exposição com mais de 300 obras reconta a história da capital desde 1751
Ano XIV • nº 238
Abril de 2015
R$ 5,90
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Com traços ousados, autênticos e criativos, ela inspira quem a vê em um
único olhar. Sabe ser monumental sem perder sua leveza. Simples, porém
complexa. Essa é a nossa cidade.
Todos os dias no CRU você pode conhecer
a gastronomia criativa do chef Lui Veronese
e aproveitar dos deliciosos menus.
PASSEIO
PASSEIO
Criativo
Completo
4 etapas
6 etapas
79,00
129,00
empoucaspalavras
Mario Fontenelle
Foi ou não foi uma sacada de mestre pedir ao presidente
Juscelino Kubitschek que erguesse sua cartola como quem
estivesse se despedindo da cidade que construiu, bem no dia
de sua inauguração? O gesto, prontamente executado por JK,
rendeu ao jovem fotógrafo Gervásio Baptista uma das fotos
históricas que o agora veterano de 90 anos acumula em seu
portfólio, construído ao longo de sete décadas.
Pois não só Gervásio, como também Vladimir Carvalho e
Nicolas Behr foram as figuras carimbadas de nossa cidade que
escolhemos para homenagear neste 55º aniversário de Brasília.
Apesar de não terem nascido aqui, os três figuram entre os
melhores cronistas da cidade que escolheram para morar e amar,
cada um com sua ferramenta de trabalho: a fotografia, o cinema
e a poesia (leia a partir de página18).
Na sequência, o leitor encontrará informações sobre a
exposição Brasília 55 anos – da utopia à capital, que já passou
por seis países, foi vista por mais de 250 mil pessoas e estará
na Galeria Athos Bulcão entre 24 de abril e 31 de maio. Com
um acervo de mais de 300 itens, entre maquetes, livros, obras de
arte e projetos arquitetônicos, a exposição faz uma retrospectiva
da saga da construção de Brasília, desde o longínquo 1.751,
quando o Marquês de Pombal cogitou mudar a capital para
o centro do país, até os dias de hoje (página 26).
Recomendamos uma visita a outra exposição, Memórias
femininas da construção de Brasília, que conta a história de 50
mulheres que chegaram por aqui entre 1956 e 1960 e relataram
suas experiências à brasiliense Tânia Fontenele. Móveis de casas,
escritórios e hospitais, utensílios domésticos, livros e revistas
ambientam o espectador nessa volta ao túnel do tempo, até 30
de maio no Salão Negro do Congresso Nacional (página 28).
Na programação de aniversário da cidade está também a peça
Os fantasmas, com texto do dramaturgo paulista Otávio Martins
escrito especialmente para Murilo Grossi, o ator brasiliense que
alçou voo para palcos além-Brasília, mas nunca deixou de morar
aqui. Com direção de outro brasiliense de coração, Hugo Rodas,
a peça, que estreia nacionalmente no CCBB de Brasília, dia 17 de
maio, faz uma homenagem ao ofício do ator a partir da reflexão
sobre o que é realidade e o que é representação da realidade no
palco (página 34).
18 brasília55
Exposição na Galeria Athos Bulcão reconta a história da
criação de Brasília desde o Marquês de Pombal, em 1751.
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águanaboca
picadinho
garfadas&goles
pão&vinho
doisespressoseaconta
dia&noite
galeriadearte
graves&agudos
queespetáculo
Boa leitura e até maio.
Maria Teresa Fernandes
Editora
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020
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Sá, Vilany Kehrle | Fotografia Eduardo Oliveira, Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Marx Farias, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360
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águanaboca
Renasce uma cantina
Com novo nome, mas o mesmo chef, a Fortunello substitui a Sanfelice na 206 Sul
Por Maria Teresa Fernandes
N
ada mais natural que o jovem
chef venezuelano Miguel Ojeda,
que trabalhou na Sanfelice desde o começo, recebesse das mãos de Míriam Carvalho o bastão da cantina italiana, rebatizada agora de Fortunello. Mas
a mudança de mãos só foi possível com a
entrada de duas novas sócias do chef: a
jornalista Márcia Barbosa e a técnica em
informática Luciene Kaipper.
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Picanha in salso di pesto: receita ítalo-brasileira
Com o brilho nos olhos de quem
tem talento e crê no novo projeto, Miguel diz que vai continuar trabalhando
com as massas artesanais Sanfelice, produzidas na loja de Míriam Carvalho, na
Asa Norte, e manterá também o bufê de
frios e antepastos que caiu no gosto dos
brasilienses.
E quais serão as novidades? – perguntam os clientes a Miguel. “Criei, para a
Fortunello, um cardápio amplo e variado,
que inclui filé, ave, pescado e frutos do
mar”, explica. Para abrir o apetite, ele recomenda as bruschettas em três sabores: de
tomates e manjericão (R$ 17, porção com
duas, e R$ 28, com quatro), de presunto
de Parma e mussarela de búfala ( R$ 28 e
R$ 38) e de linguiça calabresa defumada
com queijo gratinado (R$ 23 e R$ 35).
A polenta, presença constante nas típicas casas italianas, ganhou versão nova
e mais saudável. De acordo com a sócia
Luciene Kaipper, a única parte da casa
que decidiram reformar foi a cozinha. A
reforma incluiu a compra de um forno
combinado que concretizou um sonho
do chef Miguel: eliminar as frituras de
sua cozinha. O teste crucial para a com-
pra do equipamento foi, justamente, a
polenta assada no forno combinado, que
é só borrifada com um pouco de azeite,
para obter brilho, mas sai sequinha e crocante (R$ 14 a porção com sete).
Entre os pratos principais, continuam
reinando o polpetone (almôndega de 350g
recheada com mussarela, gratinada com
molho de tomate e mussarela e servida
com risoto parmegiano, a R$ 57) e o tagliatelle ao sugo com almôndegas (R$ 52
a porção de 100g e R$ 82 a de 200g).
Eles se somam às novas criações do chef
venezuelano, como o nhoque à carbonara (R$ 37 a porção individual) e o fettuccine com camarões (R$ 75, individual,
ou R$ 133, a porção dupla).
Para os amantes da carne, o chef indica os tradicionais saltimboca alla romana
(filé mignon recheado com presunto cru,
parmesão e sálvia, grelhado e flambado
no vinho branco) e filetto alla parmegiana (250g de filé empanado, gratinado
com molho de tomate e mussarela,
acompanhado de risoto piamontese),
ambos por R$ 62. A novidade do menu,
nesse quesito, é a picanha in salsa di pesto, uma bela mistura das culinárias brasi-
Nhoque à carbonara: uma das novas criações do chef
leira e italiana (300g de bife de tira de picanha ao molho pesto com batatas perfumadas e cebolas, a R$ 80).
As sobremesas típicas da Sanfelice
também permanecem na Fortunello: o
tradicional tiramisú (R$ 25), a panna
cotta, o semifredo mousse e o canolli recheado com maçã e canela (os três últimos por R$ 22). Todas elas são de autoria da chef pâtissier Patrícia Kaipper, filha de Luciene, que assume a parte de
confeitaria da casa.
Os pratos, em sua maioria, continuam tendo versões individual e dupla,
para atender a todas as necessidades das
famílias que frequentam as típicas cantinas italianas.
Tanti auguri, Fortunello!
Talharim com cogumelos
Vida que segue
“O
206 Sul – Bloco A (3297.3232). Domingo, das
12 às 18h; 2ª feira, das 12 às 16h; 3ª a
sábado, das 12 às 16h e das 19 às 24h.
Fotos: Divulgação
Bruschetta de presunto de Parma e mussarela de búfala
que já era C’est si Bon ficou ainda melhor”. A brincadeira do músico e cliente
assíduo Túlio Borges, que mora nas proximidades da 408 Sul, é um forte indício
do que esperar do C’est la Vie, novo empreendimento de Ricardo e Rodrigo
Quintiliano, inaugurado em fevereiro no
mesmo local onde eles tinham, em sociedade com o irmão e tio Sérgio Quintiliano, a creperia C’est si Bon.
A partir do conceito “é a vida”, pai e
filho repensaram o local em termos de
espaço, filosofia de atendimento e serviços. O mote é que, além da experiência
gastronômica, o público relaxe e aproveite cada momento de prazer proporcionado pelo agradável ambiente, que incentiva a convivência e a interação entre familiares e amigos. “A ideia é agregar cultura
e qualidade de vida à gastronomia e trazer para o bistrô shows, rodas de conversa, palestras, mostras de filmes e exposições”, revela Rodrigo Quintiliano.
O C’est la Vie é, antes de mais nada,
um empreendimento familiar, resultado
de 20 anos de experiência da família
Quintiliano no ramo gastronômico (Sérgio segue tocando o C’est si Bon da Asa
Norte e Madalena as duas unidades do
Crêpe au Chocolat). Mas pretende surpreender o público com um cardápio va-
C’est la Vie – Bistrô & Creperia
408 Sul – Bloco A (3244.6353).
De domingo a 5ª feira, das 11h30 às 24h;
6ª e sábado, das 11h30 à 1h.
Fotos: Raquel Pellicano
Fortunello Ristorante
Semifredo mousse com ganache de chocolates
riado, que vai além de crepes que se tornaram uma tradição da família. Entre as
novidades, um risoto preparado com
mescla de rapadura, queijo coalho e ervilhas frescas, acompanhado de peito de
frango gratinado ao molho de sementes
de abóbora (R$ 30,80). Há também pratos com carne vermelha, massas e peixes
(preços entre R$ 29 e R$ 39).
Para o futuro, os proprietários prometem serviços especiais, como piqueniques
na área verde, um bicicletário para incentivar o uso de meios alternativos de transporte e uma pequena horta com a participação da clientela. São propostas inovadoras que vale a pena conhecer e que caminham no rumo das novas tendências.
Por Vicente Sá
Galette Ratatouille
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águanaboca
Jabá no feijão com abacaxi, do Restaurante Nordestino
Joelho de porco com geleia de abacaxi picante, do Bar do Amigão
Porpetas do Silveira, do Armazém Silveira
Fotos: Divulgaação
Codorna com limão, do Bar da Codorna
Divertida competição
Por Beth Almeida
Q
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uinze anos depois de sua criação, em 2000, o concurso Comida di Buteco chega a Brasília
envolvendo 20 bares tidos como “espontâneos” pelos organizadores. O evento
surgiu na capital mineira e, após uma
ampliação paulatina, hoje está presente
em 20 cidades, com a participação de
500 estabelecimentos. Em Brasília, os
participantes do concurso não estão restritos ao Plano Piloto, localizando-se
também em Taguatinga, Águas Claras,
Guará, Núcleo Bandeirante e Gama.
Até o dia 3 de maio, os brasilienses
poderão conhecer os petiscos criados pelas casas locais e atribuir notas aos concorrentes, avaliando não só o que comeram, mas também a temperatura da bebida (algo importante quando o assunto é
boteco), o atendimento e a higiene do local. O público será responsável por metade da pontuação de cada bar, cabendo a
um júri escolhido pelos organizadores o
restante da avaliação.
Como em todas as cidades participantes, os botequeiros locais foram desafiados a criar tira-gostos que contenham alguma fruta entre seus ingredientes. A
maioria optou pelo uso das cítricas, especialmente em molhos, mas outros foram
além e oferecem combinações como a
Porpeta do Silveira, recheada com banana frita, do Armazém do Silveira, ou o Jabá no feijão com abacaxi, do Restaurante
Nordestino, do Núcleo Bandeirante.
Os organizadores da competição classificam como espontâneos os bares em
que o proprietário está à frente do negócio (leia-se, diariamente atrás do balcão)
e que, por isso, têm a cara do dono, que
na maioria as vezes conta com a família
para ajudar na lida. Os bares escolhidos
também não podem fazer parte de redes
ou serem franquias de marcas. O nome
do dono estar na placa e o garçom conhecer os frequentadores pelos nomes
também ajudam na seleção da casa.
Seguindo esses critérios, os organizadores verificaram in loco as indicações
vindas do site do concurso, de redes sociais, de matérias publicadas pela imprensa e também de pesquisa realizada
pela equipe. Entre os escolhidos para esta primeira edição, velhos conhecidos
dos brasilienses, como o Amigão, o Bar
dos Cunhados e o Bar da Codorna. A lista completa dos participantes, com os petiscos do certame, estão disponíveis no
site www.comidadibuteco.com.br.
E para facilitar a vida dos botequeiros, o Comida di Buteco ainda fechou
parceria com o aplicativo 99 Táxi, para
oferecer 10% de desconto nas corridas
de ida e volta durante todo o período do
concurso. Se alguém ainda precisava de
uma desculpa, taí.
