo, entre as
quais, mulheres, idosos e as crianças. Os homens tinham menor participação e
só se interessaram quando o cimento foi introduzido como item de troca.
3.3.1 - A Estrutura Operacional
Para o funcionamento do programa foram implantadas estruturas e rotinas de
trabalho, que sofreram modificações ao longo do tempo. Criou-se um contrato de
terceirização de mão-de-obra e equipamentos, específico para o sistema de
coleta seletiva e para a operação do aterro, aumentando-se o número original de
funcionários envolvidos diretamente na coleta, recebimento e beneficiamento do
material.
O programa se consolidou no galpão de referência localizado no Bairro do São
Bento, ao lado da Coordenadoria de Defesa Civil. Funcionando desde o início
neste local, aí eram recebidos os materiais provenientes dos diversos roteiros de
coleta, das ilhas e da população que entregava diretamente seu material. Neste
46
local eram também pesadas e registradas as quantidades de material reciclável
nos livros de registro e planejados os roteiros de coleta.
3.3.1.1 - Estrutura de coleta
Os funcionários contratados, utilizando-se de equipamentos também alugados,
eram organizados conforme a demanda de cada roteiro, coletando e
transportando os materiais com destino à Usina do Ariró.
3.3.1.1.1- No continente
Cada uma das mais de 40 comunidades do continente era visitada uma vez
por semana pelo programa de coleta seletiva de Lixo. Para que as pessoas
fossem visitadas pelos veículos da coleta (kombis e caminhões) era necessário ir
ao galpão no centro da cidade, no posto do Perequê, no posto da Japuíba, da
Verolme e do Frade, e fazer o pedido de retirada de lixo. O nome e o endereço da
pessoa eram anotados e colocados na ordem de pedidos daquele bairro. Quando
o veículo chegava a uma comunidade, já estava com endereços definidos de
acordo com a ordem dos pedidos.
3.3.1.1.2 - Nas ilhas
Devido à dificuldade de comunicação, os moradores das ilhas, além de
separar, acondicionar e identificar o lixo, escolhiam que prêmios antecipadamente
desejavam.
Além do programa de troca, nas ilhas os funcionários da Prefeitura (que eram
pessoas das comunidades), entre várias outras funções, eram encarregados de
47
fazer a coleta e o manuseio do lixo. A parcela reciclável era embarcada para o
continente e o lixo orgânico era queimado e/ou enterrado na própria ilha.
Para retirar o lixo das ilhas era mantido um barco que também era utilizado
por vários outros setores da Prefeitura. Neste barco também eram transportados
para as ilhas os prêmios trocados pelos moradores, conforme pode ser observado
nas fotos 5 e 6.
48
Foto 5 – Embarcação de coleta seletiva de lixo em operação na Ilha Grande
49
Foto 6 – Embarcação de coleta seletiva de lixo em operação na Ilha Grande
A seguir se pode verificar o roteiro básico do barco de coleta seletiva na
região, conforme localização no mapa.
Observa-se que nos meses de janeiro, fevereiro e março, devido ao aumento
da população veranista, as viagens mensais se tornam quinzenais e as viagens
quinzenais se tornam semanais.
Programação Básica do Barco
3a feira - Palmas, Saco do Céu, Japariz e Freguesia de Santana (Ilha Grande);
mensal
4a feira - Abraão (Ilha Grande); quinzenal
3a feira - Gipóia, Redonda, Búzios e Francisca; quinzenal
4a feira - Provetá, P. Vermelha e Araçatiba (Ilha Grande); quinzenal
3a feira - Bananal, Matariz, Sítio Forte e Longa (Ilha Grande); mensal
4a feira - Abraão (Ilha Grande); quinzenal
50
3a feira - Gipóia, Redonda, Búzios e Francisca; quinzenal
4a feira - Provetá, P. Vermelha e Araçatiba. quinzenal
Pode-se também verificar abaixo a relação de mão de obra, sua atribuição e
equipamentos.
Relação de mão de obra e equipamentos, e suas respectivas atribuições
4 Encarregados de Turma
- atender o público para solicitação e programação de coleta;
- orientar o público para a seleção/identificação de lixo;
- controlar os livros de registro de lixo;
- atender o público para informação e entrega de cartões de pontuação;
- controlar a expedição dos prêmios;
- organizar e distribuir tarefas;
- controlar a frequencia dos funcionários e veículos.
16 Coletores
- coletar o lixo para troca nos endereços da programação e nas ilhas;
- receber o lixo trazido pelo público ao galpão ou posto;
- orientar as pessoas quanto à seleção/identificação do lixo;
- não coletar nem receber lixo acondicionado em desacordo com a orientação;
- executar ou orientar a pesagem de lixo;
- apoiar os encarregados nas anotações dos livros;
- auxiliar na organização interna do galpão ou posto;
- apoiar a coleta convencional nos morros Sto Antonio e Caixa D’água;
- conservar os caminhos e valas dos dois morros;
51
- selecionar o lixo dos dois morros, encaminhando o reciclável para a coleta
seletiva.
EQUIPAMENTOS
-2 Kombis pick-up;
-1 caminhão baú;
-3 caminhões basculante;
-3 prensas (300 Kg).
3.3.1.2 - Estrutura de recebimento
Os postos de troca relacionados abaixo funcionavam como bases operacionais
da coleta, conforme observa-se nas fotos 7 e 8.
52
Foto 7 – Galpão de Coleta Seletiva - São Bento – Angra dos Reis
53
Foto 8 – Imagem da troca de lixo reciclável por prêmios
Os funcionários e equipamentos eram distribuídos para fazer a coleta e trabalhar
nos postos. A programação de trabalho e a estrutura de pessoal e equipamentos
utilizada são apresentados no Quadro 8.
54
Quadro 8 – Programação de trabalho nos postos de troca e a estrutura disponível
POSTOS DE TROCA
FREQUENCIA
FUNCIONÁRIOS
EQUIPAMENTOS
Galpão do Centro
Diária
1 enc. geral
2 kombis pick-up
Posto Pereque
5º e 6º feiras
3 enc. de turma
2 caminhão baú
Posto Japuíba
5º e 6º feiras
21 colet. seletivos
3 cam. basculante
Posto Verolme
3º feiras
Posto Frade
3º e 4º feiras
Posto M. Cx Dágua
2º feiras
Posto M. Glória
3º feiras
5 balanças (300 Kg)
3.3.1.3 - Estrutura de beneficiamento – Usina do Ariró
.
A usina de reciclagem e compostagem de lixo urbano da Angra dos Reis –
Usina do Ariró - , adquirida em 1987, localizada às margens da Rodovia BR-101 –
Rio – Santos, e colocada em operação em 1993, foi totalmente adaptada às
necessidades do sistema de coleta seletiva de lixo. Operando de forma
convencional, ou seja, processando o lixo doméstico sem prévia separação,
proveniente da coleta comum, a usina funcionou durante três meses, não obtendo
sucesso na venda dos materiais separados. Desde julho de 1994 a usina se
tornou o espaço de beneficiamento e comercialização somente do lixo da coleta
seletiva, conforme pode ser observado nas fotos 9, 10 e 11. A destinação do lixo
domiciliar coletado pela coleta comum era o aterro do Ariró.
Compostas de esteiras, prensas e moinho, além de grande disponibilidade de
área, a Usina do Ariró funcionava como uma indústria, onde entrava matéria-prima
bruta e saía matéria-prima beneficiada para processamento industrial.
55
Foto 9 – Latas de flandres estocadas aguardando beneficiamento
56
Foto 10 – Plástico estocado, aguardando beneficiamento
57
Foto 11 – Latas de alumínio prensadas sendo comercializadas
DESCRIÇÃO FUNCIONAL DA USINA
1 Encarregado de Operação
- controlar a conservação e produção dos equipamentos (prensas e moinhos);
- controlar a qualidade do lixo beneficiado;
- controlar as pesagens das vendas de lixo;
- atender o público (visitantes e compradores);
- organizar e distribuir os serviços;
- organizar o espaço da usina.
58
1 Encarregado de Turma
- controlar a entrada de lixo (pesagem e/ou descarga);
- controlar a frequencia dos funcionários e do caminhão;
- controlar a manipulação de papéis (branco, jornal e mista) e dos plásticos;
- controlar o serviço da cozinha.
- organizar o espaço da usina;
19 Coletores
- receber o lixo que vem dos postos e galpão;
- receber e pesar o lixo que vem direto das comunidades;
- organizar o espaço da usina;
- apoiar o trabalho do caminhão;
- desdobrar a sucata ferrosa;
- manipular a sucata plástica;
- manipular papéis;
- manipular vidros;
- operar os equipamentos de beneficiamento (prensas , serra e moinho);
- carregar os caminhões dos compradores;
- cozinhar;
EQUIPAMENTOS
- 1 caminhão basculante;
- 5 prensas;
- 1 moinho;
- 1 serra;
- 1 balança (300 Kg);
- 1 balança rodoviária (pesagens da coleta convencional e das vendas da coleta
seletiva).
59
Quadro 9 – Estrutura de pessoal e equipamentos da Usina de Lixo do Ariró
FUNCIONÁRIOS
2 encarregados de turma
EQUIPAMENTOS
5 prensas hidráulicas
1 moinho de vidro
19 coletores seletivos
0,5 cam. basculante
1 balança (300 Kg)
1 balança rodoviária
3.4 - Educação Ambiental
A população de Angra dos Reis, como grande parte da população brasileira,
tinha pouca informação sobre
resíduos sólidos e suas implicações na saúde
pública e no meio ambiente. Sempre foi comum o desrespeito aos horários da
coleta domiciliar convencional e nunca houve muita preocupação com o lixo
lançado nos logradouros. Isto demonstrava um desconhecimento dos serviços
ofertados e dos que ainda não existiam, tal como a coleta seletiva.
