18. EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: RECONHECENDO ESPAÇOS SOCIAIS E RESSIGNIFICANDO CONCEITO Não podemos deixar de considerar que o que a sociedade admite por saúde também está sempre presente na sala de aula e no ambiente escolar. Porém, em seu contexto pedagógico, a escola tem adotado uma visão reducionista de saúde, embora, considerando a importância das condições ambientais mais favoráveis à instalação da doença, a relação entre o “doente” e o “agente causal” ainda seja priorizada. Porém, a relação entre acesso à educação e a melhores níveis de saúde e de qualidade de vida é inegável, pois educar tratase prioritariamente da articulação de conhecimentos, atitudes, aptidões, comportamentos e práticas pessoais que possam ser aplicados e compartilhados com a sociedade, favorecendo individual e socialmente o desenvolvimento da autonomia 3 ao mesmo tempo que atende a objetivos sociais. Nesse contexto, devemos ter clareza de que a educação para a saúde não cumpre o papel de substituir as mudanças estruturais da sociedade, necessárias para a garantia da qualidade de vida e saúde, mas pode contribuir decisivamente para sua concretização. Porém, educação e saúde estão intimamente relacionadas e, em especial, a educação para a Saúde é resultante da interação desses dois fenômenos. Embora a educação para saúde seja responsabilidade de toda sociedade, em especial dos próprios serviços de saúde, a escola ainda é a instituição que deve necessariamente assumir­se como espaço genuíno de promoção da saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as escolas que fazem diferença e contribuem para a promoção da saúde são aquelas que conseguem assegurar as seguintes condições: • têm uma visão ampla de todos os aspectos da escola, provendo um ambiente saudável e que favorece a aprendizagem, não só nas salas de aula, mas também nas áreas destinadas ao recreio, nos banheiros, nos espaços em que se prepara e é servida a merenda, enfim, em todo o prédio escolar; • dão importância à estética do entorno físico da escola, assim como ao efeito psicológico direto que ele tem sobre professores e alunos; • estão fundamentadas num modelo de saúde que inclui a interação dos aspectos físicos, psíquicos, socioculturais e ambientais; • promovem a participação ativa de alunos e alunas; reconhecem que os conteúdos de saúde devem ser necessariamente incluídos nas diferentes áreas curriculares; • entendem que o desenvolvimento da auto­estima e da autonomia pessoal são fundamentais para a promoção da saúde; • valorizam a promoção da saúde na escola para todos os que nela estudam e trabalham; • têm uma visão ampla dos serviços de saúde voltados para o escolar; • reforçam o desenvolvimento de estilos saudáveis de vida e oferecem opções viáveis e atraentes para a prática de ações que promovem a saúde; • favorecem a participação ativa dos educadores na elaboração do projeto pedagógico da educação para a Saúde; • buscam estabelecer inter­relações na elaboração do projeto escolar.
Assim, podemos constatar que a informação ocupa um lugar importante na aprendizagem, mas a educação para a saúde deve favorecer a mobilização para as necessárias mudanças na busca de uma vida saudável em que valores e aquisição de hábitos e atitudes constituem as dimensões mais importantes. Para tanto, a escola precisa enfrentar o desafio de permitir que seus alunos reelaborem conhecimentos, resignifiguem valores, habilidades e práticas favoráveis à saúde, fortalecendo comportamentos e hábitos saudáveis, tornando­se sujeitos capazes de promover transformações que tenham repercussão em sua vida pessoal e na qualidade de vida da coletividade, promovendo uma sociedade sustentável e que preserve a qualidade de vida como valor essencial ao homem. Considerações Finais O PNUMA, com o apoio da ONU e de diversas organizações não­governamentais, propôs, em 1991, princípios, ações e estratégias para a construção de uma sociedade sustentável, partindo do princípio que “se uma atividade é sustentável, para todos os fins práticos ela pode continuar indefinidamente. Contudo, não pode haver garantia de sustentabilidade a longo prazo, porque muitos fatores são desconhecidos ou imprevisíveis”. Diante disso, propõe­se que as ações humanas ocorram dentro das técnicas e princípios conhecidos de conservação, num processo monitorado das decisões, avaliação e redirecionamento da ação. Nesse cenário, a escola, como já vimos, é uma das instâncias da sociedade que pode contribuir na construção desse processo. Uma sociedade sustentável, segundo o mesmo Programa, é aquela que interage em harmonia com nove princípios interligados, apresentados a seguir: • Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos (princípio fundamental). Trata­se de um princípio ético que “reflete o dever de nos preocuparmos com as outras pessoas e outras formas de vida, agora e no futuro”. • Melhorar a qualidade da vida humana (critério de sustentabilidade). Esse é o verdadeiro objetivo do desenvolvimento, ao qual o crescimento econômico deve estar sujeito: permitir aos seres humanos “perceber o seu potencial, obter autoconfiança e uma vida plena de dignidade e satisfação”. • Conservar a vitalidade e a diversidade do Planeta Terra (critério de sustentabilidade). O desenvolvimento deve ser tal que garanta a proteção “da estrutura, das funções e da diversidade dos sistemas naturais do Planeta, dos quais temos absoluta dependência”. • Minimizar o esgotamento de recursos não­renováveis (critério de sustentabilidade). São recursos como os minérios, petróleo, gás, carvão mineral. Não podem ser usados de maneira “sustentável” porque não são renováveis. Mas podem ser retirados de modo a reduzir perdas e principalmente a minimizar o impacto ambiental. Devem ser usados de modo a “ter sua vida prolongada como, por exemplo, através de reciclagem, pela utilização de menor quantidade na obtenção de produtos, ou pela substituição por recursos renováveis, quando possível”. • Permanecer nos limites de capacidade de suporte do Planeta Terra (critério de sustentabilidade). Não se pode ter uma definição exata, por enquanto, mas sem dúvida há limites para os impactos que os ecossistemas e a biosfera como um todo podem suportar sem provocar uma destruição arriscada. Isso varia de região para região. Poucas pessoas consumindo muito podem causar tanta destruição quanto muitas pessoas consumindo
