EFEITO DO PH SOBRE A ECLOSÃO E NORMALIDADE LARVAL DE
CURIMBA, PROCHILODUS LINEATUS
Giovano Neumann1; Eduardo Antônio Sanches2; César Pereira Rebechi de Toledo1,
Robie Allan Bombardelli3
e-mail: [email protected]
1
Acadêmicos do curso de Engenharia de Pesca da UNIOESTE – Toledo PR..
Doutorando em Aqüicultura. Centro de Aqüicultura da UNESP – Jaboticabal – SP.
3
Professor adjunto da UNIOESTE – Toledo PR.
2
Palavras-chave: água ácida, água alcalina, larvas, qualidade da água, reprodução de
peixes
Resumo: O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o efeito do pH
da água sobre a taxa de eclosão, o tempo de eclosão e o percentual de larvas normais
de curimba, Prochilodus lineatus. Foi utilizado um delineamento experimental
inteiramente casualizado, composto por cinco tratamentos e quatro repetições. Os
tratamentos foram compostos por cinco diferentes valores de pH da água (4,43±0,26;
5,82±0,28; 7,37±0,20; 8,21±0,11 e 9,57±0,32) utilizada na fertilização e incubação
de ovos e larvas de curimba. Foi considerado como uma unidade experimental uma
incubadora experimental de 2,5L contendo 2.506 ovócitos. Os resultados de taxa de
eclosão, tempo de eclosão e percentual de larvas normais foram submetidos à análise
de variância e posteriormente submetidos ao teste de comparação de médias de
Tukey ao nível de 5% de significância. Observou-se efeito (P<0,05) do pH sobre os
variáveis avaliadas. A maior (P<0,05) taxa de eclosão (13,03±3,49 %) foi observada
no pH 7,37±0,20. O tempo de eclosão foi maior em pH 7,37±0,20 e 4,43±0,26 com
770,00±0,00 e 707,39±55,40 horas-grau, respectivamente. O percentual de larvas
normais foi maior nas águas contendo os valores de pH de 8,21±0,11 e 9,57±0,32,
com 68,11±11,03 e 75,97±18,05%, respectivamente. Conclui-se que água com pH
próximo ao neutro proporciona maior taxa de eclosão e é indicada na fertilização e
incubação de ovos de curimba, Prochilodus lineatus.
Introdução
O curimba, Prochilodus lineatus, é um espécie amplamente distribuída nas bacias
dos rios Paraná-Paraguai, e pertence à ordem Characiforme e família
Prochilodontidae (Nakatani et al., 2001).
É um espécie reofílica, ou seja, necessita migrar rio acima para reproduzir.
Quando em cativeiro, ela não completa o ciclo reprodutivo, havendo a necessidade
de manipulação hormonal para que ocorra a desova. Esta pode ser pelos métodos
semi-natural e artificial, conhecido como método a seco, que consiste na coleta dos
gametas por extrusão manual, mistura dos gametas e ativação com água
(Woynorovich & Horváth, 1983). Durante este procedimento, os gametas ficam
vulneráveis à contaminação pelo ar e pela água, podendo proporcionar baixas taxas
de fertilização (Hilbig et al., 2008).
O pH da água é um parâmetro que mede seu potencial hidrogeniônico, e
apresenta escala variando de 1 a 12, quando seu valor é 7 é considerado água neutra,
acima deste valor, básica e abaixo, ácida. Apresenta grande importância no
desenvolvimento da aqüicultura, em que a faixa entre 6 a 9 é considerada como faixa
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de limite para a maioria das espécies e, quando os valores são extremos, podem
causar estresse e mortalidade de organismos aquáticos (Oba et al., 2009). Alguns
trabalhos relatam uma grande vulnerabilidade de ovos e larvas quando submetidos à
água contendo diferentes valores de pH (Ferreira et al., 2001, Zaniboni Filho et al.,
2008), diante disso o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito do pH sobre a
taxa e tempo de eclosão e sobre o percentual de larvas normais de curimba,
Prochilodus lineatus.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Tecnologia da Reprodução de
Animais Aquáticos Cultiváveis (LATRAAC) da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE), instalado no Centro de Pesquisa em Aqüicultura Ambiental
(CPAA), Toledo, Paraná, Brasil.
