PRODUTIVIDADE REGIONAL COMPARADA: CINCO PAÍSES DO MERCOSUL E DO
NAFTA
2
INTRODUÇÃO
2
1. PIB, POPULAÇÃO E PESSOAL OCUPADO
4
2. EVOLUÇÃO DO PIB PER CAPITA
7
3. EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
8
4. COMPARAÇÃO DAS TAXAS DE PARTICIPAÇÃO
11
5. CAUSAS DO CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA
12
CONCLUSÃO
15
REFERÊNCIAS
16
1
PRODUTIVIDADE REGIONAL COMPARADA: CINCO PAÍSES DO MERCOSUL E DO
NAFTA
DUILIO DE AVILA BÊRNI1
JOSÉ ANTONIO FIALHO ALONSO2
RESUMO
Utilizando os dados do PIB avaliado em dólares americanos corrigidos pela paridade do poder de compra
e normalizando os resultados para o crescimento real da economia brasileira, o presente trabalho estudou
a evolução da produtividade da Argentina, Brasil, Canadá, Estados Unidos e México no que diz respeito
ao período 1950-2001. Examinando o dinamismo do PIB e do PIB per capita, buscou-se comparar as
taxas de participação do emprego na população total desses cinco países e a forma como estas contribuem
para explicar os diferenciais de renda per capita. Além do exame das trajetórias das variáveis individuais
para cada país, promoveu-se a anamorfose logarítmica da decomposição da renda per capita no
componente produtividade do trabalho e no componente taxa de participação. Há algumas constatações
importantes: ao se considerar a paridade do poder de compra, o PIB do Brasil e do México foram os mais
dinâmicos do período, sendo que o do Brasil mantém-se superior em cerca de 25% ao mexicano. A
Argentina viveu, em todo o período, um processo de perda de posição relativa, mantendo apenas algum
diferencial de renda per capita e de produtividade com relação às demais economias latino-americanas,
mas perdendo posição relativa mesmo nestas variáveis. As economias dos Estados Unidos e Canadá
mantiveram suas posições de líderes em termos de renda per capita e produtividade do trabalho, mas o
Canadá cedeu a segunda posição em termos absolutos de tamanho do PIB para as economias, mais
dinâmicas, do Brasil e do México.
INTRODUÇÃO
Qualquer que seja a perspectiva de observação da integração americana, as dinâmicas das criações de
blocos comerciais parecem tornar-se a tônica das estratégias comerciais mundiais, podendo-se cogitar de
que o futuro econômico do planeta aponta para as sucessivas integrações de diferentes conjuntos de
países. No devido tempo, caso esta tendência se mantenha e amplie, pode-se cogitar da consolidação da
economia globalizada, atingindo o cotidiano de praticamente todos os grupos culturais humanos então
existentes. No presente, a chamada Tríade, capitaneada pela União Européia, Estados Unidos e Nova Ásia
apresenta uma evolução errática em termos de sua própria integração, uma vez que aspectos geopolíticos
e até militares tomam, muitas vezes, a dianteira relativamente ao estrito funcionamento da oferta e da
procura.
1 Do Programa de Pós-Graduação em Economia da PUCRS. E-mail: [email protected]
2 Da Fundação de Economia e Estatística. E-mail: [email protected]
2
Ao se perceberem as possibilidades de integração com maior ou menor cooperação ou competição, tornase importante que se conheça um conjunto básico de relações econômicas cuja importância é enfatizada
pela modelagem resultante da teoria econômica disponível. Entre as diversas facetas a serem isoladas,
pode-se pensar em examinar a evolução da produtividade dos países acima listados, pois eles respondem
pela maior parte das dimensões econômicas das duas áreas de integração econômica das Américas. No
caso da América do Norte, os três países estão contemplados, permitindo-se examinar – sob o ponto de
vista estritamente quantitativo – os benefícios e custos recíprocos da integração capturados pela
produtividade do trabalho e pelo dinamismo relativo das diferentes economias. No caso dos irmãos
Argentina-Brasil, seu tamanho relativo no que diz respeito aos demais parceiros do Mercosul permite que
se confunda a movimentação temporal de seu PIB com a de todo o bloco que também insere o Paraguai e
o Uruguai.
