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COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO
ELIAS, Marcos Teixeira. Sobre a arte de respirar bem. Curitiba: Centro Reichiano, 2007.
Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.htm. Acesso em: _____/_____/_____.
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SOBRE A ARTE DE RESPIRAR BEM
Marcos T. Elias (Mahamuni das)
Introdução
O presente artigo versa sobre a arte de respirar. Movimento sutil, delicado, muitas
vezes despercebido, a respiração é um dos nossos atos mais vitais. Ela acompanha-nos
desde o nosso primeiro momento de vida, e há de acompanhar-nos até o último. Por isso
se trata de uma grande amiga, uma amiga especial, que em sábios sussurros, é capaz de
dizer-nos tudo acerca de nós mesmos. Sabendo ouvi-la bem, eis que também nós
podemos nos tornar sábios.
Tudo o que sentimos se expressa em nossa respiração, suspiros profundos de
felicidade, suspiros ternos de saudades, ares que tremem com o medo, ares que se
afogam no choro. Emoções e sentimentos se medem pelo movimento que o ar faz ao
dançar sobre a melodia que o corpo toca. Se a melodia é alegre, é calma, é forte, triste,
desesperadora, fará com que o ar dance de maneiras diferentes. Mas pode acontecer
também que a dança do ar, em coreografia estudada, em arte polida, solicite ao corpo a
melodia que lhe é mais adequada para a sua dança.
O que quero dizer com isso é simples: é que assim como o que sentimos afeta
diretamente a nossa maneira de respirar, a maneira como nos educamos a respirar pode
modificar as coisas que sentimos, ou a maneira como as sentimos. Assim, ouvir a
respiração é uma arte, e saber respirar é poder escolher a música que mais nos agrada
ouvir.
Deixando um pouco as metáforas, proponho -me a apresentar de forma didática,
sistemática, quase que dissecada – como fazem os anatomistas – quais são os diferentes
estágios e as diferentes vias pelas quais a respiração ocorre. O objetivo final é apresentar
algumas técnicas de respiração que podem ser empregadas para fins terapêuticos e
principalmente, para o auto-conhecimento.
As três áreas de respiração
Vamos ao corpo humano, este belo instrumento da natureza, que está em
constante movimento de troca com o mundo. Por mais que estejamos parados, há uma
parte dele que nunca pára; se olhamos para baixo, podemos notar que nosso abdômen e
nossa caixa torácica estão em eterno pulsar, por mais sutil e superficial que este seja. Se
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assim não fosse, não estaríamos vivos. Em termos gerais, o movimento da respiração
abrange desde a parte mais baixa do nosso ventre até a parte mais alta do peito, e de
forma menos perceptível, movimenta também a garganta assim como as narinas.
De forma didática, poderíamos dividir o movimento respiratório em três áreas do
corpo:
- Respiração abdominal ou diafragmática: é aquela que acentua o movimento na
parte baixa da barriga, fazendo a barriga crescer com a inspiração e recolher-se na
exalação. O ar concentra-se na parte baixa dos pulmões. Esta respiração é a que exige
menos esforço e corresponde à aproximadamente 60% do ar que podemos absorver. É
predominante em estados de descanso, relaxamento e durante o sono.
- Respiração intercostal ou média: é aquela que movimenta a região intermediária
entre o abdômen e o peito, fazendo as costelas inferiores se abrirem na inspiração e se
recolherem na exalação. Para fazê-la de forma isolada requer-se bastante treino e
controle da respiração. Equivale à 30% do volume de ar que podemos absorver.