Como agravante, haviam dois setores da Prefeitura envolvidos com resíduos
sólidos, sem no entanto praticarem uma política de gestão integrada dos resíduos.
Esses setores eram
a Coordenadoria de Saneamento e o Departamento de
Serviços Públicos da Secretaria de Obras. Muitas vezes a comunidade se
confundia quanto ao setor onde solicitar os diferentes serviços.
Antes da implantação do programa de troca, tentou-se mobilizar as
comunidades para a coleta seletiva através de conscientização ambiental.
Reuniões, eventos, gincanas etc. que não geraram resultados. A falta de
planejamento e de qualificação da abordagem à comunidade colaborou para isso.
No Anexo 5 é apresentado o material utilizado para divulgação do projeto.
Nos contatos com as comunidades o tema era o respeito aos horários da
coleta convencional, a redução de lixo nos ambientes como forma de torná-los
mais aprazíveis e não prejudiciais à saúde, e a coleta seletiva colocada como
60
questão de aumento de vida útil dos aterros e de economia de recursos naturais e
energia.
Na Ilha Grande, em junho de 1993 , a Prefeitura fez um trabalho em cada uma
das suas 17 comunidades. A coleta seletiva foi debatida “em porta de casa”, em
reunião com moradores, com as crianças nas escolas e em reunião com
funcionários locais da Prefeitura. Isso gerou um resultado muito bom na qualidade
e quantidade do lixo embarcado. Essa melhoria foi multiplicada com a implantação
do programa de troca em novembro de 1993.
A partir de 1995, aproveitando o trabalho de mobilização social do
PROSANEAR ( Programa de Saneamento para população de baixa renda PMAR/CEF/BIRD ), o trabalho de educação ambiental foi retomado com excelente
qualidade, utilizando-se de diversas técnicas, entre elas, um teatro de
fantoches.(Prosanear – Relatório Final, 1996).
Em 1996, a Secretaria de Educação e a Coordenadoria de Saneamento
Básico fizeram várias visitas com alunos e professores da rede municipal à usina
de lixo, aterro e postos de coleta seletiva.
Posteriormente, através do Projeto Cinturão Verde, as Secretarias de
Educação, de Planejamento e a Coordenadoria de Saneamento formularam e
desenvolveram ações de Educação Ambiental, produzindo material didático de
coleta e destinação final de resíduos sólidos para Angra dos Reis.
Deve-se frisar que o Programa de Troca estendeu a coleta seletiva por todo o
território municipal. O programa proporcionou o maior contato com a comunidade,
provocou mudança de comportamento e tornou a coleta seletiva de lixo um tema
de conversa e reflexão para os cidadãos. As pessoas faziam uma pergunta
básica: “O que acontece com esse lixo?”. Esta indagação era o ponto de partida
da desmistificação e valorização do lixo.
O Programa de Troca desde o início se baseou e teve sucesso no simples
interesse da população em trocar o lixo por produtos. Não foi feito nenhum tipo de
campanha às comunidades, pois a estrutura do programa não suportaria um
aumento brusco de demanda.
A estratégia foi
deixar a divulgação ocorrer
espontaneamente. Posteriormente, foram feitas, junto com a Secretaria Municipal
61
de Habitação e Desenvolvimento Social,
abordagens diferenciadas com a
população dos loteamentos institucionais para famílias de baixa renda. O trabalho
consistia em estimular as famílias a trabalhar o lixo como forma de melhorar as
condições ambientais e adquirir materiais de construção.
O trabalho de educação ambiental desenvolvido ao longo da existência do
programa não foi sistematizado, ocorrendo de forma descontinuada e sem uma
uniformidade. Apenas no período correspondente ao programa Prosanear havia
um trabalho de educação ambiental e mobilização social permanente.
3.5 - Comercialização
A comercialização dos materiais recicláveis pode ser considerada como um
dos aspectos fundamentais ao sucesso de todas as experiências de coleta
seletiva de lixo. Pode-se dizer que não há coleta seletiva sem comercialização,
mas também não há comercialização sem coleta seletiva de lixo, isto é, só é
possível estabelecer algum tipo de relação comercial após o recolhimento e
estocagem de alguma quantidade de material com valor comercial.
Apresenta-se a seguir, no quadro 10, a relação dos compradores mais
usuais na experiência de Angra dos Reis:
QUADRO 10 - Quadro de Compradores, Exigências e Preços
Material
Alumínio (lata)
Comprador
Latasa
Exigências
-só lata
Preço R$/Ton
620,00
-carga mínima de 1.300 kg/ carreto
- fardo de baixa compactação
Alumínio
Sucateiro local - material separado e concentrado num só local
500,00
(perfil)
Plástico
Vários
compradores
Ferro
-cargas de um só material (PE, PP, PET...)
Varia muito por
- carga mínima de 3.500 kg/carreto
material e época;
-fardo com máxima compactação
média - 100,00
Cosigua
-sucata bruta enfardada ou arrumada
(Gerdau)
-lataria só enfardada
bruta 57,00
lataria 40,00
62
-carga mínima de 6.000 Kg
-fardo com máxima compactação
Vidro
Cisper
-cacos de vidro classificados por cor
55,00
-carga mínima de 9.000 Kg
Papelão
Plaspel
-carga mínima de 12.000 Kg
50,00
-fardo com máxima compactação
Papel branco
Plaspel
-carga mínima de 12.000 Kg
100,00
-fardo com máxima compactação
Jornal e
revista
Plaspel
-carga mínima de 12.000 Kg
-fardo com máxima compactação
Um aspecto bem interessante, tendo sido inclusive, motivo de diversas
consultas de representantes de outros municípios, foi a forma encontrada para
vender o lixo reciclável sem a necessidade de passar por processo licitatório. Os
processos licitatórios são sempre muito morosos, o que exige dos sistemas
espaços muito grandes, normalmente grandes galpões, para estocar os materiais
durante os intervalos das vendas. Analisando-se a Lei 8.666, a lei de licitações, foi
feita sua interpretação, avalliando-se que lixo proveniente de sistemas de coleta
seletiva ou de usinas de triagem de lixo, podem ser considerados bens
produzidos, sendo, portanto, dispensável de licitação para sua alienação. O
resultado prático foi a possibilidade de vender o lixo reciclável com maior
agilidade.
Os materiais mais difíceis de vender eram os plásticos, principalmente o PVC
e o PS. O mercado era muito sazonal e tinha alta rotatividade de pequenas
indústrias (empresas familiares) que apareciam e desapareciam ao sabor das
necessidades de empresas maiores que, por sua vez, não procuravam ter relação
direta com os produtores de lixo.
20,00
63
Os papéis não eram difíceis de vender, mas era praticamente impossível
vender direto para a indústria, pois estas se relacionavam somente com os
depósitos intermediários.
As sucatas ferrosas, inicialmente, também eram vendidas para depósitos
(sucateiros). Posteriormente foram vendidas diretamente para a indústria
(Cosigua- Gerdau). O vidro e o alumínio, desde 1990, eram vendidos para a
Cisper e Latasa, respectivamente.
As maiores dificuldades na comercialização estavam relacionadas com os
equipamentos para beneficiar o lixo.
Uma prensa manual, outra hidráulica e um moinho de vidro eram suficientes
para as três toneladas mensais, até novembro de 1993.
Após a implantação do programa de troca, com o crescimento das
quantidades coletadas, se fez
necessário um redimensionamento dos
equipamentos de beneficiamento na usina de lixo. Pela dificuldade na aquisição
de prensas, a solução foi trabalhar em parceria (comodato) com os compradores.
A empresa Plaspel colocou uma prensa vertical e a Cosigua, uma prensa jacaré.
Duas
prensas
verticais
foram
colocadas
por
compradores
de
plástico.
Posteriormente, foi colocada outra prensa pela empresa Tricana, que passou a
comprar plástico do tipo PET. O moinho de vidro foi doado pela ABIVIDRO, em
1990. Todos os equipamentos eram operados na usina de lixo pelos funcionários
do programa de coleta seletiva (coletores).
Pode-se afirmar que quanto melhor for o beneficiamento dos materiais melhor
será sua comercialização. Se não houver equipamento que atenda à demanda, o
lixo não será comprado e seu destino será o aterro sanitário.
Se o programa contasse com uma melhor estrutura, seria possível beneficiar
todo o plástico coletado, elevando a
receita total para a ordem de
R$
10.728,00/mês, já que as quantidades médias mensais de coleta deste material
giravam em torno de 9,2 toneladas, representando um acréscimo na receita de R$
920,00 mensais, contra as 5,0 ton mensais vendidas, que representavam apenas
64
R$ 500,00 mensais, conforme o quadro 11. Esse quadro apresenta os valores
médios correspondentes às receitas por tipo de material.
Quadro 11 - Quadro de Venda de Lixo - Média Mensal
Material
Coleta mensal
Preço unitário
Subtotal
ton
Alumínio
7,9
620,00
4.898,00
5
100,00
500,00
Ferro
45
50,00
2.250,00
Vidro
20
55,00
1.100,00
Papelão
16
50,00
800,00
Papel branco
1
100,00
100,00
Jornal e revista
8
20,00
160,00
Plástico
TOTAL
9.808,00
3.6 - Quantidades processadas pelo programa
O sistema de coleta seletiva de lixo de Angra dos Reis teve seu início em
1991, mas somente a partir de 1993 as quantidades passaram a ser
contabilizadas. Durante esse período as quantidades giraram em torno de
números parecidos com os apresentados para o ano de 1993 no quadro 12.