Claramente, a seleção da variável produtividade do trabalho como elemento central de explicação para a
integração das economias nacionais num ambiente de crescimento parte da constatação de que a chave do
crescimento econômico reside precisamente na elevação da produtividade dos recursos sociais: produzir
mais com os mesmos recursos ou produzir o mesmo com menos recursos. No primeiro caso, a economia
que alcança estes ganhos de eficiência poderá dirigir-se a novos mercados, ofuscando os crescentes custos
de transportes com os ganhos de eficiência de curto e longo prazo resultantes de novas formas de
organização do trabalho e gestão global da produção local. No segundo, a liberação de parte destes
recursos para a utilização em fins alternativos permite ampliar o leque de produtos ofertados. Uma vez
que processos bem-sucedidos de acumulação de capital têm sido associados a estruturas sociais de
acumulação propícias aos ganhos de produtividade (Bowles, Gintis & Weiskopf, 1990), a eleição de
benck-marks internacionais permite que se obtenham algumas lições para o funcionamento e mudança das
economias locais, entendidas agora como mais amplas do que apenas a economia nacional e do Mercosul,
particularmente, contemplando as unidades menores do Paraguai e do Uruguai.
Tendo em mente que as questões locais fogem ao escopo da elaboração empírica do presente trabalho,
procura-se examinar os dados das economias nacionais dos países selecionados. Busca-se tratá-los como
partes de um todo integrado pelo comércio internacional, pensando que algumas observações relativas às
variáveis selecionadas poderiam contribuir para aprofundar o diagnóstico da economia gaúcha ??? em
termos de suas forças e fraquezas internas. Neste sentido, torna-se importante confrontá-las com as
oportunidades e ameaças antepostas pelas economias nacionais em crescente fase de integração que lhes
surgem no caminho. Tais confrontos manifestam-se nos movimentos de vaivém nas negociações para
expandir a integração econômica de todo o continente.
Resumindo, o objetivo do presente trabalho consiste em examinar a evolução da produtividade do
trabalho desses cinco países, agrupá-los em algumas formas alternativas e observar os movimentos
3
propiciadores de maior ou menor dinamismo econômico. A fim de alcançá-los, o trabalho está organizado
em mais cinco seções, seguidas da tradicional Conclusão, na qual se procura retomar a proposta de busca
de lições para o encaminhamento de sugestões de adoção de medidas de política econômica. Na primeira
seção, procede-se a algumas comparações entre as magnitudes do PIB, população e ocupação desses
países, agrupando-os em dois tipo de regiões. Em seguida, insere-se precipuamente na análise a variável
demográfica, determinando o PIB per capita dos diferentes países e comentando algumas relações entre
eles. Na seção 3, examina-se diretamente a produtividade do trabalho entre as cinco economias, usando,
além do conceito tradicional, a abordagem da produtividade nacional relativa. Na seção subseqüente,
estuda-se a taxa de participação do emprego sobre a população total, para concluir esta parte analítica
considerando as causas das taxas de crescimento do PIB per capita.
1. PIB, POPULAÇÃO E PESSOAL OCUPADO
A Tabela 1 mostra as dimensões relativas dos cinco países selecionados para o exame da produtividade
do trabalho ao longo dos últimos 52 anos. Ela exibe os números absolutos em dólares americanos (a
preços correntes) corrigidos pela paridade do poder de compra correspondente à metodologia de Geary &
Khamis e taxas de crescimento para os demais países. Cabe notar que os postos de trabalho assinalados
não correspondem integralmente ao conceito de emprego, pois também contemplam o trabalho nãoremunerado que – possivelmente – é maior para os países latino-americanos relativamente ao Canadá e
Estados Unidos.
Observa-se, em primeiro lugar, que a economia dos Estados Unidos já em 1950 era dominante, tanto em
termos de PIB quanto das variáveis demográficas assinaladas. O Canadá superava, em termos de PIB, os
países latino-americanos, sendo ultrapassado pelo Brasil já na década seguinte, feito logrado pelo México
apenas nos anos 1990s. Destaca-se o desempenho medíocre da economia argentina, quando ladeado aos
desempenhos dos demais países, inclusive os Estados Unidos. Por seu turno, os desempenhos das
economias mexicana e brasileira foram equivalentes, mantendo-se uma relação de três quartos entre os
tamanhos de seus PIBs, ao passo que o crescimento populacional do Brasil foi ligeiramente menor do que
o mexicano, associando-se a um desempenho do emprego ligeiramente mais favorável ao país sulamericano. No caso destes dois países, vê-se que a chamada Década Perdida do Brasil também teve
correspondência na economia mexicana, sendo que o México passou a ter um desempenho superior ao
brasileiro, em termos de PIB apenas após a implementação do NAFTA, mas somente até 2000.
