Modernização da Agricultura no Estado de Minas Gerais
Uma perspectiva histórica dos anos 80
Pedro H. Zuchi da Conceição1
Júnia Cristina P.R. da Conceição2
1. Introdução.
O objetivo do desenvolvimento agrícola não consiste apenas em transformar um
setor agrícola estagnado em setor dinâmico moderno, mas sim em acelerar as taxas de
crescimento da produção e da produtividade, de modo compatível com o crescimento de
outros setores de uma economia em transformação.
De acordo com a teoria da modernização, o setor agrícola poderá transformar-se de
tradicional a moderno e dinâmico, capaz de impulsionar o desenvolvimento econômico,
mediante mudanças de tecnologia. A adoção de insumos modernos e melhoria do nível de
educação viabilizaria a mudança tecnológica garantindo maiores produtividades dos fatores
de produção e taxas de retorno mais elevadas, mantendo um rítmo de inovações técnicas.
Para SCHULTZ (1965), defensor da tese "insumos modernos", as regiões que
apresentam uma agricultura atrasada e tradicional devem sofrer transformações através da
modernização das técnicas agrícolas, tornando-se modernas e dinâmicas.
Foi com HAYAMI e RUTTAN (1975) que a questão tecnológica tornou-se mais
evidente com a introdução da hipótese da inovação induzida. Os autores distinguem dois
tipos de tecnologia na agricultura: i) as inovações mecânicas, poupadoras de mão-de-obra; e,
ii) as inovações biológicas e químicas, que geralmente são poupadoras de terra.
Consideram, ainda, que o maior uso de equipamentos mecânicos é induzido pelo
propósito de reduzir os custos com o fator trabalho e, os avanços biológicos estão associados
à busca de aumentos da produtividade por área ou dos animais por unidade consumida de
rações, dentre outros exemplos.
Historicamente, o fator predominante para economizar mão-de-obra tem sido o
progresso da mecanização e o fator dominante para a economia da terra tem sido as
inovações químico-biológicas. No entanto, existem evidências de que inovações biológicas
podem provocar uma redução do uso de mão-de-obra, exemplificadas, por exemplo, com
caso do desenvolvimento genético de tomate mais resistente quanto a pele e apresentando um
processo de amadurecimento uniforme permitindo, assim, a mecanização da colheita. É
1 Prof. NEPAMA/Departamento de Economia da Universidade de Brasília-UNB.
2
Técnica de Planejamento e Pesquisa do IPEA
promovida, neste caso, uma inovação biológica que indiretamente promove a redução da
mão-de-obra utilizada no processo.
A conclusão extraída da teoria da inovação induzida é que o grau de
desenvolvimento a ser alcançado por uma região/país depende da sua habilidade em escolher
eficientemente as alternativas tecnológicas, direcionando o esforço de inovação no sentido de
poupar fatores escassos. Isto significa que as restrições impostas pela oferta inelástica de
fatores podem ser relaxadas através de tecnologias convenientemente orientadas para a
substituição desses fatores. HAYAMI e RUTTAN (1975) reconhecem, ainda, que a mudança
técnica na agricultura reflete, tanto nos efeitos da dotação de recursos e do crescimento da
demanda, como no progresso da ciência em geral e da própria tecnologia.
Com base neste esboço da inovação induzida, verifica-se que o impacto da
modernização na agricultura brasileira ora estimulou a produção familiar tecnificada e
moderna, ora prevaleceu a grande empresa capitalista e o trabalho assalariado e, portanto,
provocou efeitos nos mercados de insumos e de trabalho agrícola. Ocorre, por conseguinte,
uma mecanização parcial, que ainda não atingiu a colheita, mas que promove maior uso de
insumos químicos, que aumenta o rendimento da terra e a produtividade do trabalho.
A utilização da adubação química, a expansão do uso de tratores, de herbicidas,
inseticidas, fungicidas são características de um avanço em direção à modernização do setor
agrícola, porém existem rupturas ao longo do processo, sentidas especialmente no mercado
de trabalho agrícola.
Houve um processo de intensificação da exploração da terra e de aumento na
produtividade do trabalho, porém em rítmos distintos para os diversos produtos e regiões
(KAGEYAMA, 1986). Este processo atinge de forma distinta as diversas indústrias que
fornecem e demandam produtos da agricultura.
Em síntese, o processo de modernização da agricultura envolve a substituição da
agricultura natural por atividades agrícolas cada vez mais integradas à indústria, com a
intensificação da divisão social do trabalho e das trocas inter-setoriais, e avanços
tecnológicos que permitem aumentos consideráveis da produtividade global do setor. Nota-se
portanto o carater complexo e multidimensional que abrange o conceito de modernização.
É na Região Sudeste do País que se encontra a agricultura mais capitilizada e,
portanto, uma das experiências mais significativas do processo de modernização proposto e
implementado para a sustenção do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro. O
2
processo de capitalização e modernização da agricultura nos Estados da Região Sudeste não
eliminou a presença da agricultura tradicional e de baixa renda.
Durante a década de 70, observou-se no Estado de Minas Gerais uma expansão das
áreas agrícolas com base em culturas ou pecuária com elevado grau de tecnologia, ao mesmo
tempo que as áreas tradicionalmente produtoras de cereais ou de pecuária extensiva tem
mantido suas características básicas. Recentemente, três aspectos importantes modificaram a
estrutura produtiva do Estado: i) expansão cafeeira no sul de Minas; ii) modernização da
pecuária leiteira; iii) ocupação das áreas do cerrado com culturas tecnificadas, como é o caso
da soja.
