MISSÃO IMPOSSÍVEL:
AMENDOEIRA
ESTUDO 1
Visão geral do livro de Jeremias
Se você correu com homens e eles o cansaram,
como poderá competir com cavalos?
Se você tropeça em terreno seguro,
o que fará nos matagais junto ao Jordão?
(Jr 12:5)
As palavras de Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes de Anatote, no
território de Benjamim. A palavra do Senhor veio a ele ...
(Jr 1:1-2)
Introdução
Jeremias nasceu no povoado de Anatote, atualmente Anata. Este povoado distante 4,5
km a nordeste de Jerusalém pertencia à tribo de Benjamin entre 650 e 640 a.C.. Jeremias era filho do sacerdote Hilquias, da casa de Eli. O significado do seu nome é incerto. Há duas possibilidades. Yirmeyâhû (Jeremias em hebraico) quer dizer “Javé ou o Senhor exalta” ou “Javé ou o
Senhor é sublime (no sentido de fazer nascer)”. Este nome era bastante comum nos tempos bíblicos. Há grande possibilidade de que em sua educação, Jeremias tivesse recebido os ensinamentos
do profeta Oséias.
Oséias e Jeremias foram os profetas mais radicais de todo o Israel, pois foram os que
mais perto chegaram de uma compreensão profunda das causas da opressão que o povo de Israel
vivia naquele tempo. Ambos entendiam a corrupção, a opressão e o despotismo generalizado,
exatamente onde o judaísmo caducara e se oficializara (sendo assim fora neutralizado por práticas institucionais da máquina estatal). O processo que faz Israel não “conhecer a Deus” é sintomático, como em Os 4:1-3; Jr 2:8; 4:22 e a interessantíssima crítica ao rei Joaquim (609-598
a.C.) em Jr 22:13-19.
É possível que Jeremias tenha começado a profetizar em Anatote, mas foi perseguido.
Tentaram matá-lo em sua própria terra, segundo Jr 11:18-12:6. Não se conhece o motivo desse
complô armado contra Jeremias por seus conterrâneos (Jr 11:21) e até por seus familiares (Jr
12:6). Talvez por ter apoiado a reforma do rei Josias, pois a ele foram atribuídas a destruição dos
santuários regionais e a centralização das atividades cultuais em Jerusalém, o que possivelmente
prejudicou os interesses de sua família de sacerdotes. Ou, quem sabe, o duro teor de sua crítica
social e religiosa tenha provocado tão violenta reação.
Por boa parte de sua vida Jeremias incomodou muita gente, assim muitos tentaram calar
a sua boca. Jeremias atuou cerca de 50 anos, de 627 a 580 a.C., sob os governos de Josias (640609 a.C.), Jeoacaz (609), Jeoaquim (609-598 a.C.), Joaquim (597) e Zedequias (597-586 a.C.),
assim como no período do exílio (586-cerca de 580 a.C.). Assim, costuma-se dividir, didatica-
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Estudo 1
mente, sua atuação segundo estes períodos.
Outro texto bastante interessante é Jr 31:31-34, que faz uma contraposição entre a antiga aliança, feita após o êxodo, e a nova aliança, a ser feita no futuro. Enquanto a antiga aliança
precisava de intermediários, a nova não precisará, pois a lei será colocada no íntimo (= coração,
seio) do povo de Israel. Se a antiga aliança foi rompida pelos pais de Israel, a nova não o será
jamais, porque haverá perfeita sintonia entre Deus e Israel. O objetivo desta nova aliança: conhecer a Deus. É um tema que explicam muitas das atitudes e palavras de Jeremias.
Jeremias chegou mais perto do que ninguém da compreensão do verdadeiro problema
de Israel de sua época, que era a estrutura do Estado. Sua rejeição a instituições como o templo e
seu aparelho cultual ou a corte e sua administração é, na verdade, a denúncia dos aparelhos do
Estado como “contrários a Deus” e perniciosos para o povo naquele contexto.
