ANÁLISE-Indústria de biodiesel se diz pronta para alta na
mistura; ajuda Petrobras
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Por Fabíola Gomes e Roberto Samora
SÃO PAULO, 5 Nov (Reuters) - A discussão do aumento da
mistura de biodiesel no diesel em 2014 ganhou força dentro do
governo, enquanto a indústria do setor diz ser capaz de atender
tranquilamente uma eventual nova demanda, tanto do ponto de
vista da oferta de matéria-prima quanto da capacidade industrial
instalada.
O aumento da mistura, que sairia dos atuais 5 por cento de
biodiesel no diesel (B5) para 7 por cento (B7) no próximo ano,
ainda reduziria a necessidade de importações do combustível pela
Petrobras, cujos resultados vêm sendo afetados por compras do
combustível no exterior a valores mais altos que os de venda no
mercado interno.
Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison
Lobão, afirmou que o aumento da mistura está sendo avaliado
pelo Palácio do Planalto, sem dar detalhes.
"A nossa perspectiva é que já em janeiro poderia ter um aumento
de mistura, as condições são atendidas tanto do ponto de vista de
matéria-prima quanto de capacidade industrial", afirmou o
assessor econômico da Associação Brasileira das Indústrias de
Óleos Vegetais (Abiove), Leonardo Zilio.
A estimativa de consumo de biodiesel no Brasil este ano, com o
B5, é de 3 bilhões de litros. Com o B7, poderia chegar a 4,2
bilhões de litros em 2014, já considerando a maior demanda pelo
biocombustível e um crescimento do consumo de diesel, segundo
entidades ligadas à indústria.
A atual capacidade de produção do país é de 7 bilhões de litros de
biodiesel, de acordo com a União Brasileira do Biodiesel e
Bioquerosene (Ubrabio), com base nas 78 usinas registradas na
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP).
Com relação à matéria-prima, a soja responde por 75 por cento do
total de biodiesel produzido no país.
Num cenário em que a totalidade do biodiesel adicional seja
produzido a partir da soja, seriam necessários de 8 milhões a 9
milhões de toneladas para atender a mistura maior, segundo
especialistas, ou o equivalente a 10 por cento do volume da última
colheita. A confirmação de uma safra recorde no Brasil em 2014
permitiria a mudança sem maiores problemas em termos de
oferta.
Espera-se que a nova safra de soja, ainda sendo plantada, possa
crescer em 6 milhões de toneladas ante a passada, segundo
previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA), para 88 milhões de toneladas, um crescimento que
garantiria boa parte da demanda adicional por soja gerada por um
B7.
"Como se tem uma produção interna de soja ascendente e uma
ampla capacidade ociosa, o impacto do aumento da mistura acaba
sendo minimizado", comentou o analista Aedson Pereira, da
consultoria agrícola Informa Economics FNP.
Além da soja, outros óleos e gorduras podem ajudar a garantir o
crescimento da demanda gerada pela mistura maior, como sebo
bovino e semente de algodão.
PREPARAÇÃO
Se não há preocupação do ponto de vista da oferta, seria
importante para a indústria saber logo se a mistura maior vai
começar a valer em 2014, para que o setor possa se organizar,
disse o assessor econômico da Abiove. "Quanto antes programar
as operações, mais estável tende a ser o processo", afirmou Zilio.
Isso num contexto que aponta o Brasil como o maior exportador
global de soja. Uma nova mistura tende, pelo menos, a limitar
exportações dessa matéria-prima do país.
O mercado de biodiesel é regulado no Brasil. As vendas do
biocombustível de janeiro e fevereiro deverão ser programadas
por meio de um leilão governamental previsto para a primeira
semana de dezembro.
Assim, uma decisão do governo sobre uma mistura maior teria
que acontecer antes disso.
INFLAÇÃO E PETROBRAS
Embora o biodiesel seja mais caro que o diesel, a Abiove tem
estudo que estima um impacto mínimo na inflação. O aumento no
custo da cesta básica não chegaria a 20 centavos de real, enquanto
no valor da passagem de ônibus, por exemplo, seria menor que 1
centavo de real.
"Existe um impacto inflacionário, mas é ínfimo", disse Zilio,
acrescentando que uma mistura maior de biodiesel traz benefícios
como a menor emissão de poluentes, além de colaborar para a
redução de importações pela Petrobras.
Do total de diesel comercializado pelo país de janeiro a agosto, de
38,4 bilhões de litros, 7,2 bilhões de litros referem-se ao produto
importado, segundo a Abiove.
Isso tem machucado as contas da Petrobras, com prejuízos
seguidos na área de Abastecimento em função da defasagem nos
preços de venda do diesel no Brasil em relação ao mercado
internacional.
Segundo especialistas, com um B7, a importação de diesel da
Petrobras cairia na proporção do aumento da produção de
biodiesel. E a estatal teria redução de despesas de cerca de 2
bilhões de reais ao ano, considerando a diminuição das compras
externas, segundo o assessor econômico da Abiove.
"Quando falamos que os interesses do país estão muito alinhados
com esta decisão (de elevar a mistura), certamente falamos sobre
a necessidade de importar diesel", afirmou o presidente do
Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés.
"Nós ainda temos importado muito diesel do mercado
internacional. Então é uma conta que tem se que observar",
concordou Pereira, da Informa Economics FNP.
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