4
Tabela 1 - PIB, População, Postos de Trabalho e Taxas de Crescimentos Anuais de países selecionados,
1950/2001.
Variáveis Selecionadas Argentina Brasil Canadá E.U.A
1950
PIB (US$ milhões)
102.449 107.023 124.875 1.748.238
População (mil)
17.150
53.443 13.737 152.271
Emprego (mil)
6.821
17.657 4.983
61.651
1950/60
PIB % a a
2,97
6,48
4,58
3,46
População % a a
1,84
2,94
2,63
1,71
Emprego % a a
1,41
2,74
1,95
0,86
1960/70
PIB % a a
4,32
5,74
5,07
4,18
População % a a
1,50
2,89
1,75
1,27
Emprego % a a
1,53
2,51
2,74
1,81
1970/80
PIB % a a
2,90
8,13
4,26
3,22
População % a a
1,64
2,51
1,44
1,05
Emprego % a a
0,98
3,81
3,21
2,14
1980/90
PIB % a a
-0,91
1,53
2,80
3,21
População % a a
1,45
2,06
1,19
0,93
Emprego % a a
1,72
2,67
1,79
1,81
1990/95
PIB % a a
2,80
1,35
0,85
1,19
População % a a
0,66
0,77
0,58
0,51
Emprego % a a
0,57
0,82
0,24
0,50
1995/2000
PIB % a a
1,28
1,06
1,97
2,00
População % a a
0,62
0,67
0,53
0,50
Emprego % a a
0,66
0,84
1,11
0,80
2000/01
PIB % a a
-0,45
0,15
0,14
0,03
População % a a
0,11
0,12
0,10
0,09
Emprego % a a
0,23
0,13
0,11
-0,01
1950/2001
PIB % a a
2,52
4,76
3,86
3,39
População % a a
1,54
2,34
1,61
1,19
Emprego % a a
1,39
2,65
2,18
1,55
2001
PIB (US$ milhões)
364.124 1.148.611 860.598 9.582.498
População (mil)
37.525 176.558 31.250 279.290
Emprego (mil)
13.803
67.065 14.997 135.073
Fonte: http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
México
80.700
28.485
8.766
6,09
3,03
1,92
6,48
3,13
2,52
6,60
2,64
3,73
1,81
2,10
2,41
0,76
0,96
1,48
2,68
0,86
1,15
-0,03
0,15
0,05
4,77
2,53
2,60
867.728
103.250
32.507
A Figura 1 mostra a evolução dos números relativos do PIB dos cinco países. Descontando-se a questão
dos tamanhos relativos, o que se observa é forte tendência de convergência das rendas totais entre o Brasil
e o México e mesmo o Canadá e os Estados Unidos, uma vez que os PIBs totais destes últimos evoluíram
a taxas mais acelerada. O contraste fica por conta da economia argentina, que não pôde seguir a tendência
5
dos demais países latino-americanos. A figura deixa manifestas algumas movimentações nas taxas de
crescimento do PIB ao longo de todo o período.
PIB
Figura 1 - Índice de valor do PIB nominal (PPC)
dos cinco países, 1950/2001
1.200,0
1.000,0
800,0
600,0
400,0
200,0
0,0
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
Tempo
Argentina
Brasil
Canadá
E. U. A
México
Fonte: http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
PPC – Paridade do Poder de Compra
Vê-se, em primeiro lugar, que o crescimento das economias maduras do Canadá e dos Estados Unidos
apresenta magnitudes menos erráticas do que os demais países. Em particular, a Argentina acompanhou a
tendência da economia canadense até o final dos anos 70, quando perdeu ritmo, chegando a exibir taxas
negativas nos últimos anos do período. O Brasil e o México mostraram uma evolução do PIB a taxas
aceleradas até o início dos anos 1980s, quando vivenciaram quedas expressivas. A partir de então seu
crescimento mostra-se mais errático do que o dos países desenvolvidos. Em que pese a economia
mexicana manter a razão de três quartos do tamanho da brasileira, suas taxas de crescimento concernentes
aos 53 anos examinados mostram-se equivalentes.