pouco. Devem­se adotar políticas que desenvolvam técnicas adequadas e tragam equilíbrio entre a capacidade da natureza e as necessidades de uso pelas pessoas. • Modificar atitudes e práticas pessoais (meio para se chegar à sustentabilidade). “Para adotar a ética de se viver sustentavelmente, as pessoas devem reexaminar os seus valores e alterar o seu comportamento. A sociedade deve promover atitudes que apóiem a nova ética e desfavoreçam aqueles que não se coadunem com o modo de vida sustentável.” • Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio ambiente (meio para se chegar à sustentabilidade). É nas comunidades que os indivíduos desenvolvem a maioria das atividades produtivas e criativas. Constituem o meio mais acessível para a manifestação de opiniões e tomada de decisões sobre iniciativas e situações que as afetam. • Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e conservação (meio para se chegar à sustentabilidade). A estrutura deve garantir “uma base de informação e de conhecimento, leis e instituições, políticas econômicas e sociais coerentes”. A estrutura deve ser flexível e regionalizável, considerando cada região de modo integrado, centrado nas pessoas e nos fatores sociais, econômicos, técnicos e políticos que influem na sustentabilidade dos processos de geração e distribuição de riqueza e bem­estar. • Constituir uma aliança global (meio para se chegar à sustentabilidade). Hoje, mais do que antes, a sustentabilidade do planeta depende da confluência das ações de todos os países, de todos os povos. As grandes desigualdades entre ricos e pobres são prejudiciais a todos. Diversidade: desigualdade e ética Nesse cenário, um dos valores que passam a ser reconhecidos como essenciais para a sustentabilidade da vida na Terra é o da conservação da diversidade biológica (biodiversidade), e, para a sustentabilidade social, reconhece­se a importância da diversidade dos tipos de sociedades e de culturas (sociodiversidade). A evolução humana permitiu o aparecimento das espécies atuais, entre elas o homem. A diversidade biológica ou biodiversidade consiste no conjunto total de disponibilidade genética de diferentes espécies e variedades, de diferentes ecossistemas que, através de lentos processos evolutivos, surgem incansavelmente, constituindo novos sistemas que as mudanças nas condições ecológicas podem fazer desaparecer. A ação humana, porém, vem acelerando muito as mudanças nas condições ecológicas, '6Cevando a rápidas mudanças climáticas e à extinção de espécies e variedades, o que tem uma gravidade considerável. Pouco se sabe ainda do papel relativo de cada espécie e de cada ecossistema na manutenção desse equilíbrio em condições viáveis para a sobrevivência. Mas sabe­se que todas as espécies são componentes do sistema de sustentação da vida, que a conservação da biodiversidade é estratégica para a qualidade de vida. Assim, descobrem­se substâncias de grande valor para a saúde, alimentação, obtenção de tinturas, fibras e outros usos, no grande laboratório representado pelas diferentes espécies de plantas e animais, muitas até pouco tempo desconhecidas ou desprezadas. A diversidade biológica deve ser conservada não só por sua importância conhecida e presumível para a humanidade, mas por uma questão de princípio: todas as espécies merecem respeito, pertencemos todos à mesma e única trama da vida neste planeta. Bibliografia consultada:
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais: vol. 4 e 9. Brasília. MEC/SEF, 1997. Sugestões de leitura: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração sobre o ambiente humano. Estocolmo, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, 1972. __________. Programa internacional de educação ambiental. Estocolmo, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, 1972. __________. Agenda 21. Rio de Janeiro, Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992. Para refletir: A Carta do Chefe Indígena Seattle (1854) Resposta do cacique Seattle ao Presidente Americano F. Pierce, que tentava comprar as suas terras. Um exemplo sublime de conscîencia Holística e Ecológica. Uma denúncia à ganância do homem branco, cioso de seu intelecto. Um grito contra a injustiça dos que pensam ter o direito sobre a terra, excluindo seus semelhantes e outros seres vivos. Um apelo ao humanismo: “O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há 5 vários dias, é insensível ao [seu próprio] mau cheiro. (...) Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se nós a decidirmos aceitar, imporei uma condição: O homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. O que é o homem sem os animais? Se os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma lição em tudo. Tudo está ligado. Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com a vida de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá também aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Disto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem é que pertence à terra. Disto sabemos: todas as coisas então ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorre com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu a teia da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizermos ao tecido, fará o homem a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala como ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos (e o homem branco poderá vir a descobrir um dia ): Deus é um Só, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Vocês podem pensar que O
possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual para o homem branco e para o homem vermelho. A terra lhe é preciosa e feri­la é desprezar o seu Criador. Os homens brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos das florestas densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídas por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o inicio da sobrevivência. Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa Idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá­los. Cada pedaço de terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho... Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar­se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar para filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem, dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão. Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra tudo que necessita. A terra, para ele, não é sua irmã, mas sua inimiga e, quando ele a conquista, extraindo dela o que deseja, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa... Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto. Eu não sei... nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez porque o homem vermelho seja um selvagem e não compreenda. Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater de asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. “ Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br
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