Instituto Brasileiro do Concreto - 44º Congresso Brasileiro
A PREVISÃO DA VIDA ÚTIL DA 3ª PONTE DE VITÓRIA
José Eduardo Aguiar (1) ; Abdias M. Gomes (2) ; Turibio J. Da Silva (3)
(1) Engenheiro civil , Recuperação Ltda
Rua: Paulo Afonso, 146 – 30350-060- Belo Horizonte, Brasil
e-mail: [email protected]
(2) Professor Doutor, Universidade Federal de Minas Gerais
Rua: Espírito Santo, 35 – Centro, 30160-060- Belo Horizonte, Brasil
e-mail: [email protected] - Tel:3238 1850 - Fax: 32381857
(3 )Professor Doutor ,Universidade Federal de Uberlândia
Campus Santa Mônica, 38400-902 Uberlândia, Brasil
e-mail: [email protected]
Palavras Chaves: Reabilidade estrutural, Inspeção, Pontes, Tempo de Serviço.
Resumo
A técnica de análise da reabilidade associada a modelos matemáticos de
deterioração, pode se tornar uma importante ferramenta para o plano de
manutenção em períodos de inspeção em pontes. Os resultados dos testes de
inspeção levam em conta o estado estrutural da ponte, mas não permitem
definir com segurança ou prever o tempo de serviço destas.
Baseado nos resultados dos testes de controle da construção da ponte é
possível caracterizar as variáveis relacionadas ao aço e o concreto utilizados.
Através de pesquisas climatológicas, as variáveis relacionadas às condições
ambientais da ponte puderam ser caracterizadas. Para representar a evolução
da deterioração, o método usa modelos matemáticos já desenvolvidos por
diversos pesquisadores, como a profundidade de carbonatação, a
penetração/difusão de cloretos e a corrosão das armaduras. Esses modelos
utilizam dados obtidos pela inspeção, como por exemplo: superfície de
carbonatação; perfil de cloretos; resistência a compressão do concreto;
recobrimento das armaduras, e também a simulação de carregamentos em
cada estrutura obtida através de simulação de tráfego. Depois, tratamentos
probabilísticos são aplicados a estes modelos. A probabilidade de erro em
cada estrutura da ponte é determinada por métodos como o FORM. Desta
forma, o intervalo de tempo apropriado para a inspeção da ponte pode ser
obtido. Assim, o método define os membros da estrutura que devem ser
objetos de inspeção por apresentar maior probabilidade de erro que os outros.
Um gráfico de probabilidade de erro x tempo pode ser obtido para a estrutura,
através da determinação do valor da probabilidade de erro e adicionando o
tempo do início ao fim
da construção. Em termos de aceitabilidade
probabilística do valor de erro, é possível estimar o tempo de serviço de cada
membro da estrutura. O método descrito está sendo aplicado a uma ponte
construída no Brasil em 1985. Alguns dos resultados obtidos serão
apresentados neste trabalho.
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1 Introdução
O objetivo deste trabalho é possibilitar, através da previsão de vida útil de cada
elemento estrutural, a execução de um planejamento detalhado, das
intervenções corretivas e preventivas de manutenção da 3ª Ponte de Vitória,
que encontra-se sob regime de concessão pública por um período de 25 anos,
e sob responsabilidade da empresa Rodosol Rodovia do Sol.
A ponte possui 3.339 metros de extensão, sendo que a contenção sobre a
terra utilizou vigas pré-fabricadas, enquanto o lado sobre o mar foi executado
com balanços sucessivos. O vão central foi construído em estrutura metálica
com 714 metros de extensa, possuindo um vão livre de navegação de 260
metros, dando aceso ao porto de Vitória. Possui 54 pilares em terra e 7 sobre
o mar, sendo que a altura máxima atinge 57 metros. A obra finalizada durante
a década de 80, consumiu 94400 metros cúbicos de cimento e 11400
toneladas de aço.
Todo programa de análise da previsão da durabilidade da 3ª Ponte Vitória/Vila
Velha a ser elaborado e adaptado, pressupõe o prévio conhecimento
detalhado de uma série de informações relativas à obra executada; seu
histórico; o processo construtivo adotado; as intervenções já realizadas; as
propriedades físicas e mecânicas dos materiais utilizados na construção da
ponte, após 20 anos de sua conclusão; das atuais condições termohigrométricas, bem como daquelas que atuaram após a sua construção; etc.
