Uma Plataforma para o desenvolvimento brasileiro Diagnóstico e propostas para reorientar o principal instrumento público de desenvolvimento do Brasil www.plataformabndes.org.br Organizações sociais querem reorientar o BNDES e debater o modelo econômico do País | Em julho de 2007, 23 redes e organizações da sociedade se reuniram para criar a Plataforma BNDES. O resultado foi a abertura de negociações com a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o mais importante instrumento público de estímulo ao desenvolvimento brasileiro, em torno de várias propostas para reorientar a atuação deste Banco brasileiro. Dois anos antes, boa parte dessas organizações já havia começado um diálogo com o Banco, tentando reorientar a instituição, mas não obteve sucesso. Entre essas organizações estão sócio-ambientalistas, sindicalistas e organi- zações não governamentais. Elas atuam em áreas diversas, mas concordam em um ponto: é urgente resgatar o caráter público deste Banco e rejeitar qualquer tentativa, direta ou indireta, de privatizar o Banco, ou seus recursos. Devido à enorme escala de recursos que mobiliza, o BNDES, desde que foi fundado, há 52 anos, financia e organiza a capacidade produtiva do País, com impactos diretos na concentração de renda e na promoção de uma série de desigualdades. Nossa estratégia de ação baseiase na negociação direta com a presidência do Banco, na produção e disseminação de informações sobre o BNDES e no apoio à ação dos setores sociais impactados direta e indiretamente pelos financiamentos do Banco. Desde a chegada ao cargo do atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em meados de 2007, aumentaram as expectativas de aprofundamento do diálogo. Quando focamos nossa atenção sobre o BNDES, também pretendemo debater o conceito de “desenvolvimento nacional”, que deve ter como objetivo central a promoção do desenvolvimento autônomo, ao mesmo tempo soberano, solidário, justo e sustentável, de cada pessoa e comunidade brasileiras, na perspectiva de superar nossas desigualdades históricas. Esta é a grande tarefa da nossa Plataforma BNDES. E o Banco, devido à sua importância na vida brasileira, é o nosso objetivo principal. O BNDES que temos O BNDES que queremos Um diagnóstico elaborado pela Plataforma BNDES | Desde que foi criado, há 52 anos, o Banco é central no desenvolvimento brasileiro. Ele financia projetos, formula critérios e escolhe áreas e até empresas a serem priorizadas na concessão de enormes empréstimos. Entretanto, apesar de ser gestor de recursos públicos – em 2008, seu orçamento do Banco chega a quase R$ 80 bilhões, maior até do que o orçamento do Banco Mundial – o BNDES não divulga os critérios que o orientam, nem detalhes públicos dos agentes econômicos que recebem seus financiamentos. O Banco tem participação determinante em três grandes áreas: 1. É o principal financiador do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, que inclui vários projetos de interesse social, como saneamento e habitação, mas também obras polêmicas, como as mega hidrelétricas no Rio Madeira (RO); 2. Desembolsará nos próximos anos a maior parte dos bilhões para produção de etanol a partir da monocultura de cana de açúcar, um setor problemático ambiental e socialmente; e 3. Desembolsará até 2010 a maior parte dos recursos da nova política industrial, que prevê empréstimos a setores exportadores (que concentram renda) e altamente impactantes, como a mineração e a produção de papel e celulose a partir da monocultura de eucalipto. Apesar da sua enorme importância, o BNDES é desconhecido da maioria da população devido a uma estratégia de obscurantismo que o isola da sociedade. Foi nesse contexto que ele direcionou a industrialização do Brasil e nos anos 1990 conduziu a privatização de estatais estratégicas – como a Vale do Rio Doce, a Embratel e do setor elétrico. O Banco tem viabilizado grandes operações financeiras não para atender a necessidades históricas, como na produção de alimentos e de infra-estrutura social. Prioriza grandes empresas exportadoras e atrai investimentos externos intensivos em capital. Nossas propostas para os campos da transparência, controle social, critérios territoriais e integração regional | A Plataforma BNDES não se limita a diagnosticar o Banco. Fizemos demandas e