Comida di Buteco
Até 3/5 em 20 botecos do Distrito Federal.
Informações: www.comidadibuteco.com.br.
Moderno sem perder a tradição
Por Luiz Recena
U
Medalhão ao molho madeira com bacon, acompanhado de risoto de alho-poró e parmesão
Fotos: Gustavo Gracindo
ma asa tem as mesmas coisas
que a outra. E sul e norte, cada
uma, tem suas coisas diferentes.
No fim, como em uma canção cubana,
tudo “es lo mismo, pero no es igual”. Parecido e diferente, dialética sem síntese.
Vai demorar para Brasília se criar por inteiro, se é que vai ocorrer um dia. Enquanto isso, um PF, um prato feito, faz a
diferença. Um menu gourmet ou light
também. E se tudo for saboroso e rápido, mas sem correria, ainda melhor, mesmo com outras opções em variados pontos do plano piloto.
Jorjão era Asa Norte. Jorjão era Asa
Sul. Hoje é uma estrela no firmamento celeste. Denise, Maria Paula, Lucas, Leonardo e Mauro são estrelas na terra, com uma
tradição a manter. É o que estão fazendo
no almoço do Armazém do Ferreira, da
202 Norte. Eis a novidade e a diferença.
De terça a quinta, menu do dia, cardápio
especial. Na sexta e no sábado, a tradicional e famosa feijoada encerra a escalação
da semana.
No menu do dia, são duas opções de
salada e três de prato principal (R$
34,90). No menu de todo dia, o PF é autoexplicável: “Como em todo bom boteco, não podíamos deixar de ter um delicioso PF em nosso cardápio. Escolha o
grelhado de sua preferência”, diz a apresentação. Se boteco é um templo, tradição deve ser sagrada.
No primeiro caso, nossas evidências
apontaram para uma salada Waldorf,
com maçã, passas, aipo e nozes sobre mix
de folhas, seguida de contrafilé ao molho
malbec, batatas assadas com sal grosso e
alecrim e arroz primavera. Madame pediu nhoque. Com molho ao sugo, alho,
manjericão e queijo parmesão. Simples
assim, com cara e gosto de chamar atenção. No segundo grupo, cinco PFs. Variados, bovino, suíno (linguiça e bistequinha), frango e peixe, com acompanhamentos (R$ 29,90). Há opções de sobremesas. A cada 15 dias, novas sugestões no cardápio.
Setor Comercial, Setor Hospitalar,
Setor de Autarquias, Setor Bancário, Se-
PF de contra-filé acompanhado de arroz, batatas fritas, farofa da casa e potinho de feijão
tor de setores e pessoas. Tudo Sul. Asa
completa, comerciais com restaurantes
cerrando fileiras como um exército desfilando nas ruas, soldados ombro a ombro, cotovelo a cotovelo, comida quilo a
quilo, bufês e balanças tudo-incluso-peso-preço se esparramando e apertando
raras ilhas de comer à moda antiga. Ela,
a moda antiga, perdeu. A Asa Norte começa a ser completada, com tudo o que
tem direito. Mas pode errar menos. Já
tem prédios inteligentes para sediar autarquias não tanto... Os bancos são novos e os juros, velhos e exorbitantes. O
comércio de alimentação acompanha e
oferece novas, interessantes propostas.
O desafio: modernizar sem perder
muito tempo jamais. Tradição com novidade e tempo certo para o consumo. Em
40 minutos, se quiser, você pode comer,
pagar e ir embora. Se quiser passar mais
tempo, a decisão é sua. Afinal, a tradição
do boteco está mantida. O almoço é a
boa novidade.
Armazém do Ferreira
202 Norte – Bloco A (3327.0167)
De 2ª a 5ª feira, das 12 às 15 e das 17h até o
último cliente; 6ª e sábado, das 12h até o
último cliente.
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Brasil Sabor
Bloco C, tel. 3349.0567) buscou inspiração
para o novo prato de seu cardápio: esse carré
de cordeiro com risoto de pêra (R$ 79,90),
típico da culinária do Vêneto. A proprietária,
Fernanda Bigonha, promete para os próximos
meses outras receitas ítalo-nordestinas.
Pizza Ravena?
Felipe Menezes
Uma centena de bares e restaurantes brasilienses já confirmaram sua participação no
10º Festival Brasil Sabor, de 14 a 31 de maio.
“Há dez anos invadindo as ruas e celebrando
o Brasil” foi o tema escolhido para esta edição
do festival, que é promovido anualmente pela
Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel). Os menus, compostos de prato
principal mais entrada ou sobremesa, vão
custar R$ 29, R$ 39 ou R$ 49. No país inteiro
serão aproximadamente 700 participantes de
65 cidades. Em Brasília, as receitas deverão
valorizar ingredientes típicos do Cerrado,
no intuito de estimular pequenos produtores
locais. “A ideia é promover a gastronomia local
e socializar o acesso a toda a comunidade,
com atividades de lazer e entretenimento”,
explica Rodrigo Freire, presidente da AbraselDF. Simultaneamente será realizada, no amplo
espaço da Torre de TV, a Feira Gastronômica
Brasil Sabor, na qual produtos típicos do
Cerrado serão vendidos diretamente pelos
produtores.
Massa integral
Quem também aderiu de vez à alimentação
saudável foi a Fratello Uno (103 Sul, Bloco A,
tel. 3321.3213, e 109 Norte, Bloco D, tel.
3447.3360), cujos clientes podem optar agora
pelas pizzas de massa integral, bem sequinhas
e crocantes. O chef Dudu Camargo garante
que recheios mais leves, doces ou salgados,
combinam muito bem com esse tipo de
massa, feita com farinha integral italiana:
“Os ingredientes frescos, como manjericão e
alcachofra, têm um sabor bem mais acentuado
com a massa integral. Engana-se quem acha
que, por ser mais natural, a pizza perde o
sabor. Ao contrário, os recheios podem ser
bem degustados e pode-se sentir o sabor
de cada item que compõe a pizza”. Uma das
estrelas do cardápio é a pizza Da Flor (foto),
que leva pomodori pelati, coração e fundo
de alcachofra refogada com ervas frescas,
alho e vinho branco, queijo ementhal e lascas
de presunto de Parma (R$ 43,90 a individual,
R$ 50,90 a média e R$ 57,90 a grande).
Divulgação
Felipe Menezes
picadinho
Very happy hour
O belo pôr do sol é de graça. Como se não
bastasse, o Café Antiquário, do Pontão do
Lago Sul (tel. 3248.7755), resolveu tornar
ainda mais atrativa sua happy hour, baixando
os preços de bebidas e tira-gostos. Agora,
a tapioquinha gratinada com grana padano
custa R$ 14,90; os pastéis de carne ou queijo
minas, dez unidades por R$ 19,90; o pastel
de camarão, dez unidades por R$ 24,90;
o balde com cinco cervejas Heineken, R$ 25;
as caipiroska com Smirnoff de limão ou
abacaxi, R$ 9,90; de morango, kiwi, lichia
e lima da pérsia, R$ 12,90.
Nordestino italiano
O baião-de-dois, o escondidinho, o vatapá
e tantos outros pratos típicos do nordeste
brasileiro figuram, com certeza, entre as
preferências nacionais. Mas foi no nordeste
da Itália que o Bazzo Ristorante (413 Norte,
Isso mesmo. A famosa dieta do Dr. Máximo
Ravena acaba de ser adotada por uma das
mais tradicionais pizzarias da cidade, a Santa
Pizza (207 Sul, Bloco B, tel. 3244.1415).
“Criamos um cardápio com ingredientes de
baixo índice glicêmico, parte de uma dieta
hipocalórica. Nele, todas as pizzas são
produzidas com farinha de chia”, explica a
proprietária, Fernanda Neiva. Os adeptos da
dieta podem pedir pizzas individuais, entradas
e sobremesas. Entre as individuais estão a
vegetariana, com abobrinha, berinjela, tomate
e basílico (R$ 27,80), a de tomate seco e
rúcula (R$ 30,20), a de alcachofra com alichi
e basílico (R$ 35,70) e a de berinjela assada
na brasa, com tomate picado e orégano fresco
(R$ 29,20). Para a entrada, as opções são
os caldos de berinjela e pupunha na lenha
(ambos por R$ 8,60) e para a sobremesa
frutas (R$ 5,40) e pizza de banana (R$ 12).
Menu de R$ 55
Empata com a idade Brasília o preço do menu
especial servido este mês, em homenagem
ao aniversário da cidade, pelo BSB Grill (304
Divulgação
Muita gente que viaja de carro de Brasília para São Paulo faz questão de
uma parada estratégica em Ribeirão Preto, por um único motivo: tomar
um chope gelado no Pinguim. Pois não há mais necessidade: desde o dia
20 de março, temos uma filial da famosa choperia no Espaço Gourmet do
ParkShopping, ocupando os 400 m² onde funcionou, até o ano passado,
o Antiquarius Grill. O chope Antárctica, encontrado em raríssimos bares
do país, é servido na tulipa (R$ 7,20) ou na caneca (R$ 7,70), em suas
inúmeras versões – claro, escuro e misturas dos dois. Para acompanhar
o chope, sanduíches, pizzas, grelhados e tábuas de frios. Fundada em
1936, a Pinguim passa a contar agora com cinco unidades – além dessa,
três em Ribeirão Preto e uma em Belo Horizonte.
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Divulgação
Pinguim
Norte, Bloco B, tel. 3326.0976, e 413 Sul,
Bloco D, tel. 3326.0976). De entrada, salada
Juliana (alface americana, cenoura ralada,
palmito picado, tomate, cebola, queijo
parmesão e molho à base de maionese e
mostarda). Em seguida, esse suculento T-Bone
de 500 gramas acompanhado de arroz com
brócolis, batata frita e farofa de ovos.
Boa Lembrança
Felipe Menezes
Davi Fernandes de Freitas
Thomas
Em mais uma jornada gastronômica
memorável, na noite de 24 de março, três
restaurantes brasilienses, mais o Montserrat,
de Pirenópolis, apresentaram à imprensa
especializada sua versão 2015 do Prato
da Boa Lembrança.
Dom Francisco (402 Sul, Bloco B, tel.
3224.1634): Bacalhau no Cartoccio – lombo
de bacalhau envolto em papel manteiga,
acompanhado de brócolis e batatas (R$ 135).
Oliver (Clube de Golfe, SCES, tel. 3323.5961):
Carré Machu Picchu – corte francês de
cordeiro ao molho de alecrim, servido
com risoto de quinoa, milho e batata
doce, ingredientes típicos da gastronomia
peruana (R$ 96).
Villa Tevere, o anfitrião da noite (115 Sul,
Bloco A, tel. 3345.5513): Filleto del Capo –
filé mignon com crosta cremosa de gorgonzola e azeite trufado, acompanhado de
gnocchi com cappuccino de cogumelos
selvagens e gruyère (R$ 93,50).
Montserrat (Rua Ramalhuda, 11, Pirenópolis, tel. 9240.0935): Bacalhau ao Pil Pil com
três pestos – tradicional receita do pescado,
servida com uma emulsão de azeite banhado
com o molho italiano (preço não definido)
Ainda vai lançar seu prato deste ano o Kojima
(406 Sul, Bloco C, tel. 3443.0118).
Recheios especiais
Divulgação
Rede especializada em rolinhos primavera, a
SpringNow (105 Sul, Bloco C, tel. 3242.4068)
ainda não completou um ano em Brasília mas
fez questão de entrar no clima de aniversário.
Como? Convidando cinco chefs brasilienses
para criar novos recheios de rolinhos que
retratassem a diversidade gastronômica da
capital – Lídia Nasser, do Empório Árabe, David
Lechtig, do El Paso Cocina Mexicana, Alexandre
Albanese, do Nossa Cozinha Bistrô, Renata
Carvalho, do Loca Como Tu Madre e Ancho
Bistrô de Fogo, e Mara Alcamim, do Universal
Diner, todos reunidos na foto abaixo. Alguns
dos novos recheios levam ingredientes típicos
do cerrado, como a castanha de baru e a
cagaita. Os cinco rolinhos comemorativos
custarão R$ 7,90 a unidade.
Felipe Menezes
Só para elas
Além de curtir o clima praiano, bem descontraído, e a bela vista da cidade, as frequentadoras
do Liv Lounge (SHTN, Trecho 2, Condomínio
Life Resort, tel.