Conhecendo o livro
Há quatro tipos de textos no livro de Jeremias:
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
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Oráculos em forma de poesia, como Jr 4:5 – 6:30;
Relatos autobiográficos, como Jr 1:4-19;
Relatos biográficos, como Jr 26:1-24;
Discursos em prosa, como Jr 7:1-8.
Ao se convencionar unir em um só os dois primeiros tipos, quase totalmente em forma
poética, há a possibilidade de se classificar os textos em três tipos:



Palavras de Jeremias em verso e relatos autobiográficos em verso e prosa;
Relatos biográficos na terceira pessoa sobre Jeremias, atribuídos por muitos a
Baruque, seu secretário;
Discursos em prosa de autoria incerta, em número de dez. Muitos os atribuem
aos mesmos autores de Josué, Juízes, 1-2 Samuel e 1-2 Reis, a chamada Obra
Histórica de Deuteronômio (OHD), composta por levitas.
Estudando o livro
A)
Qual a crítica profética que Jeremias tinha em relação às instituições de seu tempo e ao
comportamento do povo de Deus?
1) Nem tudo que está no livro pode ser atribuído ao profeta Jeremias?
Exatamente. O livro de Jeremias passou por um longo e complicado processo de formação. Oráculos isolados (que são palavras proféticas) foram sendo reunidos ao longo dos anos, de
modo que temos hoje uma antologia da pregação de Jeremias, e não um livro no sentido moderno.
Ou melhor: temos uma antologia de antologias, em um processo que começou ainda du-
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Estudo 1
rante a vida de Jeremias e prosseguiu ao longo da época pós-exílica.
A versão grega bíblica, a Septuaginta, tem um texto de Jeremias bem mais curto do que
o texto hebraico massorético. O texto em hebraico coloca vários oráculos em outra ordem. Isso é
explicado, em geral, com a existência de dois textos independentes de Jeremias: um mais antigo
e mais curto, que se perdeu, e que serviu de base para a tradução da Septuaginta; outro, mais
recente, que recolheu vários acréscimos, e que nos foi transmitido pelos massoretas (os rabinos
"transmissores" do texto hebraico).
2) O que fez Jeremias no tempo de Josias?
No tempo de Josias, primeiro período de sua atuação, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel por causa de sua infidelidade a Deus e sua adesão a outros deuses, especialmente aos deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalins. Os comentaristas
reconhecem como sendo deste período os textos de Jr 2:1-4:4 e Jr 30:1-31:37.
3) Que texto exemplifica bem a sua pregação neste período?
O texto de Jr 2:1-37. É um texto escrito em um gênero literário muito usado pelos profetas: o processo. Este gênero funciona assim: parte-se do pressuposto de uma aliança entre as duas
partes em questão, Deus e Israel. Deus abre, então, através do profeta, um processo legal contra
Israel, motivado por sua quebra do pacto. Como parte ofendida, Deus convoca a natureza como
testemunha, questiona o comportamento de Israel, relembra os benefícios passados e ameaça
com uma punição. Neste texto rico em imagens, à moda de Oséias, Jeremias relembra com nostalgia a fidelidade dos primeiros tempos e a contrapõe à infidelidade atual, pois Israel trocou
Deus pelos ídolos que nada valem e não podem socorrê-lo na hora do aperto.
4) O que pensava Jeremias sobre a reforma de Josias?
Esta é a coisa mais estranha desta fase da pregação de Jeremias: ele não faz nenhuma
alusão à reforma social e religiosa empreendida pelo rei Josias naqueles anos (2 Rs 22:1-23:27).
É possível que, embora visse com muita expectativa a ação do governo, ele tenha se decepcionado com os escassos resultados de um movimento imposto de cima para baixo, pela força das armas. Assim, teria preferido manter prudente silêncio a respeito.
5) O que fez Jeremias no tempo do rei Jeoaquim?