propostas, organizadas em quatro eixos: 1. queremos transparência e publicidade das ações e critérios do Banco; 2. pleiteamos participação e controle social da instituição, para muito além dos controles formais que o Estado já aplica à instituição; 3. demandamos novos critérios para os desembolsos do BNDES que levem em conta questões territoriais e regionais, sociambientais, climáticos, de gênero e raça/etnia e no que toca o trabalho e a renda; 4. Em especial, sugerimos políticas setoriais para as seguintes áreas: a. infra-estrutura social (saneamento, educação e habitação, por exemplo); b. descentralização dos instrumentos de concessão de crédito, com atenção para as cooperativas de crédito da economia solidária; c. o fomento ao desenvolvimento rural sustentável e agroecológico, em oposição aos privilégios concedidos ao grande negócio agrícola voltado para a exportação; d. incentivo a ações de economia de energia e aquelas que apontem para a diminuição das emissões de gases causadores das mudanças no clima; e e. uma reorientação dos financiamentos a empresas que atuem no exterior, em particular aquelas que operam em países da América do Sul, estimulando uma integração regional em bases justas. O primeiro e grande passo para qualquer grande reorientação do BNDES começa com o estabelecimento de uma política de informações. Esta foi uma das principais demandas dos membros da Plataforma BNDES a Luciano Coutinho, em julho do ano passado. Ele se comprometeu a adotar tal política, reconhecendo que o BNDES disponibiliza poucas informações, principalmente quanto aos financiamentos a empresas privadas. Onde o BNDES precisa mudar O Banco deve ter transparência e publicidade, possibilitar a participação e o controle social, desenvolver critérios e parâmetros e aplicar novas políticas a setores-chave para o desenvolvimento nacional Transparência e publicidade Apesar de ser um banco público de fomento ao desenvolvimento e de operar recursos públicos como o FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador, o BNDES mantém um inexplicável sigilo sobre a maior parte dos seus financiamentos. O Banco apenas divulga seletivamente notícias sobre suas ações, o que impossibilita – de forma ilegal o acesso a informações públicas acerca de sua carteira. Sem essas informações básicas é impossível fazer qualquer análise crítica mais aprofundada desse importante instrumento público de desenvolvimento. O BNDES não desenvolveu instrumentos para que a sociedade saiba como e com que critérios são escolhidos os projetos e beneficiários. É fundamental que o BNDES construa uma Política de Informação Pública (PIP) que inclua a divulgação: 1. do Relatório de Análise, documento encaminhado para a diretoria na ocasião da aprovação de projetos e que orienta a decisão da mesma; 2. da totalidade de sua carteira de projetos; 3. da lista de beneficiários do Fundo Social e do Fundo Tecnológico (recursos a fundo perdido), além de suas regras e critérios; 4. de informações básicas sobre os projetos aprovados, tais como: objetivo do projeto, executor, área de abrangência, valor total do projeto, valor do financiamento, contrapartida, taxa de juros, prazo, carência, relatório de impacto socioambiental (incluindo a classificação – o rating - e o recorte étnico-racial e de gênero), o responsável pelo acompanhamento do projeto dentro do Banco, critérios para acesso e liberação do financiamento, impactos sociais e econômicos esperados; 5. 6. 7. 8. 9. dos Boletins de Medição; dos critérios, parâmetros e prioridades utilizados para a tomada de decisão sobre a concessão de empréstimos das operações diretas ; da agenda, pauta e das decisões das reuniões de diretoria e do Conselho de Administração, com antecedência e amplitude suficientes para garantir o exercício do controle público; dos seus indicadores e outros instrumentos de avaliação quanto ao impacto dos projetos aprovados. do balanço da emissão de carbono da carteira de projetos do Banco e do próprio BNDES. Participação e controle social O BNDES precisa avançar nos canais de interlocução com a sociedade. Seu Conselho de Administração e ouvidoria são limitados e não estão preparados para dar conta dos vários níveis de participação e controle compatíveis com o escopo de sua atuação, com o caráter público do Banco e com a diversidade