A partir então do início do Programa de Troca, as quantidades aumentaram
indefinidamente, sendo limitadas apenas pelo porte da estrutura implantada.
O quadro 12 apresenta, pelas variações
das quantidades de diversos
materiais ao longo dos meses, as tendências no incremento da participação da
população.
65
QUADRO 12 - Demonstrativo de entrada de lixo no Programa de Troca ( Kg )
ANO 1993
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papel
Papelão
Totais
NOV. E
DEZ.
663,3
245,9
1.316,6
779,4
323,2
283,0
3.611,4
ANO 1994
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papel
Papelão
Totais
JAN.
1.819,2
767,4
4.180,4
1.901,0
1.583,8
1.631,1
11.882,9
FEV.
2.960,1
1.377,7
8.131,6
3.408,6
3.242,3
1.557,4
20.677,7
MAR.
2.394,9
1.488,1
7.059,0
4.331,1
1.971,0
1.744,5
18.988,6
ABR.
1.908,5
950,0
4.092,4
2.562,5
2.258,2
457,0
12.228,6
MAI.
997,6
914,5
3.916,4
3.390,3
3.658,6
2.201,0
15.078,4
JUN.
768,5
1.205,8
3.477,5
4.298,1
2.531,8
938,1
13.219,8
JUL.
557,9
1.050,4
3.363,6
4.666,4
2.256,7
1.657,8
13.552,8
AGO.
1.226,7
1.724,6
5.012,7
7.200,7
3.319,9
2.647,3
21.131,9
SET.
1.106,6
2.082,1
5.596,2
7.806,7
3.909,5
3.880,4
24.381,5
OUT.
1.210,5
2.618,6
5.070,2
7.416,8
8.139,4
9.597,4
34.052,9
NOV.
1.449,6
3.028,8
5.655,9
11.024,2
5.029,4
3.675,4
29.863,3
DEZ.
1.320,9
4.059,2
7.560,2
13.786,3
4.518,6
5.998,6
37.243,9
17.451,0
21.267,2
63.116,1
71.792,0
42.419,0
35.985,0
252.031,5
Vidro
Ferro
Papel
TOTAIS
ANO 1995
Alumínio
Plástico
Papelão
Totais
JAN.
3.536,1
4.575,8
10.984,4
12.114,4
8.946,6
8.463,8
48.602,7
FEV.
3.431,7
3.670,0
8.526,1
11.013,9
6.335,2
5.805,8
38.802,7
MAR.
6.771,5
5.674,0
12.593,1
13.810,6
7.543,6
6.532,7
52.925,5
ABR.
3.617,1
6.305,5
11.982,8
18.368,7
7.711,5
5.981,2
53.966,8
MAI.
4.856,3
7.233,6
14.557,7
30.925,7
8.760,4
13.547,4
79.881,1
JUN.
4.202,8
5.602,2
10.897,1
26.028,9
9.268,5
13.662,2
69.661,7
JUL.
5.037,8
7.606,6
17.787,6
28.078,5
4.068,5
17.923,1
80.502,1
AGO.
5.820,2
12.230,8
21.671,9
42.149,2
7.211,1
18.073,8
107.157,0
66
SET.
5.002,5
10.097,9
21.548,2
38.362,8
8.489,0
18.744,8
102.245,2
OUT.
7.107,7
13.135,0
24.951,1
47.707,6
9.486,1
26.997,5
129.385,0
NOV.
4.880,8
8.593,4
17.422,3
34.993,5
9.108,4
19.831,1
94.829,5
DEZ.
5.488,6
9.726,2
21.293,2
30.404,1
10.054,6
22.961,7
99.928,4
59.749,3
94.443,8
193.447,7
333.948,9
96.987,1
178.418,5
956.995,3
TOTAIS
ANO 1996
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papel
Papelão
Totais
JAN.
13.427,0
15.869,3
30.162,5
46.183,3
11.376,4
26.279,0
143.297,5
FEV.
10.889,5
13.019,6
19.113,0
29.262,3
9.804,4
12.385,7
94.474,5
MAR.
12.323,8
16.018,2
24.387,8
33.759,1
9.907,0
17.503,0
113.898,9
ABR.
8.006,2
9.007,4
15.277,8
32.285,9
6.660,3
14.247,3
85.484,9
MAI.
6.411,6
21.544,4
20.898,6
44.354,0
8.778,0
14.478,2
116.464,8
JUN.
4.677,8
10.256,5
15.829,6
32.386,1
6.282,6
11.195,8
80.628,4
JUL.
5,135,2
7.397,4
21.335,4
36.806,7
6.779,7
12.606,1
90.060,5
AGO.
4.330,1
7.195,1
16.474,9
33.253,4
8.877,9
13.430,2
83.561,6
SET.
4.625,8
7.396,1
18.208,2
36.885,5
5.880,8
14.378,2
87.374,6
OUT.
5.508,3
7.949,2
18.375,0
46.333,3
8.560,6
14.014,1
100.740,9
NOV.
5.373,1
7.549,3
17.773,6
36.591,9
7.184,8
10.441,7
84.914,4
DEZ.
5.473,2
7.993,8
19.426,6
34.312,6
7.463,4
15.009,2
89.678,8
86.181,6
131.196,3
237.263
442.414,1
97.555,9
175.968,5
1.170.579,8
TOTAIS
67
ANO 1997
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papel
Papelão
Totais
JAN.
9.618,3
9.513,9
23.465,4
35.346,0
8.467,4
12.782,7
99.193,7
FEV.
10.564,1
6.613,3
19.516,1
25.596,7
7.439,0
10.730,1
80.459,3
MAR.
11.469,3
9.402,4
27.090,6
33.855,9
8.155,0
14.564,1
104.537,3
ABR.
8.376,2
9.439,3
24.328,9
42.251,7
7.968,8
14.465,8
106.830,7
MAI.
8.150,9
8.532,1
18.685,1
36.932,9
8.742,1
12.896,5
102.940,5
JUN.
7.017,9
9.706,8
20.070,8
52.488,4
11.122,6
16.358,5
116.765,0
JUL.
6.775,7
9.299,8
24.525,7
51.846,7
11.728,7
14.506,8
118.683,4
AGO.
6.565,2
8.382,7
17.210,5
53.909,4
10.426,9
12.037,0
108.531,7
68.533,6
70.890,3
174.893,1
332.227,7
74.050,4
108.341,5
828.936,7
TOTAL
A tabela 3 apresenta as quantidades médias dos diferentes materiais.
Tabela 3 - Quantidades médias, por tipo de material no Programa de Troca
(Kg)
Período
mensal
anual
Percentual (%)
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papéis
TOTAL
7.990
9.270
20.000
45.188
25.211
107.659
95.880
111.240
240.000
542.256
302.532
1.291.908
7,4 %
8,6 %
18,6 %
42,0 %
23,4 %
100,0 %
É Importante observar que a participação média das Ilhas era em torno de 6%.
68
A Tabela 4 a seguir apresenta as quantidades anuais de cada material.
Tabela 4 - EVOLUÇÃO QUANTITATIVA DO PROGRAMA DE TROCA (kg)
ANO
Alumínio
Plástico
Vidro
Ferro
Papéis
TOTAL
1994
17.451,0
21.267,2
63.116,1
71.792,0
78.404,0
252.030,3
1995
59.749,3
94.443,8
193.447,7
333.948,9
275.405,6
956.995,3
1996
86.181,6
131.196,3
237.263,0
442.414,1
273.524,4
1.170.579,4
1997 (até julho)
68.533,6
70.890,3
174.893,1
332.227,7
182.392,0
828.936,7
231.915,5
317.797,6
668.719,9
1.180.382,7
809.726,0
3.208.541,7
TOTAL
3.7 - Custos do sistema
O sistema de coleta seletiva de lixo de Angra dos Reis, com seu programa
de troca, era operado com mão de obra e equipamentos contratados. Com a
despesa gerada e com outros fatores, tais como, quantidades de lixo
coletados e população atendida, foi possível estabelecer correlações, gerando
a Tabela 5.
69
Tabela 5 - Demonstrativo de Custos por Habitante - População - 100.000 hab.