Este trabalho pretende, portanto, estabelecer uma caracterização do processo de
modernização, no início dos anos 80, a partir de um conjunto de variáveis das 46
microrregiões que compõem o Estado de Minas Gerais.
2.
Referêncial Teórico
A base teórica deste trabalho está fundamentada na teoria da modernização. Na
escolha desta opção, um fator importante foi o fato de que tais idéias constituíram as bases
para o desenvolvimento da agricultura, especialmente nas duas últimas décadas.
De acordo com a teoria da modernização, os países ou regiões que apresentam uma
agricultura atrasada e tradicional devem sofrer transformações, através da modernização das
técnicas agrícolas, tornando-as modernas e dinâmicas e capazes de impulsionar o
desenvolvimento econômico. O ponto central desta teoria é a modernização do setor agrícola
como forma de transformação da agricultura tradicional em moderna, tendo em SCHULTZ
(1965) um de seus pioneiros.
De modo geral, a agricultura tradicional tem as seguintes características: i)
desestímulo à poupança e investimento, visto que é baixa
a taxa de retorno aos
investimentos; ii) com o passar do tempo, tende a um equilíbrio estacionário; iii) há uma
baixa produtividade da mão-de-obra; iv) existem poucas ineficiências significativas na
distribuição dos fatores de produção; e, v) estado do conhecimento permanece constante.
Na caracterização da agricultura tradicional, rejeitam-se explicações baseadas em
atributos culturais, arranjos institucionais ou propriedade técnica dos fatores.
3
Na perspectiva de transformar a agricultura para a modernização, SCHULTZ (1965)
destacou dois elementos como sendo fundamentais. O primeiro refere-se à necessidade de os
países com agricultura tradicional investirem na criação de novos fatores de produção
agrícola, suficientemente lucrativos, para serem adotados
pelos agricultores. Esta
preocupação opõe-se ao modelo de desenvolvimento agrícola conhecido como de difusão,
segundo o qual já existem conhecimentos técnicos suficientes para um substancial aumento
de produtividade agrícola, bastando apenas a difusão desses conhecimentos entre os
produtores. Por outro lado, no modelo de insumos modernos, tais insumos já existem em
outras regiões, mas não de modo aplicável às condições de agricultura tradicional e, por isto,
há necessidade de se investir no desenvolvimento de insumos modernos adaptados às
condições ambientais.
O segundo elemento essencial na perspectiva de modernização, refere-se às
habilitações dos agricultores, ou, em outras palavras, ao investimento no capital humano,
sobretudo nas áreas de instrução, treinamento no trabalho e melhoria na saúde. O
investimento no capital humano, além de apresentar elevada taxa de retorno, viabiliza todo o
processo de modernização por ser a fonte principal desse processo.
SCHULTZ (1965) procurou, desta forma, mostrar que esta transformação torna-se
possível através de investimentos em pesquisas e na geração de conhecimentos tecnológicos
que ofereçam expressivos retornos econômicos. Afirmou, ainda, a necessidade de utilização
de insumos modernos, dando à educação papel de destaque na formação de pesquisadores e
na habilitação dos produtores rurais, capacitando-os a empregar, adequadamente, os insumos
modernos.
A intensificação da pesquisa agrícola, complementada pela difusão dos
conhecimentos gerados e dos novos insumos, sustentaria a estratégia básica do
desenvolvimento. Como resposta à difusão de conhecimentos e uso de insumos modernos,
ocorreriam o aumento da produtividade e o crescimento da renda agrícola.
O agricultor, na teoria da modernização, tem seu papel destacado como agente de
transformação. Ele é susceptível aos programas de desenvolvimento, desde que a tecnologia
disponível seja apropriada às condições existentes.
A mudança tecnológica foi endogenizada por HAYAMI e RUTTAN (1985), com a
teoria da inovação induzida. O ponto central da inovação induzida é que a mudança
tecnológica é direcionada pela dotação relativa de fatores. Se a demanda de produtos
agrícolas aumentar com o crescimento populacional e de renda, os preços dos fatores com
4
ofertas inelásticas elevar-se-ão relativamente ao dos fatores com ofertas elásticas, tornando
mais lucrativas inovações que poupem os fatores escassos. Assim, a inovação mecânica visa
poupar mão-de-obra, enquanto as inovações química e biológica visam poupar terra.
Os processos de modernização e de expansão agrícola do Japão e dos Estados
Unidos são exemplos concretos, citados por HAYAMI e RUTTAN (1985), de que as
inovações tecnológicas na agricultura são induzidas pela disponibilidade relativa de fatores
na economia. No Japão, a tecnologia tendeu a ser poupadora de terra, dada a escassez desse
fator no País. Por sua vez, nos Estados Unidos, que apresentavam escassez de trabalho, a
tecnologia tendeu a ser poupadora de mão-de-obra.
De acordo com a inovação induzida, o desenvolvimento tecnológico é feito em
resposta aos sinais recebidos do mercado referentes aos preços relativos dos fatores de
produção. Em outras palavras, a pesquisa agrícola funciona como resposta aos sinais emitidos
pelo mercado. Neste contexto, os sinais são percebidos rapidamente pelo setor privado
gerador de pesquisas, enquanto no setor público são feitos através de grupos de pressão,
sendo este último um processo demorado.
