ROMPENDO PARADIGMAS NOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO:
fazendo uma educação do campo nas turmas de jovens e adultos
Conceição Cristina Pereira dos Santos
ATES/ProJovem Campo/GOIESC/PB
Setor de Educação do MPA/PB
[email protected]
Francisca Paulina da Conceição Gonçalves
Coordenação Estadual do MPA/PB
Coordenadora da EJA/PB
[email protected]
Resumo
O Movimento dos Pequenos Agricultores é um movimento social de caráter popular e
camponês que surgiu a partir de uma necessidade dos agricultores/as que organizados
conquistaram a causa. Este momento foi impulsionado pela ampliação do mesmo,
articulando os setores da produção, da educação e da organização social dos
agricultores/as familiares. Nesse sentido, venho descrever as experiências que estão
sendo produzidas e multiplicadas nas turmas de Alfabetização do Movimento, onde a
produção do conhecimento na EJA – Educação de Jovens e Adultos podem (re)
significar as memórias, as identidades e as histórias vividas pelos sujeitos que se
articulam para superar a opressão e as diversas cercas do letramento e da alfabetização
para o homem e a mulher do campo historicamente instituído. A produção dos saberes é
construído em parceria com os educandos/as, educadores/as, militantes e a comunidade,
todos que direta ou indiretamente fazem parte dos movimentos sociais do campo que
lutam por uma educação do e no campo. Essas experiências estão contribuindo para o
afloramento de sementes que estão na superação dos desafios, (re) descobrindo o novo
que esta a sua frente, abrindo caminhos para serem trilhados comungando uma mesma
concepção de ensino aprendizagem, como Freire que trabalha a “realidade de mundo”
partindo do tema gerador que a comunidade vivência e, sobretudo compartilhando
saberes nos diversos espaços sejam formais e/ou informais na produção do
conhecimento. O Movimento neste sentido é um interventor que traduz uma
necessidade de proporcionar reflexões que tenham por princípio neste momento o
letramento e a alfabetização no campo teórico-metodológico da EJA na perspectiva
crítica, dialógica e histórica do saber.
Palavras chave: Educação do Campo, EJA, Movimento dos Pequenos Agricultores.
Conhecendo o Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA
O movimento dos Pequenos Agricultores – MPA surgiu no Rio Grande do Sul, entre
1995 a 1996, organizados por um grupo de famílias camponesas que perderam suas
plantações devido à seca. Com isto, era preciso recursos financeiros para estabilizar
aquela situação, o que fez os camponeses se organizarem em acampamentos da seca,
como eram denominados, a fim de exigir uma nova política agrícola de créditos. Nesta
luta, algumas entidades contribuíram para o seu surgimento como: alguns militantes do
MST; dirigentes sindicais e educadores populares da região.
Com sua concretização, tornou-se um movimento autônomo, de caráter popular e
camponês, cuja base são grupos de famílias organizados para produção de alimentos
orgânicos e saudáveis, para o auto consumo e alimento do país, resgatando a identidade
cultural do campesinato e respeitando as diversidades regionais de cada povo.
A organização também parte dos princípios e valores, respeitando as diferenças e
estimulando o povo a lutar por benfeitorias aos pequenos produtores de terras. Nesta
ótica, seus princípios se fundamentam na dignidade e no respeito recíproco; na
organização dos camponeses em grupos de base; na produção de alimentos saudáveis;
numa direção coletiva e não autoritária; na articulação política e solidária, lutando por
interesses sociais; na orientação socialista; na autossustentação, avaliando e planejando
processualmente as atividades.
Já os valores buscam uma inter-relação mais humana, baseada na pedagogia do
exemplo, onde possamos compartilhar nossos anseios e desejos, chamando para
responsabilidade individual e coletiva fundamentadas no companheirismo que um deve
ter pelo outro, independentemente de cor, raça, sexo ou etnia, pois lutamos por uma
mesma causa, a soberania popular do povo camponês.
Nesta perspectiva com a organização dos agricultores, surgem demandas que precisam
ser atendidas, como educação, produção, relações sociais, trabalho de base, portanto, o
MPA cria os setores que funcionam interligados um ao outro, formando um conjunto de
atividades a serem executadas de maneira integrada.
Enveredando na Educação de Jovens e Adultos
Por volta de 2004, o Movimento na Paraíba implantou um Projeto Piloto na área de
educação, a Educação de Jovens e Adultos através do Programa Brasil Alfabetizado,
onde conseqüentemente o setor de educação responsabilizou-se pelas formações
continuadas de educadores/as das pequenas comunidades rurais, como também
Assentamentos da Reforma Agrária, seguindo o método de Freire, onde
A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da
relação teoria/prática [...] .é alinhar e discutir alguns saberes
fundamentais à prática educativo-critica ou progressista e que,
por isso mesmo devem ser conteúdos obrigatórios à organização
programática
da
formação
docente.