Mês
nov/94
Valor do
Lixo coletado
Custo
Lixo coletado
Custo
Custo
Contrato
(kg)
R$/ton
(kg/hab.mês)
(R$/hab)
(R$/ton.hab)
(1 / 2 mês)
345,51 x 2
10.318,01
29.863,3
691,02
0,298
0,20
0,0069
dez/94
25.427,57
37.243,9
682,73
0,372
0,25
0,0068
jan/95
27.972,58
48.620,7
575,32
0,486
0,27
0,0057
fev/95
22.095,65
38.802,7
569,44
0,388
0,22
0,0057
mar/95
31.360,79
52.925,5
592,55
0,529
0,31
0,0059
abr/95
30.320,53
53.966,8
561,84
0,539
0,30
0,0056
mai/95
49.357,23
79.881,1
617,88
0,798
0,49
0,0062
jun/95
41.995,68
69.661,7
602,85
0,696
0,41
0,0060
jul/95
42.664,48
80.502,1
529,98
0,805
0,42
0,0053
ago/95
48.757,33
107.157,0
455,00
1,071
0,48
0,0045
set/95
53.596,22
102.245,2
524,19
1,022
0,53
0,0052
out/95
65.221,47
129.385,0
504,09
1,293
0,65
0,0050
nov/95
55.366,08
94.829,5
583,85
0,948
0,55
0,0058
dez/95
44.397,38
99.928,4
444,29
0,999
0,44
0,0044
jan/96
56.370,51
143.027,5
394,12
1,430
0,56
0,0039
fev/96
64.312,30
94.429,5
681,06
0,944
0,64
0,0068
mar/96
53.690,29
113.807,9
471,76
1,138
0.53
0,0047
abr/96
50.525,34
85.484,9
591,05
0,854
0,50
0,0059
mai/96
53.234,65
116.464,8
457,08
1,164
0,53
0,0045
jun/96
42.765,61
80.628,3
530,40
0,806
0,42
0,0053
jul/96
55.155,58
90.060,5
612,43
0,900
0,55
0,0061
ago/96
52.223,91
83.561,9
625,00
0,835
0,52
0,0062
set/96
52.007,68
87.374,6
595,22
0,873
0,52
0,0059
out/96
51.288,43
100.740,9
509,11
1,007
0,51
0,0050
nov/96
44.858,92
84.914,4
528,28
0,849
0,44
0,0052
dez/96
53.305,93
89.678,8
594,40
0,896
0,53
0,0059
jan/97
52.775,05
99.193,7
532,04
0,992
0,52
0,0053
fev/97
43.963,29
80.459,3
546,41
0,804
0,44
0,0054
mar/97
47.392,09
104.537,3
453,35
1,045
0,47
0,0045
abr/97
50.455,96
106.830,7
472,30
1,068
0,50
0,0047
70
mai/97
50.087,81
102.940,5
486,57
1,029
0,50
0,0049
jun/97
52.880,47
116.765,0
452,88
1,168
0,52
0,0045
jul/97
56.200,64
118.683,4
473,53
1,186
0,56
0,0047
ago/97
51.333,20
108.531,7
472,98
1,085
0,51
0,0047
3.7.1- Custos Operacionais
Quadro 13 - Custos médios mensais de coleta e administração da troca
DESCRIÇÃO
CUSTO MENSAL R$
DESCRIÇÃO
CUSTO MENSAL R$
1 enc. geral
1.302,00
2 kombis pick-up
3.548,16
4 enc. de turma
4.368,00
1 caminhão baú
1.774,08
3,5 cam. basc.
6.338,64
16 coletores
13.440,00
Total pessoal
19.110,00
Total equip.
TOTAL
11.660,88
30.770,88
Quadro 14 - Custos Médios Mensais de Beneficiamento
DESCRIÇÃO
CUSTO MENSAL R$
1 enc. operação
1.575,00
1 enc. de turma
1.092,00
19 coletores
15.960,00
DESCRIÇÃO
CUSTO MENSAL R$
Total pessoal
18.627,00
0,5 cam. basc.
TOTAL
905,52
19.532,52
Observa-se que a venda de lixo, gerando em torno de R$ 9.000,00 /mês, não
seria suficiente para cobrir os custos operacionais. Isto significa que a Prefeitura
adotou o programa como projeto ambiental e social, destinando parte de seu
orçamento para custear os serviços.
Quadro 15
-
Custos globais do programa (média mensal de 21 dias
trabalhados)
DESCRIÇÃO
CUSTO MENSAL R$
DESCRIÇÃO
CUSTO MENSAL R$
1 enc. operação
1.575,00
2 kombis pickup
3.548,16
1 enc. geral
1.302,00
1 caminhão baú
1.774,08
5 enc. turma
5.460,00
4 basculantes
7.244,16
35 coletores
29.400,00
Total equip.
12.566,40
Total pessoal
37.737,00
TOTAL
50.303,40
71
O custo unitário de coletar, beneficiar e administrar a troca era de R$ 503,03/
tonelada.
CUSTOS UNITÁRIOS
Levando-se em consideração a coleta média mensal de 100 ton e a
população fixa em torno de 100.000 habitantes, pode-se ter as seguintes
informações sobre o Programa de Troca.
1- O custo de coleta e administração da troca é de R$ 307,71 /ton.
2- O custo médio de beneficiamento é de R$ 195,32 /ton
3- O custo médio total portanto é de R$ 503,03 /ton.
4- A média mensal de lixo coletado é de 1Kg para cada habitante. ( Considerando
uma média mensal de lixo reciclável coletado e comercializado em torno de 100
toneladas e uma população beneficiada em torno de 100.000 habitantes)
5- A média mensal de custo do serviço é de R$ 0,50 para cada habitante
6- Cada tonelada coletada, beneficiada e trocada custa R$ 0,005 para cada
habitante.
7- O custo de triagem é de R$ 90,00 para cada tonelada.
72
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS ALCANÇADOS E DISCUSSÃO
São apresentadas a seguir
avaliações de diversos parâmetros que são
considerados relevantes aos sistemas de coleta seletiva de lixo.
4.1) Composição média do lixo doméstico e seu potencial econômico
A composição física dos resíduos sólidos urbanos é determinante na escolha
de qualquer processo de tratamento. Para sua determinação são realizados
estudos de caracterização dos resíduos de uma cidade ou região.
Na ausência de dados locais, ou pela dificuldade em obtê-los, é comum utilizar-se
de dados já obtidos em outras cidades. Para tanto, é importante que sejam feitos
ajustes, em função das peculiaridades locais.
A figura 5 apresenta a composição percentual média domiciliar em alguns
países.
73
90
80
70
60
Vidro
Metal
Plástico
Papel
Outros
50
40
30
20
10
0
Brasil
EUA
Malásia
Holanda
Turquia Alemanha
Figura 5 - Composição percentual média do lixo domiciliar em alguns países
Fonte: IPT/CEMPRE, 1995.
Apresenta-se, a seguir, no Quadro 16, a composição média dos resíduos sólidos
urbanos relativa a diversos locais, estudada por vários autores.
74
Quadro 16 – Composição física dos resíduos sólidos urbanos (% em peso)
LOCAL
São Paulo -SP
Rio de Janeiro RJ
recife-PE
FONTE
CETESB in Lima
Centro de Pesq.
Aplicadas
Curso de Lixo e Limp
Urbana in Pinto
Belo Horizonte - Natron Eng in Orth et
MG
alli
Brasília-DF
CODEPLAN in Orth et
alli
Salvador - BA DLU-Salvador in Pinto
Manaus-AM
Lima
Curitiba-PR
CETESB/COPEL
Porto alegre Rubbo
RS
Rio Claro - SP
Berríos
Campinas - SP
Lima
Inglaterra
Oliveira
Santiago - Chile
Oliveira
MendoçaOliveira
Argentina
Paris-França
Frangipane in Pinto
Austria
Oliveira
Holanda
Oliveira
Alemanha
Oliveira
Itália
Oliveira
EUA
Pordue Univ. in Orth et
alli
Suíça
Alarie et al in Floyd
Montreal
Alarie et al in Floyd
BarcelonaServ. Munic.
Espanha
Barcelona in Pinto
Noruega
Lopes Garrido et alli in
Fabbro
Melbourne Musa in Ward
Austrália
Port Said Norconsult in Ward
Egito
Ismailia-Egito
Norconsult in Ward
Addis Abeba Norconsult in Ward
Etiópia
ManchesterPereira Neto
EUA
ANO MATÉR PAP TRAP MADEIRA, VIDR
IA
EL
O
COURO
O
ORGA
BORRACHA
NICA
1979 38,3
29,6
2,2
0,8
14,6
1986 38,6
38,4
3,7
1,9
3,4
MET PLÁST INERTE
AL
ICO
S
5,5
3,7
9
9,7
0,6
1965
83
3,5
0,8
1,8
0,7
1,7
1971
69,9
16,8
2,2
1,4
2,5
3,3
1,9
2,2
1972
19,9
27,1
3,5
3,6
3
3,2
2,4
4,2
1972
1979
1980
1983
63,5
51,1
36,8
74,4
15,5
29
24,1
10,6
3,3
3,5
1,5
2,1
1,5
4,4
4,7
3,3
1,4
5,5
6,8
3,2
4,2
2,8
6
6
1985
1985
1966
1950
1965
62,8
72,3
42,7
69,7
65,6
15,2
19
15,7
14,9
5
2,2
2,1
1,8
2,6
0,9
2,1
0,8
5,7
1,8
3,5
2,2
3,7
8,3
1,5
1966
1966
1966
1966
1966
1968
31,3
59,7
54
59
88,2
27,6
29,6
12
30
12
8,4
42
5,7
1,7
2
1,8
1,3
0,6
3,9
9,3
7
5
0,9
10
3,3
2
4
1,1
8
1969
1969
1970
67,9
23,1
54,2
22,6
50,1
25,4
3,8
3,9
4,3
3,5
8,5
4,1
1975
47
40,5
3,5
3
1981
45,1
24,9
1,4
14,7
8,2
3
1,5
1981
47,2
24
2,2
1,3
3
3,4
18,9
1981
1981
49,3
62,3
22,1
2,2
2,2
1,5
1,3
0,5
3
0,8
3,1
1,2
19
31,5
1985
48
27
5
5
8
7
0,6
4,6
4,5
1,7
1
2
2
3,3
2,6
0,1
0,3
0,3
5,5
3,5
3,5
0,5
8
5,7
0,1
23,4
1
8,5
13
3
15,2
0,8
2,2
2,2
5,7
4
8,5
5,4
6
75
Apresenta-se também, a seguir, uma visualização da situação dos resíduos
sólidos em diversas cidades brasileiras.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
São Paulo Rio Salvador Fortaleza Recife P.Alegre DF B. Horizonte
V id r o
M e ta l
P lá s t ic o
P a p e l
O u tr o s
Figura 6 - Composição percentual média do lixo domiciliar em alguns municípios
brasileiros - Fonte: IPT/CEMPRE, 1995
76
Com a continuidade de alguns sistemas de coleta seletiva e do funcionamento
de algumas usinas de triagem de lixo no Brasil, o processo de comercialização
dos recicláveis tem amadurecido e, como consequência, os preços passam a ser
mais difundidos. Várias fontes estão disponíveis, tais como: CEMPRE –
Compromisso Empresarial para a Reciclagem, em publicação regularmente
distribuída; e página da Ecomarapendi, na Internet.