Desta forma, procedeu-se a adoção de uma metodologia de trabalho,
sistematizada e criteriosa, buscando-se coletar o máximo possível de
informações, mediante:
- realização de uma inspeção geral dos componentes estruturais que
compõem a ponte, observando-se, principalmente, os seguintes elementos:
blocos de cintamento, pilares, travessas, longarinas, tabuleiro, lajotas
laterais, guarda corpo e pista de rolamento;
- consulta aos projetos utilizados para na construção;
- levantamento de histórico descritivo do dia a dia da construção da ponte,
mediante estudo do diário de obras;
- levantamento de informações termo-higrométricas sobre o micro-clima da
região, disponibilizada pela equipe responsável pela conservação e
manutenção da ponte, ou através de outro órgão ambiental;
- realização de ensaios específicos e, de preferência, não destrutivos, em
cada uma das peças, já devidamente identificadas, que compõem a
estrutura da ponte;
- obtenção de informações sobre o controle de qualidade realizado nos
materiais de construção da ponte, sobretudo, em relação ao tipo de
cimento, concreto, aço e cordoalhas de concreto protendido.
Uma visão geral da ponte pode ser observada nas Figuras 1 e 2.
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Fig. 1
Fig. 2
2 Inspeção e variáveis de Caracterização
O trabalho realizado na ponte Vitória/Vila Velha contemplou a realização de
uma inspeção prévia de cada um dos elementos estruturais da ponte, na
busca de informações inerentes a:
- patologias existentes nos diversos materiais que compõem as peças;
- recuperações e reparações já realizadas;
- condições de exposição das peças.
Uma resenha de algumas patologias são mostradas nas Figuras de 3 a 12.
Fig. 3
Fig. 4
Fig. 5
Fig. 6
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Fig. 7
Fig. 10
Fig. 8
Fig. 11
Fig 9
Fig. 12
É possível observar a existência de algumas intervenções de recuperação e
restauração já realizadas, totalmente pontuais e que objetivaram apenas
resolver pequenos problemas nas quinas das lajes do tabuleiro; quinas de
pilares com armaduras expostas; blocos de fundação, que comumente
trabalham submersos, e que já apresentavam armaduras corroídas e com
conseqüente desplacamento do concreto. Alguns destes reparos realizados
podem ser observados nas Figuras 13, 14 e 15.
Fig. 13
Fig. 14
Fig. 15
No tocante as condições de exposição das peças de concreto, há de se
ressaltar a existência, sobretudo no lado sul da ponte, de um canal aberto que
coleta a descarga de esgoto doméstico e industrial da cidade de Vila Velha. Já
na parte mais alta da ponte (sobretudo do lado sul) a degradação dos seus
componentes, influenciada pelo canal não é tão nítida quanto na parte mais
baixa da ponte (região de blocos de fundação e pé de pilar). No lado da cidade
de Vitória não existe nenhum tipo de canal, estando portanto as peças
submetidas aos tradicionais intempéries de uma beira mar (sol, vento, sais,
etc).
Já o levantamento das condições do vento registrado em um ponto situado na
parte mais alto da ponte, forneceu os valores máximos e mínimos da
velocidade do vento, bem como a direção preferencial de atuação, em função
dos meses do ano. Tal ação pode ser observada na Tabela 1.
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Mês/Ano
Jan/99
Fev/99
Mar/99
Abr/99
Mai/99
Jun/99
Jul/99
Ago/99
Set/99
Out/99
Nov/99
Dez/99
Jan/00
Fev/00
Mar/00
Abr/00
Mai/00
Junh/00
Velocidade
Máxima
observada
(km/h)
48
57
48
45
45
45
45
45
63
54
45
45
45
45
27
45
33
45
Direção
predominante
na máxima
30
45
30
75
210
21
30
45
360
30
30
45
75
30
180
240
240
180
Velocidade
Mínima
observada
(km/h)
3
6
3
3
3
6
3
3
6
3
3
6
8
6
3
3
3
3
Direção
Predominante
na mínima
360
240
270
180
270
180
360
180
360
270
210
180
345
330
300
180
240
310
Tabela 1- Dados dos ventos atuantes sobre a Ponte de Janeiro/99 a junho/00
Visando melhor avaliar o ângulo de incidência dos ventos sobre a ponte
referenciados na Tabela 1, pode-se observar na Figura 16 uma sinalização dos
pontos cardiais em relação ao eixo da ponte.