Quando Jeoaquim, com 25 anos de idade, assumiu o governo de Judá a mando do Faraó
do Egito em 609 a.C., Jeremias rompeu de vez com as instituições do Estado. Jeremias tornouse, então, um ferrenho adversário da classe sacerdotal de Jerusalém. Isto aconteceu porque, sob
os desmandos do governo de Jeoaquim, a reforma do rei Josias se perdeu totalmente. Restou
apenas um culto superestimado como garantia da nação, consequência da centralização de todas
as atividades religiosas no Templo de Jerusalém e na mão de seus sacerdotes. Culto que agora
era usado para mascarar os males sociais e os crimes contra o povo.
6) O que fez Jeremias em sua 1ª intervenção na época de Jeoaquim?
Um violento discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: Jr 7:1-15 e
Jr 26:1-24. O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso. Entre 609 e
608 a.C., talvez durante uma festa, Jeremias colocou-se no pátio do templo e denunciou como
falsa a confiança da população no Templo de Deus e prometeu a destruição do santuário.
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Estudo 1
A morte de Josias em combate contra o Faraó, o curto governo de seu filho Jeoacaz (3
meses), seu exílio, a dependência do Egito: tudo isso criara um clima de incerteza e insegurança
geral. O que faz o povo? Refugia-se na crença de que a presença de Deus no Templo garante a
cidade e a sua liberdade. Jeremias denuncia esta crença porque, segundo ele, só a aliança de
Deus com Israel poderia garantir o povo. Mas esta não funcionava, pois nos tribunais não se praticava o direito, oprimia-se o estrangeiro residente, o órfão e a viúva, condenava-se o inocente e,
além disso, seguiam-se deuses estrangeiros.
7) O que disse Jeremias sobre o governo de Jeoaquim?
Jeremias denuncia o governo de Jeoaquim como ganancioso, assassino e violento, segundo Jr 22:13-19, um dos mais duros oráculos proféticos já pronunciados contra um rei. Jeremias compara Jeoaquim ao seu pai Josias e denuncia o rei como “contrário a Deus”, pois não
cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos. No começo
de seu governo, Jeoaquim preocupa-se em construir um novo palácio – ou um anexo ao antigo –
exatamente no momento em que a crise econômica se agravava. Dependente do Egito, a quem
pagava tributo, colocou a população para trabalhar de graça na construção. Jeremias vai dizer ao
rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado
para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Jeoaquim “não conhece a
Deus”.
B)
Como foi a reação do povo à crítica profética de Jeremias?
1) O que aconteceu com Jeremias?
Conta-nos Jr 26:1-24 que Jeremias quase morreu por fazer tal denúncia. Aos olhos do
pessoal do Templo, como os sacerdotes e os profetas, Jeremias cometera duas blasfêmias: falara
em nome de Deus e falara contra a casa de Deus. Perante o tribunal a que é levado, ele, porém,
confirma suas palavras e só não morre porque alguém se lembrou do profeta Miquéias que, um
século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada sofrera.
2) O que mais ameaça Judá neste momento?
Jr 4:5-6:30 e Jr 8:13-17 falam de um “inimigo que vem do norte”. Embora haja várias
possibilidades de identificação desse inimigo, Jeremias deve estar falando de Nabucodonosor, o
rei babilônico, que invade regiões da Palestina em 605/604 a.C., trazendo o terror da guerra para
as fronteiras de Judá. Muitos dos versos de Jeremias, nestes poemas, são de uma dramaticidade
impressionante. Por exemplo, leia Jr 5:15-17, sobre a nação que vem de longe para atacar Judá:
nação antiga, nação duradoura, cujos homens são heróis. Nação que devorará os filhos, os animais e todo o alimento de Judá, destruindo pela espada suas fortalezas. Segundo Jeremias, é
Deus quem aplicará a Judá tal castigo.
3) Mas o que motiva castigo tão cruel a Judá?
A ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só vê rebeldia contra Deus, levando o povo a
maldades e crimes sem conta. Não há o mínimo “conhecimento de Deus”, que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos tramam sistematicamente
contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz. A mentira domina desde
o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimi-
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Estudo 1
gos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico (Jr 8 e 9).