Apresenta-se, a seguir, na tabela 6, a média dos preços praticados no Estado do
Rio de Janeiro e, na tabela 7, a média dos preços em diversas cidades brasileiras.
Tabela
6
-
Média de preços de materiais recicláveis no Estado do Rio de
Janeiro – Dezembro/1997
Preços pagos pelas indústrias no Estado do Rio de Janeiro
Dezembro / 1997
Papel
Papelão
Jornal
Branco
Vidro
Branco
Colorido
Alumínio
Latas de alumínio
Plásticos
100,00
60,00
170,00
65,00
65,00
650,00
Polietileno, poliestireno, polipropileno
Granulado preto
Granulado branco ou transparente
Frasco (sem tampa)
PET
250,00
400,00
200,00
Incolor (prensado, sem tampa)
Verde (prensado, sem tampa)
270,00
200,00
Fonte: Recicloteca/Ecomarapendi
77
Tabela 7 – Média de preços de materiais recicláveis em diversas cidades
brasileiras
Preço em Real de materiais coletados (por tonelada)
Localização
Porto Alegre
Florianópolis
Santos
Campinas
Ribeirão Preto
Embu
Angra dos Reis
São Sebastião
Belo Horizonte
São Francisco
Pitanguinha
Vidro
30,00
35,00
30,00
70,00
55,00
51,31
26,48
54,00
20,87
Papel
branco
170,00
35,04
60,00
50,00
160,00
100,00
50,79
142,50
100,00
104,40
Papelão
80,00
11,07
40,00
50,00
50,79
106,96
60,00
104,65
Jornal
70,00
30,00
20,00
50,79
44,50
20,00
51,30
Alumínio
600,00
650,00
350,00
600,00
400,00
680,00
620,00
680,00
845,00
650,00
522,00
PET
180,00
200,00
70,00
170,00
100,00
243,67
120,00
156,50
Metais
ferrosos
40,00
20,00
10,00
40,00
30,00
40,00
57,00
22,80
43,43
30,00
28,00
Fonte: Recicloteca/Ecomarapendi
No Conjunto Nacional, na cidade de São Paulo, o valor médio de venda é de R$
118,00 por tonelada, e no Condomínio Riviera, em Ibertioga – SP, é de R$ 30,00
por tonelada.
Analisando-se as quantidades de resíduos gerados em cada cidade ou região, e
considerando-se sua composição e seus valores de mercado é possível projetar o
volume de recursos financeiros a circular.
Para o Brasil como um todo, considerando-se uma geração diária de
aproximadamente 250.000 toneladas de resíduos urbanos, sendo deste total pelo
menos 5 % de materiais recicláveis e valor médio de R$ 250,00 por tonelada
desse material comercializado, podemos afirmar que esse processo faria circular
no mercado algo em torno de pelo menos R$ 2.500.000,00 por dia.
78
4.2) Avaliação da experiência pesquisada quanto à minimização de resíduos
no meio ambiente
Os sistemas de coleta seletiva de lixo, apesar de não obedecerem a um
modelo pré-estabelecido ou a um padrão único, apresentam comportamentos
semelhantes, principalmente em relação à redução nas quantidades de resíduos
dispostos inadequadamente no meio ambiente. Em todas as experiências são
estabelecidos novos fluxos para os materiais coletados seletivamente, gerando
renda em todo o trajeto de volta às indústrias.
Analisando-se os números apresentados no Quadro 12 e nas Tabelas 3 e 4,
representativos da experiência de Angra dos Reis, observa-se que, ao longo do
período pesquisado, foram evitadas ao meio ambiente, aproximadamente, 3.500
toneladas de material reciclável.
Considerando-se a média “per cápita” da experiência de Angra dos Reis, com
em média, 1,0 kg/hab.mês , teríamos para o Brasil uma quantidade estimada de
150.000 toneladas/mês de material reciclável evitados ao meio ambiente. Em se
tratando de material reciclável, com forte presença de plásticos, que são materiais
de baixa massa específica, é importante pensar também nos volumes evitados.
O quadro 17 apresenta as massas específicas dos resíduos sólidos.
79
Quadro 17 – Massas específicas dos resíduos sólidos
Tipo de Resíduo
Restos de alimentos
Papel
Papelão
Plásticos
Materiais têxteis
Borracha
Couro
Adorno de flores
Madeiras
Vidro
Folhas de flandre
Metais não ferrosos
Metais ferrosos
Lama, cinza, tijolos
Kg/m3
288,0
81,7
49,6
64,1
64,1
128,0
160,2
104,1
240,3
193,8
88,1
160,2
320,4
480,0
Como ordem de grandeza, admitindo-se uma massa específica média de
para os materiais e as quantidades praticadas em Angra dos Reis em torno de100
kg/m3,
e considerando-se uma quantidade média mensal processada no
programa em torno de 100 toneladas, estima-se que, para o caso de Angra dos
Reis, evitou-se ao meio ambiente, em um período de 8 anos, um volume superior
a 96.000 m3.
Para a situação brasileira, como um todo, poderíamos estimar, considerando
a mesma massa específica média dos materiais recicláveis, e considerando uma
geração média diária de 250.000 toneladas, tem-se um volume diário em torno
de 2,5 milhões de m3.
80
4.3) Avaliação da experiência pesquisada sob o aspecto da geração de
renda aos participantes
Como já relatado no Capítulo 3,
o sistema de Angra dos Reis gerava renda
aos participantes a partir da troca de lixo reciclável por bens de consumo. A figura
4 demonstra o fluxograma financeiro do sistema, no qual os recursos para a
aquisição dos bens de consumo (itens
exclusivamente,
das
vendas
de
lixo.
de troca), eram provenientes,
As
quantidades
processadas
e
comercializadas naquele período representaram o patrimônio revertido em renda
para os participantes.
A triagem era feita pela população, sendo recompensada
pela troca. Os
prêmios eram comprados com a receita gerada pela comercialização do lixo, não
havendo subsídio da Prefeitura.
Considerando como receita média mensal para o sistema de Angra dos Reis o
valor de R$ 10.000,00, o acumulado, ao longo de oito anos, seria em torno de R$
1 milhão de reais. Esse valor foi revertido para a população, individualmente ou
coletivamente, e proporcionalmente à participação de cada um.
Através da troca já foram repassados à comunidade:
- mais de 150 toneladas de alimento;
- mais de 10.000 sacos de cimento;
- mais de 25 toneladas de material escolar.
Especificamente para as escolas da rede municipal foram repassados:
- 2 aparelhos de som 3 x 1;
- 15 ventiladores de teto;
- 2 Tvs coloridas;
- 1 computador;
- 1 bebedouro;
- 1 mimeógrafo;
- 1 máquina Xerox.
81
A renda gerada a partir da reciclagem pode ser analisada, de forma bastante
interessante, por Calderoni (C. S.,1997) em seu estudo sobre os ganhos com a
reciclagem. Sua proposta é representada através de uma fórmula:
G = (V-V) – C +E + W + M + H + A + D
Onde:
G = Ganho com a reciclagem
V = Venda dos materiais recicláveis
C = Custo do processo de reciclagem
E = Custo evitado de disposição final
W = Ganhos decorrentes da economia no consumo de energia
M = Ganhos decorrentes da economia de matérias-primas
H = Ganhos decorrentes da economia de recursos hídricos
A = Ganhos com a economia de controle ambiental
D = Demais ganhos econômicos ( divisas, subsídios, vida útil dos equipamentos,
etc.)
A partir de sua avaliação, Calderoni afirma que a economia possível através
da reciclagem do lixo no ano de 1996, no Brasil, pode ter sido estimada em, ao
menos, R$ 5,8 bilhões. Deste total, foi obtida economia de R$ 1,2 bilhões, tendo
sido perdidos, pela não reciclagem, R$ 4,6 bilhões.
4.4) Avaliação do comportamento dos participantes em um sistema de
coleta seletiva
Até dezembro de 1993, a população de uma maneira geral, e a administração
municipal, não podiam ainda perceber de que forma aquele serviço podia
contribuir para melhorar a vida no município.
82
Com o programa de troca, o interesse na participação cresceu porque era
possível identificar no lixo, a aquisição de alimentos, material escolar e cimento.
A administração municipal se entusiasmou porque, embora as despesas tivessem
aumentado, o retorno político foi altamente positivo.
Foi realizada uma pesquisa de opinião entre os participantes do sistema de
coleta seletiva de lixo de São Francisco - Niterói - RJ, resultando nos gráficos
apresentados no Anexo 9.
Observa-se que na experiência de Angra dos Reis
o comportamento foi
parecido, principalmente em relação aos benefícios, que, no caso, eram materiais.