Além de endogenizar a questão tecnológica na teoria da modernização, HAYAMI e
RUTTAN (1985) deram uma importante contribuição ao avanço científico ao atribuírem ao
setor público papel de destaque na geração de tecnologias.
Existem alguns tipos de tecnologias cujos benefícios não podem ser diretamente
apropriados pelas instituições geradoras, razão por que não interessam ao setor privado.
Neste caso, é fundamental a participação do setor público. HOMEM DE MELO (1980),
chamou atenção para o fato de alguns produtos de pesquisa
agrícola apresentarem
características de bens públicos ou, pelo menos, de bens com elevados efeitos externos. Podese observar efeitos externos entre produtores, consumidores ou entre representantes dos dois
grupos, desde que haja interdependência entre as ações de indivíduos ou firmas e não
compensação monetária entre as partes envolvidas.
A dificuldade de apropriação dos ganhos provenientes dos novos conhecimentos
decorre da quase impraticabilidade de se usar o sistema de patentes, ou seja, excluir os nãopagantes, que são usuários desses conhecimentos. Em decorrência da existência de pesquisas
com características de bem público, surgem problemas relacionados com a quantidade
ofertada dessas pesquisas, que, certamente, seria inferior à ótima, caso a questão fosse
deixada às forças de mercado, pois os ganhos privados seriam menores que os ganhos sociais.
Nestas circunstâncias, a participação do setor público é imprescindível, sendo o setor agrícola
5
rico em exemplos dessa natureza, tais como época de plantio, espaçamento, alguns tipos de
variedades e outros, como conhecimentos genéticos básicos.
Outro aspecto importante na análise do processo de geração e adoção de novas
tecnologias diz respeito à incerteza do lucro do produto da pesquisa, bem como à distribuição
diferenciada dos ganhos resultantes desta pesquisa. Produtos com alta elasticidade-preço da
demanda, cujos benefícios ficam principalmente com os produtores, são preferidos no
processo de inovação, implicando maior pressão junto às entidades geradoras de pesquisa.
Exemplo disto, é o caso de produtos de exportação em países considerados pequenos em
relação ao mercado internacional e, por isso, o preço é dado independentemente da
quantidade exportada. Por outro lado, para produtos com baixa elasticidade-preço da
demanda, os ganhos decorrentes da pesquisa são distribuídos entre produtores e consumidores. Os ganhos dos consumidores, medidos pelo excedente do consumidor, são sempre
positivos, mas o excedente do produtor pode ser positivo ou negativo. É o que ocorre com os
produtos de consumo doméstico. Evidentemente, para estes produtos a pressão dos
agricultores por novas tecnologias é bem menor que para aqueles de elevada elasticidadepreço da demanda.
CAVALLO E MUNDLAK (1982) apresentaram um modelo divergente do proposto
por HAYAMI e RUTTAN(1985) e argumentaram que a mudança tecnológica não ocorre em
resposta apenas aos movimentos
dos preços dos fatores de produção, mas também ao
estoque de capital disponível. A medida que se intensifica o processo de acumulação de
capital, cresce o uso de técnicas intensivas desse fator, mesmo sem alteração na razão dos
preços. O estoque de capital na economia ou setor pode ser limitante à escolha da tecnologia
a ser adotada.
O modelo proposto por DE JANVRY (1978) questiona o processo de geração de
novas tecnologias, em resposta apenas aos sinais emitidos pelo mercado (referente aos preços
relativos dos fatores de produção) e enfatiza que ele depende também da pressão formada por
grupos de interesses comuns. Esse processo é dinâmico e interativo, no qual a estrutura sócioeconômica e a político-burocrática desempenham papéis fundamentais.
Em seu modelo de oferta e demanda de inovações tecnológicas, o processo inicia-se
na matriz de retornos esperados. A partir dos retornos esperados, define-se um quadro de
demanda latente de inovações, o qual será transformado em demanda efetiva pela ação do
sistema de pressão social, sistema de recompensas eleitorais e sistema legislativo. Tais
sistemas constituem a estrutura político-burocrática. Cada grupo procura pressionar de
6
acordo com seu interesse, e o poder legislativo traduz estas pressões na aprovação de
orçamentos que viabilizem os programas de pesquisa.
Uma vez definida, a demanda efetiva de inovações é encaminhada às instituições
geradoras de pesquisa, que respondem ofertando as inovações demandadas. Até aqui, o
modelo considerou apenas o processo de geração de tecnologias. Entretanto, o retorno efetivo
depende da geração e da adoção da tecnologia, e esta
preocupação é fundamental. O
processo de adoção, ou seja, a passagem da tecnologia ofertada para a matriz de retornos
efetivos, está sujeito à ação da estrutura sócio-econômica. Nesta estrutura, podem-se destacar
os seguintes elementos: a) posse da terra; b) estágio tecnológico; c) preços de produtos e
fatores; d) acesso a instituições como crédito, sistemas de informação e educação.
O modelo de DE JANVRY (1978) amplia a questão de grupos de pressão
mencionada no modelo de inovação induzida de HAYAMI e RUTTAN (1985), colocando-a
em termos da estrutura político-burocrática, e destacando a importância da estrutura sócioeconômica na passagem da tecnologia ofertada para a matriz de retornos efetivos. Ou seja,
ele considera todo o processo de oferta e demanda de inovação, incluindo a geração e a
adoção de tecnologias.
