ANO 47
- No 01 - JAN-JUNí88
IGREJA LUTERANA
REVISTA SEMESTRAL DE TEOLOGIA
Publicada
2
A Corifirmaçao da Palavra
Profética . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3
pela Faculdade de Teologia
d o SeminArio Conc6rdia
Av. Getúlio Vargas, 4.388 - Cx. Postal 202
Fone: (0512) 92-4190
93020
(:oiiscllio
......................
Editorial
-
São Leopoldo, RS
A Herrnenêiitica cla Teologia tla
..............
Libertação
(Ic l<e(luçáo:
...
18
Os ~ ~ r i i i c í l ~de
i o sTraduç5o Defendidos
c Segtiiclos p o r Lutero e m siia
Tratlução da Bíblia . . . . . . . . . .
74
Lidcrciiiça Cristã iia I g r e j ~ i . . . . . . .
86
1Lool)oltlo ticiinarin
Ariiíiltlo Scliuler
Acir íi;iy~iiiiiiii
Vilsoii Scliolz
('oiiil)osiiç5o,
Aile,
I>i:i~r:iiii:iqáo e ICxl)c<liqáo:
CoiicGr<li,~Etlitor;~
IMPORTANTE
- Aceitamos
livros para recensões ou
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.I.
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vando o direito de publicá-las ou não.
!
IGREJA LuTERANA - Páglna 1
Multidões Aflitas
No auge de seu ministério público (Mt 9 e 10), Cristo olha ao redor de si e exclama: As
rnultidóes que me seguem estão aflitas, exaustas e perdidas!
Análise profunda, avaliação corajosa, conclusão dramatica da realidade espiritual do
chamado povo de Deus: Aflição, exaustão, perdição!
As multidões estão aflitas
t m seu significado original, o termo aflito é, aqui, usado para descrever a situação
aiiornial da ovelha. Qiiando é cortada sua lã ou quando ela cai nos penhascos e é macliucada com cortes de pedras e espinhos, entáo esta ovelha está aflita, encontra-se num esI'ldo dc afliçáo. Isto quer dizer que a ovclha esta ferida e dolorida, esta enfraquecida e fatignda, esta enferma e febril. A linguagem do Redentor é clara: As multidões estão aflitas como
ovelhas quc não têm pastor.
As multidões estão exaustas
É outro verbete cspocial para descrever a situacao desastrada da ovelha. Estar
exau:,to
urn ginu mais intensivo do que estar aflito. AIC:ni de englobar tudo o que 6 dito com a
pal,ivr;i aflito, estar cx;iusto ainda pode significar ser jogado ao cháo, ser empurrado para dentio d r unia vnlctn, sepiilturri ou prccipicio, ser rasgado ou quebrado. Isto quer dizer que a
ovclha cstá jogada ao chWo, esta faminta o sedciit~i,r s t á abatida e abalada, está desolada e
ab,indoii,ida, cstA aqoriirarido e dcsfaleccndo. A Iinguagcrn do Redentor é clara: As multidões
cst,>o exaustas corno ovclhas qiic não têrn pastor.
I1
As multidões estão perdidas
A ovrlha que cstá ;iflita e exausta, tarnbEm está perdida. Estar perdido é o último dos
tr6s cstAgios desastrados da ovellia: afliçáo, exaustáo, perdição. Alem disso, perdido pode
tcr os seguintes significados: cstar estragado e apodrecido, estar enganado e desviado,
estar errado c desligado, estar zonzo c desnorteado, estar desenganado e sem recuperação. A
linguagem do Redentor é clara: As multidões estão perdidas como ovelhas que não têm pastor.
O paralelo é flagrante
As multidões de ontem parecem as multidóes de hoje: aflitas, exaustas, perdidas!
As multidões de hoje parecem as multidões de ontem: aflitas, exaustas, perdidas! Muitas e
grandes multidões não têm o Pastor, e estas estão aflitas, exaustas, perdidas - o diabo está
rnatando. Muitas e grandes multidões têm pastores, e também estão aflitas, exaustas, perdidas - os falsos pastores estão matando. São multidóes fora ou sem igreja. São multidões
dentro ou com igreja. E preciso parar, refletir, comparar e agir. O paralelo é flagrante.
Diante desta realidade espiritual, que precisam fazer aqueles que pensam ter como
lema as palavras LIVRES PARA SERVIR? O evangelista Mateus mostra como o Salvador
Jesus agiu:
JESUS COMPADECEU-SE DAS MULTIDÕES!
Página 2 - IGREJA LUTERANA
A Confirmacão da Palavra Profética
- 2 Pedro 1.16-31 -
Johannes H. Rottmann
Introdução
No meio da imensa incredulidade, que jaz como uma nuvem escura sobre noçsa geração, a igreja está em perigo de ter sua fé estorvada, se não sufocada. Bodeada pelo "quem pode saber?" e o desespero dos que perguntam "quem se preocupa?", a igreja é chamada a declarar, demonstrar e viver sua fé e a chamar homens
ao arrependimento, ao retorno do caminho da morte para o caminho da vida. E a
igreja tem um mistério a revelar, um mistério cujo conteúdo é a salvação do rnundo:
Deus, em Cristo, manifestado na carne! Esta criança que, por assim dizer, entrou no
mundo "pela porta dos fundos", que jaz numa mangedoura na estrebaria de Belém;
este menino que cresceu e tornou-se aciulto num vilarejo obscuro da província desprezada do "Hinterland" da Palestina; este homem de Nazaré conhecido de seus
conterrâneos como o carpinteiro da vila... sim, este homem é homem, e mais do
que homem: este homem é "Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma s6 substância com o Pai, por quem todas as
coisas foram feitas". Nele o próprio Deus estava no meio dos homens, a fim de
cumprir a primeira promessa feita pelo próprio Deus aqui na terra: salvar os homens
das garras da velha serpente e levá-los às suas origens na presença de Deus. Ele
veio, para que "por sua morte destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber,
o diabo, o livrasse a todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão
por toda a vida" (Hb 2.14,15). Agora são "reino e sacerdotes", co-herdeiros com o
Rei da glória. E esse o ímpeto da mensagem da Boa Nova. E o centro de tudo isso
é Jesus Cristo, que se fez nosso irmão, a fim de levar-nos de.volta ao Pai que nos
criou. E este Jesus que, pendurado na cruz, desolado, desprezado pelos homens,
desamparado por Deus, morreu nossa morte, tornando-se pecado por n6s pecadores, a fim de que por sua ressurreição triunfante, nos desse a vitória sobre a morte,
vitória essa que se concretiza quando o nosso "corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade e (nosso) corpo mortal se revestir da imortalidade".
É então que também se concretizará aquilo que o anjo, no monte da ascensão,
disse aos "homens da Galiléia": "Este Jesus que dentre vós foi assunto ao céu,
IGREJA LUTERANA - Página 3
assim virá do modo como o vistes subir" (At 1.1 1). E neste momento toda mentira
desvanece e toda a verdade será vista e compreendida; um novo c6u e uma nova
terra, "onde habitará a justiça", a nossa morada, em que nem templo precisa existir,
porque Deus é tudo em todos. - Será verdade tudo isto? - Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, diga-nos, 6 tudo isto verdade? Podemos confiar nestas afirmações? Não
são sonhos; criados pela fantasia humana? Não são todas estas afirmações deduzidas de pressupostos humanos? Diga-nos, Pedro!
E IA, então, levanta-se aquele discípulo do Senhor, que por muitas tribulações,
pc>r muitas ciladas, por muitas quedas, finalmente chegou bem perto daquele momiento em que por sua morte de mártir "glorificaria a Deus"; e a todas estas perguntas ele responde, de voz firme, convicto, inabalado por tudo:
"Am,?dos,não f o ~scgu1r7CJO fríbulas suhs, [nas por termos sido testemunhas
on11,irt~sda sua rn,qestnclc (heréticos de tendência gnóstica confeccionaram esperi~laçõesgratuítas ern apoio dos seus erros sobre o retorno de Cristo. Quanto a Pedto c aos apóstolos, eles transmitem os fatos dos quais foram testemunhas oculares, especialmente também por ocasião da transfiguração - cf. 2 Pe 3.4,5; 1 Tm
1 4; 6.20, Lc 1.2, At 1.8~s; 1 Jo 1.l-3; Mt 17.2s~; Mc 9.2%; Lc 9.29~s.)que vos
ck)r-rinsa cor~hrccro podcr r a vrnda d c nosso Ser7t70r Jesi~sCrlsfo. POISque ele rec r l ~ cdr DL~LIS
Pa/ hoi~rnc qlór~n,quando urna voz vlndo da sua glór~alhe drsse: EsIr i; o I J J ~ YF~llio
I
,~rn,~do,
(vi1 q i i ~ t nITIC co1iipra.70. Esta voz, nós a ouvimos quando
IIt(~f o ~
cl~r~qrcin
do c&, do ('st;irr?~í?s
c0171d e 110 montc santo" (no monte da transfiguraç30, que se tornou santo por causa da presença revelada de Deus Mt 17.2~se paralcios).
" T c ~ i ~ otnrrili6rn,
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p o ~IT~,IIS
f1r171ra pnlnvra dos profetas, a qual fazels bem em
rclcorlcr cortio R i l r 7 1 ~luz q i ~ cl1r11/7<1
C ~ Iiignr
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rscilro, até que rale o d ~ a
e suga a esBill,r tl;-ilvn ern nossos c o ~ n ~ õ eAlilcs
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de rnns nada sabe1 ~ s t o 'que nenhuma profcrin da Cscrilura rcsulta tl'c ulnn /ntcrprctn~5oparticular, POIS que a profecra jamais
velo por vor~hdc/~u~nnnn,
rnns os l~omcnsrmpelrdos pelo Espírito Santo falaram da
parte cl'e Deus':
I - A GLÓRIA E A INFALIBILIDADE DA PALAVRA ENCARNADA
E ESCRITA - 1.16-18
Encorajando os seus leitores de viver uma vida consagrada e séria, como filhos
de Deus na terra, o apóstolo Ihes aponta a absoluta certeza do retorno do Senhor.
Ele sabe muito bem que sua caminhada através da "dis~ersão",como um peregrino
do seu Senhor, rapidamente está chegando ao fim; porem, ele espera que essa carta Ihes seja, mesmo depois de sua partida, companheira no caminho tortuoso bem
Página 4 - IGREJA LUTERANA
como palavra de consolo. A indicação do grande final de toda a obra redentora de
Deus - o poder, a glória e o retorno de nosso Senhor Jesus Cristo - perpassa a
carta, como tema de uma sinfonia, que sempre aparece de novo. Sim, a esperança
do retorno de Cristo é o pólo central e o fundamento absolutamente sólido de todo
seu "procedimento no meio dos gentios", como "peregrinos e forasteiros" nesta terra. Enquanto retém a firme esperança pelo retorno do Senhor, que é a força propulsora de sua vida terrena, o apóstolo não se esquece de apontar sempre de novo
para a certeza e a veracidade da doutrina em que se baseia sua fé. Heréticos se infiltraram no meio dos cristãos aos quais o apóstolo escreve, que negavam o retorno
de Cristo para a vitória e o juizo final. Com essa negação, quiseram criar uma lacuna em que pudessem enxertar suas próprias idéias de uma vida cheia de prazeres
terrenos e de "liberdades", "falando jactanciosamente de coisa fúteis", procurando
"seduzir com as concupiscências da carne". O apóstolo Pedro caracteriza esta gente com palavras ásperas, pois prometem "liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupçáo, pois cada um é escravo daquele que o vence" (2 Pe 2.1 8ss.)
O retorno de Cristo
Estes hereges colocavam em dúvida a veracidade da doutrina cristã sobre o retorno de Cristo e diziam, zombando: "Onde ficou a promessa da sua vinda? Quando finalmente se realizará? Não será tudo isso ilusão? Pois de fato, 'desde que os
pais morreram tudo continua como desde o princípio da criação'. E puro engano, o
que dizem sobre um retorno de Cristo para o juízo final!" (cf. 2 Pe 3.4) - E não se
limitou a isto a zombaria dos heréticos no meio dos cristãos: 0 s apóstolos, afirmavam eles, não só proclamavam mitos, por eles mesmos inventados, mas ainda estariam deduzindo destes mitos doutrinas totalmente absurdas. A estas insinuações o
apóstolo responde com palavras inequívocas: "Não foi seguindo fábulas sutis, mas
por termos sido testemunhas oculares da sua majestade, que vos demos a conhecer
o poder e a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo." E continua, apontando para a certeza e veracidade de tudo que afirmam os apóstolos: "Pois ele recebeu de Deus Pai
honra e glória, quando uma voz vindo da sua glória lhe disse: 'Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo!' Esta voz, nós a ouvimos quando lhe foi dirigida do
d u , ao estarmos com ele no monte santo."
Nestas afirmações, Pedro está contrastando a mensagem apostólica com as
divaga~õesdos heréticos. A mensagem apostólica não contém sesofisménois nlythois exakolouthésantes - "imitações de sofisticados mitos" - e sim epóptai genethéntes tês ekéinou megaleidtetos - "coisas colocadas diante de seus olhos, que,
eles não podiam deixar de ver e que precisavam relatar". O poder e a g16ria do seu
Svnhor não foi algo revelado a eles em termos incertos, revelações das quais então
túriam extraído lendas e romances de acordo com suas próprias fantasias. Absolu-,
IGREJA LUTERANA - Página 5
tamente não! O poder e a glória de seu Senhor Ihes foram colocados diante dos
olhos, na medida em que foram epótai Eles não podiam deixar de vê-lo. Eles não
podiam fechar seus olhos.
"O poder e a vinda", do Senhor estão interligados. O retorno do Senhor realizar-se-á na plenitude do seu poder. O próprio Cristo o descreve, conforme recorda
Mateus: "Então (depois de o sol e a lua terminarem sua tarefa, as estrelas terem
caído do c6u e os poderes do céu forem abalados) aparecerá no c6u o sinal do Filho
do Homem e todas as tribos da terra baterão em seus próprios peitos, ao verem o
Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória. Ele enviar& os seus anjos que, ao som da grande trombeta, reunirão os seus eleitos dos
quatro ventos, de uma até a outra extremidade do céu" (Mt 24.30,31). Sim, "quando
o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará
rio trono da sua glória. E serão reunidas em sua presença todas as nações e ele
separará os homens uns dos outros, corno o pastor separa as ovelhas dos cabritos ...."(Mt 25.31,32).
O termo parousia - vinda - (Pedro, em sua primeira carta, usa o termo apokiilypsis -- "Revelação de Jesus Criston, 1 Pe 1.7,13; "revelação da sua glória", 1 Pe
4.13) no grego comum muitas vezes foi usado para designar e descrever a visita oficial dum rei ou duma alta personalidade a uma região ou cidade. Pedro afirma que
ele e os outros apóstolos sabem algo bem definido sobre o poder de Jesus Cristo e
sobre seu retorno certo, sua visita "oficialn como Rei dos reis. Eles viram raios de
sua majestade e glória, que aparecerão naquele dia em todo o seu esplendor.
Testemunhas oculares
Não são mitos! Certamente qiie não! Ao contrário (allá): fomos feitos testeinunhas oculares. Querendo ou nRo, eles se tornaram testemunhas, convidados
pelo próprio Mestre. - De acordo corn os Evangelhos, havia somente três testemunhas oculares da majestade do Senhor no momento da sua transfiguração. E quando Pedro escreveu estas linhas, uma das testemunhas, Tiago, há muito já sofrera
morte de mártir (At 12.1,2). Achamos, porkm, que, apesar de Pedro, neste texto, se
referir especialmente à transfiguração, a demonstração da glória e do poder de Jesus inclui muitas ocasióes. O apóstolo João, a outra testemunha ocular da transfiguração que ainda vivia naquela ocasião, certamente não se restringe 3. transfiguração
quando escreve: "Nós vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio
de graça e de verdade" (Jo 1.14). Ou essa outra afirmação do mesmo apóstolo: "O
que era desde o principio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e nossas mãos apalparam da Palavra da vida... vo-lo anunciamos" (1 Jo
1.1-3). Certamente a manifestação de sua glória não se restringiu à transfiguração.
Página 6 - IGREJA LUTERANA
Eles viram sua glória, no início do seu discipulado, por ocasião das bodas de Caná
da Galiléia, a glória que era a do onipotente Criador. Viram a glória do ressurreto,
glória triunfante sobre o Último dos inimigos. Viram sua glória no momento de sua
ascensão e ouviram o anjo falar de sua glória final: "Esse Jesus que dentre vós foi
assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir" (At 1.I 1). Ah, sim, eles viram com seus próprios olhos a glória do eterno Rei dos reis!
A linguagem usada pelos apóstolos contem todos os elementos de um relatório sobre um acontecimento real. Longe de confeccionar uma historieta, ele coristrói
seu relatório como se fosse um edifício: eles foram feitos testemunhas oculares; IA
houve uma voz, sem sombra de dúvida; lá eles ouviram esta voz; sim, lá eles entenderam o que esta voz dizia. Empregando os verbos no aoristo, Pedro destaca
que aquilo que por ele é narrado aconteceu de fato num determinado tempo no passado. O poder do Senhor e sua vinda não são mitos confeccionados, não são falatórios de "velhinhas caducas", não são "fábulas profanas" de folclore judaico. Pedro
afirma que já receberam, por assim dizer, uma prestação e um antegosto de sua
vinda gloriosa no futuro, quando tiveram o privilégio de presenciar a transfiguraçáo.
O que aconteceu naquele "monte santo" foi uma autenticação das promessas de
Deus. A transfiguraçáo do Senhor foi um cumprimento parcial, com a plena indicação de um cumprimento pleno, da revelação do poder e da glória. Com esse cumprimento total em mente o apóstolo estava pronto de despojar-se de sua "tenda terrena" (2 Pe 1.I 3).
Pedro fixa sua memória num determinado momento e refere-se a um evento
especifico no seu convívio com Jesus. Ele poderia ter tomado um quase sem número de eventos, assim como o apóstolo João - uma das três testemunhas oculares
- no fim do seu Evangelho o afirma, a saber, se as "muitas outras coisas", que Jesus fez, fossem escritas, "creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam" (Jo 21.25) Não, uma das demonstrações da glória e do poder do Senhor
basta:
"Com efeito" (gar), assim Pedro começa. E então refere-se à transfiguraçáo,
aquele evento relatado em três dos quatro Evangelhos, e que era conhecido por todos os seus leitores, pois o próprio apóstolo certamente o incluiu nas suas mensagens. Lá Pedro, Tiago e João, os três apóstolos mais intimamente ligados a Jesus,
viram a honra e a glória que este homem, Jesus de Nazaré, recebeu de Deus, seu
Pai, quando "seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes tornaram-se alvas
corno a luz" (Mt 17.1 e passagens paralelas em Mc e Lc). E neste momento eles
ouviram aquela voz tonitroante que milênios antes já fora ouvida num outro monte
por Moisés e o povo de Israel. É assim que a Lei pronunciada por Deus no Monte
Sinai se cumpriu no outro monte da transfiguração. A Lei veio mediante Moisés, a
graça e a verdade, porém, por Jesus Cristo. A Lei dada por Deus oferecia vida a
I G R E J A LUTERANA - Págir;a 7
Israel, se fosse cumpriaa. Porern, em lugar da vida a Lei tornou-se coveiro por causa
da desobediência. Aqui, no monte da transfiguração, estava a obediência perfeita e
completa, encarnada naquele em quem o Pai se compraz, aquele, por cuja obediência até a morte, sim, morte na cruz, a vida verdadeira tornou-se de novo possível para os homens perdidos. Assim a Lei e os Profetas, simbolizados pela aparição de
Moishs e Elias, acharam seu curnprimento neste Jesus, filho de Maria, que tem o
prazer perfeito do seu Pai e a quem ele amava com todo seu amor eterno. Publicamente agora o declara, mesmo sendo homem, "meu Filho amado".
O Filho Unigênito
É neste ponto em que a linguagem humana tem seu limite: este Jesus, conhecido por muitos como sendo filho da casa de José de Nazaré, não é outro senão
aquele de quem o salmista canta: "Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse:
Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei" (SI 2.7). Não 6 outro senão aquele de quem
a igreja cristã desde a antiguidade confessa que é o Unigênito do Pai, Deus de
Deus, Luz de Luz, gerado, náo criado... Este Filho eterno Deus, do qual Pedro fala,
é, por assim dizer, declarado oficialmente o Filho arnado do Pai pela voz do c6u. E
este Filho eterno do eterno Deus feito, por sua própria vontade, homem, filho de Mana -- neste momento coloca-se ern nosso lugar e, por sua obra redentora, nos faz
seus irm5os e filhos de Deus. As palavras pnrecern faltar ao apóstolo quando ele
quer descrever o indescritível:
Este rncgaloprep6s ddxa - glória suprema, a maio; glória existente - da qual
veio a voz, é o eterno Dcus mcsmo. E o fato absolutamente incompreensivel, indescritível, é que neste Jesus de Nazaré a glória de Deus se concentra. Neste rnomente fulgurante, o sentido total, eterno e profundo do que Ihes foi revelado continuou sendo um misterio. Contudo, ern sua mcnte se imprimiu o pressentimento que
aquele Jesus não s6 era o Messias divinamente ordenado, o Salvadoiprometido, e
sim o verdadeiro Filho do verdadeiro Deus. E significativo que no relatório de Lucas
o adjetivo agapetós - amado - de Mateus e Marcos é substituído por eklelegménos (part. perf. pass. de ckl&go)= o escolhido, o eleito. Este verbo nos leva a 1s
42.1-3, onde Deus fala do seu Servo, daquele que ele quer colocar no serviço supremo da salvação dos homens: "Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu
escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele
promulgará o direito (a justiça verdadeira,como sabemos, operada por sua própria
morte e ressurreição) para os gentios... Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, (os que sofrem-e são quebrantados por seus pecados);
ern verdade promulgará a sua justiça."
As palavras que o Pai falou neste momento da transfiguração do seu Filho
humanado são as mesmas que foram ouvidas pelo Batista, quando Jesus ia come-
Página 8 - IGREJA LUTERANA
çar suas atividades messiânica na terra (Mt 3.13-17 e passagens paralelas). Na
transfiguração, ao iniciar sua caminhada final para a morte na cruz, estas mesmas
palavras confirmam o que foi dito pelos profetas e o que o Batista ouviu (Jo
1.32-34), a saber, "que ele é o Filho de Deus". E mais uma vez a mesma voz se fez
ouvir, ao Jesus entrar na Última semana de sua vida no estado de humilhação, voz
essa que alguns pensavam "ter havido um trovão" e outros tomaram por ser voz de
um anjo. Porém o apóstolo João afirma ter sido a voz do Pai do céu, relatando a
resposta de Jesus a Filipe e André quando os dois queriam apresentar Jesus aos
gregos que por ele perguntavam: "É chegada a hora de ser glorificado o Filho do
homem..." Na continuação das ponderações sobre esta hora, que ao mesmo tempo
lhe traria a morte e a glória, o próprio Jesus comenta a sua conduta nesta hora:
"Agora está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora?
mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome!" Então veio uma voz do céu: "Eu já o glorifiquei, e ainda o glorificarei."
(Jo 12.20-29).
Porém a voz não foi só para confirmar as palavras de Jesus; ela veio expressamente para que seus discípulos soubessem - na hora mais amarga de sua convivência com Jesus - que, apesar de tudo que eles viram, a humilhação até ao extremo com sua morte na cruz, este Cordeiro imolado era nada mais e nada menos
do que o Salvador eleito por Deus, seu próprio Filho. Assim Jesus explica a voz a
seus discípulos: "Não foi por mim que veio esta voz, e sim, por vossa causa. Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso" (Jo
12.30,31). 0 s discípulos por essa voz devem saber que tudo o que lhe acontecerá
não será um episódio na história do povo dos judeus, mas será a hora em que, pela
morte do Escolhido, o mundo e seu dominador, o diabo, serão julgados. E eles, os
seus futuros representantes na terra, devem saber isto; eles devem estar convictos
de que IA na cruz não morreu um homem, se bem que santo, mas o Filho de Deus
humanado, o Salvador prometido desde a primeira mensagem da salvação dita às
portas fechadas do Paraíso.
Longe de ser uma fábula, lenda, mito, este evento no monte santo foi revelação do próprio Deus. Certamente não foi uma ilusão, um sonho, uma experiência
esotérica de uma única pessoa. Foi um acontecimento real, que se realizou num determinado lugar, que foi visto e ouvido por testemunhas absolutamente idôneas. Diz
Pedro, sem hesitação: Nós estivemos lá. Nós ouvimos a voz. Nós vimos a glória
que ele recebeu. E sabemos que ele virá em poder e glória - apesar de tudo o que
os zombadores afirmam.
IGREJA LUTERANA - Página 9
2 - A GLÓRIA DA PALAVRA ENCARNADA E A GLÓRIA DA
PALAVRA ESCRITA - E É SUA CERTEZA
1.19-21
-
"Temos, também, por mais firme a palavra dos profetas, a qual fazeis bem em
recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja
a estrela d'alva em vossos corações. Antes de mais nada sahei isto: que nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular, pois que
a profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens, impelidos pelo
Espírito Santo, falaram da parte de Deus. "
O que podemos saber por certo neste mundo escuro, prestes a sossobrar, e
onde tudo é tão confuso, tão repugnante? Tudo o que se afirma não passa de opinião, afirmação sem fundamento, mito? Não temos nada em que podemos firmar
nosso pé, pôr nossa confianca? - "Irmáos", diz Pedro, "n6s temos tido a palavra
firme que os profetas falaram e escreveram no Antigo Testamento. Agora temos esta palavra ainda mais firme, por causa do cumprimento desta palavra na pessoa e
obra de Cristo." - Quando esta carta foi escrita, s6 lima parte daquilo que hoje
chamamos de "Novo Testamento" estava concluída. Por isso, o apóstolo não chama
a atenção para os escritos do Novo Testamento, mas pede que seus leitores perscrutem tudo o que os profetas tinham escrito. Esta palavra, a dos profetas, essa
palavra, a do Antigo Testamento, que era a Bíblia dos cristãos da primeira geração,
brilhava corno unia luz no mundo idólatra e corrupto de então, a luz que os podia
conduzir ao glorioso dia final da glória do Filho de Deus. Assim já Zacarias, no seu
Benedictus, tinha cantado: "Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo
qual nos visita o Astro das alturas ("astro" = anatolê = um dos títulos do Messias
esperado pelo povo, a "Estrela da Manhã", que traz a luz (Nm 24.17; MI 3.20; 1s
60.1) = o rebento que surge do tronco de Davi (Jr 23.5; 33.15; Zc 3.8; 6.1 2)), "para
iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, para guiar nossos passos
no caminho da paz" (Lc 1.78,79).
A tradução parece indicar que temos uma palavra da profecia mais certa, mais
firme do que aquela que Pedro mencionava terem ouvido no monte santo, no momento da transfiguração; ou que, possivelmente, Cristo agora seria a Palavra mais
firme, uma espécie de luz interior, a qual deveríamos seguir. Porém bebaióteron =
mais firme - é usado como um predicado: Temos, possuímos, mais firme a palavra
profética. A palavra dos profetas é firmada, afirmada, confirmada. Como? E o que
significa ton profetikón Idgon (a palavra profética)? Qual é o sentido de pâsa profetéia yrafês (toda a profecia escrita), no v. 20? Devem ser tomadas no seu sentido
geral - ou particular? Essas expressões referem-se a todo o Antigo Testamento, e,
desta maneira, devem ser tomadas num sentido, por assim dizer, técnico? Ou referem-se esses termos somente às profecias sobre a vinda do Messias?
Página 10
-
IGREJA LUTERANA
Impelidos pelo Espírito
A resposta torna-se clara quando olhamos para o v. 21, onde Pedro afirma que
os profetas, homens santos de Deus, falaram "impelidos pelo Espírito Santo". Isto
certamente é confirmado pelo próprio Jesus ressuscitado, quando, naquela tarde da
primeira Páscoa cristã, acompanhando os dois discípulos no caminho de Emaús,
Ihes disse: "Ó insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas
anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua g16
na? E, começando por Moisés e por todos os profetas, interpretou-lhes em todas as
Escrituras o que a ele dizia respeito" (Lc 24.25-27).
O apóstolo constata que o Antigo Testamento foi autenticado com o cumprimento das promessas em e por Cristo. Assim o próprio Jesus já dissera aos seus
discípulos: "Felizes os olhos que vêem o que vós vedes! Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes, mas não viram, ouvir o que ouvis,
mas não ouviram." (Lc 10.23,24).
Portanto, Pedro, em nosso texto, não quer afirmar: as palavras que os profetas
disseram foram mais certas do que aquilo que nós vimos no monte, desta maneira
fazendo das palavras proféticas garantia mais firme do que os acontecimentos dos
quais ele, com Tiago e João, participou. Ao contrário, o apóstolo afirma que aquilo
que ele, juntamente com os outros, viu e ouviu lá no monte confirma amplamente as
palavras que os profetas do Antigo Testamento proferiram. Sim, tudo o que os
apóstolos viram e ouviram durante os mais de três aqos de sua convivência com Jesus, inclusive a transfiguraçáo, serviu para tornar mais firmes, mais seguras todas as
palavras profetizadas com respeito ao Messias. Pedro não está fazendo uma comparação entre as palavras dos profetas e a transfiguraçáo e tudo o que os apóstolos
viram e ouviram, como se uma das duas fosse mais firme do que a outra. As palavras dos profetas e as palavras e feitos de Jesus não são antitéticos. Não. Aquilo
que aconteceu no monte da transfiguraçáo sjmplesmente confirmava o que foi dito
no Antigo Testamento. O Antigo Testamento era totalmente certo e seguro mesmo
antes das palavras faladas por Deus durante a transfiguraçáo. Foi a mesma voz que
se fez ouvir no santo monte que antes falou aos profetas. Com a vinda de Jesus
Cristo a profecia se torna história. Hó profetikds Iógos (a palavra profética) torna-se
hó Iógos sam (a palavra encarnada). Em vez de forjar mitos, eles viram e ouviram
com seus próprios olhos e ouvidos cada palavra profética cumprida em Jesus quando ele vivia com eles.
Luz na escuridão
E por essa razão que o apóstolo convida os cristãos a recorrerem às palavras
proféticas, porque elas são "uma luz que brilha em lugar escuro". O mundo de hoje
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certamente 6 auchmêros tdpos - um lugar tenebroso - não s6 por causa da decadência moral, mas em especial por causa das múltiplas heresias e opiniões teológicas das mais absurdas que se alastram mais e mais: uma verdadeira selva que pode levar uma alma ingênua ao desespero. O nosso caminho, como peregrinos na
terra, passa por esta selva. O perigo de se perder neste matagal e de não chegar ao
alvo colocado por Deus 6 deveras grande. Existe, porém, esperança. Existe um sinal de tráfego infalível neste mundo tenebroso. Existe, isto sim, uma luz que brilha
em lugar escuro e cada peregrino pode vê-la em meio a escuridão. É a Palavra profética que confirma tudo o que temos ouvido de Cristo e da salvação realizada por
ele. Essa luz nos mostrará o caminho, nos guiará até o dia em que nosso Senhor
retornar e com sua vinda afastar toda a escuridáo. Então essa lâmpada não mais
será necessária. Até aquele dia, porém, necessitamos daquela lâmpada preparada
por Deus. Contudo, a Iâmpada não foi posta a esmo. A luz que brilha na escuridão
exige ação, exige que andemos nela, demonstrando que somos iluminados por essa
luz, tornando-nos tamb6m luzes neste mundo tenebroso. Então Deus verá concretizado o objetivo da luz, que é a sua Palavra: nossa vitória até o fim.
O que, entretanto, o apóstolo quer dizer com as palavras: kai fosfóros anatéile
en tais karciínis hymon = e "surja a estrela d'alva cm vossos corações!" Se o "raiar
dia~~g;íse)
se refere ao aparecimento do nosso Rei glorioso, o que,
do dia" (/~cniérn
entno, é este "carregador da luz" em nosso coraçSo? As duas frases estão intimamente ligadas. SerR que esse tcxto táo extraordinário nos quer dizer que - até o
raiar daquele grande dia - a Ijmpada brilhante da Palavra nos guiará na caminhada que ainda está à nossa frente, c ao mcsmo tempo será uma luz no coração? Será que o carregador da luz em nosso coraçáo é a nossa fé nessa Palavra, uma fé
sustentada pelo Consolador c protegida por ele? Será que a firme Palavra da profecia, cujos raios radiantes apontam para Cristo, é autenticada, firmada em nossos corações pela fé operada pelo Espírito Santo? Achamos que Sim!
Porém ainda outras ponderações nos levam a outras facetas deste grandioso
texto: Sem dúvida a "Estrela d'alva" (o termo fosfóros, de fôs = luz, e féro =
carregar, 6 um hL?ipax-/egÓmel?on, s6 ocorrendo neste texto; em Ap 2.28 temos a
expressão hd astêr proinós - Estrela d'alva) também pode referir-se aos sinais dos
Últimos tempos, sinais que precedem o grande dia da segunda vinda do Senhor. O
romper do dia e a estrela ascendente são intimamente ligados. Antes do sol nascente aparece um corpo brilhante no céu que solenemente anuncia a iminente vinda
do sol e sinaliza que a escuridáo em breve desaparecerá. João, o Batista, foi um tal
arauto, clamando no deserto, anunciando o Messias, preparando o caminho do Senhor e profetizando : "A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne o verá, pois
a boca do Senhor o disse" (1s 40.5). O apóstolo, em nosso texto, diz que o dia raiará
e o percursor deste dia, o carregador da luz, surgirá em nossos corações. O próprio
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IGREJA LUTERANA
Jesus, falando deste evento momentoso, diz: "Ora, ao começarem estas cousas a
suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se aproxima"
(Lc 21.28). Também na parábola da figueira: "quando já os ramos se renovam e as
folhas brotam, sabeis que estA próximo o verão" (Mt 24.32).