Conteúdos
cuja
compreensão, tão clara e tão lúcida quanto possível, devem ser
elaborada na prática formadora. (2004, p. 30)
Que se tornam fundamentos metodológicos à práxis, sendo cada um responsável pelo
diferencial nas escolas campo de estudo e se possível campo de atuação profissional,
plantando a semente de uma educação inovadora que atenda as necessidades dos
sujeitos envolvidos neste processo de construção. Atualmente as formações continuadas
de educadores são realizadas mensalmente divididas por pólos educacionais, onde
estudam metodologias diferenciadas, comparações entre as concepções de ensinoaprendizagem no intuito de compreender como fazer na prática (práxis = ação-reflexãoação) esta educação que dê sentido a vida daqueles jovens e adultos que estão em sala
de aula, como também elevar o nível de consciência dos agricultores e agricultoras
familiares envolvidos neste processo de construção do conhecimento. Fazenda apud
Kulcsar afirma, que:
...e fundamental o processo de formação do professor. Poderá
auxiliar o aluno a compreender e enfrentar o mundo do trabalho
e contribuir para a formação de sua consciência política e social,
unindo a teoria à prática. (2002, p. 64-65)
Evidenciando e reafirmando os quatros pilares da educação, o aprender ser, afirmando
sua identidade quanto ser humano e ser educador/a; o aprender a conviver,
harmoniosamente e socialmente um com outro; aprender a fazer, com compromisso,
amor e dedicação; aprender a aprender, pois somos seres inconclusos, em permanente
busca do ser mais, constantemente em formação, aprendendo um com outro, numa
dialeticidade que permita a pesquisa e a troca de saberes.
De acordo com o caderno pedagógico do MPA, apud Palangana que nos remete a uma
reflexão mais profunda onde
[...], o sujeito adquire um conjunto de riquezas produzidas pelos
próprios homens, dentre elas a consciência, que pode ser um
fato alienado ou constituir-se em um poderoso instrumento na
leitura de mundo e de si mesmos. Nesse sentido, compete a
escola assumir a parte que lhe é de direito e obrigação,
viabilizando aqueles que a freqüentam a mediação [...]
necessária a formação da consciência que as atuais condições de
vida estão a solicitar. (2006, p.27)
Neste sentido elenca-se vários instrumentos que possibilitam e diferenciam a
metodologia e a maneira de aprendizagem do educando como: o processo dialógico
como ponto de partida para o ensino/aprendizagem; a sensibilização do ouvir as
vivências e transformá-las em didática (conteúdos); o espaço alfabetizador com
embelezamento, um convite a participar (a mística); os momentos de lazer, chamados de
noites culturais, onde se resgata a cultura, os costumes, os valores, a alegria de estar
juntos cantando, brincando, conversando, uma diversão que pode ser utilizada como um
aprendizado, uma troca de conhecimentos, na qual o educador é um aprendiz nesta
mediação entre os saberes: educando - educador; educando-educando.
Segundo Bogo:
Podemos dizer que a mística é conteúdo e forma. [...], a mística
acompanha o nosso desenvolvimento político-organizativo, [...]
alimenta nossas pegadas, ajudando a abrir as veredas por onde
passam os sonhos e esperanças de homens e mulheres que
marcham em busca da libertação de todos os seres. (2002, p.10)
E neste sentido que o Movimento dos Pequenos Agricultores vem construindo com os
educadores/as, educandos/as, militantes de uma educação do campo as veredas da
liberdade não só do letramento e da alfabetização, mas também do senso crítico de
todos os envolvidos neste espaço de formação.
A ousadia dos movimentos sociais do campo, desperta nos indivíduos envolvidos o (re)
descobrir de si mesmo, como se necessitasse buscar mais que o que tem, em termos de
conhecimento, crescimento e desenvolvimento. Nas formações continuada, como nas
salas de aula das turmas de EJA, foram desabrochando poetisas, poetas, repentistas,
cordelistas, atores, atrizes e tantos outros talentos, levando em consideração os saberes
que remete
A essência do homem é conviver com outros ou, com outras
palavras, a construção de conhecimentos em sala de aula é
essencialmente um ato coletivo. É como o tecer de uma rede, em
que todos os conhecimentos presentes dão a sua contribuição em
vista das soluções dos problemas a resolver. (POEL, 2007, p.87)
Desta forma o coletivo, a sala de aula, interagirá conhecimentos, todos aprenderão em
conjunto, porque não existe saberes mais nem iguais, existem saberes diferentes, que
precisam ser compartilhados, discutidos, debatidos, até que se desenvolva um senso
comum entre educandos/as e educadores/as.
E é tecendo esta teia que formaremos competências, relações humanas, diálogos afins,
uma diversidade de construções que poderemos realizar no tecer da vida estimulado a
busca e necessidade de educadores/as a cursar Universidades, a fim de aperfeiçoar os
conhecimentos adquiridos em instrumentos para que possam contribuir nas bases, nas
comunidades, uma vez que as áreas de conhecimento foram ampliadas para novos
horizontes, trilhando caminhos mais árduos, mas com a ousadia da (re) descoberta que
um dia veio aflorar na dinâmica do movimento que está sempre em movimento.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
BOGO, A. O vigor da mística. São Paulo: [s.n], 2002. (caderno de cultura nº 2)
FREIRE, Pedagogia da Autonomia, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
MPA. Caderno Pedagógico. Goiais, 2006.
PICONES, S. C. B. (coord.). A prática de ensino e o Estágio Supervisionado, 8ª ed.
Campinas – São Paulo: Papirus, 2002.
POEL, C. J. V. Der; POEL, M. S. V. Der. Trajetória de uma militância educacional:
do sistema freiriano ao letramento sócio-histórico. João Pessoa: Universitária/UFPB,
2007
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