A literatura tem apontado que, no Brasil, a geração de novas tecnologias é devida
não só aos sinais emitidos pelo mercado, mas também à atuação de grupos de pressão
(MONTEIRO, 1984).
A geração de novas tecnologias pode ser tendenciosa na direção de determinadas
culturas que se apresentam mais lucrativas que outras. Nesse contexto, as culturas que mais
se beneficiam são as do subsetor exportador e/ou energético, por apresentarem vantagens, no
que se refere aos preços mais estáveis, ao volume de crédito e aos subsídios.
Os grupos sociais podem influir na decisão política através dos mecanismos de
pressão característicos. Quanto maior o grau de organização do grupo, maior o poder de
pressão sobre a estrutura político-burocrática na defesa de seus interesses. Esses grupos de
maior poder de pressão têm maior acesso às instituições (crédito, educação, informação).
A distribuição desigual de crédito entre produtos e produtores pode ter contribuído,
de certa forma, para o agravamento da concentração de terra no País. O favorecimento de
determinadas culturas, que se apresentaram mais lucrativas, pode ter colaborado para a
substituição de culturas menos lucrativas por essas detentoras de maior importância na
balança comercial. E a desestruturação do emprego no campo, pode ter-se acentuado a partir
da mudança ocorrida na escala de produção e na concentração fundiária.
7
A teoria da modernização constitui o referencial teórico do presente trabalho visto
que tal teoria objetiva aumentar a produção e a produtividade das atividades agropecuárias,
através do estímulo à utilização de insumos modernos e à mecanização das lavouras, as quais,
por sua vez, afetam de forma expressiva a composição da produção e a utilização do fator
trabalho.
3. Metodologia
3.1. Indicadores de Modernização
Numa tentativa de selecionar um conjunto de variáveis para elaborar uma "medida
de modernização" algumas características precisam ser evidenciadas com relação ao uso de
tecnologia 'moderna', como insumos químicos, máquinas e implementos agrícolas, rações
balanceadas, ...; intensificação do uso da terra e o aumento da produção por hectare;
substituição de relações tradicionais de trabalho tradicionais pelo assalariamento; incremento
dos gastos monetários das unidades produtivas; modificação dos sistemas tradicionais de
comercialização e crédito; crescimento das agroindústrias; e, aumento da produtividade do
trabalho.
Foram selecionadas 31 variáveis ou "indicadores de modernização" cujo valores
foram calculados para cada uma das 46 microrregiões (MRH), a partir dos dados publicados
no Censo Agropecuário de 1980.
A seguir é apresentado o conjunto de variáveis que serão utilizadas na composição
do grau de modernização:
X1 = Proporção do número de estabelecimentos que usam força animal;
X2 = Proporção do número de estabelecimentos que usam força mecânica;
X3 = Proporção da área com pastagem que é plantada;
X4 = Área produtiva não utilizada ou em descanso como proporção da área
aproveitável;
X5 = Área trabalhada3 como proporção da área aproveitável;
X6 = Área com lavouras permanentes e temporárias como proporção da área
aproveitável;
X7 = Número de tratores/equivalentes-homem (EH)4;
3 Área trabalhada é definida como sendo a soma das áreas com lavouras permanentes e temporária, pastagens plantadas e
matas plantadas.
8
X8 = Número de tratores/área explorada (AE)5;
X9 = Número de arados de tração animal/AE;
X10 = Número de arados de tração mecânica/AE;
X11= Número de máquinas para colheita/AE;
X12= Valor total dos combustíveis consumidos/AE;
X13= Quantidade de energia elétrica consumida/AE;
X14= Quantidade de energia elétrica consumida/EH;
X15= Valor total dos bens/AE;
X16= Valor total dos bens/EH;
X17= Valor das instalações, veículos e outros meios de transporte, animais,
máquinas e instrumentos agrários/AE;
X18= Valor das instalações, veículos e outros meios de transporte, animais,
máquinas e instrumentos agrários/EH;
X19= Valor total dos financiamentos obtidos em 1970 ou 1975 ou 1980/AE;
X20= Valor total dos financiamentos obtidos em 1970 ou 1975 ou 1980/EH;
X21= Valor total da produção/AE;
X22= Valor total da produção/EH;
X23= Despesa total/AE;
X24= Despesa total/EH;
X25= Despesas com adubos,corretivos,sementes,mudas,defensivos
agrícolas,medicamentos para animais, sal e rações/AE;
X26= Despesas com adubos,corretivos,sementes,mudas,defensivos agrícolas,
medicamentos para animais, sal e rações/EH;
X27= Despesas com adubos e corretivos/AE;
X28= Despesas com defensivos agrícolas/AE;
X29= Proporção do total de EH correspondente aos empregados temporários;
X30= Proporção do total de EH correpondente aos empregados permanentes;
X31= Proporção do total de EH correspondente ao responsável e membros nãorenunerados da família.
As variáveis assim definidas podem ser classificadas como: i) variáveis que
expressam a forma de exploração do uso terra (X3, X4, X5, X6,...); ii) variáveis que
relacionam a composição da mão-de-obra empregada (X29, X30 e X31), e tentam captar
mudanças nas relações sociais de produção com a modernização; iii) variáveis que
relacionam tecnologia e capital procurando evidenciar o maior ou menor grau de
modernização da atividade agropecuária (X1, X2, X7, X8, X9, X10, ...); iv) variáveis
relacionadas com o financiamento da atividade agrícola (X19, X20); e, v) variáveis
relacionadas com a capacidade produtiva da força de trabalho (X7, X16, X18, X22, X24, ...).