Dai podemos concluir que o cristão saberá em seu coração por que crê firmemente nas promessas e nas palavras reveladas, o que acontecerá em breve e, enquanto os incrédulos se enchem de temor e tremor, espera com alegria "os novos
céus e a nova terra, nos quais habita justiça" (2 Pe 3.13). Quando o cumprimento
começa, a profecia recua. Assim como os apóstolos foram testemunhas oculares da
glória de Cristo e viram em Jesus se cumprir tudo o que os profetas disseram, assim
também serão os acontecimentos que imediatamente precedem o retorno do Senhor, cumprimento de todas as profecias. Porém antes que o Sol verdadeiro apareça, precisamos recorrer à Palavra Profética, essa luz que brilha em lugar tenebroso e
escuro. Até aquele momento glorioso do raiar do Sol, essa luz que, qual farol, mostra o caminho através da selva do mundo pecaminoso, nos guiará seguros ao alvo
desejado.
A essa palavra devemos dar toda nossa atenção. Nosso Senhor diz que são
as Escrituras "que de mim testificam" (Jo 5.39). As Escrituras proclamam a Cristo.
E porque eles proclamam a Cristo n6s as aceitamos, sim, aceitamos cada palavra
delas e nos colocamos inteiramente debaixo e em submissão a elas, porque elas
nos apresentam a Cristo. Sem Cristo elas se tornariam um livro qualquer de ética,
de moral, de leis - sem qualquer mensagem da salvação. E é por causa disso que
devemos estudar as Escrituras, estudar as palavras nelas escritas, porque as palavras são palavras de Deus, palavras de Cristo, nelas o nosso Senhor fala conosco.
Essa é a glória e a majestade das Escrituras. E 6 por isso, também, que o apóstolo
adverte a que não se abuse das Escrituras, dando a elas "interpretação particular",
visando seu proveito próprio, como se fosse dele, da invenção deles, essa Palavra
divina. Elas não são palavras humanas que podem ser dominadas, interpretadas
pelo homem como se ele fosse seu dono e senhor. A Palavra Profética é a Palavra
de Deus, na qual, e pela qual, Deus fala e age. É necessário prestar-lhe atenção,
como um filho obediente presta atenção ao que seu querido Pai lhe diz e recomenda.
Não humano
O apóstolo, porém, aponta também para um "sinal vermelho", e chama a atenção para um perigo, ou seja uma conclusão errônea: "Antes de mais nada sabei isto: Nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular." Com
tais palavras o apóstolo lembra que nada do que os profetas do Antigo Testamento
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disseram, sim, nada do que está escrito no Antigo Testamento pode ser classificado
como opinião humana ou tentativa de humanamente explicar os caminhos de Deus
com seu povo e com o mundo. Temos nesta afirmação apostólica, sem dúvida, uma
forte advertência contra todas as tentativas de nivelar a revelação de Deus na Bíblia
com qualquer livro da história humana. 0 s profetas não nos dão prognosticações
humanas de eventos que eventualmente se realizariam no futuro. Ao mesmo tempo
Pedro está censurando severamente os falsos profetas e heréticos que também referem às Escrituras, citando-as para fundamentar suas heresias. Sim, eles usam as
Escrituras. Cuidado, porém! Eles são "ignorantes e vacilantes" que "deturpam", por
exemplo, as cartas de Paulo, "como também deturpam as demais Escrituras, para
sua própria perdição", portanto, "acautelai-vos"! (2 Pe 3.1 6,17).
E evidente que ninguém deve fazer da Escritura um brinquedo e deixar sua
própria fantasia ser o padráo da interpretação. O apóstolo destaca que nem os próprios profetas formulavam suas próprias idéias para, à base delas, então inventar
profecias de acordo com seus sonhos. Somos chamados, diz Pedro, para deixar a
Palavra da profecia falar conosco e não para introduzir nela as nossas idéias, a fim
de que ela diga o que nós queremos que fosse dito. Certamente o apóstolo está outra vez atacando as "fábulas engenhosamente inventadas", mencionadas no v. 16.
O poder e a vinda do nosso Senhor foram atacados como sendo invenção dos apóstolos. Em resposta a esse ataque, Pedro diz que de modo nenhum os apóstolos
imaginaram essas coisas à base de suas próprias fantasias, pregando-as então como sendo verdades. Assim também nenhum dos profetas formulava profecia com o
fim de satisfazer suas próprias imaginações e interpretações.
Origem divina
O apóstolo está aqui fazendo uma afirmação geral com respeito a todo o Antigo Testamento. Nenhuma profecia da Escritura pode ser submetida a interpretação
particular e fantasiosa. O que vale não são idías epilyseos = soluções, interpretações próprias, e sim, tên íonên... ex ouranóu enechthéisan = a voz vinda do céu.
Nenhuma profecia jamais veio thelêmati anfhrôpou = por vontade humana, mas
por ánthropoi theóu íerómenoi hypó Pnéumatos Hagíou = homens de Deus, impelidos pelo Espírito Santo. Por isso devemos ouvir o que os profetas dizem. Não
chegar às Escrituras com opiniões já anteriormente fixadas em nossa mente para
que digam o que corresponde com as nossas idéias. 0 s heréticos, falsos profetas,
tratam as Escrituras "dissimuladamente" (2 Pe 2.1); nós precisamos dar atenção ao
que o Espírito Santo está nos ensinando através da palavra profética, porque foi
Deus, o Espírito Santo, que os impeliu a assim escrever. Qualquer maneira diferente de lidar com as Escrituras leva à destruição tanto da Escritura quanto dos que assim agem. Quando os profetas falaram, reproduziram fiel e totalmente aquilo que
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Deus Ihes revelava. Portanto, é dever nosso ouvir atenciosamente e aceitar o que
eles dizem. Eles foram os porta-vozes de Deus. Sim, mais ainda: eles não somente falaram por Deus, Deus mesmo falou através deles.
E essa palavra é uma palavra para cada um de nós. Não somos convocados
para sermos jurados no processo de julgamento da Escritura, como se pudéssemos
ter a capacidade de realmente julgá-la. Também não podemos ser seleciondores ou
colecionadores de Escrituras, julgando qual é e qual não é Palavra de Deus. Nem
mesmo um enfoque cristológico basta para tal "avaliação". Não podemos simplesmente dizer: Essa parte é aceitável, porque é cristológica; a outra é simples história
que pode ser aceita ou rejeitada. A Escritura Sagrada é indivisível. É verdade: Cristo é o centro real e a chave de toda a Escritura. Agora, até ele, durante sua atividade e vida terrena, se submeteu à Escritura. tomou-a como autoridade e a cumpriu.
Sim, como pode a Escritura ser "o resultado de uma interpretação particular",
se ela não teve sua fonte na vontade humana? Pedro diz claramente que a profecia, a Escritura, não foi resultado de uma ação criadora humana, de uma genial idéia
religiosa ou literária. Ela não deve sua existência a qualquer capricho ou imaginação fértil dum homem. Profecia veio através de homens, é verdade, porém de homens de Deus movidos e impelidos pelo Espírito Santo. Foram homens ferómenoi
= levados, carregados pelo Espírito Santo. Empregando material humano, homens
como criaturas, Deus os empregou a reproduzirem em linguagem humana aquilo
que ele Ihes transmitiu e queria que fosse revelado por escrito. A mensagem destes
homens era realmente'a mensagem do próprio Deus. Eles foram compelidos, constrangidos por uma força maior do que qualquer desejo e força criativa humanos. O
particípio ferómenoi expressa o mesmo conceito ou imagem que Paulo usa ao escrever a Timóteo: passa grafê theópneustos = toda a Escritura é inspirada por
Deus (2 Tm 3.16). E este "inspirar" tem a mesma fonte que, segundo Gn 2.7, é a
fonte de toda a vida: "Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe
soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente." Deus
soprou, inspirou sua própria vida no homem. A conseqüência foi o homem que vive.
Deus moveu, soprou, inspirou os homens com seu Espírito e o resultado foram palavras que dão vida, vida espiritual, vida da parte de Deus, vida eterna. Assim como o
homem, na criação de Deus, recebeu sua vida de Deus e deste modo vive, também
estas Escrituras, uma vez inspiradas, trazem consigo a vida de Deus. Do pó da terra, Deus outrora formou o homem; e deste "pó da terra", destes homens, Deus forma sua Palavra. E como no livro de Gênesis Deus não nos conta em detalhes como
ele formou o homem do pó da terra, assim também não nos revela como se deu a
inspiração, qual foi, por assim dizer, o "mecanismo" da inspiração. Conhecemos
o hdti = o que; mas nada sabemos sobre o pôs = o como. Sabemos que a Escritura 6 inspirada; mas como isto foi feito permanece, para nós, um mistério.
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O v. 16 chega a seu ponto culminante no v. 21. Os apóstolos não seguiam
"fábulas engenhosamente inventadas", e sim profecia que veio de Deus e cujo cumprimento em Cristo eles pessoalmente presenciaram. Em tudo isto temos Deus em
ação, Deus agindo, Deus falando, Deus operando. As Escrituras não são edifício
humano. Elas não são uma maneira humana de falar sobre Deus e sobre o nosso
relacionamento com ele. Elas são seu fôlego da vida, que inspira, que cria vida. Por
isso B absolutamente necessário prestarmos atenção a ela, porque a nossa própria
vida depende dela.
E necessário, mais uma vez, colocarmos o contraste entre os falsos profetas e
seus pronunciamentos e a verdadeira profecia. 0 s falsos profetas apresentam o que
eles próprios imaginaram: "Não deis ouvidos às palavras dos (falsos) profetas que
entre v6s profetizam, e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu comçáo, não o que vem da boca do Senhor" (Jr 23.16) "Assim diz o Senhor Deus: Ai
dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito sem nada ter visto" (Ez 13.3)
"Disse-me o Senhor: 0 s profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem Ihes dei ordem, nem Ihes falei, visão falsa, adivinhação, vaidade e engano
do seu íntimo 6 o que eles profetizam" (Jr 14.14).
Os profetas verdadeiros, ao contrário, nada falam de si. A profecia verdadeira
vem através de homens de Deus, homens levados, impelidos, carregados pelo Espíque indica que o
rito de Deus. Pedro usa o particípio do tempo presente feról?~noi,
Espírito os estava levando, carregando, inspirando enquanto eles falaram, escreveram. Foram eles que falaram, sim. Porém eles falaram "da parte de Deus". "Testemunhaste (6 Deus!) contra eles pelo teu Espírito, por intermédio dos teus profetas..."
(Ne 9.30). "Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos
pais, pelos profetas, nestes iiltimos dias nos falou pelo Filho..." (Hb 1.1,2). "Foi a
respeito desta salvação que os profetas... profetizaram..., indicados pelo Espírito de
Cristo, que neles estava..." (1 Pe 1.11).
Um fato que na tradução do nosso texto não aparece é que no original a última
frase termina com o homem. Literalmente traduzindo, o texto teria o seguinte teor:
'... pelo Espírito Santo levados, falavam da parte de Deus homens." O elemento
humano, portanto, está em último lugar. E é por isso que as Escrituras são a palavra mais firme, a luz que brilha em lugar tenebroso. E por isso, também, que os cristãos se agarram às Escrituras, sabendo que nelas estão escritas, não palavras de
opinião humana, e sim, que elas são a Palavra verdadeira do Deus vivo.
Ah, não percamos o caminho nessa nossa peregrinação através o mundo escuro. Já é tarde. A escuridão torna-se sempre mais extensa e mais profunda. Somos
chamados a interpretar as Escrituras no temor e tremor de Deus. Somos chamados
a levar Cristo, o Único Salvador do mundo, o centro de todas as Escrituras e seu
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começo e fim, a um mundo prestes a afundar na perdição eterna. Somos chamados
a testificar aos homens perplexos e desnorteados que unicamente em Cristo há esperança; somos chamados a apresentar ao mundo aquela mensagem que a Escritura, a verdadeira, infalível, porque inspirada, Palavra de Deus nos traz: a redenção final por Cristo.
Demos graças a Deus por essa Palavra, recorrendo sempre a ela, "como a
uma luz que brilha em lugar tenebroso, ate que raie o dia e surja a Estrela d'alva em
nossos corações"!
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TEOLOGIA DA LIBERTAÇAO
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Hermenêutica
da Teologia da Libertacão
Vilson Scholz
Teologia da libertação parece um tema inesgotável. Uma análise sempre é
oportuna. Talvez fosse mais fácil simplesmente dizer: "eu sou contra" ou "eu sou a
favor". Mas isto não resolve o problema.
Analisar a questáo de forma supostamente objetiva, isto é, sem tomar partido,
parece impossível. Ao menos no entender dos mais ardorosos defensores da teologia da libertaçáo. Ou se faz teologia da libertação (e esta teologia é feita, não estudada), ou se é contra. Fazer uma análise talvez já implique em ser contra. Que seja! A intenção, no entanto, não é polêmico-apologética. O enfoque deste estudo é
descritivo, na medida em que procura ver o que está por trás da teologia da libertaqSo, no quc implica, quais os seus pressupostos.
Dellmitação do tema
O tcnia tierrncriêutica da teologia da Iibertacfio é amplo. A hermenêutica é um
campo vasto. A teologia da libertação, corno 6 sabido, não 6 urna teologia. São
rriuitns: Ou melhor: trata-se de um movimento. No movimento, há diferentes correntes. Júlio de Santa Ana eniimera, pelo menos, quatro correntes no Brasil: a)
LconL3rdo Boff e sua ênfase no povo, b) Rubem Alves e a Iibertaçáo da opressão da
linguagem e do corpo; c) Clodovis Boff e as comunidades eclesiais de base, d) a
corrente bíblica.(')
Neste estudo, interessa mais de perto a última corrente. De modo específico,
dois teólogos: Carlos Mesters e José Severino Croatto.(" Por que estes e não outros? Por ser neccssário delimitar o tema, por serem biblistas conhecidos, pela bibliografia disponível, e por refletirem e teorizarem exatamente sobre a questáo da
hermenêut~ca.(~)
(1) - SANTA ANA, Júlio de. Teologia da libertação: um debate ecuménico, p. 14.
- José Severino Croatto, catblico, atualmente 6 professor de Antigo Tes:amento no ISEDET de Buenos Aires. Carlos Mesters 6 natural da Holanda, mas trabalha hA muitos anos no Brasil.
(2)
(3)
-
O estudo se baseia no exame da seguinte bibliografia: MESTERS, Carios. Por trSs das palavras (4 ed.
1980) e Biblia, livro feito em mutiráo (1982). CROATTO, J. Severino. Exodo: uma hermenéutica da liberdade, Hermenéutica Biblica (1986). e "Hermenêutica e Lingüística" (Estudos Teol6gicos 1984, p.
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A importância da hermenêutica
Que é a hermenêutica? Em termos bem simples, a hermenêutica faz a vez
dos olhos ou dos óculos com que se encara algo (a vida, um texto, etc.). Numa definição um pouco mais complexa, pode-se dizer que a hermenêutica é a ciência da
compreensão do sentido.(4) No caso da Bíblia, a hermenêutica tem a ver com a maneira como se encara o texto, o---.
que se espera encontrar, o que se está disposto a
aceitar, etc.
~
Não há exegese sem hermenêutica. I Não há teologia sem hermenêutica'. A
teologia é feita a partir de um lugar. Ela é situada. Há pressupostos. Há uma Vorverstan&is (pré-compreensão). Como não há percepção sem sentidos, também não
existe teologia sem pressupostos. Há um comprometimento ou descomprometimento prévio. Encara-se o texto de um ponto-de-vista cristão (ou não), como pregador
(ou não), como palavra de Deus (ou não). Tudo isto faz parte dos "olhos" com que
se vê a tarefa exegética e teológica.
Portanto, o tema hermenêutica é fundamental. O movirnento da(s) teologia(s)
da libertaçãot traz uma nova hermenêutica~ Por isso, quem a(s) aceita, concorda
com tal hermenêutica. Quem a(s) rejeita, torna esta atitude, em geral, por não poder
aceitar essa nova hermenêutica.
Revelação de Deus: problema fundamental
Em termos de hermenêutica da teologia da libertação, em termos de pressupostos, nada é mais importante e decisivo do que o problema da reve1ac;áo de
Deus. Afinal, o que é "teo-logia"? Certamente tem algo a ver com Deus. Onde,
porém, se pode encontrar este Deus, onde ele se mostra? Onde se revela hoje?
Esta é a grande questão hermenêutica preliminar.
A resposta tradicional, em termos sim?les, é esta: Deus se revela em Cristo,
nas Escrituras. Surge daí a longa histbria da interpretação das Escrituras que, em
certo sentido, coincide com a história da teologia. Vista sob certo ângulo, a história
da teologia é a história da interpretação bíblica.
É preciso fazer um corte nesta história de interpretação, dando destaque ao
período que começa com os tempos modernos. Com o iluminismo e o desenvolvimento da ciência histórica, a Bíblia - para usar uma imagem de Carlos Mesters embarcou ou foi embarcada no Ônibus dos livros de história. Afinal, a Bíblia é um livro de história. Não sd um livro de história, mas mesmo assim um livro de hisfdria.
A Bíblia foi estudada - e ainda o é - em seu contexto histórico. Busca-se saber o
-~
(4) - CROATTO, Êxodo, p. 11.
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que o texto significou lá (no mundo bíblico) e naquele tempo. A revelação como tal
4 um capítulo encerrado. Hoje resta interpretar e aplicar esta revelação feita no passado.
O estudo histórico da Bíblia magnificou a brecha entre o presente e o mundo
bíblico. O pensamento e a linguagem da Bíblia são estranhos ao homem moderno.
Impõe-se a pergunta: qual a relevância desses textos antigos? Esta questão da relevâricia, que deu impulso ao programa desmitologizador de Rudolf Bultmann, anima também a(s) teologia(s) da libertação. A grande pergunta é: qual a relevância
da teologia, da mensagem da igreja, no contexto latino-americano?
O referido estudo histórico da Bíblia, empreendido com pressupostos racionaIistcis designados de "científicos", resultou num descrédito da Bíblia. A história da
teoloqia não deixa dúvidas quanto a isto.
Trstn atividade ou, dependendo do ponto-de-vista, este ~ ~ s ~ N I foi
$ olevado
,
a
r>fciton;is iiniversidadcs europ6ias. Convéin ressaltar que o labor teológico passou,
siicc>siivnrncntc,da parbyuia para o mosteiro, e do mosteiro para a universidade. Na
icjrej~i<intiqi-i,os tccílogos crnin os bispos, nas paróquias. Na idade média, a teologia
:,c tr,ir-isferiii para os rnoc,tciros. Depois passou a ser estudada nas universidades.
Liitc~o<,e cncontrn, 1)or 'lssirn dizer, no limiar do terceiro período. Lutero está numa
I d ~ cde trnn\ic?io
foi rrioncje o professor iinivcrsitArio. Hoje - concluindo - se
(~ii(
dcvolver
~:
ou c>iitrcgnro "f<iierteolo&gia"ao povo.
Iznl,ivs-sc, iiin 1)ouco acima, de fiudolf Dultrnann. E conhecido como um dos
i~riiii~,iioscxcrlct,is do Novo Testarncnto a aplicar a crítica das formas (Fornigeschlcl~tc.) no ostiido dos ov;inqolhos. No entanto, mais contestada foi sua reinterpretac;io tla niens;~qc?rnbíl~lic:~crn termos da filosofia cxistencialista. Em outras palavras, B i i l t i ~ i ~ ~trouxc
n r i iii ,i,i nova hcrincnêutica. Reinterpretou o quêrigma segundo a
filo~,ofincrri voga no scu tempo: o existcncialisrno de Martin Heidegger.
Na scgurirla rnetndc do sCculo XX, após a segunda guerra mundial, surge o fenôincno da Iibertnç5o dos povos. É a luta contra o colonialismo. Neste contexto
afiq~losurge o movimento dn teologia da libertação.
A esta altlira deve ficar mais fácil de entender que, para a teologia da Iibertacrio, a revclac,?~de Deus se dá hoje. Não em palavra e sacrarnentos (há uma ênfase anti-sacrarnental na teologia da libertação) ou no ambiente eclesial, mas na realidada concreta dos povos que lutarri por libertação. Deus se revela, hoje, na ação do
povo. Onde o povo luta por libertação, o Espírito Santo atua.
Esta tese de que Deus se revela, hoje, no esforço libertador do povo, parece
um denominador comum que perpassa as correntes da teologia da libertação. Existem, é claro, variantes, de expressão.
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IGREJA LUTERANA
Tal hip6tese se confirma no. caso de Carlos Mesters e J. Severino Croatto.
Mesters, de tom mais moderado, é mais eclesial. Fala do povo, entendendo o povo
fiel ou ligado à igreja. Eis algumas de suas afirmações: "O 'sensus fidelium' é porta-voz legítimo da vontade de Deus."(5) "A vida do povo de Deus é a matriz de todo
o conhecimento em torno da fé, e dele também é o juiz."(6) J. Severino Croatto soa
mais radical e tem um enfoque sócio-político mais acentuado. Também para Croatto, "Deus se revela nos acontecimentos do mundo ou dos povos."(7) O lugar teológico passou a ser a práxis. Onde há libertação, que é um processo, uma aqão (libert-ação), ali Deus está. Onde o homem está a caminho da humanizaçáo, Deus se
manifesta. Teologia 6 descrita como a leitura dessa atuação de Deus na história,
hoje.
Como a Bíblia entra nessa atividade de fazer teologia? A Bíblia é submetida a
termo usado por Croatto é releitura.
uma reinterpretação A luz da realidade. fl
Também Carlos Mesters fala em releitura. É preciso, portanto, examinar o fenômeno.
O fenômeno da releitura
Releitura é um neologismo que se explica a si mesmo. Determinado texto é
relido. Se fosse uma música, seria possível dizer que a melodia é transposta para
uma outra tonalidade e executada num ritmo diferente. A Bíblia é relida à luz de urn
novo princípio hermenêutico. Há uma nova chave hermenéutica.
O fenômeno da releitura 6 detectável no Novo Testamento. Este é, num certo
sentido, uma releitura do Antigo Testamento. Uma releitura à luz da ressurreição de
Cristo. O Novo Testamento 6 a interpretação do Antigo à luz da vinda de Cristo.
Tal fenômeno se mostra claramente na tipologia, que é uma das formas cie ligação entre o Novo e o Antigo Testamento. Na tipologia, em que se estabelece
uma relação entre um tipo do Antigo e um antítipo do Novo, parte-se do antítipo ao
tipo, da realidade atual (a obra de Cristo elou a situação da igreja) ao modelo do Antigo Testamento. Paulo faz isto em 1 Coríntios 10.6,10. O apóstolo não faz propriamente urna exegesse do Antigo Testamento, seguida de aplicação. Seu ponto
de partida é o presente, a situação da igreja. Paulo recorre ao Antigo Testamento,
não para provar a fé, mas para explicitar a nova visão das coisas.(8) Esta nova visão, ou, este novo enfoque, Paulo o recebeu às portas de Damasco.
(5) - MESTERS, Por trás das palavras, p. 22. Em outros termos: Vox populi, vox Dei.
(6) - Ibid., p. 35.
(7) - CROATTO, Êxodo, p. 23.
(8) - MESTERS, Por trás das palavras, p. 144.
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Este é o caso do autor inspirado, que escreveu o texto canônico. Ele fez - e
podia fazer - a releitura. (Também Mateus relê Oséias 11.1: "Do Egito chamei o
meu filho.") E o teólogo de hoje?
Neste ponto começa a dissensão. Teólogos da libertação, como Mesters e
Croatto, entendem que esta releitura à luz de urn novo princípio hermenêutico pode
e deve ser feita ainda hoje. Carlos Mesters dá a entender que o povo inspirado (onde Deus se revela) faz esta releitura. O povo consegue ver o sentido espiritual por
trás das palavras.(g) Assim, Mesters volta à antiga oposição entre letra e espírito
(baseada, por sinal, na não-compreensão de 2 Co 3.5b), que já serviu para justificar
muita alegorizaçáo na história da interpretação bíblica. A exegese da teologia da libertação, que aparece em pequena escala, pois não parece ser o forte dessa teologia, se caracteriza por uma boa dose de alegorizaçáo.
J. Severino Croatto é um pouco mais sofisticado do que Mesters, por dirigir-se
a leitores diferentes. Emprega conceitos da lingüística. Apela para a famosa dicotomia sa~ssuriana('~)
Iínyua/fala. A Iíngua, sistema de signos, é polissêmica. A fala, por sua vez, o ato de usar a língua no discurso, é enclausurador. No ato da fala,
quando a Iíngua se atualiza, há um autor e uin destinatário. O texto se torna monossêrnico. Segundo Croatto, no momento em que esta fala se cristaliza num texto
(Iíngua), desaparecendo o emissor e o receptor originais, é passível de releitura, pois,
na qualidade de língua, o texto é abcrto, polissêniico.
A releitura levada a cfoito no movirnento da libertação, reconhecida por Croatto
como c~segcse("levar para dentro"), é detcrrninada pelo princípio da libertação e se
reflete sobre a Iibcrtaçiio. Eln outras palavras, o processo de libertação influencia
a interprctac50 bíblica e esta, por siia vez, ritiia sobre o processo de libertação. Disto resulta a assim-chamada cspirdl t ~ c n ; ~ c ~ n 6 ~( ii11
l i cem
c ~ ,que se passa de um pressuposto (no caso, a práxis Iíbertadora) ao texto, do texto à práxis, de volta ao texto, etc.
Uma releitura feita pelo povo nunca é definitiva. Não é vista como única nem
é imposta de cima para baixo. Não há um sentido fixo, determinado por uma elite
de exegetas. Pergunta-se ao povo pelo sentido do texto. Isto talvez explique a pouca atividade exegética no âmbito da teologia da libertação, lacuna esta que muitos
reconhecem e lamentam. Cabe ao povo reler as Escrituras. Além do mais, o sentido está num devir constante. E difícil, talvez desnecessário, fixar o sentido.
( 9) - Notar que este 6 o titulo do tratado de hermengutica escrito por Carlos Mesiers!
(10) - De Ferdinand de Sausçure. o pai da lingüística.
(1 1) - Teólogos da nova hermen8utira (Fuchs, Ebeling e outros) falam em circula hermenêutico. Aqui aparece
a espiral.
Página 22 - IGREJA LUTERANA
O gráfico abaixo procura ilustrar a diferença entre a espiral hermenêutica dos
teólogos da libertação e a interpretação da teologia clássica:
Exegese clássica
Teologia da libertação
/e71car(...,
R
E
A
L
Texto Bíblico
I
L
1
-
2
3
-
4
-
(aplicado a diferentes situações
ou realidades)
D
A
D
E
E
'-S- _,
,
T
-'-,
cR
1
-
,
,
"
T
-
-
K--
-
--
I
T
U
R
A
.
7
Um exemplo de releitura
A interpretação que Croatto dá às bem-aventuranças de Jesus é um belo
exemplo de releitura. Croatto inicia com uma pergunta e uma resposta provisória:
Mas têm algo a ver com a "libertação" as bem-aventuranças de Cristo?
Se os pobres e os que são perseguidos por ter um ideal são "felizes", que
persistam em seu caminho. Pareceria que Jesus proclama a resignação
dos oprinlidos. O Reino dos céus (futuro) pertencerá totalmente a eles;
serão compensados abundantemente...(l2)
Passa então a explicar que "reino dos céus" não se refere ao mundo celestial e
transcendente, o que é uma parte da verdade, mas não toda a verdade. E prossegue:
As bem-aventuranças não são um convite à resigna~ão,mas um processo de libertação, que não começa como revolução política e social (veremos depois porque), mas que, mais cedo ou mais tarde, viria a sê-10. Se
o "i3eino" não é uma coisa etérea e espiritual, não chegará sem uma
transformação profunda dos homens, sem a instauração da justiça em
todos os níveis.
Interpretadas a partir das situaçóes do mundo dominado, situacões essas
fundamentadas numa estrutura de "classes" sociais (cremos que o conceito de Terceiro Mundo 6 mais ideológico que "básicon), as bem-aventuranças são uma interpelação aos oprimidos para que reconheçam, cheios
(12) - CROATTO, ~ x o d o ,p. 125-126.
IGREJA LUTERANA - Página 23
de esperança, os "sinais dos tempos" e se ponham em marcha para a libertação. Não constituem, portanto, um convite à resignação, mas um
processo de libertação.
Alguém poderia perguntar porque Jesus não se expressou mais claramente quanto à meta de sua proclamação aos pobres e perseguidos.
Al6m do mais, o evangelho de Mateus orienta a referida mensagem para
o campo espiritual e ético.(I3)
Croatto responde à questão. Pressupõe uma ruptura entre Jesus e o evangelista, bem ao sabor de um teólogo adepto do método histórico-critico:
O primeiro evangelho faz precisamente uma releitura das palavras de Jesus, da situação em que escreve (oposição cristãos-fariseus). N6s faremos uma releitura do ponto em que nos encontramos. Retomando o sentido nuclear do quêrigma evangélico, compreendemo-lo de um horizonte
que faz emergir seu excesso-de-sentido. O sentido de uma expressão é
sempre "reduzido" pelo contexto em que se encontra. Mas a distância
desse contexto permite reabri-lo e ampliar seu primeiro horizonte de expressão: é o que fez Mateus numa direção, é o que nós podemos fazer
noutra, porquanto situados em outro contexto de apropriação do sentido
original.(14)
Conclusão
1. A exegese c a(s) teologia(s) da libertação resultam de uma nova hermenêutica ou chave interpretativa. Por isso, mais do que avaliar resultados isolados,
importa questionar os pressupostos.
2. O movimento teológico da 1ibertal;ão tem uma história e um contexto, que
ajudam a explicá-lo. O contexto é o terceiro mundo e a história é tudo que veio antes em termos de interpretação bíblica, de modo especial a interpretação históricocritica.
3. O movimento da libertação não hesita em reler o texto bíblico, na tentativa
de torná-lo relevante num contexto descrito como de opressão. Pergunta-se: a releitura postulada, que parece tão científica, na medida em que lança mão tie conceitos
da ciência da língua, não seria a velha interpretação alegórica, que acompanha a
igreja desde os dias da escola de Alexandria (Clemente e Orígenes)?
(13) - Ibid.
(14)
-
Ib!d., p. 127-128.
Página24 - IGREJA LUTERANA
4. A questão da releitura e o exemplo transcrito levantam uma s4rie de perguntas: o texto biblico 6 iingua (polissêmico) ou fala (monossêmico)? Mateus efetivamente faz uma releitura das bem-aventuranças de Jesus? Neste caso, quem autoriza a fazer o que Mateus supostamente fez? Que texto deverá ser relido: o de
Mateus ou o hipotético original de Jesus? Se o teólogo da libertação relê as bemaventuranças a partir do ponto em que se encontra, estará disposto a admitir uma
releitura que vê as bem-aventuranças como convite à resignação? Como fugir da
suspeita de que se trata de manipulação ideológica da Biblia?(15)
(15) - Esta é a inquietude de Johan Konings, "Herrnenêutica biblica e teologia da libertaçáo." Revista Eclesiásfica Brasileira 40 (Março de 1980), p. 9.
IGREJA LUTERANA
-
Pdgina 25
Estudos Homiléticos:
Trienal "B"
Na edição 87-02, apresentamos a primeira parte (1' domingo de Advento ao 79
domingo ap6s Páscoa) de Estudos Homiléticos da Série Trienal "B". Nesta edição
(88-01), concluimos os estudos sobre os Evangelhos da Série "B". No próximo número, iniciaremos os estudos de uma nova Série. Sempre visando "um fim proveitoso" no anúncio da mensagem da salvação em Cristo Jesus (L.).
Domingo de Pentecostes
Jo 7.37-39a.
Contcxlo: O coritexto imediato cicstn pericopc do evangelho para o dia de Pentecostes
comci(,:a no primeiro verr,lculo do c:i~~ítulo
7: "Jcsus andava pela Galilbia, porque náo desejava
percorrer n Judbia, visto cl~icos ji~dcusprociirrivarn rnath-10". Em que C-poca do ano foi isso?
Foi pr6xirno A festa dos Tnbcrri:iculos. Esta festa ora realizada no dia 15 do sétimo mês
(Lv 23.34). O s versículos c;ogiiintos de Lv 23 cxplicarri cntáo como seria a celebração dessa
festa e por que celcbrA-Ia (vers. 36, 39, 40, 42, 43). Ao oitavo dia haveria santa convocaçáo,
ofertas q~ieirnadasao SENtiOR c tlcscanso solene, corno no primeiro dia da festa.
O s irm5os de Jcsus insistiram corn de, para que fosse i3 festa e se mostrasse publicamente corn seus feitos (7.3,4). O vcrsículo 5 menciona um fato triste: "Pois nem mesmo os
seus irmáos criain ricle" (Cf. At 1.14, GI 1.19, 2.9, Tiago).