A Figura 2 mostra um agrupamento interessante que contribui para a manutenção da hipótese de
convergência nas rendas per capita internacionais. Tanto as cifras da América Latina quanto as do
NAFTA contemplam a economia mexicana. Justifica-se a inserção do México nos dois blocos como uma
tentativa de oferecer uma sensação do poder da persecução – cada vez menos nítida – do ideário latinoamericano da constituição de uma área isolada. Com efeito, o impulso experimentado pelo PIB mexicano
marca a presença, elevando a curva do Mercosul bem como, obviamente, a do próprio NAFTA.
O corte entre o bloco do NAFTA e os demais é marcante. A presença da economia americana, em virtude
do peso absolutamente discrepante das demais economias, demarca uma trajetória razoavelmente suave.
Esta linha permite que se observem dois fenômenos importantes ocorridos nas economias do Norte do
continente americano. Primeiramente, a própria criação do NAFTA terá servido para dinamizar a
6
economia mexicana, como se viu anteriormente. Ademais, o chamado productivity rebound vivenciado
pelos Estados Unidos nos anos 1990s também permite que se observe uma suave – mas nítida – quebra de
tendência na trajetória da linha inferior do gráfico.
PIB
Figura 2 - Índices de valor do PIB de três agregados.
1.000,0
800,0
600,0
400,0
200,0
0,0
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
Tempo
Am. Latina
Mercosul
NAFTA
Fonte: http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
2. EVOLUÇÃO DO PIB PER CAPITA
O crescimento demográfico latino-americano é proverbial e seu preço – independentemente de quaisquer
outras facetas que uma discussão interminável pode apresentar – ilustra-se aritmeticamente no
rebatimento exibido pela curva do PIB per capita. A Figura 3 mostra os movimentos acentuados exibidos
por esta variável pertinente aos cinco países selecionados. A exemplo do que foi observado nas figuras
anteriores, as economias mais maduras do Canadá e Estados Unidos mostram tendências mais suaves do
que as contra-partes latino-americanas.
Todavia, no caso dos dois países desenvolvidos, este gráfico permite que se observe com mais nitidez a
quebra do início dos anos 1980s, menos visível ao se examinar apenas a evolução do PIB global. Em
outras palavras, descontando o crescimento demográfico, a tibieza que se abateu sobre o dinamismo dos
sistemas econômicos desses dois países torna-se mais aparente, quando confrontado o desempenho
econômico com o crescimento demográfico.
7
Figura 3 - Evolução do PIB per Capita
350,0
300,0
PIB per capita
250,0
200,0
150,0
100,0
50,0
20
02
20
00
19
98
19
96
19
94
19
92
19
90
19
88
19
86
19
84
19
82
19
80
19
78
19
76
19
74
19
72
19
70
19
68
19
66
19
64
19
62
19
60
19
58
19
56
19
54
19
52
19
50
0,0
Tempo
Argentina (1)
Canada
Brazil (1)
Mexico
U.S.A
Fonte:
http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
Os movimentos do PIB acentuam-se mais ainda nas linhas dos países latino-americanos. Em particular, a
economia argentina deixa clara a marca na quebra de tendência – esta mesma ainda pouco vigorosa – por
volta do início dos anos 1980s. Desde então, foi-se outra década perdida, seguida de ganhos modestos na
década seguinte e, por fim, nos últimos anos da série, outros movimentos descendentes. As curvas do
Brasil e do México mostram-se bastante assemelhadas, cabendo assinalar que o movimento da economia
mexicana, nos últimos anos da série, tornam-se praticamente coincidentes com os das duas economias
maduras.
3. EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
Até que ponto os diferenciais de produtividade viabilizaram processos de convergência? Ainda que a
resposta mais qualificada exija, especificamente para o caso da economia mexicana, o exame do
investimento estrangeiro, aqui indicam-se as regularidades observáveis pela plotagem dos dados de
produtividade e, na próxima seção, do coeficiente de participação da população ocupada no total
populacional. A Figura 4, a seguir, mostra alguns detalhes interessantes.