Vila Velha
Cabeceira (Sul) 0°
90° Mar (Leste)
Porto(Oeste) 270°
Cabeceira (Norte) 180°
Vitória
Figura 16 – Orientação cardial dos ventos
Do estudo e exame dos projetos utilizados para a construção da ponte foi
possível observar, em relação a especificação dos materiais, que:
- Aços para concreto: foram utilizadas armaduras com diâmetros de: 8 , 10
, 20 e 25 mm da classe CA-50 A, contendo nervuras e fabricados por
laminação a quente;
- Cordoalhas de concreto protendido: utilizou-se cordoalhas de protendido
de 7 fios, diâmetro 12,7 mm do tipo CP-190 RB.
- Concreto:
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-
tubulões:
pilares:
travessa:
laje:
placas:
longarinas:
fck = 22 MPa
fck = 18 MPa
fck = 18 MPa
fck = 18 MPa
fck = 22 MPa
fck = 22 MPa
(consumo teórico cimento = 420 kg/m3)
(consumo teórico cimento = 330 kg/m3)
(consumo teórico cimento = 330 kg/m3)
(consumo teórico cimento = 330 kg/m3)
(consumo teórico cimento = 420 kg/m3)
(consumo teórico cimento = 420 kg/m3)
A partir dos relatórios de controle de qualidade realizado durante a construção
da ponte, foi possível avaliar algumas propriedades físicas e mecânicas dos
materiais utilizados. Os resultados, após tratamento estatístico, foram os
seguintes:
-Aços para concreto:
CA-50 A – diâmetro = 8 mm: fy (escoamento) = 521 a 560 MPa;
fst (ruptura) = 800 a 830 MPa; alongamento residual = 10 a 12%;
diâmetro real = 7,92 a 8,01 mm;
-
-
CA-50 A - diâmetro= 10 mm: fy (escoamento)= 531 a 550 MPa;
fst = 800 a 886 MPa; alongamento residual = 10 a 14%;
diâmetro real = 10,01 a 10,14 mm;
-
CA-50 A - diâmetro= 20,0 mm: fy (escoamento) = 501 a 525 MPa;
fst = 804 a 834 MPa; alongamento (residual) = 10 a 14%;
diâmetro real = 19,68 a 19,98 mm;
-
CA-50 A - diâmetro= 25 mm; fy (escoamento) = 545 a 560 MPa;
fst = 832 a 880 MPa; alongamento (residual) = 10 a 12%; diâmetro
real = 25,01 a 25,18 mm.
- Cordoalhas de concreto protendido: 7 fios; diâmetro nominal 12,7 mm; CP190 RB, com carga a 1% de alongamento = 17500 a 17800 kgf; carga de
ruptura = 19300 a 19800 kgf; alongamento = 4,5 a 5,0 %.
- Concreto (idade 28 dias): em função das peças, foi possível obter os
resultados da resistência à compressão média dos concretos produzidos
diariamente, observando-se os seguintes dados:
- Tubulões:
fc médio 28 dias = 34,5 a 40,2 MPa; sd= desvio padrão= 0,87 a 2,25 MPa;
- Pilares:
fc médio 28 dias = 33,8 a 44,2 MPa; sd= desvio padrão= 0,91 a 2,80 MPa;
- Travessa:
fc médio 28 dias = 36,8 a 41,0 MPa; sd= desvio padrão= 0,51 a 2,00 MPa;
- Laje:
fc médio 28 dias = 34,6 a 40,2 MPa; sd= desvio padrão= 0,91 a 2,80 MPa;
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- Placas:
fc médio 28 dias = 36,2 a 45,6 MPa; sd= desvio padrão= 1,05 a 1,96 MPa;
- Longarinas:
fc médio 28 dias = 32,5 a 42,5 MPa; sd= desvio padrão= 0,10 a 1,89 MPa.