O s irmaos dele foram i3 festa em JerusalC-m. Depois deles Jesus também foi, mas em
oculto (como ocultou sua identidade não nos é dito). Os judeus procuravam-no na festa: "Onde estar& elc?", vers. 11. As rnultidfics cochichavam bastante entre si, com opiniões variadas
e opostas at6: para uns Jesus era bom, para outros, enganador do povo. Mas, abertamente,
ningukm ousava falar dele, por ter medo dos judeus (12,13).
Já ein meio à festa, subiu Jesus ao templo e ensinava. A partir dar estabeleceu-se uma
controvérsia dos judeus com ele e, por fim, os fariseus e os principais sacerdotes enviaram
guardas para prendê-lo (14-36).
Texto: Segue agora o texto do Evangelho de Pentecostes, que começa dizendo: "No
último dia, o grande dia da festa" (v. 37). Vimos, antes, que o oitavo dia era dia especial na
festa dos tabernáculos. João, aqui, diz que o Último era o grande dia da festa. Pois nesse Último e grande dia, Jesus se levanta e ékraxen. Krádzo indica uma acentuada elevação do voPágina 26
-
IGREJA LUTERANA
lume da voz. Jesus fez questão de ser ouvido. Viera ocultamente para a festa, mas tinha vindo para se mostrar e se identificar (7.28,29).
Por que levanta ele o volume da sua voz, agora, no Último dia, na reunião solene? Já
antes (7.28) ele levantara a voz, para dizer quem ele era. Agora levanta-a, para fazer um chamamento, um grande convite - e ai convém recordar Lv 23.34, que aponta para a finalidade
da festa dos tabernhculos, que era a de o povo identificar o Deus de Israel: "Eu sou
o SENHOR (= Javé = Deus que salva) vosso Deus". Jesus, pois, no Último dia dessa festa,
identifica-se ao povo como o Deus que convida o povo para ser salvo por ele mediante a fB
nele: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura
(Gn 15.6), do seu interior fluirão rios de água viva".
Por fim vem a parte deste texto que o relaciona com o dia de Pentecostes, o dia do Espírito Santo: "Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que cressem
nele" (v. 39a). O evangelista João faz, aqui, a exegese por n6s destas palavras de Jesus. Para n6s seria, sem dúvida, obscuro entender que estas palavras de Jesus, ditas em alto volume
de voz, pudcssem querer referir-se ao Espirito Santo que os crentes receberiam. Que bom e
tranqüilo para n6s, quando a própria Bíblia faz a exegese (que é verdadeira!) por n6s! O pastor
pode pregar, com total convicção, pois se trata dum texto esclarecido pela própria Escritura.
Moléstia: No tumulto da festa, as opiniões sobre Jesus eram as mais variadas
(7.25-27): uns deliberadamente perseguiam a Jesus para matá-lo, outros, no entanto, ignoravam a verdade; faltava-lhes mais informação, informação precisa a respeito dele.
Hoje não é muito diferente. A vida é agitada e também as pessoas não ligam muito para
a ctatidáo a respeito das informações sobre Jesus; alguns deliberadamente se esquivam deIc; outros são absorvidos pela agitação da vida moderna e muitos estáo submetidos a opiniões
e doutrinas contraditórias. Como esta o ouvinte? Que sabe sobre Jesus Cristo? Reconhece
ricle o Filho de Deus, o único Salvador? Sem Cristo, a pessoa se perde para a eternidade.
Meio: Cristo ainda faz ouvir a sua voz, a sua palavra. Levanta O volume da voz de muitos pregadores fiéis para convidar: "Vinde a mim, todos os que. . .", Mt 11.28. "Se alguém
tcm sode, vcriha a mim e beba". 37b. Quem crê em Cristo tem a vida eterna. Jo 3.16-18.
O Espírito Santo é quem, pela palavra e sacramentos, leva a pessoa a Cristo e, por
Cristo, ao Pai. O texto de Ez 37.1-14 ilustra muito bem a ação vivificadora do Espírito
Santo. O ouvinte é convidado a ouvir a palavra de Deus para crer.
Objetivo: "Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de Agua
viva" (v. 38). Quem crê em Cristo, é salvo e fica capacitado a fazer fluir sua fé no seu modo de
vida. Quanto mais firme o ouvinte estiver na fé em Jesus Cristo, melhor poderá ele ajudar
aqueles que estão em dúvida e Aqueles que se esquecem da necessidade de ter o Salvador e
até mesmo àqueles que deliberadamente se contrapõem a Jesus.
Jesus quer discípulos convictos, fieis, ativos e participantes. A fim de capacitá-los mais
e mais, envi2 ele o seu Espírito Santo, o qual concede muitos dons para diferentes serviços na
igreja (1 C o 12.1-11).
Conclusão: Estou levantando a minha voz, hoje, dia de Pentecostes, para convidar o
ouvinte com sede espiritual a vir a Cristo e beber a "água da vida eterna". Aceitando o conIGREJA LUTERANA - PCioina 27
vite, o ouvinte ficará satisfeito por Cristo e em condições de fazer fluir rios de boas ações para
com seus semelhantes no ambiente social em que vive. Deixe-se iluminar e guiar pelo Espírito
Santo; ele conduz a Cristo e Cristo conduz ao Pai e, assim, à vida eterna!
Curt Albrecht
Primeiro Domingo após Pentecostes
JO 3.1-17
Contexto: Não há, do lado do fariseu, um contexto específico. Mas no primeiro capítulo,
versículo 24, vamos encontrar a primeira referência de Joáo aos fariseus, sem, contudo, uma
identificação mais precisa deles. 0 s judeus que mandaram emissários perguntar a Joáo Batista "Quern és tu?", enviaram gente de entre os fariseus (1.19,24). Conhecemos o caráter dos
fariseus a partir de Mt 23, onde Jesus os desmascara e censura de modo veemente.
"Havia, entre os fariseus, um tiomcm, chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi tcr com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da
parte de Deus, porque ningubm pode fazer cstes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com
ele" (vers. 1,2). A partir dar sc c s t a b c l c c ~um di5loyo entre os dois, e Jesus fala palavras maravilhosas, das qunis cada crist5o vcrdndciro gosta tanto, que geralmente sabe recitar de cor o
versículo 16, urn dos textos mals pronunciados cntrc a cristandade.
Que Nicodcirios era uni dor, raros fnrii;cus bem intencionados (principalmente depois
deste oricontro com Jcsus, nnqiicla noite) se dcprccnde de dois momentos futuros: JO
7.50,51; 19.39. Para mais inlormnçócs sol~reos fnriscus, consulte-se urna chave ou enciclophdin bíblica (Paulo revela que era Iariseu gcriuírio antes de sua conversão: At 23.6; 26.5 e
Fp 3.5). Talvez scjn oportiino, na siia congrcg;iclío, conibater certo farisaísmo; entáo aproveite-se esta pcrícope para dizer quem c o que crarn os fariseus de entáo e de como, hoje em dia,
o farisaísrno 15 pcrriicioso. 1-15 nclucl;~iiistbria do fariscu e do publicano, em Lc 18.9-14, onde
o farisaísmo niodcrno c:;tS bem c: :)í~lliado.
Olhado por outro 5iigul0, do Iado dc Jcsus, esta perícope tem um contexto muito amplo,
porque o próprio Jcsus é o ceritro dc todas as Escrituras Sagradas e o é nesta perícope.
A perícope é rnuito rica cm conteiido teológico e homilético. Certamente oferece vários
tcmas para serm3o. Como, porém, estamos, neste domingo, ainda perto do Pentecostes, cremos que os versículos 6-8 devam scr ressaltados: o renascimento pelo Espírito Santo.
A perícope pode ser dividida da seguinte maneira:
1) Introdução ao fato abordado: 1,2a;
2) O contato e o diálogo entre os dois: 2b-4;
3) O ensino de Jesus sobre o renascimento pelo Espírito Santo: 5-1 0;
4) O ensino de Jesus, identificando-se como o Filho do Homem e o Filho de Deus e a
razão de sua vinda ao mundo: 11-17.
Nicodemos, um mestre em Israel, percebeu em Jesus algo mais do que um homem comum. Reconheceu que Deus devia estar com Jesus, por causa das obras que este realizava
(v. 2). No entanto, Nicodemos - ao que parece - ainda não havia renascido espiritualmente,
Pagina 28
-
IGREJA LUTERANA
pois não percebera no levantamento da serpente de bronze por Moisés um protótipo do levantamento do Filho do Homem (o Messias) numa cruz. Então Jesus provoca um choque em Nicodemos, querendo acordá-lo espiritualmente e foi feliz no seu intento, porque Nicodemos
manteve o dialogo e, embora mestre em Israel, fez perguntas como o mais humilde aprendiz.
E, graças a essas humildes perguntas, deu Jesus as respostas mais gloriosas existentes sobre o amor de Deus aos homens, para esse fariseu e para n6s: o cerne do evangelho (v.
14-17). E obra do Espirito Santo converter as pessoas a Cristo (o novo nascimento ou o renascimento).
Disposição:
IMPORTA-VOS NASCER DE NOVO. Por quê
1 - Porque o que é nascido da carne, é carne;
11 - Porque sem renascer, não podeis ver o reino de Deus;
111 - Porque renascidos para Deus, tendes vida em Cristo.
Molbstia: Pecado original, cegueira natural, ignorância do amor de Deus ao mundo.
Meio: Deus enviou a Jesus ao mundo como Salvador e para salvar mesmo. Agora ele
dá seu Santo Espírito que faz renascer pelo batismo (v. Gb) e ilumina pelo evangelho. Dar a
importância do IMPORTA-VOS NASCER DE NOVO!
Objetivo: Como Deus nos nmoii primeiro, enviando a Cristo, e sendo n6s renascidos
pelo Espírito Santo, podemos agora, libertados do poder do pecado, servir a Cristo com nossas
obras e com nosso testemunho. Está ai a razão de Jesus cnfatizar: IMPORTA-VOS NASCER DE NOVO.
Moléstia: Farisaisnio, pensar de si mesmo além do que convén~(Rm 12.3), religião apenas por tradição. Confiança na justiça própria; mortos em delitos e pecados.
Meio: Jesus humilhou-se, tornou-se igual a n6s; não usurpou ser igual a Deus, mas sujeitou-se A vontade do amor do Pai; levou sobre si mesmo os nossos pecados; trouxe a verdadeira religião (religação) com Deus; pode-se confiar na justiça dele, pois todo o que nele crè
tem a vida eterna (v. 15,lE). Por isso IMPORTA-VOS NASCER DE NOVO.
Objetivo: Porque Jesus reconciliou Deus conosco e o Espírito Santo nos fez renascer
para Deus, podemos viver e propagar a verdadeira religião (religação com Deus). Como pessoas que tém a vida eterna assegurada pela fB em Cristo, podemos esforçar-nos por trazer
outros a Jesus, como fez Jesus com Nicodemos, e ser instrumentos do Espírito Santo, que
nos fez nascer de novo.
111
Moléstia: A cultura secular e geral, ci6ncias e tecnologias como motivos de desprezar a
IGREJA LUTERANA - PAgina 29
graça de Deus em Cristo e a resistência ao Espírito Santo (At 7.51); pouco caso com a palavra de Deus e a vida espiritual.
Meio: HA um conhecimento superior a toda a sabedoria humana: conhecer o amor de
Deus revelado em Cristo Jesus. Ter este conhecimento e confiar nele da a vida eterna e traz
paz e felicidade para esta vida. É obra voluntariosa do Espírito Santo fazer-nos renascer e
confiar em Cristo. "O que 6 nascido do Espírito, 6 espírito". v. 6b. Por tudo isso IMPORTAVOS NASCER DE NOVO.
Objetivo: Tendo a verdadeira sabedoria que desce do alto e que consiste em conhecer a
Cristo e de crer nele, podemos, renascidos pelo Espírito Santo e na força deste, viver cristãmente, orar a Deus pelos outros, testemunhar a nossa f6 e ofertar e trabalhar ativamente como
filhos de Deus e servir ao próximo de muitas formas. Por causa de tudo isso Jesus falou a Nicodemos e diz a nós: IMPORTA-VOS NASCER DE NOVO.
Conclusão: Alegra-te, porque Deus amou ao mundo e deu seu Filho para salvar as pessoas da força do pecado. Louva a Deus, porque ele te fez renascer pelo Espírito Santo e te
adotou por seu filho. Agradece a Deus, porque ele te da a vida eterna pela fé em Cristo Jesus
e a dá a cada pessoa que crê.
Curt Albrecht
Segundo Domingo apds Pentecostes
MC 2.23-28
Texto
Contexto: Jesus estava em plena atividade de seu ministério terreno (Veja Mc 1.16,21,
29, 32, 35, 40; 2.1, 13, 15, 18). Estava ainda no início deste ministério público, mas grandes
multidões, de varios lugares, começaram a segui-lo e a vir ter com ele. Mc 3.7,8.
Nas suas locomoçóes com seus discípulos, "aconteceu atravessar Jesus, em dia de
sAbado, as searas, e os seus discipulos ao passar colhiam espigas", v. 23. Este epis6dio gerou o assunto desta perícope: a razão de ser e o sentido do sttbado. Vamos ao conteúdo.
Texto: Para começar, revejamos o texto do AT, Dt 5.12-15, que instituiu o sábado. Estd
incluído nos Dez Mandamentos. Não podia ser violado sem sofrer-se o castigo conseqüente
(Êx 21.12-17; 35.2,3). O seu sentido ou objetivo também fora dado claramente: "para que
saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica" (Êx 31.13~).
Nos dias de Jesus, os fariseus haviam desvirtuado o sentido e o objetivo do sábado: tinham-no por lei, que, violada, merecia punição; mas não o tinham como evangelho, que conduzia ao Deus verdadeiro, que torna santo o povo pelo perdão dos pecados.
Os fariseus aplicaram a lei do sábado como lei (v. 24), mas não perceberam o Evangelho
de que Jesus, em pessoa, era o Jav6 (= o Deus que salva), que deu este mandamento em
Dt 5.1 2-15. E estava ai e nisso o erro deles.
Jesus lembra-lhes, então, um fato da história bíblica, onde Davi também fez algo (1 Sm
21.1-6) que não lhe competia e nem por isso foi apedrejado. Com isso - parece
Jesus
-
Página 30 - IGREJA LUTERANA
está colocando o sbtimo dia da semana como tal entre as leis cerimoniais e, por isso, variáveis
(versículos 25,26); porque o sentido do estabelecimento do sábado no AT para o povo de Israel (Êx 31.13b,16 e 17a), Jesus o esclarece nos dois versiculos finais desta perícope, 27 e
28: 1" O sábado foi estabelecido por causa do homem e não vice-versa e 2" O Filho do
Homem, ele, Jesus, também 6 Senhor do sábado. Foi ele, Jesus, o Javé, quem deu esta lei;
portanto, está acima dela, sabe por que e para que a deu, está agora explicando o verdadeiro
sentido e não vai punir seus discípulos, pois eles estão seguindo o Deus verdadeiro, que, aliás,
deu este mandamento, para que o homem não se esquecesse de seguir a palavra do verdadeiro Deus.
O texto grego, no vers. 24, não diz que os fariseus advertiram a Jesus, mas disseram
(elegon) a ele. Ainda no mesmo versículo, a pergunta não é por que, mas ;de ti poiõusin toís
sábbasin h0 oúk éxestin; = V ê que fazem aos sábados aquilo que não 6 permitido?" Talvez
nem devesse ser escrito em forma de pergunta, mas, sim, uma frase afirmativa: "Vê que fazem aos sAbados aquilo que não é permitido" (lícito). Parece que os fariseus não queriam saber por que os discípulos faziam isto, mas afirmaram categoricamente que isto era contra a Lei
(acusando, indiretamente, a Jesus de ser conivente ,com a transgressão da Lei). Por isso Jesus aponta para o caso de Davi, em 1 Sm 21 .I-6. Se alguém era incoerente, eram os próprios
fariseus: não objetavam ao caso de Davi, mas recriminaram a Jesus. Ademais, a transgressão de Davi teria sido transgressão de lei cerimonial; pelo que - deduz-se - Jesus equipara
a lei do sábado a uma outra lei cerimonial.
Judeus e sabatistns ainda hoje exigem a guarda do sétimo dia da semana. Lutero interpretou o Terceiro Mandamento e o colocou no seu Catecismo Menor assim: "SantificarAs o dia
dc descanso". E na explicação, ele diz bem do sentido deste Mandamento, tanto no AT quanto
no NT. Afinal, 6 JESUS quem diz que o sábado (Shabat = descanso do trabalho) deve servir
ao homem e não o homem servir ao sábado, pois quem instituiu o sábado foi JAVE, o Filho do
Homem; por isso ele é o Senhor do sábado em todos os sentidos.
Disposiçáo:
TEMA: JESUS CRISTO É O SENHOR
I
I1
-
Do sábado
Do homem
Moléstia: Religiosidade exterior, legalista e falsa. Interpretação da Bíblia segundo suas
próprias conveniências. Farisaísmo: querer ditar a conduta dos outros por leis próprias. Menosprezo ao senhorio do Filho do Homem. Desprezo A pregação e A palavra de Deus: gazeio
aos cultos e aos estudos bíblicos; não ler a palavra de Deus nem meditar nela; não viver
conforme o evangelho de Cristo. GI 4.8-1 1.
Meio: Jesus Cristo é o Senhor. Ele é. o centro de toda a Bíblia e desta perícope. Tudo
deve servir a Ele: tanto nosso descanso como nosso trabalho e nossa pessoa. Ele é o nosso
Salvador, porque cumpriu toda a Lei por nbs. Quem nele crê tem a vida eterna. Para levar alguém a Cristo, os únicos meios eficazes são a Palavra de Deus e os sacramentos, pelos quais
atua o Espírito Santo, e nunca a observância exterior de qualquer lei, nem a do sábado,
o setimo dia da semana. GI 3.13,14 e 4.4-7.
IGREJA LUTERANA - Página31
Objetivo Estando com e em Cristo, somos novas criaturas (2 Co 5.1 7), que podem adorar a Deus e servir a Cristo em espfrito e em verdade, porque são estes os adoradores que o
Pai procura para si (Jo 4.21-24). Para este tipo de adoração e culto não há lugar nem data
especial, mas cada dia e cada lugar é oportuno para servir o SENHOR, o Filho do Homem.
GI 3.23-29.
Conclusáo: Então, o que prefere o ouvinte: ater-se a leis e tradições sem Cristo, e perder-se para a eternidade, ou crer em Cristo e servir a Ele, fiel e alegremente, todos os dias? O
convite de Jesus está sendo renovado: "Vinde a mim todos os que. . ." Mt 1128. "Quem tem
sede, venha a mim e beba". Jo 7.37. O Espírito Santo quer habitar no coração das pessoas,
conduzi-las em toda a verdade e torná-las felizes com Cristo, aqui no mundo e na eternidade.
Curt Albrecht
Terceiro Domingo após Pentecostes
Mc 3.20-35
Texto
Entre a passagem que antecede o texto e o inlcio do mesmo, Marcos omite o Sermão do
Monte c outros tcxtos referidos por Mateus e pelos outros evanqelistas. O próprio fato que originou os debates que o texto apresenta é mencionado em três breves versículos (10-12): as
curas e a cxpulsáo dc cspfritos irnundos. A introdução do assunto é feita de modo a sugerir
que se nega a Jesus o direito de descansar. Homem público é de domínio público. Foi "para
casa", onde morava, em Cafarnaiiin, c, por intcrfer6ncia da multidão, nem consegue alimentarse convenientemente.
O texto apresenta diversas atitiides do ser humano em relação a Jesus: os doentes se
arrojam para ele na esperança de cura (v. 10); os espíritos imundos se prostram em pavor
(v. 11); a inultidão incomoda por sua curiosidade e expectativa de novos milagres; os escribas agridem com acusações; os familiares saem para prendê-lo, sob a suspeita de que esteja
louco. Misturam-se falsos amigos, aproveitadores, justiceiros, dependentes, escarnecedores,
e inimigos abertos. Há muitas formas de fazer oposições a Jesus, dentro e fora de seus arraiais: os inimigos expressos o acusam explicitamente (escribas); os falsos amigos zombam
e o atacam com sarcasmo; os familiares, procedentes "do berço", sabem tudo e sentenciam:
"está fora de si" e é preciso prendê-lo.
A falsa famnia de Jesus, que com ele comunga apenas os laços de sangue, põe-se inconscientemente a serviço do mal. Interpreta as mais gloriosas manifestacóes do reino de
Deus, a sua vitória contra Satanás, como se fosse obra do próprio Satanás. A leitura do AT,
da Série Trienal B, donde é tirado o texto, apresenta o processo e as estratégias do diabo na
arte de desviar a culpa do pecado. No confronto do pecador com Deus, ele procura atribuir a
outro a sua culpa; no mínimo divide a responsabilidade do mal que praticou; lava as mãos;
suborna; e, afinal, acusa o Criador.
O Pecado contra o Espírito Santo: O perdão divino estende-se, via de regra, a todos os
atos pecaminosos (hamallemata) e blasfêmias (blasphemiai) contra Deus e os homens. A exP6gina 32
-
IGREJA LUTERANA
ceçáo que Jesus apresenta aos escribas incrédulos é a do pecado contra o Espírito em sua
santidade divina (tò pneùma tò hágion), o que no original grego, com a duplicação do artigo, da
a entender que o pecado consiste na negação do Espírito na sua função divina de santificar o
homem. O homem que nega a santidade de Deus Espírito Santo, permanece em sua carência
de santidade e se perde para sempre (eis ton aióna). A criatura desprezou o Deus Criador (Gn 3) e perdeu o paraíso terreno. A criatura que desprezar o Deus Santificador, que o
convence da necessidade do Salvador, perderá o paraíso eterno.
A Família de Jesus: Parece não haver muitas dúvidas de que os familiares e parentes
mencionados no texto eram sua mãe e irmãos fisicos. H& referências de que Jesus os prezava (Jo 2.4; 19.26). A agressão parte deles, não de Jesus. A atitude de Jesus em relação a
eles, neste trecho, não deve ser considerado menosprezo. Quando somos aconselhados a
amar o próximo como a n6s mesmos, não se deve entender que devemos amar-nos menos,
mas que devemos amar mais o próximo. Aqui Jesus demonstra, não que ama menos seus
familiares verdadeiros, mas que seus verdadeiros discípulos recebem seu carinho especial.
Não B a ascendência terrena que conta para um filho de Deus, mas a condição de crente em
Cristo.
"Correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor" indica a abertura de um círculo que excede ao da famflia física e anuncia um rclacionarnento muito mais elevado e santo,
j3 sobre a terra. A igreja cristã é a famíiia de Jesus, e a cada membro dessa famflia ele se une
pelos laços do amor e perdão.
Disposição:
A VERDADEIRA E A FALSA FAM~LIA DE JESUS
I - A Falsa . . . (terrena)
- quer controlar sua vida e obra;
- quer salvá-lo perante o público;
- por sua intervenção, o leva ao perigo.
I1 - A Verdadeira. . . (espiritual)
- aceita sua obra e direção;
- quer ser salva por ele;
- quer ser liberfada de todo o perfgo e mal.
Elmer Flor
Quarto Domingo após Pentecostes
MC 4.26-34
Texto
Jesus expunha a palavra com muitas parábolas. Neste capítulo de Marcos são quatro.
Três delas, a do semeador, da semente e do grão de mostarda, apresentam, de forma combinada, com diversos enfoques, a revelação do reino de Deus, desde seu fundamento, passando
IGREJA LUTERANA
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Página 33
pelo processo de crescimento, até à sua plenitude. Nestas chamadas "parábolas do reino",
Jesus destaca, de modo especial, um de seus aspectos, que se torna o ponto central de comparação. N a primeira, ele enfatiza os quatro tipos de solos e sua produção; na da semente, o
poder concedido ao solo; e na última, o poder da semente.
O reino de Deus: O conceito de reino (basileia) é central para a compreensão do Novo
Testamento. Deus mesmo faz e constrói o seu reino, e apenas onde Ele esta com seu poder e
graça, ali está o seu reino. Este "vem" ao homem, entra nele, com a revelação de Cristo como
o Messias Salvador e com a consumaçáo de sua obra redentora. Nesta condição ele continua
ap6s a ascensáo ao céu, quando, como Rei e Salvador, quer entrar, pela fé, no coração dos
Iiomens, tornando-se participantes do reino e cooperadores nessa obra. Este é um sacerdócio
real que o crente exerce neste reino do Rei dos reis.
O scn~cador,a SCRJCR~Ce O solo - os 3 S: Destaquemos no presente estudo a parahol~
da scnierile, porque 6 somente aqui em Marcos que a mesma aparece. A semente é a
j i ~ l , ~ v rde
a Deus. Devidariieritc scmcadn, frutifica por si, por seu poder intrínseco (automátec),
rcvcl,iriclo que ri riciturcza C: s6bi;i c lev:~r>ciono clímax da colheita.
A vida, fisica c cspiritiinl, 6 milagre de Deus. A semente produz vida. Possui o poder divirio OU (jcrrninrir, crescer e dcsenvolvc?r-sc para a plena maturação e a produção do fruto. Tudo o qiie o horricrri, coiiio coopcrndor rio riino, faz, 6 lançar a scmcnte à terra. Somos chamado:; a :;r:rne:ir tanibhni. A :;c!rnciit(: faz o rc::;tnnte. O crescimento vem de Deus (1 Co 3.6-9).
N;io 113 ;iqiii clualq~icri d k i sincr-jist~ioii :70ri>i-pclagiana: a terra 6 o meio em que a palavra
crc?:;ce. Nrío tcrn vida, n;io prociiiz vida. A vida cst5 na semente.
J(::;iis, o divirio Seriicador, confia rio poder dc sua palavra. Ele a semeou, quando
f)c::;:;onlrriciitc iln tcirli, c: qiic:r qiic s c i i i t ; di:;cípulos prossigam semeando (Ef 4.1 2). A palavr;i C: viva c t!ficn.c.
A:;sirii coiiio i):; ngc:ritcs ri;itiirais c: físicos dc rcproduqáo terrena conduzem, via dc regra,
i'iiii;it~ri;iç;io o coltioitn, o iciiio dc Dcur; cstabclece o seu ciclo de ação do inicio ao fim. Ob:icrvn-:;c a visível csporit:iricidadc, rcgularid;idc, gradatividade, progressividade, segurança e
~)orf(:ic;iodo processo dc cro:;ciriic:rito da p:ilavra/semente no solo em que B lançada: erva (~,pig;l - grcío clicio - friito madirro - ceifa. Em Ef 4.1 1-15 esse processo da vida espiritual
h dc:;crito corrio Liriia sctlUCncia ~isccridciitc,como um desenvolvimento progressivo da vida
cspirilciiil.
A rioitc c o dia se siiccdem desde a criação do mundo até o seu final. Quanto ao "dornlir
c levantar", nr?o 6 provfivel que sc refira a Jesus, que em sua divindade "não dormita nem dorrnc" (SI 121.4). As duas cxpressóes falam da continuidade do ciclo vital e destacam a desprcocupç5o de quem planta uma semente certificada.
Gr20 de mostarda: Acrescenta 3 parábola anterior o aspecto do crescimento do reino,
visível, contínuo, marcante, acolhedor. O crescimento interior no contexto externo. O reino de
Deus é de natureza espiritual, invisível, mas aparece de muitas formas e manifestações exteriores. A parabola estimula a f6, encoraja às boas obras, fala da presença salutar da igreja e
dos crentes no mundo. Suas obras devem ser vistas por todos, para que glorifiquem a Deus e
se encham de alegria e esperança. As "aves do céu" apenas se aninham à sombra do pé de
Página 34
-
IGREJA LUTERANA
mostarda. Não fazem parte do reino, mas desfrutam abrigo temporário à sua sombra. Pode-se
apontar para a influência salutar da igreja visível no mundo e para eventuais vantagens que os
filhos do mundo possam encontrar no relacionamento com os filhos da luz.
Falar em pardbolas: O uso de figuras de palavras e de comparações 6 , até hoje, uma
forma cativante de prender a atenção dos ouvintes. Nas parábolas, Jesus liga as idéias do
mundo espiritual com as experiências reais do dia-a-dia. O significado mais profundo s6 poderia ser entendido pelos seus fiéis, e, portanto, ficaria melhor preservado.
Disposição:
A a ~ á da
o palavra de Deus comparada ao ciclo vital da semente
I - A energia intrínseca da semente está presente no plantio
I1 - Os estágios de desenvolvimento no coração e na vidz do crente
111 - A ceríeza da maturaçáo e colheita para a vida com Deus
Elrner Flor
Quinto Domingo após Pentecostes
MC 4.35-41
Texto
O cenário em que se arma o drama é formado por urn lago de Aguas doces e tranqüilas.
A sua margem oeste elevam-se os montes da Gnlilbia, pelos quais passa uma garganta que
desemboca no "mar" da Galiléia ou, mais propriamente, no lago de Genezaré (nome que vem
do hebraico kinnereth, que significa harpa, violino, por causa do formato de seu leito) ou de Tiberíades (nome grego ligado à cidade de Tibérias, construída 3 sua margem por Herodes Antipas crn homenagem a Tibério César).
O relato encerra, de forma dramática e vitoriosa, as atividades intensas de um dia da vida de Jesus. Dia de ensino por parábolas e dia de muita ajuda a necessitados. Jesus, como
homem, cansou e retirou-se com seus discípulos para o outro lado do mar.
O conflito: a) Nas forças da natureza: A conformaçáo geográfica da regiáo permitia
que um tufão de vento cruzasse a garganta formada entre as montanhas da Galiléia e desembocasse no mar, normalmente calmo. O "grande temporal de vento", como referido por Marcos
pode ainda ter sido um seismós, conforme Mateus, o que indica a possibilidade de uma espécie
de maremoto. A descrição de Marcos de que o barco "já estava a encher-se de àgua" indica o
aumento gradual do perigo. A natureza parece fugir do controle do Criador, apesar de este
estar presente em tudo, e no barco de forma pessoal.
b) No ânimo dos discípulos: O texto diz pouco sobre o medo que se evidencia no ânimo dos discipulos. Eles acordam o Mestre adormecido com o grito de que "pereciam". Barqueiros experientes, deviam ter confiado, a principio, em suas qualidades adquiridas
na profissão. O seu grito por socorro mostra a dimensão do conflito e a pequenez de sua fé.
O homem tornou-se infiel a seu destino, traçado na criação: "Dominai, sujeitai . ." (Gn 1.28).
Esta inversão, provocada pelo próprio homem, leva-o ao estado de terror e choque. A apa-
.
IGREJA LUTERANA - Páçina 3 5
rente anarquia das forças da natureza torna-se, sob o poder de Deus, um meio de disciplina
e julgamento. Falta de obediência e de f6 estão próximos, e se mostram na impotência do homem em governar as criaturas e a natureza.
c) na relação de Jesus com a tempestade e com os discípulos: Jesus 6
acordado de seu sono pelos gritos dos discípulos. Quanto mais fraca ou inexistente a fé, mais
forte o desespero humano. Quanto maior o desespero da despedida, menor a esperança ou
certeza de reencontro. Os crentes não precisam desesperar nem temer quando vêem os impios prosperar, ou o diabo reinar nos corações de muitos pelo poder do pecado e da ignorância.
Dois verbos no imperativo, e basta: Acalma-te, emudece! Quantos corações ele acalmara naquele dia, expulsando deles a tormenta do pecado e da doença! A autoridade de Jesus, o seu poder protetor sobrepõem-se a qualquer contrariedade. Enquanto dorme na popa
do barco, homens muitas vezes ocupam a proa e o comando dos "negócios" da igreja. E o
mar da infinidade de Deus se revolta. O Jesus de muitas igrejas e correntes religiosas, tímidas
c scin f(s ou vida cristás, é um Cristo ernbalsarnado, morto, adormecido, superado, e não um
Scrihor tie poder c amor.
O divino passageiro pode parecer, humanamente, adormecido. Muitas vezes permite
que o barco <ia f15 balance c ntb rncsnio bcire o desespero. É o processo de cura qua passa
1)cla dor dc um curativo. Jesus reprccndc ;i rinturcza c depois sc dirige aos discípulos. Sabe
ric <;iias fr,iq~ic/;is e medos, e cuida dclcs. Ternos urn Salvador que subiu acima dc todos os
c6us. rn,is qiic contiriua tendo c scnntindo a nossa iiatiircza. Esse cuidado se chama graça ou
frivor dc De~is.Resolve o conflito tcmpor:il x bonança, desespero x fé, perda x salvação.
Rcsultn(io.s: Uiiin diipla rcaç5o se scgiic ao rnilagre da grande bonanca. O uso duplo da
raiz pt~óbos p;irri cxprcscxir a idbia de quc todos ficaram "ntcmorizados de ternor" aponta para
;i(jrciiidc~ada cura que sucede ao granc!c siisto. É iim temor diante da revelação da onipotência de Jcsiis. Foi um temor quc, ao coritr:irio dc afastá-los do Mestre, fez com que o admiras:;cri1 cm bcriditn confiança.
Outra rca(.,lo foi a da busca do scritido daquele livramento. A pergunta que os circunstnritrs Icvantarn 6 a dúvida provocadn pelo poder e pela presenca de Deus na vida dos que até
a( náo o reconheceram cl,iran~cnte como o Filho de Deus. É a pergunta que leva, pelo poder
do Espírito Santo, 3 descoberta do verdadeiro Salvador.
Disposiçáo:
A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A TIMIDEZ E A FALTA DE FÉ
I - Ele coloca a fé vacilantc em prova. (Permite que enfrente o perigo máximo.)
I1 - Ele ampara o fraco e o conduz a segurança.
I - Conhecimento: Sabe do mar da vida e de seus perigos.
