entrevista Diná Azevedo
O que a levou a optar pela Força Aérea? O que
a seduziu ao ponto de decidir apostar numa
carreira militar?
Inicialmente, foi a novidade, o desconhecido,
viver um desafio, influenciada por um professor,
que me disse «vai experimentar». Não foi mais do
que isso. Houve uma fase em que até nem gostei
muito, sou sincera. Era um universo de tal forma
desconhecido que, de início, não me aliciou tanto
quanto eu esperava. O que despertou o meu
interesse foi o estágio de voo. Aí é que tomei a
decisão de ficar. Pensei «isto é, de facto, aquilo
que eu quero fazer». Depois, foi um crescendo de
gosto, ao longo dos anos.
Uma senhora comandante
Entrevista por Paulo Costa Dias, Base Aérea do Montijo
É longa e consistente a relação da Fortis com a Aviação e a Marinha
portuguesas. O lançamento de mais uma edição limitada da marca
suíça permitiu-nos conhecer um pouco melhor o âmbito e as
responsabilidades daquela que será, porventura, a esquadra da Força
Aérea com um maior leque de funções: a Esquadra 502, Elefantes.
A propósito daquele lançamento, falámos com a sua comandante,
uma senhora, a tenente-coronel Diná Azevedo – a primeira mulher
a comandar uma esquadra em Portugal.
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Como é ser mulher num mundo
maioritariamente masculino? Já deve ter
ouvido esta pergunta centenas de vezes,
mas creio que se continua a justificar, porque
continua a não haver assim tantas mulheres
nestas funções, não é?
Sim, exato. É isso o que eu ia dizer. Quando
eu entrei, com 18 anos, era a única, mas o
desbravamento das coisas já tinha sido feito dois
anos antes. As primeiras vivências, na Academia da
Força Aérea, com os meus camaradas de curso,
foram as melhores. Era tratada como uma princesa
(risos), e diria que tive o apoio de todos eles. Acho
que é importante a instituição adaptar-se aos
elementos femininos, mas também é importante
nós permitirmos essa adaptação e adaptarmo-nos,
nós próprias, à situação. Isso é fundamental. No
estrangeiro, quando estive nos AWACS*, também
fui a primeira mulher piloto europeia. Houve duas
americanas, mas, na Europa, fui a primeira, entre
os 15 países que compunham a missão. Tenho tido
sorte, porque o profissionalismo, a competência,
o conhecimento técnico e a maneira de estar em
posições de comando e liderança têm sido os
principais fatores para a minha progressão. Isto
faz com que me sinta muito bem aqui. Não sinto
discriminação, nem positiva nem negativa. É assim
que tenho vivido estes 21 anos perfeitamente
integrada. E eu gosto de trabalhar com homens.
Sente-se a porta-voz de um género?
Sim, acho que sim, até porque já tive algumas
solicitações nesse sentido. Já me convidaram para
falar sobre a importância da mulher na sociedade e
sobre a minha experiência, que tem sido positiva –
tenho sido uma felizarda (risos). Uma vez, levámos
um grupo de jovens numa aeronave, e lembro-me
de uma rapariga, nos seus 14 anos, chegar ao
cockpit, olhar para mim, séria, e dizer-me: «um dia
hei de estar aí, no seu lugar». Mas acho que cada
um de nós, homens e mulheres, vai fazendo isso,
nas suas casas e na sociedade.
Mas tornar-se na primeira comandante de
esquadra da Força Aérea portuguesa ‘tem
que se lhe diga’...
É alguma história que é feita, um caminho que é
percorrido e que há de ficar para a posterioridade.
A forma de pilotar e de comandar aviões e
equipas difere de um género para outro? Ou
varia mais em função da personalidade de
cada um?
Pela personalidade, indubitavelmente. Quanto
à forma de pilotar, não há dúvida nenhuma: nós
somos ensinados, desde o início, a fazer as coisas
como se fossemos uma máquina. Temos de fazer
todas as coisas da mesma maneira, para garantir
a segurança de voo. É sempre ‘by the book’, em
todos os procedimentos técnicos e operacionais.
Há coisas que podem diferenciar os pilotos, coisas
que têm que ver com técnicas individuais, mas que
são pormenores relativos a cada voo ou a cada
missão. Quanto a comandar equipas, é mais a
personalidade de cada um que define a maneira
de o fazer, embora as mulheres talvez exerçam
a liderança de forma ligeiramente diferente dos
homens. Não é melhor nem é pior, mas exploram
algumas capacidades, algumas caraterísticas
diferentes – e o contrário também acontece.
Não há espaço para lideranças maternais
aqui, pois não?
