XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008
REPERCUSSÕES DA ORGANIZAÇÃO
DO TRABALHO ARTESANAL
COOPERATIVO: CASO DO NÚCLEO DE
PRODUÇÃO ARTESANAL DA VILA DE
PONTA NEGRA EM NATAL/RN
Rafaelli Freire Costa Gentil (UFRN)
[email protected]
Isabela Xavier Barbalho Bezerra (UFRN)
[email protected]
Maria Christine Werba Saldanha (UFRN)
[email protected]
A organização do trabalho artesanal cooperativa tem sua origem na
Idade Média e objetiva reunir artesãos, regulamentar a produção e
profissão, além de estabelecer relações de ajuda mútua entre artesões
que antes trabalhavam individualmente,, na tentativa de melhorar as
condições de trabalho, comprar insumos e comercializar os produtos
conjuntamente, dentre outras características. O Núcleo de Produção
Artesanal da Vila de Ponta Negra, em Natal/RN, está estruturado sob
essa forma e vem incentivando artesãs a produzirem e comercializarem
seus produtos de forma cooperada. Neste artigo será evidenciada essa
forma de organização do trabalho, apontando seus benefícios em
detrimento ao trabalho individual utilizando como estudo de caso
rendeiras de bilro associadas a este Núcleo de Produção que vem
auxiliando para a visibilidade e a sobrevivência dessa arte na região.
Palavras-chaves: organização do trabalho, renda de bilro, trabalho
artesanal cooperativo
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A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008
1. Introdução
O objetivo deste artigo é analisar a estrutura da organização do trabalho artesanal organizado
de forma cooperativa e identificar quais são suas repercussões ao trabalho de artesãs de renda
de bilro de uma associação informal denominada Núcleo de Produção Artesanal situado na
Vila de Ponta Negra em Natal-RN.
Conceituado pelo Simpósio Internacional da UNESCO/CCI, em 1997 (O ARTESANATO,
2007), produtos artesanais são aqueles feitos totalmente à mão ou com ajuda de ferramentas
manuais com matérias-primas procedentes de recursos sustentáveis. A produção artesanal
acompanha o homem em sua história, sendo melhor estruturada como segmento de trabalho
na Idade Média, quando a produção concentrava-se nas mãos dos artesãos que posteriormente
se uniram para suprir necessidades latentes do mercado de trabalho e consumo, configurando
numa forma de trabalho cooperado.
A renda de bilro é um artesanato que surgiu na Itália do século XVIII e que veio para o Brasil
através da colonização portuguesa, quando se firmou nas cidades litorâneas do país e persiste
até hoje em poucas comunidades de cultura pesqueira. A Vila de Ponta Negra é uma dessas
comunidades que sofreu certo declínio da produção por falta de rentabilidade e queda da
demanda, mas tornou a ter visibilidade e despertar novas interessadas após a fundação de uma
associação informal de rendeiras de bilro denominada Núcleo de Produção Artesanal da Vila
de Ponta Negra. Neste local as rendeiras que antes trabalhavam individualmente em suas
casas a espera de encomendas passaram a dividir um espaço exercendo suas atividades juntas
e de forma cooperada, com regras próprias e com repercussões para o seu trabalho.
A busca e análise dessas repercussões foram feitas através de pesquisa participativa,
fundamentada na Análise Ergonômica do Trabalho, baseada na técnica da ação
conversacional e nas observações sistemáticas situadas, com resultados posteriormente
estruturados em Matrizes de Inclusão de Comentários. Foi aplicada essa metodologia com
doze artesãs, sendo sete freqüentadoras diárias do Núcleo e cinco que o utilizam como meio
de comercialização, mas trabalham em casa. Foi realizado ainda um inventário do estoque do
Núcleo para catalogação da quantidade de peças por rendeira, modelo, cor, tempo de
produção e valor monetário, o que auxilia na compreensão de alguns dados. Esses resultados
levam a conclusões positivas a respeito dessa forma de organização do trabalho se comparado
a produção individual.
O conhecimento das formas de divisão de tarefas, a união e colaboração entre as rendeiras e a
necessidade de transmitir o conhecimento, bem como de pratica-lo, são conhecimentos
pertinentes a este trabalho e compõem o trabalho artesanal cooperativo.
A necessidade e a busca pela sobrevivência do Núcleo e da renda de bilro são motivadores
para esta pesquisa que busca apresentar alguns benefícios na estruturação do trabalho
cooperativo que estimulem a produção de renda através do Núcleo de Produção Artesanal a
fim de contribuir para sua sobrevivência.
2. Aspectos sobre a organização do trabalho
Historicamente a evolução e mudanças na forma de organização social e econômica da
humanidade estiveram sempre relacionadas ao seu modo de produção e tipos de organização.