É portanto estabelecida uma relação entre as variáveis que medem o uso dos
chamados insumos modernos (X7, X8, X9, ... X27, X28, por exemplo), aquelas que recebem
4 Equivalentes-homem constitui uma tentativa de mensuração da força de trabalho empregada, levando em consideração
informações quanto o tipo de ocupação (mão-de-obra familiar, parceiro, temporário,...), sexo e idade das pessoas envolvidas
no processo de produção. Maiores detalhes ver KAGEYAMA (1986) e HOFFMANN et.alli (1985).
9
influências das características regionais de mercado e transporte (X21, X22...) e as que
buscam capturar os possíveis efeitos da modernização sobre o mercado de trabalho agrícola.
3.2. Análise Fatorial.
A análise fatorial é uma técnica estatística que procura reduzir um número de
variáveis "fortemente" correlacionadas em componentes (ou fatores) que explicam boa parte
da variação dos dados. Portanto, ao analisar simultaneamente os vários indicadores de
modernização na agricultura mineira utilizou-se a análise fatorial pelo método dos
componentes principais6.
Desta forma, o método dos componentes principais constitui uma forma de sintetizar
grande parte das informações contidas nas variáveis selecionadas num número reduzido de
fatores que representam medidas compactas do grau de modernização da atividade agrícola.
O método dos componentes principais consiste em encontrar, a partir das variáveis
originais, as combinações lineares não-correla-cionadas e cujas variâncias decrescem, da
primeira para a última.
De uma matriz M (nxN) que relaciona o número de variáveis (n) e o número de
observações (N), será agrupado em cada componente um número significativo de variáveis
fortemente correlacionadas. Os componentes principais, que são combinações lineares das
variáveis iniciais, são obtidos de forma a maximizar a percentagem da variância total,
atribuível a cada componente principal. As variáveis que apresentam uma forte correlação
entre si deverão ser combinadas dentro de um único componente com maior grau de
independência em relação às variáveis colocadas nos outros fatores.
Outro ponto importante é o conceito de cargas fatoriais que representam os
coeficientes de correlação entre cada variável e cada um dos componentes e/ou fatores. O
somátorio das cargas fatoriais ao quadrado para cada variável determina o conceito de
comunalidade que indica a prorporção da variância total de cada variável que é explicada
pelo conjunto dos componentes. Este conceito deve ser interpretado como sendo um
indicador de 'qualidade de ajustamento' uma vez que mostra o poder de explicação dos
fatores no que se refere a variabilidade dos dados. Quanto mais próximo de 1 for o valor da
5 Área explorada inclui a área trabalhada, a área com pastagens naturais e áreas com matas naturais.
6 Ver JOHNSON & WICHERN (1982), HOFFMANN et.alii (1985), HOFFMANN (1992) e LEONE (1988), para detalhes
sobre o método dos componentes principais.
10
comunalidade, maior será a contribuição dos componentes calculados para a variância total
da variável considerada.
As combinações lineares que deram origem aos fatores iniciais são transformadas,
de modo a gerar novos fatores independentes que continuam a explicar a mesma proporção
da variância total, porém com a peculiaridade de associar mais estreitamente a subgrupos de
variáveis independentes. HOFFMANN et alli (1985) discute a rotação dos fatores pelo
método VARIMAX que visa maximizar a variância dos quadrados dos coeficientes (peso dos
componentes) em cada coluna da matriz. Esse critério tem por efeito minimizar o número de
coeficientes com valores altos em cada coluna, facilitando, assim, a interpretação dos
fatores7. O método altera a contribuição de cada fator para explicar a variância dos
indicadores de modernização; não alterando, no entanto, a contribuição conjunta dos dois
fatores.
A matriz M apresenta as 31 variáveis indicadoras da modernização e referentes a
cada microrregião. Contudo, estes valores originais são expressos em diferentes unidades de
medidas gerando dificuldades na análise. Neste sentido, torna-se necessário transformar as
variáveis originais em novas medidas adimensionais, o que resulta na matriz X. Essas novas
medidas das variáveis são números sem dimensão, e portanto não existe a preocupação com
as unidades das variáveis originais.
É com essa matriz que se processa a análise fatorial pelos métodos dos
componentetes principais, da qual serão extraídos 3 fatores que passarão a ser usados como
medida do grau de modernização.
A partir da matriz X são obtidas as matrizes A e F. Os elementos da matriz A são os
coeficientes de correlação entre cada uma das 31 variáveis indicadoras de modernização com
cada um dos 3 fatores extraídos. Esta matriz será utilizada na interpretação do significado de
cada um dos fatores em termos das variáveis originais, cobrindo os diversos aspectos da
modernização da agricultura.
A matriz F apresenta os fatores de modernização referentes a cada microrregião
homogênea (MRH) do Estado de Minas Gerais. Os valores dos fatores permitem agrupar as
microrregiões de acordo com as principais características da modernização de sua atividade
agropecuária.
7 Deve ser enfatizado o fato de que esse critério não elimina a possibilidade da mesma variável apresentar um peso alto em
mais de um fator.
11
Os fatores são determinados a partir desta matriz, pelo método dos componentes
principais, sem introduzir estimativas preliminares das comulanidades, e portanto, sem alterar
a diagonal principal da matriz.