I1 - Assentimento: Entra no barco com Cristo.
111 - Confiança: Sente e confia na presença do Salvador.
Página 36 - IGREJA LUTERANA
IV - Esperança: Espera e anseia pela hora do livramento.
V - Vitdria: A bonança resulta em louvor e testemunho.
Elmer Flor
Sexto Domingo após Pentecostes
Mc 5.21a, 35-43
Texto
1. O evangelista Marcos, após relatar a cura do endemoinhado geraseno e posterior
rejeicão e expulsão de Jesus de suas terras (5.1-20), nos apresenta Jesus do outro lado do
mar, rodeado de grande multidão, quando Jairo, homem importante em sua cidade, um dos lideres da sinagoga, vem a Jesus com toda a sua aflição de pai que vê a sua filha As portas da
morte. Jairo sabe que homens nada mais podem fazer, por isso deixa sua filhinha aos cuidados de seus familiares e parentes e vai pessoalmente em busca do Mestre. Com humildade
e fé, em meio à multidão, prostra-se aos pés de Jesus e lhe fala carinhosamente de sua querida filhinha, suplicando com insistcincia que Jesus venha cura-la. Jairo demonstra sua fé, tendo
certeza absoluta que Jesus tem o poder de curar sua filha.
2. "Jesus foi com ele" (v. 24). Nesta pcquenina frase Marcos mostra o amor e compaixáo de Jcsiis. Podemos imaginar a imensa alegria e gratidão do pai aflito vendo Jesus atender
à sua súplica. Mas a caminhada para a casa de Jairo é interron~pida(v. 24b-34) pela mulher
que veio Jesus para ser curada de sua hemorragia cronica. Podemos imaginar os momentos
de nfliçáo e angústia vividos por Jairo ao esperar. E, a demora se confirma ter sido fatal para
sua filhinha - familiares vêm à sua procura com a notícia que ela falecera (v. 35). Antes todos
haviam concordado que Jairo fosse buscar Jesus, e que este curaria sua filha, mas agora já.
nada mais poderia ser feito. Que deixasse o Mestre em paz, e viesse para casa para estar
junto aos seus familiares c ao corpo de sua filha (v. 36). Mas antes qiie Jairo pudesse dizer algo, Jesus lhe diz: "Náo temas, crê somente". Dois imperativos: um negativo e outro afirmativo, ambos um chamamento para uma f6 inabalável. Jairo viera em fé e confiança na cura -acabara de presenciar a cura de algu6m outro - sua filha, no entanto falecera. E, agora,
diante da morte, ainda assim deveria crer no poder de Jesus?
3. Jesus não quer alarde (v. 37). Com seu poder manda embora toda multidáo, que
sem dúvida queria acompanha-10, cheio de curiosidade. Aléin dos pais, permite somente que
seus tres discípulos mais intimos o acompanhassem (os mesmos que estiveram com Jesus na
Transfiguração e no Getsémani) para testemunharem o que Jesus faria. (Lembramos que pela
lei eram exigidas duas ou três testemunhas para estabelecerem a veracidade de um fato ou
acontecimento.
4. O s preparativos (v. 38, 39) para o sepultamento já. haviam sido tomados. Os flautistas contratados (cf. Mt 9.23) e os pranteadores profissionais estavam em plena atividade, seguindo antiga tradição já anterior a Jeremias. Na época de Jesus, mesmo os pobres contratavam no mínimo dois flautistas e um carpideira. Para uma pessoa da importância de Jairo, sem
dúvida, o número era bem maior. Alkm destes, estavam presentes os parentes e amigos. Por
este motivo o ruido e alvoroço podia ser ouvido de longe.
IGREJA LUTERANA - Pdgina 37
5. Jesus se dirige (v. 40) aos que estão ali fazendo alvoroço, e, diante das palavras que
a menina apenas dormia, os pranteadores contratados irrompem em gargalhadas de zombaria.
Eles tinham certeza da morte. Não podiam entender a morte como sono. Eram profissionais
da morte, seu choro não era de tristeza, mas em troca de pagamento certo, por isto tamb6m
riem com facilidade. E Jesus dá novamente mostras de sua autoridade. Diante de sua ordem
todos silenciam e tem de retirar-se. E Jesus entra com os pais e seus três discípulos no quarto
onde está a menina. Jesus, em sua Sondade, permite que os pais presenciem o retorno à vida
de sua filhinha.
6. Jesus toma a mão da menina (v. 41), como se ela estivesse viva, ordenando-lhe que
se levantasse. hriarcos, neste momento, transcreve as próprias palavras proferidas por Jesus
em aramaico, traduzindo-as após - náo para ciizer que eram uma fórmula secreta ou mágica,
mas para que todos os leitores pudessem ouvir o próprio som das palavras proferidas naquele
momento por Jesus. Eram palavras simples, na língua falada e entendida por tocios naquela
região. Palavras que, no entanto, ficaram gravadas fundo no coração daqueles que puderam
esiar presentes quando o Senhor as proferiu. Com uma palavra Jesus roubou 2 morte a sua
presa - colocou vida onde havia mo&, manifestando ali um lampejo de sua divindade e g16ria.
Ao verem a menina de p6 e caminhando (v. 42), o regozijo e admiração dos pais e discípulos foi exirema. Ao informar a idade, o evangelista informa que a filha não era mais criança,
pois, para os judeus, com doze anos as moças passavam a ser consideradas jovens.
7. Por que Jesus ordena, especialmente (v. 43), aos pais, que não relatassem o acontecido? Sem dúvida, não ficaria em segredo cur a menina morta agora estava viva. Mas Jesus não queria que os pais agora agissem como arauios do milagre.
A última frase do texto nos mostra vivamenie todo o amo: e compaixão do Salvador para
com os outros. A menina, sem dúvida, devido 2 sua enfermidade, já não conseguira alimentarse, e, agora, em meio a toda a agitação, os pais não lembrassem de lhe dar alimento, por isso
Ihes ordena que lhe dessem de comer.
A ressurreiçáo da filha de Jairo 6 ao mesmo tempo uma obra de amor e compaixão de
Cristo, penhor do poder que ele tem sobre as forças da morte e da descrença e manifestação
de sua divindade.
Disposiçáo
JESUS FOI COM ELE (v. 24)
I
/I
-
-
Para atender a sú,~licado pai (22, 23)
Para socgrrer a menina enfermdmofla (23, 35, 38, 4 1)
111 - Para revelar o sou poder (42)
Hans G. Rotlrnann
PSgina 38 - IGREJA LUTERANA
SBtimo Domingo após Per.tecostes
MC 6.1-6
Texto
1. Muitas vezes pensamos no ministério de Cristo em termos de respostas vigorosas
de fé e em multidões a segui-lo. Às vezes vemos o Salvador destacando a fé de alguém, con-io
no relato do evangelista no capitulo anterior. dizendo a mulher que sofria de hemorragia cr6nica: "Filha, a tua fé te salvou." Em contraste, devemos nos lembrar que muitas vezes seu ministério foi rejeitado. O nosso texto relata um tal acontecimento, e isto, na própria cidade em
que Jesus se criou.
2. Jesus deixara Cafarnaum (v. 1) e seguira para a região montanhosa ao sul, atE que
chegou à vila onde passara a sua infância e juventude. Retorna acornpanhado de seus discípulos, que ele agora estava preparando para a missão que Marcos relata em 6.7-13.
3. Como era costume (v. 2,3), no Sábado foi com seus discípulos à sinagoga, sendo I h t
dada a oportunidade de expor os textos sagrados lidos da Lei e dos Profetas. Toda a corigre
gaçáo admirou-sc dos seus ensinamentos, o que provocou neles indaga~óesquanto as origrms de sua doutrina e sabedoria, bem como de onde lhe vinha o poder de operar inilagres, dos
cjuciis haviar-ri ouvido falar, ou até tivessem presc~riciado. Alquns, talvez, tivcsscm as nicuriids
suspeitas expressas pclos cscribas dc Jerusal6m (Mc 3.22). Jcsuç ri50 rcscct-ma treinanicliit»
forrnal dc rabino ou escriba. Ele era conhecido por cles corno opcrcirio, igual a cles rncsmos.
Scii:; farriilinrcs em NazarE, conhecidos d c todo:;, iirtdrr tinhnrn dc c:;pecial. Oii:iI era, pois, :I
oricgciii cic sua sabedoria, e quem Ihc dera o podcr tlc falar e :ic]ir corn tal niitoridndc? A cstri
pcrgiinta impõem-se uma das seguintes rc:;postns: oiigern divina, ou cnt30, derrionínca.
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4. Jesus responde (v. 4) com um aforismo que encontra inúmeros ~,aralciosna litcr:itiira
judaica e grcga. A afirmativa j& antecipa a rcjeicr?o final do povo de Israel c, ao rncsrrio tenipo,
Icinbra a rejeição por parte dos parentes de Jesus, afirmando scr cle loiico, c tcntarido iiiipcdir
seus atos à força (Mc 3.30, 21, 30-35).
5. Diante da incredulidade (v. 5,6) generalizada, Jesus Iirnita sua atividade 3 cura de alguns enfermos. Não é objetivo dc Marcos assinalar a impossibilidade ou "incapacidade" da
realizacão de milagres por parte de Jesus em Nazaré, mas sim, que em tais circunstâncias,
sem haver fé, os milagres somente serviriam para um maior endurcciinento dos coracóes contra Deus. O poder de Deus, que Jesus possuia, somente podia ser manifestado de maneira
genuína e salvífica quando havia a receptividade da fé. A incredulidade exclui o povo de Naznré da revelação dinâmica da graça de Deus que outros haviam experimentado. O fato de Jesus admirar-se da incredulidade deles mostra vivamente o grau de resistência encontrado por
Jesus em Nazaré.
LUTERANA - Págiria 39
j
I
1
I
Rejeitado em sua cidade, Jesus vai para as aldeias vizinhas levando a merisagem do
perdão e salvação.
IGREJA
I
111
A primeira impressáo de admiraçno logo d:i luqar 2 inveja c rcsscntiriicnto quando se
Icrnbram dLis origens e formacáo de Jesus. NAo aceitando a origem ciivirin dos c,cus c,iisirinrnciitos, escnndali7am-se com seu ofício de profcta. Seus olhos c ouvidos sc fccharn dimte
das palavra:, c atos de Jesus. Eles o rejeitam. P,irn cles Cristo n2o era o iir~gidod e Dctis.
I/
I
I
(1
I
"
1
I
I
I,
I
Disposição:
EU PRECISO ME POSICIONAR DIANTE DE JESUS
I
-
Ou eu me escandalizo com Jesus e o rejeito como Salvador
/I - Ou eu me admiro de Jesus e o aceito como Salvador
Hans G . Ronmann
Oitavo Domingo após Pentecostes
Ivic 6.7-13
Texto
1. O relato dc Marcos sobrc n rcjciçao de Jcsus cm Nazaré estA intimamente ligado à
subscqücnte missão dos dose apó:,tolos. A t c r i s k ~entrc 16 e incredulidade pervade ambos os
relatos. No v. 1 1 os discípiilos rc.cc~t)crndo seu Mcstrc n clara indicação de que eles tamb6rn
encontrariam rcjcic50.
Situando cstcs dois acontccirriciitos, ;i c:;tci altura do seu Evangelho, o evangelista mostra quc a incrodiilid:tdc b o coritcxto ciii qiic! n rnil;sr?o cta igrcjn cstft inserida, e que a rejeição 6
uma experiência cornurn para o Senlior c [irira aqiic!les que são os seus mensageiros no
mundo.
2. O cvarigclista r~iostr;lcni sou ovnrigcllio de qiic modo Jcsus preparou seus discípulos para esta inciimbCncia o:;pocinl. Erri 1.I 1;-20 relata o ch;rrriamento para scrcm pescadores
dc hoincns, cliic: condiiz ao cli;\i~i;idodc I c v i c:in 2.1 4. tlin 3.13-19 relata como os doze escolhidos sáo cspecífic;irricntc dcsign;ido:; para n ~)rc!gnçáoe corn autoridade para expelir demônios. Dcsclc seu charncirncrito os clir;cípiilo:; c::;tivc:rnrn corii o Mestre, compartilhando suas expcriCricic~s. A instr~içríoparlic;ulnr (1.1 1,34) c o prcscnciar do poder de Jesus sobre possessão
dcrnoní;ica, doença c riiortc (cnp. 5),os ti;ivin prcpnrado para um envolvimento direto no seu
ministório.
3. Jesus dcsiqnou P rriviou os discípulos para serem seus representantes, seus delegados. Siia mensagem c atos scri~iincoriio que uma extensão dos de Cristo mesmo. Eles
são seus representantes oficinis. O cumprir dc uma tarefa específica c m grupos de dois é frequente também no Antigo Testarncnto c cst3 em conson2ncia com a ordem de Moisés que a
verdade seja cstabalccida pela boca de duns testemunhas. O comissionamento dos doze relatado em nosso tcxto não foi um comissionamento permanente, ele visava uma tarefa especifica, por isso Jesus tambem dá instruções específicas para esta missão.
4. Cada cristáo que disse "sim" ao Senhor Jesus diante de seu Deus e diante dos irmãos de sua congregação por ocasião do batismo e confirmação tambkm disse "sim" ao grande comissionamento, o de fazer discípulos de todas as nações. O nosso texto que nos relata o
primeiro comissionamento dos doze discípulos nos da uma clara visão da tarefa e nos convida
para sermos mensageiros e ministros do Senhor Jesus.
Páçina 40 - IGREJA LUTERANA
5. Ir sem levar peso desnecessário significa ter o mínimo de "estorvos físicos" e preocupações conosco mesmos. Somente assim é possível empregar nossas energias no cumprimento das tarefas do Senhor. Devemos estar atentos ao nosso relacionamento com as
pessoas a quem levamos a mensagem do Senhor e preocupados com o relacionamento destas pessoas com seu Salvador. Nosso contato com as pessoas deve ser gentil e devemos
mostrar nossa gratidão por uma boa acolhida. O Evangelho não é uma mensagem que deve
ser levada "à força" às pessoas. Deus não força seu amor e graça sobre as pessoas. O
Evangelho 6 a Boa Nova do amor de Deus para com os homens perdidos.
6. Nosso ministério é dirigido A pessoa toda. Um mensageiro de Cristo deve pregar arrependimento, ter coragem de identificar pecado como pecado e ajudar às pessoas a renunciarem ao mesmo encaminhando-as a Jesus. O mensageiro de Cristo deve expulsar os espíritos
imundos lutando com o vigor da Palavra de Deus contra o espírito do egoísmo, ganãncia, hipocrisia. inveja, ódio e orgulho. O mensageiro de Cristo deve ministrar aos fisicamente enfermos,
assirn como o Senhor o espera dos seus, confortando os doentes e moribundos e orando com
eles e por eles. Novamente hoje o Senhor Jesus espera nosso envolvimento em seu minist6rio. Já dissemos "sim" ao nos tornarmos membros de sua igreja. O que lhe diremos hoje?
Qual será o nosso envolvimento hoje e amanhã?
Disposição:
OS PREGADORES SAO MENSAGEIROS QUE JESUS ENVIA
I
- Com poder para combater os males espirjtuais ( 7)
I1
-
Com ordem de não se preocupar com coisas secundárias ( 8,9 )
111 - Com a recomendação de pregar lei e evangelho ( 10-13 )
Hans G. Rotlmann
Nono Domingo ap6s Pentecoste
MC 6.30-44
Texto
1. Tanto o contexto como o próprio texto possuem uma mensagem para o homem de
nosso tempo. Na história da multiplicaçáo dos pães (cf. Mt 14.14-21; Lc 9.1 1-17; Jo 6.1-13;
Mc 8.1-10; Mt 5.32-39) transparece a mensagem: Em e com Jesus Cristo o reino de Deus
está presente.
Nossa geração necessita esta mensagem. Mesmo vivendo num mundo que oferece
valores em abundância, a atual geração necessita conscientizar-se de que vive no deserto.
Manifesta fome e sede de Deus. Permanece com carência espiritual aquele que se apega somente aos valores materiais da vida.
A pericope ensina que Deus cuida do homem. Satisfaz todas as suas necessidades.
Destacamos três aspctos principais: O homem desequilibrado encontra descanso na presenIGREJA LUTERANA
-
Página 41
ça de Deus; Jesus Cristo, o pastor dos pastores, chama e guia o seu povo; quem segue o
seu chamado pode contar com seu amparo e com sua proteção em toda e qualquer situação.
2. O descanso. - Após terem sido enviados por Jesus (cf. Mc 6.7-13), OS discípulos
voltam a ele (6.30). É as vezes cansativo ser mensageiro de Deus. Deus quer a dedicaçáo
integral. Neste encontro surge a oportunidade de falar com o mestre sobre as dificuldades
desta sublime missão.
Os discípulos necessitam de descanso. Também eles precisam horas de reflexão e
meditação. Necessitam equilibrar sua vida espiritual. Para alcançar este objetivo, eles precisam afastar-se dos lugares onde há barulho.
A intenção desta introdução aparece no conselho de Jesus: "Vinde repousar um pouco,
A parte, num lugar deserto" (6.31). Separar-se do mundo profano significa: os discípulos têm
necessidade de um encontro corn Deus. O descansar de rnodo exterior fornece condicões para um descansar de modo interior. Procura-se o restabclccimento da harmonia entre Deus e o
hoinerri.
O AT refere-sc muitas vczcs ao descanso (cf. Jr 6.16; 31.2; 1s 14.3; 28.12 etc.).
Igualrncnte o NT fala sobre o dcscanso (2 Ts 1.7; At 3.2); Hb 3.1 I ) , pois este conceito contkrn uma dirnens5o escntológica. Dcscnnsar (cf. Mc 2.23%) significa viver e ter esperança de
ijrn dcscanso (?terno (cf. Hb 4.3-1 1; v. 9). E cst)oçado urn retrato que descreve o futuro reinar
tic l3ciis. Este roiriar divino sc faz presente nn pc:;so;i dc Jcsits.
Dcscciric;;ir corn .ICSUSsi<jnificn p;irticipnr das dddiv;is do torripo mcsçiznlco.
um privil60io vivcr ric:stc tonipo. O rcino dc Dous, n c;rilvnçrío da h~ii-iinnidndes2o t2o próxiinos corno
riiirica antes. A:; d:idivas deste reirio c:;t?to ao ;ilcaiicc dti todos (cf. Mt 11.28).
3. 0bscrv;icrio: Ncstc mundo agitado :;urc]c a iiccessidadc de ter mornentos de descariso. Os filhos de Deus sçcnteni que necessitarri um encontro com Deus e consigo mesrno.
Torrinm-se irnl)ortnritcs, nesta hpocn tlc corri~iriicaç50, a reflexão e rneditação. Surge Lima
grande chnncc para toda a criçtnndaclc. Usar suas reuni0es com o fim de promover concentraçáo c conscientizciç80. A casa p;irticulnr, o local das reuniões até o próprio templo pode ser
o lugar ideal parri "rcpoiisar um pouco à parte".
4. O rebanho. - Urna grande rriiiltidáo segue Jesus. Todo este povo é descrito como
"ovelhas que n5o tL'm pastor" (6.34). Surge a concentração do povo ao redor de Jesus. Por
interm6dio de sua prcgaçáo é convocado o novo povo do Senhor. E constituido o povo escatol6gico de Deus.
Na pessoa de Jesus transparece a compaixão divina. Na sua misericórdia manifesta-se
a misericórdia de Deus que se aproxima de maneira concreta ao homem. Em Jesus Deus
compartilha as necessidades do povo. Na sua presenca ninguém precisa passar por necessidades. A ação de Jesus inspira confiança pois sua espontaneidade no conduzir, ensinar e suprir as necessidades do rebanho revela a diçposiçáo daquele que representa. E m Cristo Jesus, o próprio Deus se aproxima do seu rebanho na dispersão. Importa confiar nele com todo
coração. Crer em Jesus Cristo significa participar dos bens que o povo de Deus recebeu. E
isto de geracão em geração (Êx 1 Reis 17.8s.s; 2 Reis 4 . 1 ~ ~42-44).
;
5. A comunhão. - A comunhão estabelece um relacionamento profundo entre o pastor
Página 42 - IGREJA LUTERANA
e o rebanho. Jesus age como um pai de famflia (cf. as tradiçóes judaicas). Quem vem a sua
mesa ficará satisfeito ("Todos comeram e se fartaram" 6.42). Recebe as bênçãos. Ser convidado à participar na mesa significa participar da grande alegria do tempo escatológico. É o
momento da volta à casa do Pai. Todos podem vir. Jesus alimenta a todos.
6. A multiplicação dos pães lembra a participação do povo com o Cristo exaltado (cf. At
10.41; Lc 24.30~s cf. ainda o costume da comunidade primitiva At 2.42.46; 1 Co 11.20s~).
Pela comunhão acontece um novo conviver com Jesus. E uma nova forma de participar com
Cristo e receber suas dádivas. Todo cristão aproxima-se da mesa na certeza da presença de
seu Senhor. É o momento de encontro entre Deus e o homem. Um momento em que se recebe de Deus o que o homem necessita para uma vida espiritual autêntica. O participante nesta
comunhão terá a certeza de que Jesus se preocupa com o homem todo. Ele 6 o Senhor sobre
toda vida. Ninguém sai de sua mesa com mãos vazias. O poder espiritual do reino de Deus
visita e transforma as pessoas.
Disposição:
DEUS CUIDA DE SEUS FILHOS
I - Dando descanso 3s suas almas
I1 - Suprindo todas as suas necessidades
111 - Trazendo uma vida de comunháo
Hans Horsch
Décimo Domingo após Pentecostes
JO 6.1-15
Texto
1. A concepç50 estrutural deste capitulo evidencia uma clara tendência. O milagre da
rriultiplicação dos páes é o toque inicial de uma mensagem, cujo conteúdo se revela com o decorrer de sua apresentacáo. Jesus, o doador do pão terreno, se manifesta conio doador de
uma alimentação que não abrange somente o fisico do homem.
A mensagem de Jo 6.1-15 encerra o passado, tem um significado, opera no presente e
abre a visão para o futuro da vida humana.
2. 0 s versiculos 1-4 descrevem as circunstincias, nas quais o evento aconteceu. Nos
versiculos 5-10 observamos o preparo dos discípulos e o povo para este acontecimento. A
reação da multidão perante o milagre 6 narrada nos versículos 14-15.
3. Tentando compreender o texto em sua profundidade, destacamos alguns detalhes:
- O evento recebe significado escatológico. E um "sinal" que prepara o discurso posterior de Jesus, no qual ele oferece o "verdadeiro pão do céu" (cf. v. 32ss). As dádivas
que o povo da aliança antiga recebeu - "nossos pais comeram o mana no deserto"
(v. 31ss) - serão ultrapassadas com o irromper do tempo messiânico e da alegria de
IGREJA LUTERANA - Página43
tomur parte neste evento. A alegria do tempo da salvação s e r i experimentada por
aqueles que recebem este pão que vem do céu.
-
O autor, registrando a proximidade da páscoa, quer ressaltar a auto-doação de Jesus. Seu sacrifício pelos pecados do mundo supera o sacrifício pascal judaico. A
comemoração pascal regular da antiga aliança é abolida pela instituição e comunhão
da nova aliança.
-
Jesus toma a iniciativa. Ele assume a função de um pai de família (cf. Êx 12) como
era de costume nas refeições em casa ou por ocasião da comemoracão da páscoa.
As dádivas do tempo antigo são administradas, por ele, de maneira perfeita. A criacão é aperfeiçoada pela nova criação. A miiltiplicação milagrosa indica nesta direção,
pois ela 6 urn sinal (cf. v. 26), Lima palavra visível e indicador para o discurso posterior de Jesus. Em Jesus há libertacão da escravidão do pecado. Ele, o pão verdadeiro, liberta para a vida eterna.
- Para compreender melhor a exlensfio do texto é importante conferir passagens como
i x 12, 2 Reis 4.38-44 (O profeta alimenta corri poucos páes - cf. Jo 6.9.13 - uma
grande multidao).
- Neste contexto, a multiplicacrio dos páes é transparente para o mistério da Santa
Ceia. A Santa Ceia da igreja primitiva estava sob a esperança da segunda vinda de
Cristo. Cada ccia foi considerada urna antccipar;áo da ceia cclrste (cf. Mt 26.29%).
-
A pergunta de Jcsus (v. 5) tem urn siqriificado profundo. Sua verdadeira intenção não
foi rc!conhc~cidrr. Sua intcrfcrCricia corri ,jiiloridrrde riiostra qliern c l r é em verdade. O
pRo q i i r ele oferece n5o possue n qiialid;idc q ~ i cn maioria procura (cf. v. 14.15). A
oferta dc Jclsus dá ao tiomcni o que ele rcnlmcntc necessita, a cornunháo com Deus.
Seu "sinal" quer despertar no homcm a busca aiité.ritica. Quer conduzí-lo i3 fé vcrdatlcrra.
- O acontecimento 6 auto-rcvcl:içr?o dc Jcsus. Mostra quem é o doador e qual a dádiva. Jesus é o esperado. O profeta anunciado em Dt 18.1 5ss.
Disposição:
JESUS PODE DAR O QUE O HOMEM NECESSITA
I
-
Sem ele a vida permanece vazia
11 - Com ele a vida recebe o seu devido valor
Hans Horsch
Ddcimo Primeiro Domingo após Pentecoste
JO 6.24-35
Texto
1. A procura ( 24 ). - Após presenciar o maravilhoso feito de Jesus, a multidão o procura. Porque o procuram? Qual a intenção desta procura? Será que ninguém daqueles que
assistiram a obra de Jesus percebeu a intenção verdadeira dele? Com o fim de alcançá-lo noPágina 44 - IGREJA LUTERANA
vamente, as pessoas vencem grandes distâncias. Procuram a proximidade dele, mas não
perceberam que o evento acontecido os colocou numa certa situação. A partir da multiplicação, as pessoas devem decidir-se com respeito à pessoa de Jesus. Trata-se de uma decisão
central para toda sua vida. O que interessa a ele é o posicionamento para com ele (cf. Jo
3,2ss). Procurando a proximidade de Jesus, não resolve ainda o drama interior daquele que o
segue.
2. O encontro (25-26). - O novo encontro é usado por Jesus para dar um sentido mais
profundo A sua obra. Jesus contraria os expectadores. Ele não está interessado em apenas
satisfazer as necessidades físicas de seus seguidores. Para eles, a multiplicação tem sido
uma experiência extraordinária. Gostariam que isto continuasse. Mas eles não compreenderam que os milagres de Jesus são sinais que indicam em direçáo de uma realidade ou verdade
que se evidencia somente naquele que crê. Jesus quer conduzir as pessoas em direçáo de
seu Pai. A intencão de seu discurso sobre o "pão da vida" consiste em despertar o homem a
reconhecer quem é o doador da comida que não perece.
3. O apelo ( 27 ). - Este apelo serve como mola-mestra para o diálogo que segue. O
versículo contém os motivos fundamentais de todo o discurso de Jesus sobre o pão da vida. A
palavra "trabalhai" (ergazeslai = originalmente "adquirir pelo trabalho" = ooerar = esforçarse, etc.), a palavra da comida que subsiste para a vida eterna e a palavra do Filho do homem
corno fonte ou doador do "pão da vida". O apelo de Jesus mostra, que ninguém é capaz de
operar "esta comida". Mas é possível adquiri-la. Jcsus está disposto a oferecer esta comida.
Como Filho do homem, ele é autorizado para isto. Interessa, agora, qual o posicionamento do
homem para com Jesus. O que importa 6 o relacionamento correto para com o Filho do homem. Este relacionamento é o alvo do "trabalhar" dos seguidores.
4,. A dúvida (28-34) - Jesus explica os mal-entendidos e corrige as opiniões divergentes. Esclarecendo sua solicitação, ele não fala de "muitas obras", como os fariseus podiam
ter entcndido (cf. Lc 10.25~s; Mc 10.17). Trata-se de uma obra somente. Obra que, na verdade, não é obra: A f15 naquele que foi enviado por Deus! Esta fé é a Única pressuposição para o
recebimento da comida que subsiste para a vida eterna. Por isso Jesus corrige as convicçóes
sobre o "maná no deserto" e afirma que o verdadeiro pão vem de maneira imediata de Deus.
Provém de tima esfera espiritual, da realidade divina. Sua eficácia é maior do que o maná do
deserto. Este "maná celeste" dá vida ao mundo. Sua afirmacão "Eu sou o pão da vida" anula
toda esperanca humana em dirccáo de uma segurança existencial e material somente. A partir
desta declaração, a esperança do homem tem um novo sentido e alvo.,
5. A oferta ( 35 ) - Na oferta de Jesus aparece a voz eterna de Deus ("Eu sou o que
sou e serei"). Somente na comunhão com Deus, o homem encontrará o que procura: a verdadeira paz.
Disposição:
JESUS CRISTO SOLICITA
I
NOSSA FÉ EM SUA OBRA SALVADORA
- Ele corrige nosso relacionamento com as 'kousas terrenas"
I1 - Ele fornece as condições para um relacionamento com a s "cousas eternas"
Hans Horsch
IGREJA LUTERANA
-
PAgina45
Décimo Segundo Domingo após Pentecostes
JO 6.41-51
Texto
Os judeus que seguiram a Jesus, após a multiplicação dos pães, não deixavam desaparecer a questão da identidade de Jesus. Começa em 6.14: "Este é, verdadeiramente, o profeta
que deve vir ao mundo!" Continua no inicio do texto: ". . Eu sou o pão descido do céu."
Contra esta afirmação os judeus "murmuravam". (E interessante uma comparação com o
"murmurar" dos judeus no deserto com o respeito àquele pão mandado por Deus do céu, o
Maná: Éx 16.2s; 17.3; Nm 11.l;14.27, mencionado por Paulo em 1 Co 10.10). Que Jesus
operasse milagres com o pão natural - tudo bem! isto ainda eles podiam aceitar. Mas sua
declaração de ser ele "o pão descido do céu" Ihes foi demais. Conhecendo seus pais (v. 42),
eles simplesmente acharam um absurdo tal afirmação. Jesus, porém, insistiu na imagem do
"pão". Não se importava se ou não a aceitassem. Ao contrário, ele ainda mais a elaborava na
sua auto-caraterização: Como "pão vindo do céu", ele providenciaria uma vida tal qual nem
aquele pão "vindo do céu" no deserto podia fornecer. Pois aquele povo, que se alimentava do
Maná, já há rnuito desapareceu. Aqueles, porém, que comem, isto é, que "comem" espiritualmente do "Pão da Vida" - aqueles, que crêem em Jesus como sendo o verdadeiro doador
da verdadeira vida - estes têm uma vida permanente, que não desaparece, sim, tem a vida
eterna (v. 50). E o que B de suma importância: Eles não s6 terão esta vida num futuro distante, mas sim, já a têm, agora, no momento em que o aceitam numa fé verdadeira.
.
O destaque em nosso texto evidentemente é o fato de que Jesus é a Fonte da Vida e
que ele fornece, por graça pela fB, uma vida eterna que começa no momento em que aceitamos
a Jesus como nosso Salvador. O alvo do sermão deve ser, então, enfatizar o fato glorioso de
que aqueles que aceitam a Jesus possam ter confiança absoluta de que sua vida eterna já começou. O problema a apontar é que tantos, aqui no mundo, insistem em outros caminhos para
a eternidade, e que até cristãos facilmente podem esquecer que sua vida em Cristo nunca precisa, nem deve, terminar daí em diante, de eternidade à eternidade. O Único meio, O Único caminho, pelo qual podemos ter esta vida gloriosa é de "comermos", aceitarmos, crermos que Jesus dau sua pr6pria vida por nós afim de nos salvar.
Nota: "A Bíblia de Jerusalém" numa anotação diz com respeito As palavras no v. 51 "a
minha carne para a vida do mundo": "Subentendido 'dada' ou 'entregue' (como muito manuscritos precisam). Essa construção gramatical concisa no original lembra 1 Co 11.24: 'Isto é
meu corpo, que é para vós' (cf. Lc 22.19). Alusão ?
Paixão."
i
Disposição
"Vida após vida" tem sempre sido um conceito atrativo para o homem caído no pecado.
Desde os antigos egrpcios que construiram as pirâmides para seus reis e os equiparam com
tesouros imensos e esplêndidos para o usufruto numa suposta vida posterior, até os espiritualistas e outros seguidores do ocultismo dos nossos dias, os homens especularam e fantasia-
Página46 - IGREJA LUTERANA
ram sobre uma vida "após vida". A mensagem de Jesus em nosso texto é de que realmente
existe uma vida após esta nossa vida física. Porém esta vida pode ser ganha somente através
de uma verdadeira fé naquele que se chama e que é o "Pão da Vida". Sim, o que é mais: Esta
vida pode começar já, e agora, continuando de eternidade em eternidade, mesmo após a nossa
morte física.
Disposição:
Por isso constatamos A base do nosso texto.
A VIDA ETERNA JÁ ESTÁ PRESENTE
I - Jesus dá mais do que a vida fíçica
A - Pão para o corpo B necessário.
1 - Jesus não mandou a multidão emb0r.a quando foi tempo de comer.
2
B
-
-
Jesus nos dá tudo o que necessitamos nesta vida - sim, mais ainda.
Pão para o corpo 6 temporario.
1
-
O povo de Israel, peregrinando pelo deserto, comeu o Maná, providenciado por Deus. Apesar de ser "do céu" eles morreram.
2 - A multidão dos 5.000 comeu o pão providenciado por Jesus, porém não
foram satisfeitos permanentemente.