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As formas e relações de trabalho eram essencialmente influenciadas e foram sofrendo
adequações graduais até o ano de 1780, quando houveram mudanças drásticas, em
decorrência da ruptura das estruturas corporativistas da Idade Média que substituiu o tipo de
produção artesanal (organização do trabalho pré-industrial) pelo industrial (organização do
trabalho industrial) e transformou uma sociedade econômica de subsistência em uma
população assalariada.
Apesar dessa influência o tema muitas vezes não é encontrado na literatura de forma
concentrada e identificada apesar de ser estudado sob a perspectiva de disciplinas da
Engenharia, Administração, Sociologia e Psicologia (ZANCUL et al, 2006).
Alguns autores recentes se preocuparam em nomear e classificar esse tema como Fleury e
Vargas (1983) que o fez em duas categorias: o Modelo Clássico e os Novos Modelos de
Organização do Trabalho. O primeiro é representado pela Administração Científica que
acabou estabelecendo uma ordem sócio-econômica e firmando o capitalismo. Baseado no
Taylorismo, Fordismo e Fayolismo, transferiu o poder dos meios de produção dos artesãos
para os capitalistas e proveu o patronato de autoridade absoluta, retirando toda autonomia e
trabalho intelectual típico do trabalho da época (artesãos). Já o segundo surgiu como resposta
ao modelo clássico, na tentativa de humanizar os processos de trabalho baseados em
premissas implícitas sobre as necessidades humanas, sendo as propostas do Enriquecimento
de Cargos, dos Grupos Semi-autônomos e o modelo japonês (Toyotismo).
Esses dois modelos concentram apenas os sistemas da fase industrial da organização do
trabalho. No esquema a seguir podem ser visualizadas as demais formas:
Produção pré-artesanal
Coleta de Alimentos
Agricultura
Caça
Pastoreio/Criação
Organização do
trabalho préindustrial
Crescimento
Crescimento
Artesão Individual
do
Corporações de Ofício/Guildas
do
Mercado
Sistema de Encomendas
Domiciliares – Putting-Out System
Mercado
de
Manufatura/Fábrica
de
Trabalho
Indústria Moderna
Taylorismo
Sócio-técnico
Fordismo
Enriquec. de Cargos
Fayolismo
Toyotismo
Associativismo/Cooperativismo
Organização do
trabalho
industrial
Consumo
Organização do
trabalho
associativista
Figura 01- Formas de organização do trabalho
Fonte: Adaptado memorial de aula de Ramos (2000)
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2.1. Organização do trabalho artesanal
As relações estabelecidas entre três elementos básicos que compõem a questão da organização
do trabalho na produção (pessoas – equipamentos – materiais em transformação), é mostrada
por Fleury e Vargas (1983), como os pilares elementares dentro de qualquer empresa. Nas
indústrias tradicionais busca-se o mínimo de contato entre as pessoas e os materiais em
transformação, pois, desta forma, diminui-se a interferência humana no processo, elevando a
eficiência. Porém, quanto mais forte se torna essa relação, mais artesanal é o processo,
chegando-se mais próximo do tipo de organização do trabalho artesanal.
A organização do trabalho como forma de atividade artesanal permite o domínio integral do
processo de produção, fato inexistente no caso de um operário de fábrica que é obrigado a se
especializar numa operação tão simples a ponto de causar demência. O artesão é dona do
saber e centro do processo de produção e não um simples apêndice de uma máquina. Só ele
pode iniciar e concluir o processo e ainda detém o conhecimento sobre a compra, os tipos e
qualidade das matérias-primas, além de comumente comercializar o produto final gerado.
Sua importância no processo e seu domínio elevam sua auto-estima, que gera uma série de
benefícios, dos quais podemos citar a alteração positiva de sua sensibilidade individual ao
adoecimento, aumento natural da produtividade e qualidade dos produtos gerados.
A jornada de trabalho pode ser flexível e determinada pelo artesão, comportando pausas e
descansos que diminui a fadiga física. O medo decorrente da demissão por insuficiência de
produção é substituído pelo compromisso com o trabalho acabado e pronto. A falta de
hierarquização rígida minimiza o estresse, diminuindo o estado de tensão e alerta. O trabalho
é, portanto, fonte de prazer e crescimento da personalidade e não fonte de insatisfação e
ansiedade.