8
Figura 4 - Evolução da Produtividade do Trabalho
350,000
PIB por trabalhador
300,000
250,000
200,000
150,000
100,000
50,000
20
02
20
00
19
98
19
96
19
94
19
92
19
90
19
88
19
86
19
84
19
82
19
80
19
78
19
76
19
74
19
72
19
70
19
68
19
66
19
64
19
62
19
60
19
58
19
56
19
54
19
52
19
50
0,000
Tempo
Argentina (1)
Canada
Brazil (1)
Mexico
U.S.A
Fonte:
http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
Em primeiro lugar, chama a atenção o acentuado movimento da produtividade vivenciado pela economia
americana a partir de 1986 e consolidado nos anos 1990s, particularmente quando comparado com a
economia canadense. Sob o ponto de vista latino-americano, o mau desempenho da economia argentina
volta a manifestar-se, ao mesmo tempo em que fica saliente a relação estreita entre as economias
brasileira e mexicana. Neste caso, é notável a quebra estrutural na movimentação ascendente da
produtividade do trabalho até o início dos anos 1980s. Em ambos os países, desde então, observam-se
movimentos em sentidos opostos, mas mantendo a tendência estacionária. Particularmente no caso
brasileiro, a destruição de cerca de 2 milhões de postos de trabalho no setor industrial não contribuiu
significativamente para retomar a tendência exibida no terceiro quartil do século XX.
Passando a examinar a Tabela 2, a seguir, mostram-se claras algumas questões que pressionam em favor
da “hegemonia americana”. Trata-se do índice de produtividade nacional relativa entre os cinco países
selecionados para exame. Sua concepção é muito simples, transferindo-se as complicações e cautelas para
a interpretação dos resultados. Por construção, o índice é obtido pela razão entre a participação percentual
de cada país no PIB total do conjunto deles e suas respectivas participações no emprego. Valores
inferiores a 100 sugerem que os países por eles caracterizados exibem menor peso relativo na formação
do PIB do que na utilização de trabalhadores. Simetricamente, os valores maiores do que a unidade
apontam para o fato de que cada unidade do fator trabalho gera mais do que uma unidade de PIB.
9
Tabela 2 - Produtividade Setorial Relativa das Cinco Economias Selecionadas.
Períodos
Argentina
Brasil
Canadá
E.U.A
1950
69,3
28,0
115,7
130,9
1960
64,0
31,7
118,4
133,9
1970
66,5
34,2
117,2
133,5
1980
71,1
45,6
114,9
131,3
1990
51,1
38,1
118,6
140,6
1995
60,5
38,1
119,7
143,0
2000
57,9
35,0
117,2
144,9
2001
54,2
35,2
117,9
145,7
Fonte: http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
México
42,5
50,3
58,2
67,7
59,6
52,7
55,1
54,8
No caso, parece que a coerência exibida pelos resultados se constitui numa denúncia da clivagem entre as
sociedades latino-americanas e aquelas caracterizadas pela origem européia associada a franceses e
ingleses. Com efeito, apenas o Canadá e os Estados Unidos mostram índices superiores a 100 para todos
os períodos selecionados. Por seu turno, contrastando com a economia canadense, cujo índice apresenta
pouca variação em torno de uma média aritmética simples de 117,5, a economia americana parte de um
índice superior em 30,9% à média dos cinco países e, de forma quase que monótona, alcança o índice de
145,7 após 52 anos.
Em boa medida, estes diferenciais podem estar servindo apenas como substitutos de um atestado da maior
relação capital/trabalhador dos dois países setentrionais. Em outras palavras, pode ser que o fato refletido
por estas diferenças nacionais de produtividade seja apenas que os dois países são mais “capitalistas” do
que os três que lhes são meridionais. Tal epíteto teria duas possibilidades de origem, a primeira e óbvia
das quais seria precisamente a intensidade de capital por unidade de trabalhador. A segunda, mais sutil,
poderia estar associada aos contingentes de trabalhadores da própria família ou qualquer outro tipo de
trabalhador sem remuneração alocados na atividade produtiva dos países latino-americanos, por contraste
à magnitude da inserção no mercado formal de trabalho dos dois países capitalistas avançados.
Em qualquer caso, permanecem as diferenças entre os três países latino-americanos, visivelmente
derrotados em termos de produtividade sistêmica na comparação com o Canadá e os Estados Unidos. O
drama argentino novamente aparece em toda sua extensão. Ainda que não exista uma tendência monótona
à queda de seus índices, não é temerário afirmar que esta vem perdendo posição relativa entre todos os
países e – o que deve ser mais preocupante sob o ponto de vista da própria integração latino-americana –
particularmente do Mercosul, vis-à-vis a economia brasileira. Por outro lado, ainda que o Brasil e o
México não mostrem tendências perfeitamente delineáveis quanto à evolução do índice ao longo do
tempo, parece claro que os últimos 25 anos foram avaros para ambas as economias, afastando-as de um
círculo virtuoso de elevação da produtividade com simultânea elevação do emprego.