Foram utilizados gametas provenientes de 14 reprodutores de curimba,
Prochilodus lineatus, sendo sete machos (510,0±101,1g) e sete fêmeas
(656,8±26,9g) induzidos hormonalmente com extrato pituitário de carpa (EPC) com
duas doses, a primeira com 0,5 mg de EPC.kg-1 e a segunda, 12 horas após, com 5,0
mg de EPC.kg-1.
A coleta do sêmen foi realizada após 160 horas-grau após indução hormonal.
De cada exemplar foi coletado 1,6±1,1mL em seringas plásticas descartáveis. O
sêmen obtido de todos os reprodutores foi misturado, originando um “pool” de
sêmen utilizado na fertilização dos ovócitos com a dose inseminante de 1.129.987
espermatozóides.ovócito-1.
Os ovócitos foram coletados em placas de Petry e aqueles que apresentaram
melhor qualidade aparente foram utilizados para realização de um “pool” de ovócitos
destinados aos ensaios.
Foi utilizado um delineamento experimental inteiramente casualizado,
composto por cinco tratamentos e quatro réplicas. Os tratamentos foram compostos
pela água empregada na fertilização de ovócitos e incubação de ovos e larvas
contendo os valores de pH de 4,43±0,26; 5,82±0,28; 7,37±0,20; 8,21±0,11 e
9,57±0,32. Foi considerado com uma unidade experimental uma incubadora
experimental (2,5L de volume útil), contendo 2,0 mL de ovócitos (2.506 ovócitos). O
efeito do pH foi verificado através da taxa de eclosão, tempo de eclosão e percentual
de larvas normais. O pH da água foi mensurado com pH-metro de mesa, e os valores
ajustados por meio de adição de solução de HCl e NaOH.
Os resultados foram submetidos à analise de variância e posteriormente
aplicado o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de 5% de significância.
O software utilizado foi o Statística 7.0.
Resultados e Discussão
A água utilizada para a fertilização e incubação continha os valores de oxigênio
dissolvido, condutividade elétrica e temperatura média de 4,17±0,61 mg.L-1,
0,13±0,04 mS.cm-1 e 25,60±1,15oC, respectivamente.
Observou-se efeito do pH sobre a taxa de eclosão (P<0,05), com o maior
valor (13,03±3,49%) para a água contendo 7,37±0,20 de pH (Figura 1). Para o tempo
de eclosão, observou maior tempo (P<0,05) de 770,00±0,00 horas-grau para ovos
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incubados em água contendo 5,82±0,28 de pH e o menor de 503,33±0,00 horas-grau
para o pH de e 9,57±0,32 (Figura 2).
Para água contendo 4,43±0,26 de pH não houve eclosão de larvas, sugerindo
grande toxidade desta água para os ovos de curimba. Resultado semelhante foi
observado por Ferreira et al. (2001) para ovos de jundiá (Rhamdia quelen), com
mortalidade total em pH 4 e em várias temperaturas, além disso, observaram que em
pH 5 todas as larvas morreram logo após eclosão.
Ao longo da incubação, observou-se que ovos expostos em água com pH
ácido hidrataram menos do que os outros apresentando córium reduzido, já em pH
básico, os ovos encontrava-se mais hidratados com córium grande e muito frágil.
Possivelmente, este fato proporcionou o comportamento dos resultados do tempo de
eclosão (Figura 2).
Ferreira et al. (2001), observaram efeito do pH em ovos e larvas de jundiá
(Rhamdia quelen), onde, o pH 6 e 7 proporcionaram menores taxas de fertilização
em relação aos tratamentos contendo 5, 8 e 9 para água contendo temperatura de
27,5oC. Estes autores também observaram nestas condições térmicas, que a eclosão
dos ovos em pH alcalino ocorre antes que o pH ácido.
