O Congresso Internacional das escolas católicas realizado na semana
passada teve como tema «Educar Hoje e Amanhã. Uma paixão que
se renova». Os três colégios da Companhia de Jesus de Portugal
também marcaram presença e, deste encontro, saiu reforçada a ideia
transmitida pelo Cardeal Giuseppe Versaldi, prefeito da Congregação
para a Educação Católica: a educação é o “cultivo da pessoa com o
objetivo de a tornar um fruto que enriqueça a sociedade”.
Papa Francisco: "É preciso uma Educação de
Emergência"
Na manhã deste sábado o Papa Francisco reuniu-se com os participantes do Congresso
Internacional das Escolas católicas que hoje termina em Roma. O encontro, bastante informal,
permitiu aos educadores católicos dialogarem com o Santo padre na Sala Paulo VI, no
Vaticano.
Na ocasião o Papa alertou para os “vínculos entre os vários agentes que foi quebrado” e, por
isso, “a educação tem-se vindo a tornar elitista e seletiva. Os que tem certo status social ou
económico tem acesso à escola. Quem não o tem não tem acesso à educação.” O papa
Francisco afirmou sentir-se “envergonhado” porque “esta é uma realidade mundial que deixa
transparecer uma ‘seletividade’ humana que em vez de aproximar os povos os afasta entre
ricos e pobres”.
Para Francisco o “o pacto entre a família e a escola foi quebrado. Deve-se recomeçar. Também
O pacto entre a família e o estado foi quebrado a não ser que estejamos a falar de um estado
com ideologias próprias. De resto foi quebrado”. Para além desta quebra do pacto entre os
diversos atores da educação o Papa afirmou que “também é preciso mudar a situação dos
educadores tão mal pagos hoje! Parece que o estado não tem interesse. Se houvesse a
educação não estaria como está”, completou.
Educar: Arriscar e inovar constantemente
Perante os diferentes desafios que hoje são colocados à educação e que estiveram em análise
neste Congresso Francisco convidou os presentes a olharem para exemplos como o de
“D.Bosco que em tempos de grande agitação maçónica no norte de Itália procurou caminhos
novos”. Para Francisco esta mesma urgência é sentida em muitas partes do Mundo e por isso é
fundamental “uma educação de emergência” capaz de “arriscar uma educação informal
porque a formal empobreceu-se fruto da herança do positivismo”. Para o Papa este
“tecnicismo intelectualista com linguagem apenas da ‘testa’ empobrece o ser humano”
tornando-se urgente “romper com este esquema”, afirmou para mostrar como “a experiência
na arte e no desporto” são “válidas para a educação”.
Educar: Construção de três patamares
Retomando uma ideia já abraçada noutros âmbitos o Papa afirmou aos educadores que para
educar as crianças, adolescentes e jovens é preciso ser mestre na “linguagem da testa, das
mãos e do coração. A educação deve andar com estes três caminhos”, referiu.
Para Francisco é urgente “ensinar a pensar, ajudar a fazer bem e acompanhar o crescimento
interior. É assim uma educação inclusiva porque todos tem um lugar. Inclusiva humanamente”,
reforçou.
O Papa afirmou que “o pacto educativo foi quebrado pelo fenómeno da exclusão” Porque,
disse, nos “tornámo-nos seletivos e deixámos os outros de lado. O mundo não vai para a
frente com uma educação seletiva porque não há um pacto social que a todos incluí”. Deste
modo Francisco reafirmou que o grande “desafio dos educadores é o de trilhar novos
caminhos de educação informal, através da arte e dos desporto e de tantas outras formas”, e
deu o exemplo de “um grande educador Brasileiro que dizia que na Escola formal se devia
evitar um ensinamento de conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, atitudes e
valores. Quando uma escola não é capaz de fazer isto em conjunto esta escola é seletiva e
exclusiva e para poucos.”
Escola Católica: Educar de Portas Abertas
Francisco afirmou que “a situação de um pacto educativo quebrado como o de hoje é grave
por transposta consigo a ideia de selecionar super-homens com o critério da testa. Isto sempre
acontece com o fantasma dos salários injustos que apagam a verdadeira humanidade. Uma
certa e sã informalidade respeitosa ajuda à educação. Porque confunde-se formalidade com
rigidez”.