4. Análise dos Resultados.
A matriz (31x31) das correlações simples tem 6 raízes características maiores do que
1 com os respectivos valores: 14.04, 5.38, 2.79, 2.13, 1.65 e 1.30. Observa-se que os dois
primeiros fatores explicam aproximadamente 62.64% da variância total, enquanto que os três
primeiros fatores explicam 71,64% e os quatro primeiros, 78.51%. É opção deste trabalho
utilizar os três primeiros fatores para proceder a análise da modernização no Estado de Minas
Gerais no ano de 1980, não descartando a possibilidade de incorporação de mais fatores.
Para facilitar a interpretação dos fatores, foi feita uma rotação pelo método
VARIMAX, mantendo a ortogonalidade entre eles. Na Tabela 1 são apresentadas as cargas
fatoriais, que são os coeficientes de correlação entre cada fator e cada uma das 31 variáveis e,
também, o valor da comunalidade que representa a proporção da variância da variável que é
"explicada" pelos dois fatores. Apresentam-se ainda na Tabela 1, as proporções da variância
total "explicadas" por cada fator.
Considerando as cargas fatoriais superiores a 0,60 em valores absolutos, verifica-se
que o primeiro fator F1 está fortemente correlacionado com as variáveis X6 (proporção da
área aproveitável com lavouras); X8 (número de tratores/AE); X10 (arados de tração
mecânica/AE); X11 (arados de tração mecânica); X12 (valor dos combustíveis/AE);
X13(energia elétrica/AE); X17 (valor das instalações,...); X19 (financiamentos/AE); X21
(valor da produção/AE); X23 (despesa total/AE); X25 (despesas com adubos,corretivos,
sementes, mudas, defensivos, medicamentos, sal e rações/AE); X27 (despesas com adubos e
corretivos/AE), e X28 (despesas com defensivos/AE). Trata-se, portanto, de um fator que
reflete a "intensidade de exploração da terra".
TABELA 1: Cargas Fatoriais de três Fatores, Comunalidade de Cada Variável, e
Percentagem da Variância Total de cada Fator, após a Rotação pelo Método
VARIMAX, obtidos na Análise Fatorial dos 31 indicadores de Modernização
das 46 MRH's, em 1980.
Variável
F1
F2
F3
Comunalidade
12
X1(%estab c/ f.animal)
X2(%estab c/ f. mecânica)
X3(%pastagem plantada)
X4(%área não-utilizada)
X5(%área trabalhada)
X6(%area c/ lavouras)
X7(nºtratores/EH)
X8(nºtratores/AE)
X9(arados t.animal/AE)
X10(arados t.mecânica/AE)
X11(máquinas p/ colheita/AE)
X12(v.combustível/AE)
X13(energia elétrica/AE)
X14(energia elétrica/EH)
X15(valor dos bens/AE)
X16(valor dos bens/EH)
X17(valor das inst.,etc/AE)
X18(valor das inst.,etc/EH)
X19(financiamentos/AE)
X20(financiamentos/EH)
X21(valor produção/AE)
X22(valor produção/EH)
X23(despesa total/AE)
X24(despesa total/EH)
X25(desp.selecionadas/AE)
X26(desp.selecionadas/EH)
X27(despesas adubos/AE)
X28(despesas defensivos/AE)
X29(% EH temporários)
X30(% EH permanentes)
X31(% EH familiar)
% da variância
0,023
0,470
0,164
0,172
0,199
0,884
0,358
0,888
0,430
0,844
0,637
0,875
0,642
0,439
0,571
-0,029
0,622
-0,261
0,928
0,358
0,824
0,172
0,911
0,278
0,853
0,438
0,929
0,903
-0,083
0,204
-0,079
34,61
0,184
0,685
0,087
-0,467
0,095
-0,159
0,837
0,298
-0,284
0,342
-0,589
0,370
-0,130
-0,412
0,038
0,518
0,236
0,843
0,160
0,770
0,074
0,875
0,207
0,921
0,257
0,779
0,125
0,134
0,554
0,722
-0,730
25,18
0,601
0,188
-0,699
-0,324
-0,706
-0,014
-0,108
0,060
0,630
-0,041
0,324
0,023
0,519
0,543
0,080
-0,132
0,386
-0,065
0,013
-0,147
0,427
0,242
0,295
0,099
0,375
0,267
-0,087
-0,050
-0,519
0,145
0,240
0,396
0,726
0,524
0,353
0,547
0,807
0,841
0,882
0,662
0,832
0,857
0,904
0,698
0,657
0,334
0,286
0,591
0,784
0,886
0,742
0,867
0,854
0,961
0,935
0,934
0,871
0,886
0,836
0,584
0,584
0,597
11,87
O segundo fator F2 está correlacionado positivamente com as variáveis X2 (%
estabelecimentos com força mecânica); X7 (nº de tratores/EH); X18 (valor de intalações,
veículos, animais, máquinas e instrumentos/EH); X20 (financiamentos/EH); X22 (valor da
produção/EH); X24 (despesa total/EH); X26 (despesas selecionadas/EH); X30 (% EH
permanentes) e, negativamente, com X31 (% EH familiar). Nota-se que o fator F2 está
positivamente relacionado com a participação dos trabalhadores permanentes no total de
equivalentes-homem utilizados nas atividades agropecuárias, e negativamente relacionado
com a participação da mão-de-obra familiar (X31). Verifica-se, portanto, que o fator F2 está
associado ao crescimento da relação capital/trabalho, incluindo a mecanização poupadora de
mão-de-obra, mas também se correlaciona com uma maior participação dos assalariados em
detrimento da absorção da mão-de-obra familiar. Pode-se dizer que F2 mede, em síntese, as
13
características da modernização associadas a "produtividade do trabalho" e pode ser
denominado fator "relação capital/trabalho".