Na maior parte das vezes o artesão não possui vocação para o comércio, o que dificulta sua
sustentabilidade, favorecendo o aparecimento dos atravessadores que são comerciantes que
observam uma oportunidade de lucro, compram os produtos dos artesãos em seu local de
produção a preços baixos para revende-los com margens de lucro que chegam a ordem de
mais de 100 ou 200%. Esses atravessadores em geral atuam em comunidades pobres
(periferias ou cidades interioranas), mas que possuem vocação para determinado tipo de
atividade artesanal, seus lucros são exatamente a diferença entre o valor agregado da peça e o
preço (inferior ao seu valor) que é vendida pelo artesão. Exploram pessoas que pela falta de
instrução são incapazes de calcularem os custos e os preços de venda das peças e que têm na
produção artesanal uma forma de aumentar a renda familiar, geralmente muito baixa.
2.2. Organização do trabalho artesanal cooperativo
Seguindo o esquema da figura 1, pode-se observar a formação das guildas de artesãos, ou as
chamadas corporações de ofício ou corporações de artesãos, que pode ser considerada como
uma forma primitiva de organizar o trabalho cooperativo. Eram associações de artesãos de um
mesmo ramo que procuravam garantir os interesses da classe e regulamentar a profissão.
Possuiam as mesmas características do trabalho artesanal desenvolvido individualmente,
porém agora sob uma versão de ajuda mútua e regulamentada, cujos objetivos eram: a
regulação da produção; a comercialização dos produtos gerados pelos artesãos nas guildas;
impedir que produtos similares de outras regiões entrassem no mercado local; assegurar
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A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
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trabalho para todas as oficinas de uma mesma cidade; eliminar a concorrência desleal;
estabelecer padrões mínimos de qualidade.
O que determina a diferença do trabalho artesanal individual para o cooperado é a reunião
desses artesãos em prol de benefícios que contribuiriam a todos, pois observaram que unidos
teriam mais força contra as adversidades que afrigiam o grupo do que se continuassem
concorrendo individualmente de forma predatória.
Num formato estabelecido em seguida, observa-se não mais apenas a reunião de artesãos para
a produção cooperada, como também o declínio da produção para estoque ou pequenas
encomendas de consumidores individuais para um sistema de Encomendas Domiciliares, ou o
Putting-Out-System, cujo dentre várias outras peculiaridades passaram a objetivar o
atendimento de mercadores que solicitavam grandes encomendas às Coorporações para venda
posterior em outras cidades a preços superiores, atingindo aí o seu lucro. Os artesãos viram
nesta forma de produção uma alternativa mais rentável e eficiente quanto ao aproveitamento
das matérias-primas e dos produtos acabados. Desta forma, de acordo com a encomenda, eles
podiam organizar o trabalhado parcelando algumas atividades da produção, favorecendo a
eficiência e o atendimento dos mercadores.
Esse tipo de organização do trabalho acabou favorecendo o surgimento da manufatura e
posteriormente das fábricas pelo fato de os artesãos já se encontrarem reunidos e trabalhando
com demandas estabelecidas pelos mercadores. Surgiu a figura de pessoas que sutilmente
orientava e ordenava o trabalho dos artesãos que já estavam reunidos e adaptados a produção
encomendada.
3. Metodologia
A metodologia foi baseada na Análise Ergonômica do Trabalho que através das análises das
ações conversacionais foi possível identificar três grupos de foco distintos denominados aqui
neste trabalho de Grupos ‘A’, ‘B’ e ‘C’, além da construção de Matrizes de Inclusão de
Comentários pertinentes ao escopo do trabalho, construídas e divididas de acordo com temas
específicos e subdivididas por rendeira, o que permite a análise sistemática dos dados obtidos.
O Inventário foi feito a partir de visitas ao Núcleo de Produção Artesanal da Vila de Ponta
Negra. O estoque foi todo catalogado e identificado em peça, rendeira que a produziu, tempo
de Produção, cor, quantidade, tamanho e valor da peça. Os dados foram conectados e
comparados em tabelas e gráficos.
Ele nos fornece dados concretos da produtividade do Núcleo em cooperativa, pois também dá
informações sobre a produção das rendeiras que não trabalhando no Núcleo, mas ainda
produzem para comercializar, pois a melhor forma de escoamento de produtos das rendeiras
que fizeram parte da pesquisa é o Núcleo de Produção, embora elas também trabalhem para o
consumo próprio, bem como para encomendas específicas.
4. A renda de bilro no Núcleo de Produção Artesanal da Vila de Ponta Negra
4.1. A Vila de Ponta Negra
A Vila de Ponta Negra está localizada em uma região estratégica, num morro com vista ampla
para o mar e em volto a Floresta Atlântica, tornando-se base para os americanos durante a
Segunda Guerra Mundial (CDF, 2007).