3 - O mundo de hoje tambem não vive eternamente "pelo pão somente".
11 - Jesus oferece mais do que esperança para o futuro.
A
-
Vida eterna não 6 simplesmente esperança futura.
1 - Jesus promete que "aquele que crê" TEM (e não somente "terá"
no futuro) A VIDA ETERNA (v. 47).
2 - Jesus garante que aqueles que participam de sua "carne" e do "sangue", viverão para sempre (v. 55).
B - Vida eterna começa agora e está presente naqueles que créem.
111 - Jesus dá vida permanente em abundância.
A
-
Seu "caminho para a vida" não pode ser comparado com qualquer "caminho
para vida" humana.
B
Seu "caminho para a vida" 6 o Único caminho "em abundância" (Jo 10.10).
C
-
D
-
Seu "caminho para a vida" depende exclusivamente de sua redenção completa "para a vida do mundo" (v. 51).
Seu "caminho para a vida" não é incerto, não é encurtado, nem desaparece
num futuro distante.
O mundo em geral pode ter uma vaga esperança de que nem tudo termina com a morte
física. N6s, porém, temos a firme convicção de possuirmos em Cristo a vida eterna, não so-
IGREJA LUTERANA - Página47
mente no futuro, mas sim, desde já, e agora. A palavra de Deus que nos traz o "Pão da Vida",
já nos enche, agora, espiritualmente com aquela vida que é realmente eterna, pela f6.
Johannes H. Roltmann
Décimo Terceiro Domingo ap6s Pentecostes
JO 6.51-58
Texto
O sexto capltulo do evangelho de S. João contém muitas referências ao "Maná" que
Deus providenciou para o povo de Israel durante sua peregrinação através do deserto (v. 4;
30-34; 49; 58). Assim como este pão, "vindo do céu", alimentava o povo durante estes anos,
Jesus revela neste capitulo do Evangelho que Ele 6 o "Pão Vivo" de Deus que nos alimenta e
sustenta para a vida eterna (v. 51).
O nosso Pai celeste nos dá, em Jesus, o que precisamos para a vida (v. 51-; 57). No
entanto existem muitos que muito mais se preocupam com alimentação física e saúde corporal
do que de se alimentarem com o "Pão da Vida", que providencia vida além dos limites terrenos. Porém um desprezo do "Pão Vivo" tem conseqüências trágicas (v. 53b), enquanto aqueles que se alimentam de Jesus na fé são abençoados. O resultado é que a vida tal náo pode
ser destrulda pela morte (v. 58). E isso não 6 fantasia humana! Isto é a firme promessa daquele Cristo que viveu e morreu c ressuscitou. Todos aqueles que dEle participam por meio da
fé, têm a vida dEle.
A idéia central deste texto é que Jcsus é o "Pão vindo de Deus" que nos alimenta para a
vida eterna. O alvo do sermão deve ser advertir que não desprezemos o "Pão da Vida", mas
sim, sempre participemos dele mediante a fé.
Alimentar sua criatura 6 a obra de Deus (SI 145.15,16). Mas em sua miseric6rdia, Ele
não s6 nos providencia o pão para as nossas mesas, mas sim, providencia também o "Pão
Vivo" do céu.
JESUS É O PAO VIVO DO CÉU
I
- Jesus é o Pão enviado por Deus
A
Pdgina 48
-
Deus sabe que espécie de páo 6 necessário para o seu povo.
1
-
Deus providenciou Maná no deserto
a) Ele foi uma dádiva de Deus (Êx 16.4-16)
b) Ele alimentava o povo de Israel durante 40 anos (Êx 16.35)
2
-
Deus enviou Jesus para nbs (v. 51,57,58)
a) A nossa necessidade maior não é de alimento que enche os nossos
estômagos (Mt 6.31-33; Lc 12.23a)
- IGREJA LUTERANA
b) N6s necessitamos antes de tudo o Pão que alimenta as nossas
almas (Jo 6.26,27). Somente Jesus é este Pão (v. 51). Somos alimentados pelo sacrificio de sua carne e o derramamento do seu sangue (V. 5 1b, 53; Hb 9.12)
B
-
Alguns recusam o Pão vindo de Deus
1 - Assim fizeram os israelitas no deserto
a) Havia alguns que desprezaram o Maná de Deus (Nm 11.4-6)
b) Estes foram condenados (Nm 11.33)
2 - Muitos rejeitam a Jesus
a) Eles zombam de sua afirmação (v. 52)
b) Eles não têm vida em si mesmos (v. 53)
/I
-
Deus liga sua promessa da vida ao seu Pão
A - A promessa de Deus visa a vida eterna
1 - Apesar de o Maná de Deus alimentar os israelitas, todos eles morreram
(v. 58b)
2 - Em Jesus temos a vida que náo é destruída pela morte (v. 51, 54, 57,
58, Ap 1.17b, 18)
B - A promessa de Deus vlsa os que participam
1
2
-
Este Pão não é para ser admirado no ccntro da mesa
Este Pão deve ser "comido"
a) mediante a 16 (Jo 6.29, 47, 48)
b) nos sacramentos (Mt 26.26-20)
C - A promessa de Deus é para todos
1
2
-
A ningukm k negado este Pão (Jo 6.37b, 51)
A graça de Deus inclui a todos (1s 55.1 2 ) .
Deus nos conceda que participemos de seu Pão Vivo do chu com o mesmo zelo com
que nos alimentamos do pão dos campos terrenos!
Johannes H. Rottmann
D6cimo Quarto Domingo após Pentecostes
Jo 6.60-69
Texto
Alguns dos 5.000 que Jesus, milagrosamente, alimentava esperavam que Jesus continuaria seu "mestre-de-pão" e por isso queriam fazê-lo seu rei (Jo 6.14,15; 33,34). É ainda hoje
uma concepção errônea que o seguir a Jesus e ouvir suas palavras fazem seus ouvintes "felizes" no sentido terreno, que ser um seguidor de Jesus poderia garantir sucesso material. Por6m Jesus nunca prometeu isso. Os ouvintes do discurso de Jesus, que ele proferiu na ocaIGREJA LUTERANA
-
Página 49
si50 do nosso texto, acharam que "duro é este discurso, quem o pode ouvir?" e murmuravam
contra ele (v. 60,61), sim, "muitos dos seus disclpulos o abandonaram e já não andavam com
ele" (v. 66). O problema foi e é que os ouvintes entendem o que Jesus diz, mas suas palavras
não Ihes agradam.
As palavras de Jesus são sem paralelos. Elas transmitem a todos aqueles que, com
Pedro, confessam: "Senhor, para quem iremos? tu tens as palavras da vida eterna; e n6s
temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus" (v. 68,69). A idéia principal 6 que somente Jesus tem palavras da vida eterna. O alvo do sermão deve ser que os ouvintes não
tentem colocar suas próprias idéias na boca de Jesus, mas sim, aceitem e crêem as palavras
do próprio Mestre.
A Iiistória de Maria e Marta é conhecida A maioria dos nossos ouvintes (Lc 10.38-42).
Enqiianto Marta ouviu de Jesus as palavras: "Marta, Marta! andas inquieta e te preocupas
com rnititns coisas", cstava Maria sentada aos pés de Jesus "a ouvir-lhes os seus ensinanientos". Por que? Porque Maria sabia que não havia outras palavras tais como as de Jesiis. Sim:
AS PALAVRAS
I
-
Alguns
A
-
DE
JESUS SÁO SEM PARALELO
sdo fri~slrndoscom as palavras de Jcsus
Jcsus tcvc iniiilos seguidores fio inicio do seu niinistério (Jo 6.2)
1 - t l c s esperavam muito dele (Jo 6.14,15, 33.34)
2 - Sua cspcrança ndo concordava com as palavras de Jesus
a) Suas pal,ivras tivcrain um alvo espiritual (v. 63b, Lc 5.32,
Jo 12.?5,26)
b) Sitns palcivras continham afirmações incontestáveis sobre si
niesmo (Jo 6.38,40,51)
B
-
Hoje alguns inicinlmcnte seguem também a Jesus
1 - Elcs esperam ouvir palavras que os fazem "felizes" nesta vida terrestre
2 - As palavras de Jcsus não têm uma fórmula para a vida fácil (Mt 5.1-12)
3 - Alguns sáo ofendidos e rejeitam suas palavras (Lc 18.18-23).
I1 - Outros são abençoados pelas palavras de Jesus
A - Suas palavras são sem paralelo
1 - Elas sáo sem paralelo por causa do seu autor (v. 69)
2
-
Elas são sem paralelo por causa da vida que trazem (v. 63,68)
a) Vida agora pelo perdão dos pecados (Lc 7.47-50)
b) Vida eterna (Jo 11.25,26)
B
-
Suas palavras são para serem aceitas
Página 50 - IGREJA LUTERANA
1
-
Jesus não espera que compreendemos completamente as suas palavras
2 - Ele espera, no entanto, que cremos o que diz (Jo 6.40)
a) Fé é uma dadiva preciosa de Deus (Jo 6.44)
b) Fé não é ofendida pelas palavras de Jesus (Lc 7.23).
Qual é a nossa resposta As palavras de Jesus? A pergunta de Jesus dirigida aos disclpulos atinge também a 116s: "Porventura quereis também vós retirar-vos?'Que a nossa resposta seja a mesma de Pedro e dos Doze: "Senhor, para quem iremos? tu tens as palavras
da vida eterna; e n6s temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus."
Johannes H. Rottmann
Décimo Quinto Domingo ap6s Pentecostes
MC 7.1-8, 14, 15,21-23
Texto
1. O assunto que os escribas e fariseus (v. 1) levarn a Jesus (é possível tomar uma
refeição sem lavar as rnáos7) era simples, mas acabou sendo importante, amplo e profundo.
quem E puro ou impuro diante de Deus (v. 2, 19, 2O)7 quem é cumpridor ou transgressor das
Icis dc Dcus e dos homens (v. 3, 5, 8, 9, Mt 15.23)7 qiiern 6 que cultua ou desonra o nome de
Deus (v. 6, 7)7 que é que contamina n vida cspirit~inlda pessoa (v. 6, 15, 19-23)? Jesus quer
receber c ouvir a todos.
2. A resposta que Jesus dá aos escrihas e fariseus é, ainda, mais importante, profunda
c vital que os assuntos apresentados. Convicto que as perguntas exigiam respostas urgentes
c sérias, é que Jesus recebe a comissáo do Sinédrio e ouve todas as suas reclamações; é
que Jesus analisa e avalia a propriedade e conscquCncias da temática questionada; é que Jesus transmite a mcsrna resposta aos três públicos que o cercam e ouvem: escribas e fariseus
(v. 6); multidão do povo (v. 14); doze discípulos (v. 17). Jesus quer responder todas as perguntas!
3. As perguntas dos líderes espirituais dos filhos de Israel e a resposta do Filho de
Deus provocam mais um dos muitos conflitos teológicos entre o Mestre Jesus e os mestres de
Israel. E compreensível que ocorresse: havia flagrante divergência entre os ensinos da "tradição dos anciãos" (v. 3, 5, 7-9, 13) - que eram "preceitos de homens";e o ensino da "palavra
de Deus" (v. 7, 9, 13) - que são "preceitos de Deus". Tanto o conteúdo como a didática do
ensino de Jesus eram diferentes e superiores ao dos professores e te6logos de Israel, pois
"Jesus ensinava como quem tem autoridade" (Mt 7.38, 39). Como "o homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (1 Sm 16.7), Jesus Cristo "não olha e não julga o homem segundo a
aparência, mas conforme a reta justiça" (Mt 22.16; Jo 7.24) ;.e. a espiritualidade interior está
acima da religiosidade exterior (v. 6, 21-23). Também aqui acontece com Jesus o que Simeão
havia predito: "Eis que este menino está destinado tanto para ruina como para levantamento
de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição" (Lc 2.34).
IGREJA LUTERANA - Página 51
4. O contexto da perícope 6 significativo: no auge de seu ministério, "o nome de Jesus
já se tornara notório" (6.14); longe dos "fikis" de Jerusa1é.m e perto dos "pecadores" estrangeiros, Jesus está "ensinando, pregando e curando" (Mt 9.35) na terra de Genesaré., quando recebeu a comissão do Sinédrio.
5. O conteúdo deste discurso de Cristo, mesmo dirigido a diferentes auditórios (v. 6,
13,17), caracteriza-se pela pregação da lei (não evangelho), da santificaçáo (não justificação).
Dirigindo este sermão aos escribas e fariseus, à multidão e aos disclpulos, Crist~)tem propósitos bem definidos em mente: quer ensinar, i.e. expor a sua correta e verdadeira doutrina; quer
repreender, i.e. combater e refutar as heresias dos mestres de Israel e fazer apologia da sã
doutrina; quer corrigir, i.e. buscar o arrependimento e a mudança de conduta; quer educar na
justica, i.e. estimular a vida santificada e a prática de boas obras (2 Tm 3.16).
6. Alguns destaques especiais da pcrícope:
- hypokr~tcês(v. 6): os escribas e fariscus sáo chamados de "cegos, guias de cegos"
(MI15.11) e hipócritas. O uso do termo hipócrita (hypo. sob, debaixo de, escondido; knteés:
julgador, juiz, com scntido de juízo correto c justo) foi bem amplo e pode significar: o artista,
~)c'sxo,i quc usa máscara no rosto, o falsArio, pessoa q ~ i ctem dcias fachadas, pessoa artificial,
n;io iiitc>gra,n2o autêntica, pessoa que se escondc atrás de objetos ou condutas.
- Na tr~diçriodos anciãos (v. 3, 9, 13) cricontravam-se leis, regras e princípios elabo-
rados pelos r,ibinos, erain intcrprctarõcs e corncntários extraídos e anexados do e ao Pentatc'iiro, o c,eii curriprirncnto rncrccia rccoriipcris,is (boas obras), c assim os líderes religiosos e
o povo <~cabnr,irr~
vnlori/ando mais rstcs "prcccitos de homens" do que os "preceitos de
Llcus". Daí n scvclridadc de Jesus.
- koir7dn (v. 15, 18, 20, 23): significri tornar algo comum, impuro, sujo, humilhante, inciirjrio, clc~,prr~lvcl
c contnrnin8vel. Segiindo 'I Ici de Moisés, a pessoa podia tornar-se impura
rio :,cvitido rnornl (infracBo da lei moral) ou ritual (infração da lei cerimonial), quando comia aliiiionto prcjibido, ou cstnva com Icprn, ou por tocar cm mortos, ou por ter espírito mau.
--- cxootl7eu (v. 15, 19: de fora: exterior; tudo que é alimentação, objetos materiais e
fí:;icos, qlic tingem o exterior do corpo ou cntram no interior do corpo humano.
- esoothcu (v. 15, 20, 21, 23): dc dentro; interior; tudo que 6 mental, intelectual, moral
espiritual (dialogisnds
reflexão, pensamento) que, saindo "de dentro (kardias - coração,
ceritro dc sentimentos, o subconsciente) para fora" é que torna o homem sujo, impuro, imoral,
contaniinado e contarninador,
pecador!
-
-
- Sobre o número e categoria dos pecados (v. 21, 22) que procedem do coração:
"maus desígnios ou pensamentos" é o cabeçalho para caracterizar, genericamente, os pecados especificos que sáo arrolados. Os pecados relacionados são em número de 12; seis pecados encontram-se no plural, e seis no singular; os primeiros nove, são pecados que se dirigum, especialmente, contra o próximo, e os Últimos três, contra Deus. Também o cristão,
mesmo espiritualmente renascido e regenerado, luta contra estes "pecados pessoais" porque o
seu interior ou natureza está corrompido pelo pecado original; vale lembrar que o cristão
é "simmul justus et peccator':
PSgina 52 -- IGREJA LUTERANA
- Partindo da simples tradição de "lavar as mãos'; Jesus Cristo leva os escribas e fariseus, a multidão do povo e seus discipulos para dentro de si mesmos, e faz refleti-los sobre a
origem, densidade e conseqüência da impureza espiritual, bem como a necessidade de "lavar
o coração'', Althaus lembra que do coração procedem "Sundengedanken, Sundenworte und
Sundentaten".
Disposição:
O sermão de Cristo, nesta perícope, é profundo e rico em seus enfoques. Buscamos,
pois, o tema e as partes nos v. 21 e 22. Como introducáo, poder-se-ia apontar para a "trágica
contaminação de Goiânia". O tema e partes poderiam ser:
.
NOSSO CORAÇÁO ESTÁ CONTAMINADO
I - Porque cometemos pecado contra o próximo
I1 - Porque cometemos pecado contra Deus
Na parte I, poderiam ser analisados os scgiiintes pecados:
-
pornéia: prostituição; coisas imorais, fornicacõcs; Unzuchtdinge
klopêe: furtos, roubos; Diebstahle, Dicberei
- fdnos: homicidios, crimes, assassínios; Mordtaten, Mord
- moichbia: adultérios, Ehebruche
- plconexía: avareza, desejo de possuir o que pertence aos outros; habsuchtige
Dinge, Habgier, Habsucht
- poneería: mallcias, maldades, impiedade; Boshciten
- dálos: dolo, mentiras, engano, Arglist, Misstrriucn, Hinterlist
- asélgeia: lasclvia, imoralidades, concupisc?!ncia, Zugellosigkeif
-
poneerós: inveja, Neid, boses Auge, Missgunsi, boser Blick.
Na parte II poderiam ser analisados os seguintes pecados:
- blasfeemía: blasfêmia, calúnia, maledicência, Gotteslasterung, Schimpfrede
- hypereefanía: soberba, orgulho, vaidade, Sclbstuberhebung, Hochmut
-
afrosynee: loucura, falta de juízo, Toheit, Goitesleugnung, Unbesonnenheit, Masçlosigkeit
Para facilitar a compreensão, apresentamos os termos que encontramos em diversas
traduções. É f8cil relacionar os pecados com os Dez Mandamentos.
Em lugar destas "obras da carne" (v. 21, 22; GI 5.19-21), Deus espera que seus filhos
redimidos produzam os "frutos do Espirito" e "vivam e andem no Espirito" (GI 5.22-25).
Leopoldo Heimann (L.)
IGREJA LUTERANA - Página 53
Décimo Sexto Domingo após Pentecostes
MC 7.31-37
Texto
1. O assunto da pericope está claro: Jesus Cristo cura uma pessoa com deficiência fisica. E mais um dos muitos milagres do Filho de Deus. O fato nos ensina duas verdades decisivas da fé cristã: o pecado mutilou o homem, tanto espiritual como fisicamente; Jesus
Cristo, corri o seu poder e sua graça, pode buscar, curar e salvar o enfermo e o perdido (Lc 19.10). Jesus é Salvador de todo o pecador e do pecador todo: corpo e alma.
2. O contexto é semelhante ao da perícope do último domingo. No auge de seu ministbrio, Jesus está "ensinando, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfcrrnidades" (Mt 9.35, Mc 6.54-56) e "seu nome j8 se tornara notório" (Mc 6.14).
Jesus está exercendo o ofício real, sacerdotal c profético. Encontra-se no norte da Palestina,
lonqe de JerusalErn, na divisa com cidades gentíiicas, no território de Decápolis, as Dez Cidades, próximo do lago da Galiléia. Detalhes. apcrias Marcos relata a cura do surdo e gago.
3. Quanto 3 forma, conteúdo c propdsito da perrcope. é o relato de um fato histórico,
reconhecido corno rnilagre, embora o problcrn'i fisico e espiritual "do surdo e gago" apontar para o pocado c a lei, o milagre do "abre-tc" 6, acima do tudo, uma mensagem de evangelho, de
boa-nova, o objetivo ou propósilo desta ;ituaçáo dc Cristo 6 mostrar que "Cristo tem toda autoridade" (Mt 38.1 8 ) c t r x e r consolo c cspcrnnc'i (Rim 15.4) aos filhos de Deus.
- o ponto ccritr,il dc todo o relato rst,i tio ~ i ~ i l n qdo
r e "abre-te" (v. 34). Tudo gira em t0rrio de .J(.~,us c su,i ot~rn. IiA, porbrn, dois f,itos rric.nores qiic mcrecem atençdo rriuito especial:
priiriuiro, .io quc1cintrcetic o "t7fc~trl"
dc Jesus - o tr,ibalho filantrópico e missionário daquelas
p c ~ s o ~ i :aribniriicis
,
Icv,irn o drfi~itmtca J o s ~ i se iniplordm que o Salvador o salve, além da
boa obra, os cstr,iritios r e v ~ l ~ i su,i
r i i fb c conficiriC,i ciri Cristo (v. 32, 33), segundo, ao que sucede o "ctalil" dc J c ~ i i s- o tcsternunho, a divulqaç;io, o júbilo, a felicidade e a gratidão do que
fora curado o tlc scus arnigos quc, maravilh~dos,exclamaram: "Tudo ele tem feito esplendidarrientc bcrn" (v. 36.37). Destes trCs momentos - antes do milagre, a ansiedade e confiança
dnquclcs que buscam o Salvador, o milagre de Jesus, depois do milagre, o reconhecimento e
gratiddo daqueles que foram salvos - sugerimos como tema as palavras que falam da consequericia da salvaçáo: Jesus faz tudo bem1
- priraboléoo (v. 32): 1" tem o sentido geral de clamar, gritar, chamar para o lado ou
para mais perto de si; 2v) significa pedir por favor, suplicar, implorar, invocar, rogar com o sentido especial de oração. Como reflexão oportuna, podem ser lembrados textos que falam da
oração: Mt 6.7; 7.7; 21.22; SI 145.18; 65.2; Lc 22.42; 1 Tm 2.1; S I 50.15.
-
apolambánoo: pode significar atender ou recepcionar alguém, abrigar ou guardar al-
gu6m; aqui, porém, quer dizer tirar para fora, chamar para o lado, separar de outros (kat'idian
-
à parte, para si). Jesus ouviu a súplica e tirou o enfermo do meio da multidão e o separou
para si. Muito significativa e simbólica esta atitude de Cristo. Leva à reflexão: Deus tem muitas maneiras de nos tirar e separar das multidões, do trabalho, do corre-corre; inclusive a enPBgina 54 - IGREJA LUTERANA
1I
1
fermidade, o hospital. Parar e estar a s6s, ?
par'e,
i
com O Salvador! Jesus quer falar conosco.
Pode ser angustioso, mas Cristo quer o nosso bem. Alguns textos para meditar; Mc 6.31; Rm
8.28; SI 55.22; 41.3; 37.5; 119.71.
- efatá (v. 34): é uma transliteraçáo do hebraico, e significa abrir. Em 7.16, Jesus repete a conhecida expressão "ouvidos para ouvir". Rrn 10.14-17 fala que "a fé vem pelo ouvir
da pregação". O ouvido é um sentido importante. O surdo não podia ouvir a palavra de Deus.
"Efatá" foi, provavelmente, a primeira palavra que o surdo e gago ouviu em sua vida.
-
cheirds: a mão - "suplicaram que impusesse a mão sobre ele" (v. 32). As mãos
dos homens, as mãos de Deus, as máos de Jesus - slmbolos de poder, de socorro, de salvação. As mãos de Cristo convidam, carregam, abençoam, curam, salvam, consolam. Alguns
textos para reflexão: Ed 8.22; SI 31.5,15; Is 59.1; Mt 19.13; Jo 10.28; Ai 112 1 . Um Iembrete importante: Cristo sempre ouve nossas súplicas e sempre põe suas mãos sobre n6s,
mas nem sempre logo se "abrem os ouvidos e salta a língua" (v. 35), como o caso do surdo e
gago-
- E oportuno lembrar que podemos pedir bens espirituais e corporais, mas com esta
diferença: bens espirituais, necessArjos A nossa salvação, n6s os devemos pedir incondicionalmente; os bens materiais, porém, com a condição de que Deus nó-10s dê, caso contribuam
para a sua honra e para o nosso bem (Lc 22.42; Mt 8.2). Seja feita a tua vontade, Senhor!
Há muitas opções para uma boa introdiiçáo. Algumas sugestões de assuritos que podcrn ser explorados e que se encontram nos seguintes textos. At 1.8, AI 4.20, Lc 2.20, SI
50.15. Além do sumArio da mensagem, a conclusão poderia dar uma ênfase especial ao testemunho e divulgado "tanto mais eles o divulgararn" (v. 3G). Como tema c partes sugciimos a
seguinte estrutura:
JESUS FAZ TUDO BEM
I - Ouvindo nossas súplicas (v. 32)
I1 - Tirando-nos da multidão (v. 33)
111
-
Impondo sobre nds as suas mãos (32-35)
Leopoldo Heimann (L.)
IGREJA LUTERANA - Página 55
Décimo SBtimo Domingo após Pentecostes
MC 8.27-35
Texto
1. A primeira vista, a perícope parece tratar de três assuntos bem diferentes e desvinculados um do outro: o 10 bloco (27-30) falando sobre a identidade de Jesus Cristo - o povo
e os disclpulos devem responder a pergunta do Senhor: "quem sou eu?"; o 2"Ioco
(31-33)
apontando para o caminho da cruz e do túmulo aberto - necessidade absoluta para Cristo
cumprir sua missão de reconciliar o mundo com o Pai; o 30 bloco (34,35) apresentando a seriedade do discípulo compromissado - negar-se a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Jesus.
Apesar destes três blocos, é poss~velconstatar que há unidade neste pensamento que Cristo
desenvolve em três escalas ou etapas. No coração da perlcope esta Jesus Cristo e sua obra.
H&, porém, três estágios ou enfoques. Nos três blocos, Jesus está falando: 1) Eu sou (o
Messias), 2 ) Eu faço (a obra da salvação), 3) Eu quero (decisão dos meus seguidores).
H&,pois, no mínimo, quatro opçócs para preparar o sermáo: expor a perlcope como um todo,
aprofundar o estudo/mcnsagcm num dos três blocos, considerando os outros dois como matéI-ia complen~cntar.A disposiçáo no filial do estudo será baseada, especialmente, no bloco dois
( 31-33).
2. O co~ltextoda pcrícope 6 iinportante. Em seu comentário, F. Rienecker divide o
Evangelho de Marcos em sete grnntlcs p;irtes. Considera a quarta parte, que inicia com o v.
27, como unia das rii;iis import:intos, pois é aqui quc o ministério de Cristo atinge a sua altura
rnr'ixima (Gipfclp~~nkt,
Schcit~?l/t6ltr~):
it1i:ritifica-sc com o Messias profctizado, designa-se o Fi1/10do Homcni qiic dcvt: rriorrcr c rcss~iscitar,exige decisão e sacrifício de seus seguidores.
Estfi no norte de sua torra, loiigc da capital política e religiosa. Doravante, diminuem as curas e
milagres. Aponta muito para si niosnio. Pela prirncira vez fala abertamente sobre a necessidade de sua paixrío c riiorlo. VC n cruz c começa o caminho de Jerusalém. Parece estranho
pregar sobrc n paixrío dc Cristo rio firiln do ano cclcsiástico (1FDom. Pentecostes), longe do
período da páscoa. Cristo tariibC!rii o f ; i ~ assim: no auge e no meio de seu ministério, prega
sobrc n iioccssidade de su:i riiorlc o rcssiirreição.
3. O rontcúdo da pcríc:opc Icvn ao centro da mensagem do cristianismo: Jesus 6 o
Messias pronietido, rnorre c rcssuscitn para salvar. Neste sermão dialogado, Cristo revela a
profundidndc, a riqueza c o corisolo de seu evangelho. Apesar da brevidade do texto, Cristo
conseguc ensinar, rcprccridcr, corrigir, educar na justiça, e consolar. É o Mestre Jesus.
do evangelho:
4. Ainda alguns breves dcst"q~~cs
-
- Como sempre, é muito importante examinar os textos paralelos (Mt 16.13; Lc 9.18)
há detalhes que enriquecem.
- O sistema de entrevistas e pesquisas de opinião pública já eram conhecidos. Entrevistado, João Batista deveria responder a pergunta: "Que dizes a respeito de ti mesmo?"
(Jo 1.1 9-28). Jesus faz uma pesquisa de opinião pública (um sábio método de ensino) a respeito de si mesmo (27-29). Pergunta As multidões do povo: "Quem sou eu?" Pergunta aos
seus doze discípulos: "Quem sou eu?" O povo não reconhece a verdadeira identidade de Jesus - o Messias. O povo o considera um homem como tantos outros - João Batista, Elias,
PSgina 56 - IGREJA LUTERANA
Jeremias, um profeta. Os dl,cípulos, pela primeira vez, o reconhecem e confessam: "Tu és
o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16.1 6). O reconhecimento da messianidade e divindade de
Jesus Cristo s6 poderia acontecer através de uma revelação especial "de meu pai que esta
nos céus" (Mt 16.18).
-
O discipulado (34-38) exige muito: negar o seu próprio eu; suportar todos os sacrifrcios identificados como cruz; seguir e confessar a Jesus até o fim. Mas vale a pena: "Salvar
a vida" (Recomendação: O Discipulado, de Bonhoffer).
- Cristo sempre sublinha o enfoque escatoldgico de sua mensagem: "quando vier na
glória de seu Pai com os santos anjos" (38).
Importante fazer alguns comentários específicos do bloco sobre o qual apresentaremos a
disposição (31-33):
- dei: esta partícula sempre expressa a idéia de absoluta necessidade; algo que não
pode ser diferente; algo que não pode acontecer de outro modo; não pode existir outra opção
ou alternativa, tem que ser assim; A obrigado ser assim; não tem outro jeito.
- Por isso, as traduções "A necessário, é preciso, B obrigado, importa, convém, que o
Filho do Homem. . ." para se cumprir "o que está escrito" (Lc 21.22; Mt 26.54), para que o plano de Deus possa ser executado e alcance o seu objetivo. No mesmo v. 13, Cristo agora
aponta para o que "era preciso acontecer com o Filho do Homem" (este tftulo Jesus se atribui a
si mesmo; nenhum discípulos/escritor o emprega, sempre aponta para a natureza humana do
Salvador, tanto em seu estado de humilhação como da exaltação). Ninguém pode mudar este
"plano necessário" de Deus, nem mesmo Pedro, que precisa ouvir: "Arreda, Satanás!"
- prlschoo: com raras exceções, pode ter o sentido de experimentar ou vivenciar coisas boas. Em seu uso próprio e normal, porem, este verbo tem o sentido de sofrer. Conforme
o contexto, pode referir-se h qualidade (profundidade: pequena ou grande densidade) ou h
quantidade (número: muitas ou poucas vezes) do sofrimento; pode traduzir dores fisicas ou
moraislespirituais; pode significar suportar dores por causa ou em favor de alguAm. E daqui o
termo "paixão". Jesus sofreu todas estas dores. Alguns textos: Is 50.4-10 (leitura do AT da
pericope de hoje), Is 43.24,25; 1s 53; 2 Co 1.5; Tg 5.10; 1 Pe 5.1.
-
apodokimátzoo: significa ser desprezado e rejeitado. Quando se refere a Jesus, esta
rejeição não é um simples "não" ou "ignorar"; mas normalmente vem acompanhado de humilhação, zombaria, sarcasmo, cinismo. Cristo é refutado, negado, refugado, e rejeitado com
desprezo e ridicularizaçóes. Conferir a história da paixão de Cristo. Os sofrimentos e a rejeição do Filho do Homem teriam, especialmente, "os anciãos, os principais sacerdotes e escribas" como instrumentos. Sendo eles os guias, lideres, pastores, pregadores e teólogos da
palavra de Deus e do povo de Deus - tanto mais Cristo sentia os sofrimentos e desprezos!
- apokteínoo: significa morrer, ser morto, deixar de viver; colocar a morte no lugar em
que se encontrava a vida; deixar de existir. Aqui, com o sentido de "ser morto por alguém",
"ser matado", "ser assassinado". Este "ser morto" de Cristo sempre lembra uma ação brutal
de fora; lembra derramamento de sangue; lembra muita angústia e sofrimentos. Os evangelistas todos falam da brutalidade e do sofrimento da morte de Cristo; toda a Escritura fala sobre
a importância e significado do sangue de Cristo. Com a morte, Cristo desce ao último degrau
IGREJA LUTERANA
-
Pggina 57
da humilhação (Fp 2.5-1 I), enfrenta o Calvario, mas fez ouvir o grito da vitória de seu ministério
sacerdotal: Está consumado!
- anktamai: rico em seus significados, o verbo sempre deixa transparecer a id6ia clara
da vida, viver, estar vivo; levantar-se, erguer-se, aparecer, surgir, acordar; ressurgir ou
ressuscitar dos mortos para a vida; retornar e retomar o que era seu e havia perdido: o "viver"
fora dominado pelo "morrer", o "morrer" é subjugado pelo "reviver" - ressurreiçáo! Na história da pascoa, os evangelistas apresentam a vitória de vida. Paulo traz centenas de textos.
Com a vivificação e ressurreiçáo começa o estado de exaltação e glorificação de Cristo (Fp
2.5-1I).
Disposição:
Os três blocos da perícope (27-30; 31-33; 34-35) oferecem diversas opções apropriadas para elaborar o sermão. Escolhemos, especialmente, do 2 q I o c 0 , o v. 31 e sugerimos o
seguinte tema e partes:
ERA NECESSÁRIO
I
-
Jesus sofrer
11
-
Jesus ser rejeitado
111 - Jt?slis morrer
/V
-
Jesus rcssuscitnr
Leopoldo Heirnann (L.)