3526.9921) têm um
motivo a mais para
relaxar na happy hour
de terça a sexta-feira:
dose dupla de
espumantes e drinks,
entre eles o Mojito
Royal (R$ 22),
o Cosmopolitan
Diego Koppe
Criatividade
Atendem pelos nomes de “passeio criativo”
e “passeio completo” os dois novos menus
criados pelo chef Lui Veronese, do restaurante
Cru (Clube de Golfe, tel. 3323.5961), em que
faz uma releitura da cozinha peruana-japonesa. O primeiro, mais leve, é servido em quatro
etapas: ostras, carpaccio, tartar e ceviches e
tiraditos. Custa R$ 79. O segundo tem duas
etapas a mais: pratos quentes (entre eles o
Blac Cod, peixe da alta gastronomia vindo
das águas profundas do Alasca, servido
com bolo desidratado de shoyu, e o sashimi
quente de Wagyu da foto abaixo) e sobremesas (carpaccio de abacaxi infusionado com
crumble e creme de limão, caviar de morangos,
flores de lichia com calda de rosas, gelatina de
hibisco, creme de chantilly e sorbet de limão).
Esse custa R$ 129.
Tem almoço no Babel
Raphael Vieira
Rener Oliveira
Champanhe (R$ 24) e as caipifrutas de
morango, uva, kiwi e abacaxi, com cachaça
(R$ 16), vodka nacional (R$ 18), vodka
importada (R$ 22) ou saquê (R$ 18).
Bacalhau cozido no sous-vide com molho de
pesto acompanhado de legumes no vapor
(R$ 42,90), cubos de filé acebolado servidos
com arroz branco, feijão e farofa (R$ 38,90)
e frango cozido a baixa temperatura com
ervas e legumes na manteiga (R$ 32,90) são
alguns dos pratos do menu executivo do Babel
(215 Sul, Bloco A, tel. 3345.6043), que desde
23 de março funciona também no almoço.
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GARFADAS & GOLES
Luiz Recena
[email protected]
Tristes memórias de gostos bons
- Agnus Dei qui tolli pecata mundi! (Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo!)
- Ora pro nobis! (Orai – e rogai – por nós!)
A ladainha seguia sempre puxada pelo padre. A nós, sacristão, coroinhas, beatas e fiéis de todos os calibres, cabia
responder no maior capricho possível, afinal, se o latim perdera a importância nos países que cultivavam as flores do Lácio,
pelo menos ainda reinava absoluto na liturgia católica. O santo João 23 não revolucionara os currais dos seus rebanhos.
O Concílio Vaticano Segundo e a missa nos idiomas de cada país só viriam depois. Os Kiries e Kristies ainda eram absolutos
“ad altare Dei”. E nos altares de Deus, diga-se a bem da verdade, já não se sacrificavam cordeirinhos. Isso cabia a nós,
pecadores, agora recém-redimidos de nossas falhas pela ressurreição do Cristo. O domingo era nosso e os cordeiros também.
O melhor era o “mamão”, mais novinho, ainda cheirando a filhote, a leite. Tenro, se desmanchando na boca e provocando
inevitável comparação religiosa: uma “hóstia”. As beatas se persignavam. E pediam mais uma costelinha...
Das sacristias às cozinhas
As missas pascais corriam soltas na igrejinha perto da ponte
sobre o Rio Uruguai. Não menos frenético era o ritmo
nas cozinhas das casas do final da Rua Duque de Caxias.
A “baixada” era famosa, cantada pelos seus sabores, elogiada
pela qualidade de sua gente e às vezes temida pelo, digamos,
carinhoso linguajar com que seus moradores brindavam
os que provocavam ou ofendiam os nativos. “Do peito
pra baixo é canela”, ensinava um veterano zagueiro da rua.
O parâmetro servia para tudo.
Pascoalinas e doces
A torta pascoalina, campeã absoluta: massa folhada fina, com
recheio básico de arroz, acelga e ovo cozido, com permissão
para algumas variações como miolos bovinos e outras iguarias
transportadas de antigos fins de tempos europeus para novos
fins de tempos e de mundos, em outras bandas de rios e mares
oceanos. Permissão para doces? Concedida com louvor! O açúcar
ainda não era o vilão e as galinhas eram estranhos seres que
viviam por perto, comiam bem e botavam ovos. Algumas
tinham até nomes e provocavam rios de lágrimas quando
descobertas nas panelas, viradas em comida. As vacas davam
leite gordo e tudo isso dava bolo, torta, ambrosia, pastéis,
doce de leite. E ainda falta a lista do que se podia comprar,
dependendo das oscilações da moeda. Peso versus cruzeiro,
êta parada dura! Só a batatada (marrom glacê), a compota
de pêssego e os alfajores eram obrigatórios. Ufa! Memória
alongada de pura saudade.
Até o berro aproveitado
Azáfama gastronômica dominada pelas carnes, ovinas de
preferência. Espaço também havia para os grandes peixes
de rio (surubim, dourado, traíra, piava, patí etc) e o clássico
bacalhau carregado de tradições e receitas lusitanas. Massas
para agradar italianos que atravessaram o Rio da Prata para
enfrentar e acalmar nostalgias amorosas e/ou revolucionárias
na solidão pampeana. Mas quem mandava era o cordeiro:
carne para comer, sangue para guisar, ossos para as tropinhas
de brincadeira, pelegos para o frio. E até o berro, ou balido,
diziam, era guardado em vidros que seriam abertos nas noites
frias para assustar e acalmar a gurizada “maleva”.
Então é isso
Não dá mais para tudo, mas o cordeiro foi homenageado.
Aleluia! Cada páscoa é saudade mais velha, detalhe de sabor
esquecido, trago amargo e vigiado. Gostos ficam na memória
e não se repetem. Só doem. Ajuda a passar o tempo, essa
ampulheta virada que lembra nomes de fantasmas, sopra
as brasas das sombras do passado. E reaviva o gosto doce
de pratos e beijos imaginários.
Massagem fisioterápica
e linfática, tratamento
complementar de celulite
e obesidade. Técnica
japonesa.
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Mariinha, profissional
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PÃO & VINHO
ALEXANDRE FRANCO
pao&[email protected]
Cores e aromas da Provence
Mais uma vez “em campo”, diretamente do coração da
Provence, volto ao leitor para lhe trazer um pouco do que por
aqui vi e provei. A região, para quem não conhece, é linda, no
sudeste da França, incorporando uma área que se inicia ao sul
do Rhône, próximo a Avignon, onde me encontro hospedado,
e a famosa Chateauneuf-du-Pape, logo aqui ao lado, até áreas
fronteiriças com a Itália, onde a Riviera francesa e a italiana se
abraçam.
Optei por ficar baseado em Avignon por ser uma cidade
turística, cujo centro se encontra entre muros medievais que
abrigam o palácio dos papas que cá reinaram quando do cisma
do Papado no Século XIV, e principalmente por estar muito
próxima ao que considero a principal atração vínica da região: o
berço dos famosos e deliciosos vinhos de Chateauneuf-du-Pape.
Aliás, em minha opinião, a Provence, além da beleza
natural, nos traz de imperdível suas ervas e temperos, incluindo
fantásticas misturas de “flor-de-sal” (na bagagem já levo
uma trufada que é simplesmente sensacional), seus muitos
e deliciosos aromas, principalmente os das lindas plantações
de lavanda e dois tipos de vinhos: os rosés, em minha opinião
indiscutivelmente os melhores do mundo, e especificamente
os tintos de Chateauneuf.
De pronto, logo no primeiro dia, visitamos o litoral. Na
verdade, uma das maiores e, segundo sua fama, a mais violenta
cidade da França, Marselha. A cidade é grande para os padrões
europeus, mistura o antigo com o moderno, mas sua vista para
o mar, especialmente na entrada do seu Vieux Port, dominado
por fortalezas em ambos os lados e um incontável número de
veleiros atracados em suas docas, é deslumbrante.
Suas margens são cobertas por restaurantes pitorescos,
num dos quais pudemos nos sentar ao sol e saborear uma
Boulabaisse Royal que fiz acompanhar por um dos grandes
rosés da região, o Miraval, um Côtes de Provence de estirpe
e, diria até, holywoodiano já que se trata de propriedade
de Angelina Jolie e Brad Pitt em uma parceria vínica com os
principais produtores destas bandas, a família Perrin. De cor
rósea linda, aromas a rosas e morangos, boca muito fresca,
de boa acidez e leveza típica, vai com os frutos-do-mar como
poucas outras opções seriam capazes. O meu, da safra de
2014, estava excelente.
Mas falemos um pouco do que mais interessa, antes que
este espaço acabe: Chateauneuf-du-Pape. Uma área de pouco
mais de 3 mil hectares, às margens do grande Rio Rhône, já na
sua parte sul, que produz mais vinho do que em toda a região
setentrional do Rhône junta. Terroir onde se permite a utilização
e o corte de 13 diferentes castas, das quais sobressaem a
Grenache, a Mourvedre e a Syrah.
São mais de três centenas de produtores nessa “Apelação”,
que, além de ser a única da França capaz de se contrapor as
onipotentes Bordeaux e Borgonha em importância, fama e
qualidade, é também a que deu origem, no início do século
passado, ao sistema de “Apelação Controlada” responsável
pelo grande avanço da qualidade do vinho francês nos últimos
100 anos.
Foram muitos os vinhos que pude degustar, de forma que,
obrigado a uma escolha, elegi para aqui comentar dois deles
que, em minha opinião, são os melhores de todos: o Château
de Beaucastel e o Vieux Telegraphe.
O Beaucastel 2009 inclui todas as 13 variedades de uvas
permitidas, mas com predominância absoluta da Grenache,
da Mourvedre e da Syrah. De vermelho rubi brilhante, embora
ainda muito jovem, já demonstra se tratar de um legítimo
Beaucastel, com aromas complexos e elegantes que trazem
frutas negras, trufas, especiarias e um toque de chocolate.
Na boca é sensual, leve, mas marcante, saboroso e muito
gastronômico. Sem dúvida, um dos grandes.
O Vieux Telegraphe, também 2009, talvez o mais emblemático
dos vinhos dessa “Apelação”, recebeu 92 pontos de Parker e
96 da Wine Spectator. Embora ainda muito jovem, já se mostra
um grande vinho, com cor rubi intensa e reflexos púrpuras, com
notas adoráveis de figos, além de ameixas e alcaçuz. Na boca
é mais que tudo doce, de bom corpo e final longo. Excelente.
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DOIS ESPRESSOS E A CONTA
cláudio ferreira
[email protected]
No escuro, não!
Míopes frequentadores de bares e restaurantes: uni-vos!
Está cada vez mais difícil ler cardápios por causa das
novidades na iluminação dos ambientes. As inovações,
estou convicto, melhoram o visual dos estabelecimentos,
combinam com móveis e utensílios, mas prejudicam
cada vez mais quem tem dificuldade de enxergar. Com
o envelhecimento da população – resultado da melhoria
de alguns quesitos que se traduzem em qualidade de vida
– esse contingente está aumentando.
Odeio essa tal de luz indireta. É chique? É. Mas
não ilumina nada. E as lâmpadas que ficam no teto
dos locais com pé direito mais alto? Não ajudam muito.
E as velas que substituem lâmpadas na iluminação de
alguns restaurantes? Não clareiam. Em nome de um
ambiente cool, romântico, aconchegante, muitas vezes
os estabelecimentos puxam pela nossa visão.
Tanto que já há estabelecimentos fornecendo
lanterninhas para quem precisa ler o cardápio nos locais
mais escuros. Quem tem celulares mais poderosos também
se dá bem, pois com a lanterna é possível ver até a marca
do prato. Mas quando se une letras pequenas e pouca luz,
aí escolher o que comer vira uma verdadeira aventura.
Quando o ambiente é muito escuro, até comer fica
difícil. Não é estranho receber um prato e não conseguir
enxergar direito os ingredientes? Pode ser até excitante
para alguns, mas eu, particularmente, gosto de ver o que
estou comendo. Se é verdade que a gente também come
com os olhos, então alguns bares e restaurantes estão me
tirando um pouco desse prazer.
A iluminação, é verdade, está inserida no contexto da
ambientação do estabelecimento. E, nesse quesito, tenho
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mais uma observação: o espaço entre as mesas está
diminuindo cada vez mais. Em muitos locais, perdemos
totalmente a privacidade. Uma espreguiçada mais exagerada
e – pumba! – podemos acertar o vizinho de mesa.
Como não nos espreguiçamos a toda hora, não é um
problema tão grave. Pior é ficar ouvindo a conversa do
vizinho de mesa. E nesta era de superexposição, as pessoas
não se furtam a falar, em bares e restaurantes, de suas
intimidades, com detalhes sórdidos; as fofocas vêm
sempre com os “nomes dos bois” e as conversas no celular
geralmente extrapolam os decibéis do bom senso. Os
mesmos decibéis que muitas crianças insistem também
em extrapolar, bem na mesa ao lado, continuamente,
durante toda a refeição, e às vezes, infelizmente, contando
com o apoio de toda a família.