10
Particularmente o caso da economia brasileira é marcante, pois – como já foi referido – os anos 1990s
testemunharam a destruição de cerca de 2 milhões de empregos no setor industrial, e mesmo na
Agricultura houve alguma destruição de postos de trabalho. A longo prazo, a manutenção desses
diferenciais – num ambiente de comércio internacional em expansão – tem implicado permanente pressão
de desvalorização da taxa de câmbio, o que pode ser um dos fatores a explicar a persistência inflacionária
nos países da América Latina, bem como – na situação presente – de custos elevados em termos de
restrição da atividade econômica, a fim de manter os preços sob controle, por meio de políticas
monetárias restritivas.
4. COMPARAÇÃO DAS TAXAS DE PARTICIPAÇÃO
A produtividade nacional do trabalho mais elevada também reflete, como se sugeriu na seção anterior,
uma relação capital/trabalhador mais elevada. Em boa medida, um dos fatores que impede o
aprofundamento da utilização de capital nas economias subdesenvolvidas é precisamente seu preço
relativo no que diz respeito ao aluguel dos serviços do fator trabalho. Por seu turno, de acordo com o
modelo de Lewis, nas economias portadoras de excedentes de mão-de-obra, o próprio “exército industrial
de reserva” constitui o maior freio à elevação dos salários reais. Com salários reais do setor moderno
convidativos ao uso irrestrito da mão-de-obra, a convivência do reduzido crescimento econômico com a
baixa capitalização das atividades modernas cria um círculo vicioso de baixos salários e baixa
produtividade.
O exame do coeficiente de participação dos trabalhadores ocupados (ainda que as estatísticas contemplem
trabalhadores sem remuneração) relativamente à população total pode ser um elemento importante para
explicar os diferenciais de produtividade entre os países latino-americanos e os dois países capitalistas
avançados. A Figura 5 a seguir ilustra esta relação, ao plotar os índices de valor do crescimento da taxa de
participação. Como se vê, a liderança no que diz respeito a este indicador coloca-se nas mãos do Canadá e
dos Estados Unidos, que a vêem ascender quase que de forma monótona ao longo dos 52 anos. O
principal contraste ocorre relativamente à economia argentina, para quem o reduzido crescimento do PIB
também sinaliza para uma pequena absorção de mão-de-obra, relativamente à expansão populacional.
11
Figura 5 - Evolução da Taxa de Participação
160,000
140,000
120,000
100,000
80,000
60,000
40,000
20,000
98
01
20
19
92
95
19
19
89
19
86
19
83
19
80
77
19
19
71
74
19
19
68
65
19
19
62
19
56
59
19
19
53
19
19
50
0,000
anos
Argentina (1)
Canada
Brazil (1)
Mexico
U.S.A
Fonte: http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
No que diz respeito à dupla Brasil-México, o que se observa – paralelamente ao dinamismo de seu PIB ao
longo de todo o período – é uma elevação na taxa de participação particularmente notável a partir dos
anos 1970s, precisamente o período em que a vulnerabilidade externa dessas economias passou a ser um
elemento crítico para seus processos de crescimento.
5. CAUSAS DO CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA
Uma técnica que se tornou tradicional no exame das causas do crescimento econômico das diferentes
economias regionais encontra-se envolvida em torno de toda uma “contabilidade”, que se traduz na
montagem de uma definição, como no caso a de PIB per capita, transformá-la qualitativamente por meio
da adição de termos unitários convenientes. Deste modo, pode-se decompor o PIB per capita (PIB/H) nas
componentes produtividade do trabalho (PIB/L) e taxa de participação (L/H), de acordo com a expressão
PIB/H = PIB/L x L/H.
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Neste contexto, algumas determinações dos diferenciais de produtividade podem ser assinaladas, com o
auxílio da Tabela 3. Por exemplo, as economias do Canadá e Estados Unidos, cujo PIB per capita é
sistematicamente maior do que seus correspondentes latino-americamos, guiando maior acumulação de
capital e, assim, avalizando maior produtividade do trabalho.
Tabela 3 - Decomposição da Renda per Capita dos Cinco Países Selecionados.