Dbcimo Oitavo Domingo após Pentecoste
MC 9.30-37
Texto
1. Todo o contexto indica quc os discípulos, seguidores do esperado Messias, aspirav,irn uin rcirio tcrrcrio quc Ilies nsscgurnsse facilidades econômicas, sociais, políticas e religiosas. Espcravarn obter benefícios em vez de fazerem sacrificios. Desejavam governar em vez
dc sererri submissos. Queriam ser senhores em vez de servos. Cultivavam o orgulho em lugar da humild,ide. Permitiam que prcc~ominasseo egoísmo em lugar do altruísmo. Tudo isto
dcmonstrava, com clareza, que comungavam com uma concepçáo errada do Reino de Deus.
Estc era o espírito que reinava entre os discípulos no momento em que acontecem os fatos
narrados pelo texto.
2. Este espírito detectado no contexto 6 claramente revelado na discussão desenvolvida ao longo da caminhada mencionada no texto (v. 34). A base da discussão não era altruista. Cada um deles queria ser o maior ou o primeiro entre o grupo.
3. Esta concepçáo e este espírito estavam fora do propósito do mistério da encarnação de Cristo, da vinda do Senhor ao mundo. Também não estava em harmonia com a essência do chamado que o Senhor Ihes fizera quando dissera "segue-me. .". Este espírito não se
.
Psgina 58
-
IGREJA LUTERANA
coaduna com o propósito do Reino, que era SERVIR. Por isso, o Mestre censura a aspiração
e a postura dos discípulos (v. 35).
4. A censura é procedente. Os discípulos mostraram desatenção ao que Ihes fora ensinado, inclusive há bem pouco. No v. 31 é claramente dito que "o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão. .". Claramente Jesus mostra que renunciaria a tudo,
inclusive A vida, para servir a humanidade. Já antes, em 8.31, o Mestre os prevenira de sua
morte. E em 8.34-38 esclarecera que os que pretendiam comungar com Ele e o seguir deveriam cstar aptos a negar-se e, se necess6ri0, morrer pela causa.
.
5. O contraste entre o Mestre (propósito correto) e os fracos discípulos (distorção do
propósito) é muito flagrante. Enquanto o Mestre discursava sobre a sua Paixão (v. 31), os discípulos disputavam sobre suas próprias vaidades, aspirações agoístas e org~ilho. Era, na realidade, um contraste entre a promoção da vida e a promoção da morte. U m antigo ditado diz
qiic " q ~ i c mnão vive para servir, nEto serve para viver." O Mestre veio para servir, eles queriam
ser scrvidos.
6. O orgulho os cegou de tal maneira que os impediu de chegarem ao entendimento
neccss5rio sobre o significado de todos os acontccirnentos que envolviam a prescnça do Mes:;icis no rriurido (v. 32).
7. "Tcrniam interrog6-10'' (v. 32). Esta informaçrio do texto confirma a situacão deles.
f3rov;ivclrricnte Liriliarn receio de pergurit:ir porquc tinharn mcdo que Jcsus confirmaria a inforrri,ic Iio tlc ~ L I Ccsidva c,iriiinhando crn tlircçrio 3. rnortc, conforme j A anunciara antes, especialrric.ritc cin 8.31. A conlirrnncAo rn~igo,iriae ticccpcron,~riao cgo dcles. Q~icriamcontinuar na
cc,pcranca de um rcino niajcstoso, corn todas as rct~aliasc benefícios tcrnporais da prcsença
do Mestre que curava, aliii?entava milagrosarnentc, :,iiperava advcrs6rios e dominava a própria
nntui ?/a.
8. "Tra/cntlo urna crianca. . ." (v. 36). A crianç,i era símbolo dos fracos, dos menos
.ilortun;idos, d~iquclcsqiic necessitam do amor clos outros. Rccebcr, amparar e servir urna
rrianc~]é sin6riirno de rcnúncia, de humildade, dc scrviço abnegado, de amor altruista. Por
que? Porque a crinricn nada tcrri para dar como retorno. Não pode retribuir coni honrarias, não
podc oferecer cargos, ricio tcrn poder dc iiifliiCncia para o que o doador seja recompensado.
Servir a uma criança significa, cntão, cstar apto para estar com Cristo e parlicipar do Reino de
Deus.
9. "A mim me recebe. . ." e "Ciquclc que me enviou" (v. 37). O relacionamento com
Jesus e com o Pai esta baseado no amor. É renúncia do ego. E humildade. Assim como o
scrviço As crianças 6 motivado pelo amor, também o serviço prestado a Jcsus é prova de
amor e do recebimento dele como SENHOR. Para recebê-lo como SENHOR, o ser humano
precisa declarar-se submisso. E somente é submisso aquele que tem uma dose muito forte de
humildade, de renúncia e de altruisnio. Aqui está a comparação com o receber a crianca.
Quem quer participar do seu Reino, deve estar qualificado para tal. A qualificação é ser humilde servo.
10. Isto somente 6 possível com a a ~ ã do
o Espírito Santo, que traz a n6s as conquistas
que o Mestre obteve através do seu humilde servir.
IGREJA LUTERANA
-
Página 59
11. Cristo, que "era o primeiro" (v. 35), fez-se o "último e servo de todos" (v. 35). Por
isso ele foi exaltado acima de tudo e de todps para que todos os joelhos se dobrassem diante
dele e o reconhecessem como Senhor dos céus e da terra (Fp 2.9-1 1). Este é o mistério do
Reino. Jesus foi exaltado da MORTE para a VIDA, porque foi um humilde servo obediente
que triunfou. É o exemplo para os seus seguidores.
JESUS PROPOE UMA AUTENTICA
VIDA CRISTA
I - Condenando a auto-promoção ambiciosa
I1 - Apontando a humildade e o serviço de amor
Martinho Sonntag
Décimo Nono Domingo ap6s Pentecostes
MC 9.38-50
Texto
1. É possível que os dois textos (9.38-41 e 9.42-50) tenham alguma relação muito íntima. Tudo indica que o homem que expulsava os dcniônios (o exorcista) tenha tropeçado e
caido devido à proibição dos apbstolos e, por isso, eles (os ap6stolos) merecessem a séria
advertência que est5 registrada a partir do v. 42.
2. O texto não nos aulorira a afirmar que o homem estivesse operando em erro doutrinhrio. A açáo de expelir demônios não fere necessariamente a orientação de Cristo, pois no
Evangelho de Marcos é dito que "dcsignou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar, C a exercer a autoridade de cxpelir demônios" (Mc 3.1 4-15). Além disso, é dito claramente
que o homem o fazia "em teu nome" (v. 38), isto 6, no nome do Senhor Jesus Cristo.
3. Jesus censura os discípulos, dizendo: "Náo lho proibais" (v. 39). E acrescenta:
"Porque ninguém há que faça milagre cm meu nome e logo a seguir possa falar mal de mim.
Pois qucm não 6 contra nbs, é por n6s" (v. 39-40). Aqui Jesus esta ensinando que "a amizade
c a hostilidade são incongruentes, não podendo existir juntas, pelo que quem é um franco amigo seu, dificilmente poderá ser um inimigo secreto" (Russel N. Champlin, em O Novo Testarncnto Interpretado). Em outras palavras, os que fazem o trabalho de Jesus, em nome Dele,
pertencem a Ele. Os discipulos provavelmente suspeitavam que o homem fazia tudo isto por
fingimento. Como, porém, podiam julgar o caso? Deus não permite um julgamento temerário.
4. Cristo vai adiante no v. 41, afirmando que haverá um galardão para os que fizerem
pequenas coisas em seu nome. Por que, então, proibir a ação que merece galardáo?
5. Este episódio serve de alerta para que grupos de cristãos evitem o espírito de superioridade e de' exclusividade. Grupos de cristãos devem cuidar para náo erigir muralhas de
preconceitos em volta de si mesmos, cegando-se de tal forma que não sejam mais capazes de
reconhecer os irmãos, talvez ainda fracos, que estão na fé verdadeira e pertencem, por isso,
ao corpo de Cristo. Nossos irmãos não são apenas aqueles que têm as mesmas tradições.
Página 60 - IGREJA LUTERANA
Os "gentios", recém-convertidos à fé verdadeira e fracos ainda, também eram autênticos irmãos dos discipulos.
6. A primeira parte do texto (9.38-41) refere-se à atitude do discípulo para com seu pr6ximo. Aponta a tolerância e a bondade como boas virtudes a serem cultivadas. A segunda
parte (9.42-50) mostra a necessidade da disciplina pessoal e da severidade que cada discípulo
deve ter consigo mesmo. Com os outros, tolerância; mas conosco, severidade. Os discípulos, devido A fraqueza, inverteram as posições. Foram admoestados.
7. É melhor perder a vida fisica do que levar o outro ao pecado e à descrença. É melhor sofrer algum prejuizo físico, simbolizado no texto pelo corte da mão e do pé, e se auto-mutilar, do que ser jogado no inferno. Mesmo que os membros do corpo mencionados sejam
muito importantes, mas é mais importante a salvação eterna do próximo e a nossa própria.
E importante ter, neste caso, uma clara escala de valores.
8. Jesus trata a questão com muita seriedade. A própria figura da "pedra de moinho"
(v. 42) o demonstra. Estas pedras eram tão grandes que era necessário um jumento para viráIas. Uma pedra deste tamanho e peso garantia a submersão e o afogamento. Era preferível
afogar de fato, do que afogar alguém no inferno. 'Deveria haver muita consideração para com
os "pequeninos", provavelmente "pequeninos na f6", os recém-convertidos ou fracos na fé.
9. Estas advertências sérias demonstram o amor característico de Jesus, que o levou
atb A morte de cruz para obter nossa salvação. Cristo morreu (não arrancou apenas um braço
ou um olho) para garantir nossa salvação. O objetivo das advertências: Jesus não quer a perdição de ninguém (No texto: do homem e dos discíp~ilos).
Disposição:
JESUS QUER A SALVAÇÁO DE TODOS
Por isso,
I - Quer tolerância em lugar de tropeços
I1 - Exige auto-disciplina.
Martinho Sonntag
Vigésimo Domingo ap6s Pentecostes
MC 10.12-16
Texto
1. Os Evangelhos registram um conflito permanente entre os fariseus e o Senhor Jesus
Cristo. Na verdade era um conflito entre a religião mascarada dos líderes religiosos da época e
a verdadeira religião.
2. A questão do divórcio foi usada para "o experimentarem" (v. 2). A intenção dos fariseus não era de ouvir um ensinamento, mas de achar um defeito ou uma contradição em Jesus. A intencão deles era altamente malévola.
IGREJA LUTERANA - Psgina 61
3. N6s aproveitaremos este conflito para aprendermos valiosos ensinamentos do Senhor a respeito do matrimônio e sobre a questão polêmica do divórcio. Analisaremos o que
está registrado nos versículos 2 até 12.
4. Jesus não estava comparando a lei de Moisés com sua própria doutrina, mas a lei de
Moisés com a falsa interpretação dos fariseus e escribas. A intencão de Jesus era corrigir a
perversão da lei mosaica, estabelecida pelos fariseus.
5. O que Moisés realmente ensinara? No texto de Dt 24.1-4 há uma exposição clara. E
interessante observar que o adultério não é mencionado. Por que? Por que o adultério era
disciplinado de outra forrna, ou seja, era punido com a pena de morte (apedrejamento). O matrimõnio chegava ao fim, neste caso, com a pena de morte. Moisés, no entanto, tentou controlar uma situacão caótica que se enraizou entre o povo judeu. A mulher não era reconhecida no
mcsmo nívcl dos homcns. Os homens se achavam no direito de desprezar (divorciar-se) a
rnullicr por qualqucr razão, hs vezes insignificante. Injustiças eram praticadas contra a mulher. Muitas delas, c isto era comum, eram jogadas na miséria, no desprezo e no sofrimento. A
Icgislaç5o rnosnica prctcndia pôr tim fim a estas injustiças.
Alguns dcstnqiics desta Icgislaçáo:
a) A scpnraçáo (divórcio) cra lolcrada sorncvtc em caços restritos: "e se ela não for
aqr,idfivcl aos sc>iis olhos, por ter clc achado coiisa indcccntc nela" (Dt 24.1). O divórcio,
portciiito, crn Iirriitndo pelas causas rncncioflaclns. I<cpcliniosquc o ndult6rio não estava aí incluíc-loporque tinha Icqisla<;áocspccíí~ca.
IJ) Havia iirn proccsso de scparac'50, isto 6, devia ser lavrado urn tcrrno dc divórcio
(1)t 24.3). Isto era iriiporlantc p,ira protctjcr a rniilticr dc falsas acusncócs e de r-nA reputacáo.
Cvitava qiic nlqu6ni a nl>rdrcjassc, irri.igiiiaiido :id~illbrio. Na carta devia constar a causa do
rcl'údio. A cntrccja tln carta a c ~ n t c c iriuni
~ i rnoni(,rito solcric, com a presenca de testemunhas.
Prcscrv;iva-se, drstn fornin, a ;c.ricdadc do rri,itririiõnio.
c) Os divorcicidos n5o ~)odcrinrnrclorn,ir c contrair segundo casamento, entre as rnpsrnas duas pcssoas quc sc srpnrarnni (Dt 34.3-1). A niulticr repudiada tinha direito a um novo
casarncnto, com outro horiicrn. A lei protegia, assim, a inoccnte. O propósito era conscientizai
o povo dc c]ue O ri-mtriinónio nno 6 iinia avcntura. A carta de divórcio era permanente.
6. Qual era o ensinamcnto dos fariscus e escr;bas? O texto paralelo de Mt 19.3-12 revela a falsa interpretação dos fariseus. Dizcni: "Por que mandou então Moisés dar carta de
divórcio e repudiar?" (v. 7). Davam a entender, com esta expressão, que Moisés ordenava ou
recomendava que o homem mandasse a mulher embora. Moisés nunca mandou, conforme insinuaram. Pelo contrário, a expressão dc Moisés é muito clara: "se ele lhe lavrar um termo de
divórcio. . ." "Dt 24.1). Moisés apenas põe ordem numa situação caótica. A separação já
acontecia, porém, de forma injusta. Os fariseus estavam fugindo do espírito da lei mosaica. A
carta de div6rcio não era o centro do problema, como os fariseus davam a entender. Eles
eram formalistas, mas náo muito morais. O verdadeiro assunto era o significado do matrimônio
e a justiça, e não a carta de divórcio.
7. O que Jesus ensinou? Os fariseus tentaram apanhar Jesus numa armadilha. NO
texto paralelo de Mt 19.3-9 a armadilha aparece com mais clareza: "É lícito ao marido. . . por
PAgina 62 - IGREJA LUTERANA
qualquer motivo?" (Mt 19.3). Na realidade, eles concordavam com o "qualquer motivo".
a) Jesus começa a sua exposição, retornando A criação. Deus criara homem e mulher
para que vivessem juntos. O s filhos deveriam deixar pai e mãe para se unirem e se tornarem
uma só carne, Nada deveria ser obstáculo para que ambos se unissem totalmente. "Deixar
pai e mãe" é uma condição para formar uma nova célula social. 0 s dois "serão uma s6 carne"
(Mc 10.8). Uma s6 carne, indivisível, inseparavel.
b) E com o "o que Deus ajuntou não o separe o homem"
(V.
9), Cristo estabelece a vita-
liciedade do matrimónio. Apenas a morte pode separar o casal, de acordo com a vontade de
Deus.
c) Mas, se 6 assim, como explicar a "carta de divórcio"7 Simples. "Por causa da dureza do vosso coração" (v. 5). Deus fizera, por assim dizer, uina concessão para evitar um
mal maior, as injustiças praticadas contra as mulheres, principalmente. No meio do desrespeito 3 ordem natural, estabelecida desde a criação, e à agressão ao santo estado matrimonial,
Deus salva, ao menos, a mulher desta crueldade provocada pela "dureza do coração". Deus
náo mudou sua lei original referente ao casamento. Introduziu uma legislacão temporária para
atender As condições do momento para evitar o caos social. Era um controle da vida civil.
Deus não estava advogando a causa do divórcio. Dcus estava pondo ordem num caos criado
pelo homem depravado c eqoísta. Dcus mantbm o objetivo e a intencão primaria O casamento E uma união de um homem c uma mulher, quc constituem "uma sb carne". Afirma a indi~solubilidadecom o "não o scparc o tiornem".
O que Jesus quer, em todo o coritcxto dos Evangelhos, 6 que se abandone a idéia Icgalista. 0 s cristãos, alérn dc obst?rvarcrrios preceitos acerca do matrimónio, vivem o perdão. O
tiorncrn c a niull-ier s5o imperfeitos, prcadores. Assirn como deve reinar a conipreensáo, o
airior c o perdão em todos os tipos de relaciorinriicnto tiumnno, também, e principalnicnte, no
rnatriin6nio deve imperar a d i ~ p o s ~ c ãeoO espírito cvnngélico. 0 s erros devem ser perdoados
c um deve amparar c ajudar ao outro para que possam viver juntos e scrern felizes até que a
morte os separe.
Ncstc ponto ainda 6 iniportante mencionar que o Senhor admite umd razão para o divbrcio. Onde Iiouvc adultbrio c a situação se tornou insuportável e irrcversível, a parte inocente
(existe alguém totalmente inoccntc quando isto ocorre7) 6 protegida com a possibilidade de separação. No texto de Mateus 6 dito que: "não sendo por causa de relações sexuais ilícitas"
(Mt 19.9). De qualquer forma, s scparaçáo, mesmo neste caso, b causada por pecado. A separacão não é da vontade de Deus. Dcus apenas ampaia a parte inocente. Se houver drvórcio por outro rnotivo qualquer, cria-se condições pata um adultério, "e casar com outra, comete
adultério, e o que casar com a repudiada comete adultério" (Mt 19.9).
Deus instituiu o matrimónio e quer preservá-lo. A fórmula é simples: Cumprir, por amor,
as diretrizes estabelecidas por Deus em sua Palavra.
Disposiçáo:
Observação:
Sugere-se que neste domingo, eventualmente, o sermão tradicional seja substituido por um estudo bíblico, com debate, sobre o assunto desta perícope, seguindo o roteiro acima.
Martinho Sonntag
IGREJA LUTERANA
-
PAgina 63
Vigbssimo Primeiro Domingo após Pentecostes
MC 10.17-27
Texto
1. O texto pode ser dividido em dois parágrafos (17-22 e 23-27). A inclusão do segundo parágrafo (23-27) lembra que mais importante que o jovem rico é o perigo das riquezas. A
perícope termina no versículo 27, que forma um cllmax ou ponto alto.
2. Há dois problemas de crltica textual: a) No versículo 24, a grande maioria dos manuscritos traz o texto que Almeida Revista e Atualizada coloca entre colchetes ("para os que
confiam nas riquezas"). Os melhores manuscritos (Sinaiticus e Vaticanus) não trazem este
texto. O sentido é afetado, da seguinte forma: é diflcil entrar no reino de Deus em qualquer circunstãncia ou quando se confia nas riquezas? Tudo indica que a frase "para os que confiam
nas riquezas" foi introduzida por copistas para harmonizar o texto com o versículo 23. b) No
versículo 25, alguns poucos manuscritos trazem karnilon ("cabo de navio") em lugar de kamelon ("camelo"), numa vislvel tentativa de "melhorar" o provérbio citado.
3. O texto inicia com uma pergunta: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna"? Ao final (v. 26) vem a segunda pergunta importante, feita pelos discipulos: "Então, quem
pode ser salvo"? Importa fazer a pergunta certa, pois dela depende a resposta que se terá.
(Notar o contraste entre voz ativa - que farei - e voz passiva - ser salvo!)
4. Na enumeração dos mandamentos, no versrculo 19, Jesus apresenta a segunda tabua (amor ao próximo). Depois, naquilo que poderiamos chamar de "operação pente fino"
(v. 21), Jesus confronta o homem com o primeiro mandamento, no qual se inclui o seguir a Jesus, o Filho de Deus.
5. O "desde a minha juventude" (v. 20) talvez se refira a idade dos doze anos, ocasião
em que O rapaz israelita tomava sobre os ombros o jugo da Torá, na oportunidade em que se
tornava um barrnitzvah. ("filho do mandamento").
6. A afirmação do versículo 21, "mas Jesus, fitando-o, o amou" é exclusiva de Marcos
(cf. Jo 115 ) . Aqui temos uma ênfase evangélica.
. ."
7. A ordem de Jesus, "vai, vende tudo o que tens . (v. 21) não é prescrição para
todos, tampouco fundamenta o voto de pobreza do sistema monástico. Foi uma palavra concreta dirigida a uma situaçáo específica, a uma pessoa em particular. A ênfase, B claro, está
no "segue-me".
8. O verslculo 23 introduz um conceito sinônimo de "herdar a vida eterna" (v. 17):
"entrar no reino de Deus". Também o "ser salvo" da pergunta dos discípulos (v. 26) é sinônimo.
9. Qual é o problema da riqueza? Que perigo traz consigo? Em Mc 4.19 é mostrado
que ela obstaculiza a recepção da palavra de Deus. O perigo maior está no fato de facilmente
tornar-se um (dolo (cf. S I 62.10; 1 Tm 6.17).
lha"
10. O dito do versiculo 25 - "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agudesigna algo imposslvel. O camelo era o maior animal conhecido na terra de Israel.
-
11. O "para os homens é impossível" do versículo 27 deixa claro que isto vale para riPágina 64 - IGREJA LUTERANA
cos e pobres. Ao contrario do que muitos pensam, Jesus não condenou a riqueza como tal,
tampouco apresentou a probreza como meritória. Para Ele, no centro de tudo estava o reino de
Deus e nada podia tomar seu lugar.
12. No "para Deus tudo é possivel" (cf. Gn 18.14; Jo 42.2) está incluída toda a obra redentora.
13. Nossa perícope se encaixa bem no contexto (Mc 10.13-16), onde o ingresso no reino de Deus 6 definido como dom de Deus para aqueles que são totalmente indignos de nele
entrar.
14. A leitura do Antigo Testamento, Amós 5.6-7, 10-15, traz iirn novo aspecto: a riqueza
pode não apenas fechar o homem parq Deus mas tamb6rn levá-lo a rejeitar o prbxirno (injustiça, exploração).
Disposição:
1. A leitura do Antigo Testamento sugere P o período do ano eclesi5stico favorece o
aprofundamento do lema "o perigo das riquezas". Clni,~c,~icj?stioé aproveitar as duas perguntas do texto (confira o ponto 3, acima).
2. Qualquer que seja o tema, o ponto alto dri rncnsagcrn deve ser o evangelho. presente no texto em, pelo menos, dois pontos versic~ilo213 e ver~,ículo27b.
Vilson Scholz
Vigésimo Segun$o Domingo após Pentecostes
MC 10.35-45
Texto
1. A história narrada nessa pcrlcope imprcr,~,iorin pclo contexto em que está inserida.
Jesus tinha anunciado seu supremo serviço, sua moric c r c s s u r r c i ~ ~(1
i o0.32-34), e, loqo após
o incidente do texto, exemplifica o que é servir, cur:trido o cego Bnrtirneu (10.46-52). Neste
contexto os filhos de Zebedeu quercm tornar-se grandcç.
2. O texto tem paralelo em Mateus 20.20-28 c culniina com o fnrnoso "dito do Resgate"
(Mc 10.45).
3. O versículo 35 ("Mestre, queremos que nos conccdaç o que tc varnos pedir") respil
ra um ar de entusiasmo, confirmado pela l o c u ~ ã o"na tua g16ria" do versículo 37: a cruz era
uma possibilidade com que não se contava.
4. A resposta de Jesus, no verslculo 38, deixa claro que pariicipar da glória implica em
participar do sofrimento.
5. O cálice (cf. Mc 14.36) era, no Antigo Testamento, uma maneira figurada de falar do
julzo de Deus sobre o pecado e a rebelião do homem.
6. "Ser batizado" era uma forma figurada de referir-se ao ser submergido por uma calamidade ou um perigo. Rm 6.3 indica que batismo e morte estão intimamente ligados.
IGGSJA LUTERANA - PAçina 65
7. As palavras de Jesus, no versiculo 39, se cumpriram, para Tiago, em At 12.2 e,
para João, em Ap 1.9.
8. A indignação dos dez contra Tiago e João (versículo 41) revela que todos os discipiilos estavam preocupados com a sua situação pessoal.
9. A frase "têm-nos sob seu domínio" traduz katakyrieuousin auton (v. 42). O verbo
katakyrieuo, dominar sobre, ocorre s6 aqui em Marcos. A preposição kata dá o sentido de
usar o domínio sobre as pessoas para a desvantagem destas e para proveito de quem assim
domina. Entre os discípulos não há lugar para um tal katakyrieuein (cf. 1 Pe 5.3).
10. Nos versículos 43 e 44 temos um paralelismo sinônimo, ou seja, o segundo repete o
sentido do primeiro.
11. Exemplos desse "ser servo de todos" (v. 44) temos em 1 C o 9.1 9 e 2 Co 4.5.
12. O versículo 45 vem carregado de conteúdo. Cada parte 6 importante. O "pois" indica qiic o próprio Filho do Homem não está isento da regra exposta nos versículos 43 e 44. O
vcrbo "vcio" aponta para a cncarnaçáo. O "scrvir" resume o ministério de Jesus e aparece
conio paradoxo, pois trata-se do glorioso Filho de Homcm (cf. D n 7.1 3-1 4). "Resgate" (lytron)
6 urri conccito tBo importante que nicrccc uma cuidadosa pesquisa no dicionário de teologia.
"Muitos" L. uniri forma tiebraicalaramaica de referir-sc a todos, como o texto de Isaías 53 tamb6rn dcixn claro.
13. O dito do resgate (Mc 10.45) aparece corn palavras idênticas c m Mt 20.28. O contoíido 6 rcprodu/ido (coriio qiie nutria vcrs5o grcqa) crn 1 Trn 2.6. Tambcrn vale 3 pena conferir Jo 13.1 ss c .Jo 10.1 5. Isalris 53.10-12 6 rcsiirnido neste "dito do resgate".
14. JoZo c~iitcndciia lição, pois rn'jis tnrdc cscreve: "Nisto conhecemos o amor, em
cluc Cristo d c ~ai sua vida por n6s, c dcvcmos dar nossa vida pelos irmãos" (1 Jo 3.1G).
No hnnl do pcríodo npds Pentecostes, oferece-se, para reflexão, o tema do servlço.
O fundnrncnto dc tudo serd o servrço de Crrsto. O grande perrgo, a ser denuncrado, combatrdo,
pcrcIo,ido, vcncrdo, c? exercer domínio sob o pretexto de servir. A ~grelanunca esteve 11vre
dcstc pcrrgo c ainda hoje precrsa evlld-10.
Vilson Scholz
Vigksirno Terceiro Domingo após Pentecostes
MC 10.46-52
Texto
1. Jericó, cidade das palmeiras, foi palco de poderosos feitos de Deus: Josué 6 e
Marcos 10.46-52.
2. Poucas pessoas curadas por Jesus são-nos conhecidas de nome. Deste cego sabemos que era Bartimeu, filho de Timeu.
Página66 - IGREJA LUTERANA
3. Mesmo cego, Bartimeu tinha muita percepção espiritual. Aquela não era a primeira
festa
i
em Jerusalém. Inforcaravana ("numerosa multidão", v. 46) que passava por ali, rumo $
mado de que no centro desta caravana viajava Jesus, o Nazareno, Bartimeu não tem dúvidas:
6 o Filho de Davi!
4. Filho de Davi é um tltulo messiânico, cristol6gico (confira 2 Sm 7; Lc 1.32; At 2.3;
Rm 1.3). No evangelho segundo Marcos, esta é a única ocorrência do tftulo. Nem mesmo no
relato da entrada triunfal, em Marcos, o títulos aparece.
5. "Tem compaixão de mim!" (v. 47,48) Kyrie, eleison! Sáo as melhores palavras que
podemos ter ao nos aproximarmos de Deus.
6. "Ele te chama" (v. 49). A caminho de Jerusalém, não muito longe de seu serviço supremo, Jesus tem tempo para servir, tem tempo para um cego.
7. "A tua fé te salvou" (v. 52). A mesma expressão ocorre em Mt 9.22; Lc 7.50; 17.1 9.
A conexão fé-salvação aparece também em At 16.31 e Rm 10.9. Ter fé 6 estar aberto para
as possibilidades que Deus oferece. S6 o homem de fé pode clamar; "Tem compaixão de
mim!"
8. "Tornou a ver" (v. 52). A cura é um sinal, uma espécie de rnarca que confirma que
Jcsus é o Filho de Davi. Assim, As portas de Jcriisalhrri, Jcsiis é aclamado e confirma ser o
Filho de Davi. O "segredo messiânico" (bastante acentuado no relato de Marcos) é desvendado, isto é, Jesus não ordena ao cego qiic pare de chamA-lo Filho de Davi, para que todos saibam que Jesus vai a Jcrusdlbrn morrer como Mcssins.
9. Bartimeu "seguia a Jesus estrada fora". Scrn dúvida estava entre aqueles que logo
ap6s (Mc 11) clamavam: "Hosanai Bendito o que vcrn cm norne do Scnhorl" (Esta relação
torna o texto significativo para o nosso culto: comcçanios com o Kyne, elerson e, depois de
tcrmos sido ajudados pela palavra, clamamos Hosan;il c Bcndito aquele qiie vem em nome do
Senhor')
1 Pensando no aproveitamento homilbtico do texto, é bom levar em conta a leitura do
Antigo Testamento para esse domingo: Jeremias 31.7-9. É um texto com uma perspectiva escatológica e com dois pontos de contato evidentes com o texto de Marcos: a) o pedido "Salva,
Senhor, o teu povo. . ." (31.7); b) a promessa "os congregarei das extremidades da terra; e
entre eles tamb6m os cegos. . (31.8)
."
2. O texto é, sem dúvida, querigmatico, apropriado para a pregação. Nele aparece a
miséria do homem, a presença de Cristo, o pedido de socorro, a fé, a salvacão, o seguir de Jesus.
Vilson Scholz
IGREJA LUTERANA
-
Página 67
Antepenúltimo Domingo do Ano Eclesiástico
MC 13.1-13
Texto
1. A Última semana do ministério público de Jesus, de modo especial, os Últimos dias
antss de sua morte e ressurreição, foram de muita atividade e trabalho. 0 s discípulos, que o
acompanhavam, ainda não conseguiam entender perfeitamente alguns assuntos. Por isso, dii
rigitm muitas perguntas ao Mestre, desejando esclarecer dúvidas que os deixavam confusos.
E a todo o momento também eram surpreendidos com certas palavras, afirmações e previsões
dc parte de Jesus.
2. É esse, em síntese, o quadro, o "pano de fundo", do evangelho desse domingo. Jesus surpreende, fazendo uma o b s e ~ a ç á oa uma pergunta aparentemente sem maiores pretensões, feita por um dos discípulos. Imaginemos Jesus saindo com o grupo do templo em diresio ao Monte das Oliveiras. Um deles, olhando para o majestoso monumento, exclama algo
reaztiiivo, sem dúvida, já manifestado por muita gente, em um sem número de ocasiões:
"FAsstre! Que pedras, que construçóes!" (v. 1). O óbvio. Todos admiravam a grandiosidade
do trmplo de Jerusalém, construido sobre enormes blocos de m8rmore e revestido com muito
ouro. E Jesus, surpreende, afirmando que, daquelas construções não ficaria pedra sobre pedra. (v. 2)
3. Assustados, os discípulos acompanharam o Mestre em silêncio. Não conseguiam
enlrnder, muito menos aceitar, que tal ocorresse. Eram ainda, por vezes, muito "judeus" e esperavam o reino messiânico terreno. Sendo assim, era incompatível para eles a grandiosidade
do reino esperado e a destruição do seu maior monumento, o templo.
4. Ao chegarem ao Monte das Oiiveiras, que ficava defronte ao templo, Jesus assentase e, em particular, chegam os pares de irmãos, Pedro-André, Tiago-João e desabafam:
"G~andosucederão estas coisas?" (v. 4). E Jesus, surpreende de novo, respondendo sobre
duzs dimensóes futuras ao mesmo tempo: a destruição de Jerusalém - uma dimensão próxi,za (Ano 70) e o fim do mundo conhecido - uma dimensão mais adiante, podendo ser a primeira considerada como início e ilustração da segunda.
5, ~ e b u e então,
,
hriarcos, registrando os fatos importantes para os quais Jesus aponta,
rsizcionando os "sinais" que anteceder20 os acontecimentos previstos (v. 6-13). Ressalte-se
o izto de que o sofrimento atingira também e, especialmente, os seguidores de Jesus, diretanlnte: serão entregues aos tribunais, ser20 açoitados, perseguidos, odiados e mortos. Porém
cuando estiverem diante cios tribunais, nSo precisarão temer por aquilo que deverão falar:
"porque não sois vós cue falais, mas o Espírito Santo". (v 11). Que milagre, que coisa maraviI5rsa. E mais: ao mesmo trmpo em que Jesus anuncia todos esses assustadores e sofridos
"sinais", ele também aponta para outro fato auspicioso e maravilhoso: "É necessário que prinsi:o o evangelho seja pregado a todas as nações" (v. 10). E Marcos registra, no final do
evangelho, o grande presente, o grande galardão, o grande estimulo e consolo anunciado por
Jrsus: "aquele, porém, que perseverar ai6 o íim, esse será salvo" (v. 13). G16ria ao Senhor!
6. Neste conhecido, mas sempre atual e relevante texto, entre diversas possibilidades
cs temas para besenvolver a mensagem, uma poderá ser esta:
Fizina 68 - IGREJA LUTESANA
Disposiçãor
AS SALVADORAS "SURPRESAS" DE JESUS:
I
- N o s dando a vida, com sua morie na cruz.