da sociedade brasileira. Pleiteamos a criação de uma Política de Participação e Controle (PPC) abrangente , que considere o conjunto da sociedade brasileira e não apenas os setores representantes do capital e do trabalho, já representados no Conselho. É preciso que a PPC abarque desde os espaços de formulação de programas e políticas setoriais do BNDES até os espaços de implantação do projeto, considerando então os atores locais que serão direta e indiretamente impactados. Demandamos diferentes instâncias e instrumentos de participação e controle, tais como: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Audiências públicas, formatadas a partir de termos de referência concertados com representações das populações impactadas por projetos de grande porte/impacto. Esses termos devem explicitar os parâmetros, a metodologia, o cronograma e a pauta em questão, para que a população local tenha tempo e informação suficiente para participar de forma qualificada. As audiências públicas devem ser realizadas antes da aprovação dos projetos, permitindo uma avaliação mais criteriosa pelo Banco quanto à pertinência e relevância social e econômica do investimento. Avaliação independente dos Boletins de Medição, incluindo medidas socioambientais que subsidiem as audiências públicas; Conselho de Administração ampliado, com representação de outros setores da sociedade, além da representação dos sindicatos de trabalhadores/as; Espaços de interlocução regulares com a sociedade para a definição de prioridades, critérios e diretrizes, para a consulta na formulação de políticas e programas setoriais e para a prestação de contas em relação à atuação do Banco; Comissão Externa de Inspeção, independente, acionável em caso de denúncia de irregularidades e/ou desvio nos objetivos e metas do projeto. Criação de espaços físicos em todas as capitais dotados de meios eletrônicos para o fornecimento de informação sobre as operações (diretas) do Banco. Na composição dos espaços de controle social do Banco, queremos a adoção dos critérios de equilibro de raça, gênero, etnia, geracional e regional. Quem integra a Plataforma BNDES Estas organizações já fazem parte do nosso coletivo. Outras ainda podem aderir MARÇO 2008 EXPEDIENTE Este jornal Plataforma BNDES foi editado pelo Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas com o apoio da Fundação Ford, do IBP e da CUT – Central Única dos Trabalhadores. Está disponível em www.plataformabndes.org.br. Contatos: 21-2178-9400 ou pelos endereços eletrônicos [email protected] e [email protected]. Amigos da Terra – Amazônia Brasileira; Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste; Central Única dos Trabalhadores – CUT; Conselho Indígena Missionário – COIAB; Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira; Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Integração Solidária; Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria; Fase; Fórum Brasileiro de ONGS e Movimentos Sociais para o meio Ambiente e o Desenvolvimento – Fboms; Fórum Brasileiro de Economia Solidária; Frente Nacional de Saneamento Ambiental; Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase; Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc; Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB; MST; Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS; Rede Brasileira Pela Integração dos Povos – Rebrip; Rede Brasileira de Justiça Ambiental; Rede Brasil Sobre Instituições Financeiras Multilaterais; Rede Alerta Contra o Deserto Verde. Critérios e parâmetros Critérios territoriais e regionais A atuação do Banco tem reproduzido a forma desigual como os investimentos são distribuídos pelas diferentes regiões do País, não apenas entre as regiões, mas com diferenças marcantes no interior de uma mesma região. O BNDES deve observar também os impactos em termos das populações tradicionais atingidas, com especial ênfase para as mudanças no perfil ocupacional ocorridas nas áreas de fronteiras. Queremos que o Banco adote critérios de financiamento e outras alocações (aportes sem expectativa de retorno financeiro) que considerem, por exemplo, realização de um zoneamento econômico-socioecológico (ZESE) de todo o território brasileiro. E que ele cumpra a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2008, quanto a