Um espaço regulamentar entre as mesas seria
altamente recomendável. Sei que espaço é uma palavra
difícil em Brasília, porque as entrequadras são planejadas,
as lojas são pequenas e mesmo quem utiliza a área pública
para colocar mesas não tem muitas opções. Mas não
é melhor, às vezes, ter menos mesas e deixar clientes
e garçons mais confortáveis?
Sim, porque às vezes os garçons têm que ser faquires
para saracotear na brecha entre as mesas, munidos
de bandejas cheias e concentração. Para os clientes,
ir ao banheiro pode representar esforço hercúleo.
Deixo claro que respeito o trabalho de arquitetos em
adequar móveis e objetos a espaços determinados; mas,
além da parte estética, é importante pegar emprestada
uma palavra da Informática: usabilidade. O melhor
ambiente, assim, é aquele que a gente usa melhor.
Dafne Capella
dia&noite
terceiraguerra
Dois soldados inimigos se encontram no front, mas não podem se atacar
porque estão sem munição. Uma voz no autofalante monitora os dois
diuturnamente para que não se tornem amigos durante essa trégua que
acontece numa hipotética Terceira Guerra Mundial. É assim a peça O campo
de batalha, segundo texto do baiano Aldri Anunciação, que estreou como
autor em Namíbia, não! obtendo o Prêmio Braskem (2011) e o Prêmio Jabuti
de Literatura (2013). A peça, em cartaz no CCBB até 17 de maio, marca o
encontro de três baianos: Aldri, o diretor Márcio Meirelles e Lázaro Ramos,
na codireção. De acordo com o dramaturgo, a peça “é uma brincadeira, uma crítica, uma proposta para a gente se aproximar cada vez mais
dos nossos inimigos institucionalizados para entender se realmente são inimigos ou se isso vem de uma manipulação”. Aldri também atua
no espetáculo, dividindo o palco com o carioca Rodrigo dos Santos, com intervenções gravadas da atriz Fernanda Torres, a voz da guerra.
A peça já esteve em cartaz em São Paulo e seguirá depois para os CCBBs do Rio e de Belo Horizonte. De quarta a sábado, às 21h,
e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Informações: 3108.7600.
foradonormal
Telemarketing, avião e tecnologia em banheiros.
Qualquer tema, por mais prosaico que seja,
vira humor no stand-up de Fábio Porchat,
que estará em Brasília para apresentação única
no dia 30 de abril, às 20 horas, no Centro de
Convenções Ulysses Guimarães. Ele se divide
entre TV, teatro, cinema e internet e, nesse
espetáculo, faz um solo de stand-up com
observações bem humoradas sobre situações
do nosso dia a dia. Claro que sempre com um
olhar crítico do humorista. Ingressos entre
R$ 40 e R$ 100.
Divulgação
direitodematar
Dez pessoas se reúnem para um jantar.
A décima primeira pode ser Hitchcock. Elas
estão no Teatro Goldoni (EQS 208/209) e o
anfitrião é Alexandre Ribondi, diretor de Um
jantar com Hitchcock, peça baseada num filme
que foi baseado numa peça e que, por sua vez,
foi baseada na vida real. Em cartaz até 26 de
abril, é inspirada na história verídica de dois
jovens norte-americanos da alta classe média
que, em 1920, decidiram cometer o crime
perfeito. Escolheram uma pessoa ao acaso e a
mataram. Esse assassinato foi contado na peça
Rope, de Patrick Hamilton e, em 1948, Alfred
Hitchcock fez o filme Festim diabólico, que se
tornou um ícone do suspense no cinema. Em
2009, Alexandre Ribondi juntou o fato real
com a peça e o filme e criou a versão agora em
cartaz. Nela, dois jovens universitários matam
um amigo por considerarem que, como
pessoas superiores, têm o direito de matar
um inferior sem serem punidos pela lei.
A intenção de Ribondi é discutir o cenário
frequente de assassinatos de pessoas humildes
que ficam sem punição: “Matar uma pessoa de
classe social inferior não é grave?”, pergunta.
Dez atores em cena tocam nessa ferida ao
contar a história tensa, ágil e dinâmica.
Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h.
Ingressos a R$ 40 e R$ 20.
pacientedeFreud
Diego Bressani
Divulgação
Está de volta ao palco o espetáculo Camélia, uma montagem do texto
Camélia – o que há de mais gracioso, de Ronaldo Ventura, vencedor da sexta
edição do projeto Seleção Brasil em Cena, do CCBB. Conta a história de
uma mulher que fugiu do nazismo, correu o mundo e amou intensamente.
Amor que a fez entrar para a história sob o pseudônimo de Sidonie Csillag,
a primeira paciente homossexual de Freud. Seu caso foi decisivo para
constatar que homossexualidade é uma condição humana e não uma
doença. O fascínio da história de Sidonie não se restringe à relação com
Freud, mas ao fato de a mulher ter vivido 100 anos e ter buscado o amor
até o fim de seus dias. Com direção de Luana Proença, a peça tem no
elenco Cíntia Portella, Luana Proença, Marcelo Nenevê, Rodolfo Godoi,
Suelem Araújo, Tainá Palitot e Tati Ramos. Dias 17, 18 e 19, no Teatro
Garagem (913 Sul), às 20h, com ingressos a R$ 40 e R$ 20. Dias 24, 25
e 26, no Teatro Paulo Autran (Taguatinga), com ingressos a R$10 e R$ 5.
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dia&noite
pretagil
A cantora foi convidada para inaugurar o Chá da Alice, uma festa badalada do Rio de Janeiro
que chega a Brasília no dia 25 de abril. A partir das 22h30 do sábado, Preta Gil, seus músicos e
bailarinos estarão no palco do Net Live Brasília (SHTN, Trecho 2) devidamente ambientado
com o tema da festa: Alice no país das maravilhas, o clássico de Lewis Carrol. Assim como no
Rio, o público de Brasília será recebido pelos personagens Rainha de Copas, Coelho, Gato
Risonho, Chapeleiro Maluco e Alice. O ator Pedro Nercessian também virá animar a festa, que
terá pista principal com música brasileira e pop e uma segunda pista de house, sob o comando
de Pablo Almeida e Thiago Araujo, DJs residentes do Chá no Rio, além de Ricardo Lucas e dos
DJs Mutti e Dani Santos. Ingressos entre R$ 20 e R$ 90, à venda no Brasília Shopping.
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A montagem foi feita especialmente para
marcar os 55 anos de Brasília. De 20 a 23
de abril, às 19h, estará em cartaz na Sala
Plínio Marcos, da Funarte, Assim são tod@s,
uma ópera do austríaco Wolfgang Amadeus
Mozart (1756/1791) adaptada para os dias
atuais e com personagens da cidade. Dois
grupos de cantores e atores brasilienses
se revezam nas apresentações, entre eles
Janette Dornellas, diretora geral do
espetáculo, Maria Schramm, Hugo Lemos,
Jean Nardoto, Hermógenes Correia e
Renata Dourado. Inspirada na ópera
Cosìfantutte, tem como personagem
principal seu Afonso, um homossexual
de meia idade dono de um café que tem
como público pessoas de todas as tribos e
gerações. Entre elas estão as irmãs Flor de
Liz, patricinha e concurseira profissional,
e Isabela, que vive na academia e é ligada
a cuidados estéticos de maneira excêntrica.
Elas namoram dois rapazes bem diferentes,
que acabam se tornado amigos: Guilherme,
um típico cowboy de Goiânia, e Fernando,
um autêntico adorador do mundo eletrônico
e de tecnologia. Com a ajuda de sua
funcionária Cristina, uma estudante da
UnB que curte rock, Seu Afonso arma
um grande plano e faz de tudo para provar
a teoria de que ninguém é fiel. A ópera
pop terá entrada franca no dia da estreia
e custará R$ 10 a meia-entrada nos dias
seguintes. Classificação indicativa: 12 anos.
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óperapop
Sua vida e carreira já foram contadas em cinema. Agora, um musical homenageia o
compositor e cantor Gonzaguinha (1945/1991). Depois de temporadas em Salvador,
São Paulo, Belo Horizonte e São Luís, o espetáculo O eterno aprendiz chega à cidade
para duas apresentações, dias 25 e 26 de abril, no Teatro Unip (913 Sul). No palco,
o ator Rogério Silvestre encarna o artista, interpretando um texto poético que
passeia por momentos marcantes da vida do cantor, como os embates com a
ditadura militar e a relação conflituosa com o pai, o rei do Baião, Gonzagão.
Intercalada à dramaturgia, são interpretadas 16 canções de Gonzaguinha, entre
elas Explode coração, Recado, Começaria tudo outra vez e Moleque. Nos vocais se revezam
Bruna Moraes e Paulo
Francisco (Tutuca),
que carrega sua filiação
musical não apenas no
timbre semelhante ao
do homenageado, mas
também pelo fato de seu
pai, o guitarrista Fredera,
e tio, o pianista Wagner
Tiso, terem acompanhado
Gonzaguinha nos palcos.
Participam ainda os
instrumentistas Rafael
Toledo, Omar Fontes, Peter Mesquita, Alcione Ziolkowski e Buga. Sábado e domingo,
às 21h, com ingressos a R$ 100 e R$ 50, à venda nas lojas Cia. Toy e Belini Pães e
Gastronomia (113 Sul).
maisfelizdavida
Esse é o nome do segundo disco da Banda Mais Bonita da Cidade, que volta a Brasília
para se apresentar no Clube Previ (712/912 Sul), dia 24 de abril. Nascida da vontade
de reinterpretar as canções que amava, a banda viu sua carreira tomar proporções
inesperadas em 2011, após publicar na internet seu vídeo Oração, um dos mais vistos
em todo o mundo, e gravou seu primeiro disco pelo sistema de crowdfunding, ou seja,
financiamento coletivo.Em 2015, lançou
seu primeiro DVD (gravado de forma
totalmente independente) e está
percorrendo sete países em mais de 200
shows. A abertura será com Tiago Rocha
e Banda, a partir das 20h. Ingressos a
R$ 60 e R$ 30, à venda na secretaria
do clube (3878.7100) e em loja.com
(307 Sul). Informações: 9550.2192.
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eternoaprendiz
Alice Sittig
arteterapia
Das 15 mil crianças do campo de concentração de Theresienstadt, apenas 93 conseguiram
se salvar. Eram os terríveis tempos da ocupação nazista na antiga Checoslováquia e
as sobreviventes, de 12 a 14 anos, moravam juntas no mesmo quarto, o 28. Apesar da
situação miserável, as meninas puderam ter contato com professores, compositores e
artistas também prisioneiros do campo e judeus que tentavam minimizar o sofrimento com
atividades que as ajudariam a acreditar que aquela difícil situação seria transitória. Nesse
grupo de adultos determinado a proteger as crianças estava a artista plástica Friedl Dicker
Brandeis que, deportada para Theresienstadt em 1942, levou poucos pertences pessoais e
muitos materiais artísticos nas suas duas malas. Friedl percebeu que a arte poderia ser uma importante ferramenta terapêutica para ajudar as
crianças a superar as adversidades e a lidarem com os terríveis sentimentos de perda, medo e incerteza. Ela contava histórias e pedia que as
crianças fizessem ilustrações. Como o objetivo era estimular a esperança naquele lugar, as narrativas eram sobre assuntos diversos e serviam
como distração para tirá-las um pouco daquela triste realidade, tanto que as imagens não remetem em nada ao terror que elas vivenciavam.
Alguns desses desenhos estão na mostra As meninas do quarto 28, em cartaz até dia 26 no Museu da República. Esta lá, também, réplica do
quarto onde as meninas viveram e conviveram com o onipresente medo da morte. De terça-feira a domingo, das 9 às 18h30, entrada franca.
Divulgação
olhararquitetônico
Os trabalhos dos fotógrafos Marcio Vianna
(foto), Joanes Rocha, Lilian Neves, Ilda Kenia,
J BrandHaus, Martin Garcia, Melissa Dória,
Priscilla Maciel, Sergio Riguetti, Lilian Simões,
Ricardo Lucas e Paulo Mateusz estão na mostra
Memórias – um olhar arquitetônico de patrimônios
mundiais, até 29 de abril no Espaço Cultural STJ.
A mostra contém fotografias do grupo formado
por professores e alunos de um curso de
Arquitetura e Urbanismo, a partir de suas viagens pelo Brasil e pelo mundo. Com curadoria
do fotógrafo e arquiteto Márcio Vianna, a mostra é dividida em duas seções, que apresentam
as fotografias selecionadas desse fotógrafo e de seus colegas e uma série de “cartemas”, criados
por Márcio a partir das mesmas fotografias. Cartemas são criações artísticas produzidas
a partir de um módulo fotográfico que se repete de forma criativa, plasticamente rica
e por vezes inusitada. De segunda a sexta-feira, das 9 às 19h, com entrada franca.