Variáveis
Argentina Brasil
Canadá
E.U.A
México
1950
PIB per capita: US$1000/habitante
5,974
2,003
9,090
11,481
2,833
Produtividade do trabalho
15,020
6,061
25,060
28,357
9,206
Taxa de participação
0,3977
0,3304
0,3627
0,4049
0,3077
1960
PIB per capita: US$1000/habitante
6,6597
2,7969 10,9357 13,6030
3,7796
Produtividade do trabalho
17,4922
8,6665 32,3438 36,5997 13,7558
Taxa de participação
0,3807
0,3227
0,3381
0,3717
0,2748
1970
PIB per capita: US$1000/habitante
8,7471
3,6617 15,0426 18,0476
5,1745
Produtividade do trabalho
22,9521 11,8194 40,4549 46,0749 20,0813
Taxa de participação
0,3811
0,3098
0,3718
0,3917
0,2577
1980
PIB per capita: US$1000/habitante
9,8762
6,2274 19,7718 22,3074
7,5339
Produtividade do trabalho
27,7073 17,7664 44,7866 51,1563 26,3721
Taxa de participação
0,3564
0,3505
0,4415
0,4361
0,2857
1990
PIB per capita: US$1000/habitante
7,8009
5,8988 23,1423 27,8753
7,3034
Produtividade do trabalho
21,3356 15,8793 49,4612 58,6598 24,8523
Taxa de participação
0,3656
0,3715
0,4679
0,4752
0,2939
1995
PIB per capita: US$1000/habitante
9,6173
6,2438 23,7709 29,8142
7,1549
Produtividade do trabalho
26,5680 16,7237 52,5787 62,7899 23,1409
Taxa de participação
0,3620
0,3733
0,4521
0,4748
0,3092
2000
PIB per capita: US$1000/habitante
10,2643
6,4898 27,4166 34,5497
8,5552
Produtividade do trabalho
28,2476 17,0983 57,2093 70,6946 26,8886
Taxa de participação
0,3634
0,3796
0,4792
0,4887
0,3182
2001
PIB per capita: US$1000/habitante
9,7035
6,5056 27,5391 34,3102
8,4041
Produtividade do trabalho
26,3801 17,1268 57,3847 70,9431 26,6936
Taxa de participação
0,3678
0,3798
0,4799
0,4836
0,3148
Fonte: http://www.eco.rug.nl/ggdc/index-dseries.html#top.
A taxa de participação (L/H) não se modifica substancialmente nos países em desenvolvimento (México,
Argentina e Brasil), somente muda de forma importante nos países centrais (Canadá e Estados Unidos).
Nesses últimos há dois fatores que explicam as elevadas taxas de participação, de um lado a próprias
13
condições estabelecidas pela organização econômica interna desses países, de outro, não é desprezível o
fato de que são economias receptoras de grandes fluxos de força de trabalho externa.
Um detalhe interessante associa-se à economia argentina. Nos primeiros anos da série, sua taxa de
participação era superior à do Canadá, pareando a dos Estados Unidos. Ao longo do período, ela foi-se
distanciando de ambas, chegando ao final visivelmente menor do que ambas, que experimentaram
crescimento realmente extraordinário. Tal crescimento foi compartilhado pelas economias do Brasil e do
México, de sorte que a Argentina isola-se como o único país cujo coeficiente de participação diminui
nestes 52 anos.
TABELA 4 RAZÃO ENTRE PRODUTIVIDADE DO TRABALHO DE BLOCOS E GRUPOS DE
PAÍSES:1950/2001
ANOS
BLOCOS E GRUPOS DE PAÍSES
1950
1960
1970
1980
1990
1995
2000
2001
NAFTA/MERCOSUL
1,98
2,11
2,04
1,79
2,38
2,13
2,76
2,38
DESENVOLVIDOS/EMERGENTES
2,65
2,59
2,37
2,00
2,61
2,64
2,66
2,74
Fonte: Dados Brutos da Tabela 3
Já a produtividade (PIB/L) revela, em todos os países, avanços significativos refletindo a introdução
permanente de novas tecnologias em produtos, processos e gestão. Todavia o avanço da produtividade do
trabalho em todos os países, em relação a eles mesmos individualmente não significa, necessariamente
redução do “gap” histórico existente entre os mesmos. A Tabela 4 mostra a razão entre as produtividades
para diversos recortes regionais do universo aqui estudado. Comparando as médias das produtividades
dos países do NAFTA e do MERCOSUL entre 1950 e 2001 constata-se uma ampliação dos diferenciais
entre esses dois blocos. Considerando outro recorte constituído por países desenvolvidos (EUA e Canadá)
e emergentes (México, Argentina e Brasil) observa-se, igualmente, uma ampliação entre os diferenciais
de produtividade do trabalho. As economias desenvolvidas foram, nos cinqüenta anos desse estudo,
receptoras de milhões de trabalhadores imigrantes que operam no sentido de elevar a produtividade do
trabalho nos países de origem e rebaixa-la nos países de destino. Esse movimento foi mais do que
compensado pela extraordinária difusão das novas tecnologias nas economias mais desenvolvidas
assegurando diferenciais ampliados ao longo do tempo.