I1 - Nos mantendo a vida, com sua assitência constante.
111
-
Nos buscando para a vida eterna, com sua volta no ÚItimo dia.
Norberto
E. Heine
Penúltimo Domingo do Ano Eclesiástico
MC 13.24-31
Texto
A pujante estrutura arquitetônica do templo de Jerusalém, deu a Jesus o ensejo de profetizar a sua destruição e, ao mesmo tempo, expor a doutrina escatológica (Mc 13.1,2). Haverá.
um fim. Os céus e a terra (Gn 1.1) não são etcrrioç. Sol, lua, estrelas e todos os poderes
dos céus serão abalados (v. 24,25). Haverá uma irnplosáo cósmica (1s 34.4; JI 2.30,31;
2 Pe 3.10).
O protagonista desta dcrrocada final é o Filtio do tiornern (v. 26), título rnessirinico de Jesus. Ele virá. nas nuvens (Dn 7.13). Vislvel a todos o;: povos, tribos e nacócs. Toda a hurnanidade, de todos os tempos, desde Adáo e Eva, torii:irá p x t e c vcrA com seus próprios olhos
"o Filho do Homcm vir nas nuvens, com grande poder c glória" (v. ?L;). Ser5 a grande apoteose do Filho do Homem como Messias (Fp 2.10,11, Is 4s.23).
Por ocasião da ascensão, os disclpulos rcc bcr,ini a ordem da Grande Cornissáo (Mt
28.19,20). Durante séculos o "lde" impulsionou a iclrc5j,icristá a levar o evnnc~clt-ioa todos os
povos, tribos c naçóes (Mc 13.10). Com o retorno tlo rilho do Hornern cnccrra o mandado da
igreja, e termina assim o tcmpo da graça concedido por Dvus aos homens para que creiarri no
evangelho. Tem inicio, então, a grande colheita firicil (v. 27). Cabe aos anjos (Hb 1.14) retinir
"os seus escolhidos dos quatro ventos" (v. 27). Ulna comprov~cáoque a palavra de Deus,
pregada e testemunhada pela igreja cristã, a todos os povos, tribos c nncócs, nSo voltar5 vazia
(1s 55.1 1). Por outro, será uma colheita total. Ningu6rn será esquecido, por mais longínquo que
sc encontre, por mais pobre, humilde, desprezado que for, por rn~iisadversas circunstâncias
de matlrio e perseguição, "todo aquele que invocar o nornc do SENHOR será salvo" (JI 2.32,
At 2.21), fará parte dos escolhidos.
Para melhor esclarecer a doutrina escatológica, Jcstis, como de costume, usa de uma
ilustração. A figueira, Arvore tlpica e tradicional da região, é o exemplo (v. 28). A parábola tem
por objetivo levar os cristãos a ler o tempo. Assim como 2 figueira revela a aproximação do verão, pelo renovar dos ramos e brotar das novas folhas, a igreja cristá deve ver nos sinais escatológicos revelados por Jesus (Mc 13.5-23), a proximidade da sua parousia.
O estar "as portas" (v. 29) é consolo, incentivo, coragem par2 enfrentar, suportar e vencer os sinais escatológicos profetizados (Mc 13.5-23). A perspectiva é terrificante. 0 inimigo
maligno far6. todo o possível para enganar os prbprios eleitos (Rdc 13.22). Com o estar "As
IGREJA LUTERANA - PAgina69
portas", o Filho do Homem quer infundir perseverança à igreja cristã, e cada cristáo individualmente. Se um grupo de soldados se encontra encurralado e assediado pelo inimigo, mas repentinamente vê aproximar-se o auxílio solicitado, jamais ira desfraldar a bandeira branca da
rendição; antes com redobrada coragem resistir heroicamente as últimas investidas inimigas.
Assim também a igreja cristã, uma vez sabendo que o Filho do Homem está "às portas"
enfrenta, suporta, as tribulações escatológicas, firmado na fé e no testemunho (At 14.22 e
Mt 10.22).
As palavras de Jesus "não passará esta geração sem que tudo isto aconteça" (v. 30),
tem levado A falsas conclusões. Uma vez que a destruição de Jerusalém, é o ponto de comparação com os poderes dos céus que serão abalados (v. 24,25), temos de separar no texto as
profecias. Ou seja, fazer a correta distinção entre a destruição de Jerusalém e o que diz respeito aos sinais que precederão A segunda vinda do Filho do Homem. Aqui em Mc 13.30, sabemos pelo contexto histbrico, que Jesus se referia à destruição de Jerusalém, que efetivamente ocorreu no ano 70 d.C. Muitos dos que ouviram esta profecia escatolbgica de Jesus,
participaram desta terrlvel catástrofe que sobreveio à Jerusalém. A destruiçáo de Jerusalém, o
fato de não ficar pedra sobre pedra (Mc 13.2) foi assim um aviso prévio da extinção dos "céus
e a terra" (Gn 1.1), um chamado geral ao arrependimento (Mc 1.15).
Evidente que esta visáo escatolbgica trouxc dúvidas t m muitos corações. Primeiramente para eles, Jerusalém era inexpuqnAvel (Mc 13.1 . Depois, os poderes dos céus serem
abalados, o sol escurecer, a lua não dar a sua claridade, era-lhes por demais fantástico (v. 24,25). Os homens, infelizmente, sempre qiiestionani a onipotência de Deus. Na época
de No6, também todos duvidavam da vinda do dilúvio. Mas o dilúvio aconteceu. Assim também as profecias certamente esta0 "As portas". Aquilo que os homens consideram eterno, duradouro, indestrutível, "cúus e terra" (Gn 1.1), sirnbolos de perenidade, na verdade serão abalados (v. 25, 2 Pe 3.10) em curnprirncnto A palavra do Filho do Homem. Os céus e a terra não
são cl'rnos, ctcriias são unicamente "as rnintids palavras" (v. 31). Por isto os cristáos são
táo convictos na sua 16, na sua cçpcranCa, no mar de Deus que em Cristo os fez eleitos e
cscolhidos (Mc 13.22 e 27).
Disposição:
A SEGUNDA VINDA D E JESUS:
UMA MANIFESTAÇAO DO SEU PODER E GLÓRIA
I
-
pelos sinais que irão preceder sua 'parousia"
-
sua segunda vinda
I1 - pela ordem dada aos anjos de reunir os seus escolhidos.
Walter O. Steyer
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-
IGREJA LUTERANA
Último Domingo da Igreja
JO 18.33-37
Texto
1. O Evangelista e o Rei - Joáo foi o último evangelista a escrever, e o faz em forma
de argumentação, desde o inicio. Deixa claro, na conclusáo, que o fim Último de seus escritos
ou registros 6 "que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome" (20.31). Do prblogo ao epílogo procura expor, de modo a convencer o leitor, que Jesus foi Criador e Rei do cosmo, coeterno com o Pai, e que veio como testemunha da
luz e da verdade (1.7). A estratégia divina para atingir este alvo foi encarnar seu Filho para morar com os homens e mostrar-lhes sua verdade e glória reais. 0 "vimos a sua glória" (1.14)
permaneceu ofuscado aos olhos dos discípulos e completamente invisível aos demais, como
Pilatos. O povo judeu, que ansiava pelo "Rei de Israel" (12.13), de acordo com a profecia de
Zacarias (Zc 9.9) e que esperava pelo restaurador do reino de' Israel (At 1.6), necessitava
de provas de que Jesus era o Messias e Rei prometido. Conhccedor dos percalços dos contemporãncos para esse entendimento, Joáo, algumas décadas mais tarde, expõe também o
presente trecho em forma de argumentação ou de inquhrito.
com o Governador - O relato da audiência dada a Jesus por Pilatos
2. A Aud~í.nc~ci
tem facetas que os outros evangelistas náo apresentam. O trecho deve ser complementado
por Lc 33.2, onde os inimigos "de dentro da trincheira", os líderes judeus, arrolarri as três acusações contra Jesus. perverte a naç'5o (agitador), veda pagar tributo a César (sonegador),
;ilirma ser ele o Cristo, Rei (usurp,idor). Esta aigurncntnq;io explica o que não está presente
em J o ~ o . A forma pela qual Pilatos foi informado c a causa do inqubrito. As acusações são
fortes e levariam qualquer governante a investigar a suspeita de crime triplo. Em julgamento
doméstico, no Sinédrio, 13 haviam tcntado inutilmente liquidar J ~ s u s3 base de duas outras
acusaçócs. com falso tcstcmunho e prática de blaslt~mia.
Jesus reconhccc o poder secular de Pilalos, t,into para inquiri-lo, como para investigar a
proccdencia das acusaçócs. Parecia acreditar mais na justiça secular do que na da igreja instituída c prostituída de seus dias. Jesus faz diante de Pilatos "a boa confissão" (1 Tm 6.12), e
Paulo se refere a este inqubrito quando lembra a revelaçjo do "bendito e Único Soberano, o Rei
dos reis e Senhor dos senhores", que possui "honra e poder eternos".
3. Denotação: Os Reinos deste Mundo - A hipótese levantada por Pilatos, de que Jesus pretendia ser um rei secular, evidencia também as caracteristicas de um reino secular,
então c hoje: o medo da concorrência, o uso da prepotência para abafar idéias discordantes, a
corrupçáo, o uso da prepotência para abafar idéias discordanles, a corrupçáo rnoral e economica, a presença de ministros que lutam (agoonidzo) por seu governante e chefe, a tendência
de libertação do jugo estrangeiro, tempos e bpocas de mandatos, projetos, planejamento, aparente lealdade movida por interesses e comodidade individual, perigo de traição, pois sua pr6pria gente o entrega ao juiz. Confira-se a pedido de um rei feita pelo povo de Israel a Samuel
no AT, porque os modelos que possuíam eram avarentos (especuladores), aceitavam subornos e pervertiam o direito (corruptos), e queria-se um "como o têm todas as nações" (1 Sm 8)
Samuel, contrariado, atendeu ao povo, mas anunciou o colapso da monarquia, que se concretizou com a morte dg Salomáo.
IGREJA LUTERANA - Pdgina 71
A leitura do At, da presente perícope, Dn 7.13,14, apresenta a provável origem da esperança messiánica centrada no "Filho do homem", a promessa de um descendente do rei Davi,
com conotaçóes de libertação política. Este conceito estava muito em voga no período intertestamentário e nos dias de Cristo.
4. Conotaçáo: O Reino do Poder, da Graça e Gldria de Cristo - Depois de atestar
ciiante de Pilatos que seu reino não era deste mundo, Jesus passa a expor como A o reino do
qual é Rei. Três vezes aparece o termo para rei (basiléus) e três para reino (basil6ia). Este
reino e reinado é de um tipo completamente distinto. A forma elêelutha, "tenho chegado" ao
mundo, não é sinônimo da anterior, "nasci", mas remonta à situação anterior e aponta para a
pré-existência e eternidade de Cristo. E o Rei da glbria (SI 24) que declina temporariamente de
szu estado e poder e vem ofcreccr graça c perdão à humanidade pecadora. Vem "dar testemunho da verdade." Ele próprio 6 a verdade (Jo 14.6). O termo rnarturêeso, no aoristo do
subjuntivo, denota uni testemunho cornplctamente alcançado, que em nada necessita ser
acrescido.
A palavra "reino", corrio usada por Cristo, foge 2 denotação ou uso normal do termo, para
cidquirir a conotaçáo partic~ilard c rcino ou domínio da graça de Deus, a igreja cristã, na qual o
f7oi Jesus opera atrrivbs dri p;il;ivia da vcrd:idc e dos sacramentos. Essa força arrasta os súditos de Cristo n ouvircni siin voz o n sc~gui-lo. O domínio do Rei divino é universal. "Toda a
autoridade rnc loi dada no chu c na torra" (Mt 20.18). Todas as formas de governo e poder
scculnres estrío sujoitos ;i clc. As o:;triitiirns sociais c econÔmicas que nos oprimem se incluem no seu rcirio dc podcr c :I alc cr;tTio siijcit;is. Ouvir a voz do Rei significa testificar diante
dc govcrrios c rcir;, 1);ir;i qiic Iniiil>ciriioiiq;irri :I voz daquelc que 6 verdade e vida.
A glória dcstc rcino rclsidc ria (r,iii~,forrii,içáoque n verdddc salvadora opera no coração
hiiinano. Quem ~,is:,,i.iser da vcrd;i(lc r oiivc a voz do Rei, 6 nova criatura e dedica-lhe toda
<.ii~.
vid,i. Ec,ta vord,idc lil)(~tt,ic coril[\ic o pocler do Espírito Santo. Poder para crer, viver,
tc:stcmuiili,ir, solior (, iiiorici c>in I)or C:ri:,lo. E rifinal juntar as vozes ao coro dos eleitos na
916ria dos cC:us.
O TESTEMUNHO DO CRISTO REI
1. Aos ~ n ~ n ~ i g
dco sfor'? c d i n ~ ~do
l c podcr secular
1. 1 rcprcscnlndos por m~n~stros
que defendem seus líderes
1.2 //gados a tcmpos c dpocas que passam (At 1.7)
1.3 hm~tadospor urna rdé~ade libcrlnç50 terrena e mater~al
2. Aos inimigos "de dentro": o falso 'poder eclesiástico"
2.1 ofusciidos por ideais de gldria e poder terrenos
2.2 seguidores aparentes, movidos por interesses particulares
2.3 preocupados com cuidados e defesa terrenos
3. Aos verdadeiros crentes
-
a igreja cristã
3.1 O alvo de conhecer a verdade que liberta (Jo 8.31-36)
3.2 O alvo de seguir a voz do Rei divino (v. 37)
PQgina 72
-
IGREJA LUTERANA
3.3 O alvo de receber poder do Espírito Santo (At 7.8)
3.4 O alvo de dar testemunhy da verdade (v. 37)
3.5 O alvo final de contemplar a sua face na glória (Ap 22.4)
Disposição ( 2 ) (The Pulpit Commentary):
MEU REINO
NAO
E DESTE MUNDO!
(Jesus)
I. Por sua tolerAncia em relação a reinos e poderes terrenos e passageiros
2. Por seu caráter e forma de aparecimento de seu Rei
3. Na natureza de seu domínio sobre os súditos
4. Pelos alvos que busca e pelos métodos que emprega
5. Em sua extensão e perpetuidade
Elmer Flor
IGREJA LUTERANA
-
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Os princípios de traducão
defendidos e seguidos por Lutero
em sua traduçáo da Bíblia
Arnaldo Schuler
Cresce o número de pessoas que se mostram conscientes da necessidade de
tornar a Escritura Sagrada inteligível ao homem comum. A reflexão sobre essa necessidade nos leva aos problemas da arte de traduzir. Lutero é uma das figuras que
logo nos acodem à rnem6ria quando pensamos sobre a arte de traduzir a Bíblia.
Homens como Oskar Thulin, Heinz Bluhm e E. G. Schwiebert entendem que a tradução da Bíblia foi o n ~ n g n u nopi~s,
~
a realizaçáo máxirna de sua vida. Outros, como, por exemplo, Wilhelm Scherer, considcrain a traduçáo de Lutero o maior acontecimento literário do s6culo XVI.
Lutero tinha consciência aguda dos problemas envolvidos na tarefa de traduzir
e do que é necessário para traduzir bem. Náo basta o dom linguístico para traduzir
bem, disse ele. Traduzir bcrn é graça e dom especial de Deus. Depois de iniciar a
empresa de traduzir a Bíblia em alemáo, escreveu que, se não o tivess2 tentado,
poderia ter morrido com a idéia errônea de que era um erudito, acrescentando que
deveriam fazer algum trabalho dessa natureza todos os que se julgam eruditos. Com
referência ao livro de J6, informa que Melanchthon, Aurogallus e ele algumas vezes
mal conseguiram traduzir três linhas em quatro dias. Muitas vezes ficavam durante
um mês inteiro à procura de uma palavra e nem sempre a encontravam. Por outro
lado, uma das muitas evidências da extraordinária capacidade de Lutero para traduzir a Bíblia é o fato de ele haver traduzido o Novo Testamento em menos de três
meses.
0 s princípios de traduçáo defendidos e seguidos por Lutero na tradução da Biblia estão sendo adotados até o dia de hoje. Serão objeto de nossos breves comentários os princípios de que ele fala em sua Carta Aberta Sobre Tradução, escrita em
1530, no castelo de Coburg, de onde acompanhava os acontecimentos da Dieta de
Augsburgo. Na época em que escreveu a carta, estava empenhado na traduçáo dos
livros proféticos do Antigo Testamento e já tinha mais de dez anos de experiência
em matéria de traduzir. Seu primeiro ensaio de tradução de textos biblicos 6 de
Página 74 - IGREJA LUTERANA
1517, em seu primeiro escrito, Os Sete Salmos Penitenciais. Nessa primeira tentativa já se afasta da Vulgata, conforme se lê no prefácio ao escrito mencionado, onde
diz que ultrapassou nostra translatio.
A parte da carta que interessa ao nosso tema é a resposta de Lutero a uma critica feita a sua tradução de Romanos 3.28. Em vez de traduzir: ". . . o homem 6 justificado pela fé, sem as obras da lei", Lutero traduziu: ". . . sem as obras da lei, somente pela fé" ("Ohne des Gesetzes Werke, allein durch den Glauben"). É na defesa de sua tradução desse texto que Lutero enuncia os princípios a que aludimos.
Nosso objeto não é analisar os argumentos de Lutero a favor de sua traduçáo de
Romanos 3.28, mas sublinhar os princípios de traduçáo que ele estabelece ao longo
da defesa de sua tradução e acrescentar ilustraçóes, dele ou de outros.
Primeiro princ@io: O tradutor deve atender a natureza da língua receptiva, isto
é, da língua para a qual traduz.
Lutero observa que no texto grego nenhuma palavra corresponde ao "allein" da
sua tradução, acrescentando, no estilo polêmico da época, que os seus críticos olhavam a palavra "allein" como a vaca olha para um portáo novo. Quando falamos de
duas coisas, uma das quais 6 afirmada e a outra negada, é próprio da língua alemã,
argumenta ele, acrescentar a palavra "allein", para que fique tanto mais completa e
clara a negativa ou exclusiva.
Segundo princípio: Deve-se verificar a maneira de o homem comum usar a
língua.
Para saber de que forma se deve dizer a coisa em alemão, comenta Lutero,
cumpre observar como fala a dona de casa, a criança na rua, o homem comum na
feira, no mercado, na praça. Por eles devemos orientar-nos em nossa tradução. E
então eles nos vão entender.
Essa recomendação importante lembra um diálogo entre o grande estilista português Eça de Queirós e o autor da série de romances intitulada Comédia do Campo. Conta-se que Eça perguntou a Teixeira de Queirós como é que ele encontrava,
para escrever os seus livros, uma linguagem tão caracteristicamente portuguesa.
"Qual é o seu mestre preferido?", perguntou Eça. Teixeira de Queirós respondeu: "O
meu mestre é aquele que ali vai." E apontou para um homem do povo, que estava
passando.
Terceiro principio: O tradutor deve ter o cuidado de evitar traduç5es literais infelizes.
Uma das ilustraçóes aduzidaç por Lutero são as palavras que o anjo dirige a
Daniel (Daniel 10.19): "Não temas, ish chamudoth, vir desideriorum. " Lutero traduz:
"querido Daniel". Uma tradução literal, observa ele, o levaria a escrever "Mann der
Begierungen", "homem dos desejos", acrescentando que um alemão, ao ler isso,
IGREJA LUTERANA
-
Página 75
pensaria que Daniel esteve cheio de maus desejos. Buscamos outra ilustração nas
explicações que precedem o seu comentário aos salmos. Diz ele que em Salmos
92.1 5, uma tradução de verbo ad verbum o teria levado a escrever que ainda na v e
Ihice os justos serão gordos e verdes, em vez de fecundos e viçosos, o que faria
com que o leitor alemáo pensasse num velho barrigudo.
Pode o b ~ e ~ a r - s e
nas
, sucessivas edições da sua traduçáo da Biblia, o esforço
de Lutero no sentido de aplicar esse principio. Afasta-se da reprodução literal, procurando expressar o sentido. E a preocupação de garantir que seja bem comunicada a mensagem do original, a preocupação de impedir que o texto perca a sua função, a busca da equivalência dinâmica, em vez da escravização a.equivalência verbal. Num livro publicado em 1533, e no qual fala das revisões a que submeteu a
sua tradução dos salmos, Lutero lembra que as palavras devem estar a serviço do
sentido, e diz pensar que uma tradução do Saltério em alemáo que ignore o que ele
fez resultará em peça na qual vai sobrar pouco alemão e pouco hebraico.
Quarto princípio: Há casos em que a traduçáo literal de uma palavra pode ser
a solução acertada.
Lutero ilustra com as palavras de Cristo registradas em João 6.27, onde traduz
esphrAgisen com hat versiegclt (selou). Lembra traduções que, em seu entender,
seriam alemão melhor e acrescenta que neste caso preferiu prejudicar a língua alemá e afastar-se da palavra.
Quinto princípio: O tradutor deve ser dono de uma grande reserva de palavras,
a fim de que possa escolher a que fica melhor no contexto.
Para ilustrar a aplicação desse princípio por Lutero, valemo-nos de um exemplo
não citado por ele ao enunciar o principio: o uso das palavras Pferd, Ross e Gaul
(respectivamente, cavalo, corcel e cavalo-boi, cavalo forte). Em Tiago 3.3, onde se
lê que pomos freios na boca dos cavalos, para nos obedecerem, Lutero usa a palavra Pferd. Em 2 Reis 2.1 1, os cavalos de fogo que levam a Elias ao c6u são Rosse.
E os cavalos que rincham em Jeremias 50.1 1 são fortes Gaule. Outra ilustração poderia ser o fato para o qual chama a atenção o erudito pesquisador M. Reu: Lutero
usa nada menos de dez sinônimos da palavra Leid (pesar).
Sexto princípio: Para poder traduzir bem um texto, deve o tradutor determinar-lhe o sentido no contexto do original.
Comenta Lutero que em Romanos 3.28 acrescentou a palavra allein não apenas em obediência ao principio que manda seguir a natureza das línguas na tradução, mas também porque o texto e o sentido de Paulo o exigem. O Apóstolo excluias obras completamente da justificação. De sorte que dizer pela fé somente 6 a
maneira de expressar o seu pensamento de forma clara.
Pagina 76 - IGREJA LUTERANA
Sétimo princbio: É justo e necessário expressar o sentido do original da maneira mais clara e plena.
Por entender que Paulo exclui da justificação diante de Deus toda e qualquer
obra de toda e qualquer lei, Lutero observa, no fim da sua resposta à critica, lamentar o fato de não haver acrescentado ainda as palavras alle e aller e traduzido:
sem quaisquer obras de quaisquer leis, para expressar o sentido do Apóstolo com
clareza total.
Conclusão
E evidente que muitas traduções de nossos dias procuram aplicar os princípios
acima. Um dos membros do departamento de tradução da Sociedade Bíblica A m e
ricana, depois de falar dos princípios de Lutero, comenta que hoje, em algumas traduções, parece haver consciência crescente da necessidade de comunicação vital.
Os princípios de Lutero são atuais e importantes. E nenhuma coisa merece
mais atenção de um comunicador cristão de nossos dias do que a tarefa de transmitir a mensagem da salvação em Cristo ao homem de hoje em linguagem ao alcance
do leitor comum.
IGREJA LUTERANA - Página 77
l'
II
1
I
-7MUSICR 1-
--
Hinário Luterano
Hans-Gerhard F. Rottmann
I - HINOS
O novo Hinário Luterano, agora em mãos dos cristãos de língua portuguesa, é
resultado de mais de uma década de pesquisa, tradução, revisão, análise e seleção.
Foram estudados hinários luteranos e de outras igrejas dos mais diversos países,
além de ser feito um levantamento de toda a hinódia sacra publicada em língua portuguesa.
Em várias ocasiões, inclusive no Hinário Luicrano, Segunda Parte (Concórdia,
dezembro de 1973), foi solicitada a colaboração de toda a Igreja Evangélica Luterana do Brasil no envio de sugestões ou de originais para o novo Hinário Luterano.
Embora valiosas, foram poucas as colaborações que chegaram às mãos da Comissão do Hinário.
A ComissBo fez sete revisões dos textos originais e traduções para que se
chegasse ao melhor texto final possível. Para se chegar a seleção final dos 573 hi-
nos pesou-se muito o conteúdo bíblico-doutrinário, a importância do hino na história
do louvor do povo de Deus, a linguagem clara e beleza poética e a melodia.
Um Hinário Lutcrano da Igreja Evangdlica Luterana do Brasil no contexto de
nosso século no Brasil não poderia ser um hinArio "fechado" que deixasse de trazer
o canto vivo da igreja cristá universal e de todos os tempos. São 951 páginas de
textos e melodias - Textos e melodias que, devido à sua amplitude, precisarão de
tempo para poderem se tornar vivos nos corações e vozes do povo cristão do Brasil.
Há inúmeros tesouros escondidos a serem descobertos através de estudo e ensaio.
Na Apresentação do Hinário, lemos:
Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com
salinos e hinos e cãnticos espirituais, com grafidao, em vossos corações. Colossenses 3.16.
O que Paulo, aqui, recomenda à congregação cristá de Colosso, o povo
de Deus vem fazendo através dos séculos; em momentos de grande ale-
Página 78 - IGREJA LUTERANA
gria e de profunda dor; na angústia da solidão e no meio da congregação
em festa; diante da ânsia da morte e em pleno vigor da vida.
Desde os cânticos de Moisés, de Miriã, de Davi, de Zacarias, de Maria,
de Simeáo, dos mártires, de Lutero e de Paul Gerhardt até à multidão incontável de cristãos em nosso século, estes hinos foram expressão de adoração
e louvor, de súplica e consolo, de proclamação e edificação, de amor e de
confissão de fé. Os filhos de Deus iniciam seu cântico aqui, na terra, e continuarão cantando, um dia, na glória eterna, diante do trono do Cordeiro, junto com todos os anjos e arcanjos.
O Hinário Luterano tem a finalidade de dar aos fiéis em Cristo de nossa
Pátria uma parcela da riqueza destes cânticos do povo de Deus. Esta nova
edição do Hinário Luterano vem ampliada com mais de duas centenas de
melodias e hinos novos, que a igreja cristã canta em mais de cem linguas
diferentes ao redor do mundo.
0 s 573 hinos do Hinário Luterano são um testemunho e frutos da fé do povo
de Deus através dos séculos. São Hinos e Melodias tiradas do imenso tesouro da
Hinódia Cristã, composta por centenas de milhares de cânticos, que o povo de Deus
de todas as épocas e lugares tem entoado em gratidão e em adoração ao Deus triúno. Entre os hinos do Hinirio Lutcrano encontram-se hinos do Antigo e Novo Testrimentos, da igreja antiga do Oriente Médio e Norte da África, bem como dos sec~~iintes
países: Alemanha, Austria, Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Escócia,
Eslováquia, Espanha, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Holanda, Inglatcna, Itália, Israel, Japão, México, Noruega, Pais de Gales, Polónia, Portugal, Rússia,
Suécia, Suiça e Tanzânia. A maioria são hinos cantados em todo mundo através
dos tempos, e que pelo seu conteúdo e música continuarão a ser expressão legítima
dv fé, amor, confiança, alegria e gratidão do povo de Deus, proclamando a Boa Nova da salvaçáo. São um bem comum de toda a igreja cristã; alguns dos hinos ção
cantados em mais de cem traduções diversas.
Encontram-se no Hinário 204 originais em língua portuguesa, 27 de países latin3-americanos; 186 dos hinos foram escritos entre 1901 e 1985. O Hinário Luterano 6 o maior hinário da América Latina, tanto em número de hinos qua.nto em sua
riqueza de representatividade da Hinódia Sacra das mais diversas épocas e regiões
a:, mundo, onde o povo de Deus cantou e continua a cantar a Deus.
O Hinário Luterano é dividido em quatro setores:
I - Liturgias
1. Ordem do Culto Principal i - Texto reformulado a base dos originais e
conseqüente alteração das linhas melódicas.
IGREJA LUTERANA - Página 79
2. Ordem do Culto Principal II - Idêntica à encontrada no hinário anterior.
3. Matinas - Com linha melódica.
4. Vésperas
-
Com linha melódica.
II - Documentos Confessionais e Orações
1. Confissão de Augsburgo.
2. Credo Atanasiano - Em forma responsiva.
3. Catecismo Menor do Dr. Martinho Lutero.
4. Questionário cristão.
5. Oração Geral da Igreja - Com participação da congregação.
6. Orações.
7. Formas para Batismo de emergência.
111 - Hinos
Em todos os hinos encontra-se a melodia junto ao texto da primeira estrofe. Ao final das estrofes existem referências biblicas. Ap6s cada hino estão relacionados: autor, data; tradutor, data; início do texto original; melodia e autor da
mesma, data.
- Esquema do Ano Eclesiástico e suas cores litúrgicas.
- Abreviações e Glossário de Termos Litúrgicos.
IV - índices dos Hinos
1. Relação completa dos originais dos hinos.
2. Autores e relação dos hinos de sua autoria.
3. Tradutores e relação dos hinos traduzidos.
4. Hinos do Hinário Luterano anterior que tiveram seu início alterado.
5. Classificação dos hinos.
6. índice completo dos hinos.
Para os 573 hinos existem um total de 405 melodias diferentes que vão
desde o Tonus Peregrinus, uma melodia com a qual se cantava alguns Salmos já
nos tempos de Jesus (pág. 32 e 57), ate melodias de 1980. As melodias estão em
sua forma original no Hinário Luterano, ou então como são usadas nos diversos hinários do mundo inteiro. Por este motivo algumas melodias que se encontram no
The Lutheran Hymnal, ed. 1941, sofreram alteração.
Pdgina 80 - IGREJA LUTERANA
Para ajudar na propagação e aprendizado destes cânticos de louvor do povo
de Deus está sendo preparada uma gravação em fitas cassete de uma estrofe de
cada hino do Hinário Luterano. Tem sido uma experiência gratificante a realização
de Cultos Especiais de Cânticos de Louvor com a participação do Coral Luterano e
coros das congregações. Todo o culto é estruturado liturgicamente a base de hinos
que são entoados pelo coro, e após, por toda a congregação. Todos têm a oportunidade de ouvir os hinos novos bem cantados e aprendem a cantá-los sob liderança
do coro e de seu regente.
Como complemento do Hinário Luterano foi publicado pela Editora Concórdia
CANTA1 LOUVOR - Vol. I e II - Hinos do Hinário Luterano para corais e organistas. Em seu Prefácio, lemos:
Cantai louvores ao Senhor, porque fez coisas grandiosas; saiba-se
isto em toda terra! (1s 12.5)
O cántico do povo de Deus, desde os Salmos do Antigo Testamento, foi rico
em arte e beleza. A voz humana juntava-se o som de instrumentos musicais mais
diversos. Através dos séculos ressoavam os cânticos do povo de Deus, nos lares,
nos templos e no trabalho, no exílio, prisões, catacumbas e arenas, em dias de luto
e dor. Somente no período anterior à Reforma, em meio as trevas medievais, silenciara o cântico do povo de Deus nas igrejas. Os textos cantados eram obrigatoriamente em latim, e as melodias, originalmente simples, haviam se transformado em
algo complicado e difícil, somente acessível ao clero. O povo já não podia mais participar ativamente do culto.
Com a Reforma, o culto passou a ser novamente um culto vivo da igreja de
Cristo, com a participação ativa de toda a congregação no louvor e na adoração de
seu Senhor. Lutero, com Johann Walther e otitros colaboradores, editaram hinos na
língua que o povo falava. Traduziram os hinos importantes dos pais da igreja, metrificaram Salmos e outros textos bíblicos, além de escreverem hinos com textos próprios que transmitiam a doçura do Evangelho. A propagação destes hinos na Alemanha foi algo impressionante. Em praças, o povo se reunia para aprender a cantar
os hinos, para depois cantá-los em toda a parte.
0 s primeiros hinários luteranos foram todos publicados com harmonizaçóes a
várias vozes, pois além do canto congregacional uníssono, havia nos cultos a participação de coros. Assim, para completar o Hinário Luterano, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil está publicando esta coleção de harmonizaçóes Canfai Louvor para
acompanhar o cantar dos Hinos bem como para oferecer arranjos para o canto a vozes.
IGREJA LUTERANA - Página 81
Em 557 páginas, copiadas, no original, a nanquim, estão reunidas as 405 melodias do Hinário Luterano, num total de 703 harmonizações diversas, a quatro e três
vozes, para o acompanhamento de todos os hinos do Hinário Luterano em instrumento de teclado. A grande maioria dos arranjos foi especialmente escrito para serem cantados por corais. Junto às partituras está escrito o texto do hino para o qual
a melodia foi escrita, ou então, o texto do hino mais usado.
As tonalidades escolhidas são sempre as mais apropriadas para o canto congregacional. Se um hino for cantado somente pelo coro, muitas vezes ele soará
melhor entoado em tonalidade mais aguda. A maioria das harmonizações poderá
parecer mais difícil do que as do The Lufheran Hymnal, isto, porque se procurou evitar a monotonia do Contralto e do Tenor destas harmonizaçóes. Quase todas as
melodias têm mais de uma harmonizaçáo para dar mais opções no acompanhamento e no cantar do coro.
No final do volume II de Catitai Louvor são publicados os seguintes índices:
1. Compositores e relação dos seus hinos. 0 s hinos de autoria desconhecida
s5o classificados cronologicamente e com indicação de fonte.