Informações: 3319.8594.
filmelivre
¡bailame!
Divulgação
Cerca de 55 mil pessoas já
assistiram a mais de três mil filmes
nacionais, entre curtas, médias e
longas-metragens, nas 13 edições
anteriores da Mostra do Filme
Livre. Está no ar, até dia 27, a 14ª
edição do festival que começou no
Rio e depois segue para São Paulo
e Belo Horizonte com produções
de todos os gêneros e uma
característica: fugir do lugar
comum narrativo, estético e em
seus modelos de produção. Entre
os destaques estão Batguano, a ser
exibido dia 24 (sexta), às 20h, que
conta a história de Batman e
Robin, um casal gay em futuro
apocalíptico; e Araca, curta que
passa dia 27, às 18h30, sobre a
sambista Aracy de Almeida, jurada
implacável dos programas de
auditório. No cinema do CCBB,
com programação a ser conferida
em http://mostradofilmelivre.
com/15/agenda.php. Entrada
franca, com senhas distribuídas na
bilheteria uma hora antes do início
de cada sessão.
André Gonzales, vocalista da Banda Móveis Coloniais de Acaju, é também, a partir de
agora, o maestro da Sr. Gonzales Serenata Orquestra. Constante frequentador dos espaços
dançantes da cidade, o músico pilota um projeto musical que vai fazer todas as gerações
participarem de um baile à moda antiga. O primeiro ¡Bailame! será dia 26 de abril,
às 16h, no Clube Previ (712/912 Sul) de abril.
O local foi escolhido por abrigar uma das
serestas mais antigas do Brasil, que acontece
todas as sextas-feiras, há quarenta anos.
Na balada dançante, o quarteto chefiado
por Sr. Gonzales impõe apenas uma condição:
bailar a dois valsa, bolero, salsa, soltinho,
samba de gafieira, forró e baião. Esdras
Nogueira (sax, flauta e maracas), Fernando
Jatobá (guitarra, baixo e bongo) e Dr. Dreher
(teclados, vibrafone e sintetizadores) são os
integrantes do novo grupo. Os DJs Pezão (Criolina) e Dr. Dreher ficarão por conta do som
no intervalo do show. Desde clássicos da Era do Rádio até releituras de canções inusitadas
serão o pano de fundo de uma festa onde netos e avós, pais e filhos poderão viver o passado
no momento presente. Ingressos antecipados a R$ 30 e R$ 40 na hora do baile. Para maiores
de 60 anos, R$ 50 o par de ingressos antecipados e R$ 70 na hora. À venda no Pinella (408
Norte), Bendito Suco (413 Norte), Loca Como Tu Madre (306 Sul) e na secretaria do clube.
Informações : 8329.5596.
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brasília55
Sérgio Amaral
Três histórias de
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amor correspondido
A cada ano, quando chega o mês de abril, somos desafiados a produzir uma edição que de alguma forma homenageie a cidade por mais um aniversário. Este ano, resolvemos
fazer diferente: nossa homenagem vai para três personagens
que, cada qual a seu modo, testemunharam e documentaram
boa parte dos 55 anos da capital do país.
Um é o fotógrafo Gervásio Baptista, que rodou o mundo,
cobriu guerras e registrou com sua Rolleiflex os principais
acontecimentos políticos do Brasil nos últimos 70 anos,
começando pela era Vargas, passando pela inauguração
de Brasília, a agonia de Tancredo Neves e as três décadas
da jovem democracia brasileira. Aos 90 anos, mantém-se
ativo e fiel à cidade que o adotou.
O segundo é o mais brasiliense de todos os paraibanos,
nosso cineasta soberano Vladimir Carvalho, reconhecido
nacionalmente como um dos mais importantes documentaristas brasileiros e igualmente apaixonado por Brasília, cuja
realidade retratou em vários de seus filmes. Mais do que
justa, portanto, a homenagem que vai receber, a partir do
dia 29, do Centro Cultural Banco do Brasil, com a realização
da mostra Vladimir Carvalho Doc 8.0, uma retrospectiva de
sua vasta filmografia.
Completando o trio, o poeta Nicolas Behr, nascido em
Cuiabá, em 1958, e “naturalizado” brasiliense em 1974.
É improvável que alguém tenha versejado tanto sobre
Brasília quanto Nicolas, desde o lançamento, em 1977,
de seu primeiro livro, Iogurte com farinha, cujas 8.000
mil cópias impressas em mimeógrafo foram vendidas,
por ele próprio, de bar em bar.
19
brasília55
O primeiro
Sérgio Amaral
fotógrafo
20
Por Vicente Sá
E
ncontro o fotógrafo Gervásio
Baptista num dos corredores
da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, onde trabalha. Ele caminha tranquilo, cumprimentando
uns e outros. A fala é mansa e nem
parece sentir o peso dos mais de 70
anos de fotojornalismo – e 90 de idade. Os olhos tranquilos desse homem
que já deu três voltas ao mundo trabalhando, fotografou todos os presidentes da República desde Getúlio
Vargas, cobriu desde guerras a concursos de Miss Universo e Copas do
Mundo, ainda detém aquele brilho
curioso e criativo que, como ele conta, já trazia aos nove anos, quando começou a apreender o ofício no laboratório fotográfico de um amigo de
seu pai.
No chão atrás de Gervásio, a sombra que o acompanha agora é a desse
menino franzino que caminha pelas
ruas quentes de Salvador nos anos 30
– e me leva com ela. Conheço casas,
ruas e alguns homens e mulheres que
vão se tornar heróis dos livros de Jorge Amado. Sigo guiado pela voz que
agora lembra seu primeiro jornal. A
sombra então me leva a uma redação
pequena e antiga onde um adolescente retorna de sua primeira matéria externa com a câmera na mão e um
meio sorriso nos lábios. “Eu fui fotógrafo a minha vida toda, foi minha
única profissão e também tudo que
eu quis. Tive minhas dificuldades,
problemas, mas dentro do que eu gostava de fazer. Então, valeu”, afirma, como
se falasse sozinho.
Estamos ainda andando pelo corredor a caminho da sala onde faremos a
entrevista e as fotos. Mas de novo meu
olhar cai sobre sua sombra, e já não estamos mais na EBC. A sombra, agora de
um homem de trinta e poucos anos, está
descendo do avião no ermo que será Brasília, e comenta com o presidente Juscelino Kubitschek: “O senhor tem certeza
que vai construir uma cidade no meio
deste mato, presidente? E Juscelino responde, rindo: “É claro, Gervásio, já estou até vendo as ruas, as casas, as pessoas
andando...”
A partir da certeza do presidente JK,
Gervásio começou a desconfiar de sua
desconfiança. “Hoje eu sei que ele estava certo. A empreitada foi muito difícil e
eu vi acontecer. A epopeia de Brasília foi
uma coisa que encantou o mundo”,
lembra.
Quando da inauguração, pela intimidade que já tinha com o presidente Juscelino, pediu que ele erguesse a cartola
como quem estivesse se despedindo e entregando a cidade ao povo. Juscelino a
ergueu e Gervásio clicou. Depois, pediu
que o presidente abaixasse o braço e colocasse a cartola na cabeça. O presidente
estranhou e Gervásio explicou, sorrindo:
“É para que não me copiem a foto. Esta
vai ficar para a história.” E ficou. Hoje é
uma das imagens mais expressivas da
inauguração de Brasília.
Depois vieram outros presidentes,
muitas viagens, o golpe militar, a guerra
do Vietnã, que ele também viu de perto... mas antes do fim da ditadura, Gervásio deixaria o Rio de Janeiro e viria
morar em Brasília.
Eleito presidente, Tancredo Neves o
convidaria para fotógrafo oficial, mas a
doença atingiria o mineiro antes de ele
tomar posse. Um dia, junto com dezenas
de jornalistas, aguardava embaixo do
hospital onde Tancredo estava internado quando um policial lhe fez sinal e ele,
discretamente, foi ao seu encontro, driblando os outros fotógrafos. O agente
lhe disse que o presidente havia pedido
que ele subisse para fazer uma foto. Subiu imediatamente e, no quarto, quando
um médico quis participar da foto e colocar a mão nas costas de Tancredo, ele estrilou: “Não faça isso, doutor, vão pensar
que o presidente está mal e o senhor é
que o está segurando”. Tancredo agradeceu a preocupação e lhe garantiu uma escolta até o prédio de um ministério, onde ele pôde revelar a foto e mandar para
os jornais e revistas.
Um pouco antes de chegarmos à sala
da entrevista, ele me conta outras histórias e a sua sombra me leva pela mão até
a redação da revista Manchete, onde trabalhou até o seu fechamento, e depois
para Cuba, onde ele pede remédio ao
guerrilheiro Che Guevara. ”Afinal, tu
não és médico?”- brinca. E Guevara,
meio a contragosto, lhe recomenda uma
dose de rum.
Chegamos à sala onde deveria acontecer a entrevista e Sérgio Amaral, o fotógrafo que nos aguardava, mostra a
Gervásio uma Rolleiflex. ”O que você
faz com minha namorada nas mãos?
Com ela dei três voltas ao mundo”, brinca, ao ver a máquina, sua companheira
de tantos anos. Depois, ainda se dirigindo a Amaral, avisa: “Vamos logo fazer
essa foto que eu estou em horário de trabalho”. Enquanto me afasto, parece-me
ouvi-lo dizer: “Após os passeios que minha sombra deu com esse moço, acho
que ele não vai mais precisar de entrevista nenhuma”.
Fico de longe observando esse homem, que tanto fotografou, deixando-se
fotografar, e penso que, se ele tivesse vivido toda sua vida na Bahia, fatalmente teria se tornando um personagem dos livros de Jorge Amado. Mas, como era seu
destino, saiu para se tornar um personagem importante da história de Brasília e
do fotojornalismo do Brasil.
Acima, as famosas fotos dos presidente JK, na inauguração de Brasília, e Tancredo Neves, no Hospital de Base.
Abaixo, o jovem Gervásio Baptista faz pose para as lentes de um colega, num campo de batalha do Vietnã.
21
Sérgio Amaral
brasília55
O cineasta soberano
Por Sérgio Moriconi
C
22
onsensualmente considerado um
dos grandes documentaristas brasileiros de sempre, Vladimir Carvalho é também um dos responsáveis pela construção das estruturas e mecanismos de produção que têm transformado
a capital federal num respeitável centro
de produção cinematográfica. Primeiro
presidente da Associação Brasileira de
Documentaristas – Seção DF, desde 1978
lutou pela conquista de equipamentos e
pela implantação do Polo de Cinema
Grande Otelo, finalmente concretizada
em 1993. Mas sua atuação política em
nada prejudicou a construção de uma
obra em que o Nordeste e o Centro-Oeste são revelados em todas as suas belezas e
contradições.
Muito justa, portanto, a homenagem
que receberá do Centro Cultural Banco
do Brasil com a mostra Vladimir Doc 8.0.
De 29 de abril a 11 de maio serão exibidos no cinema do CCBB 16 curtas e nove longas-metragens do cineasta, assim
como uma exposição de cartazes (alguns
criados por ele próprio, como o de O país
de São Saruê, um dos seus grandes clássicos) e um debate que reunirá o crítico
Rodrigo Fonseca, curador da mostra, o
professor e escritor João Luiz Vieira e o
homenageado.
O catálogo preparado para o evento
conta com textos inéditos de personalidades como Ignácio de Loyola Brandão, Ana
Maria Miranda, Cacá Diegues, Geneton
Moraes Neto, Carlos Alberto Mattos,
Jean-Claude Bernardet, Alberto R. Cavalcanti, Severino Francisco, Walter Carvalho, André Luiz Oliveira, José Nêumanne
Pinto, Bráulio Tavares, Iberê Carvalho,
Maria do Rosário Caetano e ainda um
poema original do cineasta Sylvio Back.
Como cortesia especial, será oferecido aos
espectadores um objeto de arte composto
de caixa com reproduções de cartazes dos
filmes de Vladimir Carvalho em pequeno
formato. Nada mais justo para selar a cumplicidade entre o realizador e os moradores da cidade que adotou para viver desde
1970, quando se engajou como professor
na Universidade de Brasília.