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Em meados do século passado foram construídas as primeiras casas de veraneio a beira mar,
já demonstrando sua vocação turística, quando se intensificou o desenvolvimento da Vila
devido a instalação de energia elétrica (SEMURB, 2005). Até 40 anos atrás a comunidade
vivia num sistema associativista com base na agricultura, pastoreio e pesca, perdurando
atualmente apenas a pesca. Praticamente todas as mulheres faziam renda de bilro a fim de
vestirem a família e auxiliar na renda financeira domiciliar. Com a invasão turística e a
especulação imobiliária da região muitos nativos foram expulsos e os costumes dos
moradores estão sendo substituídos pelo medo da crescente criminalidade do bairro, a
prostituição das adolescentes e a falta de emprego para a população local nos novos
empreendimentos surgidos pela exigência de qualificações, o que leva a marginalização do
bairro e de seus jovens que acabam se tornando um incomodo, quando na verdade esse
desenvolvimento desenfreado acabou desequilibrando a auto-sustentabilidade da população.
“A Vila de Ponta Negra era um lugar muito bom de morar, a gente dormia de porta aberta, não
tinha luz elétrica, era luz de querosene mesmo, não tinha água encanada, e todo mundo vivia
assim (...) e a gente andava [na rua durante a noite] e num tinha medo porque não tinha luz
elétrica não, era só quando era noite de lua que era a luz de Deus (...) hj tem luz elétrica e td,
mas a gente tem é medo de sair de casa.” (Rendeira da Vila de Ponta Negra, 2006).
4.2. A renda de bilro
Surgida na Itália do século XV, a renda de bilro foi posteriormente levada para a França,
Espanha e Portugal quando os portugueses junto com a colonização do Brasil trouxeram essa
arte por volta de 1748/1749 (ZANELLA, 2000). É uma arte feita tradicionalmente por esposas
de pescadores que enquanto aguardavam o marido retornar do mar teciam peças para vestirem
a si e aos filhos, além de incrementar a renda familiar. É por este motivo que a renda de bilro
é mais encontrada em cidades litorâneas e em comunidades pesqueiras.
O aprendizado era dentro de casa e passado de mãe para filha ou de avó para neta geralmente
iniciado aos sete anos de idade. Os desenhos das rendas junto com os bilros são heranças de
família.
Os bilros, geralmente fabricados pelos maridos das rendeiras, são instrumentos de madeira no
formato de uma haste roliça em que numa das extremidades é arredondado e na outra possui
um corte onde a linha que produzirá a renda é enrolada.
Figura 02 – Materiais e ferramentas (bilros, linha e alfinetes); detalhe da execução; rendeira em atividade
Os desenhos são riscados em papelões que são furados nos pontos em que serão fixados
alfinetes que delinearão o desenho e orientarão o trabalho da rendeira. Esse papelão é fixado
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com o auxílio de espinhos de plantas em uma almofada feita, geralmente, com palhas secas de
bananeira envolvidas em um tecido grosso e firme.
As linhas, presas aos bilros se entrelaçam com o movimento rotativo que lhes imprime a
rendeira que pega e retém os pontos, um a um, com alfinetes, que são mudados de lugar à
medida que o trabalho progride. Os bilros são manejados por pares, simultaneamente; padrões
muito complexos podem exigir o emprego de 20, 30 ou mesmo mais de 50 pares de bilros.
4.3. O Núcleo de Produção Artesanal
Criado em 1998, pela rendeira mais velha do grupo, o Núcleo de Produção Artesanal,
denominado aqui neste artigo em alguns momentos apenas de Núcleo ou Núcleo de Produção,
tem como objetivo principal auxiliar na luta contra a extinção da atividade no bairro, que já
foi um forte produtor e fornecedor no estado do Rio Grande do Norte. Instalado num espaço
disponível ao lado de sua casa, essa rendeira convidou várias amigas que rendavam para se
encontrarem todas as tardes nesse local, a fim de produzirem e comercializarem
conjuntamente.
Foto 01- Núcleo de Produção externamente
Foto 02- Núcleo de Produção internamente
Foram feitas ações conversacionais com as rendeiras dos grupos de foco A e B, identificou-se
que são mulheres com perfis similares, tendo todas baixo grau de escolaridade, moram no
mesmo bairro, 42,86% são viúvas e 50% são casadas, e aprenderam o ofício da renda quando
crianças (85,7% até os 10 anos de idade) com exceção de duas delas que são aprendizes e
começaram a cerca de dois anos.
Dentre elas 14,29% têm menos de 50 anos, 57,14% são senhoras com idade entre 50 e 70
anos e as demais, 28,57%, tem mais de 70 anos. A maior parte delas, 42,86%, não concluiu o
ensino fundamental, 28,57% fizeram apenas uma parte do ensino médio e 28,57% nunca
estudaram, constatando-se, portanto, baixo grau de instrução entre todas as entrevistadas. Elas
desempenham atividades domésticas no período da manhã, por isso o horário de
funcionamento do Núcleo é das 13 às 17 horas, o que não as impedem de rendarem em outros
horários em casa. Geralmente cada rendeira possui duas almofadas, uma que fica no Núcleo e
a outra em casa onde produzem peças diferentes.