2. Classificacão alfabética do nome de todas as melodias.
3. Classificaçáo dos hinos pelo seu conteúdo.
4. Índice de todos os hirios.
Que possa ressoar cada vcz mais alto o Cântico de Louvor em nossa Pátria
para n g16ria de Ucus c cdificaçáo do seu Reino aqui na terra,e que um dia todos
riós possarnos participar do único canto perfeito, em pureza infinita - o Cântico
diante do Trono do Cordciro.
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-
IGREJA LUTERANA
RIGOR CONTRA A PORNOGRAFIA
Na próxima semana, a Prefeitura de São Paulo poderá voltar a fiscalizar as bancas de
jornais e até apreender as revistas pornográficas e eróticas que não estejam lacradas e com
suas capas cobertas com papel ou plAstico opaco. Essa fiscalização poderá ocorrer porque a
4 X â m a r a Clvel do Tribunal de Justiça reconheceu legitimidade a Prefeitura para executar a
Lei Municipal nVO.066, de maio do ano passado, que disciplina a exposição em bancas de jornais e estabelecimentos comerciais do gênero de revistas e publicações nocivas ou atentórias
A moral pública e aos bons costumes. (Est. de S. Paulo, 14.1 1.87)
O jornal "La Stampa" de Turim, publicou a história do sacerdote católico romano - d.
Paolo - que "após 25 anos de fikis serviços ti igreja" acabou realizando o "grande sonho de
sua vida: submeteu-se a uma cirurgia e tornou-se mulher". Após a cirurgia, D. Paolo resolveu
chamar-se "Paola". O padre Paolo, isto 6, senhorita Paola, afirmou que teve o cuidado de não
ferir as normas estabelecidas pelo Vaticano, vez que, após a operação transexual, decidiu
suspender, "voluntariamente", seu trabalho de cattitcr pastoral, urna vez que a Igreja Católica
continua opondo-se A ordenação de mulheres.
Mas, apesar de tudo, "tecnicamente", admite Paola que "continua sendo padre", porque
sua ordenação não fora suspensa. Assim: "Posso rezar missa, ouvir confissão, dar bençáo,
consagrar pão e vinho", etc. Ao "La Stampa", nfirrnou o padre: "Se me decidi abster-me de
minhas funções religiosas, foi para'não violar os regulanientos com que, na realidade, não concordo". O jornal italiano conta ainda que Paola descobriu esse seu "problema" quando ainda
era criança. E que, segundb o padre, manteve o sei1 voto de castidade durante os 25 anos de
sricerdócio. O padre adiantou que: "Um dia, urna criança mcntalmente retardada esticou os
braços para mim e me chamou de mamãe em plena escadaria da igreja. Isso me causou tanta
confusão mental, que tive de me afastar de minhas funções por algum tempo, e me refugiei em
um lugar remoto. ". O padre Paolo ou Paola continua recebendo seu salário mensal da Igreja, todavia, optou por, esporadicamente, trabalhar como "babá" de crianças. . . Mas ainda hA
solução para o aproveitamento do ex-padre Paolo. Algumas igrejas "protestantes" tidas como
"progressistas" estão advogando a inclusão de pastoras no seu ministbrio. Que tal não aproveitar o ex-padre como "pastora" numa destas igrejas "avançadas"?
..
("Estado de S. Peulo", 3.1 1.87)
"A TELEVISÃO COMO DROGA"
(Hamburgo) A Televisão assistida de modo prolongado e frequente, intensiva a tendência ao pessimismo e à depressão. A conclusão é do professor Winfried Schulz da Universidade ErlangentNurnberg, em seu estudo sobre "A Televisão como droga - Estudo psico-socioIGREJA LUTERANA - Página 83
lógico do telespectador assiduo". No entanto, ele afirma que pessoas que assistem com muita
freqüência televisão aproveitam os programas como fuga da solidão e do vazio.
O autor aponta como tipicos consumidores pessoas com menor nivel cultural, com pouca experiência profissional, aposentados e muito frequentemente viúvas. O estudo afirma que
riesse excessivo consurno de Televisão essas pessoas encontram uma possibilidade de fugir
de seus problemas. Neste sentido, o assiduo consumo de televisão é uma droga, um narc6tico, que ajuda a superar problemas eniocionais e conflitos de vida.
("Vale do Sinos", 29.01.88)
DQA: UMA LUTA ANONIMA DOS QUE ESTAO SE RECUPERANDO
DAS DROGAS
"Se o seu caso é usar drogas, o problema é seu! Se o seu caso é parar de usar drogas,
o problema 6 nosso!"
Iri~,piiados por esta fr.ise, h5 oito anos funciona em Porto Alegre um grupo de "Depend c r i t ~ 5Oiiírnicos Anóniriios" (DOA), tendo o movimento nascido na Clínica Pinel e passando a
ter, poc,tc~riorriicritc.,sua : , c ~ l r : n;i Cruz Vermeltia de Porto Alegre (Rua Independência 993).
tiojc', A',rn de Poito Alcgrc, cxi:,tt3ni L3OAs em Montenegro, Santa Maria, Cachoeira do Sul e
t'Li?:,o FLJII~C).
LICJA - c l ~ i c :rciino cx-vici;ido:; crii drogas, num amparo mútuo para sc manterem afastcitlo:; tios t6xicos - foi iri:;l)ir;itio rio AA (Alcoólicos Anoriirnos) e seu funcionarncnto se rege,
t);i:,ic:;iiiic:riti:, ~)i:los1nc::;iiici:; 11riric:íl)io:; clos doentes dc nlcoolisrno, fundanientando-se, princi~';ilrirc:iitc:, rio niioiiim:ilo c n;i iiic:xi:.tí:iici:i de regras inflcxívcis.
O tr;il~;iltio qiic c!r,t:i scrxlo foito ri;i Cruz Verineltia crn Porto Alegre é uma ação conjunta
da Ycc:ic:l;iri;i (1:i S,iú(lc, Sc~c:rct;iri;i tlo Tr;it)nllio c Conselho Nacional de Entorpecentes
(Concri), c:ritrc! oiitros br[j,io:;, cliic: cc:(l(:rii os t6cnicos. Um clínico especialista em tóxicos, psit:Olo(l;i, ;ii;:;i:;tcritc
:;»cicil, c:ritrc: oiitros profissionais, prestam um tratamento gratuito, que visa
:ijiid~iroriric:il);iliii(:ritc ~icsso;is :;(:i11 coridicfies finariceiras de tratamento.
OS CAMINHOS
O dcpcritícntc, qcic 11ii:;c:i tr;ilarncrito, faz inicialmente uma consulta médica. Quando 6
ricccr;s:ir io a cIei;iritoxica(;lio, cle 6 ciic;iiiiirih,ido para a Clínica Pinel, onde, após se desintoxicar, pC~iticil>,i,
durciritc 28 dias, dc uni programa de conscientizaçáo, com seminários diários, o
grupo de sentiineiitos, onde :;,'i» cxpostos os sentimentos do dependente aos terapeutas.
Ap6s cstc processo, clc é cncnniiiih;itio ao DQA, grupo de auto-ajuda, onde trocará experiências coiii outros dcpcndcrites em r~cupcrnqáo.
Entendendo que a família contribui muito para uma boa recuperação ou uma penosa recaida, foi criado o FDQ, que consiste num grupo de familiares de dependentes químicos, pois,
segurido o coordenador do DOA, 6 importante erguer a família juntamente com o drogado. A
maioria dos participantes aas reuniões do DQA, além de dependentes em recuperação, também são alcoblatras em, recuperacáo. De acordo com o que foi constatado nesta reunião, há
uma relacáo áIcool/drogas, e é quase inevithvel que um DQA, se torne, futuramente, um AA.
Pbgina 84
- IGREJA LUTERANA
Com uma média de 30 pessoas por reunião, são trocados experiências. Durante duas
horas ex-drogados falam aos presentes contando suas experiências. As hist6rias comovem,
todos ouvem com paciência as declarações dos dependentes químicos e alco6licos. O coordenador da reunião leva aos presentes palavras de otimismo. "O passado não vale mais nada,
s6 o futuro interessa". É nesta hora que se inicia a luta por mais 24 horas de abstinência.
Na abertura e fechamento das reuniões, é feita a oração da serenidade, também usada
pelos AAs, seguida de 30 segundos de meditação. A troca de crachá é um dos momentos
mais bonitos da reunião, onde cada dependente em recuperação que fizer a troca de crachA,
possui um padrinho. Este padrinho, ao lhe passar o crachá, lhe parabeniza e o incentiva a
continuar em abstinência. Os crachás são identificados como: cartão verde (esperanca) recebe o dependente que esta iniciando a sua abstinência. O cartão vermelho (luta), quando o
dependente em recuperação tem três meses de abstinência. Cartão azul 6 passado para
aquele que tem seis meses de abstinência. Aos nove meses o abstêmico recebe o cartão
amarelo, e existe ainda o cartão branco, para quem se absteve durante um ano.
A ANGÚSTIA DOS RELATOS
"Sou um dependente qulmica e alco6lica em recuperaçáo", assim inicia mais um relato.
"Para largar a droga, o Alcool, deve Iiaver uma determinação. Por que não batalhar por aquilo
que nos vai ser melhor, ser mais responsável por aquilo que faz bcm?" E assim vários relatos
sáo feitos. São pessoas com um dia de abstenção, meses, anos, contando suas experiências
e determinando-se a continuar sem drogas.
As reuniões são coordenadas por ex-drogados, sem a prcscnça dc rnédicos, psiquiatras
e psic6logos. "Eu vivia num terror constante, apavorado, e com medo da polícia". E o relato
de outro jovem, que continua dizendo: "Me completo aqui, q~ianctornc vejo apavorado, recorro
ao DQA. Já outro jovem diz: Se quisermos parar de usar drogas, devcrnos nos auto-reformular. Devemos nos determinar a perder o velho comportamerito. É muito tristc. At6 não haver a
pcrccpção, a droga foi que sobrou da minha vida."
A dependência química é uma doença física, mental e de fundo emocional. Progressiva,
crônica e de t6rmino fatal. Mas é uma doença que pode ser controlada, desde que o portador
assim o deseje. A vontade de parar com a droga; o apoio da família; uma atividade para impedir a ociosidade; a assistência médica; o grupo de auto-ajuda. Estes são os cinco passos
para a abstinência.
A RECA~DA
O DQA tem conseguido bons resultados com a recuperação de dependentes, porém
existem os casos de recaldas, presenças em apenas uma reunião. Pessoas que assistem a
algumas reuniões e desaparecem. Um dos casos de recaída é de um jovem que absteve-se
durante seis anos, recaiu, voltou ao DQA, voltou ao cartão verde e com muita força de vontade
para começar pacientemente tudo de novo.
("Vale do Sinos", 29.01.88)
IGREJA LUTERANA - Página 85
O alvo da oração é o OUVIDO DE DEUS. A oração influencia os homens,
porque influencia Deus, para que ele influencie os homens. Não é a oração que
move os homens, mas Deus, a quem o Iíder ora.
"A oração move o BRAÇO que move o mundo".
Para reflexão posterior:
- Você é um cristão (Iíder) que ora? Você "tira tempo" do seu dia-a-dia para
orar? Quanto tempo? Não é muito pouco?
- Você ora muito pouco? Quais seriam os entraves? Como eles poderiam
ser removidos?
2. A PACIENCIA - Crisóstomo chamava a paciência de rainha das virtudes.
De fato, o Iíder deve fazer da paciência uma qualidade sempre buscada e sempre
praticada. O "amor é paciente" - o Iíder cristão, que ama, é paciente.
A paciência não significa sentar-se de braços cruzados para simplesmente
aguentar as coisas más. Significa RESISTENCIA vitoriosa, CONSTÂNCIA forte sob
provação. CONSTANCIA brava em tudo quanto a vida apresenta, até mesmo nos
mais horrendos e maléficos degraus que nos levam para cima, para frente. Paciència é a habilidade corajosa e triunfante para suportar reveses, a qual capacita o Iíder
a ultrapassar o PONTO DE QUEBRA, SEM QUEBRAR, e encarar o imprevisto com
determinação, fé e alegria.
E nas relações pessoais que a paciência 6 testada mais fortemente. Diante
da ineficiência e da negligência é preciso usar de bondade (como fez Cristo com o
duvidoso Tomé, com o instável Pedro, com o traiçoeiro Judas). Assim, o indício da
liderança positiva não está tão-somente em seguir em frente, mas também estar
disposto a adaptar o passo rápido ao passo moroso do irmão mais fraco, sem jamais
se distanciar dele e perdê-lo de vista (Rm 15.1).
Para reflexão posterior:
- Como está a sua paciência? Você
4 paciente? Os irmãos acham que
você é uma pessoa paciente?
- Como você demonstra que
é - ou não - paciente?
- Você precisa e quer mudar, ser mais paciente? O que você pode e vai
fazer?
3. A INTEGRIDADE - O líder íntegro é aquele que é sincero ao prometer,
fiel no cumprimento do dever, correto em julgar e admoestar, leal na orientação e
honesto na fé e no amor, tornar-se mais e mais IRREPREENS~VEL(Tt 1.6,7; 2 Tm
1.3; 1 Co 4.4.) O lider deve ter, portanto, BOA REPUTAÇÃO MORAL na Comuni-
IGREJA LUTERANA - Pagina 87
dade e na sociedade em geral. E pela sua integridade ser merecedor de confiança
pelos outros cristãos.
E todo cuidado sempre é pouco. Uma vez rompida a reputaçáo, alem de
ser extremamente difícil recompô-la, é motivo para muitas frustrações e muitos fracassos. O líder deve ser "padrão".
Para reflexão posterior:
- Você é um homem, íntegro (uma mulher íntegra)?
Como é a sua reputaçáo em seu trabalho, em sua família, em seu departamento, em sua Comunidade?
-
- A sua conduta reflete o seu amor e a sua fé?
- O que você deve fazer neste sentido
-
em que pode melhorar?
4. A HUMANIDADE - Embora a tiumanidade não esteja muito presente no
"currículo" do mundo, ela deve ser urna característica marcante do homem que Deus
quer usar para liderar. Cristo "dcfiiiiii" hurnildr-ide como AUTO-NEGAÇAO (e não
auto-publicidade), SERVIR (e r150 scr servido), SER O MENOR (e não o maior)
(cf. Mt 20.25-27). João Batista ri tcstou isto. "convdm que ele creça e eu diminua"
(Jo 3.30). Paulo tanibdm ... c11 ou o MENOR dos apóstolos ..." (1 Co 15.9); "... O
MENOR de todos os santos" (r f 3 8). E afirniou um missionário: "A grande falta em
nossas mis:;6cs, penso cu, 6 cluc iiiiiguCrn (lu(:r ser o segundo".
"
Di7 a palavra dc Deus: "O qiic sc HUMILIfA, ~ ~ 3 rEXALTADO,
d
e o que SE
EXALTA, çcrrl Ifl/MIl_HAD0"([.c 14 11).
Para reflexão posterior:
- Voci. d dnquelcs quc se recusa crn, eventualmente, ficar em segundo
plano, numa posiç5o infcrior ou riiiina situaçáo sem grande destaque visível?
- Você recusa certos sc?rvicos no Reino de Deus porque julga que estão
aquém do que você é capar?
-
Você procura mais servir ou ser servido?
O que poderia ser feito para que a humildade fosse uma característica
marcante da sua vida de Iíder?
-
5. CORAGEM - Mas qual coragem? Coragem física e, especialmente, moral. É claro que o Iíder também sente medo por vezes, mas ele recusa-se a capitular, a jogar os remos no fundo do barco, a sentar-se à beira do caminho para ver no
que vai dar. O Iíder reponsável sabe que precisa responder a Deus e aos seus l i d e
rados. As pessoas presisam que seu Iíder aja com coragem nas crises, que os fortaleça em meio a reveses distruidores e influências enfraquecedoras.
Página 88
-
IGREJA LUTERANA
Mas ser um líder corajoso não significa simplesmente enfrentar as dificuldades na base da força bruta, do tapa ou do palavrão. Agir assim é amostra de desantro-le e incapacidade. A prudência, o bom senso, o equilíbrio, a calma - todos
precisam estar presentes numa liderança corajosa positiva e motivadora.
A coragem de Lutero foi uma das suas características. Uma das suas frases mais conhecidas é essa: "Irei a Worms, mesmo que haja tantos demônios lá,
como telhas nos telhados".
Para reflexão posterior:
- Você é corajoso ou simplesmente capitula diante da primeira barreira?
- Você tem coragem em seu trabalho ou com os seus filhos, mas a perde
quando se defronta com desafios do serviço cristão?
-
O que lhe falta para ser corajoso?
6. DECISAO - A decisão está ligada à coragem. Seguro das vontades de
Dc?use dos caminhos e seguir, o líder prossegue em busca e em função dos objetivos estabelecidos. Adiar e vacilar normalmente são fatais à liderança. Uma decisáo
faltosa, mas sincera, é melhor que nenhuma decisão. E uma vez decidido, o líder
precisa estar preparado para viver as conseqüências, sejam quais forem. Em muitos
momentos da vida é preciso decidir com urgência - e da decisão depende o sucesso ou o fracasso. Muitas oportunidades de serviço no Reino de Deus são desperdiçadas porque ALGUEM não decidiu; vacilou ou se omitiu. O trabalho de muitas
Comunidades simplesmente não "anda" porque existe muita indecisão por parte dos
sius lideres (e, por extensão, dos demais membros).
Na Bíblia, temos diversos exemplos de pessoas decididas: Abraáo diante
da crise em Sodoma; Moisés, ao abandonar o Egito; Neemias, ao saber da desoladora situação de Jerusalém.
Para reflexão posterior:
- Você já passou por experiências onde a indecisão trouxe sérios problemas? Que lição(8es) você tirou deste episódio?
- Você, quando se defronta com a necessidade de decidir, e rápido, como
age?
- Você se julga "decidido" ou "indeciso"?
7. VISAO - Ter visão 6 ver mais e mais longe. E dar novos passos, pela f6,
quando, aparentemente, lá embaixo s6 há vácuo. E enxergar novas pbssibilidades
IGREJA LUTERANA
-
PCigina 89
onde se supunha nada mais existir. E localizar as necessidades e se preocupar em
satisfazê-las. E "prever" quais são os caminhos possíveis e quais serão os possíveis
resultados, e lidar com eles. E ter otimismo e esperança em cada dificuldade, mas
sem jamais tirar os pés do chão. A prudência sempre anda junto com a "visáo". É
preciso, portanto, ser um "visionário" que confia seus planos e seus passos a Deus.
Para reflexão posterior:
- Você se julga preparado para agir quando surgem as oportunidades?
- Você procura enxergar mais longe, procurando prever os possíveis acon-
tecimentos? - Você age empiricamente, na base do "ver o que vai acontecer"?
8. DISCIPLINA - Líder é a pessoa que, primeiramente, se submeteu de boa
vontade, e aprendeu a obedecer, segundo uma disciplina imposta de fora (de Deus)
e de dentro (dele próprio). O Iíder cheio do Espírito não recua diante de situações difíceis, de pessoas problemAticas. Sendo necessArio, ele exercerá disciplina - bondosa e corajosamente. Não deixa "pra mais tardc" algo desagradável. Além disso, é
disciplinado no planejarriento, na organização e na execução dos serviços.
A disciplina faz com que o Iíder procure dar o máximo de si, com mais responsabilidade, mais interesse, mais compreensão, mais dinamismo, mais amor. . .
Para reflexão posterior:
- Você é uma pessoa disciplinada
- ordenada, consciente, responsável?
- Em que área da sua vida você julga ser necessário melhorar nesse sentido?
- O que a falta de disciplina traz de problemas no seu trabalho e em sua
família? O que isso pode revelar em relação ao trabalho no Reino de Deus?
9. JUSTIÇA - O Iíder cristão procede segundo a justiça de Deus. E correto
em seu proceder, não importa com quem ou em que situação. Com sinceridade,
elogia ou admoesta, conforme necessário. Não é parcial, tendencioso, inteiresseiro,
satisfeito com o "status quo".
Para refleçáo posterior:
- Você é justo, ou procura satisfazer aos seus próprios interesses e as vontades dos que aparentemente se julgam "mais e melhores"?
- Como você trata com os irmãos mais desfavorecidos em sua Comunidade?
PAgina 90 - IGREJA LUTERANA
10. EMPATIA - O líder cristfio deve ser simpático e compreensivo com os
que fracassam e erram. Deve ser "médico de pecadores" - e o amor "cobre multidão de pecados". Não é demérito auxiliar os "frágeis", mas, isso sim, uma potente
demonstração de fé e de amor cristão, e um sinal de liderança positiva. O Iíder empático chora com os que estão tristes e se alegra com os contentes. Ele repara a
"cana quebrada" e assopra a "torcida que fumega", até que se incendeie (1s 42.3)
Um líder que não se adapta às situaçóes está fadado ao fracasso.
Para reflexões posterior:
- Como você demostraria, na prática, a açáo de um lider empático?
- Como você relacionaria a empatia com o amor cristão?
11. AMIZADE - Alguém disse se pode medir a estatura de um líder pelo número e pela qualidade de seus amigos. De fato, pois a amizade subentende e revela muitas qualidades de um líder, seu amor, sua confiança, sua ajuda, sua orientação, sua admoestação, seu interesse, etc. Mesmo que não mantenha laços de
amizade profundos com todos os seus liderados, deve ser amigo de todos. Jamais
um líder conseguirá mover bm inimigo para uma açáo positiva. Ademais, amizades
com pessoas "pouco recomendáveis" sempre atrapalha o senso de integridade do líder.
Para reflexão posterior:
- Como você 6 como amigo? Você procura estabelecer amizades ou mal
conhece os que o rodeiam?
- As suas amizades, de uma forma geral, são boas, saudáveis, positivas?
- O que você julga necessário modificar nesse sentido?
12. TATO E DIPLOMACIA - Tato é basioamente a habilidade em relacionar-se com pessoas em situaçóes delicadas. Diplomacia é destreza e habilidade no
encaminhamento de assuntos de qualquer tipo. Unindo as duas palavras, podemos
dizer que o líder deve ser uma pessoa PERITA na conciliação de pontos de vista divergentes, sem ofender, sem comprometimento de princípios. E a habilidade para
conduzir "negociaçóes" delicadas, e assuntos que envolvem pessoas, de maneira a
reconhecer-se os direitos mútuos e ainda assim encontrar uma solução harmoniosa.
É dom que envolve a habilidade de colocar-se na posição das pessoas envolvidas, e
calcular acertadamente como se sentiriam e como reagiriam.
Para reflexão posterior:
IGREJA LUTERANA
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PBgina 91
- Você é uma pessoa de tato e diplomacia, ou simplesmente julga e atua
na base do "achômetro"?
13. HABILIDADE EXECUTIVA - O Iíder deve primar para realizar tudo com
"d?cência e ordem" (1 Co 14.40). Diversos elementos estão aí incluídos: planejamento cuidadoso, execusão eficiente, avaliação responsável, uso racional do tempo
e dos dons dos liderados, etc.
Como em qualquer setor da vida humana, tambAm no Reino o trabalho
(que A de Deus) deve ser realizado responsável e organizadamente.
Para reflexão posterior
- Você já passou por experiências onde o fracasso foi devido a uma ação
desorganizada ou mal planejada?
- Você tira tempo para organizarlplanejar os seus serviços?
14. AMOR - O amor é sentimento maior. Ele envolve todos os outros e deve
ser a pauta que determina todos os procedimento do Iíder. Envolve amor a Deus,
amor ao seu serviço e amor aos liderados.
Utilizando 1 Co 13.4-7, é possível aplicar as características do amor para as
qualidades que o Iíder deve possuir.
I Co 13.4-7
A PLICAÇAO
- o amor é paciente
-
o amor é benigno
-
o amor não arde em ciúmes
(O L~DERE...)
- o amor não se ufana
- o amor não se ensoberbece
- o amor não se conduz inconvenientemente
- o amor não procura os seus interesses
- o amor não se exaspera
- o amor não se ressente do mal
- o amor não se alegra com a injustiça
- o amor regozija-se com a verdade
- o amor tudo sofre
- o amor tudo crê
- o amor tudo espera
- o amor tudo suporta.
P6gina 92
-
IGREJA LUTERANA
Observações e Reflexões Finais
As qualidades acima apontadas devem ser de TODOS OS CRISTÁOS.
Mas consideramos que o Iíder deve ser um "padrão". Se ele não é como
esperar dos outros? Como ser um Iíder responsável e digno de ser seguido
se não se preocupa em viver uma vida em conformidade com a vontade de
Deus?
É claro que estas qualidade são UM ALVO a ser perseguido. Não existe Iíder perfeito. Mas todo bom Iíder se esforça para ser cada vez mais e melhor.
O que poderia ser feito para que o Iíder atinja estas qualidades cada vez
mais?
Que outras qualidades o Iíder cristão deveria possuir?
II
29 ESTUDO:
O LIDER NEEMIAS
Este texto objetiva basicamente apontar para características de liderança encontradas na pessoa de Neemias. A partir das "pistas" aqui oferecidas, o pastor poderá COMPLEMENTAR os conceitos com outros textos bíblicos, APROFUNDAR o
estudo do livro e fazer as devidas APLICAÇÓES PRÁTICAS para o povo de Deus
de hoje.
Além disso, anotamos também, de uma forma geral e sucinta, elementos do livro de Neemias. E importante possibilitar, que se tenha uma visão geral do livro,
especialmente do seu contexto e seu conteúdo. Situar a pessoa de Neemias em
seu contexto histórico facilita a compreensão do conteúdo e, por extensão, da postura geral do Iíder Neemias.
1. O Livro de Neemias
1.1. Circunstâncias históricas
Na época dos cativeiros, por volta do 50 século a.C., milhares e milhares de
israelitas foram deportados para a Babilônia ou para outras cidades da Mesopgtâmia. Poucos restavam na terra natal, e a situação geral era desoladora.
Em Esdras encontramos o retorno de uma primeira leva de imigrantes, e em
Neemias, uma segunda. O objetivo era a reconstruçáo de Jerusalém (Esdras) e a
reconstrução do muro (Neemias).
IGREJA LUTERANA
- Página 93
1.2. A pessoa de Neemias
Servo fiel, trabalhava no palácio real de Artaxemes como copeiro. Neemias
continuava patriota fervoroso e crente convicto. Ao ouvir contar do estado de devastação em que se encontrava Jerusalém, ele se afligiu tanto que o rei o notou (2.2). E
certamente pelo magnífico testemunho de Neemias Deus moveu Artaxerxes para liberar a Neemias, dando-lhe, inclusive, autorizações reais e revestindo-o dos poderes
de governador. (Mais detalhes sobre Neemias mais adiante, no ponto 2.)
1.3. A mensagem do livro de Neemias
O livro é rico em instruçóes práticas para os cristãos. São lições sobre a
oração, a tenacidade, a confiança em Deus e sobre a liderança de um servo de
Deus, Neemias. O livro mostra os altos e baixos pelos quais um crente passa, e
como é importante entregar a Deus os caminhos a serem percorridos em função de
objetivos propostos.
1.4 Esboço detalhado do livro
1) A oração de Neemias sobre a aflição de Jerusalém (1.1-1 1)
2) A volta de Neemias a Jerusalém como governador (2.1-1 1)
3) Os planos para reedificar os muros da cidade (2.12-20)
4) 0 s edificadores do muro (3.1-22)
5) As ameaças à edificação (4.1 - 6.14)
6) O término dos muros (6.15 - 7.4)
7) O registro dos exilados que voltaram (7.5-73)
8) A leitura e exposição da Lei (8.1-18)
9) A oração de arrependimento e o pacto de obediência (9.1 - 10.39)
10) O registro dos habitantes (11.1 - 12.26)
11) A dedicação dos muros e os arranjos para a adoração (12.27-47)
12) A reforma de Neemias (13.1-31)
2. O Líder Neemias
2.1. O caráter do líder Neemias
a) Um homem de ORAÇAO Sua primeira reação ao ouvir da triste situação
de Jerusalém foi ORAR. Todo o livro está salpicado de orações curtas e espontâneas. Para Neemias, a oração não era um exercício para determinadas ocassiões,
mas UMA PARTE VITAL DO TRABALHO E DA VIDA DIÁRIA (ver: 1.4,6; 2.4; 4.4,9;
5.19; 6.24; 13.14,22,29).
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b) Um homem de CORAGEM - Disse Neemias: "Homem como eu FUGIRIA...?" (6.1 1). A sua demonstração de firmeza e coragem foi fundamental para
aumentar o moral de um povo bastante desanimado e desencorajado. Por todo o livro se nota manifestações da coragem de Neemias.
c) Um homem INTERESSADO - Interessado especialmente pelo bem-estar do povo. E um interesse tão óbvio que até seus inimigos o observaram (ver
2.10). Neemias IDENTIFICOU-SE com seu povo, em suas lágrimas, suas tristezas,
seus pecados, suas orações, suas alegrias (ver 1.4-6; 2.1 0; etc.).
d) Um homem de VISAO - Neemias planejou as coisas com muito cuidado. Por exemplo: antes de partir para Jerusalém, precaveu-se contra eventuais problemas de inimigos, solicitando "carta de apresentação" ao rei (ver 2.7-9). Outrossim, ao chegar em Jerusalém, não se lançou precipitadamente ao trabalho; fez antes um reconhecimento e avaliação da situação reinante. Prudente, manteve silêncio a respeito dos propósitos de sua vinda (ver 2.1 1-16).
- Neemias estava dispostos a OUVIR com muie) Um homem EMPÁTICO
ta simpatia os problemas e as reclamaçóes do povo, tomando as devidas providências (ver 4.1 0-12; 5.1-5).
f) Um homem IMPARCIAL - Neemias não fez discriminação de pessoas.
Nobres, dirigentes e povo recebiam censura quando merecido (ver, p. ex., 5.1-12).
g) Um homem RESPONSÁVEL - Em todo o livro se nota esta característica. Neemias, apesar dos problemas e das dificuldades, não fugiu; antes, cumpriu a
sua obrigação até a consecuçáo do sucesso dos objetivos propostos.
2.2. 0 s Métodos do líder Neenlias
a) ERGUEU O MORAL DE SEUS COMPANHEIROS - Estimulou-lhes a
fé. Dirigiu seus pensamentos para a grandeza e fidelidade de Deus. Dois exemplos: "O Deus dos céus é quem nos dará bom êxito" (2.20); "Alegria do Senhor é a
vossa força" (8.10). Além disso, também reacendeu a esperança e assegurou a cooperação do povo ao recontar fatos sobre "A BOA MÁO DE DEUS" e ao declarar a
sua confiança em Deus (ver, p. ex. 2.18).
b) TRATAVA IMEDIATAMENTE DAS CAUSAS POTENCIAIS DAS FRAQUEZAS - Dois casos típicos podem ser citados. 1" O povo estava desencorajado por cansaço e obstrução (4.10-16). O que fez Neemias? Dirigiu os pensamentos
do povo para Deus, providenciou que estivessem adequadamente armados, reagrupou-os e posicionou-se estratégicamente, fortificou os laços familiares, ordenou que
a metade trabalhasse e a outra metade defendesse e descansasse; 2°) O povo estava desiludido por causa da ambição e usura da parte dos seus irmãos ricos (5.1-5).
Neemias ouviu atentamente as reclamações e admoestou os nobres (5.6-11). Os
resultados foram positivos (5.12).
IGREJA LUTERANA
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C ) RESTAUROU A CENTRALIDADE DE DEUS NA VIDA E NO CULTO - De fato, Neemias procurou voltar o povo para Deus com freqüência. A base
para a eficácia das ações e as reformas estava na restauração da palavra de Deus
(ver 8.1-13,31).
d) PREOCUPOU-SE EM DESENVOLVER UMA AÇAO ORGANIZADA Antes de traçar planos, avaliou a situação geral (2.11-16). Levantou a disponibilidade de mão-de-obra. Delegou responsabilidades (7.2). Exigia "padrões" para os subordinados escolhidos (7.2). Estabeleceu grupo de trabalho. Não negligenciou o de
sagradável trabalho burocrático. Reconheceu adequadamente o trabalho dos líderes
subalternos.
e) FORMOU ATITUDES FIRMES CONTRA AS "OPOSIÇÕEY - Contra
insultos, insinuações, infiltração, intimidação e intrigas. Dirigiu firme e constante o
povo em meio à torrentes agitadas.
f) TRABALHAVA VOLTADO PARA DEUS - O grande recurso foi a oração:
"Pois nós oramos ao nosso Deus" (4.9).
O TESTE FINAL da liderança positiva resulta na consecução bem sucedida
dos seus objetivos. E qual foi o resultado da liderança de Neemias, em função do
çeu objetivo? "ACABOU-SE, POIS, O MURO" (6.15)!
Obs.: Certamente outras características do caráter e dos métodos de Neemias podem ser encontradas. Seria útil encontrá-las e analisá-las.
Sugestões de "Temas":
A boa mão de Deus está con~igo(38)
Disponhamo-nos, e edifiquenios (218)
Deus nos darA êxito (3.20)
Porém nós oramos ao nosso Deus (4.9)
Lembrai-vos do Senhor (4.14)
Lembra-te de mim (para meu bem), d meu Deus (5.19)
0
Ó Deus, fortalece as minhas mãos (6.9)
A alegria do Senhor é a vossa força (8.10)
Bendize; ao Senhor vosso Deus (9.50.
Rev. Dieter J. Jagnow
Pastor e m S. J. Pinhais, PR
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