Entretanto, o programa de estudo da previsibilidade da durabilidade da
estrutura da ponte, demandava avaliar algumas propriedades e fatores
inerentes aos elementos estruturais, e o trabalho foi realizado mediante a
adoção de técnicas de ensaios não destrutivos com ênfase a:
- Esclerometria Pendular: a dureza superficial de um concreto pode ser
associada com a resistência à compressão do mesmo, através do ensaio de
esclerometria pendular, tipo P, mediante a utilização do equipamento mostrado
na Figura 17. Os resultados são expressos em MPa;
Fig.17
Fig. 18
Fig. 19
Fig. 20
- Determinação do recobrimento e diâmetro das armaduras: mediante a
utilização do equipamento “Profometer”, fabricado pela Proceq (vide Fig. 18), é
possível avaliar o recobrimento real das armaduras, bem como o diâmetro,
com precisão de 0,1 mm;
- Determinação da velocidade de corrosão das armaduras: mediante a
utilização do equipamento “Canin”, fabricado pela Proceq (vide Fig. 19), foi
possível determinar os valores, sendo os mesmos expressos em µA/cm2;
- Avaliação da probabilidade de ocorrência de corrosão das armaduras:
através do equipamento “RESI”, fabricado pela Proceq, avaliou-se a
probabilidade de ocorrência, sendo o resultado expresso em “ kohm.cm “;
-
Fig. 21
Fig. 22
Fig. 23
- Determinação do fluxo de água passante sob pressão: através do
equipamento “GWT”, fabricado pela German Instruments (vide Fig. 20),
avaliou-se o fluxo de água passante, durante um periodo de 1 minuto e com
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pressão de 0,40 BAR“;
- Determinação da profundidade de carbonatação: mediante a extração de
uma amostra indeformada por extração mecânica (equipamento HILTI tal
como mostrado na Figura 21), e imediatamente submetido a impregnação por
solução de fenolftaleína, que sinaliza a real profundidade de carbonatação do
concreto existentes nas peças;
- Ensaios de ultrassonografia: através de equipamento “PUNDIT” fabricado
pela Elle International, foi possível avaliar a resistência à compressão e a
compacidade dos concretos existentes nas peças. Para tanto utilizou-se o
sistema indireto de ensaio, com transductores de 54 kHz e diâmetro de 50 mm
e separados de 300 mm. Nas Figuras 22 e 23 pode-se observar o aparelho
bem como os transductores durante um ensaio no pilar.
- Determinação dos índices de cloretos e sulfatos: das amostras extraídas
para ensaios de carbonatação foram submetidos a avaliação de penetração de
cloretos totais e sulfatos mediante difração de raios x.
O método aqui empregado para a avaliação de confiabilidade e previsão da
vida útil de estruturas de concreto baseia-se na aplicação da análise
probabilística partindo-se de modelos deterministas de profundidade de
carbonatação, penetração de cloretos e corrosão de armaduras. Nos modelos
os distintos parâmetros, tanto ambientais como de resistência, serão tratados
como variáveis aleatórias. É dado um tratamento estatístico aos modelos de
cálculo de esforços resistentes e das solicitações. Com as funções de
distribuição de resistência e de solicitação definidas para um tempo conhecido,
será determinada a probabilidade de falha.
Os dois critérios inicialmente considerados para a determinação da vida
útil são:
- a fissuração produzida pelos produtos de corrosão e,
- a perda da capacidade de resistência à flexão.
Como a aplicação do método se baseia em dados obtidos em ensaios "não
destrutivos", está sendo realizada uma inspeção detalhada em um grande
número de elementos. Com ela espera-se obter dados relativos a
carbonatação através de ensaios “in situ” com indicadores de pH no concreto;
ao recobrimento das armaduras; a contaminação por cloretos e intensidade de
corrosão das armaduras, sempre objetivando permitir o emprego dos modelos
matemáticos de deterioração. Da mesma forma é possível obter dados sobre a
geometria dos elementos e estimar a resistência do concreto.
Além dos dados mencionados, também estão sendo obtidos dados das
condicões ambientais tais como: umidade relativa; temperatura; concentração
de CO2 na atmosfera e concentração de cloretos na superfície do concreto.
No processo são considerados vários modelos para iniciação por
carbonatação e para contaminação por cloretos. Para a fase de propagação os
modelos consideram tanto a fissuração devido à corrosão quanto a perda de
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seção das armaduras. Em função do processo de deterioração, será adotado o
modelo matemático mais adequado para o caso. Como referência pode-se
tomar aquele cujo valor medido na inspeção (profundidade de carbonatação,
penetração de cloretos ou corrosão das armaduras) esteja mais próximo da
realidade. Utilizando o método de simulação de Monte Carlo é definida a
função de distribuição das três variáveis: carga distribuída (resistência), carga
permanente e sobrecarga no elemento. Empregando o método de
aproximação linear (FORM-first order reliability moment) é estimada a
probabilidade de falha em cada período que permitirá determinar a
confiabilidade estrutural do elemento analisado.