O terceiro fator F3 está fortemente correlacionado com as variáveis X1 (% dos
estabelecimentos que utilizam força animal) e X9 (arados de tração animal/AE). As variáveis
X3 (% da área de pastagem que é plantada) e X5 (% da área trablhada) estão negativamente
correlacionadas. Este fator F3 sugere a existência de uma relação inversa entre a participação
de instrumentos agrícolas de tração animal com o aumento das áreas trabalhadas e com
pastagens plantadas. O fator F3 Relaciona as características da produção agrícola com o "uso
de instrumentos de tração animal".
A Tabela 2 mostra, para cada uma das 46 MRH, os valores dos dois fatores de
modernização em 1980.
Os valores assumidos pelos três fatores nas 46 microrregiões do Estado de Minas
Gerais permitem uma análise do processo de modernização agrícola ocorrida neste Estado, na
tentativa de se identificar a existência de padrões de produção típicos.
Pode-se identificar que as microrregiões de Vertente Ocidental do Caparaó, Furnas,
Planalto de Poços de Caldas, Planalto Mineiro, Mogiana Mineira e Divinópolis apresentam
valores relativamente elevados para F1 e não apresentaram valores altos para os demais
fatores. Pode-se dizer, portanto, que o grau de modernização nestas regiões caracteriza-se
principalmente, por uma elevada intensidade de exploração da terra.
As MRH's de Uberlândia, Pontal do Triângulo Mineiro, Uberaba, Planalto de Araxá,
Alto São Francisco, Três Marias, Divinópolis e Alto Paranaíba apresentam valores elevados
para o fator F2, indicando a existência de uma agricultura mais dinâmica e moderna, voltada
para aumentos da relação capital/trabalho.
Tabela 2: Valores dos três Fatores de Modernização (F1, F2 e F3) em 1980.
Nº
Microrregiões
F1
F2
F3
157
158
160
161
159
162
Sanfranciscana de Januária
Serra Geral de Minas
Chapadoes do Paracatu
Alto Médio Sao Francisco
Alto Rio Pardo
Montes Claros
-0.6799
-0.3172
-1.0584
-1.0268
-0.4317
-0.6727
-0.9221
-1.0457
0.6891
0.4790
-1.3658
-0.3723
-1.1136
-0.5368
-0.0568
-1.1634
-0.7839
-0.7774
14
163
164
165
167
168
169
166
171
172
173
170
177
178
174
175
176
184
185
188
189
192
193
196
201
179
180
190
191
194
197
198
199
202
181
183
186
187
195
200
182
Mineradora do A.Jequitinhonha
Pastoril de Pedra Azul
Pastoril de Almenara
Mineradora de Diamantina
Teófilo Otoni
Pastoril de Nanuque
Médio Rio das Velhas
Alto Paranaiba
Mata da Corda
Três Marias
Uberlândia
Pontal do Triângulo Mineiro
Uberaba
Bacia do Suacuí
Governador Valadares
Mantena
Mata de Caratinga
Bacia do Manhaçu
Mata de Ponte Nova
Vertente Ocidental do Caparaó
Mata de Viçosa
Mata do Muriaé
Mata de Ubá
Mata de Cataguases
Planalto de Araxá
Alto São Francisco
Furnas
Formiga
Mogiana Mineira
Planalto de Poços de Caldas
Planalto Mineiro
Alto Rio Grande
Alto da Mantiqueira
Calcários de Sete Lagoas
Siderúrgica
Divinópolis
Espinhaço Meridional
Campos da Mantiqueira
Juiz de Fora
Belo Horizonte
-0.5790
-0.7052
-1.1456
-0.0602
-0.6291
-1.0650
-1.0966
-0.0556
-0.3400
-1.1509
0.2489
-0.1222
0.5594
-0.4622
-0.7564
0.5123
0.3438
-0.2987
0.3288
1.2724
0.1975
0.0908
0.3400
-0.5107
-0.7524
-0.3684
2.7903
0.3342
3.0429
2.7218
1.5985
-0.6337
0.7342
-0.5400
-0.5897
0.9561
-0.1395
0.2938
-0.8176
0.6400
-0.8864
-0.9822
0.1182
-1.4857
-0.9643
0.5999
0.4499
1.2125
0.5387
0.9463
2.5496
1.6690
2.5938
-0.6833
0.1628
-1.4040
-1.0329
-0.2724
-0.7160
-1.0536
-1.4799
-0.2532
-0.6498
0.2131
1.5335
1.1231
0.6229
-0.0089
0.0562
-0.0169
0.0873
0.2997
-0.5031
0.1580
-0.3565
1.1582
-1.1112
-0.7357
0.3033
0.7375
-0.4374
-0.9866
-0.8588
-0.8066
-0.0606
-0.7813
0.1492
-0.5578
0.5793
0.1274
-0.8725
-1.3549
-1.2528
-0.3725
-0.0674
-1.4476
-1.3736
-0.8593
0.5352
-0.5708
1.2795
1.0328
1.6214
1.8790
-0.1460
0.5441
-0.9769
0.4638
-0.9957
0.2299
0.2349
0.8691
0.3349
0.8237
0.3268
2.3166
1.2077
1.1893
1.5802
1.8866
No que se refere ao fator F3 (uso de implementos de tração animal), encontram-se as
microrregiões de Mata de Viçosa, Mata de Muriaé, Mata de Ubá, Mata de Cataguases,
Espinhaço do Meridional, Campos da Mantiqueira, Divinópolis e Juiz de Fora.