- Respiração clavicular ou peitoral: é aquela que movimenta a parte alta do tronco,
abrindo e elevando o peito na inspiração, recolhendo-o na exalação. O ar concentra-se na
parte mais alta dos pulmões. Esta respiração é a que exige o maior esforço do corpo e
corresponde a 10% do volume de ar que podemos absorver. Por exigir mais esforço, está
mais presente em momentos de excitação quando o corpo necessita de maior tônus
muscular. (Kupfer, 2001, p. 143-158)
Podemos chamar a respiração de completa quando há o movimento destas três
áreas, utilizando assim toda a capacidade pulmonar. Neste caso observamos que há
movimento tanto na barriga qua nto em toda a caixa torácica. Treinar esta forma de
respiração contribui para a flexibilização das couraças que envolvem estas áreas do
corpo, uma vez que amplia a capacidade de expansão e recolhimento da musculatura em
questão.
Exercício para as três áreas de respiração:
Estando na postura ereta, sentado ou deitado, leve as mãos primeiro sobre o
abdômen, concentre sua respiração nesta região e procure sentir, com o auxílio das
mãos, a barriga se enchendo na inspiração e se recolhendo na exalação. Busque
gradualmente expandir este movimento, tornando a respiração cada vez mais lenta e
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profunda, enchendo cada vez mais a barriga e recolhendo-a cada vez mais. Depois
coloque as mãos à altura das costelas, abaixo do peito, com as mãos apontando para o
centro. Procure então concentrar sua respiração nesta região, sentindo através das mãos
as costelas se abrindo com a inspiração, e se recolhendo com a exalação. Busque
expandir gradualmente este movimento. Ao fim, leve as mãos acima do peito, um pouco
abaixo das clavículas. Concentre-se nesta região e procure sentir o peito se elevando
com a inspiração e declinando com a exalação. Procure fazer pelo menos 10 respirações
em cada uma das três áreas.
Agora vamos unir as três áreas. Deixe uma das mãos sobre a barriga e outra sobre
o peito. Ao inspirar, concentre-se em encher primeiro a barriga, e gradualmente vá
trazendo a consciência e a respiração até o peito enchendo também o peito. Ao exalar,
busque sentir primeiro o peito se esvaziando e por último esvazie a barriga. Repita a
respiração desta forma por mais alguns ciclos.
As quatro fases da respiração
Passando da anatomia à fisiologia da respiração, podemos dividir o movimento
respiratório em quatro momentos distintos, que são:
- Inspiração: movimento de trazer o ar para dentro dos pulmões.
- Pausa com pulmões cheios: momento em que o movimento inspiratório cessa e
os pulmões estão carregados de ar.
- Exalação: movimento de expulsar o ar dos pulmões.
- Pausa com pulmões vazios: momento em que a exalação cessa e os pulmões
estão destituídos de ar.
Em uma respiração natural e espontânea, o corpo emprega esforço para inspirar
(movimento ativo), sendo que para exalar não é necessário esforço (movimento passivo).
A inspiração, portanto está associada à força e à excitação, enquanto a exalação está
associada ao relaxamento e à quietude. Perceber a alternância entre estes momentos
equivale a perceber o movimento de pulsação da vida que resume, em psicologia
corporal, a nossa capacidade de sermos saudáveis. Expansão e recolhimento, abrir e
fechar, aceitar o que vem, deixar ir o que vai. O movimento respiratório repete o eterno
ciclo da vida, onde alternam-se nascimento e morte, encontro e separação, ação e
repouso.
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Da mesma forma, podemos associar os momentos de pausa com os pulmões
cheios e pausa com os pulmões vazios às sensações de ter e o não ter, o estar suprido e
o estar em falta.
Exercício: Para experimentar com profundidade cada fase da respiração, podemos
exercitá-las da seguinte forma:
1ª. Etapa (inspirar e exalar) – Sente-se com a coluna ereta. Buscando fazer uma
contagem mental, tente inspirar durante 4 segundos e exalar durante 4 segundos. Inspire
contando até 4 e exale contando até 4, repetindo algumas vezes. Procure perceber
sensações, emoções e sentimentos associados a cada movimento de inspiração e a cada
movimento de exalação.
