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Álcool e direção
Biologia, Química, Física, leis e comportamento:
uma análise abrangente.
Publicado em 04/06/2009
Por César Munhoz
Comentários de:
- Alessandro Haus, químico do portal
- Alexandre Loureiro, biólogo do portal
- Jairo Bouer, médico e especialista em comportamento jovem do portal
- Jomar Alves Moreno, presidente da Comissão de Direitos Humanos da
OAB/DF
- Sandro Ferreira, físico do portal
A regra é clara: álcool e direção não têm espaço no mesmo jogo. O fato é que, mesmo que
todo mundo saiba disso, os acidentes de trânsito causados por pessoas embriagadas
continuam acontecendo. De acordo com o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de
Trânsito (RENAEST), do Ministério das Cidades, esse tipo de ocorrência vem crescendo
principalmente entre os jovens. Os noticiários confirmam esse dado: todo dia, há uma
manchete trágica sobre alguém voltando de uma festa que não conseguiu chegar em casa.
Está mais do que provado que o consumo de álcool, por mais que a quantidade ingerida seja
insignificante, compromete os reflexos de uma pessoa a ponto de deixá-la incapacitada para
dirigir. Entenda melhor como isso acontece observando os infográficos abaixo.
Os conceitos de espaço de frenagem e colisão frontal
Espaço de frenagem
Quanto maior a velocidade de um veículo maior será o espaço de frenagem, ou
seja, a distância que ele ainda percorrerá com os freios acionados. Há também um
pequeno intervalo de tempo — mas não desprezível — entre o momento em que o
motorista percebe um obstáculo e o momento em que ele pisa no freio: é o
chamado tempo de reação, que, normalmente, fica em torno de 1 segundo. Caso o
motorista esteja embriagado, esse tempo pode se estender para 2 segundos.
Em uma situação ideal, em que os pneus e o asfalto são novos, de boa qualidade,
estão secos e quando não ocorre o travamento das rodas, o espaço de frenagem
varia de acordo com a velocidade do veículo. Observe o gráfico:
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Ele representa o espaço de frenagem e o espaço percorrido durante o tempo de
reação. Observe que a relação entre o espaço de frenagem e a velocidade não é
linear. Por exemplo, se o veículo estiver trafegando a 54 km/h, o espaço de
frenagem é de 25 metros, se for o dobro da velocidade (a 108 km/h), o espaço
necessário aumenta para 100 metros, ou seja, amplia-se quatro vezes.
Velocidade
(km/h)
Deslocamento
durante o
tempo de
reação
Deslocamento
durante a
frenagem
Deslocamento
total
(motorista
sóbrio)
Deslocamento
total
(motorista
embriagado)
54
15
25
40
65
72
20
44,4
64,4
84,4
90
25
69,4
94,4
119,4
108
30
100
130
160
190
52,8
309
361,8
414,6
Colisão frontal
A colisão frontal de um veículo com um obstáculo rígido, como uma parede, por
exemplo, pode ser comparada com o impacto provocado por uma queda livre.
Bater um carro a 100 km/h equivale a cair do décimo terceiro andar de um prédio.
Imagem: Coalha/Positivo Informática
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Por Sandro Ferreira, físico do portal..
O álcool no corpo humano
O caminho que o álcool percorre no corpo
I. Ao passar pela boca, pelo esôfago e pelo estômago, cerca de 25% do etanol já é
absorvido pela mucosa desses órgãos e cai na corrente sanguínea.
II. Ao chegar ao intestino, os 75% restantes de etanol são ativamente absorvidos
pelas vilosidades do intestino delgado e passam para o sangue.
III. Nos 60 minutos seguintes, o etanol passeia pela corrente sanguínea e invade
os principais órgãos do corpo, como cérebro, fígado, coração e rins.
IV. Se a pessoa tomar apenas uma dose, 90% do etanol ingerido será
metabolizado no fígado, onde é transformado em moléculas menores para ser
eliminado. Isso nada mais é do que um processo de desintoxicação do
organismo.
Em cada órgão, um efeito diferente
Não é apenas o fígado que fica sobrecarregado com a ingestão de álcool. Veja
outros estragos que a bebida causa.
ESTÔMAGO
O excesso de etanol irrita a mucosa gástrica, dificulta a digestão e provoca enjoos
e vômitos, que nada mais são do que mecanismos de defesa do corpo contra a
ação agressiva do álcool.