redução das desigualdades regionais. Socioambientais Queremos que seja elaborada uma política ambiental a ser incorporada desde o planejamento estratégico do Banco até a implementação dos projetos. Queremos, ainda, que empresas suspeitas de promover grilagem de terras públicas, como as identificadas pela CPI Mista da Grilagem de Terras, bem como as que ferem legislação referente à proteção das terras indígenas e de quilombolas não possam receber financiamentos do Banco. Atividades potencialmente predatórias como mineração, indústria madeireira, pesca industrial, agroindústria de exportação, carcinicultura, geração de energia (hidrelétricas), indústrias eletro-intensivas e de agroenergia precisam de um estatuto especial nos critérios de financiamento do Banco, especialmente quan- do da sua localização na Amazônia Legal e em outras áreas impactadas por essas atividades. d. Climáticos Os impactos socioambientais e econômicos decorrentes das mudanças climáticas exigem que a redução das emissões de gases causadores de mudanças no clima permeie todos os processos e produtos que derivem dos desembolsos do BNDES. Isso pode culminar na prática em diferenciação de spreads de acordo com a intensidade em carbono do processo e do produto fruto do empréstimo do Banco Pleiteamos que o Banco exija indicador de emissão de CO 2 e outros gases de efeito estufa como critério de enquadramento, aprovação e desembolso. Também devem ser objeto de profunda reorientação os financiamentos a projetos de monocultivos indutores de forte impacto sobre os ecossistemas, abrindo o caminho para uma agropecuária sustentável dirigida prioritariamente ao mercado interno e a projetos de conservação e manejo florestal. Gênero e Raça/Etnia Pleiteamos que o Banco: a. Apresente seus planos quanto à aplicação dos princípios da LDO nos projetos já aprovados; b. Construa mecanismos de monitoramento, participação e controle social em relação à aplicação das diretrizes da redução das referidas desigualdades; c. Crie um mecanismo que vincule a liberação dos empréstimos à avaliação de impactos planejados e não planejados quanto às referidas desigualdades; e. f. g. Crie um mecanismo que vincule futuros empréstimos à apresentação de resultados concretos de mudanças em termos da redução das desigualdades a partir do investimento realizado; Estabeleça critérios de gênero e raça na contratação, promoção e política salarial dos seus funcionários inclusive através de ações afirmativas; Financie projetos que favoreçam a igualdade de raça, gênero e etnia. Financie projetos que fortaleçam os povos e as comunidades indígenas e tradicionais do ponto de vista econômico e cultural, em áreas estratégicas como educação e saúde e do uso, manejo e conservação dos territórios e dos recursos naturais. Trabalho e Renda Importa que o Banco considere nos atuais financiamentos às empresas agroindustriais a contratação de produtos da agricultura familiar e, se o fazem, assegurando preço justo na compra da produção familiar. Queremos que o Banco vincule à solicitação de financiamento das empresas a adoção de ferramentas de transparência e prestação de contas com indicadores e metas para as suas ações sociais e ambientais internas e externas. É o caso de exigir contrapartidas aos financiamentos do Banco, como o atendimento a metas de geração de empregos formais, do respeito à sindicalização e à organização no local de trabalho, o controle sobre a terceirização e a precarização do trabalho, a observância da legislação trabalhista e das condições de trabalho como critério para a aprovação de novos projetos e efetuação de desembolsos. Reivindicações de curto prazo No encontro com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em julho de 2007, entregamos o documento Plataforma BNDES – que está resumido ao longo deste jornal – juntamente com uma agenda de curto prazo. Atendê-la seria uma demonstração de boa vontade política por parte da então nova administração do Banco. Solicitamos: 1. A publicação no sítio de internet do Banco da lista de todo os projetos – incluindo os projetos privados - que receberam financiamento direto do BNDES; 2. Gostaríamos de iniciar o debate sobre a aplicação das exigências da LDO 2007/8; 3. Criação de um espaço de interlocução diretamente vinculado à Presidência do Banco, com