Não existe senso ou qualquer pesquisa que aponte o número de rendeiras de bilro que existem
atualmente em detrimento de períodos passados, mas é notória a diminuição de pessoas
rendando, de produtos disponíveis e da demanda. “Hoje em dia num tem nem ¼ das rendeiras
que tinha (...) pouca pessoas faz renda (...) aqui mesmo começou a trabalhar 14 mulheres,
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hoje em dia ta só Além disso, esse tipo de artesanato é pouco rentável pela incrível demora
para produção de uma peça por mais ágil que seja a rendeira. Por exemplo, a mais rápida do
Núcleo produz uma camiseta toda em renda de bilro em aproximadamente 60 horas de
trabalho, enquanto a média é de 80 horas. Esse produto é comercializado por R$ 50,00
(cinqüenta reais), o que remunera a rendeira em apenas R$ 0,62 (sessenta e dois centavos a
hora), enquanto o salário mínimo remunera atualmente em R$ 2,62 (dois reais e sessenta e
dois centavos).
O Núcleo de Produção funciona como principal meio de escoamento das peças de várias
rendeiras da Vila de Ponta Negra, mesmo daquelas que não o freqüentam constantemente
realizando suas atividades apenas em casa. Por este motivo, como resultado do inventário,
observamos a existência de produtos provenientes de 24 rendeiras diferentes. Consideraremos
para fins desta pesquisa que 14 rendeiras fazem efetivamente parte do Núcleo e que mais 15
possuíam peças em seu estoque, essas estabelecem um vínculo mais tênue com o Núcleo, mas
para fins desta pesquisa iremos trabalhar com o número total de 29 rendeiras que
comercializam suas peças pelo Núcleo. Metodologicamente, as 29 rendeiras foram
subdivididas em três grupos de foco distintos identificando as relações, influências, produção
e freqüências de cada uma delas. Cada grupo tem sua importância para o Núcleo, que
contribui de diversas formas a cada rendeira, sendo observado um sistema mútuo de ajuda.
Estes grupos são:
Grupo A (cinco rendeiras) – freqüentam diariamente o espaço físico do Núcleo de Produção a
fim de se encontrarem e produzirem suas peças em companhia de conversas e cantorias; estas
utilizam o Núcleo como principal meio de comercialização de suas peças;
Grupo B (nove rendeiras) – já freqüentaram, mas que, por motivos diversos, preferiram ou
precisaram deixar a rotina diária de produção no Núcleo, porém, ainda o utilizam como meio
de comercialização e se beneficiam de alguns serviços gerados por ele;
Grupo C (quinze rendeiras) – rendeiras que nunca freqüentaram o núcleo diariamente, mas
que já usufruíram de seus serviços como a participação em cursos, além de utilizarem como
principal meio de comercialização.
5. As características e benefícios da organização do trabalho artesanal cooperativo no
Núcleo de Produção Artesanal da Vila de Ponta Negra
5.1. Produção
As peças são concebidas pelas próprias artesãs, que têm total domínio sobre a concepção e
processo produtivo. Sendo assim, todas concebem o modelo e o produto, escolhe as cores e os
materiais a serem utilizados e realiza o processo produtivo em sua totalidade.
A hierarquização é quase inexistente, havendo apenas um respeito pela rendeira mais velha
que é a fundadora e administradora das atividades do Núcleo, além de ser a rendeira mais
experiente e habilidosa e por isso chamada sempre que existem dúvidas no traçado da renda.
A jornada de trabalho no Núcleo de Produção é de quatro horas diárias, funcionando das 13 às
17 horas, de segunda a sexta-feira com total flexibilidade de horários e dias de trabalho,
comportando pausas para descanso, lanche ou para ir ao banheiro em qualquer momento, pois
na há exigências de metas de produção nem a presença de hierarquia fiscalizadora, cada uma
é chefe do seu próprio tempo e ritmo de trabalho, favorecendo para o não aparecimento de
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doenças relacionadas ao trabalho. Não existe pressa para produzir, a menos que alguma assim
prefira por algum motivo particular, característica identificada por uma rendeira que relatou:
“renda de bilro a gente faz sentado, num é correndo!!”. As artesãs não possuem obrigações
contratuais, mas um compromisso diário estabelecido entre elas, além de se configurar como
um prazer, assim como neste relato: “Eu tenho amor ao meu trabalho, adoro fazer (...) e vou
morrer trabalhando”.