Percorrendo as ruas de Jerusalém, Jeremias constata a ausência do direito e da verdade
entre as pessoas comuns (Jr 5:1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos,
que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (Jr 5:4-5).
Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: “Eles cuidam da
ferida do meu povo superficialmente, dizendo: „Paz! Paz!‟, quando não há paz”, diz Jr 6:14. Com
extremo realismo – válido para todas as épocas – em Jr 5:26-28 são descritos os poderosos e suas
armadilhas de apanhar o povo e escravizá-lo impunemente.
4) Por que Jeremias foi proibido de entrar no Templo?
Porque, segundo Jr 19:14-20:6, possivelmente por volta de 605 a.C., quando Nabucodonosor venceu o Faraó Neco II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a
destruição de Jerusalém. Acabou preso por Pasur, presidente na Casa do Senhor, e foi surrado e
colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida a entrada no Templo, segundo
Jr 36:5.
5) O que faz Jeremias sem poder ir até o povo?
Ele convoca o escriba Baruque, e lhe dita os oráculos de julgamento contra a nação. Este episódio da primeira escrita do livro, narrado em Jr 36:1-32, aconteceu no quarto ano do governo de Jeoaquim, em 605 a.C. No ano seguinte, em 604 a.C. Jeremias manda Baruque ler o
livro no Templo. O momento é dramático: Nabucodonosor atacava a cidade filisteia de Ascalom,
vizinha de Judá. Por isso, talvez, Jeremias tenha acreditado ter soado a hora da verdade para Judá. O “inimigo do norte” está às portas. Ou conversão ou destruição, alerta o profeta.
6) O que fez Jeoaquim ao tomar conhecimento do manuscrito?
Queimou-o e mandou prender Jeremias e Baruque, segundo Jr 36: 21-26. A leitura feita
por Baruque no Templo foi ouvida por membros do governo de Jeoaquim que não apoiavam as
atitudes do rei. Na esperança de convencer o rei a mudar sua política, eles levaram o manuscrito
até Jeoaquim, que o ouviu mas não se convenceu, ordenando a destruição do manuscrito. Jeremias e Baruque, bem escondidos, não foram achados. Após algum tempo, Jeremias, que não é de
desistir, manda que Baruque escreva tudo de novo e ainda acrescente ao livro outras palavras, diz
Jr 36:27-32.
7) Todos os profetas da época pensavam como Jeremias?
De modo algum. Acreditam alguns especialistas que talvez o fato mais desorientador
para Jeremias nesta época era a análise errada da situação feita por pessoas que se apresentavam
para falar em nome de Deus como seus profetas. Por isso, em Jr 14:13-16 e Jr 23:13-40 podemos
ver como Jeremias luta para desmascarar os falsos profetas que, falando em seu próprio interesse, “fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade”, que seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Javé. Jeremias conclui que dos profetas de Jerusalém saiu a impiedade para todo o país.
C)
Como Jeremias superou sua crise pessoal diante da reação do povo?
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Estudo 1
Esta reação hostil do povo e dos próprios religiosos de sua época levou Jeremias a viver
em constante crise sobre seu ministério. Ele questionou várias vezes sua missão impossível, e
acabou registrando algumas destas queixas em textos que ficaram conhecidos como “as confissões de Jeremias”.
1) Qual o significado das "confissões" de Jeremias?
Mais do que confissões, deveríamos falar aqui de diálogos com Deus, lamentos, orações, disputas. Foi durante este período de sua vida, durante o governo de Jeoaquim, que Jeremias mais sentiu o peso de sua missão. Obrigado a ser do contra, a pregar a desgraça para o seu
povo, a remar contra a corrente, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado, ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu. São textos difíceis de serem datados com precisão. É possível que tenham sido escritos em 605 a.C. como um desabafo, não como oráculos
previamente ditos ao povo. Talvez possam ser lidos como uma síntese das crises vividas pelo
profeta desde o começo de sua atividade.
