VARIABILIDADE DAS CHUVAS MÁXIMAS EM 24 HORAS NO RECIFE - PE
Raimundo Jaildo dos Anjos
Instituto Nacional de Meteorologia – INMET
Fone : 081XX4241680
e-mail : [email protected]
ABSTRACT
This work presents an observacional analysis of the historical series of precipitation data daily greatest or equal 20 mm
of the meteorologycal station of Recife – Pe. A special enphasis is given for El Niño years. The climatic variations when
associates to these phenomena of strong intensity present acceptable safety margin, as it occurred during the El Niño of
1982/83 and 1997/98.
INTRODUÇÃO
Por ocasião de intensas e duradouras precipitações as grandes cidades tem enfrentado vários transtornos
causados por chuvas intensas e duradouras, em alguns casos com até perdas de vidas humanas. As precipitações mais
sérias ocorrem quando chuvas fortes e intensas estão associadas a sistemas atmosféricos em uma escala de tempo maior.
Em uma determinada época do ano as chuvas podem ser úteis ou prejudiciais ao setor agrícola de uma região,
dependendo de sua ocorrência coincidir com o período vegetativo ou colheita de determinadas culturas. Se por um lado
fortes chuvas contribuem para alagamentos de ruas, transtornos no trânsito, etc, por outro lado, a continuidade da
intensidade da chuva alimentam as reservas de água de uma cidade.
Alguns pesquisadores tem destacado em seus trabalhos aspectos da variabilidade da precipitação na Região
Nordeste do Brasil. Segundo Kousky (1979) as estações ao longo da costa leste do Brasil experimentam uma atividade
máxima na precipitação entre 21:00 e 09:00 horas. Mais recentemente, Anjos (1986, 1998) observou que atividade
máxima da precipitação no Recife-PE entre 03:00 e 06:00 horas, ocorre com uma freqüência média de 28 dias nos meses
do outono e inverno, para chuvas diárias maior ou igual a 20 mm. Nessa mesma linha de pesquisa Nechet (1984)
observou que em Macapá – AP, tanto a precipitação como a trovoada tem maior ocorrência no período das 05:00 as
18:00 horas locais.
O estudo das chuvas máximas (24 horas) apresenta grande interesse, não só por sua aplicação em estudos
hidrológicos e na agricultura, mas também sob o ponto de vista climatológico, contribuindo para o estudo dos sistemas
sinóticos associados as ocorrências de chuvas máximas (Tavares e Elliz, 1980). Estudos relacionados ao fenômeno El
Niño/Oscilação Sul (Enos) e sua relação com a precipitação no semi-árido do Nordeste estão bem avançados, entretanto,
são poucas as pesquisas voltadas a variabilidade da precipitação no litoral dessa região, principalmente, se reduzirmos a
escala espacial de tempo da anual ou mensal para a diária.
Devido a influência do fenômeno El Niño na variabilidade da precipitação em varias regiões do globo, este
estudo observacional tem o objetivo de avaliar o impacto da atuação desse tipo de fenômeno natural na Cidade do Recife
– PE, através de uma análise da variabilidade da freqüência de dias com quantidades extremas de precipitação em 24
horas (chuvas máximas em um dia), igual ou superior a 20 mm.
DADOS E METODOLOGIA
Os dados diários de precipitação utilizados na execução desse trabalho, compreende a série histórica de 1961 a
1999 da Estação Climatológica Principal do Recife - PE, cedidas pelo Instituto Nacional de Meteorologia - INMET. A
variabilidade das chuvas máximas em 24 horas maior ou igual a 20 mm durante os anos de atuação do fenômeno El
Niño é investigada nas estações do outono (março-abril-maio) e inverno (junho-julho-agosto), que responde por 77.8%
do total anual. A partir desses totais foi obtido a média do total de dias para o outono e inverno, posteriormente,
obtivemos os desvios para cada estação, e, finalmente, a média estacional dos desvios da freqüência das chuvas
máximas em 24 horas. Não consideramos em nosso estudo chuvas diárias inferiores a 20 mm.
1200
Segundo o CPTEC, ocorreram eventos do fenômeno El Niño nos anos de 1965/66, 1969/70, 1972/73,
1976/77/78, 1982/83, 1986/87, 1991/92/93/94/95, 1997/98.
RESULTADOS
A precipitação no Recife é tipicamente dividida em dois regimes : o período do outono – inverno que responde
por 77,8% do total anual de 2450.2 mm, com picos máximos no trimestre maio-junho-julho, e o da primavera – verão
que responde por apenas 22,2%.
O estudo observacional de Anjos (1998), revela que a contribuição do total de dias com chuvas máximas em 24
horas maior ou igual a 20 mm em Recife no outono - inverno, tem valores médios iguais a 14 eventos nas duas estações,
com média máximas mensal de 6 eventos nos meses de junho e julho (Tabela 1).
Tabela 1 – Frequência média de dias com chuvas máximas em 24 horas maior ou igual a 20 mm em
Recife.
