Perfil: Heloísa Albuquerque
Texto: Thiago Araujo • Fotos: Marcelo de Mattos
Fada Madrinha
Foi em frente à tela de uma televisão que os olhos da pequena Heloísa Albuquerque brilharam
pela primeira vez. Ela se encantou com o vestido de Cinderela, presente da fada madrinha para o
grande baile com o príncipe. Ao assistir o clássico filme, percebeu os primeiros indícios de sua real
vocação: confeccionar modelos de noiva e trajes de festa. Anos depois, a estilista viu seu nome
virar grife na sociedade carioca. E o sucesso, construído ao longo de uma sólida trajetória de vida,
é fruto de trabalho e perseverança no glamuroso mundo da alta-costura.
N
ascida no final dos anos 1960,
filha de um médico e uma professora, ela cresceu em meio à efervescência cultural de Ipanema. Sua primeira investida no universo das linhas
e agulhas foi na produção de trajes para
as suas bonecas. O material necessário,
ela conseguia com suas avós, incentivadoras de seu talento natural.
A brincadeira resistiu à chegada da
adolescência. Nesta época, Heloísa costumava passar as tardes nos corredores
da Casa Alberto e da Nuance. Ela queria conhecer melhor os tecidos e desvendar todos os segredos sobre cores e
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texturas. Os vendedores já a conheciam
e nem sempre ficavam felizes com suas visitas. “Eu chegava com um monte
de perguntas, pedia para ver diferentes
estampas, e no fim, quase sempre não
comprava nada”, relembra.
Com a proximidade da conclusão
do ensino médio, no tradicional colégio Santo Inácio, Heloísa precisou optar por uma carreira na universidade.
Única mulher em meio a três irmãos
homens, por pressão dos pais, escolheu estudar Economia, uma das carreiras tidas como garantia de futuro
promissor. Era difícil para uma
família tradicional da Zona Sul carioca entender que sua filha gostaria de
ser... costureira.
Após a graduação, aos 21 anos,
Heloísa passou em um concurso da
Interbrás, antiga empresa da Petrobras.
Mas, a estabilidade financeira do novo
emprego não a deixava feliz. Foi então
que se matriculou no curso de Estilismo
em Confecção Industrial da faculdade
Senai-Cetiqt. Estava dado o primeiro
passo para a profissionalização.
“Nunca deixo
de escutar os
anseios das noivas,
pois são elas que
definem a direção
que devo tomar”
Heloísa Albuquerque recebe as noivas em seu escritório, onde desenha belos modelos nupciais
dos a partir de um espartilho moldado ao corpo artesanalmente, sem o
uso de máquinas. E os materiais utilizados na confecção são importados
da Europa. Até os alfinetes.
Heloísa garante que não existem
composições iguais na alta-costura.
“Os vestidos são produzidos sobre a
estrutura corporal de cada mulher,
com até oito provas para se chegar à
versão final”. Quanto aos modismos
ou tendências, ela explica que o importante é respeitar a opinião, a personalidade e as medidas da noiva. Um
tomara-que-caia lindo em uma modelo, por exemplo, pode ser totalmente
inadequado para outra pessoa.
O estilo elegante e cool da estilista, tão próprio da despojada sofisticação carioca, torna seu trabalho ainda
mais encantador. E o segredo do sucesso, Heloísa resume. “Nunca deixo
de escutar os anseios das noivas, pois
são elas que definem a direção que
devo tomar”. O resultado, estampado
em vestidos magníficos e perfeitos, fica para o resto da vida, assim como o
próprio casamento.
O vestido de Heloísa
R. Streva
Foi durante um estágio que
Heloísa foi apresentada oficialmente
a alta-costura, marca de suas criações.
Empiricamente, desde sua infância trabalhava os conceitos da haute-couture
em suas bonecas. O estilo consiste em
moldar, de forma artesanal, os tecidos
no corpo da mulher, utilizando a técnica conhecida pelo termo em francês
moulage. A diferença é que as cobaias,
naquele tempo, eram suas Barbies.
O primeiro ateliê veio em sociedade com uma amiga, no bairro de
Copacabana. A parceria, no entanto, durou apenas um ano, quando
Heloísa decidiu seguir carreira solo.
“Meus pais me ofereceram um quarto
dentro da casa deles para eu atender
minhas clientes, e com isso juntar
dinheiro para comprar meu próprio
espaço”, revela. Foram sete anos de
sucesso na casa da família, até encontrar o lugar dos sonhos para instalar
sua atual sede, em um simpático apartamento da rua Barão de Jaguaribe,
em Ipanema.
As primeiras consumidoras, mães
de suas amigas, fizeram a propaganda
boca-a-boca multiplicar a cartela de
clientes de Heloísa, que atualmente
atende até dez encomendas de vestidos por mês. Sua equipe conta com
quatro costureiras, duas bordadeiras
e um alfaiate, todos com treinamento
especializado em técnicas de costura
manual. Os vestidos são desenvolvi-
Heloísa Albuquerque confeccionou o próprio de vestido
de noiva em seu casamento,
assim como as composições
de sua mãe, sogra e madrinhas. Franzidos e volumes
ganharam projeção sobre os
tecidos shantung de seda pura
e renda francesa. Da união
com o empresário português
José Augusto Alves nasceu,
há dois anos, a pequena Júlia,
atual fonte de alegria e motivação na vida da estilista.
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Fada Madrinha - Heloísa Albuquerque