pelo menos superintendentes de todas as áreas, e não somente vinculados a uma diretoria, para debater as agendas propostas por este documento; 4. Orientação para que este grupo intersetorial acima citado debata com representantes desta Plataforma BNDES a atuação do Banco no financiamento às seguintes áreas: saneamento, etanol, papel e celulose, integração regional e hidrelétricas, tendo como referência os critérios e parâmetros sugeridos por este documento. QUEM CONTROLA O BNDES? O governo federal indica seus conselheiros e diretores. O Banco é integralmente público e estatal QUAL O ORÇAMENTO DO BANCO? Em 2008, cerca de R$ 80 bilhões DE ONDE VÊM SEUS RECURSOS? 1. 2. 3. 4. Do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT; Do retorno dos empréstimos; Do Tesouro Nacional; e Das participações acionárias em várias empresas EM QUE ÁREAS ATUA? O BNDES tem quatro áreas: inclusão social, agronegócio, insumos básicos e infra-estrutura Políticas Setoriais Com a indicação de propostas setoriais, não se pretende apenas sugerir novas abordagens e opções de financiamento para o Banco. Propõe-se, na verdade, uma reorientação do financiamento do desenvolvimento realizado através do BNDES. Infra-estrutura social Cada financiamento do BNDES, para os setores de saúde, educação e saneamento ambiental, deve estar orientado pelo princípio da manutenção da gestão pública desses bens e serviços. O BNDES não deve financiar nenhum projeto que aponte na direção – direta ou indireta - da privatização da gestão desses serviços e bens. Trata-se do Banco utilizar seus recursos financeiros para contribuir de forma efetiva para a solução de problemas estruturais que impedem o desenvolvimento no seu sentido pleno. Queremos que: a. A carteira de investimento para infra-estrutura social privilegie a reestruturação das empresas públicas provedoras de bens e serviços sociais e, em contrapartida, a não abertura de financiamentos que induzam à gestão privada dos mesmos; b. Abertura de canais efetivos de interlocução e consulta aos formuladores e gestores de políticas públicas de infra-estrutura social, de maneira a garantir o alinhamento dos investimentos do BNDES com as diretrizes determinadas pelos órgãos públicos de planejamento do desenvolvimento econômico e social; c. Elaboração de uma engenharia financeira para que os aspectos sociais desses investimentos, e não apenas econômicos, sejam critérios determinantes na análise de viabilidade dos investimentos em infra-estrutura social. Desenvolvimento rural sustentável e agroecológico O BNDES deve priorizar projetos que tenham conexão com o desenvolvimento da região onde se dá o investimento, como a agricultura familiar e camponesa, a conversão agroecológica e uma agroindústria familiar e campesina voltada para o mercado interno (local e regional). Com isso viabilizando garantindo a inserção sustentável das comunidades tradicionais, camponeses, indígenas, e as populações locais na cadeia de produção, valorizando a dimensão associativa dos empreendimentos fi nanciados pelo Banco. Queremos que o Banco: a. Financie projetos de agroecologia – com foco na soberania alimentar, combinado com um programa amplo de capacitação e um programa de assistência técnica e extensão rural; b. Invista em cooperativas de produção de agricultura familiar, através de uma linha de crédito direta para as cooperativas locais, no âmbito da economia solidária. As atividades podem incluir agroindústria, comercialização da produção e programas de capacitação. Esses investimentos devem c. d. e. estar vinculados à produção de alimentos e voltados para o financiamento de empreendimentos no País, que possibilitem ao produtor a venda direta de seus produtos. Amplie e direcione os recursos do Fundo Social e do Funtec para a população rural buscando a elevação da escolaridade, projetos ambientais, assistência técnica e extensão rural vinculada à pesquisa e ao ensino, compra de equipamentos agrícolas adequados à necessidade da agricultura familiar, camponesa e das populações indígenas; Reoriente o financiamento a empresas monocultoras – celulose, soja, cana de açúcar (etc) – indutores de forte impacto sobre os ecossistemas em favor de uma agropecuária sustentável e dirigida ao mercado interno e de projetos de conservação e manejo florestal. Financie