São cinco textos:
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1ª confissão: Jr 11:18-12:6;
2ª confissão: Jr 15:10-21;
3ª confissão: Jr 17:14-18;
4ª confissão: Jr 18:18-23;
5ª confissão: Jr 20:7-10:14-18.
2) O que diz Jeremias em cada uma das cinco "confissões"?
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1ª confissão: seus conterrâneos e familiares tentam matá-lo em Anatote, quando
jovem. Mas Jeremias amplia o problema, questionando porque persiste a prosperidade dos ímpios e a paz dos apóstatas, daqueles que vivem falando em Deus,
mas na verdade estão muito longe dele, daqueles que têm uma fachada de piedade, mas não estão de fato com Deus. E Jeremias conclui que este é um problema
para o qual ele não tem resposta...
2ª confissão: a questão colocada por Jeremias é se vale a pena ser profeta. Jeremias reafirma estar vivendo a suprema tentação profética, que é a vontade de se
acomodar, de desistir, de aceitar a cooptação, de “ser normal”, de passar para o
lado daqueles a quem ele critica para sair da solidão a que é obrigado a viver.
3ª confissão: Jeremias apela a Deus contra os seus perseguidores que lhe cobram
a realização da palavra de Javé por ele pregada e o profeta não sabe mais o que
fazer. Jeremias se sente desacreditado perante seus ouvintes, porque as desgraças prometidas não acontecem. Vive duramente pressionado.
4ª confissão: Jeremias denuncia nova trama contra a sua vida. Seus adversários
argumentam que podem tranquilamente eliminá-lo, já que sacerdotes, sábios e
profetas (ligados aos interesses da corte) não lhes faltarão. Com tristeza o profeta constata: estes que querem eliminá-lo são os mesmos a quem ele tantas vezes
defendeu diante de Deus...
5ª confissão: a mais dramática e a mais conhecida de todas. Usando fortes imagens, Jeremias chega ao máximo de sua angústia. Acredita que Deus o enganou:
o seduziu para ser profeta e o dominou, para depois abandoná-lo. Agora todos
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Estudo 1
querem sua queda, inclusive seus amigos. Por isso, ele quer parar de ser profeta,
mas o problema é que não consegue, pois as palavras de Deus queimam-no como fogo. Fogo que atinge até os ossos. Então, Jeremias amaldiçoa o dia em que
nasceu: “Maldito o dia em que eu nasci! (...) Maldito o homem que deu a meu
pai a boa nova: „Nasceu-te um filho homem!‟ (...) porque ele não me matou desde o seio materno, para que minha mãe fosse para mim o meu sepulcro e suas
entranhas estivessem grávidas para sempre. Por que saí do seio materno para ver
trabalhos e penas e terminar os meus dias na vergonha?”
D)
Como termina esta história?
1) E o que aconteceu com o rei Jeoaquim?
Em 600 a.C., Nabucodonosor tentou invadir o Egito e não conseguiu. Jeoaquim se rebelou e morreu em 598 a.C., provavelmente assassinado, enquanto os babilônios marchavam para
tomar Jerusalém. Seu filho Joaquin, de 18 anos de idade, o substituiu, mas foi capturado três
meses depois, em 597 a.C. O rei foi deportado para a Babilônia com a corte e a classe dirigente. No seu lugar, os babilônios deixaram seu tio, outro filho de Josias, de nome Zedequias, então
com 21 anos de idade, para dirigir uma Judá toda arruinada. Com várias cidades destruídas e
com a economia do país desorganizada, pouco restava ao fraco Zedequias que pudesse ser feito.
2) O que fez Jeremias neste 3º período, sob o governo de Zedequias?