Em se tratando de qualidade, as rendeiras que fazem parte do grupo ‘A’, são bastante
criteriosas, sem excluir algumas dos grupos ‘B’ e ‘C’, visto que todas produzem de forma
bastante similar. Porém, segundo as próprias rendeiras, o que define a boa qualidade de uma
peça é o ponto da rendeira (folgado ou apertado), o cumprimento de todos os pontos do
desenho, caso contrário a renda não ficará simétrica, e principalmente a qualidade da linha
utilizada. As rendeiras do Núcleo consideram seus trabalhos com qualidade superior ao de
outras comunidades.
O trabalho cooperativo traz a oportunidade de criar mais, sejam novos desenhos ou novas
peças, por estarem reunidas e poderem discutir sobre o assunto. Além disso, pela ajuda mútua,
os produtos feitos pelas rendeiras do Grupo ‘A’ e algumas do grupo ‘B’ são mais complexos e
maiores, com desenhos mais rebuscados, elevando o nível dessas artesãs. Elas também
conhecem melhor sobre a história e origem da renda de bilro e todas, inclusive as do grupo
‘C’ participam de cursos promovidos por diversas iniciativas dentro do Núcleo de Produção.
5.1.3. Produção por encomendas
Outra modalidade de trabalho das rendeiras que integram o Núcleo é a produção por
encomendas. Neste caso, quando ocorrem pedidos grandes, determinado número de rendeiras
que não freqüentam o Núcleo, mas que mantém relações com ele, são acionadas, o trabalho é
dividido e determinado objetivos e metas de produção para conseguir atender ao pedido
solicitado. A maior parte das rendeiras gosta de trabalhar nesta modalidade por saberem que
ao final da produção irão ser remuneradas imediatamente, porém algumas sentem-se um
pouco mais pressionadas e preferem não aceitar o trabalho. Nestes casos as artesãs também
perdem parte de sua autonomia no processo produtivo, tanto por terem que parcelar e apressar
o trabalho, como por não terem autonomia na escolha do produto, pois esta etapa é feita pelo
cliente no ato da encomenda.
A quantidade de rendeiras mobilizadas para a divisão do trabalho da encomenda dependerá da
quantidade e/ou tamanho das peças solicitadas, além do prazo estipulado. Caso seja um
pedido num prazo muito curto, mais parcelado será o trabalho e dividido com um número
maior de rendeiras, alcançando inclusive rendeiras do grupo ‘C’, o que não é comum. Quanto
menor for a encomenda, menos rendeiras são chamadas para o trabalho, sendo privilegiadas
aquelas mais freqüentes no Núcleo até pelo fácil acesso e comunicação, no caso o grupo ‘A’
em primeiro lugar e em seguida o grupo ‘B’ de rendeiras.
5.1.2. Níveis de Produção
No gráfico seguinte é possível observar a quantidade de rendeiras por grupo de foco, além da
participação deles no Núcleo de Produção em relação a quantidade de diferentes peças
produzidas, número de peças em estoque e seu valor e percentual monetário.
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5
15
33
23
6
257
9
16
2.812,00 ;18,22%
1.645,00 ;10,66%
10.805,00 ;70,02%
5
Quantidade
de Rendeiras
Tipos de
Peças
Grupo 'A'
Quantidade
de Peças
Grupo 'B'
Valor em
Es toque
Grupo 'C'
Gráfico 01- Relação entre grupos de foco e peças em estoque
A partir desses números é possível observar algumas vantagens das rendeiras que compõem o
grupo ‘A’ em relação as demais. Em primeiro lugar percebe-se rapidamente no gráfico que
apenas cinco podem produzir aproximadamente três vezes mais tipos de produtos diferentes
que as do grupo ‘B’ ou ‘C’. Enquanto o grupo ‘A’ detém 81,6% do número de peças em
estoque, que significa 70,0% de seu valor monetário, os demais grupos se somados possuem
apenas 18,4% e 30% desses valores respectivamente. Ao questionarmos as rendeiras que
compõem os grupos ‘B’ e ‘C’ sobre seus níveis de produção, descobrimos que são
consideravelmente inferiores aos das rendeiras que freqüentam diariamente o Núcleo e o
principal motivo disso é a falta de rotina fixa para a produção, exercício de outras atividades
que não as domésticas e interrupção constante da atividade devido ao aparecimento de outros
afazeres em casa, além da pouca possibilidade de venda. Segundo Veiga e Fonseca (2002),
uma das vantagens da organização cooperativa é o aumento da produção individual, aumento
da possibilidade de auto-abastecimento e a possibilidade de produzir muitos itens em escalas
rentáveis.