Vale ressaltar que a microrregião de Divinópolis apresenta valores relativamente
elevados para os três fatores, indicando desta forma, que o grau de modernização se deve
tanto à intensidade do uso da terra, como à produtividade do trabalho e à existência de um
sistema a base de instrumentos de tração animal. No entanto, maior valor está registrado com
o fator F3. O mesmo é observado para a microrregião de Belo Horizonte, predominando
também o fator F3.
15
As demais microrregiões apresentaram valores reduzidos para os fatores de
modernização e, portanto, podem ser denominadas de regiões de baixo grau de modernização
quando levada em consideração a intensidade de exploração da terra, produtividade da mãode-obra e até mesmo quando relacionadas com um fator F3 de características tradicionais.
Por fim, a classificação de uma região como sendo intensiva no uso do fator terra,
por exemplo, não descarta a possibilidade da coexistência da interação dos demais fatores na
determinação do padrão de modernização, mesmo que numa intensidade menor.
Torna-se importante lembrar que, na maioria das microrregiões do Estado, o grau de
modernização segue um padrão típico de desenvolvimento, na medida que apresentam
valores relativamente elevados somente para um determinado fator, conservando valores
relativamente baixos para os demais fatores.
5. Conclusão
Observou-se que a agricultura mineira, no ano de 1980, segue três padrões de
modernização: i) intensidade do uso da terra; ii) produtividade do trabalho; e, iii)
identificação com um setor "tradicional". Não constitui, portanto, um desenvolvimento
uniforme entre as 46 microrregiões.
Parece importante frisar que existe uma dicotomia presente no padrão de
modernização da agricultura mineira, evidenciada a partir da análise fatorial, que envolve o
uso intensivo da terra e o uso da mão-de-obra no setor. A hipótese da inovação induzida é
marcada pela identificação dos fatores F1 e F2. Existem também características com traços
tradicionais que operam em determinadas microrregiões do Estado, para as quais deveriam
ser estudadas alternativas que busquem equacionar este "desnível" tecnológico.
É importante prosseguir a análise de indicadores de modernização tentando
determinar a velocidade deste processo em cada microrregião ao longo do tempo, assim como
algumas relações desse processo de modernização com o desenvolvimento rural.
6. Bibliografia
CAVALLO,D e MUNDLAK,Y. Agriculture and economic growth in economy:the case of
Argentine. IFPRI Research Report,36,dec.1982
16
DE JANVRY,A. Social structure and biased technical change in Argentine Agriculture. In:
BINSWANGER,H P e RUTTAN,V. W. Induced inovation, technology, institutuions
and development.Baltimore, J.Hopkins. Univ. Press,1978 p.297-323
HAYAMI,Y e RUTTAN,V. Agricultural development: an international perspective.
Saltimore, J. Hopkins Press, 1985, 361p.
______________. Preços dos Fatores e Mudança Técnica no Desenvolvimento da
Agricultura: Estados Unidos e Japão, 1880-1960. In: ARAÚJO, P.F.C. e SCHUH, G.E.
Desenvolvimento da Agricultura: Educação Pesquisa e Assistência Técnica.Pioneira,
São Paulo, 1975.
HOFFMANN, R. et. alli. Inovações Tecnológicas e Transformações Recentes na
Agricultura Brasileira. Relatório de Pesquisa. FINEP/FEALQ/ESALQ. Piracicaba, São
Paulo, 1985.
HOFFMANN, R. Componentes Principais e Análise Fatorial. DESR/ESALQ/USP. Série
Didática nº 80, 2º ed. Piracicaba, São Paulo, 1993.
_________. A Dinâmica da Modernização da Agricultura em 157 Microrregiões
Homogêneas do Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural. Brasília. 30 (4) 271290, out/dez de 1992.
HOMEM DE MELO, F. B. Disponibilidade de tecnologia produtos da agricultura brasileira
Revista de Economia Rural, Brasília, 18(2):221-50,abr/jun 1980
JOHNSON, R.A. e WICHERN, D.W. Applied Multivariate Statistical Analysis.
Englewood Cliffs, N.J., Prentice Hall, 1982.
KAGEYAMA, A. Problemas Metodológicos na Mensuração do Emprego Agrícola.
Instituto de Economia/UNICAMP, Campinas, 1986.(mimeo).
LEONE, E.T. Modernização e Distribuição de Renda na Agricultura no Estado da Bahia
em 1980. Piracicaba, DESR/ESALQ/USP, 1988. (Disertação de Mestrado).
MONTEIRO, J.A. A geração de tecnologia agrícola e a ação dos grupos de interesses.
São Paulo, USP,1984, 186p. (Tese de doutorado).
SCHULTZ, T.W. A Transformação da Agricultura Tradicional. Rio de Janeiro, Zahar,
1965.
17
Download

1. Introdução.