Há exatos dez anos foi apresentada,
também no CCBB, a mostra Vladimir
70, levando pela primeira vez aos públicos de Brasília e do Rio de Janeiro uma
retrospectiva integral da obra de Vladimir Carvalho. Passada uma década, ele
tem na bagagem mais dois longas concluídos (O engenho de Zé Lins e Rock Brasília – era de ouro) e outro em fase final de
montagem, sobre o pintor modernista
pernambucano Cícero Dias. As duas
obras já concluídas – e a perspectiva de
uma terceira para breve – poderiam ser-
Sérgio Amaral
Vladimir em sua casa, na Avenida W3 Sul, limpando o mosaico criado pelo artista plástico e amigo Gougon
ma” onde, muitas vezes, se dissolve a separação entre documentário e ficção
(através de encenações e os mais variados
recursos dramatúrgicos), formando o
que chama de “uma crosta de significações para além do real”. No livro de Mattos fica muito claro que o realizador tem
total controle e consciência de sua arte e
do que cada um dos seus filmes expressa
objetivamente e, também, subjetivamente. Outro aspecto importante, poucas vezes mencionado, é que os filmes de Vladimir são, em muitas medidas, fabulações autobiográficas.
Temáticas e personagens estão, de
uma forma ou de outra, ligados à vivência do cineasta no Nordeste e em Brasília
(além de regiões próximas à capital), e
dão a natureza betuminosa do cinema de
Vladimir Carvalho. Duas geografias que
se imiscuem de forma surpreendente em
A pedra da riqueza. Esse filme, a propósi-
Divulgação
Walter Carvalho
vir de justificativa para esta oportunidade de se discutir, mais uma vez, e sob nova perspectiva, o legado do autor de Conterrâneos velhos de guerra para o cinema
brasileiro, assim como para a tradição
documental do país. No entanto, a intenção de Vladimir Doc 8.0 é proporcionar uma (re)visão da totalidade dos filmes de Vladimir a partir de uma ótica
distinta e nova.
Quando vistos em conjunto e em diferentes contextos e circunstâncias históricas, os filmes de Vladimir se mostram
polissêmicos, misteriosamente ambíguos
em relação às virtuais aparências do real.
Não são observações e conclusões insensatas. No livro Pedras na lua e pelejas no
planalto, escrito pelo crítico Carlos Alberto Mattos para a coleção Aplauso, Vladimir considera que seus filmes “se intercomunicam como filmes-satélites uns
dos outros, constituindo um microssiste-
to, faz quase que uma representação simbólica do percurso de Vladimir, com suas
idas e vindas do Nordeste para a capital e
seu entorno – e vice-versa. No filme, somos levados até uma rústica área do Nordeste por meio de um funcionário da
Universidade de Brasília que, ao ver um
copião do cineasta numa moviola do Departamento de Comunicação, reconhece
o garimpo de xelita onde ele e o irmão haviam trabalhado. Uma fusão nos transporta da tela da moviola para o garimpo.
A fotografia imprecisa e precária de um
lote vencido de negativo em preto e branco dá um aspecto fantasmagórico aos trabalhadores da pedra de xelita, de onde,
aliás, é retirado o tungstênio utilizado na
indústria do aço e nas naves espaciais.
A despeito do mencionado conteúdo
político, social e filosófico objetivamente
reivindicado pelas obras de Vladimir, e
igualmente assimilados por quem as vê, o
cineasta considera as imagens nelas contidas como signos. Dessa forma, os filmes
como um todo se abrem a múltiplas possibilidades. Teotônio Vilela, José Américo, José Lins do Rêgo, candangos, o sertão seco, quilombo, xelitas, bolandeiras,
o sertão molhado, a capital, todo o conjunto de personagens e paisagens do cinema de Vladimir pode ser entrevisto de
maneira inabitual e enviesada. Frequentemente, no cinema documentário, a alma dos indivíduos ganha uma segunda
vida, dissolvida e fundida na alma do realizador. Ambos se tornam transfigurados,
fazendo com que o realizador também se
projete de alguma maneira nos personagens. No caso de Vladimir, a “fabulação
autobiográfica” (referida acima) contribui decisivamente para que ele próprio e
sua obra possam, do mesmo modo, estar
sempre em expansão e ressignificação.
23
Com Manuel Clemente no set de filmagem de O país de São Saruê Trinta anos depois de dirigir Barra 68, repetindo com amigos uma das principais cenas do filme
Sérgio Amaral
brasília55
O poeta mais
Por Lúcia Leão
N
24
um fim de tarde nublado, o Eixão é a mais completa tradução
do retrato-falado que dele faz o
poeta. “O ponto mais tenso e mais denso
da cidade. É a sua espinha dorsal e a sua
principal artéria. É osso e veia. Toda a
tensão de Brasília passa por aqui!”. Entre
admiração e respeito, o comentário denuncia mais que tudo o temor que Nicolas Behr ainda alimenta pela via. O mesmo que o inspirou a canonizar, há quase
40 anos, uma “Nossa Senhora do Cerrado”, entidade invocada até hoje pelos
“pedestres que atravessam o Eixão, às
seis horas da tarde”.
Os versos, musicados por Nonato
Veras e cantados desde a década de 1980
pelo grupo Liga Tripa, caíram na boca
do povo e até hoje empolgam de vovôs a
netinhos, que somam vozes no coro do
refrão: “Nonô, Nonô”, a namorada que
merecia a arriscada travessia e inspirava a
prece do poeta: “Fazei com que eu chegue/são e salvo/na casa da Noélia”.
Pouco antes, mais precisamente em
1979, Nicolas Behr lançava seu primeiro
livro, o Iogurte com farinha – com a incrível
tiragem de oito mil exemplares mimeografados e vendidos de mão em mão – e apresentava a cidade, que seria para sempre o
tema central dos seus poemas, assim:
blocos, eixos, quadras
senhores, esta cidade
é uma aula de geometria
Em 2014, quanto publicou A seus
pilotis, o livro mais recente, a cidade do
poeta já estava assim:
não tente gostar
de Brasília
tão rápido
blocos de verdade
sobrevoam
superquadras
imaginárias
superquadras
à procura
De uma cidade
O que aconteceu nessas quatro décadas? “Brasília se metropolizou, o que era
inevitável, inexorável. É uma metrópole
cheia de conflitos. O que é bom para a
poesia. O conflito é provocador. Mas
fica uma certa nostalgia, um distanciamento. A cidade que nos pertencia, com
a qual tínhamos uma profunda intimidade, já não existe mais”.
Intimidade tanta que permitia aos artistas desafiar o trânsito, tomar as ruas
como palco e fazer da grande maquete
de concreto cenário. “Hoje, é impensável carregar uma prancha pelo Eixão” –
constata, lembrando das tomadas de ce-
Arquivo pessoal
brasiliense
na para um filme super-oito que protagonizou no início da década de 1980.
Visceralmente ligado a Brasília, cidade que o recebeu aos 15 anos e se tornou
matéria-prima de praticamente toda a
sua produção poética, o “marginal” das
décadas finais do Século XX, que andava
pelos bares e portas de teatros vendendo
seus livrinhos mimeografados, caminha
pelo XXI como respeitável empresário e
poeta reconhecido, objeto de estudos literários e teses acadêmicas em várias universidades do país. Evoluiu e amadureceu, como Brasília.
“Aquela cidade pequena, de no máximo 600 mil habitantes, pensada por
Lúcio Costa, ficou nas pranchetas. Brasília virou um importante polo de desenvolvimento, as cidades-satélites se verticalizaram, os candangos criaram raízes e
povoaram os espaços que eram reservados só para servidores públicos. Para o
bem e para o mal, a maquete ganhou
vida”, disserta o poeta, que já tinha dito
num poema:
anunciaram a utopia
mas foi brasília
que apareceu
ou
brasília é o fracasso
mais bem planejado
de todos os tempos
Para o mal, sair da maquete significou
se expôr às mazelas que afligem quaisquer metrópoles: os congestionamentos,
a violência, a precariedade de serviços públicos, a “aglomerada solidão” de que falou Tom Zé sobre São Paulo:
a única coisa que tenho
a lhe oferecer
é solidão
com vista
pro eixão
Para o bem, libertou a cidade pulsante
e multifacetada, que vai lentamente afirmando sua identidade e desassociando-se
das crises políticas e das torrentes de lama
que enfeiam a monumental Esplanada.
“Sou de Brasília, mas juro que sou inocente”, Nick estampou em camisetas. E
fez uma controversa declaração de amor:
amo Brasília
e seus engarrafamentos
suas passagens subterrâneas
entre as nuvens
amo Brasília
e seu modelo de convivência
(nós aqui, vocês lá)
amo Brasília
e seus políticos
e sua burocracia
amo brasília
e sua comédia de erros
amor incondicional
é inconstitucional?
25
brasília55
Marcel-Gautherot
Desde 1751
Por Pedro Brandt
B
Rui Faquini
26
rasília é fruto da visão e do trabalho de muitas pessoas, fundadores e pioneiros que encararam o
desafio de construir a cidade. A exposição Brasília 55 anos – Da utopia à capital
conta um pouco desse sonho. De 24 de
abril a 31 de maio, a Galeria Athos Bulcão abrigará um acervo com mais de 300
itens. Entre eles estão maquetes (inclusive uma maquete atualizada do Plano Piloto), livros, projetos arquitetônicos, desenhos de Lúcio Costa, cartas trocadas
entre os arquitetos
Oscar Niemeyer e Le
Corbusier, objetos
históricos e obras de
arte. Participam ainda fotografias tiradas
por
Peter
Scheier, Jesco von
Puttkamer, Marcel Gautherot, Mário Fontenelle,
João Facó, Fábio Colombini e Rui Faquini. O resultado é uma retrospectiva com riqueza de detalhes que parte de 1751,
quando o Marquês de
Pombal cogitou a mudança da capital para o centro do país,
Mario Fontenelle
Exposição com mais
de 300 itens reconta
a criação de Brasília
até chegar aos dias de hoje.
As peças vieram do Arquivo Público
do Distrito Federal, do Instituto Moreira
Salles, da Casa Lúcio Costa, da Fundação Athos Bulcão, da Fundação Oscar
Niemeyer, da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) de Goiás e do Museu de
Astronomia e Ciência Afins (Mast) do
Rio de Janeiro, além de coleções particulares do Brasil e do exterior. A curadora
Danielle Athayde ainda garimpou objetos e publicações relacionadas a Brasília
nos diversos países por onde a exposição
passou. Os artistas Alex Flemming e
Naura Timm criaram obras exclusivas
para o projeto.
Brasília 55 anos – Da utopia à capital é
a continuação de uma exposição organizada por Danielle Athayde para o cinquentenário da cidade e que, desde
2010, passou por Lisboa, Buenos Aires,
Santiago, Nova Déli, Paris e Berlim e foi
vista por mais de 250 mil pessoas. Em cada cidade, a exposição ganha mais itens e
em Brasília será apresentado o acervo
mais completo da trajetória do projeto.
Entrevista: Danielle Athayde
Nesses cinco anos, a exposição visitou
vários países. Como a capital brasileira é
encarada pelos estrangeiros?
Divulgação
Como surgiu o interesse de estudar
Brasília?
Em 2008, fui fazer um mestrado de gestão cultural, patrimônio, turismo e natureza em Madri, mas desde 2004 já tinha a
produtora Artetude Cultural em Brasília,
com o objetivo de realizar projetos que
pudessem apresentar o Brasil e a nossa
cultura no exterior. A ideia da exposição
surgiu no momento em que precisei pensar no meu projeto final para o mestrado.
Achava que seria muito interessante falar
sobre os 50 anos da capital do Brasil para
o mundo, daí o projeto se tornou realidade e as coisas foram acontecendo.
Quais os seus elogios e quais as suas
críticas ao conceito de Brasília?
Eu amo Brasília, adoro viver aqui e deEstivemos em oito países de diferentes culturas durante os quatro anos em que a
mostra esteve itinerando. Na Índia, fizemos um programa educativo para crianças
das escolas locais, foi incrível ver o interesse delas pela cidade, algumas até perguntavam se era mesmo verdade que Brasília
existia. Em Paris, tivemos a presença em
massa de estudantes de desenho e arquitetos que ficavam horas na sala de exposição
(no caso, o Partido Comunista Francês,
primeira obra internacional de Oscar Niemeyer) desenhando os projetos dos monumentos. Já em Berlim, as pessoas tinham
mais interesse pela Brasília política. Lembro-me de que naquele momento estavam
ocorrendo diversas manifestações no Brasil e as pessoas queriam saber por quê. Os
comentários do público eram diversos,
desde que a cidade era magnifica até gente
que falou que depois de visitar a exposição
viria a Brasília de qualquer jeito.