3 Modelos Matemáticos
Diversos modelos matemáticos foram desenvolvidos para representar os
processos de deterioração do concreto armado. Entre estes processos, os que
mais foram pesquisados com a finalidade de obter um modelo matemático,
são aqueles referentes à corrosão das armaduras, entre eles, a contaminação
por cloretos e a carbonatação do concreto. No relatório de atividades referente
aos meses de novembro/dezembro de 2000 foram apresentados dois modelos
para cada fenômeno: carbonatação e contaminação por cloretos em cada fase
(iniciação e propagação) considerados representativos do processo de
deterioração, com o intuito de exemplificar este tipo de procedimento.
Apesar de anteriormente o tema já tenha sido abordado por diversos autores,
cabe salientar a diferença entre o cálculo e a avaliação estrutural. No projeto
os valores adotados são os mínimos esperados na execução e contêm uma
série de hipóteses que se espera serem atendidas. Como fruto desta filosofia,
as estruturas são projetadas para resistirem às situações extremas com uma
certa segurança. No caso brasileiro, normalmente é empregada uma
confiabilidade relativa a uma probabilidade de falha de aproximadamente 10-6.
Na avaliação, o valor da probabilidade de falha é calculado em função das
condições reais da estrutura, obtida através de inspeção e das cargas que
realmente atuam sobre a mesma. Realizando a avaliação em determinados
períodos ao longo da vida da estrutura, pode-se obter os valores da
probabilidade de falha, sendo possível elaborar um gráfico da probabilidade de
falha em relação ao tempo da estrutura (Figura 24). Mediante a curva obtida
pode-se estimar a vida útil da estrutura adotando-se um valor aceitável para a
probabilidade de falha.
4 Exemplo e Análise Geral
Como comentado anteriormente, os procedimentos envolvendo a inspeção,
monitoramento e avaliação foram realizados em um grande número de
elementos da ponte. Para ilustrar o trabalho realizado, será apresentado o
estudo feito para uma das longarinas do lado norte da ponte. Na Tabela 2 são
apresentados os principais dados utilizados na avaliação.
A partir dos dados apresentados na Tabela 2 e da aplicação do método
descrito foram elaborados os gráficos de probabilidade x tempo para a flexão e
para a fissuração, conforme se apresenta nas Figuras 24 e 25.
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PROBABILIDADE DE FALHA
Na curva apresentada na Figura 24 pode-se notar a existência de dois ramos.
O primeiro, a partir do início, no qual a probabilidade de falha cresce
rapidamente devido ao aumento previsto para o tráfego. Este período vai de
1985 até 2020. No início desde período, podemos notar que a viga já estava
executada mas ainda não havia tráfego, portanto a probabilidade de falha é
muito pequena. O segundo ramo representa o período no qual a capacidade
de tráfego da ponte está no limite, a deterioração cresce suavemente e não
afeta substancialmente a viga. Posteriormente, a curva apresenta uma
inclinação mais acentuada. Isto se deve à ação dos agentes agressivos que já
estão atuando na viga.