RINS
Quem bebe urina mais, isso é fato. Mas o aumento de urina não é causado pelo
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consumo de uma quantidade maior de líquido, mas, sim, pelo fato de o etanol
inibir a ação do hormônio antidiurético produzido na glândula hipófise, que se
localiza no cérebro. Esse hormônio atua aumentando a reabsorção de líquido pelos
rins e, com sua inibição, mais urina é formada. Por isso, quem ingere álcool fica,
na verdade, desidratado.
CORAÇÃO
Com o aumento do volume de urina, o corpo elimina minerais importantes como
magnésio e potássio, que atuam na regulação dos batimentos cardíacos. Durante e
após uma bebedeira, ocorre uma aceleração da frequência cardíaca, por causa da
perda desses minerais.
CÉREBRO
É nesse órgão que o álcool produz seus efeitos mais nocivos. Assim que atinge os
neurônios, o etanol inibe o neurotransmissor dopamina e estimula o
neurotransmissor serotonina. O resultado disso é uma sensação inicial de
desinibição e euforia.
Se a ingestão de álcool continuar, o etanol inibe o neurotransmissor glutamato,
elevando os níveis do neurotransmissor chamado GABA, que faz com que os
neurônios trabalhem menos, deixando a pessoa sonolenta, com reflexos lentos e
sem coordenação.
Por Alexandre Loureiro, biólogo do portal
A molécula de etanol
O etanol (C2H6O), também chamado de álcool etílico, é uma substância incolor,
inflamável, de odor bem característico e solúvel em água, apresentando ponto de
fusão -114,1°C e ponto de ebulição 78,5°C.
O metabolismo do álcool etílico consiste basicamente na sua oxidação, passando
por aldeído acético (C2H4O) e, em seguida, ácido acético (C2H4O2), até formar gás
carbônico (CO2) e água (H2O).
Veja a reação:
Imagem: Luís Felipe dos Santos / Positivo Informática
Por Alessandro Haus, químico do portal
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O funcionamento do bafômetro portátil
Imagem: Comunicação Social BPTran Paraná
Os bafômetros portáteis contêm pequenos tubos nos quais há uma mistura aquosa
de dicromato de potássio, ácido sulfúrico e sílica. Para detectar se a pessoa está
embriagada ou não, ocorre uma reação de oxidação de álcool a aldeído e uma
reação de redução do dicromato (Cr2O7) a cromo III (Cr+3) ou ainda a cromo II
(Cr+2). Por exemplo, ingerindo-se uma taça de vinho (100 ml) ou um copo de
cerveja (200 ml), já se ultrapassa a dosagem máxima permitida pela nova lei de
trânsito brasileira, que é de 0,2 g de álcool por litro de sangue. Veja as equações
abaixo, que representam a reação química do bafômetro portátil.
Imagem: Luís Felipe dos Santos / Positivo Informática
Por Alessandro Haus, químico do portal
Se conscientização não basta, recorre-se à lei, que, no Brasil, estipula punições exemplares
para quem dirige sob efeito do álcool. Desde 20 de julho de 2008, a Lei 11.705 proíbe o
consumo de qualquer quantidade de bebida alcoólica por quem estiver com as chaves na
mão. Quem for pego com 0,2 grama ou mais de álcool por litro de sangue terá de pagar uma
multa de mais de 900 reais, terá o carro apreendido e perderá a carteira. Se o bafômetro
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acusar mais de 0,6 grama de álcool por litro de sangue, o motorista poderá ser preso. Saiba
mais sobre o assunto, nesta entrevista que o portal fez com o advogado Jomar Alves Moreno,
da Ordem dos Advogados do Brasil.
5 PERGUNTAS PARA Jomar Moreno, presidente da Comissão de Direitos
Humanos da OAB/DF
Em que situações o motorista pode recusar o exame do bafômetro, quando
abordado em uma blitz?
A partir do momento que o motorista tiver ingerido uma quantidade qualquer de
álcool, já estará praticando um ato ilegal. Se ele for parado em uma blitz da Polícia
Militar ou do Detran e se negar a fazer o exame do bafômetro, a autoridade pode
encaminhá-lo para a delegacia mais próxima. De lá, ele será encaminhado ao IML,
para fazer o exame de dosagem de álcool no sangue. Ele pode se negar a fazer o
bafômetro, pois ninguém é obrigado a fazer prova contra si próprio.