2ª. Etapa (inspirar, reter e exalar) – Mantendo a mesma contagem mental, você vai
agora inserir a retenção com os pulmões cheios. Inspire em 4 segundos, prenda o ar em 4
segundos, exale em 4 segundos. Repita o processo algumas vezes. Procure perceber
sensações, sentimentos ou pensamentos associados a este momento com os pulmões
cheios.
3ª. Etapa (inspirar, exalar, reter) - Agora você fará a retenção com os pulmões
vazios. Inspire em 4 segundos, exale em 4 segundos, mantenha pulmões vazios por 4
segundos, volte a inspirar em 4 segundos e repita o mesmo procedimento algumas vezes.
Procure perceber sensações, sentimentos e pensamentos associados à experiência de
ter os pulmões vazios.
4ª. Etapa (inspirar, reter, exalar, reter) – Agora unimos os quatro momentos. Inspire
em 4 segundos, retenha o ar por 4 segundos, exale em 4 segundos e permaneça de
pulmões vazios por 4 segundos. Repita algumas vezes. Procure sentir esta alternância
entre pulmões cheios e vazios, entre o ato de encher-se e esvaziar-se, expandir-se e
recolher-se. Procure sentir como este movimento reflete o pulsar da própria vida, que ora
nos faz plenos, ora nos esvazia, ora nos faz ganhar, ora nos faz perder.
Lateralidade do corpo e da respiração.
Assim como o nosso corpo se divide em lados direito e esquerdo, também a
respiração pode ser observada sobre o ponto de vista da narina direita ou esquerda. Se
fizermos uma observação atenta, notaremos que em diferentes momentos uma de nossas
narinas se encontra mais aberta, enquanto a outra estará um pouco mais obstruída.
Infelizmente as conseqüências destas variações de lateralidades não foram levadas em
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conta pela ciência da fisiologia no ocidente. Porém vem sendo estudada a milhares de
anos no oriente, entre a cultura dos yogues.
Sabemos como o hemisfério cerebral esquerdo, que rege toda a porção direita do
corpo, está associado às funções ligadas à lógica e à razão, enquanto o hemisfério
cerebral direito, regendo a porção esquerda do corpo, está mais ligado ao sentimento e à
intuição. Simbolicamente, a parte direita do corpo (exceto no canhoto) está associada à
força, ao controle racional, ao masculino, à ação, à extroversão, ao aspecto solar e ao
calor. Os membros do lado direito são sempre os mais desenvolvidos para operar as mais
diversas ações, escrever, jogar, lutar, etc... Em oposição, o lado esquerdo está associado
à delicadeza, ao feminino, à quietude, à introversão, ao lunar e ao frescor. O lado
esquerdo sempre fica mais passivo, participando menos das ações voluntárias
empreendidas pelo corpo.
Estas mesmas qualidades estão presentes na atividade respiratória, sendo que a
narina esquerda vincula-se a todas as qualidades supracitadas do lado esquerdo do
corpo, enquanto a narina direita vincula -se às qualidades do lado direito.
Assim temos:
Respiração pela narina direita: vinculada à ação, ao calor, à extroversão e ao
masculino.
Respiração pela narina esquerda: vinculada ao relaxamento, ao frescor, à
introversão e ao feminino. (Johari, 1995, p. 31-37)
Exercícios:
1- Respirando pela narina esquerda: Sente -se com a coluna ereta. Levando a mão
direita ao rosto, apóie os dedos indicador e médio entre as sobrancelhas e então leve o
dedo polegar até a narina direita, obstruindo-a. Permaneça por alguns segundos
respirando apenas pela narina esquerda. Busque se concentrar nas sensações desta
respiração, bem como procure sentir o que o lado esquerdo do seu corpo representa para
você.
2 – Respirando pela narina direita: Agora levando a mão esquerda ao rosto, apóie
os dedos indicador e médio entre as sobrancelhas e então leve o dedo polegar à narina
esquerda, obstruindo-a. Permaneça por alguns segundos respirando apenas pela narina
direita. Busque se concentrar nas sensações desta respiração, bem como procure sentir o
que o lado direito do seu corpo representa para você.