Não, não (risos)! Eu gosto da comunicação, e isso
tem a ver com a minha personalidade. Gosto do
discurso direto, realista, e essa caraterística minha
passa para a forma de comunicar nas situações de
comando e liderança, naturalmente.
Qual a importância das missões no palco
internacional para Portugal em termos
diplomáticos, de prontidão e aptidão militar e
tecnológica, e de formação dos quadros?
Para nós, são extremamente importantes. A nossa
experiência maior fora do País, além das missões
de um dia, foi uma de seis meses em contexto de
vigilância marítima e controlo de emigração ilegal,
na Grécia, em Itália e em Espanha. Estávamos no
início desta capacidade, a de vigilância marítima,
e isso permitiu-nos treinar as tripulações fora do
ambiente de conforto, o que nos garante um treino
mais efetivo neste tipo de missão. Preparar todas
as questões técnicas e logísticas para garantir que
a missão é cumprida fora da unidade-base, dá-nos
um treino e uma experiência muito completos. No
que respeita ao reconhecimento no exterior, deixar
Portugal bem visto também foi muito importante.
A União Europeia pediu-nos apoio, simplesmente
porque tinha conhecimento das capacidades do
avião, e nós, em dois dias, preparámos a aeronave
e a tripulação para iniciar um destacamento longo.
Começámos a fazer as missões ao terceiro dia.
A nossa prestação ia sendo avaliada, o que fez
com que eles fossem alongando no tempo a
nossa participação e acabassem por mostrar esse
reconhecimento de diversas formas. Penso que é
importante para o País.
Em que medida é que a precisão,
incontornável na sua profissão, é
determinante para si ‘cá fora’?
Consciente ou inconscientemente, o treino
que temos aqui na FA, condiciona, afeta e está
constantemente presente na minha vida. Esse
treino formata-nos, e, portanto, por mais que
me descontraia na vida pessoal, a precisão está
sempre presente. Mas dependerá de cada pessoa,
de cada personalidade.
Este modelo Fortis que homenageia a sua
esquadra é um modelo masculino. Já usava
relógios masculinos ou deixou-se seduzir
agora?
Já, já usei. Tenho modelos masculinos e femininos,
e, agora, até já vai havendo a moda de as senhoras
usarem relógios masculinos. Eu acho que sim, que
me fica bem e que ficará bem a outras mulheres,
dependendo do pulso de cada uma, da sua
disposição, de cada pessoa.
O que a seduz neste modelo específico?
É bonito, discreto, harmonioso. Não é nenhum
aspeto em especial que me seduz, mas sim o seu
conjunto, que acho equilibrado. Pelo menos no
meu pulso… (risos).
* O AWACS (Airborne
Warning and Control
System) é um sistema de
vigilância aérea eletrónica
com radares instalados
em aeronaves, que tem
uma finalidade tática e
de defesa militar.
entrevista Diná Azevedo
Personalizado nas 6h com um
elefante, símbolo retirado do
patch da Esquadra; ponteiro dos
segundos em amarelo, evocativo
da cor da Esquadra; silhueta de um
avião C-295 nas 12h, atual aeronave
operada pela Esquadra.
Na lateral o nome do proprietário
da peça ladeada por duas cruzes
de Cristo.
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Fortis B-42 Automatic Elefantes
Referência: 647.10.11ESQ.502
Edição 2011 oficial, limitada a 150 exemplares com estojo especial de viagem
com o patch da Esquadra em cauchu.
Movimento: Mecânico de corda automática, calibre 2836-2.
Funções: Horas, minutos, segundos, dia da semana e mês.
Caixa: Aço, vidro de safira com tratamento antirreflexos, luneta unidireccional,
fundo em vidro personalizado com a gravação do nome das aeronaves
operadas pela Esquadra Elefantes, coroa com o logótipo FORTIS , estanque
até 200 metros.
Dimensões: Ø 40mm
Bracelete: Pele com pesponto branco e fecho de báscula em aço.
Preço: € 1.290
A Espiral do Tempo esteve presente
na apresentação do relógio Fortis
B-42 Automatic Elefantes onde o
primeiro exemplar foi entregue à
comandante Diná Azevedo.
Para além da carga simbólica e
comemorativa o Fortis B-42 é um
instrumento de trabalho habituado
a ‘altos voos’.
‘Doninha’ é um dos nomes que ficará para sempre ligado a esta
edição, afinal foi o Capitão Luís Marques Cóias o agente de
ligação entre a esquadra e o importador da Fortis para Portugal,
a Torres Distribuição. Muitos foram os presentes no dia da
apresentação. Entre antigos e atuais membros e suas famílias o
ambiente foi festivo tendo começado cedo e terminado com o
magnífico jantar, servido na Casa Branca, na BA 6.
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Uma senhora comandante