o processamento e comercialização de agro-combustível no contexto da agricultura familiar e camponesa dando, inclusive, a oportunidade para que agricultores tenham autonomia de utilizar essa energia localmente. Descentralização do crédito Um dos grande gargalos dos financiamentos para o setor associativo ou da economia solidária está representado pela exigência de garantias que interditam o acesso ao crédito por parte deste tipo de empreendimento. O Banco deve, nestes casos, buscar construir novos instrumentos e parâmetros que privilegiem menos a capacidade de endividamento strictu sensu e mais as garantias dadas pela inserção do empreendimento na dinâmica sócio-econômica local. As restrições do Banco estão também presentes no caso das cooperativas de crédito da economia solidária, que atuam como agentes financeiros e operam repasses do BNDES. Nas análises de risco e capacidade de endividamento, as cooperativas são tratadas como quaisquer outros agentes econômicos. Importa, também, chamar a atenção de que muitos micro-empreendimentos e empreendimentos associativos com signifi cativo potencial produtivo e distributivo necessitam de um crédito fortemente subsidiado como forma de alavancagem de seus investimentos. Normalmente se trata de empreendimentos que demandam valores baixos por operação, ainda mais se comparados com o retorno sócio-econômico que são capazes de gerar. Energia e Clima Queremos que o Banco não financie a expansão da energia nuclear. Também pleiteamos que entre na análise dos pedidos de financiamento o indicador de emissão de carbono e outros gases de efeito estufa dos produtos e processos envolvidos (inclusive aqueles alavancados) pelos desembolsos do Banco. Reivindicamos ao BNDES condicionar a liberação de financiamentos a concessionárias de geração de energia elétrica para novas usinas à conformidade no tratamento das questões sociais e ambientais. Defendemos também a aposta na indução de cadeias produtivas e de agregação de valor tecnológico que de alguma forma se vinculem às energias renováveis– eólica, solar, biomassa, por exemplo. Quanto ao PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), o BNDES deverá redefinir seus critérios de elegibilidade dos projetos, incorporando os critérios de “project fi nance” de modo a viabilizar o acesso de pequenos empreendedores aos recursos de financiamento do Banco. Recomendamos que o Banco coloque as suas capacidades no financiamento da poupança de energia e na produção de equipamentos e eletrodomésticos eficientes, considerando, ainda, a energia líquida contida nos produtos de exportação. Integração Regional O Banco deve ser encarado como instrumento para financiar processos econômicos que estimulem o atendimento às necessidades prementes da população mais pobre, em níveis locais e regionais, estimulando, também, laços de solidariedade entre as diversas regiões de um mesmo País e de toda a região, através dos projetos financiados pelo Banco. Assim, deve-se evitar o financiamento de projetos desconectados do desenvolvimento social integrado com as demais regiões de um determinado país e da América do Sul. Na prática, esses projetos representam um enclave orientado para atender exclusivamente às demandas do mercado internacional e que funcionam exclusivamente de acordo com a lógica e os objetivos desse mercado. O BNDES deve obedecer rigorosamente a todos os princípios constantes nos acordos internacionais de proteção aos direitos humanos, incorporando os direitos econômicos, sociais, culturais, de imigração e ambientais. Para tanto, demandamos: a. A criação de mecanismos de participação e controle social por parte das organizações da sociedade civil dos países afetados, para discussão coletiva das propostas de financiamento à integração; b. Apoio a projetos que fortaleçam a integração regional e intra-regional na perspectiva do avanço da ciência e tecnologia; intercâmbio cultural; comunicação; economia solidária dentre outros; c. A integração física e energética deve estar baseada nas necessidades locais e regionais, não no atual modelo explorador de recursos naturais por grandes empresas de exportação; d. Estabelecimento de mecanismos de monitoramento dos financiamento externos; e. Apoio à criação de novos instrumentos regionais de financiamento soberano.