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3 – Alternando narina esquerda e direita: Agora mantendo a mão direita ou
esquerda sobre o rosto (como preferir), apóie novamente os dedos indicador e médio
entre as sobrancelhas. Você vai usar o polegar e o anular para obstruir as narinas
alternadamente. Obstrua primeiro a narina direita e inspire pela esquerda. Após encher os
pulmões, obstrua então a narina e esquerda e exale pela direita. Ao esvaziar-se, volte
inspirando pela narina direita e depois exale pela narina esquerda. Repita o ciclo
inspirando novamente pela narina esquerda. Durante o exercício, procure sentir esta
alternância entre o lado esquerdo e direito do corpo. Perceba se há diferença entre
respirar pela narina esquerda e pela direita. Repita o exercício várias vezes ao longo do
dia e perceba qual a narina que tende a estar mais predominante em diferentes
momentos. Procure então refletir sobre as características supracitadas de cada narina e
as suas próprias características psicológicas predominantes. Procure sentir como o
exercício o leva gradualmente ao equilíbrio entre ação e repouso, extroversão e
introversão, pensamento e sentimento.
Aprofundando e meditando sobre a respiração
Deter-se sobre o movimento da respiração é sem dúvida uma das melhores formas
de alcançarmos um sentimento de paz, quietude e serenidade. Na cultura do yoga, a
expansão da respiração e a absorção da consciência neste processo sempre foram
utilizadas como um veículo para propiciar estados meditativos.
Para concluir gostaria de apresentar um exercício simples que, se praticado com
afinco, pode render ao leitor a possibilidade de experiências realmente muito profundas e
transformadoras.
Expandindo a respiração ao infinito: Em posição sentada, com a coluna ereta,
procure observar a sua respiração por alguns segundos. Concentrando-se então, procure
contar mentalmente 4 segundos para inspirar e 4 segundos para exalar. Repita durante
algum tempo. Depois procure aumentar a duração do processo, passando a inspirar em 6
segundos e a exalar em 6 segundos. Após um tempo, procure expandir um pouco mais,
inspirando em 8 segundos e exalando em 8 segundos. Neste ritmo, continue aumentando
gradualmente a contagem e veja o quanto sua respiração pode expandir-se na linha do
tempo.
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Conclusão
Listamos aqui algumas dentre as infinitas possibilidades de se trabalhar com a
respiração. Como podemos ver, o estudo da respiração constitui uma verdadeira ciência,
enquanto educar e treinar a própria respiração se trata de uma verdadeira arte, cujas
repercussões psicológicas estão ainda longe de serem totalmente abarcadas. Para
terminar, cito as palavras de Lowen:
O indivíduo que não respira corretamente reduz a vida do seu corpo. Se não se
movimenta livremente, limita a vida de seu corpo. Se não se sente inteiramente, estreita a
vida do seu corpo e, se sua auto-expressão é reduzida, o indivíduo terá a vida do seu
corpo restringida. (Lowen, 1982, p.38)
Assim, respirar profundamente significa viver profundamente, avançando das
cavernas de nossas prisões em direção à luz de nossa própria liberdade.
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Referências
JOHARI, H. Chakras: centros energéticos de transformação. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1995.
KUPFER, P. Yoga Prático. Florianópolis: Fundação Dharma, 2001.
LOWEN, A. Bioenergética. São Paulo: Summus Editorial, 1982
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Marcos Teixeira Elias (Mahamuni das)/PR - Psicólogo junguiano, formado em psicologia pela
Universidade Federal do Paraná, cursando especialização em Psicoterapia Corporal pelo Centro
Reichiano, professor de Yoga, co-diretor do centro de Yoga Gandiva Ashram, membro da
Sociedade Internacional para Consciência de Krishna.
E-mail: [email protected]
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