No próximo gráfico percebe-se que enquanto as rendeiras do Grupo ‘A’ podem produzir de 3
a 16 produtos diferentes, sendo aprendiz a que produz apenas 3 tipos, as rendeiras do Grupo
‘B’ produzem de 1 a 6 tipos de produtos e as do Grupo ‘C’ podem produzir apenas de 1 até 5
produtos diferentes. Daí observa-se que as rendeiras do Grupo ‘A’, produzem uma variedade
bem maior de produtos se comparadas com as rendeiras dos demais grupos, do mesmo modo
as rendeiras do Grupo ‘B’, as que podem produzir maior variedade que as do Grupo ‘C’,
atribuímos esses resultados a participação freqüente no Núcleo, visto que o grupo ‘B’ é
composto por rendeiras que já o freqüentaram.
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18
16
16
Tipos de Peças
14
12
10
10
8
6
7
6
4
4
3
2
2
1
1
0
1
2
2
3
5
1
4
1
5
2
1
6
7
2
1
8
9
1
10
11
1
12
1
13
2
1
14
15
Quantidade de Rendeiras
Grupo 'A'
Grupo'B'
Grupo'C'
Gráfico 02- Quantidade de peças por rendeira de cada grupo de foco
Essa vantagem é atribuída a possibilidade de intercâmbio de conhecimentos e idéias quando
reunidas, pois, ao sentir dificuldade em alguma peça ou ponto da renda a rendeira tem outras
por perto que poderão auxilia-la e estimula-la a prosseguir, não ocorre na produção individual.
5.2. Administração e comercialização
Existem regras informais que foram sendo definidas por elas em comum acordo, tais como
horários de funcionamento, locais e posições de cada uma no arranjo físico, limpeza, lanche,
acesso à sala de mercadorias, negociações, entre outras normas que possibilitaram a formação
de um grupo homogêneo e cooperativo, no qual a hierarquia se dá através apenas do respeito e
ninguém ultrapassa o seu limite e sua função (SALDANHA et al, 2007).
A administração dos recursos financeiros e materiais é feita pela fundadora de forma bem
simples. Existem gastos com energia elétrica, água, materiais de higiene do local e pessoal,
além da compra dos insumos para a produção. Todos esses gastos são pagos com os recursos
adquiridos através da comercialização das peças, já que 20% de seu valor de venda é retido
pelo Núcleo, enquanto os 80% restantes são entregues as rendeiras que tiveram seus produtos
vendidos. Esse é um acordo feito entre as rendeiras que deixam suas peças sob consignação e
o Núcleo e é a forma de remunerar o esforço de venda e de auto-sustentar suas atividades.
Os insumos (almofadas, alfinetes, espinhos, papelões, linhas) são de propriedade do Núcleo
de Produção e consequentemente de todas as rendeiras que o integram, por isso não podem
ser utilizados na produção domiciliar de destino próprio, ou seja, se o produto acabado não
tiver como destino os estoques do Núcleo para sua posterior comercialização, quando tanto a
rendeira como o Núcleo serão remunerados, esses insumos não poderão ser utilizados. Porém,
enquanto a rendeira estiver freqüentando ou produzindo para o Núcleo ela tem o direito de
utilizar qualquer um dos insumos sem precisar pagar antecipadamente, mesmo que passe
longo período sem comercializar peças e, portanto, sem pagar a associação.
O Núcleo de Produção Artesanal é o principal meio de escoamento da produção de boa parte
das rendeiras da Vila de Ponta Negra, já que as rendeiras que produzem individualmente não
possuem alternativas ou oportunidades de comercialização em suas casas (elas não saem na
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008
rua para vender as peças), e para não parar o trabalho da renda, elas produzem sem demanda e
acabam enviando ao Núcleo na tentativa de comercializa-las.
A comercialização é feita principalmente através de feiras de artesanato ou não, promovidas
pela iniciativa pública ou privada com interesse em ações junto a artesãos. No entanto, podem
ocorrer oportunidades de vendas dentro do espaço do próprio Núcleo, deixando-as mais
próximas do mercado consumidor do que as rendeiras dos grupos ‘B’ e ‘C’. Por isso
produzem de acordo com a demanda instruídas pela rendeira que comercializa as peças no
local ou nas feiras, onde entra em contato com os clientes e que, por isso, conhece suas
preferências. Porém, cada rendeira não é obrigada a fazer aquilo que foi sugerido apesar, de
ser comum a aceitação da sugestão.
Possuem maior visibilidade para turistas, consumidores, grupos de estudos, a própria
população do bairro e de toda a cidade e a mídia, o que torna público a existência do Núcleo,
das rendeiras, da renda de bilro e estimula a curiosidade da população e a própria
comercialização das peças. Recebem frequentemente convites para participação em grandes
feiras no Estado e fora dele, com auxílio da Prefeitura, do Governo do Estado ou outros
órgãos, além de convites para participação em eventos de cultura e lazer.