João Facó
fendo o conceito de criação e a total preservação da cidade. O que me incomoda
muito é ver o que está ocorrendo com
nosso patrimônio cultural da humanidade, ver fechados o Teatro Nacional,
o MAB, o espaço cultural da 508 Sul, a
Biblioteca Demonstrativa, o Centro de
Dança e a Torre de TV Digital. Tive,
inclusive, dificuldade para buscar um
espaço para realizar esta mostra. A sorte
é que a Galeria Athos Bulcão foi revitalizada no final do ano passado e agora
a mostra vai poder acontecer lá. É um
espaço incrível.
Brasília 55 anos - Da utopia à capital
De 24/4 a 31/5, das 8h às 20h, diariamente,
na Galeria Athos Bulcão (anexo do Teatro
Nacional, térreo, via N2). Entrada franca.
Arquivo pessoal
A construção em quadrinhos
Nas minhas garimpagens por revistas em quadrinhos antigas, sempre busco títulos inusitados, especialmente de quadrinhos brasileiros, uma produção
um tanto esquecida e ainda pouco mapeada. Qual não foi minha surpresa
quando me deparei com uma HQ de janeiro de 1959 sobre a criação de Brasília!
Escrita por Nair da Rocha Miranda e ilustrada por Ramón Llampayas, Brasília,
coração do Brasil é extremamente bem pesquisada e ambientada, passando
pelo descobrimento do Brasil, período colonial e república até chegar à
década de 1950 – sempre com a participação das principais figuras políticas
de capa época. Tudo para ensinar ao leitor (geralmente, meninos e meninas
em idade escolar) o contexto da criação da nova capital. Também estão lá
mapas, desenhos dos monumentos de Brasília e das superquadras. Uma curiosidade: JK e Niemeyer, entre outras autoridades, conferiram (e aprovaram)
o material antes da publicação. A revista saiu pela editora Ebal, na coleção
Epopeia, especializada em história do Brasil em quadrinhos.
27
brasília55
Bravas pioneiras
Por Mariza de Macedo-Soares
Fotos: Divulgação
T
ânia Fontenele Mourão é brasiliense,
filha de pioneiros, economista, professora e consultora da Escola Nacional de
Administração Pública (ENAP), escritora e,
por causa da paixão escancarada que sente por
cinema, cineasta autodidata. Tanto na escrita
quanto na sétima arte, volta seu olhar ao universo feminino e à atuação discretamente importante das mulheres em eventos cujos cenários e resultados fazem crer terem sido fruto
apenas de trabalho masculino.
Ela evidencia a preocupação de fazer conhecer o trabalho das mulheres nos livros Mulheres no topo da carreira – flexibilidade e persistência e Trabalho de mulher: mitos, ritos e transformações, nos documentários A corrida das 5.300 mulheres e Poeira e batom no Planalto Central, que
virou livro, ganhou um adendo no título (50
mulheres na construção de Brasília), um acréscimo
de texto e de ilustrações e deu origem à mostra
Memórias femininas da construção de Brasília, em
cartaz até 30 de maio no Salão Negro do Congresso Nacional.
Nessa exposição, depois de extensa e minuciosa pesquisa na biblioteca da 308 Sul, em instituições e acervos públicos do DF, Tânia apresenta ao público, por meio de fotos, 50 mulheres que aportaram na capital da República entre 1956 e 1960. Entrevistadas, ao contar suas
experiências delinearam, sob a ótica feminina,
um perfil da cidade então em construção.
Faz parte também de Memórias femininas
um pequeno cinema que exibe o documentário Poeira e batom, com depoimentos das pioneiras fotografadas e um espaço cenográfico
com peças originais da década de 60 – mobiliários de casas, escritórios e hospitais, utilidades
e utensílios domésticos, roupas de batismo,
vestidos de festa, de baile, calças de brim coringa (a precursora da five pockets), maiôs, sapatos, bolsas, chapéus, vidros de perfume, garrafas de bebidas, carteiras de colégios, livros, revistas e outras publicações.
É importante exposição – rende homenagem a essas mulheres que, a seu modo, “colocaram de verdade a mão na massa” na construção
de Brasília. Também conta uma história da cidade que muitos não conheciam.
Memórias femininas da construção de Brasília
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Até 30/5, de 2ª a domingo, das 9h às 17h30, no
Salão Negro do Congresso Nacional. Entrada franca.
galeriadearte
Picasso em
Fotos: Divulgação
ótima companhia
Mulher sentada apoiada sobre os cotovelos (óleo sobre tela, 1939)
Por Alessandra Braz
“E
i, Zé! Isso parece de graça!”, comentou o homem ao ver a fila
na entrada do prédio que abriga o Centro Cultural Banco do Brasil em
São Paulo. Com cerca de 40 pessoas e espera de 30 minutos para a entrada, a fila
em questão era para conferir a exposição
Picasso e a modernidade espanhola, uma parceria do CCBB com o Museu Reina Sofía,
de Madri, que fica em cartaz até 8 de junho e depois segue para o Rio de Janeiro.
A exposição mostra novos caminhos
quando, ao invés de usar os “ismos” para
contar um pouco da arte moderna espanhola, escolhe, na verdade, a influência
dos artistas ali presentes. Pois, além de Picasso, é possível ver obras de Miró, Dalí,
Julio González e Juan Gris, entre outros.
“Muitos artistas não entraram numa classificação, como cubismo ou surrealismo,
e por isso nós não os estudamos, mas não
quer dizer que são menos importantes”,
afirma o vice-presidente e curador do Reina Sofía, João Fernandes.
Picasso sempre prestou atenção em artistas contemporâneos e também buscou
Cabeça de cavalo (óleo sobre tela, esboço para Guernica, 1937)
influência na história, como em Mulher
nua com a perna dobrada, inspirada em
Obra-prima ignorada, de Balzac. “Picasso
sempre foi muito generoso com artistas
novos. Sempre que eles o procuravam para mostrar sua arte ou pedir um conselho,
Picasso os deixava livres. Não queria influenciá-los de forma direta”, conta o
curador da exposição, Eugenio Carmona.
Uma das obras-primas de Picasso foi
Guernica (1937). Ao artista foi encomendado um painel para o pavilhão espanhol
da Exposição Internacional de Paris. Picasso não havia tido nenhuma inspiração até o ataque à vila de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola (19361939), e pintou o quadro. Numa tradução cubista do terror que os moradores
da vila viveram, a exposição traz todos os
estudos que o artista fez até chegar à conclusão da obra. Lá estão obras que serviram de esboço para Guernica, como Cabeça de cavalo, Cavalo e touro, Mãe com o filho morto e diversas versões de Cabeça que
chora, todas datadas de 1937.
Há também uma reprodução de Guernica de forma interativa. Com um lanterna é possível explorá-la e descobrir onde
cada um dos esboços se insere. O painel
original, de 3,49 metros de altura por
7,76 metros de comprimento, está em exposição hoje no Reina Sofía e de lá não
pode mais sair. Sua morada anterior foi o
Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York, onde permaneceu, a pedido do
próprio Picasso, até que a Espanha voltasse a ser um país democrático. Para vê-la
ao vivo, agora, só indo a Madri.
“Picasso gostava muito das mulheres”, afirma Carmona. E para elas há também um generoso espaço na exposição.
O artista espanhol foi tão apaixonado
pelas mulheres que, mesmo casado, teve
inúmeras amantes, como a modelo Marie-Thérèse e a fotógrafa Dora Maar, que
serviram de inspiração para o quadro
Mulher sentada apoiada sobre os cotovelos,
de 1939. A figura feminina está presente
em muitos de seus quadros, e as mulheres com quem conviveu foram a inspiração para vários deles.
Picasso e a modernidade espanhola
Até 8/6 no CCBB de São Paulo (Rua Álvares
Penteado, 112, Centro), com entrada franca.
Classificação etária: livre.
29
graves&agudos
Cintia Pimentel
São tantas emoções...
Por Júlia Viegas
P
30
remiado, com excelentes críticas e
público cativo. Esses são alguns
dos atributos do espetáculo As canções que você dançou pra mim, que finalmente chega a Brasília depois de encantar meio mundo por aí. O trabalho da
companhia carioca Focus estreou em
2011 e, desde então, foi escolhido o melhor do ano por jornais como O Globo e
Folha de S. Paulo. Agora, faz no Teatro da
Caixa Cultural curtíssima temporada, de
1º a 3 de maio.
Para quem não está familiarizado
com o universo da dança contemporânea, As canções que você dançou pra mim
leva para o palco, embalando o movimento de quatro casais de bailarinos, um
pot- pourri de 72 canções que se tornaram clássicos da música popular brasileira na interpretação de Roberto Carlos. E
a reverência ao Rei não para por aí: todos
os figurinos foram confeccionados em tecidos com variações da cor azul e são inspirados em modelos das décadas de 1960
a 1980, com toques contemporâneos.
Difícil não assistir ao espetáculo mexendo o corpo, cantando junto, afinal,
músicas como Por isso eu corro demais, Eu
de darei o céu, Detalhes, Outra vez, Olha,
Proposta e Desabafo fazem parte do imaginário romântico de todo brasileiro.
Quem nunca se pegou cantarolando
uma delas? Com um detalhe precioso: as
músicas, que percorrem a carreira do Rei
Roberto, são apresentadas em suas versões originais.
Na encenação, os movimentos vão
ilustrando ou propondo novas leituras
às letras das canções. Nada é muito literal. O coreógrafo e diretor da companhia, Alex Neoral, quis contar, com muita liberdade e humor, uma estória de
amor em que uma música vai puxando
outra, uma situação vai provocando outra e, ao final, o mosaico poético está
completo. “Aproveitei as intenções para
dar fisicalidade ao movimento e para
buscar uma atitude teatral”, destaca ele. Algumas passagens são antológicas,
como o duo do beijo, no qual um casal
de bailarinos faz intensa coreografia sem
descolar os lábios um do outro, e o duo
final, em que os bailarinos se movimentam sob o som da belíssima Detalhes. Mas
não tem como não se empolgar com as
cenas de conjunto, em que os dançari-
nos juntos se deslocam de maneira tão
certeira. O grupo está afiadíssimo: As
canções que você dançou pra mim está prestes a completar 200 apresentações, no
Brasil e no exterior.
No palco, além do próprio Alex Neoral, estão Carol Pires, Clarice Silva, Cosme Gregory, Felipe Padilha, Gabriela
Leite, Marcio Jahú e Monica Burity. A
Focus Cia. de Dança está chegando aos
15 anos agora em 2015 e é hoje um dos
grupos mais atuantes de dança no Rio de
Janeiro – além dessa, já tem no repertório 12 peças coreográficas.
Em Brasília, além das apresentações,
o grupo vai ministrar uma oficina de
dança contemporânea gratuita. Mas com
um detalhe: é preciso ser bailarino profissional para participar. A oficina acontece durante a tarde do sábado, 2 de
maio, as vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas até 27 de abril,
com envio do currículo para o e-mail
[email protected].
As canções que você dançou pra mim
1 e 2/5, às 20h, e 3/5, às 19h, no Teatro
da Caixa Cultural. Ingressos: R$ 20 R$ 10
(vendas antecipadas na bilheteria do teatro
a partir de 25/4). Classificação indicativa:
12 anos. Mais informações: 3206.9448.
Só 50% original
P
rimeiro, um peraí: ma che cazzo, colocaram o Kiss pra tocar do lado de
fora do Mané Garrincha? Hã? Kiss,
não a boate, mas a lendária banda norteamericana, ícone dos anos 1970, cujos integrantes usam fantasias, saltos plataforma, maquiagem e mandam um senhor
rock pesado, vai estar entre nós, pela primeira vez, na sexta-feira, 24 de abril, isso
mesmo, no estacionamento do Estádio
Nacional Mané Garrincha, o Colosso do
Eixo Monumental.
Sem mais delongas, o lance é dentro
do estádio. Foi assim com Beyoncé, Aerosmith, Paul McCartney (até hoje,
quem passa tarde da noite pelas cercanias ouve ecos distantes da galera gritando: “Pow... Pow... Pow”). Do lado de fora, é meio 171, mas tudo é possível.
Abstraindo o vacilo dos organizadores,
esta é oportunidade rara de testemunhar
pessoalmente o estado das coisas que se
passam com a banda, cujo primeiro disco,
Kiss, foi lançado em 1974. A turnê que os
traz a Brasília, aliás, é comemorativa dos
40 anos de atividade, muito embora saibamos que o Kiss praticamente começou em
1968, quando do primeiro encontro de
seus membros, em Nova York.
Originais continuam só o figuraça
baixista Gene Simmons, a língua mais
indecente do rock, e o guitarra Paul
Stanley, ao que parece o timoneiro que
sempre evitou o afundamento do Titanic em que se transformou o Kiss. Completam o circo o baterista Eric Singer e o
guitarrista Tommy Thayer. Membros originais, o guitarrista Ace Frehley e o batera Peter Criss não estão nessa por causa
de problemas.