1.0E-4
1.0E-5
1.0E-6
1.0E-7
1.0E-8
1.0E-9
1.0E-10
1.0E-11
0
25
50
75
100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400
TEMPO (0 = 1980)
Fig. 24 – Gráfico de probabilidade de falha à flexão × tempo (caso 1)
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Tabela 2 – Dados obtidos para uma longarina (N21 e N20)
REFERÊNCIA
GEOMETRIA
DA
VIGA
(cm)
GEOMETRIA
DA
LAJE
(cm)
COBRIMENTO
N21/N20 (cm)
COBRIMENTO
N20/N19 (cm)
RESISTÊNCIA
DO
CONCRETO
(MPa)
AÇO
(MPa)
CONDIÇÕES
AMBIENTAIS
NOME DA
VARIÁVEL
NÚMERO DE
AMOSTRAS
MÉDIA
DESVIO
PADRÃO
hviga
projeto
215,0
1,0 (estimado)
binf (N21/N20)
binf (N20/N19)
bsup
hbinf (N21/N20)
hbinf (N20/N19)
hbsup (N21/N20)
hbsup (N20/N19)
hmisus
hmisui
bsupav (N21/N20)
bsupav (N20/N19)
vão
bmesa
entvig
espessura
pavimento
placa inferior
largura
4
4
projeto
projeto
projeto
Projeto
projeto
projeto
projeto
projeto
projeto
projeto
cálculo
projeto
projeto
projeto
projeto
projeto
76,3
76,6
130,0
20,0
20,0
13,0
13,0
12,0
25,00
20,0
20,0
3828,0
292,0
305,0
17,0
7,0
4,0
2530,0
0,1
0,2
1,0 (estimado)
0,5 (estimado)
0,5 (estimado)
0,5 (estimado)
0,5 (estimado)
0,5 (estimado)
0,5 (estimado)
2,0 (estimado)
2,0 (estimado)
10,0(estimado)
5,0 (estimado)
5,0 (estimado)
2,0 (estimado)
5,0 (estimado)
0,4 (estimado)
10,0 (estimado)
cob (L4) lat - inf
8
4
54,6
33,0
12,9
6,7
cob (L4) lat - inf
cob (L6) lat - inf
4
4
2
2
64,0
56,5
50,5
55,0
3,3
8,2
9,2
2,8
cob (L7) lat - inf
4
2
53,8
56,5
7,4
4,9
fcviga (N21/N20)
ultrasonografia
40,4
5,7
fcviga (N20/N19)
ultrasonografia
35,6
6,4
fclaje
fyarm
fyprot
Eyarm
Eyprot
UR(%)
T (ºC)
concat (mg/m3)
relat. controle
relat. controle
relat. controle
relat. controle
relat. controle
CST(83 a 99)
CST(82 a 99)
SEAMA
34,6
538,0
1719,5
200000,0
180000,0
77,1
24,2
501,7
2,8
49,5
64,8
10000,0
10000,0
17,1
3,51
455,1
PROBABILIDADE
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1.0E-1
1.0E-2
1.0E-3
1.0E-4
1.0E-5
1.0E-6
1.0E-7
1.0E-8
1.0E-9
1.0E-10
1.0E-11
0
10
20
30
40
50
60
70
80
TEMPO (0 = 1980)
Fig. 25 – Gráfico de probabilidade de fissuração × tempo
Através dos dados obtidos na avaliação, pode-se concluir que a capacidade
resistente da viga é superior ao projetado. No início de operação, estima-se
que a probabilidade de falha era de 10-10. Considerando uma probabilidade de
falha de 10-6, o tempo estimado para a viga atingir esta probabilidade é de 258
anos. A probabilidade de falha somente atingirá maiores valores após um
longo período. Considerando que os fenômenos de carbonatação e penetração
de cloretos continuem acontecendo nos padrões atuais, o tempo estimado
para a despassivação das armaduras é de 66 anos.
Considerando o aspecto da fissuração devido a produtos de corrosão, pode-se
notar no gráfico da Figura 25 que, para uma probabilidade de 10-4 para a
fissuração ocorrer, o tempo estimado é de 40 anos. Para uma probabilidade de
10-3, o tempo estimado é de 52 anos, ou seja, com uma proteção superficial
esta possibilidade pode ser retardada satisfatoriamente.
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5 Conclusões
É possível concluir que, a adoção da metodologia de trabalho indicada neste
trabalho, proporcionou avaliar e analisar a previsibilidade de durabilidade e
vida útil de uma estrutura de concreto, mediante a adoção de modelos
matemáticos e dos conceitos e mecanismos de deterioração das estruturas de
concreto armado, e a partir desse estudo planejar as medidas corretivas e
preventivas a serem tomadas pela empresa concessionária.
Numa próxima oportunidade serão apresentados novos dados inerentes ao
acompanhamento das peças de concreto que compõem a 3ª ponte Vila
Velha/Vitória, bem como de uma análise crítica do processo.
Nossos agradecimentos à empresa Rodosol- Rodovia do Sol, pelo apoio e
incentivo para a realização deste trabalho.
Referências
COUTINHO, S. , Fabrico e Propriedades do Betão, Publicações LNEC, Vol.
1,2 and 3 Portugal,1995.
SOUZA, R.DE ,Qualidade na Aquisição de Materiais e Execução de Obras,
Editora Pini.
AGUIAR, J.E., Recuperação de Estruturas e Pisos de Concreto,Apostila do
MBT
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Trabalho - Recuperação Patologia e durabilidade das Construções