4.5) Avaliação das relações de comercialização (relação com o mercado
comprador de lixo reciclável)
A comercialização dos recicláveis é o principal fator em qualquer sistema de
coleta seletiva de lixo. O mercado da reciclagem atua em grande parte com
intermediários que se alimentam do setor informal. À medida que a relação entre
cada sistema e os diversos compradores se estreita, os resultados financeiros
vão melhorando. É o resultado de um processo de aumento de escala – aumento
das quantidades ofertadas aos compradores - e de melhoria no beneficiamento
dos materiais para venda. Os preços unitários tendem a subir e as parcerias
começam
a acontecer. É muito comum que um comprador de determinado
material forneça equipamentos, às vezes em regime de comodato,
para
beneficiamento do material a ser adquirido.
Apesar da sazonalidade no valor de mercado de alguns materiais, a
experiência de Angra dos Reis nunca teve problemas com falta de comprador.
Muitas experiências têm dificuldade para vender o vidro, ao contrário de Angra dos
Reis, em parceria com a Cisper desde o início do Programa. A comercialização de
83
alguns tipos de plástico também pode ser problemática em algumas regiões,
devido, principalmente aos custos de transporte às indústrias recicladoras.
4.6) O papel das administrações públicas, principalmente, as prefeituras
municipais, no fomento aos sistemas de coleta seletiva de lixo.
A atuação de uma prefeitura municipal como agente incentivador, através de
sua política de reciclagem, reforça sua posição enquanto gerente do
desenvolvimento municipal.
A preservação do meio ambiente e o crescimento econômico no setor da
reciclagem( sistemas de recolhimento; galpões de estocagem, acondicionamento
e beneficiamento; pequenas indústrias recicladoras; etc.) resultam para o
município
em
diversos
benefícios
sociais,
ambientais
e
econômicos.
(IBAM/CEMPRE, 1993)
No incentivo a atividades de reciclagem de lixo, a prefeitura poderá atuar nas
seguintes linhas:
-
cadastramento de sucateiros e ferros-velhos;
-
desenvolvimento de programas específicos voltados aos catadores;
-
disponibilização de terrenos ou prédios públicos ociosos para implantação de
centros de triagem;
-
organização de campanhas diversas;
-
redução de impostos para implantação de indústrias recicladoras não
poluentes no município;
-
apoio à organização de bolsa de resíduos;
-
custeio dos serviços de limpeza urbana e programas especiais para reciclagem
(ver percentuais dos orçamentos municipais comumente destinado aos
programas – Capítulo 2 )
84
É importante observar que tramita atualmente pelo congresso federal um
projeto de lei para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em
seu conteúdo são definidas diversas atribuições e obrigações para as prefeituras
municipais, entre elas a da implantação da coleta seletiva de lixo.( Kapaz, E., 2002
– Política Nacional de Resíduos Sólidos)
A experiência acumulada poderá contribuir nessa nova fase de implementação
de outras experiências e de uma legislação nacional.
É importante observar que, apesar dos resultados terem sido considerados
positivos na experiência de Angra dos Reis, não significa dizer que não
houvessem problemas com os fluxos administrativos da prefeitura municipal. Esta
pode ter sido a maior deficiência do programa, provocando atrasos no
fornecimento dos ítens de troca, e colocando em risco a credibilidade do
programa. Muitas vezes, mesmo com dotação orçamentária e saldo de caixa
suficientes, a elaboração de empenhos e pagamentos de faturas vencidas não
eram realizadas em prazos razoáveis, prejudicando o programa.
4.7) Custos dos sistemas
Analisando-se as diferentes características das experências relatadas
observa-se a dificuldade em se comparar a eficiência dos sistemas. Um dos
parâmetros mais comumente utilizados para essa comparação é o “custo /
tonelada coletada (R$/ton)”. Não há uma padronização na composição desses
custos. As experiências em que o custo da mão de obra é considerado no cálculo,
normalmente apresentam maiores valores para este parâmetro ( Ex: São
Sebastião e Angra dos Reis). As faixas salariais também influenciam esses
custos, sendo ainda mais altos quando se valoriza melhor os funcionários.
Os sistemas com modalidade “porta a porta”, de uma maneira geral,
apresentam custos por tonelada coletada mais altos que os sistemas com PEVs
ou LEVs, como é o caso da experiência de Belo Horizonte.
adotaram as trocas, ou remunerações
maiores custos / tonelada
pelo lixo coletado,
Já os sistemas que
apresentam os
coletada. Se torna muito importante, portanto,
85
considerar
outros
parâmetros,
tais
como:
“quantidade/habitante.mês
(kg/hab.mês)”; custo/habitante; percentuais do orçamento municipal, etc.
O parâmetro
“kg/hab.mês” representa o nível de participação geral do
sistema. Dependendo do que for considerado como área de abrangência, este
parâmetro pode apontar médias localizadas, em um determinado bairro, por
exemplo, ou demonstrar uma média geral para o município. O caso de Angra dos
Reis demonstrou uma média, para o município todo, de 1 kg/hab.mês. Esta é uma
média considerada alta, dada a base geográfica adotada.
O parâmetro “custo/habitante” representa o valor que, hipoteticamente, cada
habitante deveria gastar para que existisse
um
programa
com
essas
características em seu município. No caso de Angra dos Reis esse valor foi, em
média, de R$ 0,50/mês.
O parâmetro “percentual do orçamento municipal” é um dos parâmetros mais
importantes sob o ponto de vista da administração publica e sua aplicação está
diretamente relacionada com o papel das prefeituras municipais no fomento aos
programas.
Discussão
As carências da sociedade brasileira, principalmente em relação aos serviços
essenciais prestados com um mínimo de qualidade (saúde, educação,
saneamento, etc.), são motivos de uma discussão difícil e, quase sempre
polêmica.
A problemática dos resíduos sólidos, incluindo neste contexto os serviços de
limpeza urbana e a destinação final dos resíduos, é um ótimo exemplo disto, uma
vez que é um assunto discutido pela sociedade como um todo e não apenas pelos
técnicos e autoridades envolvidos diretamente.
Sob a ótica econômica, que é a aceitação mais comum, resíduo é definido
como uma matéria sem valor. Seus valores de uso e de troca são nulos ou
negativos para seu detentor ou proprietário. A Organização Mundial de Saúde
define resíduo como “qualquer coisa que o proprietário não quer mais, em um
86
certo local e em um certo momento, e que não apresenta valor comercial corrente
ou percebido. (Bidone, 2001). Pelas
definições anteriores os materiais
trabalhados pelos sistemas de coleta seletiva, devido aos seus valores de
mercado, não podem ser considerados resíduos.
No caso dos resíduos sólidos a questão financeira assume importância
fundamental devido aos altos custos dos serviços. De um modo geral consomem
elevadas parcelas dos orçamentos municipais, dificultando a definição das
prioridades em cada município.
Investir em coleta seletiva de lixo, mesmo com todos os benefícios advindos
dessa prática, eleva os custos para as municipalidades. Esta é, portanto, uma das
polêmicas. Em um universo de carências sociais, em que medidas se justifica
onerar ainda mais o poder público para se avançar nas questões ambientais?
Outra polêmica, desta vez em relação à modalidade adotada para coleta
seletiva, diz respeito à mobilização da população. A maior parte das propostas se
origina nos órgãos responsáveis pela limpeza urbana nos municípios. Em muitos
casos a proposta de implantação de um sistema de coleta seletiva de lixo parte da
sociedade civil ( associações de moradores, organizações não governamentais,
etc. ) e, observa-se, ainda, que muitas iniciativas partem da área da educação,
junto ao setor público ou não. Essas diferenças fazem, também, com que os
objetivos principais das experiências não sejam os mesmos.
Para os órgãos de limpeza urbana, responsáveis pelo gerenciamento da
destinação final do lixo das cidades, os sistemas de coleta seletiva de lixo
representam uma diminuição de demanda, aliviando bastante o problema dos
aterros, além de aliviar, também, a demanda sobre a coleta convencional. O
problema visto sob este aspecto explica porque vários sistemas adotam os
incentivos, visando um aumento da adesão da população.
A valorização do lixo reciclável, quer pela troca ou pela compra, é a questão
polêmica. Quando são discutidas as formas de mobilização da população surgem
as várias propostas para o crescimento da adesão aos sistemas. A educação
ambiental é considerada como um instrumento eficaz para para cumprir com esse
87
objetivo. Estaríamos, a partir deste momento, iniciando outra discussão no campo
da educação e da comunicação. Alguns conceitos têm significado muito amplo. A
educação ambiental é um deles.
Alguns autores, alguns gestores de sistemas de coleta seletiva de lixo e
outros tantos interessados pelo assunto, condenam qualquer tipo de incentivo
material que promova a participação da população. Defendem que a participação
ocorra apenas pela conscientização ambiental. A
argumentação consiste em
afirmar que a troca ou comercialização não são capazes de educar, e, por isso,
são incapazes de viabilizar a implantação de sistemas de coleta seletiva de lixo.
O presente estudo vem, justamente, demonstrar o contrário. A troca ou
comercialização de lixo reciclável, através de sistemas de coleta seletiva de lixo,
têm permitido o acesso da parcela da população, historicamente isolada dos
processos de discussão da temática ambiental, a todas as informações
pertinentes à problemática do lixo e suas implicações ambientais, de saúde
pública e, principalmente, das possibilidades de geração complementar de renda.
Foi possível observar que os participantes descobriam, a partir do processo
de troca de lixo por bens de consumo, o valor da embalagem de um determinado
produto e sua influência no preço final .
Foi possível também perceber,
naquele momento, o início de um
questionamento em relação ao valor dos produtos e de seus direitos como
consumidor. Se caracterizava, enfim, também como um exercício de cidadania.