Problemas que, aliás, ficaram evidentes
quando da entronização da banda no Rock and Roll Hall of Fame, no ano passado.
Na dita cerimônia, transmitida pela tevê,
Frehley e Criss, que não estão mais no grupo há 15 anos, subiram ao palco com Gene e Paul, ao invés dos atuais Singer e
Thayer. Trêmulos e confusos, Ace e Peter
mostraram porque, pelo menos agora, não
têm condições de pegar a estrada.
Aí é que vem o lance do Kiss. Sabemos
que o grupo original voltou triunfalmente
à ativa em 1996 (depois de 15 anos) e na
segunda metade da década de 1990 deitou
e rolou em turnês mundo afora. O excelente disco Psycho circus (1998) provou que
o Kiss ainda tinha muita lenha pra queimar. Lá por 2001, Peter já tinha saído de
novo e Ace, novamente, não estava mais
interessado na fabulosa e traiçoeira vida
mundana do rock’n’roll.
Eis que alguém teve a ideia de chamar
de volta o baterista Eric Singer e efetivar o
guitarrista Tommy Thayer, pois o show
precisava continuar. Ao invés de criar novos personagens para os dois, Singer assumiu a persona de Peter Criss, The Catman
(o homem gato), enquanto Thayer assumiu a de Ace Frehley, Space Ace (o astronauta). Só para lembrar, Gene Simmons
é The Demon (o diabo) e Paul Stanley
The Starchild (o menino das estrelas).
Uns bradaram contra a pilantragem
(algo como entrar um novo membro nos
Beatles e resolverem chamá-lo de George
ou John, por exemplo), enquanto outros
acharam bom ver o Kiss arrebentando
novamente. Pode crer que vai rolar um
best of da melhor qualidade: Rock and roll
all nite, Detroit rock city, Shout it out loud,
Beth, Christine sixteen, Strutter, Love gun,
Deuce, as farofas I love it loud e Lick it up e
a terrível I was made for loving you.
Quem for atrás de diversão, claro, vai
se dar bem. Os brasilienses Raimundos
(que precisam voltar a ser uma grande
banda) e a glam metal californiana Steel
Panther, parente distante da Massacration, fazem a abertura da pândega. Como diz o linguarudo Gene Simmons:
“Salvem os seus traseiros!”.
Kiss – 40th Anniversary World Tour
24/4, às 20h, no estacionamento do Mané
Garrincha. Ingressos (meia, 1° lote): pista,
R$ 160; pista premium, R$ 260; camarote,
R$ 350 (em www.diversaobrasil.com.br e na
Central de Ingressos do Brasília Shopping).
Classificação: 16 anos. Mais informações:
www.visionproducoes.com.
Divulgação
Por Heitor Menezes
31
graves&agudos
Diversão à
beira do lago
Divulgação
MUV Festival ocupa a orla do Paranoá com música, moda e gastronomia
Por Pedro Brandt
N
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os últimos anos, Brasília tem recebido uma série de eventos ao
ar livre, perto da natureza, valorizando a cultura local e ocupando espaços novos ou pouco utilizados. O resultado dessas iniciativas é uma nova – e positiva – sintonia entre o brasiliense e a cidade. O MUV Festival, que será realizado em 18 de abril (sábado), na Orla do
Lago, segue nessa vibe. O evento começa
ao meio-dia, chega até a madrugada e
tem na programação atrações de Brasília,
São Paulo e Lisboa.
A estrutura montada no local abrigará
uma praça de alimentação com a presença
de foodtrucks e espaço para expositores de
moda. A discotecagem será comandada
por nomes fortes da balada candanga: DJs
do Coletivo Índios, Chicco Aquino
(Makossa), Hugo Drop (Drop it like it’s
hot), Bill e Spot (Moranga), com sets ecléticos passando por rock, música eletrônica
e black music. O VJ Arthur Pessoa será o
responsável pelas projeções.
Duas bandas brasilienses serão escolhidas por votação online para participar
do MUV Festival – as vencedoras serão
anunciadas quatro dias antes do evento.
Também da cidade, os grupos O Bando
e Scalene vão se apresentar antes dos
head-liners, o rapper paulistano Projota e
o trio lisboeta Banda do Mar.
O repertório d’O Bando vai de pop
rock, reggae e música regional. Com influências de pós-hardcore e metal – e um
apelo radiofônico que tem proporcionado uma carreira em ascensão –, o quarteto Scalene participou recentemente dos
festivais Lollapalooza (SP) e South by
Southwest (EUA). Com o disco Foco, força
e fé, lançado em novembro passado pela
gravadora Universal Music, Projota vem
conseguindo projeção nacional com um
hip hop de potencial pop. “Curto Charlie Sheen, mas prefiro Sean Penn/ Renato Russo e Elis também/ Cresci entre Sabotage e Kurt Cobain”, canta o rapper
na faixa-título do álbum.
Integrada pelo carioca Marcelo Camelo, a paulistana Mallu Magalhães e o baterista português Fred Ferreira, a Banda do
Mar surgiu na capital portuguesa no ano
passado. É a atração mais aguardada do
MUV Festival, não apenas pela notoriedade do casal brasileiro que forma o núcleo do trio (que ao vivo vira quinteto),
mas pelo fato de a Banda do Mar ser um
projeto com data para encerrar suas atividades. Depois de Brasília, a banda faz
mais alguns shows no Brasil e encerra sua
turnê em julho, com shows em Portugal.
Lançado em agosto de 2014, o álbum
Banda do Mar é uma deliciosa gema pop,
um disco solar, de amor e alegrias. Até
quando fala de saudade a banda parece
longe da melancolia que marca as trajetórias de Camelo (tanto em carreira solo
quanto no Los Hermanos) e Mallu. À beira do Paranoá, o clima será de diversão e
comunhão, mas também de despedida.
MUV Festival
18/4, a partir do meio-dia, na Orla do Lago
(SCEN, ao lado do Lake Side). Ingressos (1º
lote): R$ 50 (meia-entrada para doadores de
livros, agasalhos ou alimentos não-perecíveis).
Pontos de vendas: MUV Shoes (Conjunto
Nacional), Mormaii (Conjunto Nacional,
Pontão e Brasília Shopping) e Endossa
(306 Sul) ou em www.muvfestival.com.br.
Classificação indicativa: 18 anos.
Carimbó
chamegado
Dona Onete desfila no Teatro da Caixa seu repertório de música afro-caribenha
Naiana Gaby
Por Heitor Menezes
Q
ue coisas incríveis tem o Pará.
O Estado, sentinela do norte,
como diz a letra de seu hino,
tem a culinária mais rock’n’roll do Brasil.
Do tucupi ao tacacá, do pirarucu ao açaí,
tudo é um regalo para os sentidos. A capital, Belém, foi fundada em 1616 pelos
portugueses. Dá pra imaginar que um
lugar assim, repleto de calor equatorial,
carapanãs, índios, caboclos e europeus,
tem história e cultura centenárias? Cabanagem? Aquilo sim foi revolta popular.
No campo da música, o que nos interessa, mais ou menos recentemente a guitarrada, o tecnobrega e Gaby Amarantos levaram a dita música paraense para alémfronteiras.
Reconhecimento tardio, coisas de um
país gigante pela própria natureza, mas
que no fundo, no fundo, o Brasil não conhece o Brasil... Pois bem, coloque na
sua agenda: nos dias 25 e 26 de abril, sábado e domingo, tem Dona Onete, ao vivo, no Teatro da Caixa. É mais uma oportunidade de conferir o som da rainha do
carimbó chamegado e aprender um pouco mais sobre como nossa música deve
muito aos ritmos afro-caribenhos.
Ionete da Silveira Gama, Dona Onete,
nascida em 1938 em Cachoeira do Arari
(Ilha de Marajó), já esteve aqui em outras
oportunidades. Na primeira, em 2010, ela
brilhou junto ao Coletivo Rádio Cipó e
outros artistas paraenses, no show itinerante Terruá Pará. Esse brilho continua.
Em julho, ela será uma das atrações do
Womad Festival (criado por Peter Gabriel), em Londres. Seu disco Feitiço caboclo, de 2012, é um belo cartão de visitas.
Sua audição, uma aula de etnografia, delícia para a mente e para o corpo.
Já ouviu falar em jamburana? O licor
de jambu, aquela incrível erva que dá
uma tremedeira, essencial no pato-no-tucupi, fundamental no tacacá, é o tema de
um dos grandes sucessos de Dona Onete,
no qual ela tenta descrever os efeitos sedativos e afrodisíacos da bebida e o que ela
provoca no juízo de homens e mulheres
(“O tremor do jambu é gostoso demais”).
De etnografia (e geografia), basta ouvir Balanço crioulo, no qual Dona Onete
entrega de onde vem seu som. Pegue o
mapa do norte, a confluência Pará, Amapá, Guiana Francesa, Suriname. É dali
que saem os nomes citados na letra: Kourou, Caiena, Sinnamary, Samaracá. Por
alí entraram os ritmos crioulos, o som de
Trinidade e Tobago, Granada, Barbados,
Dominica, enfim, um Brasil que, inicialmente graças aos índios, aprendeu a dia-
logar musicalmente com o calypso e a soca. Belém, o grande portal dessa mistura.
E se esses são ritmos que mexem
com as cadeiras e com o que restou do
juízo, deixem-se levar pelo Feitiço caboclo,
onde novamente Dona Onete fala de
outra maluquice só encontrada naquelas terras: o chá do tamaquaré (supostamente à venda na feira do Ver-O-Peso,
em Belém): “Se ele te bate, não manda
prender ele / Dá tamaquaré pra ele / Se
ela te chifra, não bate nela / Dá tamaquaré pra ela”. Muito exótico, amigo?
Comece pela jamburana e não perca a
aula da Dona Onete.
Dona Onete – Boleros e Bangüês
25/4, às 20h, e 26/4, às 19h, no Teatro
da Caixal. Ingresso (meia): R$ 10.
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Divulgação
queespetáculo
Um ato de coragem
Por Júlia Viegas
A
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pesar de muito jovem, Brasília já
tem seus ídolos. Dentre os atores, seguramente Murilo Grossi é
um deles. O ator – que costuma emprestar o talento para o cinema e a televisão
com bastante frequência – nunca quis
deixar sua cidade do coração. E tem se
dividido entre Brasília e Rio de Janeiro
ou São Paulo. Pois Murilo decidiu estrear na capital brasileira sua mais nova
incursão no teatro – o espetáculo Os fantasmas, escrito especialmente para ele pelo dramaturgo paulista (e também ator)
Otávio Martins. A peça fica em cartaz até
17 de maio no Teatro II do CCBB, como parte da programação festiva concebida pelo centro cultural em homenagem aos 55 anos de Brasília.
Para encenar Os fantasmas, Murilo
Grossi está com uma equipe de luxo. Para começar, a direção é de Hugo Rodas,
mestre de várias gerações de atores da cidade, também responsável pela cenografia, figurinos e trilha sonora (interpretada ao vivo pelos atores). Ao lado de Murilo, no palco, estão a atriz Adriana Lodi
e o ator William Ferreira, companheiros
de longa data. No design de luz, a assinatura de um papa no assunto, Dalton Camargos. Não tem como dar errado!
Os fantasmas brinca com a noção da
representação teatral e faz uma homenagem ao ofício do ator. O texto propõe reflexões sobre o que é a realidade e o que
é a representação da realidade. Na encenação, Hugo Rodas foi além e criou uma
analogia entre o final de uma relação
amorosa, o final da vida e o final de um
espetáculo, encontrando o que há de efêmero em cada um deles. Com muito humor e críticas ácidas à realidade de um
encontro afetivo, a montagem realiza o
que Otávio Martins chama de “antimetalinguagem”. Em outras palavras, vai além
do teatro falando sobre si mesmo para
chegar ao paradoxo que é atuar no mundo contemporâneo.
A montagem reexamina a existência
de um casal. Em cena, eles rememoram
encontros e desencontros, repassam sentimentos, revivem situações, algumas absurdas, outras bastante conhecidas de
qualquer casal – nem sempre o que se diz
é o que se deseja escutar. Mas a encenação também quer celebrar a escolha da
arte do ator de teatro. Falar de quem opta
pelo encontro único e efêmero da representação diária, que não se repete nunca,
que é como a chama de uma vela e que só
acontece no encontro entre o ator e o público. Escolher essa carreira num mundo
globalizado, cada vez mais virtual, não
deixa de ser um ato de coragem.
Os fantasmas
Até 17/5 noTeatro II do CCBB. De 5ª a
sábado, às 19h30; domingos, às 18h30.
Ingressos: R$10e R$ 5. Classificação
indicativa: 16 anos.
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