Neste ponto o Papa voltou à primeira ideia e lembrou “que ser rígido não é humano e se não é
humano não pode entrar Cristo. As portas estão fechadas! O drama das portas fechadas
começa na rigidez. As pessoas, todos nós, as famílias, necessitam de convivência, de diálogo
mas quando o pacto está quebrado e existe rigidez não há diálogo. Eu penso na minha e tu na
tua e assim não há fraternidade.”
Mostrando a experiencia pessoal de tantos estudantes que habitam a cidade de Roma
Francisco afirmou que tem visto, entre estes jovens, “ o sonho da Unidade” e alertou que “o
que hoje estamos a oferecer é no plano da separação e da seletividade e não da comunhão.
Um educador que não saiba arriscar não serve para educar! Um pai e mãe que não sabem
arriscar não educam bem o filho! Arriscar racionalmente. Um passo à frente e outro bem
seguro como quando educas uma criança a andar. O verdadeiro educador deve ser o mestre
do risco, mas risco racional”, afirmou.
Escola Católica: Uma escola aberta aos pobres
Quando questionado sobre o papel das escolas católicas com as novas formas de pobreza e
com o papel da educação católica no diminuir das assimetrias Francisco deu o exemplo do
tempo em que estava na Universidade e a “secretária da faculdade de teologia ia, todos os
dias, para as periferias fazendo o trabalho de uma escola para os pobres! A Secretaria!”.
O Papa lembrou a necessidade de “andarmos na periferia” porque aí “está o rasgo dos
fundadores de tantas congregações e fundações! Eles andaram no caminho com os pobres!”.
Francisco pediu a todos os educadores católicos que “nunca se esqueçam das periferias da
estrada”. Perante uma ideia que pode parecer oposta e que afirma que se deve formar
dirigentes o Francisco afirmou: “Isto é verdade. Devemos! Mas quando andei no Paraguai,
numa escola das periferias realizei um encontro com os jovens pobres, sem o essencial, e eles,
falaram-me sobre alguns temas mais fortes. Na altura falaram dos debates sobre a gravidez na
adolescência. Eu pensei: Como é que estes jovens com tão pouco para comer e com tantas
dificuldades conseguem pensar tão bem e tão claramente. A resposta está no facto de terem
tido um método e um educador que lhes deu as mãos. Nenhum pode ser excluído da
educação.”
Por isso o Papa deixou o primeiro grande desafio para as escolas católicas: “Saiam para as
periferias. Aproximai-vos dos pobres porque eles tem algo a experiência da sobrevivência, da
crueldade, da fome e da injustiça. Tem uma humanidade ferida! Dar de comer é provisório. É o
primeiro passo. O desafio é andar pelas periferias para os fazer crescer em humanidade, em
inteligência, em hábitos, em valores para que possam dar a volta e trazer aos outros
experiências que não conhecem”.
Francisco afirmou que é essencial "reeducar tantas civilizações, devemos reeducar a Europa.
Lembro-me de um diretor de um colégio Jesuíta que afirmava 'quando custa reeducar' a
mentalidade".
No final da sua intervenção convidou, em “jeito de trabalho de casa”, os participantes a
“repensarem as obras de misericórdia em contexto de educação” deixando a questão: “Como
posso eu, em educação, realizar as obras da misericórdia, as obras do amor”.
Portugal presente no Congresso Internacional
A Comissão Episcopal da Educação e Doutrina da Fé está representada por D. António
Moiteiro, bispo de Aveiro, e D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto. Também o orgão
executivo, o SNEC, se faz representar pelo professor Fernando Moita, coordenador
Departamento do Ensino Religioso Escolar (DERE) e Elisa Urbano, coordenadora do setor das
Escolas Católicas no SNEC.
A representar a Associação Portuguesa das Escolas Católicas estão presentes o padre
Querubim Silva, Jorge Cotovio, o padre José Fernandes, o padre Carlos Silva e Isabel Pestana.
In
http://www.educris.com/v2/escolas-catolicas/5435-papa-francisco-e-preciso-umaeducacao-de-emergencia, consultado em 23-11-2015
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Papa Francisco: "É preciso uma Educação de Emergência"