Jeremias começa criticando as pretensões do novo governo através da visão dos dois
cestos de figos de Jr 24:1-10. Segundo o profeta, os exilados correspondem a figos bons, enquanto o atual governo se parece com figos estragados. É possível que o novo governo instalado no
poder sob Zedequias se afirmasse como a solução para o país, já que os “maus”, os governantes
anteriores, tinham sido exilados pagando por seus crimes. Jeremias é de opinião contrária. Para
ele, o problema continua. Nada fora resolvido e a sombra do Templo não garantirá ninguém.
3) Jeremias escreveu uma carta aos exilados?
Sim. Ainda nos primeiros anos do governo de Zedequias, Jeremias escreveu aos exilados de 597 a.C., segundo Jr 29:1-23. Ele tenta desfazer as ilusões alimentadas por falsos profetas
de que o exílio estava para acabar, por causa de convulsões sociais acontecidas no império babilônico. Segundo Jeremias, os exilados devem aprender a viver tranquilamente entre os babilônios, pois o exílio será longo.
4) O que pensa Jeremias de uma rebelião contra a Babilônia?
Em Jr 27:1-22 e Jr 28:1-17 ele se opõe radicalmente a tal aventura, que era incitada em
Jerusalém pelos pequenos reinos da Síria-Palestina que se encontravam na mesma situação de
Judá. Colocando um jugo sobre o próprio pescoço, Jeremias simboliza o domínio babilônico a
que estavam submetidos (Jr 27:2-3). O profeta Hananias, ao quebrar o jugo de Jeremias, simbolicamente prega a necessidade da rebelião e a libertação fácil. Confrontando-se com ele, Jeremias
consegue convencer o governo a se manter quieto.
5) O que disse Jeremias a Zedequias quando Jerusalém foi sitiada?
Quando Jerusalém foi cercada pelas tropas babilônicas em janeiro de 587 a.C., Jeremias
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Estudo 1
disse ao rei Zedequias que a vitória de Nabucodonosor era inevitável, pois Deus entregara a cidade nas mãos do inimigo, já que não houve conversão (Jr 34:1-7).
6) Por que Jeremias foi preso nesta época?
Porque, segundo Jr 37:11-16, ele tentou sair da cidade para ir a Anatote tomar posse de
um campo que comprara de um primo. Como o Egito enviara um exército para ajudar Jerusalém,
os babilônios tinham levantado temporariamente o cerco da cidade para enfrentar os egípcios. É
nesta ocasião que Jeremias é acusado por oficiais do exército de passar para o lado dos babilônios. Por isso ele foi preso e jogado numa cisterna de captação de água, onde quase morre. Já
segundo Jr 38:1-13, Jeremias é preso, acusado de traição pelos nobres, ministros de Zedequias,
porque estaria exortando o povo à rendição. É provável que tenhamos aqui dois relatos diferentes
do mesmo episódio.
7) Como foi o 4º período da atuação de Jeremias?
Após a queda de Jerusalém em 586 a.C., assistimos ao crepúsculo do profeta. Deixado
livre pelos babilônios, Jeremias escolheu ficar junto ao resto do povo pobre que ficou no país.
Jeremias certamente alimenta ainda a esperança de “construir e plantar”, como conta o texto que
fala de sua vocação em Jr 1:10. Por volta de outubro de 586 a.C., a situação em Judá se complicou rapidamente quando um príncipe da linhagem de Davi chamado Ismael, que escapara para
Amon, voltou e assassinou o governador Gedalias (Jr 41:1-18). Os sobreviventes fogem para o
Egito, temendo uma represália babilônica (Jr 42:1-43:7) e carregam consigo Jeremias.
Conclusão
Constantemente fortalecido por Deus, Jeremias seguiu adiante em sua missão. Mas seu
nome e ministério só foram vindicados completamente após sua morte, quando Deus trouxe o
povo de volta do exílio e eles perceberam que tudo o que Jeremias disse havia se cumprido. Afinal, é Deus quem vela pela sua palavra para a cumprir!
Para o próximo estudo
Estude, por favor, Jr 1:4-19 e os capítulos 2 a 4 do livro “Ânimo”.
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