Nas instâncias de debate do orçamento da Prefeitura Municipal de Angra dos
Reis (Fóruns Distritais e Conselho Municipal ) a manutenção e ampliação do
sistema de coleta seletiva de lixo foi sempre referendada pelos votos dos
representantes populares e governamentais. Isso representava uma garantia de
que o programa pudesse evoluir e se consolidar como uma coisa tão natural e
rotineira quanto a coleta comum, a educação, os serviços de saúde, etc .
É importante observar, também, que em todos os sistemas de coleta seletiva
de lixo são utilizados os mais diversos argumentos para incentivar a adesão da
população. Percebe-se um teor filantrópico nas campanhas, paralelamente ao da
conscientização ambiental. É comum, em um determinado sistema, se incentivar
88
uma maior participação informando que a renda gerada pela venda de
determinado material reciclável será revertida para um hospital, ou um asilo, ou
uma cooperativa. Avaliando-se os diversos sistemas existentes percebe-se que
em quase todos houve, pelo menos em algum momento, algum incentivo material,
ou seja, uma troca. Quando não ocorre alguma troca, mas apenas se aposta na
conscientização ambiental, percebe-se então um grande apelo filantrópico.
Coloca-se, portanto, uma questão para discussão: Separa-se as embalagens
de vidro por consciência ambiental ou para ajudar a alguma instituição? Ou as
duas coisas? Em que proporções? E os outros materiais, tais como alumínio e
papéis? As latas de alumínio e as embalagens plásticas são bons exemplos. As
primeiras, praticamente, desapareceram do lixo. Os plásticos, diferentemente,
podem ser considerados a praga, ou a marca da falta de consciência ecológica.
Na verdade o que ocorre é uma consequência do mercado. À medida que o
interesse comercial pelos plásticos for aumentando, o que na verdade já vem
ocorrendo, esse material
tenderá a não mais ser considerado o vilão das
embalagens , conforme pode ser observado no Anexo 10.
seletiva é fazer o lixo retornar à indústria.
O sentido da coleta
Retornando ao ciclo produtivo, o lixo
deixa de ser um vetor de doenças e não aumenta o volume dos aterros e lixões.
Para alcançar este objetivo é necessário tempo para desenvolver dois aspectos:
conscientização e atratividade.
A conscientização é fundamental para as
pessoas entenderem a importância e
necessidade de fazer coleta seletiva
(independentemente de trocar ou não o lixo) e fazer compostagem onde houver
disponibilidade de espaço (principalmente nas comunidades rurais).
A atratividade do programa de troca se dá na valorização do lixo (através de
seu preço); na agilidade do beneficiamento/venda, para não criar dívidas com a
comunidade; e na implantação de postos de troca nas comunidades para facilitar a
participação.
Com relação a custos existem dois aspectos fundamentais: tributação e custo
unitário. As taxas de coleta de lixo e limpeza pública em Angra dos Reis, cobrem
somente 15% do custo total dos serviços de resíduos sólidos, conforme
89
demonstrado no item 3.2.4 e no quadro 7. Portanto era necessário rever o Código
Tributário Municipal e reduzir os custos unitários dos serviços.
O custo/tonelada da coleta seletiva tinha que ser reduzido, sem, no entanto,
comprometer a qualidade no atendimento à população; a qualidade do produto
vendido; e a relação de trabalho com os funcionários, mesmo considerando que
os núcleos urbanos do município não são agrupados em torno do centro da
cidade. São mais de quarenta comunidades espalhadas ao longo de 80Km da
rodovia BR-101 (Rio – Santos) e outras tantas pelas ilhas, encarecendo todos os
serviços prestados à população.
Quais os parâmetros considerados na avaliação da coleta seletiva ? O que é
caro e o que é barato? Em se tratando de políticas públicas o principal aspecto da
relação custo/benefício é o social ? Neste aspecto os benefícios valem os custos
ou são caros demais?
Se o município tivesse tradição de catadores de rua, o trabalho certamente
seria diferente. No caso de Angra dos Reis o caminho foi construir todas as partes
da coleta seletiva, sendo necessário contratar a mão de obra e os equipamentos.
Isto encareceu o programa mas proporcionou geração de renda à população em
geral e não apenas aos catadores, organizados ou não. As experiências como as
de Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro puderam e continuam podendo
constatar essas diferenças.
A proximidade à cidade do Rio de Janeiro e às cidades do Vale do Paraíba
facilitou o principal aspecto: a comercialização.
A partir da constatação do potencial econômico contido no lixo e, considerando
que a comercialização dos materiais recicláveis é um pressuposto para existência
de qualquer sistema de coleta seletiva de lixo – onde existe coleta seletiva de lixo
a população participante é estimulada a separar apenas a parcela que tem
possibilidade de ser comercializada - observa-se que ocorre uma minimização de
resíduos no meio ambiente, juntamente com geração de renda a todos os
participantes, em todas as fases do processo. (Calderoni, 1998.)
90
A minimização de resíduos ocorreria de forma ideal à medida que a geração
desses resíduos fosse reduzida. É a discussão do primeiro dos 3 Rs ( Reduzir,
Reutilizar e Reciclar). Os problemas na destinação final dos resíduos se referem,
em parte, ao segundo R (reutilizar), mas, também, e, principalmente, ao terceiro R
(reciclar). Ou seja, é através da reciclagem propriamente dita, e dos meios para
que os materiais recicláveis provenientes do lixo se transformem em matéria prima
para diversas indústrias (coleta seletiva de lixo) que é possível tratar do terceiro R
(reciclar). É a minimização de resíduos não pela diminuição de sua geração, mas
pela diminuição da presença de lixo no meio ambiente, com geração de renda.
Coloca-se, portanto, uma questão final: Considerando-se que o mercado
determina a existência e o funcionamento dos sistemas de coleta seletiva de lixo e
da reciclagem, será que, então, em face da urgência com que se necessita
solucionar o problema,
é possível aceitar o atual ritmo na evolução da
conscientização ambiental, ou acelera-se esse processo através do incentivo à
comercialização de todos os materiais recicláveis ?
91
Conclusão e Considerações Finais
Os benefícios resultantes da prática da coleta seletiva podem ser percebidos
em todas as experiências. A renda gerada a partir da comercialização dos
materiais recicláveis é bastante relevante para a maioria dos participantes. A
experiência na favela de Manguinhos, integrante do projeto Universidade Aberta
da Fundação Oswaldo Cruz, revelou que a coleta seletiva de lixo é a segunda
alternativa de maior preferência dos moradores para elevar a renda.(Cynamon,
1995)
De uma maneira geral, o início do processo ocorre no domicílio, através do
morador e, principalmente, da “dona de casa”.
Percorrendo, desde esse
momento, um fluxo diferente do lixo comum, o “lixo reciclável” inicia sua trajetória
de volta à indústria e, consequentemente, ao consumo.
Em função das diferentes
formas como foram concebidos os diversos
sistemas de coleta seletiva existentes, a remuneração pelo “lixo reciclável” ocorre
diferentemente. Os sistemas que se baseiam na troca de lixo reciclável por outros
bens, ou que, pelo menos, utilizam, eventualmente, a troca como incentivo à
participação, possibilitam a geração de renda logo na fase inicial do processo. Os
sistemas que não o fazem passam a promover a geração de renda nas fases
seguintes, através de outros segmentos da população – os catadores urbanos, as
cooperativas de catadores, os sucateiros, os depósitos, o pessoal de frete e
transporte, os beneficiadores, as indústrias transformadoras, os produtores de
insumos para a reciclagem, as indústrias de reciclagem - e, a partir daí, por todo o
processo para o consumo.
A comercialização é um pressuposto para a existência de qualquer sistema de
coleta seletiva. Não existe coleta seletiva de lixo sem comercialização. Não há o
que fazer com todo o material recolhido se não houver interesse pelos
compradores.
Não
havendo
comercialização
a
parcela
não
vendida
é
caracterizada como rejeito e deve ser encaminhada aos aterros. Esse fluxo é,
certamente, o mais caro. Seria mais indicado que os materiais sem
comercialização não fizessem parte da coleta seletiva. Deveriam ser coletados
92
pela coleta comum. Esta é uma diferença muito importante entre o sistema de
Angra dos Reis e a grande maioria. A parcela de rejeitos é mínima, pois os
materiais coletados seletivamente já têm destinação comercial definida, com
preços estabelecidos e, consequentemente, pontuação no sistema.
Ressalta-se, portanto, a importância do planejamento e pesquisa de mercado
no sentido de avaliar a viabilidade de um sistema de coleta seletiva a ser
implementado.
Obviamente, não existe comprador para todo e qualquer material proveniente
do
lixo.
O
mercado
determina
as
condições
de
comercialização
e,
consequentemente, influencia na geração de renda em todas as fases do
processo.
É importante, portanto, observar que, mesmo nos sistemas em que a
participação da população ocorre de forma voluntária, através de doação, por
filantropia ou por consciência ambiental, ou ambos, essa atitude só será
permanente se houver comercialização. Essa comercialização exige quantidades
mínimas que nem sempre podem ser conseguidas, pois dependem de local para
estocagem. A participação da prefeitura local é muito importante para o sucesso
do trabalho.
Observa-se, também, onde os sistemas de coleta seletiva de lixo ocorrem há
alguns anos, fomentados pelas prefeituras municipais ou por outras instituições, a
proliferação de compradores intermediários, sucateiros ou outras iniciativas
empresariais que contribuem para o aumento da renda da população em geral.