Nesse contexto, a organização do trabalho cooperativo estimula, potencializa e
diversifica as relações sociais pois, numa visão holística busca entender as
aspirações dos vários grupos envolvidos no processo de organização da produção, o
gerenciamento e a construção de conhecimentos tácitos e explícitos (MARTINS et
al, 2004).
5.3. Aprendizado
Tradicionalmente, o aprendizado da renda de bilro acontece na infância, entre os sete e os 10
anos de idade, pois, segundo algumas rendeiras, é o melhor período para assimilar os
movimentos dos bilros e compreender os caminhos dos desenhos.
Por necessitar de orientação constante e por um bom período de tempo, variando segundo
habilidades individuais para a arte, o ideal é que a aprendiz tenha o auxílio de uma rendeira
mais experiente dando assistência praticamente em tempo integral no início, o que irá
diminuindo com o tempo e a destreza com os bilros e compreensão dos desenhos.
Apesar da maior parte das rendeiras não apresentar o interesse em repassar os conhecimentos
da renda, o que dificulta a perpetuação da arte, ainda há algumas que se disponibilizam a
ensinamentos e por isso o Núcleo de Produção representa uma excelente oportunidade para
uma aprendiz, visto que estão reunidas rendeiras com elevados níveis de experiência e que
estão disponíveis para a renda durante todo esse período.
A maioria dessas mulheres possui descendentes que sabem rendar e que foram ensinadas por
elas mesmas, apesar de não praticarem. Isso acontece principalmente a falta de rentabilidade
do trabalho, a demora natural da produção e aos baixos níveis de comercialização. Segundo o
relato de uma das rendeiras: “diz [filha da rendeira] que não vai ficar três horas sentada
numa almofada pra fazer uma peça pra ganhar nada, elas prefere fazer unha né, que senta
hora e meia e ganha 10, 12 reais (...)”.
6. Conclusões
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A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
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A organização do trabalho cooperada torna o grupo mais forte e cria uma rotina e uma
identidade para a tradição da Renda de Bilro na Vila de Ponta Negra. As rendeiras unidas são
capazes de produzir o que o mercado pede, pois estão mais próximas dos clientes, como
mostram os gráficos e os resultados do Inventário.
As rendeiras desenvolvem o trabalho cooperativo sem ter a exata compreensão de seus
princípios, fazendo-o instintivamente. A falta de conhecimento pode, de início, ser um
problema, porém com a motivação e o empenho dessas rendeiras, dificuldades podem ser
ultrapassadas em prol da manutenção e sobrevivência do Núcleo e da renda, superando de
forma cooperativa problemas de comercialização e da falta de rentabilidade, que é um dos
fatores do afastamento das rendeiras do grupo de foco ‘B’.
As rendeiras que freqüentem o Núcleo têm maior visibilidade do que as que não participam
tão ativamente, tanto por saberem o que podem produzir e comercializar mais, quanto por
estarem produzindo mais e possuírem uma variedade maior de produtos em estoque. Produtos
à venda no Núcleo possuem uma possibilidade maior de venda, considerando também que as
rendeiras que não o freqüentam comercializam apenas por encomendas e podem ficar até
certo tempo sem rendar.
A cooperação traz maiores possibilidades de aprendizagem e a troca de experiências,
proporcionando um conhecimento maior das rendeiras sobre as próprias técnicas da renda de
bilro. O estímulo á cooperação entre as participantes do Núcleo de Produção da Vila de Ponta
Negra, conservará a tradição da Renda de Bilro na comunidade, evitando a extinção desta
atividade tão antiga e tão expressiva de uma cultura tão miscigenada, como a cultura
brasileira.
7. Bibliografia
CASA DO FERA – CDF. Origem da faculdade CDF Ponta Negra.
<http://www.faculdadecdfpontanegra.com/instituicao.htm>. Acesso em: 11 mar. 2007.
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MARTINS, P. F.; SILVA, B. M. da; ALMEIDA, A. S.; CHAGAS, C. S. Gestão do Conhecimento no modo
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Estudantes de Engenharia de Produção, Florianópolis/SC, nov./2004. págs. 1099-1106.
O ARTESANATO e o mercado internacional: comércio e codificação aduaneira. Disponível em:
<http://www.aprendendoaexportar.org.br>. Acesso em: 10 mar. 2007.
RAMOS, R. E. B. Memorial de aula da disciplina Organização do Trabalho, lecionado ao curso de graduação
em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2000.
SALDANHA, M. C. W.; MARTINS JR., M.; BARROS, K. S.; COSTA, R. F.; BEZERRA, I. X. B. A
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SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E URBANISMO DE NATAL – SEMURB;
Departamento de Informação, Pesquisa e Estatítica; Setor de Pesquisa e Estatítica. Conheça melhor o seu bairro:
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repercussões da organização do trabalho artesanal