Qual é o procedimento correto a ser tomado quando o motorista é
encontrado insconsciente?
A autoridade policial tem do seu lado a "fé pública": em tese, o que a autoridade
policial fala é verdade, até que se prove o contrário. Então, se a autoridade policial
pegar o motorista caindo de bêbado ou inconsciente, não precisa fazer nenhum
exame. A própria palavra da autoridade já vale, e então esse cidadão é preso em
flagrante.
Quais as possíveis penas para o motorista em caso de acidente?
Se o motorista ingerir bebida alcoólica e se envolver em um acidente de trânsito, e
se nesse acidente houver vítimas, em especial vítimas fatais, as autoridades
policiais e os juízes já consideram isso hoje como sendo um crime doloso, o que
quer dizer que a pessoa assumiu o risco de tirar a vida de um terceiro. Pode pegar
até 12 anos de cadeia. Antes, esses crimes eram considerados culposos, para os
quais a pena varia de 2 a 4 anos, e dificilmente alguém era preso. Mas hoje, já se
considera esse crime como sendo doloso.
Como você avalia o impacto nas mudanças trazidas com a Lei 11.705?
Tem funcionado muito bem. O que não pode é diminuir a fiscalização. Diminuiu
substancialmente o número de vítimas em acidentes de trânsito, em especial
vítimas fatais. Então, a Polícia Militar e o Detran não podem relaxar na fiscalização.
Antes, era muito liberal a lei. O cara poderia estar dirigindo sob o efeito de bebida
alcoólica que nada aconteceria a ele. Hoje, não. O cidadão pode ser preso em
flagrante, vai ter a carteira cassada, vai pagar uma multa de quase mil reais. É
importante ter uma multa bem salgada como essa.
De que mais o Brasil precisa para frear o aumento de acidentes de trânsito
ligados ao abuso de álcool?
A OAB recomenda às autoridades policiais que continuem com a política de
fiscalização ostensiva, objetiva, constante. Quanto mais fiscalização, menos
vítimas fatais.
Que álcool e direção não combinam, todos nós sabemos. Que, em nosso País, há leis severas
para punir quem tenta aliar os dois, também já sabemos. Mas por que tudo isso não é
suficiente para que os acidentes diminuam? As estatísticas apontam que boa parte das
ocorrências de trânsito envolvendo pessoas alcoolizadas acontece no final de semana. A
galera vai para a balada, bebe todas e sai dirigindo, e o resto a gente já sabe. Para nos
ajudar a entender um pouco sobre o que leva a esse comportamento, chamamos o médico
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Jairo Bouer. Veja o que ele nos disse.
4 PERGUNTAS PARA Jairo Bouer, médico e especialista em comportamento
jovem do portal
1) Por que é tão difícil resistir ao primeiro copo de bebida alcoólica
quando se está na balada?
Por vários motivos: o clima da balada, a ideia equivocada de que para se divertir
deve-se beber, a pressão dos amigos, a vontade de “impressionar” as pessoas, o
desejo de ficar mais alegre e desinibido, entre outros.
De onde vem o desejo de “beber até cair”, tão comum entre os jovens?
É a ideia de que o bacana não é beber apenas um pouco e, sim, muito. Não
adianta só ficar alegrinho e desinibido, mas aproveitar a oportunidade para encher
a cara. Esse padrão de consumo de bebida felizmente não é seguido pela maioria
dos jovens. É bom lembrar que ele tem uma relação direta com o aumento dos
riscos que o jovem corre por causa da bebida.
3) Por que o álcool aumenta a autoconfiança?
Porque ele atua em centros do sistema nervoso central que atuam sobre nossa
capacidade de avaliar situações e fazer julgamentos. É como se eu me sentisse
mais forte, poderoso e confiante do que realmente sou. Assim, acho que posso
guiar meu carro mesmo depois de beber, chego mais facilmente nas pessoas, fico
mais ousado, entre outros comportamentos.
4) Beber é sinônimo de status entre os jovens. O que explica isso?
Questões culturais, exemplos vistos dentro de casa, desejo de ser aceito e
participar do grupo de amigos, força e pressão das campanhas publicitárias de
bebida e a moda de beber são alguns deles.
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