É possível, portanto, reduzir as quantidades de lixo nos sistemas de coleta
domiciliar, na disposição inadequada no meio ambiente e nas áreas de destino
final ( aterros sanitários, aterros controlados, lixões, usinas de lixo, incineradores,
etc.), simultaneamente ao aumento da renda à população participante, em todas
as fases do processo.
Analisando-se numericamente as quantidades de lixo produzidas, por
habitante; a composição do lixo e os percentuais dos diversos materiais; seus
valores de mercado ( mercado de recicláveis, isto é, sucateiros, indústrias
recicladoras, etc. ); e as faixas de renda da população participante ativamente dos
93
sistemas de coleta seletiva de lixo, pode-se afirmar que os sistemas de coleta
seletiva de lixo geram renda complementar, que em muitos casos se tornou
essencial à subsistência de diversas famílias.
A comercialização dos materiais recicláveis, presentes na massa do lixo, gera
receitas que, em muitos casos, é a única receita de uma família ou de um grupo
de pessoas. Se caracteriza, ainda, como uma receita complementar, já
indispensável ao orçamento de inúmeras famílias.
Um aspecto interessante a ser observado é a utilização de alguns parâmetros
para avaliação da eficiência dos sistemas. A coleta de dados da experiência de
Angra
dos
Reis
possibilitou
determinar
outros
parâmetros,
tais
como:
“quantidade/habitante.mês”(kg/hab.mês); custo/habitante; quantidade/população
atendida; etc. O parâmetro “custo x tonelada coletada “(R$/ton) é o mais utilizado,
mas pelo fato de sua composição não ser a mesma em todas as experiências, não
deveria servir de referência sem se avaliar a relação “custo-benefício” e as
quantidades “per cápita” de lixo reciclável coletado e comercializado. Este último
parâmetro representa a participação efetiva da população no programa.
Conclui-se também, pelos dados das experiências pesquisadas, que o lixo,
dada a sua composição, tem condições de ser reduzido a níveis mínimos,
alimentando os mercados e gerando renda, principalmente à população com
menores faixas de renda.
Esse processo tem demonstrado ser um dos caminhos mais efetivos para que
uma importante parcela da população participe intensamente de uma atividade
ecológica, com resultados bastante concretos, com alcance local e global.
Proporcionalmente à geração complementar de renda se observa uma
modificação significativa na qualidade ambiental, tanto nos arredores das
residências dos participantes, como também nas cidades como um todo e,
principalmente nos locais de destinação final.
A caracterização dos resíduos gerados, e coletados, em uma cidade determina
a composição do material disposto nos aterros sanitários. É bastante perceptível a
94
diferença nessa composição, observada no dia-a-dia da operação de um aterro.
Em aterros com a presença de catadores é mais fácil distinguir os materiais pelo
resultado do trabalho de catação. Quando um aterro atende a uma cidade com um
sistema de coleta seletiva operante, percebe-se uma diminuição da atividade dos
catadores no aterro, decorrente da menor oferta de materiais com algum valor.
Percebe-se isto, claramente, observando-se o comportamento de um aterro para
resíduos quando se paralisa, temporariamente ou definitivamente, um sistema de
coleta seletiva naquela cidade. Este fato ocorreu em Angra dos Reis em meados
do ano de 2000. A partir deste momento, a quantidade de lixo reciclável, coletada
juntamente com o restante e enviada ao aterro, aumentou bastante, levando,
novamente, a um crescimento no número de catadores.
A reciclagem deve ser vista como uma solução para redução dos resíduos,
mas é necessário observar que se todos os resíduos produzidos mundialmente
fossem inteiramente recuperados não haveria suficiente mercado comprador para
absorvê-los. É necessário, portanto, que se realizem estudos mais aprofundados
dos processos de reciclagem e de mercado, para maior eficiência dos sistemas ao
serem implementados.
Foi possível, também, avaliar a importância dos incentivos oferecidos por
alguns sistemas à participação da população, isto é, que a troca, ou alguma forma
de remuneração oferecida pelo “lixo reciclável”, influenciaram positivamente na
participação.
Extrapolando-se os resultados e comparando-os com os dados da realidade
brasileira na destinação final de lixo, foi possível avaliar que instrumentos e/ou
ações são, efetivamente, alternativas para minimização de resíduos sólidos no
meio ambiente.
Estudos, pesquisas e principalmente experiências futuras serão muito
importantes para avaliar o amadurecimento da relação entre os consumidores,
que são os geradores de resíduos, e os compradores, que é o mercado de
95
recicláveis. A presente pesquisa é tendenciosa no sentido de pressentir que o
estímulo à comercialização dos materiais recicláveis provenientes do lixo
doméstico pode ser a grande solução para o problema. Daí a enorme importância
de trabalhos futuros nesta linha.
Concluindo, é possível afirmar que o tema “LIXO” é, atualmente, um dos mais
debatidos pela sociedade. A razão disso é o seu impacto no meio ambiente, na
saúde pública e também, mesmo que sob um aspecto subjetivo,
na questão
estética das cidades. É um tema que diz respeito a todos e não apenas aos
técnicos. Isto porque, não somente os técnicos devem participar das soluções dos
problemas. Os sistemas de coleta seletiva de lixo demonstram isto de forma clara
quando promovem a segregação e a valorização dos materiais descartados por
todos.
Seria importante que a sociedade, a iniciativa privada, e o poder público,
através da União, dos Estados e Municípios, desenvolvessem, de forma integrada,
ações políticas, econômicas, sociais e ambientais para a realização da coleta
seletiva de lixo em todo o país. Essa parece ser a principal medida, dentro do
conjunto de soluções para minimização de resíduos, capaz de promover economia
de recursos naturais e melhoria geral das condições ambientais, sociais e de
saúde pública.
96
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97
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USP/EESC. Anais do IV Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental –
Caracterização Física dos Resíduos Sólidos Urbanos da Cidade de São Carlos – SP. São
Carlos, 1990.
HIETANEN, L. e HANNINEN, k. “Recovery and Recycling of Domestic Wastes with a
Deep-Collection System”. Finland, 1996.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Safe management of wastes from health-care
activities. Genebra, 1999.
UNICEF/CEF. Do Lixo à Cidadania : Estratégias para a ação. Brasília, 2001.
NORMAS TÉCNICAS
ABNT. NBR10004/set. 1987
– Resíduos Sólidos – Classificação
----------NBR 13463/set. 1995 – Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos – do
Acondicionamento ao Transporte
----------NBR 12980/agos. 1993 - Coleta, Varrição e Acondicionamento de Resíduos
Sólidos Urbanos
----------NBR 13221/nov. 2000 – Transporte de Resíduos
103
----------NBR 11174/jul. 1990 - Armazenamento de Resíduos Classe II – não inertes – e
Classe III – inertes
----------NBR 12807/12808/12809/12810/jan. 1993 – Resíduos de Serviços de Saúde
----------NB-896. Apresentação de citações e documentos. Rio de Janeiro, 1970.
----------NB – 66 - Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro, 1989.
----------NBR – 6023/89 – Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro, 1989.
VANCOUVER Recomendations. Association of Medical Editors, 1982.
104
ANEXOS
Anexo 1 - Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis,
em 1991
Anexo 2 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos
Reis – Adesivos para pontos de entrega voluntária ou para recipientes domiciliares
Anexo 3 – Idem Anexo 2
Anexo 4 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis,
em 1991 – “Folder” promocional
Anexo 5 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis,
em 1993 – Programa de Troca
Anexo 6 – Material de divulgação de sistema de coleta seletiva comercial
Anexo 7 – Material de divulgação de sistema de coleta seletiva de lixo comercial
Anexo 8 – Planilhas de controle de entrada de lixo reciclável no galpão principal do
sistema de coleta seletiva de lixo de Angra dos Reis – Registros do “Programa de Troca
Anexo 9 – Gráficos que apresentam resultados de pesquisa em relação ao
comportamento dos participantes do sistema de coleta seletiva de lixo em São Francisco –
Niterói - RJ
Anexo 10 – A triste realidade da destinação dos plásticos e uma alternativa comercial
como solução
105
Anexo 11 – Alguns exemplos da comercialização dos recicláveis como alternativa de
geração de renda a partir do lixo
Anexo 12 – Exemplo da reciclagem como arte e instrumento de educação ambiental
106
Anexo 1 - Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis,
em 1991
107
108
109
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Anexo 2 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos
Reis – Adesivos para pontos de entrega voluntária ou para recipientes domiciliares
111
112
Anexo 3 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos
Reis – Adesivos para pontos de entrega voluntária ou para recipientes domiciliares
113
114
Anexo 4 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis,
em 1991 – “Folder” promocional
115
116
117
118
119
Anexo 5 – Material de divulgação do sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis,
em 1993 – Programa de Troca
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121
122
Anexo 6 – Material de divulgação de sistema de coleta seletiva comercial
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Anexo 7 – Material de divulgação de sistema de coleta seletiva de lixo comercial
126
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Anexo 8 – Planilhas de controle de entrada de lixo reciclável no galpão principal do
sistema de coleta seletiva de lixo de Angra dos Reis – Registros do Programa de Troca
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129
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Anexo 9 – Gráficos que apresentam resultados de pesquisa em relação ao
comportamento dos participantes do sistema de coleta seletiva de lixo em São Francisco –
Niterói - RJ
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135
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137
138
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Anexo 10 – A triste realidade da destinação dos plásticos e uma alternativa comercial
como solução
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142
143
144
Anexo 11 – Alguns exemplos da comercialização dos recicláveis como alternativa de
geração de renda a partir do lixo
145
146
147
Anexo 12 – Exemplo da reciclagem como arte e instrumento de educação ambiental
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