14
CONCLUSÃO
A existência de dados do PIB calculados em dólares americanos corrigidos para a paridade do poder de
compra para os cinco maiores países das Américas permite que se estabeleçam algumas considerações
interessantes. Basicamente, pode-se associar, utilizando amplamente as estatísticas disponíveis, o PIB per
capita desses países com a produtividade do trabalho e os coeficientes de participação. Em outras
palavras, pode-se “decompor” a renda per capita nas componentes da produtividade do trabalho e na taxa
de participação do emprego na população total. Deste modo, não apenas tem-se a possibilidade de
examinar as diferenças em termos absolutos e relativos entre os países, mas também verificar em que
medida o nível absoluto do PIB per capita é explicado pela produtividade e pela taxa de participação.
Sob o ponto de vista do dinamismo das cinco economias, viu-se que, aceitando como padrão o
desempenho do Canadá e Estados Unidos, a dupla Brasil-México exibe realizações satisfatórias em
termos de crescimento total, embora deixem a desejar quanto aos diferenciais de produtividade do
trabalho. Por seu turno, pouco foi o dinamismo exibido pela economia argentina no período, postando-se
bastante abaixo das maiores economias da região.
Quando se cogita das perspectivas da união comercial encapsulada pelo Mercosul e pela ALCA, deve-se
ter presente tanto o tamanho relativo da economia americana em face das demais quanto – e isto é mais
importante – os diferenciais de produtividade entre elas. No caso dos tamanhos relativos, em 2001, os
Estados Unidos apresentavam um PIB de mais de oito vezes maior do que o brasileiro, diferença esta que
se torna mais preocupante quando examinada em termos da produtividade do trabalho. Neste caso, os
Estados Unidos produzem valor adicionado por trabalhador numa escala de mais de quatro vezes o
rendimento do trabalhador brasileiro.
A assimetria de tamanho entre a Argentina e o Brasil partiu de um nível de quase igualdade em 1950,
chegando a uma diferença de mais de mais de três vezes em favor do último, uma vez que os
crescimentos dos PIBs foram, respectivamente de 2,52% a.a. e 4,76% a.a.. Em termos de produtividade,
a Argentina iniciou com uma diferença de duas vezes e meia acima da economia brasileira, terminando o
período com não muito mais do que 50%. Claramente, esses diferenciais são importantes elementos de
tensão entre as economias no que diz respeito às perspectivas de integração econômica e, num mundo de
livre comércio, tem-se visto a luta pela imposição de medidas protecionistas e a pressão permanente sobre
os balanços de pagamentos dos países menos produtivos. Na medida em que a proteção não é completa, o
que se vê como saldo na busca de trajetórias de equilíbrio para as integrações dos aparatos produtivos é a
sucessão de pressões inflacionárias, instigadas pelas permanentes desvalorizações na taxa de câmbio.
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REFERÊNCIAS
BAUMOL, William J. (1967) Macroeconomics of unbalanced growth: the anatomy of urban crisis.
American Economic Review. V.57 n.3 June p.445-426.
Bowles, Gintis & Weiskopf, 1990
GLYN, Andrew (2004) Comparing sectoral productivity across countries. Oxford: Department of
Economics, University of Oxford. (Mimio). Disponível em: www.economics.ox.ac.uk/Members/
andrew.glyn/ProductivityCompSC.pdf. Acesso em: 28.02.2005.
HULTEN, Charles R. (2000) Total factor productivity: a short bibliography. Cambridge-USA: National
Bureau of Economic Research. (Working paper, W7471; january). Disponível em:
http://ssrn.com/abstract=213430. Acesso em: 28.02.2005.
LEWIS, William Arthur (1954) Economic development with unlimited supplies of labour. Manchester
School. V.22 p.139-191.
VILHENA, Fernanda e SICZÚ, João. Mapeamento da produtividade do trabalho nos bancos brasileiros.
In, Ensaios FEE. PA. V.25 (1), p. 115-144. 2004.
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produtividade regional comparada: cinco países do mercosul e do