Março
4
Abril
5
Maio
5
Junho
6
Julho
6
Agosto
2
Total
28
As Figuras 1 e 2 mostram a série temporal de anomalias de dias com chuvas maior ou igual a 20 mm
no outono e inverno durante anos de atuação do fenômeno El Niño. A evolução das anomalias de chuvas
máximas em 24 horas em Recife, mostra uma certa predominância na irregularidade temporal, haja vista que
observa-se em anos de El Niño a presença de desvios positivos e negativos na frequência de dias com chuvas
máximas, indicando freqüências acima e abaixo da média nas duas estações (outono e inverno). Pode ser
observado uma melhor padronização para desvios negativos durante eventos extremos de El Niño, como os
de 1982/83 e 1997/1998, com desvios negativos de 8 chuvas no outono/inverno de 1982 e de 14 no ano de
1983, enquanto, no evento de 1997/1998 ocorreram 6 chuvas a menos no outono - inverno de 1997 e 14 a
menos em 1998. É bom ressaltar que os eventos extremos de 1983 e 1998 são considerados anos +1 de El
Niño, justamente anos de ocorrência de respectivamente 14 dias com chuvas máximas a menos no outono inverno, contra uma média de 28 (Tabela 1). Por outro lado, durante outros eventos de El Niño a frequência
dessas chuvas ficaram acima da média, a exemplo do El Niño fraco de 1986 com 21 dias de chuvas máximas
acima da média, sendo que 14 desses eventos ocorreram no inverno (Fig. 2), período do início de TSM no
Oceano Pacífico Equatorial mais aquecidas do que a normal. Apesar do surgimento de águas aquecidas do
Oceano Pacífico Equatorial, as TSM em 1986 sobre o Oceano Atlântico Tropical foi marcada pela
configuração do Padrão Dipolo Negativo (Tabela 2), ou seja, águas mais aquecidas no Atlântico Tropical Sul
e águas menos aquecidas no Atlântico Tropical Norte. As relações com padrões de anomalias positivas no
Oceano Atlântico Tropical Sul, como foi observado no ano de 1986, mesmo com atuação de padrões de águas
aquecidas no Oceano Pacífico Equatorial é uma das evidências de que os fenômenos atmosféricos e oceânicos
sobre a bacia do Atlântico Tropical são estatisticamente mais significativos para a variabilidade interanual do
clima sobre o Nordeste do Brasil do que os fenômenos sobre o Oceano Pacífico (Chu, 1984; Hastenrath et al.,
1987).
Tabela 2 – Anomalias mensal de TSM (ºC) no Oceano Atlântico Tropical.
Setor
Norte
Sul
Jan
Fev Mar Abril Maio Jun
Jul
Ago Set
Out Nov Dez
-0.48 -0.29 -0.29 -0.53 -0.46 -0.46 -0.39 -0.33 -0.23 -0.28 -0.17 -0.67
0.09 0.40 0.36 0.21 0.27 0.36 0.23 0.25 0.25 0.16 0.03 0.11
Fonte : NCEP/NOAA
1201
TOTAL DE DIAS
10
5
0
65 66 69 70 72 73 76 77 78 82 83 86 87 91 92 93 94 95 97 98
-5
-10
-15
ANOS
Fig. 1 – Desvios da frequência de dias com chuvas maior ou igual a 20 mm
no outono em Recife – PE, durante eventos de El Niño
20
TOTAL DE DIAS
15
10
5
0
-5
65 66 69 70 72 73 76 77 78 82 83 86 87 91 92 93 94 95 97 98
-10
ANOS
Fig. 2 – Desvios da frequência de dias com chuvas maior ou igual a 20 mm
no inverno em Recife – PE, durante eventos de El Niño
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANJOS, R. J; ANJOS. B. L. Características da precipitação no Recife – PE. I Congresso
Interamericano de Meteorologia e IV Congresso Brasileiro de Meteorologia. Brasília, 1986.
ANJOS, R. J. Aguaceiros em Recife – PE : Uma Climatologia de 36 anos. X Congresso Brasileiro
de Meteorologia e VIII Congresso da Flismet. Brasília, 1998.
CHU, P. S. Time and space variability of rainfall and surface circulation in the northeast Brazil –
1202
tropical Atlantic sector. J. Meteorol. Soc. Japan, 1984. 62, 363 – 370.
HASTENRATH, S; L. C. CASTRO, and P. ACEITUNO. The Southern Oscillation in the tropical
Atlantic sector. Contrib. Atmos. Phys. 1987. 60, 447 – 463.
KOUSKY, V. E. Frontal influences on Northeast Brazil . Mon. Wea. Rer. 1979. 107, 1140-1153
NECHET, D. Variabilidade diurna de precipitação e trovoadas em Macapá – AP, VII Congresso
Brasileiro de Meteorologia, Belo Horizonte. 1994. Vol. 1, pg. 180 – 183.
TAVARES, A. S; ELLIZ, J. Chuva máxima em um dia no Nordeste do Brasil. Boletim Técnico Nº 8.
1980. Instituto Nacional de Meteorologia.
1203
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