Para a percentual de larvas normais, observou-se efeito do pH (P<0,05), com
maiores valores de 68,35±11,02 e 75,97±18,04% para pH 8,21±0,11 e 9,57±0,32,
respectivamente (Figura 3). Estes valores indicam que a quantidade de larvas
normais em pH alcalino é maior, muito embora, com sobrevivência baixa. Este fato
indica que as larvas que permaneceram vivas em pH alcalino possivelmente eram
mais resistentes do que as larvas que iniciavam o desenvolvimento tortas e com
anormalidades. Assim, os embriões anormais, não resistiram ao pH alcalino e
acabaram morrendo antes da eclosão.
Mais estudos, acompanhando o desenvolvimento inicial até a forma de
juvenil e/ou adulta, são necessários para verificar até que ponto as larvas que
sofreram modificação morfológica devido o pH da água, serão viáveis para o cultivo.
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TECLO: F(4;14) = 19,1888; p = 0,00001
16
a
14
Media
Erro Padrão
Taxa de eclosão (%)
12
10
8
6
b
b
4
2
0
b
b
-2
4,43±0,26
5,82±0,28
7,37±0,20
8,21±0,11
9,57±0,32
pH
Figura 1. Taxa de eclosão de ovos de curimba, Prochilodus lineatus, expostos a
diferentes pH na água utilizada na fertilização e incubação.
F(3;9) = 23,2111; p = 0,0001
800
780
a
Media
760
740
Erro Padrão
a
Tempo de eclosão (h o)
720
700
680
660
640
b
620
600
580
560
540
b
520
500
5,82±0,28
7,37±0,20
8,21±0,11
9,57±0,32
pH
Figura 2. Tempo de eclosão de ovos de curimba, Prochilodus lineatus, expostos a
diferentes pH na água utilizada na fertilização e incubação.
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F(3;11) = 23,2689; p = 0,00005
90
a
80
a
Larvas Normais (%)
70
60
50
Media
40
Erro Padrão
b
30
b
20
10
5,82±0,28
7,37±0,20
8,21±0,11
9,57±0,32
PH
Figura 3. Percentual de larvas normais de curimba, Prochilodus lineatus, após
exposição de ovos a diferentes pH na água de fertilização e incubação.
Conclusão
Água com pH próximo a 7 proporciona maior taxa de eclosão e é indicada na
fertilização e incubação de ovos de curimba, Prochilodus lineatus.
Referências
A. A. Ferreira, A. P. O. Nuñer, J. R, Esquivel. Influência do pH sobre ovos e
larvas de jundiá, Rhamdia quelen (Osteichtyes, Siluriformes). Acta Scientiarum
2001, 20, 2, 477.
C.C. Hilbig, R.A. Bombardelli, E.A. Sanches, J.D. Oliveira, D.M. Baggio, B.E.
Souza Efeito do chumbo sobre a fertilização artificial e incubação de ovos de
jundiá cinza (Rhamdia quelen). Acta Scientiarum, Animal Sciences 2008, 30, 217.
K. Nakatani, A. A. Agostinho, G. Baumgartner, A. Bialetzki, P. V. Sanches, M. C.
Makrakis, C. S. Pavanelli, Ovos e Larvas de Peixes de Água Doce. Maringá, 2001.
378p.
E. T. Oba, W. S. Mariano, L. R. B. Santos. Estresse em peixes cultivados:
agravantes e atenuantes para o manejo rentável. In.: M. Tavares-Dias (Org.)
Manejo e Sanidade de Peixes em Cultivo, Emprapa, Amapá, 2009.
E. Woynarovich, L. Horvath, Propagação artificial de peixes de águas tropicais:
manual de extensão. Trad. Vera Lucia Mixtra Chama. Brasília: Escopo. 1983.
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Tradução de “The Artificial Propagation of Warm -Water Finfishes - A Manual for
Extension”.
E. Zaniboni-Filho, A. P. O. Nuñer, R. A. Reynalte-Tataje, R. L. Serafini Water pH
and Prochilodus lineatus larvae survival Fish Physiol Biochem 2009, 35, 151.
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