sexta, 13 de maio de 2011
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São muitas as queixas de quem trabalha na zona da Mata, em Mansores
Problemas em dose industrial
Texto e fotos: João Miguel Ribeiro
Os empresários a laborar na Zona Industrial da Mata, na freguesia de Mansores,
têm apresentado constantemente reclamações junto das mais diversas entidades
responsáveis. As principais foram levadas
pelo presidente da Junta de Freguesia à
última Assembleia Municipal, mesmo as
que ultrapassam as competências diretas
da Câmara de Arouca. Em causa estão, sobretudo, a elevada frequência de assaltos,
a falta de limpeza, a inexistência da rede
de saneamento e os cortes de eletricidade.
Marques Sousa, da Metalocaima, é um
dos poucos industriais que não se importa
de dar voz ao protesto. A principal queixa
incide nos cortes habituais e prolongados
na rede elétrica, pelo prejuízo que causam
no ritmo produtivo: “os cortes de energia
elétrica são frequentes e com alguma assiduidade. Seria compreensível quando há
intempéries, mas verificam-se muitas vezes em períodos de bom tempo. Por vezes,
durante o dia há vários cortes sucessivos”.
“Isso interfere no ciclo produtivo das empresas e provoca avarias nas máquinas, que
estão equipadas com tecnologia de ponta a
nível de eletrónica. Nesse aspeto, interfere na rentabilidade duma empresa. Mesmo
durante a noite ocorrem esses cortes, pois
o sistema informático faz esse registo e
obriga-nos logo ao início da manhã a fazer
a reprogramação de todo o equipamento”,
complementa.
Um outro industrial, que preferiu não publicitar o nome, afirma haver “um problema da estabilidade de corrente aqui na
Zona Industrial e em toda a freguesia de
Mansores”, dado haver “muitos cortes”
e “picos de energia que fazem muito mal
às máquinas e aos equipamentos eletrónicos mais sensíveis”. Segundo o mesmo, a
REN cumpre “a taxa de serviços mínimos
e cumprindo com essa taxa não quer saber” das outras situações.
Tudo se baseia, acredita Marques Sousa,
na falta de manutenção por parte da REN:
“tem havido uma redução muito drásticas
de pessoas nessas empresas, que subcontratam para fazer a manutenção, mas por
experiência dum caso particular sei que
nessas empresas há pessoas com muito
Cortes de energia e picos de corrente perturbam o funcionamento das indústrias em Mansores
pouca prática e experiência profissional
para desempenhar essa tarefa. A energia
elétrica é como qualquer máquina, sem
manutenção estão sistematicamente a avariar”.
Chamem a polícia… Ou não
Quase tão frequentes como os incidentes
na rede elétrica são os assaltos. Está quase
a fazer um ano que a Metalocaima foi assaltada, em julho. “Não sei precisar o dia.
Foi pouco depois de eu ter abandonado as
instalações, não sei se me controlaram a
saída”, recorda Marques Sousa. A empresa apresentou queixa na GNR de Arouca:
“não tivemos resposta, disseram que não
conseguiram identificar os assaltantes e foi
arquivado”.
Falta de limpeza dos lotes agrava risco de incêndio
“Toda a gente já foi assaltada”, afiança o
outro industrial, responsável por uma empresa que recorre a segurança privada: “temos uma pessoa paga à nossa conta, mas
não tem autoridade. É uma pessoa a quem
nós pagamos para dar aqui uma ronda, é
como ter um alarme ou um cão. Não tem
autonomia para reagir, quanto muito pode
pegar no telefone e ligar à GNR”.
“A Polícia Judiciária está a fazer uma investigação sobre os assaltos, a ponderar se
há alguma ligação a supostas empresas de
segurança. A nível da GNR, vêm aqui e tomam conta da ocorrência, mas fica sempre
tudo na mesma, não apanham as pessoas.
Só se for um caso muito grave é que há
investigação criminal”, reforça.
Reclamações vão para o lixo
No rol das queixas segue-se a falta de limpeza, um dos tópicos em que a Junta de
Freguesia e as empresas solicitam a intervenção camarária. “A limpeza ou a falta
dela está à vista de quem nos visita. Existem aqui 11 ou 12 empresas, algumas delas
a trabalhar para o mercado externo, e este
é o pior cartão de visita que temos para
apresentar aos clientes: ruas por limpar,
arruamentos degradados e falta de contentores”, descreve Marques de Sousa.
O administrador da Metalocaima sugere
que os contentores situados à entrada da
zona industrial, “utilizados pela população
que passa na estrada nacional”, sejam distribuídos no interior da zona, “até para uso
dos próprios colaboradores”.
As empresas são ainda obrigadas a abrir
fossas sépticas, visto não existir rede de
saneamento. “Já falei com a Junta e responderam-me que até 2013 era capaz de se
concretizar. Na atual situação económica
do País não acredito nessa viabilidade”,
lamenta Marques Sousa.
Zona da Mata e Zona da Mata
Os industriais da freguesia de Mansores
são ainda unânimes em acusar a Câmara
Municipal de perturbar o normal funcionamento das empresas ao permitir que no
mesmo concelho haja duas zonas industriais com o mesmo nome. O empresário
que não se quis identificar recorda que a
origem do problema esteve na criação dum
polo encostado à Zona Industrial de S. Domingos, polo esse que recebeu o nome do
lugar, Mata.
“Há uma zona com dois nomes, um dado
pelo Armando Zola e outro pelo Artur Neves, não sei se a intenção era ser uma zona
industrial de cada presidente de câmara.
Na altura, isso foi logo criticado. Quando
os industriais começaram a fazer a construção [em Arouca] não queriam saber se
era S. Domingos ou se era Mata de Arouca. Não sei formalmente como está, mas
continua a haver duas zonas com o mesmo
nome, a Zona Industrial da Mata em Arouca e a Zona Industrial da Mata em Mansores. É quase como ter dois filhos com o
mesmo nome, não tem lógica”, protesta.
A situação agrava-se quando clientes e fornecedores têm de se deslocar a uma empresa em Mansores. “Ficam desorientados
e muitas vezes temos de enviar um colaborador para os localizar e trazê-los até às
nossas instalações”, lamenta Marques de
Sousa.
O outro empresário acrescenta que o circuito normal de um camionista, vindo de
S. João da Madeira ou de Vale de Cambra,
é rumo à vila de Arouca, onde, ao perguntar pela Zona Industrial da Mata, o mandam para S. Domingos. “Lá dizem-lhe que
é em Mansores e o camionista tem de fazer
mais meia hora de viagem”, explica.
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